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MARTINS, J. C.; FACCI, M. G. D.

A transição da educação infantil para o ensino fundamental:


dos jogos de papéis sociais à atividade de estudo. IN: MARTINS, L. M.; ABRANTES, A. A.; FACCI,
M. G. D. (Orgs.). Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento
à velhice. Campinas: Autores Associados, 2016. p. 149-

Introdução

- Documentos oficiais defende os direitos da criança -> superação da perspectiva do cuidado

- Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil -> perspectiva construtivista (juntar


Piaget e Vigotski)

- Constituição Federal (1988): direito à criança de 0 a 6 anos ao atendimento em educação


2infantil -> Consequência: a- Estatuto da Criança e do Adolescentes (1990); b- Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (1996).

- Mazzuchelli (2010): essas leis trouxeram implicações dos direitos da criança; da educação
pré-escolar assistencialista e pedagógica; e a municipalização do ensino infantil.

- A educação infantil como parte da educação básica trouxe a necessidade de nova maneira de
compreender as funções e objetivos das instituições educacionais, como Pasqualini (2006)
apresenta a superação da dicotomia entre educar e cuidar.

- Ministério da Educação e Cultural (MEC) elaborou diretrizes especificas do seu


funcionamento: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) -> busca de
qualidade de ensino na integração entre o cuidar e o educar.

- Arce (2010): educar é oferecer condições de aprendizagens que favoreçam o


desenvolvimento infantil, a partir de brincadeiras espontâneas e situações orientadas pelo
professor -> construtivismo

- Discussão alinhada com a proposta de ampliação do ensino fundamental para 9 anos


(Programa Nacional de Educação – Lei nº 10.172/2001)

- A partir dos documentos oficiais (PNE – Lei nº 10.172/2001 e MEC/2004) percebe-se a base
da educação brasileira na “teoria da privação cultural” (atendimento integral para pessoas em
situações vulneráveis).

- Documentos oficiais problematizam da educação infantil voltado para as famílias de baixa


renda

Crise dos 7 anos

- A crise é a unidade dos contrários (positivo e negativo)

- Conceito de neoformações -> a cada momento do desenvolvimento produz-se novas relações


durante o desenvolvimento.

- Funções psíquicas -> sensação -> percepção // memória -> pensamento

- Exemplo: jogo de papéis -> função: linguagem

- A idade cronológica estabelecida para cada etapa do desenvolvimento não é fixo e


inalterável, e sim redefinido conforme as condições histórico-sociais do indivíduo. Destaca-se
que o melhor critério para distinguir os períodos concreto do desenvolvimento infantil está na
identificação das neoformações.

- A estrutura das idades se rege por duas leis gerais que permitem detectar as forças motrizes
que impulsionam a transição da criança para a próxima etapa do desenvolvimento: 1ª lei – em
cada período de idade o processo de desenvolvimento compõe um todo único e tem uma
estrutura determinada, não podendo ser compreendido como a soma de partes isoladas; 2ª lei
– dinâmica das idades

- As formações que determinam o papel e o peso do desenvolvimento são desenvolvidas na


relação indivíduo e sociedade

- A dinâmica das idades caracteriza-se, dialeticamente, pela alternância entre períodos estáveis
e críticos, respeitando a necessidade interna de cada criança e sua vinculação com a realidade
externa.

- TT = Bozhovich (1987): As crises fazem parte da transição do desenvolvimento, sendo


caracterizado por: 1- difícil determinar o exato momento em que elas começam e terminam;
2- muitas crianças mostram-se desobedientes, caprichosas e difíceis de educar, pois entram
frequentemente em conflito com os adultos que os rodeiam; 3- tem caráter negativo,
resultante da atitude assumida pelas crianças diante das novas exigências.

- Vigotski: a essência de toda crise reside na reestruturação da vivência interior, o que resulta
em mudanças na maneira de criança relacionar-se com o mundo, isto é, nas mudanças de suas
necessidades e motivos são motores de seu comportamento.

- Crise dos 7 anos é passagem da idade pré-escolar para idade escolar caracterizado
principalmente pelo início da diferenciação entre o aspecto interior e exterior da
personalidade da criança. A espontaneidade externa da criança persiste enquanto ela mantém
sua ingenuidade interna. Quando incorpora o fator intelectual a sua vivência, a criança perde a
espontaneidade -> O conhecimento curricular proporciona a formação do autocontrole,
contribuindo para a superação das funções elementares em direção às superiores.

- Outra peculiaridade desse período é o fato da criança começar a atribuir significado a suas
vivências e a distinguir seus sentimentos.

- As crises podem ser evitar se o desenvolvimento psíquico da criança for um processo


racionalmente organizado, isto é, uma criança controlada e não um processo que ocorre
espontaneamente.

A atividade dominante na segunda infância

- “Cada época consiste em dois períodos regularmente ligados entre si”

- Idade pré-escolar: jogo ou brincadeira -> no jogo a criança descobre as relações objetivas
que existem entre os homens, começa a entender que a participação em cada atividade impõe
ao indivíduo o cumprimento de certos deveres e de uma série de direitos – brincadeiras de faz
de conta proporcionam momentos privilegiados de aprendizagem – variação nos papeis
sociais: a criança começa a desenvolver o autocontrole da conduta, uma vez que existem
regras sociais a serem seguidas na interpretação desses personagens.

