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Informativo 628-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CIVIL
DIREITO AO ESQUECIMENTO
Excepcionalmente, é possível que o Judiciário determine o rompimento do vínculo estabelecido por sites de busca
entre o nome da pessoa, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia desabonadora apontada nos
resultados.
MÚTUO FENERATÍCIO
Descabimento da repetição do indébito com os mesmos encargos do contrato.
HIPOTECA
Interesse de agir do credor hipotecário de que o imóvel dado em garantia seja construído de acordo com os padrões
de qualidade previstos no contrato de compra e venda.
DIVÓRCIO
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que
comprovado o esforço comum para sua aquisição.
ALIMENTOS
É possível a fixação de alimentos em valores ou em percentuais diferentes entre os filhos?
DIREITO DO CONSUMIDOR
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO
Concessionária de transporte ferroviário deve pagar indenização à passageira que sofreu assédio sexual praticado
por outro usuário no interior do trem.
PROTEÇÃO CONTRATUAL
O consumidor paga uma multa para a operadora do cartão de crédito caso atrase as parcelas, não se podendo
querer aplicar essa mesma multa, com base no equilíbrio contratual, para a empresa que vende os produtos pela
internet.
IMPENHORABILIDADE
Os valores recebidos pelo beneficiário como indenização do seguro de vida são impenhoráveis, mas até o limite de
40 salários mínimos.
EMBARGOS DE TERCEIRO
Não é cabível a reconvenção apresentada em embargos de terceiro, sob a égide do CPC/1973.
DIREITO CIVIL
DIREITO AO ESQUECIMENTO
Excepcionalmente, é possível que o Judiciário determine o rompimento do vínculo estabelecido
por sites de busca entre o nome da pessoa, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia
desabonadora apontada nos resultados
Importante!!!
Determinada pessoa se envolveu em uma suspeita de fraude há mais muitos anos, tendo sido
inocentada das acusações.
Ocorre que todas as vezes que digita seu nome completo no Google e demais provedores de
busca, os primeiros resultados que aparecem até hoje são de páginas na internet que trazem
reportagens sobre seu suposto envolvimento com a fraude.
Diante disso, ela ingressou com ação de obrigação de fazer contra o Google pedindo a
desindexação, nos resultados das aplicações de busca mantida pela empresa, de notícias
relacionadas às suspeitas de fraude no referido concurso. Invocou, como fundamento, o
direito ao esquecimento.
O STJ afirmou o seguinte: em regra, os provedores de busca da internet (ex: Google) não têm
responsabilidade pelos resultados de busca apresentados. Em outras palavras, não se pode
atribuir a eles a função de censor, obrigando que eles filtrem os resultados das buscas,
considerado que eles apenas espelham o conteúdo que existe na internet. A pessoa
prejudicada deverá direcionar sua pretensão contra os provedores de conteúdo (ex: sites de
notícia), responsáveis pela disponibilização do conteúdo indevido na internet.
Há, todavia, circunstâncias excepcionalíssimas em que é necessária a intervenção pontual do
Poder Judiciário para fazer cessar o vínculo criado, nos bancos de dados dos provedores de
busca, entre dados pessoais e resultados da busca, que não guardam relevância para interesse
público à informação, seja pelo conteúdo eminentemente privado, seja pelo decurso do tempo.
Nessas situações excepcionais, o direito à intimidade e ao esquecimento, bem como a proteção
aos dados pessoais deverá preponderar, a fim de permitir que as pessoas envolvidas sigam
suas vidas com razoável anonimato, não sendo o fato desabonador corriqueiramente
rememorado e perenizado por sistemas automatizados de busca.
No caso concreto, o STJ determinou que deveria haver a desvinculação da pesquisa com base
no nome completo da autora com resultados que levassem às notícias sobre a fraude. Em
outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: o Google não precisa retirar de seus resultados as
notícias da autora relacionadas com a suposta fraude no concurso. Mas para que esses
resultados apareçam será necessário que o usuário faça uma pesquisa específica com
palavras-chaves que remetam à fraude. Por outro lado, se a pessoa digitar unicamente o nome
completo da autora, sem qualquer outro termo de pesquisa que remete à suspeita de fraude,
não se deve mais aparecer os resultados relacionados com este fato desabonador.
Assim, podemos dizer que é possível determinar o rompimento do vínculo estabelecido por
provedores de aplicação de busca na internet entre o nome de prejudicado, utilizado como
critério exclusivo de busca, e a notícia apontada nos resultados.
O rompimento do referido vínculo sem a exclusão da notícia compatibiliza também os
interesses individual do titular dos dados pessoais e coletivo de acesso à informação, na
medida em que viabiliza a localização das notícias àqueles que direcionem sua pesquisa
fornecendo argumentos de pesquisa relacionados ao fato noticiado, mas não àqueles que
buscam exclusivamente pelos dados pessoais do indivíduo protegido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.168-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 08/05/2018 (Info 628).
DIREITO AO ESQUECIMENTO
O que é o direito ao esquecimento?
O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que
verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe
sofrimento ou transtornos.
Exemplo histórico
O exemplo mais conhecido e mencionado é o chamado “caso Lebach” (Soldatenmord von Lebach), julgado
pelo Tribunal Constitucional Alemão.
A situação foi a seguinte: em 1969, quatro soldados alemães foram assassinados em uma cidade na
Alemanha chamada Lebach.
Após o processo, três réus foram condenados, sendo dois à prisão perpétua e o terceiro a seis anos de
reclusão.
Esse terceiro condenado cumpriu integralmente sua pena e, dias antes de deixar a prisão, ficou sabendo
que uma emissora de TV iria exibir um programa especial sobre o crime no qual seriam mostradas,
inclusive, fotos dos condenados e a insinuação de que eram homossexuais.
Diante disso, ele ingressou com uma ação inibitória para impedir a exibição do programa.
A questão chegou até o Tribunal Constitucional Alemão, que decidiu que a proteção constitucional da
personalidade não admite que a imprensa explore, por tempo ilimitado, a pessoa do criminoso e sua vida
privada.
Assim, naquele caso concreto, entendeu-se que o princípio da proteção da personalidade deveria
prevalecer em relação à liberdade de informação. Isso porque não haveria mais um interesse atual naquela
informação (o crime já estava solucionado e julgado há anos). Em contrapartida, a divulgação da
reportagem iria causar grandes prejuízos ao condenado, que já havia cumprido a pena e precisava ter
condições de se ressocializar, o que certamente seria bastante dificultado com a nova exposição do caso.
Dessa forma, a emissora foi proibida de exibir o documentário.
Obs: alguns pesquisadores afirmam que o caso Lebach não poderia ser utilizado como exemplo de
aplicação do direito ao esquecimento uma vez que teria havido outras decisões na Alemanha autorizando
a exibição do documentário. Trata-se, contudo, de um debate mais aprofundado, sem tanta relevância
para fins de concurso, sendo certo também que, na doutrina brasileira, o referido episódio é sempre
lembrado como um caso de direito ao esquecimento.
Nomenclatura
O direito ao esquecimento também é chamado de “direito de ser deixado em paz” ou o “direito de estar só”.
Em outros países, é conhecido como the right to be let alone ou derecho al olvido.
Fundamento
No Brasil, o direito ao esquecimento possui assento constitucional e legal, considerando que é uma
consequência do direito à vida privada (privacidade), intimidade e honra, assegurados pela CF/88 (art. 5º,
X) e pelo CC/02 (art. 21).
Alguns autores também afirmam que o direito ao esquecimento é uma decorrência da dignidade da
pessoa humana (art. 1º, III da CF/88).
