Você está na página 1de 3

“E não se fala mais nisso”

Duas amigas sentadas em cadeiras tomando café em frente à sua casa.


Edijé: Credo, esse café aqui tá mais quente do que água para pelar porco.
Clarisse: oh, coloca um pouquinho pra mim aqui! Um pouquinho.
Edijé: Oxe não quer nem esperar o café esfriar...
Clarisse: Edijé, depois que tu separou de Zé Maria não soube de mais notícia dele?
Edijé: Minha irmã, e arde quem me disse aí que o pai dela foi tentar ser técnico de
futebol em um time da terceira divisão do Rio de Janeiro.
Clarisse: Vije, logo agora que o Sampaio subiu? Vem cá, e agora como ficou a
separação de bens?
Edijé: Que bens minha irmã? Que bens que Zé Maria me deixou? O homem nunca me
deu nada, tudo que eu tenho, eu conseguir com o meu suor. A única coisa que ele
deixou foi um passarinho, que depois que ele foi embora eu soltei.
Clarisse: Tá certo.
Jacirema – Edijé? Vixe, Clarisse Milhome visitando pobre, esse defunto quer choro.
Edijé: Vixe, minha panela pegou pressão, eu tô em uma confusão, uma briga com essa
panela minha irmã, que ela só pega pressão no dia que ela quer. Vou logo aproveitar e
vou lá.
Jacirema corre e senta-se na cadeira.
Clarisse: Eita, que tu não deixou nem a cadeira esfriar. Quase que tu senta no colo de
Dijé.
Jacirema: E Clarisse, tu já sabe do fuxico do momento?
Clarisse: Credo Jacirema, tu já vem falar mal da vida dos outros. Olha fuxico não é
chique e eu não suporto quem senta em porta pra falar mal da vida dos outros.
Jacirema: Uii, era sobre a separação de Dijé e.....
Clarisse: Então me conta...
Jacirema: Zé Maria trocou Dijé por uma menina mais nova; ah meu amor eles foram
dá um tempo lá no Rio de Janeiro, chegando lá o bonitinho se encasquetou por uma
torcedora do Bangu. Trocou de mulher e ainda trocou de time.
Clarisse: Olha, trocar uma mulher com dijé é burrice, agora trocar Sampaio pelo Bangu
aí já é vocação pra sofrer..
Jacirema: Dijé descobriu foi tudo, por causa de um print.
Clarisse: Novos tempos, né Jacirema? Antigamente a mulher precisava dá o flagra no
homem, agora não, bastou o print, a mulher acabou o casamento. Essa versão da história
ela não me contou...

1
Jacirema: Pra mim também não. Mas meu amor o que eu não souber, eu descubro.
Clarisse: Vem cá, e como é que tu ficou sabendo dessa história? Tu tem um print ou
serviu de travesseiro pra Zé Maria?
Jacirema: eu comprei foi uma passagem para o Rio de Janeiro, só para saber desse
fuxico.
Clarisse: Jacirema tu tem muito tempo e muito dinheiro. Olha uma passagem daqui
para o Rio de Janeiro tá cara.
Jacirema: Eu fui de ônibus.
Clarisse: Minha irmã, tu pegou três dias na estrada por causa de um fuxico?
Jacirema: E três noites.
Clarisse: E Jacirema, será que foi mesmo chifre?
Jacirema: Foi chifre sim minha irmã...
Entra Edijé batendo palmas...
Edijé: Êpa, se foi chifre eu não sei, eu só sei que sou nem a primeira e nem a última, eu
não tô abrindo nem fechando.
Entregador: Edijé, licença. Tá aqui o galão de água que a senhora me pediu; ô, já
trouxe um e logo, logo trago os outros dois, tá bom? Ah! E tô sabendo que seu Zé Maria
foi embora né? Mas não se preocupa com isso não, tá? Porque o que a senhora precisar,
pode contar comigo que eu resolvo.
Edijé: Então vamos lá dentro pegar o outro galão vazio.
Clarisse: Vixe, duas pessoas para trocar um galão?
Jacirema: Pra trocar o galão eu não sei, mas que me deu sede, ah me deu.
Clarisse: E Jaça, quem é esse?
Jacirema: Meu amor, esse aí é José de Ribamar, mas conhecido aqui no Fumacê como
Riba. Clarisse, ele é dono de um depósito de água, eita minha irmã, ele ganha dinheiro.
Clarisse: Olha...
Volta Edijé e a filha, discutindo.
Edijé: Olha, tu procura me respeitar..
Filha: Eu não vou aceitar...
Edijé: Tu não tem nada que aceitar, foi eu que te pari, não foi tu que me pariu...
Filha: Mamãe, Riba aqui de novo? Eu não vou aceitar. A senhora não deixou nem o
corpo de papai esfriar.
Clarisse: Ei Eiarde, seu pai não morreu não, ele apenas trocou tua mãe por uma menina
mais nova.

2
Edijé: E como tu sabe disso Clarisse?
Clarisse: oh (Apontando para Jacirema)
Filha: Hello, hello... Ribas estudou comigo. A senhora não tem vergonha não mamãe?
Jacirema: Eita que agora que ficou bom...
Clarisse: Ficou bom nada. Vem cá, que machismo é esse Eiarde? Quer dizer que tu só é
moderna nas redes sociais postando coisas sobre os direitos das mulheres? Agora vem
com esse discurso horroroso. Meu amor, quer dizer que um homem mais velho pode
namorar com uma menina mais nova? Agora uma mulher mais velha não pode namorar
um menino mais novo? Ei, machismo mata.
Edijé: Muito bem...
Filha: Gente, a senhora acha certo uma mãe ficar com um pequeno novinho?
Clarisse: Meu amor, não sendo de menor, que mal tem?
Jucirema: De menor, esse aí não tem mais é nada.
Filha: Não quero saber, não vou aceitar. Nem eu, nem meus irmões. Vou falar pra eles,
vou falar... (sai).
Edijé: Ah, não sei em que tu tá se confiando...
Jucirema: Oxe, mas eu gostava tanto de Zé Maria...
Clarisse: Eita Jacirema minha irmã, tu é muito falsa. Olha, vivia dizendo que Zé Maria
não tinha sal, quase não falava e quando abria a boca era só pra falar “ô preta”. Mas
menino, pronto. Agora virou a melhor pessoa. Tá quinem aquele povo que não presta,
que quando morre, vira santo.
Edijé: Êpa, que quem tem que gostar aqui ou não, sou eu. E não se toca mais o nome de
Zé Maria nessa casa. Tá ouvindo dona Jacirema? Urubu levou a chave.
Aparece o entregador sem camisa, com um galão de água vazio.
Entregador: Edijé, já deixei tudo organizado lá dentro, agora só vou lá no depósito
buscar os outros dois, tá bom?
Edijé: Tá bom, mas ver se não demora.
Clarisse: Eeeedijé, vem cá. Pra quê tanta água? Tu tá tendo um açude no quintal ou tá
criando um camelo?
Edijé: Clarisse, tu é tão debochada
Clarisse: Iiii, tá é de grande....
Todas caem no riso. Luzes se apagam.

FIM!

Você também pode gostar