- Jogo simbólico: capacidade da criança de substituir um objeto por outro possibilita o futuro
domínio dos signos sociais – a função simbólica contribui para que em períodos posteriores a
criança aproprie-se da leitura e da escrita – jogo provoca mudança qualitativas na psique
infantil

- A criança começa a aprender por meio das brincadeiras -> a disposição psicológica para
entrar na escola é resultante de todo desenvolvimento psíquico precedente, fruto de todo o
sistema de educação na família e na educação infantil -> entrada na escola inaugura uma etapa
da vida da criança na qual ocorrem mudanças decisivas em seu desenvolvimento psíquico –
aos 7 anos a criança costuma estar preparar para quer entrar na escola – à medida que a
criança começa a frequentar a escola, seu interesse pelo jogo vai diminuindo, dando lugar ao
estudo

- A concepção da atividade de estudo formou-se sobre o principio da unidade da psique e da


atividade – as principais finalidades do estudo são “assimilação dos procedimentos
generalizados de ação na esfera dos conceitos científicos e as mudanças qualitativas no
desenvolvimento psíquico da criança, que ocorrem sobre essa base

- Preocupação com a ampliação do EF para 9 anos estava mais concentrada nas questões
institucionais e de formação dos professores, mas são imensas as mudanças acarretadas à
criança, pelo próprio processo de transição – agora antecipado -> Ex.: exigência como cuidados
com os materiais que antes ficava na escola, agora é responsabilidade dos pais e do aluno
pode provocar transtornos na vida escolar da escola

- A entrada da criança no ensino fundamental promove uma verdadeira revolução no


desenvolvimento, pois o meio externo e os interesses da criança vão modificando-se – no
começo da vida escolar, a criança precisa de atividades que desenvolvam o interesse pelo
estudo – o interesse deve ocorrer na interação entre professor e aluno, assim como os
resultados a partir desse conhecimento

O processo de transição: dados de pesquisa

- Objetivo da pesquisa: analisar se no processo de transição da educação infantil para o ensino


fundamental estaria de fato ocorrendo a preparação das crianças para a atividade de estudo –
buscou investigar as mudanças provocadas na criança em virtude da mudança na situação
social de desenvolvimento, com a entrada no primeiro ano do ensino fundamental.

- Processo da investigação: 1- em uma turma de um centro municipal de educação infantil,


pelo período de dois meses (outubro e novembro de 2011); 2- em duas turmas de uma escola
pública do ensino fundamental, durante quatro meses (de março a junho de 2012), nas quais
estudavam alunos que tinham sido acompanhados pela pesquisadora na educação infantil

- Foram realizadas atividades de desenho com as crianças, conversas informais com as


professoras e entrevistas com alunos e pais. Participaram 7 alunos, 4 professoras e 4 mães. As
informações foram sistematizadas em 3 categorias: a criança e a função da escola; a criança e
atividade principal; a preparação da criança para a escola

- As professoras do 1º ano do EF expunham que as crianças não tinham autonomia nenhuma e


que nem todas chegavam ao EF com algum conhecimento das letras – situação: amarrar os
tênis, limpar o prato após as refeições x expectativa das professoras que as crianças ficassem
“quietas, sentadas e sem conversar com os amigos” – centro de educação infantil: as crianças
tinham mais liberdade de conversar, de interagir, e na escola de EF a estrutura passou a ser
diferente – disposição das carteiras em sala de aula sofreu alteração, as crianças passaram a
sentar em carteiras individuais e a não compartilhar uma mesa de estudos com outros alunos
– disciplina corporal das crianças incomoda as professoras do ensino fundamental – as
carteiras não eram adequadas para o tamanho das crianças e, na maior parte das vezes, elas
faziam atividades em pé, ao lado das cadeiras, saíam do lugar para conversar com os colegas
ou mesmo para mostrar o trabalhar que estavam fazendo – tais comportamentos irritavam as
professoras – as professoras esperavam que as criança já tivessem desenvolvido suas funções
psicológicas superiores e que estas se tivessem tornando voluntárias, como no caso da
atenção -> Reflexão: professores nem sempre têm essa compreensão do desenvolvimento
infantil

Conclusão

- Para pais, crianças e alguns professores a EI está mais vinculada ao cuidar do que ao ensinar
conteúdos

- Até que ponto as propostas da Educação Infantil ajudam a superar o modelo assistencialista?

- Que ações podem ser implementadas para a superação deste modelo que mantém a cisão e
fragmentação entre o Ensino Fundamental e a Educação Infantil?

- O aluno só pode interessar-se pelo que conhece e, segundo Davidov (1985) desde o ingresso
na escola a criança precisa ser trabalhada na direção de desenvolver a atividade de estudo e o
interesse pela ciência e pelas artes

- isso poderia acontecer antes do ingresso no Ensino Fundamental, gestando a atividade de da


atividade de jogo simbólico

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