A título de exemplo, Fraçois Ost menciona interessante decisão de 1983, do Tribunal de última instância
de Paris (Mme. Filipachi Cogedipresse), na qual esse direito restou assegurado nos seguintes termos:
“(...) qualquer pessoa que se tenha envolvido em acontecimentos públicos pode, com o passar do
tempo, reivindicar o direito ao esquecimento; a lembrança destes acontecimentos e do papel que
ela possa ter desempenhado é ilegítima se não for fundada nas necessidades da história ou se for
de natureza a ferir sua sensibilidade; visto que o direito ao esquecimento, que se impõe a todos,
inclusive aos jornalistas, deve igualmente beneficiar a todos, inclusive aos condenados que
pagaram sua dívida para com a sociedade e tentam reinserir-se nela.” (OST, François. O Tempo do
direito. Trad. Élcio Fernandes. Bauru: Edusc, 2005, p. 161).
Por que, então, esse tema está sendo novamente tão discutido?
O direito ao esquecimento voltou a ser tema de inegável importância e atualidade em razão da internet.
Isso porque a rede mundial de computadores praticamente eterniza as notícias e informações. Com
poucos cliques, é possível ler reportagens sobre fatos ocorridos há muitos anos, inclusive com fotos e
vídeos. Enfim, é quase impossível ser esquecido com uma ferramenta tão poderosa disponibilizando
facilmente um conteúdo praticamente infinito.
No Brasil, o direito ao esquecimento voltou a ser palco de intensos debates em razão da aprovação de um
enunciado nesse sentido na VI Jornada de Direito Civil, além de o STJ ter julgado dois casos envolvendo
esse direito há pouco tempo.
o direito ao esquecimento teria o condão de fazer desaparecer registros sobre crimes e criminosos
perversos, que entraram para a história social, policial e judiciária, informações de inegável interesse
público;
é absurdo imaginar que uma informação que é lícita se torne ilícita pelo simples fato de que já passou
muito tempo desde a sua ocorrência;
quando alguém se insere em um fato de interesse coletivo, mitiga-se a proteção à intimidade e
privacidade em benefício do interesse público.
Sem dúvida nenhuma, o principal ponto de conflito quanto à aceitação do direito ao esquecimento reside
justamente em como conciliar esse direito com a liberdade de expressão e de imprensa e com o direito à
informação.
Justificativa: Os danos provocados pelas novas tecnologias de informação vêm-se acumulando nos dias
atuais. O direito ao esquecimento tem sua origem histórica no campo das condenações criminais. Surge
como parcela importante do direito do ex-detento à ressocialização. Não atribui a ninguém o direito de
apagar fatos ou reescrever a própria história, mas apenas assegura a possibilidade de discutir o uso que é
dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo e a finalidade com que são lembrados.
Apesar de tais enunciados não terem força cogente, trata-se de uma importante fonte de pesquisa e
argumentação utilizada pelos profissionais do Direito.
O Min. Luis Felipe Salomão também ressaltou que “ressalvam-se do direito ao esquecimento os fatos
genuinamente históricos – historicidade essa que deve ser analisada em concreto – cujo interesse público
e social deve sobreviver à passagem do tempo” (REsp 1.334.097).
DIREITO AO ESQUECIMENTO E RESULTADO DAS BUSCAS NOS SITES DE PESQUISA COMO O GOOGLE
Imagine a seguinte situação hipotética:
“Laís da Silva Fialho” participou de um concurso de Juiz de Direito que foi anulado sob suspeita de fraude.
Seu nome constou em algumas reportagens como sendo uma das eventuais beneficiárias do ilícito.
As investigações chegaram ao fim e não foi provado que Laís tenha participado da suposta fraude.
Já se passaram mais de 10 anos desse episódio. Apesar disso, quando se digita o nome completo de Laís
no Google aparecem várias menções à fraude, sem que exista qualquer reportagem que afirme que ela
foi inocentada.
Os buscadores da internet (exs: Google, Bing, Yahoo etc.) possuem responsabilidade pelos resultados de
busca apresentados?
NÃO. O STJ tem entendimento reiterado no sentido de afastar a responsabilidade de buscadores da
internet pelos resultados de busca apresentados, reconhecendo a impossibilidade de lhe atribuir a função
de censor e impondo ao prejudicado o direcionamento de sua pretensão contra os provedores de
conteúdo, responsáveis pela disponibilização do conteúdo indevido na internet.
Em outras palavras, em vez de ingressar com a ação contra o Google (provedor de aplicação de busca na
Internet), a pessoa prejudicada pela notícia deve propor a demanda contra o site que a divulga (provedor
de conteúdo).
Essa é a REGRA GERAL.
Qual é a razão desse entendimento? Por que os buscadores da internet não possuem responsabilidade
pelos resultados apresentados?
Os sites de busca (cujo maior exemplo, mas não o único, é o Google) são uma ferramenta para que “o
usuário realize pesquisas acerca de qualquer assunto ou conteúdo existente na web, mediante
fornecimento de critérios ligados ao resultado desejado, obtendo os respectivos links das páginas onde a
informação pode ser localizada” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe
29/6/2012).
O site de busca fornece, portanto, uma espécie de índice do conteúdo disponível na internet, qualquer
que seja esse conteúdo, facilitando o acesso às informações disponíveis, livre de qualquer filtragem ou
censura prévia.
Os provedores de pesquisa realizam suas buscas dentro de um universo virtual, cujo acesso é público e
irrestrito, ou seja, seu papel se restringe à identificação de páginas na web onde determinado dado ou
informação, ainda que ilícito, estão sendo livremente veiculados.
Dessa forma, ainda que seus mecanismos de busca facilitem o acesso e a consequente divulgação de
páginas cujo conteúdo seja potencialmente ilegal, fato é que essas páginas são públicas e compõem a rede
mundial de computadores e, por isso, aparecem no resultado dos sites de pesquisa. Ora, se a página possui
conteúdo ilícito, cabe ao ofendido adotar medidas para que haja a supressão da página e, com isso,
automaticamente, ele não mais aparecerá nos resultados de busca virtual dos sites de pesquisa.
Foi o que decidiu o STJ no caso da ação proposta pela apresentadora Xuxa, que ingressou com uma ação
contra o Google objetivando compelir a empresa a remover do seu site de pesquisas os resultados
relativos à busca pela expressão “xuxa pedófila”. Veja trecho da ementa:
(...) 6. Os provedores de pesquisa não podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os resultados
derivados da busca de determinado termo ou expressão, tampouco os resultados que apontem para uma
foto ou texto específico, independentemente da indicação do URL da página onde este estiver inserido.
7. Não se pode, sob o pretexto de dificultar a propagação de conteúdo ilícito ou ofensivo na web, reprimir
o direito da coletividade à informação. Sopesados os direitos envolvidos e o risco potencial de violação de
cada um deles, o fiel da balança deve pender para a garantia da liberdade de informação assegurada pelo
art. 220, § 1º, da CF/88, sobretudo considerando que a Internet representa, hoje, importante veículo de
comunicação social de massa. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1316921/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/06/2012.
Circunstâncias excepcionalíssimas
Há, todavia, circunstâncias excepcionalíssimas em que é necessária a intervenção pontual do Poder
Judiciário para fazer cessar o vínculo criado, nos bancos de dados dos provedores de busca, entre dados
pessoais e resultados da busca, que não guardam relevância para interesse público à informação, seja pelo
conteúdo eminentemente privado, seja pelo decurso do tempo.
Nessas situações excepcionais, o direito à intimidade e ao esquecimento, bem como a proteção aos dados
pessoais deverá preponderar, a fim de permitir que as pessoas envolvidas sigam suas vidas com razoável
anonimato, não sendo o fato desabonador corriqueiramente rememorado e perenizado por sistemas
automatizados de busca.
Caso concreto
No exemplo dado no início desta explicação, Laís não pretende a responsabilização civil do Google.
O que ela argumenta é que o resultado mais relevante obtido a partir da busca de seu nome, após mais
de anos dos fatos, é a notícia de que apontava que ela supostamente participou de uma fraude em
concurso público, como se não houvesse nenhum desdobramento da notícia, nem fatos novos
relacionados ao seu nome.
