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Lógica de Predicados

Professor Vítor Matos

• A Lógica Proposicional ⊃ o que está dentro


dos argumentos (premissas e conclusão: a
proposição atómica é tomada como unidade)
• A Lógica de Predicados ⊃ o que está
dentro das proposições (atómicas)
Linguagens naturais incluem:
• Nomes próprios: ‘Ema’, ‘Vítor’
• Nomes comuns: ‘gato’, ‘sapato’
• Verbos: ‘correr’, ‘pensar’, ‘barafustar’
• Frases adjectivantes, que significam:
propriedades: ‘vermelho’, ‘verde’ ou
relações ‘mais alto que_’, ‘_está entre …
e ___’
• Expressões que quantificam

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Elementos do Cálculo:
• Os 5 Operadores do Cálculo proposicional;
parênteses, nomes próprios (minúsculas do
início do alfabeto a, b, c)
• Predicados: maiúsculas do meio do alfabeto,
F, G, H)
• Variáveis: x, y, z (tal como em álgebra)
• 2 Quantificadores: Universal (∀x),(∀y),(∀z)
(lê-se ‘para todo o x…’) e Existencial (∃x),
(∃y), (∃z) (lê-se ‘existe pelo menos um x…’)

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Acumulação
• É possível ter qualquer número de
predicados, de variáveis e de
quantificadores numa única frase.

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Nomes próprios, nomes comuns
e descrições

• Nomes próprios assumem-se aplicando-


se sem ambiguidade ao que quer que
nomeiem.
• Nomes comuns: exprimem-se c/
predicados e variáveis. ‘Tico é um gato’
é entendido como ‘Tico é como um
gato’.

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Predicados
• Significam toda a frase excepto nomes,
variáveis e quantificadores.
• ≠ do português em que o predicado
gramatical não inclui o verbo e pode conter
nomes como objectos gramaticais. Aqui o
verbo conta como predicado. A ideia de
objecto gramatical não é usada. O predicado
põe-se antes do nome.

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Predicados (grau ℕ)
• Unários: necessitam apenas de 1 nome para
se tornarem numa frase.
Tome-se: G_: _ é gordo; p:Pedro
‘Pedro é gordo’  Gp
• Binários: Tome-se: F_...: _detesta…;
p:Pedro;m:Maiorca
‘Pedro detesta Maiorca’  Fpm
• Ternários: Tome-se F_...⋯:_fica entre…e⋯;
e:Elvas; a:Estremoz; b:Badajoz
‘Elvas fica entre Estremoz e Badajoz’  Feab

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Predicados (grau ℕ)
Exs: Tome-se p:Pedro; m:Maria; G_:_é
gordo; F_...; _ é mais gordo que…
‘Pedro é gordo’  Gp
‘Maria é mais gorda que Pedro’  Fmp
‘Pedro é mais gordo que Maria’  Fpm

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Predicados básicos e compostos
• Básicos: ‘é vermelho’, ‘é verde’, ‘atinge’, ‘ama’, ‘é
mais alto que’
Ex1: Tome-se F_...:_confia em…;
a: Ambrósio; b: Belita
‘Ambrósio confia em Belita’  Fab
‘Belita não confia em Ambrósio’  ¬ (Fba)
Ex2: ‘Ama’ tb. É 1 predicado básico. Tome-se
F_...:_ama…; a:Ana; b:Bruno
‘Ana ama Bruno’  Fab
Ex3: E o amor-próprio? b: Basílio
Temos: ‘Basílio ama-se a sim mesmo’  Fbb

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Predicados básicos e compostos
• Compostos: E as relações recíprocas como a
admiração mútua? Expressam-se acumulando 2
predicados simples:
Ex: Tome-se F_...:_admira…; h:Hume; p:Philo
‘Hume e Philo admiram-se um ao outro’  Aph ˄ Ahp)
• E o amor não-correspondido? É outro predicado
composto.
Ex: Tome-se L_...:_ama…; a:Adolfo; b:Brígida
‘André ama não correspondidamente Brígida’ ≡ ‘Adolfo
ama Brígida mas Brígida não ama Adolfo’
 Lab ˄ ¬(Lba)

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Os dois Quantificadores {∀;∃}

• Nunca aparecem sozinhos; sempre


como parte das expressões (∀x), (∀y),
(∀z), (∃x), (∃y), (∃z)
• Uma vez que estas expressões
constituem unidades básicas na lógica
de predicados é melhor chamar
quantificadores a isto.

