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Tema: OBESIDADE
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fixado com base no crescimento da população. (1) No ela oferecia um prato com 450 gramas, eles comiam
entanto, em 1970, um norte-americano consumia 280, mas se o prato tinha 700 gramas eles devoravam
2.200 calorias por dia – ou seja, a quantidade 425, ou seja, 50% a mais do que a quantidade que os
recomendada; 40 anos depois, ele absorve 2.700. tinha deixado satisfeitos no dia anterior.
Uma política salarial que engorda A estratégia supersize
Para aumentar os lucros, as indústrias de alimentos Hábeis conhecedoras desse aspecto da psicologia
souberam romper essa limitação natural. Elas humana, as redes de fast-foodcolocaram em prática
inundaram as revistas de novos produtos, a fim de essa estratégia do supersize: mediante alguns dólares
suscitar no consumidor um desejo constante de a mais (mas uma quantia pequena o suficiente para
descoberta. Entre 1990 e o fim dos anos 2000, mais criar um efeito de promoção vantajosa), o cliente pode
de 116 mil novos produtos surgiram nas prateleiras “aumentar” seu pedido, ter uma bebida maior, um
dos supermercados. Entrar na seção “Bebidas” de um hambúrguer a mais no lanche ou uma porção dupla de
mercado norte-americano é suficiente para perceber a batatas fritas. Para satisfazer as novas expectativas
inventividade dos arquitetos dessa “diversificação da dos consumidores, todos os restaurantes tiveram de
oferta”: refrigerantes de sabores os mais variados e adaptar as quantidades oferecidas. Há quarenta anos,
derivações de Coca-Cola, sem açúcar, sem cafeína, de o único formato de bebida vendido pelo McDonald’s
cereja, de limão (taiti ou siciliano), de baunilha... Essa era de 200 ml; o menor copo tem agora 350 ml, e o
estratégia se revela de uma eficácia assustadora: por maior, quase 1 litro. O único hambúrguer vendido na
ano, cada norte-americano toma 178 litros de época é hoje servido para as crianças, e os adultos o
refrigerante com açúcar, em contrapartida aos 85 comem apenas como aperitivo.
litros em 1970 e 135 em 1980. Graças às propagandas, como os mais pobres, os
As empresas também buscaram novos clientes nas jovens norte-americanos constituem um mercado
classes baixas. Graças à sofisticação crescente dos relativamente recente. Durante muito tempo, os
procedimentos de embalagem, conservação e gastos alimentares eram de responsabilidade
distribuição, os produtos industrializados, exclusiva dos pais. O aumento do poder de compra da
particularmente calóricos, custam menos do que os maioria e a mudança do olhar sobre os desejos infantis
alimentos frescos. Em outras palavras, um dólar de fizeram das crianças consumidores plenos. O mestre
salgadinhos enche mais o estômago do que um dólar do marketing para crianças, James McNeal, ex-
de cenouras. Se os norte-americanos respeitassem os professor da Texas A&M University, estimava no New
“conselhos alimentares” prescritos pelo governo, eles York Times(20 abr. 2011) que elas influenciam a cada
iriam gastar US$ 400 a mais por ano. A política salarial ano mais de 8% dos gastos de seus familiares com
norte-americana faz os mais pobres engordarem. De comida e bebida, isto é, US$ 100 bilhões.
acordo com o Wall Street Journal de 7 de julho de Elas são particularmente bajuladas pela
2011, mais de um terço dos adultos que vivem com publicidade. Estima-se que uma criança norte-
menos de US$ 15 mil por ano é obeso, enquanto americana é exposta em média a 25 mil propagandas
24,6% dos que ganham mais do que US$ 50 mil estão televisivas a cada ano, das quais mais de 20% são
nessa situação. relacionadas à alimentação.
A diminuição dos custos de produção não apenas SOLUÇÕES -Diante das práticas agressivas da
inverteu a relação secular dos pobres com a indústria alimentícia, os poderes públicos ficaram por
alimentação (da carência ao consumo excessivo), mas muito tempo sem agir. O mercado de junk foodatinge
também alterou a distribuição econômica do mercado. somas estratosféricas – em 2011, segundo
Atualmente, a alimentação por si só constitui uma estatísticas do Financial Times (9-10 jun. 2012), a
parte muito pequena do preço de venda de um venda mundial de pizzas e defast-foodcresceu para
produto – em relação à embalagem, promoção, US$ 706 bilhões – e as grandes marcas podem dedicar
concepção etc. –, por isso se tornou mais rentável meios desmedidos em defesa de seus interesses.
vender grandes quantidades em um mesmo Contudo, o mercado vem se fechando lentamente. A
recipiente. No Walmart, por exemplo, uma obesidade chegou a tais proporções que os problemas
embalagem com 321 gramas de chocolate com que ela causa (depressão, discriminação, riscos à
amendoim e caramelo custa US$ 3,58, ao passo que saúde, perda de produtividade etc.) preocupam toda
1.100 gramas saem por US$ 8,98. Menos de três a sociedade. Com cerca de 200 mil mortes por ano –
vezes o preço e quase quatro vezes maior: para ficando abaixo do tabaco (mais de 400 mil mortes),
aproveitar o bom negócio, muitos clientes, em mas bem à frente do álcool e dos acidentes
particular os mais modestos, optam pelo segundo automotivos –, ela tornou-se a segunda causa de
formato. “mortes evitáveis”.
Uma boa notícia seria pensarmos que o argumento Nos últimos anos, o governo federal multiplicou os
econômico se une às necessidades ecológicas. dispositivos: incentivo à atividade física para jovens,
Entretanto, “existe alguma coisa em nossa psicologia criação de um selo garantindo os valores nutritivos de
que nos faz comer mais quando há mais comida a um produto, proibição da venda de refrigerantes nas
nosso alcance”, explica a nutricionista Marion Nestle. escolas, entre outros. Em escala local, os estados e os
Prova disso é que Barbara Rolls, professora da municípios também adotam legislações cada vez mais
Universidade da Pensilvânia, reuniu um grupo de impositivas. Em maio de 2012, a cidade de Nova York
homens jovens e magros, habitualmente muito proibiu a venda de bebidas supersized com açúcar em
atentos à forma física, e lhes serviu todos os dias restaurantes, cinemas e estádios. Para se garantir, as
pratos de macarrão com queijo em quantidades multinacionais se voltam agora para os novos
diferentes, depois mediu seu consumo cotidiano: se
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mercados, menos saturados que os Estados Unidos e, (Benoît Bréville, Le Monde Diplomatique)
sobretudo, menos controlados.
Drauzio Varella - “Sejamos claros: a medicina não sabe tratar obesidade. Descontados os conselhos dietéticos
ou as cirurgias bariátricas indicadas para os casos extremos, quase nada temos a oferecer. Se os médicos não
dispõem da pílula mágica, a responsabilidade com o peso e a sobrevivência é individual. É cada um por si e Deus
por ninguém, porque gula é um dos pecados capitais”.
MÃOS À OBRA
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa
sobre o tema: “A OBESIDADE EM DEBATE NO BRASIL E NO MUNDO” apresentando proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e
opiniões para defender seu ponto de vista. O texto deverá ter no mínimo 7 (sete) e no máximo 30 (trinta)
linhas escritas.