A manutenção desses resultados acaba por retroalimentar o sistema, uma vez que, ao realizar a busca
pelo nome de Laís e se deparar com a notícia, o cliente acessará o conteúdo – até movido por curiosidade
despertada em razão da exibição do link – reforçando, no sistema automatizado, a confirmação da
relevância da página catalogada.
Assim, é imprescindível a atuação pontual do Poder Judiciário para, em casos excepcionalíssimos, quebrar
a vinculação eternizada pelos sites de busca, desassociando os dados pessoais do resultado cuja relevância
se encontra superada pelo decurso do tempo. Essa é a essência do direito ao esquecimento: não se trata
de efetivamente apagar o passado, mas de permitir que a pessoa envolvida siga sua vida com razoável
anonimato, não sendo o fato desabonador corriqueiramente rememorado e perenizado por sistemas
automatizados de busca.
Por outro lado, aqueles que quiserem ter acesso a informações relativas a fraudes em concurso público,
não terão seu direito de acesso impedido. Esses resultados continuarão a aparecer no Google, mas desde
que a pessoa procure o nome de Laís em conjunto com fraude no concurso público.
Em outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: o Google não precisa retirar de seus resultados as notícias
de Laís relacionadas com a suposta fraude no concurso. Mas para que esses resultados apareçam será
necessário que o usuário faça uma pesquisa específica com palavras-chaves que remetam à fraude. Por
outro lado, se a pessoa digitar unicamente o nome completo de Laís, sem qualquer outra informação, não
se deve mais aparecer os resultados relacionados com este fato desabonador que foi noticiado há muitos
anos.
Solução conciliadora
Tem-se, assim, uma via conciliadora do livre acesso à informação e do legítimo interesse individual, porque
não serão excluídos da busca referências ao nome de Laís no evento da fraude ao concurso público. O que
se evitará é, tão somente, que uma busca exclusiva com o seu nome completo dê como resultado mais
relevante esse fato desabonador noticiado há uma década, impedindo a superação daquele momento.
Dito de outro modo, o STJ não determinou a retirada do resultado do “índice” do Google; o Tribunal
determinou apenas a “reordenação” do índice.
Esse entendimento reforça a compreensão de que o direito ao esquecimento tutela a pretensão de se
retornar ao estado de anonimato, do qual se foi retirado pela ocorrência ou notícia do fato desabonador,
o que deve ser realizado, especialmente, quando não acarrete prejuízo à liberdade de expressão, à
memória histórica e ao direito de informar (BRANCO, Sérgio. Memória e esquecimento na internet. Porto
Alegre: Arquipélago editorial, 2017, p. 151).
Em suma:
Determinada pessoa se envolveu em uma suspeita de fraude há muitos anos, tendo sido inocentada das
acusações.
Ocorre que todas as vezes que digita seu nome completo no Google e demais provedores de busca, os
primeiros resultados que aparecem até hoje são de páginas na internet que trazem reportagens sobre
seu suposto envolvimento com a fraude.
Diante disso, ela ingressou com ação de obrigação de fazer contra o Google pedindo a desindexação,
nos resultados das aplicações de busca mantida pela empresa, de notícias relacionadas às suspeitas de
fraude no referido concurso. Invocou, como fundamento, o direito ao esquecimento.
O STJ afirmou o seguinte: em regra, os provedores de busca da internet (ex: Google) não têm
responsabilidade pelos resultados de busca apresentados. Em outras palavras, não se pode atribuir a
eles a função de censor, obrigando que eles filtrem os resultados das buscas, considerado que eles
apenas espelham o conteúdo que existe na internet. A pessoa prejudicada deverá direcionar sua
pretensão contra os provedores de conteúdo (ex: sites de notícia), responsáveis pela disponibilização
do conteúdo indevido na internet.
Há, todavia, circunstâncias excepcionalíssimas em que é necessária a intervenção pontual do Poder
Judiciário para fazer cessar o vínculo criado, nos bancos de dados dos provedores de busca, entre dados
pessoais e resultados da busca, que não guardam relevância para interesse público à informação, seja
pelo conteúdo eminentemente privado, seja pelo decurso do tempo.
Nessas situações excepcionais, o direito à intimidade e ao esquecimento, bem como a proteção aos
dados pessoais deverá preponderar, a fim de permitir que as pessoas envolvidas sigam suas vidas com
razoável anonimato, não sendo o fato desabonador corriqueiramente rememorado e perenizado por
sistemas automatizados de busca.
No caso concreto, o STJ determinou que deveria haver a desvinculação da pesquisa com base no nome
completo da autora com resultados que levassem às notícias sobre a fraude. Em outras palavras, o STJ
afirmou o seguinte: o Google não precisa retirar de seus resultados as notícias da autora relacionadas
com a suposta fraude no concurso. Mas para que esses resultados apareçam será necessário que o
usuário faça uma pesquisa específica com palavras-chaves que remetam à fraude. Por outro lado, se a
pessoa digitar unicamente o nome completo da autora, sem qualquer outro termo de pesquisa que
remete à suspeita de fraude, não se deve mais aparecer os resultados relacionados com este fato
desabonador.
Assim, podemos dizer que é possível determinar o rompimento do vínculo estabelecido por provedores
de aplicação de busca na internet entre o nome de prejudicado, utilizado como critério exclusivo de
busca, e a notícia apontada nos resultados.
O rompimento do referido vínculo sem a exclusão da notícia compatibiliza também os interesses
individual do titular dos dados pessoais e coletivo de acesso à informação, na medida em que viabiliza
a localização das notícias àqueles que direcionem sua pesquisa fornecendo argumentos de pesquisa
relacionados ao fato noticiado, mas não àqueles que buscam exclusivamente pelos dados pessoais do
indivíduo protegido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.168-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 08/05/2018 (Info 628).
MÚTUO FENERATÍCIO
Descabimento da repetição do indébito com os mesmos encargos do contrato
Importante!!!
Pessoa celebrou contrato de mútuo feneratício com instituição financeira.
Por algum motivo (ex: nulidade, ato ilícito, abusividade etc.) o mutuário ingressou com ação
judicial pedindo a resolução do contrato e a restituição das parcelas pagas.
Se esta ação for julgada procedente, o mutuário terá direito de receber os valores pagos
acrescidos de juros remuneratórios no mesmo percentual que era previsto no contrato para
ser cobrado pelo banco mutuante?
NÃO. O mutuário que celebrar contrato de mútuo feneratício com a instituição financeira
mutuante, não tem direito de pedir repetição do indébito com os mesmos índices e taxas de
encargos previstos no contrato.
Tese aplicável a todo contrato de mútuo feneratício celebrado com instituição financeira
mutuante: “Descabimento da repetição do indébito com os mesmos encargos do contrato”.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.552.434-GO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/06/2018
(recurso repetitivo) (Info 628).
Mútuo
O mútuo é um contrato por meio do qual alguém (mutuante) empresta para uma outra pessoa (mutuário)
uma coisa que seja fungível (art. 586 do Código Civil).
Ex: João, no caminho para o local de prova, comprou duas canetas Bic no camelô. Ele empresta uma delas
para Pedro fazer a prova do concurso. João e Pedro celebraram um contrato de mútuo.
Gratuito ou oneroso
O mútuo pode ser:
a) gratuito (também chamado de “benéfico”): quando não é combinada nenhuma remuneração pelo
empréstimo;
b) oneroso (feneratício): quando é combinado que o mutuário irá pagar ao mutuante uma remuneração
pelo empréstimo.
Mútuo feneratício
A palavra “feneratício” vem do latim “feneratitius”, que significa algo “relativo à usura”.
O mútuo feneratício é o empréstimo que tem fins econômicos, ou seja, no qual haverá o pagamento de
uma remuneração ao mutuante. Encontra-se previsto no art. 591 do CC:
Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob
pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização
anual.
Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada,
ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor
para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.
Obs: segundo prevalece no STJ, a taxa dos juros moratórios a que se refere o art. 406 do CC é a dispositivo
é a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia – SELIC (STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp
1105904/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/09/2012).