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Os dois Quantificadores
• Cada quantificador liga uma variável (à qual se
aplica).
Tome-se: F_: _tem 4 patas; G_:_é cavalo
‘Os cavalos têm 4 patas’  (∀x), [(GxFx)] que
significa: Para todo o x, se x é cavalo então x tem 4
patas.
Na frase, o x está sempre ligado.
• Nomes próprios carregam consigo a sua própria
quantificação. Não necessitam de ser quantificados.
Tome-se: F_:_ é veloz; r: Rocinante
‘Rocinante é veloz’  Fr

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Variáveis
• x,y,z estão por objectos de maneira indefinida. Ex:
‘algo’; ‘qualquer coisa’; ‘alguém’
• Usa-se uma variável para indicar que se está a falar
do mesmo objecto.
Tome-se F_:_é gordo; G_:_é rabugento
‘x é gordo e rabugento’  (Fx ˄ Gx)
• Variáveis diferentes referenciam coisas diferentes.
• Mas também podem querer dizer que a questão de
saber de quantas coisas se está a falar se deixou em
aberto (variáveis livres).
• As variáveis podem acumular-se.

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Exemplos de tradução

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Nomes, propriedades, existência

Tome-se: G_:_é gordo; F_:_é avarento;


p:Pedro
‘Pedro é gordo e avarento’  Gp ˄ Fp
Tome-se: G_:_é cavalo; H_:_é centauro
‘os cavalos existem’  (∃x) (Gx)
‘os centauros não existem’  ¬ (∃x)(Hx)
Questão: a existência é um predicado?

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‘Algo’ e ‘alguém’
• Como se simboliza uma frase quando se
sabe que há algo / alguém mas não se
sabe quem é?
• Tome-se F_:_é gordo; G_:_é avarento
‘Há alguém tal que ele/ela é gordo e
avarento’  (∃x) (Fx ˄ Gx)

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Acumulação de quantificadores e
variáveis

• Considerem a frase ambígua: ‘Alguém é gordo e


alguém é avarento’
Tome-se F_:_é gordo; G_:_é avarento
a) ‘há uma só pessoa tal que é não só gorda como
avarenta’  (∃x) (Fx ˄ Gx)
b) ‘há alguém tal que é gordo/a e há alguém que é
avarento/a e o primeiro alguém mencionado não é
a mesma pessoa que o segundo’ ≡ ‘Há pelo menos
um x e há pelo menos um y, tal que x é gordo e y
é avarento e não é o caso que x = y’
 (∃x) (∃y) [Fx ˄ Gy ˄ ¬ (x = y)]

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Acumulação de quantificadores e
variáveis

• Considerem a frase ambígua: ‘Alguém é gordo e


alguém é avarento’
Tome-se F_:_é gordo; G_:_é avarento
a) ‘há uma só pessoa tal que é não só gorda como
avarenta’  (∃x) (Fx ˄ Gx)
b) ‘há alguém tal que é gordo/a e há alguém que é
avarento/a e o primeiro alguém mencionado não é
a mesma pessoa que o segundo’ ≡ ‘Há pelo menos
um x e há pelo menos um y, tal que x é gordo e y
é avarento e não é o caso que x = y’
 (∃x) (∃y) [Fx ˄ Gy ˄ ¬ (x = y)]