Desse modo, se Lucas empresta dinheiro a juros para Henrique, ele deverá se submeter às restrições do
art. 591 do CC. Por outro lado, um banco não estará limitado a tais exigências.
Súmula 596-STF: As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros
encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema
financeiro nacional.
Diante da ausência de lei que imponha limites aos juros cobrados pelas instituições financeiras, o STJ
construiu a seguinte regra: os juros cobrados pelos bancos devem utilizar como índice a taxa média de
mercado, que é calculada e divulgada pelo Banco Central (BACEN) em sua página na internet.
Vale ressaltar que essas taxas são divulgadas de acordo com o tipo de encargo que foi ajustado (prefixado,
pós-fixado, taxas flutuantes e índices de preços), com a categoria do tomador (pessoas físicas e jurídicas)
e com a modalidade de empréstimo realizada (hot money, desconto de duplicatas, desconto de notas
promissórias, capital de giro, conta garantida, financiamento imobiliário, aquisição de bens, 'vendor',
cheque especial, crédito pessoal etc.). Em outras palavras, para cada tipo de contrato existe uma média
das taxas que estão sendo cobradas pelos bancos naquele mês.
Desse modo, o correto é que o contrato bancário traga uma cláusula dizendo expressamente a taxa de
juros que será aplicada. No entanto, caso o contrato bancário não preveja, o STJ determina que deverá,
em regra, ser aplicada a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma
espécie.
Adotar essa taxa média é a solução mais adequada porque ela é calculada com base nas informações
prestadas por todas as instituições financeiras e, por isso, representa o ponto de equilíbrio nas forças do
mercado. Além disso, traz embutida em si o custo médio dos bancos e seu lucro médio, ou seja, um spread
médio (REsp 1112880/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2010).
O pedido de João foi acolhido? O mutuário terá direito de receber os valores pagos acrescidos de juros
remuneratórios no mesmo percentual que era previsto no contrato para ser cobrado pelo banco mutuante?
NÃO.
O mutuário que celebrar contrato de mútuo feneratício com a instituição financeira mutuante, não tem
direito de pedir repetição do indébito com os mesmos índices e taxas de encargos previstos no contrato.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.552.434-GO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/06/2018 (recurso
repetitivo) (Info 628)
E o mutuário, além do principal, terá direito de receber alguma taxa de juros remuneratórios?
O STJ resolveu não decidir isso ainda neste recurso especial considerando que ainda não havia uma
posição sedimentada do Tribunal a respeito.
Desse modo, a única conclusão que o STJ já firmou é a de que, em caso de repetição de indébito
envolvendo mútuo feneratício praticado por instituições financeiras mutuantes, o mutuário não terá
direito de receber de volta a quantia acrescida dos mesmos encargos que são cobrados pelos bancos.
Assim, por exemplo, se o banco cobrou uma taxa de 11% ao mês, o mutuário não terá direito de receber
o principal mais 11% ao mês. As decisões judiciais que determinarem essa equivalência, serão reformadas
com base nesse entendimento do STJ.
Não foi definido, contudo, ainda, o quanto o mutuário terá direito.
Lucro da intervenção
O lucro da intervenção, segundo Sérgio Savi, é o “lucro obtido por aquele que, sem autorização, interfere
nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa e que decorre justamente desta intervenção”
(Responsabilidade civil e enriquecimento sem causa: o lucro da intervenção. São Paulo: Atlas, 2012, p. 7).
Exemplo
Um exemplo didático, citado por Carlos Nelson Konder (Dificuldades de uma abordagem unitária do lucro
da intervenção), é o caso de um jóquei que subtrai um cavalo, contra as ordens do dono, para participar
de uma corrida, e acaba saindo vencedor.
O jóquei recebe um valioso prêmio pela conquista, e retorna o cavalo ileso à baia.
O dono do cavalo não experimentou dano, pois o cavalo não estava destinado àquela corrida e, de todo
modo, o animal retornou ileso.
O jóquei, por outro lado, lucrou significativamente com a prática do ato ilícito.
Ainda que se considerasse que o dono teria experimentado um dano correspondente ao aluguel do cavalo,
mesmo assim o lucro obtido pelo jóquei seria muito mais significativo do que o dano causado. Esse lucro,
ou essa diferença entre o lucro e o dano, é o que se denomina lucro da intervenção.
Pagar a vítima toda a quantia referente ao lucro da intervenção seria uma solução correta?
NÃO. Alguns podem estar pensando que a solução seria simplesmente entregar para a vítima a quantia
auferida como “lucro da intervenção”. Isso não é, contudo, totalmente correto. Não se pode simplesmente
determinar que a vítima receba integralmente o lucro da intervenção porque neste caso ela estará
recebendo mais do que teria direito, considerando que seu prejuízo foi “x” e ela estaria recebendo “x” +
o lucro da intervenção. Isso contraria a função indenitária do princípio da reparação integral.
Em nosso exemplo, se João recebesse a quantia principal mais os juros iguais aos cobrados pelo banco,
João não estaria sendo restituído ao status quo ante. Ele estaria lucrando (e bastante) com a restituição
porque os juros bancários são altos.
No exemplo do jóquei, se ele fosse condenado a pagar ao dono do cavalo o valor integral do prêmio, essa
medida seria excessiva, uma vez que a habilidade do jóquei também contribuiu para o sucesso no torneio.
Este inciso II, ao afirmar que os lucros cessantes serão equivalentes aos benefícios auferidos pelo autor da
violação, determina, em outras palavras, que o autor da violação pague ao prejudicado o “lucro da
intervenção”. Vale ressaltar, contudo, que o caput do art. 210 chama isso de “lucros cessantes”. É a
doutrina especializada quem identifica nisso uma hipótese de “lucro da intervenção”.
Art. 886. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios
para se ressarcir do prejuízo sofrido.
HIPOTECA
Interesse de agir do credor hipotecário de que o imóvel dado em garantia seja construído de
acordo com os padrões de qualidade previstos no contrato de compra e venda
O credor hipotecário tem interesse de agir para propor ação em face do mutuário visando ao
cumprimento de cláusula contratual que determina a observância dos padrões construtivos
do loteamento.
Ex: João celebrou contrato de compra e venda de um imóvel (terreno) em um loteamento. O
contrato de compra e venda foi celebrado entre João e a sociedade empresária Constrói Ltda.
Ocorre que neste contrato de compra e venda havia ainda um pacto adjeto (contrato
acessório) de mútuo feneratício com garantia hipotecária, que foi firmado entre João e a
sociedade empresária Habitac Crédito Imobiliário S.A. Por força deste pacto adjeto, João
recebeu da Habitac um empréstimo (mútuo) para adquirir o imóvel e, como garantia de que
iria pagar a dívida, deu o bem em hipoteca.
A ideia deste loteamento era a de que todas as casas ali construídas fossem parecidas e
mantivessem uma qualidade mínima. Assim, no contrato havia cláusulas dizendo os padrões
que deveriam ser respeitados no momento da construção (ex: construção toda em alvenaria,
fachada com mármore ou granito etc).
João construiu a sua casa no loteamento, mas não respeitou os padrões previstos no contrato.
O estilo da fachada não estava igual ao que determinava o projeto e os materiais empregados
eram de menor qualidade que o exigido. Diante disso, a empresa Habitac Crédito Imobiliário
S.A. ajuizou ação de obrigação de fazer contra João pedindo que ele fosse condenado a
reformar a casa a fim de deixá-la dentro dos padrões previstos no contrato.
O STJ afirmou que a credora hipotecária tem interesse de agir para propor esta ação. Isso
porque ela tem interesse jurídico na valorização do bem dado em garantia. Se o devedor não
pagar a dívida, o bem dado em hipoteca será alienado. Logo, o credor hipotecário tem
interesse em que o imóvel seja construído de acordo com os padrões estabelecidos para o
loteamento a fim de que ele se mantenha valioso e, em caso de inadimplemento, possa ser
vendido por um bom preço, pagando a dívida.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.400.607-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/05/2018 (Info 628).
Personagens
Temos então os seguintes personagens:
• João: comprador do imóvel e mutuário (beneficiário do empréstimo);
• Constrói: vendedora do imóvel;
• Habitac: mutuante (emprestou o dinheiro).
Hipoteca
A hipoteca é uma espécie de direito real de garantia, disciplinada nos arts. 1.473 a 1.505 do Código Civil.
O devedor dá o imóvel em hipoteca para o credor, ou seja, esse imóvel fica vinculado à dívida como uma
garantia. O devedor permanece, contudo, com o domínio e na posse direta do bem. Ele não entrega
fisicamente o bem para o credor.
A função da hipoteca é assegurar e garantir ao credor pagamento da dívida, vinculando o bem dado em
garantia à sua satisfação.
Se a parte que deu o bem em hipoteca (devedor) pagar a dívida, a hipoteca se extingue.
Por outro lado, se o devedor não cumprir a sua obrigação, o credor poderá “executar a hipoteca”, ou seja,
o imóvel dado em garantia será vendido judicialmente e o valor obtido utilizado para pagar o débito.
Padronização
A ideia deste loteamento era a de que todas as casas ali construídas fossem parecidas e mantivessem uma
qualidade mínima. Assim, no contrato havia cláusulas dizendo os padrões que deveriam ser respeitados
no momento da construção (ex: construção toda em alvenaria, fachada com mármore ou granito etc).
Teoria da asserção
No STJ, prevalece a chamada teoria da asserção ou da prospettazione (em contraposição à teoria da
apresentação ou da exposição).
Segundo a teoria da asserção, o exame da legitimidade ad causam e do interesse processual deve ser
realizado in status assertionis, ou seja, à luz das afirmações do autor constantes na petição inicial, sem
qualquer inferência sobre a veracidade das alegações ou a probabilidade de êxito da pretensão deduzida.
DIVÓRCIO
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do
casamento, desde que comprovado o esforço comum para sua aquisição
Importante!!!
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do
casamento, desde que comprovado o esforço comum para sua aquisição.
Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser comprovado.
O regime de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é
aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.623.858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF
5ª Região), julgado em 23/05/2018 (recurso repetitivo) (Info 628).
Nomenclatura
O art. 1.641 trata sobre a separação obrigatória de bens (também chamada de separação legal de bens).
Havendo dissolução de casamento que era regulado pelo regime da separação obrigatória de bens (art.
1.641, II, do CC), como deve ser feita a partilha dos bens?
Deverão ser partilhados apenas os bens adquiridos onerosamente na constância da união estável, e desde
que comprovado o esforço comum na sua aquisição.
Desse modo, em nosso exemplo, Andressa terá direito à meação dos bens adquiridos durante o
casamento, desde que comprovado o esforço comum. Esse é o entendimento pacificado do STJ:
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde
que comprovado o esforço comum para sua aquisição.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.623.858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª
Região), julgado em 23/05/2018 (Info 628).
Se houvesse presunção do esforço comum o regime da separação obrigatória não existiria na prática
Se fosse adotada a ideia de que o esforço comum deve ser presumido isso levaria à ineficácia do regime
da separação obrigatória (ou legal) de bens, pois, para afastar a presunção, o interessado teria que fazer
prova negativa, comprovar que o ex-cônjuge ou ex-companheiro em nada contribuiu para a aquisição
onerosa de determinado bem. Isso faria com que fosse praticamente impossível a separação dos aquestos.
A exigência de comprovação do esforço comum é mais consentânea com os fins da separação legal
O entendimento de que a comunhão dos bens adquiridos pode ocorrer, desde que comprovado o esforço
comum, parece mais consentânea com o sistema legal de regime de bens do casamento, recentemente
adotado no Código Civil de 2002, pois prestigia a eficácia do regime de separação legal de bens.
Caberá ao interessado comprovar que teve efetiva e relevante (ainda que não financeira) participação no
esforço para aquisição onerosa de determinado bem a ser partilhado com a dissolução da união (prova
positiva).
(...) 3. Inaplicabilidade, in casu, da Súmula 377 do STF, pois esta se refere à comunicabilidade dos bens no
regime de separação legal de bens (prevista no art. 1.641, CC), que não é caso dos autos.
3.1. O aludido verbete sumular não tem aplicação quando as partes livremente convencionam a separação
absoluta dos bens, por meio de contrato antenupcial. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1481888/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 10/04/2018.
ALIMENTOS
É possível a fixação de alimentos em valores ou em percentuais diferentes entre os filhos?
Em regra, não deverá haver diferença no valor ou no percentual dos alimentos destinados a
prole, pois se presume que, em tese, os filhos - indistintamente - possuem as mesmas
demandas vitais, tenham as mesmas condições dignas de sobrevivência e igual acesso às
necessidades mais elementares da pessoa humana.
A igualdade entre os filhos, todavia, não tem natureza absoluta e inflexível, de modo que é
admissível a fixação de alimentos em valor ou percentual distinto entre os filhos se
demonstrada a existência de necessidades diferenciadas entre eles ou, ainda, de capacidades
contributivas diferenciadas dos genitores.
Exemplo: João possui dois filhos, com mulheres diferentes. Para o filho 1, paga 20% de seu
salário e para o filho 2, 15%. O STJ admitiu que essas pensões sejam em valores diferentes
porque a capacidade financeira da mãe do filho 2 é muito maior do que a genitora do filho 1.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.624.050/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/06/2018 (Info 628).
Isso é permitido? É possível a fixação de alimentos em valores ou em percentuais diferentes entre os filhos?
Em regra, não. Isso por força do princípio da igualdade entre os filhos, previsto no art. 227, § 6º da CF/88,
no art. 1.596 do Código Civil e no art. 20 do ECA:
Art. 227 (...)
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
O art. 227, § 6º é princípio constitucional da mais alta grandeza e relevância, sendo merecedor de especial
atenção porque por meio dele se pretende corrigir uma histórica discriminação entre os filhos a depender
das circunstâncias de suas concepções.
Assim, em regra, não deverá haver diferença no valor ou no percentual dos alimentos destinados a prole,
pois se presume que, em tese, os filhos - indistintamente - possuem as mesmas demandas vitais e devem
ter as mesmas condições dignas de sobrevivência e igual acesso às necessidades mais elementares da
pessoa humana.
Exceções
A igualdade entre os filhos, todavia, não tem natureza absoluta e inflexível, de modo que é admissível a
fixação de alimentos em valor ou percentual distinto entre os filhos se demonstrada a existência de
necessidades diferenciadas entre eles ou, ainda, de capacidades contributivas diferenciadas dos genitores.
Por essa razão, é possível vislumbrar situações em que a fixação de alimentos em valor ou percentual
distinto entre a prole é admissível, razoável e até mesmo indispensável. Isso pode acontecer por razões
ligadas à necessidade do alimentado ou à capacidade contributiva dos alimentantes.
Em suma:
Em regra, não deverá haver diferença no valor ou no percentual dos alimentos destinados a prole, pois se
presume que, em tese, os filhos - indistintamente - possuem as mesmas demandas vitais, tenham as mesmas
condições dignas de sobrevivência e igual acesso às necessidades mais elementares da pessoa humana.
A igualdade entre os filhos, todavia, não tem natureza absoluta e inflexível, de modo que é admissível a
fixação de alimentos em valor ou percentual distinto entre os filhos se demonstrada a existência de
necessidades diferenciadas entre eles ou, ainda, de capacidades contributivas diferenciadas dos genitores.
Exemplo: João possui dois filhos, com mulheres diferentes. Para o filho 1, paga 20% de seu salário e para
o filho 2, 15%. O STJ admitiu que essas pensões sejam em valores diferentes porque a capacidade
financeira da mãe do filho 2 é muito maior do que a genitora do filho 1.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.624.050/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/06/2018 (Info 628).