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Removendo a ambiguidade
• Considerem a frase ambígua: ‘toda a gente
gosta de alguém’
Tome-se G_...:_gosta de…
a) ‘toda a gente gosta de uma pessoa ou de
outra’ (por ex.: da sua própria mãe) 
(∀x) (∃y) Gxy (Lê-se: Para todo o x, há
um y tal que x gosta de y)
b) ‘toda a gente gosta de uma mesma pessoa’
(por ex.: do Brad Pitt)  (∃y) (∀x) Gxy
(Lê-se: Há um determinado y tal que para
todo o x, x gosta de y)
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Negação
• ‘Nenhum’ é um quantificador da Lógica
Aristotélica. A Lógica de Predicados prescinde
dele porque se apodera do operador ¬ da
Lógica Proposicional.
• Usando (∀x), (∃x) e ¬ podemos construir
os vários sentidos de ‘nenhum’ presentes no
português padrão.
Tome-se: F_:_é calvo
‘Nem toda a gente é calva’  ¬(∀x) Fx
‘Ninguém é calvo’  ¬(∃x) Fx

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Pluralidade e Número
• A pluralidade e a singularidade
exprimem-se usando a ideia de
identidade. (Usa-se o símbolo =)
Ex: x=y / ¬(x=y)

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Pluralidade e Número
Tome-se: S_:_é sinistro
‘Algumas coisas são sinistras’ significa ≡
‘Pelo menos duas coisas são sinistras’.
• Problema: o operador (∃x) significa:
‘pelo menos uma coisa’. Precisamos de
significar: ‘há pelo menos 1x e pelo
menos 1y tal que x é sinistro e não é y.’

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Pluralidade e Número
• Resolução: Acumulamos
quantificadores, introduzimos a negação
e obtemos
(∃x) (∃y) (Sx ˄ Sy ˄ ¬[x=y])
que significa: há pelo menos 1x e pelo
menos 1y tal que x é sinistro e y é
sinistro e x não é y.

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Pluralidade e Número
• Exercícios:
Simbolizem:
1. ‘Pelo menos 3 coisas são verdes.’
2. ‘Pelo menos 4 coisas são macabras e
rabugentas.’

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Apenas um
• Consideremos a frase ‘Pelo menos uma
coisa é sinistra’. Dizer isso é ≡ a dizer
‘pelo menos uma coisa é sinistra e no
máximo uma coisa é sinistra’.
Tome-se S_:_é sinistro 
(∃x) Sx˄¬{(∃x)(∃y)(Sx˄Sy˄¬[x=y])}
Que equivale a ≡
(∃x) Sx ˄ [(∀y)Syy=x]

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Lógica de Predicados e Lógica
Clássica (Silogística ou aristotélica)

• Até aqui já demonstrámos que o


alcance da Lógica Formal vai muito para
além dos 4 tipos de juízos da Lógica
Clássica formalizados por Aristóteles.
• Mas vamos revisitá-los:
Tome-se H_:_é humano; M_:_é mortal;
E_:_é extra-terrestre; C_:_é culto

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O «quadrado da oposição» revisitado

• ‘Todo o Homem é mortal’


 (∀x) Hx  Mx
• ‘Nenhum humano é extra-terrestre’
 (∀x) Hx  ¬Ex
• ‘Alguns humanos são cultos’
 (∃x) Hx ˄ Cx
• ‘Alguns humanos não são cultos’
 (∃x) Hx ˄ ¬Cx

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Lógica e Linguagem Vulgar
• Embora a Lógica Moderna possa dar
conta de muitos mais tipos de
argumentos que a Lógica Silogística, há
alguns tipos de argumentos válidos na
linguagem vulgar que a lógica não
consegue formalizar.

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Lógica e Linguagem Vulgar
• O significado dos nomes, adjectivos e
advérbios não desempenha qualquer
papel na lógica formal.
• Problema: quando a validade depende
do significado de palavras vulgares
particulares, essa validade não pode ser
captada pelo simbolismo da lógica.

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Lógica e Linguagem Vulgar
• Exemplo: ‘O animal perante nós é um
raposo. Logo é uma raposa macho.’ É
válido porque é impossível a conclusão
ser F se a premissa for V.

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