DIREITO DO CONSUMIDOR
Importante!!!
A concessionária de transporte ferroviário pode responder por dano moral sofrido por
passageira, vítima de assédio sexual, praticado por outro usuário no interior do trem.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.662.551-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 628).
A questão chegou até o STJ. A empresa concessionária tem o dever de indenizar neste caso?
SIM.
Cláusula de incolumidade
Existe uma cláusula que está implícita nos contratos de transporte. Trata-se da chamada “cláusula de
incolumidade”, segundo a qual se impõe ao transportador, mesmo que implicitamente, o dever de zelar
pela incolumidade do passageiro, levando-o, a salvo e em segurança, até o local de destino.
Conforme explica Sérgio Cavalieri Filho, “a característica mais importante do contrato de transporte é a
cláusula de incolumidade que nele está implícita. A obrigação do transportador não é apenas de meio, e
não só de resultado, mas também de segurança. Não se obriga ele a tomar as providências e cautelas
necessárias para o bom sucesso do transporte; obriga-se pelo fim, isto é, garante o bom êxito” (Programa
de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 12ª ed., 2015, p. 398).
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob
qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Ex2: cracker invade o sistema do banco e consegue Ex2: um terremoto faz com que o telhado do
transferir dinheiro da conta de um cliente. banco caia, causando danos aos clientes que lá
estavam.
Ex3: durante o transporte da matriz para uma das
agências, ocorre um roubo e são subtraídos
diversos talões de cheque (trata-se de um fato que
se liga à organização da empresa e aos riscos da
própria atividade desenvolvida).
O fortuito interno NÃO exclui a obrigação do O fortuito externo é uma causa excludente de
fornecedor de indenizar o consumidor. responsabilidade.
A análise é casuística, sendo necessário avaliar, na hipótese trazida a julgamento, se o dano sofrido pelo
passageiro extrapola ou não os limites da cláusula de incolumidade do contrato.
Exemplos nos quais o STJ reconheceu que o fato de terceiro era causa excludente da responsabilidade
(fortuito EXTERNO):
• dano sofrido pelo passageiro em virtude de uma pedra que foi arremessada contra o ônibus ou trem
(AgInt nos EREsp 1.325.225/SP, DJe de 19/09/2016);
• assalto a mão armada no interior do veículo de transporte coletivo (AgRg no REsp 620.259/MG, DJe de
26/10/2009);
• assalto a mão armada nas dependências da estação metroviária (REsp 974.138/SP, DJe de 09/12/2016);
• morte de usuário do transporte coletivo, vítima de “bala perdida” (AgRg no REsp 1.049.090/SP, DJe de
19/08/2014);
• danos decorrentes de explosão de bomba em composição de trem (AgRg nos EDcl nos EREsp
1.200.369/SP, DJe de 16/12/2013).
Em suma:
A concessionária de transporte ferroviário pode responder por dano moral sofrido por passageira,
vítima de assédio sexual, praticado por outro usuário no interior do trem.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.662.551-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 628).
Valor da indenização
No caso concreto, o STJ condenou a CPTM a pagar R$ 20 mil a título de indenização por danos morais.
PROTEÇÃO CONTRATUAL
O consumidor paga uma multa para a operadora do cartão de crédito caso atrase as parcelas,
não se podendo querer aplicar essa mesma multa, com base no equilíbrio contratual, para a
empresa que vende os produtos pela internet
Contestação
A empresa contestou a demanda explicando que não é ela que cobra, diretamente, a multa moratória de
seus clientes. Trata-se de uma cobrança da operadora do cartão de crédito utilizado pelo consumidor.
Desse modo, são dois contratos:
• um contrato de compra e venda celebrado entre o consumidor e a Kalunga;
• um contrato de cartão de crédito firmado entre o consumidor e a operadora do cartão.
O contrato de cartão de crédito não é um pacto acessório ao contrato de compra e venda. Na verdade,
são pactos autônomos, com fornecedores de serviços diversos e cláusulas diferentes e incomunicáveis.
Logo, a Kalunga não tem relação direta com a cláusula de mora nas compras com cartão de crédito tendo
em vista que esta é decorrente de uma relação do consumidor com a instituição financeira.
O contrato de cartão de crédito não pode ser considerado “umbilicalmente” ligado ao contrato de compra
e venda. O consumidor dispõe de diversos outros meios de pagamento e, portanto, não depende apenas
de determinado cartão para efetuar compras no site da empresa, sendo, ademais, diversas as bandeiras
de cartão aceitas como meio de pagamento.
No pacto entre o consumidor e a operadora de cartão não se pode cogitar de desequilíbrio contratual,
uma vez que a cobrança de encargos moratórios é contrapartida contratual e legalmente prevista diante
da mora do consumidor, que obteve o crédito de forma fácil e desembaraçada, sem prestar garantia
adicional alguma além da promessa de pagar no prazo acertado.
A operadora do cartão de crédito não pertence à vendedora nem está caracterizado grupo econômico que
abranja as duas pessoas jurídicas, sendo os respectivos contratos autônomos entre si, celebrados em
épocas distintas e sem interferências recíprocas.
Como justificar a imposição, pelo Judiciário, de uma cláusula penal à empresa, com base no princípio do
equilíbrio contratual, se a multa moratória não é por ela cobrada, nem reverterá em seu proveito?
A circunstância de que o consumidor se utiliza do cartão de crédito como facilitador para adquirir produtos
em lojas virtuais, o que é de seu interesse e também da empresa vendedora, por aumentar a possibilidade
de meios de pagamento e, portanto, de negócios, não implica a quebra da autonomia entre os contratos
de cartão de crédito e o contrato de compra e venda. Assim, não se vislumbra que a imposição da multa
contratual para empresa seja um corolário do princípio do equilíbrio contratual entre comprador e
vendedor erigido no Código de Defesa do Consumidor.
Hipótese diversa seria aquela em que a própria vendedora financiasse, com capital próprio, os contratos
de compra e venda e estabelecesse cláusulas penais para os casos de inadimplemento por parte do
adquirente das mercadorias, ou se o consumidor fosse obrigado a celebrar, no mesmo momento, os
contratos de compra e venda e de cartão de crédito, ambos apresentados pelo vendedor do produto,
caracterizando inclusive venda casada. Tais circunstâncias, no entanto, não se verificam neste caso, não
se podendo considerar cláusulas do anterior contrato de cartão de crédito para efeito de reconhecer
desequilíbrio na negociação comercial realizada com a vendedora.
Em suma:
Em compras realizadas na internet, o fato de o consumidor ser penalizado com a obrigação de arcar com
multa moratória, prevista no contrato com a financeira, quando atrasa o pagamento de suas faturas de
cartão de crédito não autoriza a imposição, por sentença coletiva, de cláusula penal ao fornecedor de
bens móveis, nos casos de atraso na entrega da mercadoria e na demora de restituição do valor pago
quando do exercício do direito do arrependimento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.412.993-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 08/05/2018 (Info 628).
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
A Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/2015
Importante!!!
O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento consolidado na Súmula
345 do STJ, de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos individuais
de cumprimento de sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e
promovidos em litisconsórcio.
O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não se aplica para as execuções individuais, ainda que promovidas
em litisconsórcio, pedindo o cumprimento de julgado proferido em sede de ação coletiva lato
sensu, ação civil pública ou ação de classe.
Em resumo, a Súmula 345 do STJ continua válida mesmo com o art. 85, § 7º, do CPC/2015.
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções
individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas.
Art. 85. (...) § 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda
Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.
STJ. Corte Especial. REsp 1.648.238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 20/06/2018 (recurso
repetitivo) (Info 628).
Diante disso, ele propôs execução individual cobrando o pagamento das verbas relacionadas com a aludida
gratificação.
A União não apresentou embargos à execução, ou seja, não se opôs ao pagamento dos valores a João.
Mas a União não embargou... mesmo assim, ela terá que pagar?
SIM. Esse é o entendimento consolidado do STJ. Confira:
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções individuais de
sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas.
Por que não se aplica a regra do art. 1º-D da Lei nº 9.494/97 para o exemplo acima dado? O art. 1º-D
da Lei nº 9.494/97 não está em confronto com a Súmula 345-STJ?
O STJ entende que a execução INDIVIDUAL destinada à satisfação do direito reconhecido em sentença
condenatória genérica, proferida em ação civil COLETIVA, não é uma “execução comum”. Isso porque essa
execução individual possui uma elevada carga cognitiva, considerando que nela:
• além de ser realizada a individualização e a liquidação do valor devido (definição do quantum debeatur);
• irá ser decidido se o exequente é ou não o titular do direito material reconhecido na ação coletiva.
Em outras palavras, trata-se de uma execução na qual se irá discutir se o exequente é ou não titular do
crédito, algo que não se debate em uma execução “comum”, “tradicional”.
Súmula 345-STJ e art. 1º-D da Lei 9.494/97 convivem, cada um disciplinando uma situação diferente
Desse modo, é preciso distinguir as duas situações:
• Súmula 345-STJ: aplica-se para as execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas. Nelas
serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública, ainda que esta não tenha apresentado
embargos à execução;
• Art. 1º-D da Lei nº 9.494/97: destina-se às execuções típicas do Código de Processo Civil, não se aplicando
à peculiar execução da sentença proferida em ação civil coletiva (STJ. 1ª Seção. EREsp 475.566/PR, Rel.
Min. Teori Albino Zavascki, DJ 13/09/2004).
Em outras palavras, o § 7º disse que se a Fazenda Pública, devedora, não apresentou impugnação ao
cumprimento de sentença, ela não deverá ser condenada a pagar honorários advocatícios.
Diante disso, a doutrina afirmou que a Súmula 345 do STJ teria sido superada. Nesse sentido: Leonardo da
Cunha.
O STJ acolheu a posição da doutrina? A Súmula 345 do STJ perdeu validade com a entrada em vigor do
§ 7º do art. 85 do CPC/2015?
NÃO. O STJ entende que a súmula continua válida mesmo após o CPC/2015. Confira:
O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento consolidado na Súmula 345 do STJ,
de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos individuais de cumprimento de
sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e promovidos em litisconsórcio.
STJ. Corte Especial. REsp 1.648.238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 20/06/2018 (recurso
repetitivo) (Info 628).
Para o STJ, não houve mudança no ordenamento jurídico, uma vez que o art. 85, § 7º, do CPC/2015
reproduz basicamente o teor normativo contido no art. 1º-D da Lei 9.494/97, dispositivo que foi analisado
quando da edição da súmula.
Conforme já explicado, o procedimento de cumprimento individual de sentença coletiva não pode receber
o mesmo tratamento pertinente a um procedimento de cumprimento comum, uma vez que traz consigo
a discussão de uma nova relação jurídica.
A sentença coletiva gera um título judicial genérico, no qual não estão definidas a certeza e a liquidez do
direito de cada titular do crédito a ser executado, atributos que somente poderiam ser identificados e
dimensionados mediante a propositura de execuções individuais, nas quais seriam expostas as
peculiaridades de cada demandante, o que implica complexidade diferenciada no processo executório, a
qual persiste mesmo que não tenham sido ajuizados embargos à execução.
Tem-se, pois, que a contratação de advogado é indispensável, uma vez que, conforme já
demonstrado, também é necessária a identificação da titularidade do direito do exequente em
relação ao direito pleiteado, promovendo-se a liquidação do valor a ser pago e a individualização
do crédito, o que torna induvidoso o conteúdo cognitivo exauriente dessa específica fase de
cumprimento. A imperiosa presença do causídico revela, por consequência, o direito à sua devida
remuneração.”
Apenas para que você entenda melhor (não é tecnicamente correto afirmar isso na prova): na execução
individual (cumprimento individual) de sentença proferida em ação coletiva, o advogado do exequente
(credor) terá mais “trabalho” do que em uma execução comum (cumprimento comum). Isso porque ele
terá que demonstrar que seu cliente tem direito ao crédito que foi discutido no processo de
conhecimento. Assim, como essa comprovação terá que ser obrigatoriamente feita, são devidos
honorários advocatícios mesmo que a Fazenda Pública não apresente impugnação a esse cumprimento
de sentença.
IMPENHORABILIDADE
Os valores recebidos pelo beneficiário como indenização do seguro de vida são impenhoráveis,
mas até o limite de 40 salários mínimos
Importante!!!
A impenhorabilidade dos valores recebidos pelo beneficiário do seguro de vida limita-se ao
montante de 40 (quarenta) salários mínimos, por aplicação analógica do art. 833, X, do
CPC/2015, cabendo a constrição judicial da quantia que a exceder.
Cuidado com a redação literal do art. 833, VI, do CPC/2015: “São impenhoráveis: (...) VI - o
seguro de vida”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.354-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/05/2018 (Info 628).
Se quem estiver sendo executado for o segurado, o exequente não poderá penhorar os valores do seguro
de vida porque esta quantia não pertence ao segurado, sendo uma estipulação em favor de terceiro
(beneficiário). É o que prevê o art. 794 do Código Civil:
Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado
não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito.
2ª corrente: argumenta que a regra da impenhorabilidade incide apenas enquanto o seguro de vida for
uma expectativa do direito. Depois que o valor fosse pago, não haveria mais a impenhorabilidade. É a lição
de Pontes de Miranda.
Caráter alimentar
O direito do beneficiário do seguro de vida deve prevalecer sobre o direito do credor, de modo a preservar
o mínimo necessário à sua sobrevivência. Isso porque a finalidade do seguro de vida é proporcionar um
rendimento a alguém, não o deixando à míngua de recursos. Assim, essa quantia é impenhorável e isso
ocorre em virtude do caráter alimentar do benefício.
Em nosso exemplo, considerando que 40 salários mínimos equivalem a R$ 35.200,00, esse montante seria
impenhorável e, por outro lado, o credor poderia ficar com R$ 64.800,00.
Provas objetivas
Cuidado com as assertivas em caso de provas objetivas. As duas afirmações abaixo, caso apareçam na sua
prova, estarão corretas:
• É impenhorável o seguro de vida;
• Segundo o STJ, a impenhorabilidade dos valores recebidos pelo beneficiário do seguro de vida limita-se
ao montante de 40 (quarenta) salários mínimos.
EMBARGOS DE TERCEIRO
Não é cabível a reconvenção apresentada em embargos de terceiro, sob a égide do CPC/1973
Reconvenção
O réu de uma demanda poderá oferecer contestação, “expondo as razões de fato e de direito com que
impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir” (art. 336 do CPC/2015).
No entanto, uma outra opção disponível para o réu é a de apresentar reconvenção contra o autor.
Assim, podemos dizer que a reconvenção é...
- uma espécie de resposta do réu
- no qual ele (réu originário/reconvinte) irá demandar contra o autor originário (reconvindo)
- ou seja, ele irá formular uma pretensão própria contra o autor originário
- pretensão esta que deve ser conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
A reconvenção é, portanto, um contra-ataque do réu. Trata-se de uma demanda (ação) proposta pelo réu
contra o autor, no prazo de resposta, aproveitando-se do mesmo processo em que o réu está sendo
demandado.
Pressupostos da reconvenção
Para que seja possível a reconvenção, é necessário o preenchimento de três pressupostos processuais:
1) Conexão: a pretensão formulada pelo réu/reconvinte deverá ser conexa com a ação principal ou com o
fundamento da defesa (art. 343 do CPC/2015);
2) Competência: o pedido formulado pelo réu/reconvinte precisa ser de competência do juízo que está
julgando a ação originária. Se aquilo que o réu/reconvinte pretende for de competência de outro juízo,
não cabe reconvenção.
3) Identidade procedimental: o procedimento previsto para o pedido formulado na reconvenção deve ser
o mesmo da ação originária. Isso porque a ação principal e a reconvenção seguirão conjuntamente no
mesmo procedimento. Logo, os ritos não podem ser diferentes.
Atenção: como a reconvenção é uma demanda (uma ação) proposta pelo réu contra o autor, no pedido
de reconvenção deverá constar o valor da causa. É o que diz o art. 292 do CPC/2015: “O valor da causa
constará da petição inicial ou da reconvenção (...)”. Chamo atenção para esse fato porque tem sido
cobrado reiteradamente nas provas:
(Juiz de Direito TJ-CE 2018 CESPE) Com base no CPC, é correto afirmar que o valor da causa é um requisito
legal da petição inicial, mas não da reconvenção. (ERRADO)
(PGE/PE 2018 CESPE) O réu apresentou pedido reconvencional, mas não indicou o correspondente valor
da causa. Nessa situação hipotética, o juiz deverá determinar
A) a abertura de prazo para a réplica, pois o valor da causa não é necessário na reconvenção.
B) o desentranhamento da reconvenção e o seguimento do processo, considerando apenas a contestação.
C a abertura de prazo para a réplica, pois não cabe ao juiz, de ofício, corrigir valor da causa ou sua ausência.
D) a emenda da contestação, sob pena de não conhecimento do pedido reconvencional em particular,
sem prejuízo da defesa apresentada contra o pedido do autor na mesma peça.
E) a emenda da contestação, sob pena de revelia, ônus aplicável se, após oportunizada a correção pelo
juiz, o réu persistir na omissão.
Letra D
Embargos de terceiro
Os embargos de terceiro são...
- uma ação de conhecimento
- com rito especial,
- por meio da qual uma pessoa objetiva livrar um bem do qual tenha posse (como senhor/proprietário
ou possuidor),
- bem este que está sofrendo ou na iminência de sofrer
- uma constrição judicial (exs: penhora, arresto, sequestro etc.)
(Juiz TRF3 2015 banca própria) Os embargos de terceiro permitem a qualquer pessoa estranha ao processo
discutir a titularidade dos direitos disputados pelas partes. (CERTO)
Não é cabível a reconvenção apresentada em embargos de terceiro, sob a égide do Código de Processo
Civil de 1973.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.578.848-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/06/2018 (Info 628).
O art. 1.053 do CPC/1973 dizia o seguinte: “Os embargos poderão ser contestados no prazo de 10 (dez)
dias, findo o qual proceder-se-á de acordo com o disposto no art. 803”.
Já o art. 803 afirmava que:
Art. 803. Não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo requerido, como
verdadeiros, os fatos alegados pelo requerente (arts. 285 e 319); caso em que o juiz decidirá
dentro em 5 (cinco) dias.
Parágrafo único. Se o requerido contestar no prazo legal, o juiz designará audiência de instrução
e julgamento, havendo prova a ser nela produzida.
Logo, segundo o CPC/1973, após a fase de contestação, os embargos de terceiro não seguiam o rito
ordinário. Seguiam um rito especial, previsto no art. 803 e seguintes.
Diante disso, o STJ concluía que não cabia reconvenção nos embargos de terceiro porque não haveria
previsão para essa forma de defesa no rito especial do art. 803.
Veja o que dizia Nelson Nery ao comentar o tema na vigência do CPC/1973:
“Reconvenção. Não se admite nos embargos de terceiro por incompatibilidade procedimental, já que
estes têm rito especial e aquela, normalmente, rito ordinário”. (NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo
civil comentado. 14ª ed. São Paulo: RT, 2014)
Assim, podemos identificar dois “indícios” de que será possível a reconvenção nos embargos de terceiro
no CPC/2015:
1º) O novo CPC prevê que a reconvenção é apresentada na mesma peça que a contestação. Veja:
Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria,
conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
(...)
§ 6º O réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer contestação.
Logo, não haveria sentido em se restringir esse instrumento processual para o embargado.
2º) depois da contestação, os embargos de terceiro seguem o rito comum, de forma que não se trata mais
de um rito “especial”:
Art. 679. Os embargos poderão ser contestados no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual se
seguirá o procedimento comum.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) É possível determinar o rompimento do vínculo estabelecido por provedores de aplicação de busca na
internet entre o nome de prejudicado, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia apontada
nos resultados. ( )
2) Em todo contrato de mútuo feneratício celebrado com instituição financeira mutuante, não cabe a
repetição do indébito com os mesmos encargos do contrato. ( )
3) O credor hipotecário não tem interesse de agir para propor ação em face do mutuário visando ao
cumprimento de cláusula contratual que determina a observância dos padrões construtivos do
loteamento. ( )
4) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) No regime de separação obrigatória de bens, é vedada a comunicação de bens
adquiridos na constância do casamento. ( )
5) (DPE/PR 2012) Marcelo firmou contrato de mútuo feneratício com João e José, pelo qual emprestou
cinco mil reais para cada um, a fim de que os mesmos iniciassem um pequeno comércio. Neste caso, não
havendo estipulação de juros, estes não serão presumidos. ( )
6) (DPE/PR 2012) Marcelo firmou contrato de mútuo feneratício com João e José, pelo qual emprestou
cinco mil reais para cada um, a fim de que os mesmos iniciassem um pequeno comércio. Neste caso, em
se tratando de contrato civil, é válida a previsão de juros capitalizados anualmente, ainda que sem taxa
estipulada, quando então estes encargos serão fixados segundo a taxa referencial do Sistema Especial de
Liquidação e Custódia (SELIC). ( )
7) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) De acordo com o entendimento dominante no STJ, as condições da ação, incluída
a legitimidade das partes, devem ser aferidas pelo juiz com base na teoria da asserção, ou seja, de forma
abstrata e de acordo com as afirmações deduzidas na petição inicial. ( )
8) (TJ/SP 2015) É obrigatório o regime da separação de bens aos que contraírem matrimônio com
inobservância das cláusulas de impedimento da celebração do casamento. ( )
9) No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde
que comprovado o esforço comum para sua aquisição. ( )
10) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) No regime de separação obrigatória de bens, é vedada a comunicação de bens
adquiridos na constância do casamento. ( )
11) (Defensor DPE-RN 2015 CESPE) O pacto antenupcial é indispensável na celebração do casamento pelo
regime da separação obrigatória de bens. ( )
12) Excepcionalmente, é admissível a fixação de alimentos em valores ou em percentuais diferentes entre
os filhos. ( )
13) A concessionária de transporte ferroviário pode responder por dano moral sofrido por passageira, vítima
de assédio sexual, praticado por outro usuário no interior do trem. ( )
14) Em compras realizadas na internet, o fato de o consumidor ser penalizado com a obrigação de arcar com
multa moratória, prevista no contrato com a financeira, quando atrasa o pagamento de suas faturas de
cartão de crédito não autoriza a imposição, por sentença coletiva, de cláusula penal ao fornecedor de
bens móveis, nos casos de atraso na entrega da mercadoria e na demora de restituição do valor pago
quando do exercício do direito do arrependimento. ( )
15) O art. 85, § 7º, do CPC/2015 não afasta a aplicação do entendimento consolidado na Súmula 345 do STJ,
de modo que são devidos honorários advocatícios nos procedimentos individuais de cumprimento de
sentença decorrente de ação coletiva, ainda que não impugnados e promovidos em litisconsórcio. ( )
16) Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública que enseje
expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada. ( )
17) São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções individuais de sentença
proferida em ações coletivas, desde que não embargadas. ( )
18) A impenhorabilidade dos valores recebidos pelo beneficiário do seguro de vida limita-se ao montante de
40 (quarenta) salários mínimos. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. E 5. E 6. C 7. C 8. E 9. C 10. E
11. E 12. C 13. C 14. C 15. C 16. C 17. E 18. C