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Universidade Agostinho Neto

Faculdade de Direito

Direito Administrativo Angolano

Por: Carlos Teixeira


Professor Associado da
Faculdade de Direito da
Universidade Agostinho
Neto
FUNDAMENTOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

Foi – me confiada a responsabilidade de no âmbito do curso de mestrado em ciências


jurídico – económicas e desenvolvimento local, animar o módulo que tem por objectivo, o
refrescamento em uns casos e aprofundamento noutros dos fundamentos do direito.

Considerando que dessa acção formativa participam quadros provenientes de distintas


arais do saber, designadamente da gestão, contabilidade, economia, ciência política é direito;
algum cuidado se recomenda na formatação do conteúdo do módulo, com o especial
propósito de tomar a abordagem do mesmo acessível a todos, em ordem a permitir um debate
aberto sobre os assuntos trazidos à liça, bem como uma troca profícuo de saberes e
experiências resultantes da prática profissional de todos os participantes do curso.
Nestas perspectivas, constitui nosso desafio, apresentar de modo interactivo, uma ementa na
abordagem dos fundamentos do direito, tendo como meta e em face da heterogeneidade de
base, a transversalidade dessa abordagem.
Elegi como roteiro, o enquadramento da necessidade do direito, que nos reencaminha
para as suas acepções consagradas na dogmática jurídico; bem como a sua análise entre as
outras ordens normativas conhecidas como a religião, a cortesia e a ética.
Considerando que o direito não é um fim em si mesmo e tem como propósito resolver os
problemas da sociedade em que se insere, não podíamos de deixar de fazer uma incursão
procurando ligar, discutir em problematizar estas duas realidades.
O mesmo, procuramos fazer com a relação direito e economia, aproveitando desde
logo o âmbito do curso em que o módulo se insere e a própria geografia humana e formativa
do grupo.
Considerando os fins específicos de justiça e segurança que informam em tese toda a
formatação do direito, descrevemos sobre estes assuntos, contextualizando tanto quanto
possível a realidade Angolana.

1
Entretanto, não resistimos a tentação de revisitar as construções teoréticas sobre a norma
jurídica, sua definição e estrutura, matérias que para os formando de matriz jurídica,
representará em algumas situações o refrescamento das teses e orientações com que há anos
tomam contacto, mas noutras constituirá uma oportunidade para o aprofundamento de
orientações mais actualistas sobre o assunto.
Considerando que a actual constituição da República consagra no seu artigo--------- o
costume como fonte de direito, entendemos por bem e dado a sua pertinência incluir no nosso
diálogo a problemática das fontes de direito, revisitando o assunto, tendo como guia a
Constituição.
As particularidades de Angola e do seu sistema jurídico em constituição,
representarem o além para que nestas nossas análises convocássemos para o nosso estudo, os
grandes sistemas jurídicos.
Para terminar o nosso módulo, pareceu-nos interessante colocar na ementa a
problematização sobre a actualidade da “ sumo division” dos ramos do direito em público
privado, numa altura em que muito se fala as parcerias público-privadas, de mercado, de
regulação, de intervenção e ou desintervenção do Estado na economia.
Para a análise desses assuntos na pauta das economias modernas, desenvolvidas,
emergentes ou em desenvolvimento, encontramos um campo fértil para reflexão e
extrapolação à luz da realidade angolana.
Com estes conteúdos, temos como objectivos gerais, capacitar o mestrando de visão autoca
não só sobre as matérias eleitas, mas de outras tratadas latere, despertando a capacidade de
construção teórica críticas, incentivando a pesquisa em busca de soluções inovadoras
discutidas e validadas.
Num campo mais específico procuramos trabalhar em aspectos metodológico, tendo
em vista dar aplicação prática ao instrumental teórico acumulando no processo docente
educativo e de formação e desenvolvimento de novas habilidades, bem como potencia-los e
ou actualizá-los com ferramentas teoréticas e práticas para a elaboração, numa primeira fase
dos relatórios correspondentes aos temas em discussão, bem como a elaboração da
dissertação de mestrado.
Quanto ao método das prelecções elegemos o expositivo - interactivo, dialéctico e
crítico.

1
A Necessidade do Direito

Ao tratarmos deste assunto, não podemos deixar de trazer a colocação a história, tendo
no seu centro o homem, que desde os primórdios da sua existência tem vivido em
comunidades sociais de dimensão e estruturas diferentes e diferenciadas.
Assim vimos o homem em família, no clã, na tribo, na cidade, no estado, em qualquer
dos casos sempre integrados em busca da sociabilidade.
Pelo que precede, a sociedade, o viver com os outros é sem sombra de dúvidas o
destino do homem.
O que é então a sociedade e como se estrutura?
A resposta a essa questão, passa pela assumpção do conceito de solidariedade, como
trave mestra na formação e cosão do agrupamento social.
Esta solidariedade pode ser mecânica, quando decorre de esforços de todos para a
satisfação de necessidade todos para a satisfação das necessidades comuns, em domínios
como o da defesa e salvaguarda da integridade física, a saúde, a distribuição de água, da
electricidade etc.
Para além da solidariedade mecânica, fala-se também na solidariedade orgânica,
decorrente da divisão do trabalho, assente na conexão recíproca de interesses. Estes tipos de
solidariedade pode ser identificada e exemplificada no decurso da relação empregatória, em
que o empregador e o empregado têm um vínculo de solidariedade em que o empregado só
pode pretender a recepção do seu ordenado se por sua vez satisfazer a prestação do trabalho a
que esta adstrito e na mesma ordem o empregador só pode beneficiar do trabalho do
empregado se lhe retribuir o vencimento correspondente.
Este exemplo dentre muitos serve tão só para dizer que a sociedade organiza-se
assente no interesse ou interesses, que tem como denominador comum, relações de
consciência e de interdependência.
É em homenagem a esses interesses que se constroem as regras que definem os
comportamentos devidos por cada um dos autores do agregado social.

1
Estes comportamentos densificam os contributos que são devidos a satisfação dos
interesses colectivos, definem-se as condutas a adoptar reciprocamente.
Dito doutro modo a sociedade formada um conjunto de normas, princípios e regras
ordenadoras das suas diversas estruturas e instituições.
Nas situações em que essas regras falham ou se revelam inexistentes, a comunidade
social fica sujeita a perigos que tais regras, normas e princípios visam evitar.
Embora alguns pensadores discutam a natureza social do homem, outros como Hobbes
e Roussean defendem que ele é eminentemente social e sociável.
Nesta linha de raciocínio esta também Aristóteles, que definiu o homem como um
animal politico, nascido para viver dentro da polio, por outras palavras na comunidade.
Entretanto a relação do homem e a sociedade é também explicada e explicável à luz de
outras ciências e de outros sabores, tais como a antropologia, a sociologia para só citar estes
exemplos e a cuja incursão recomenda para efeitos de enriquecimento “ backgrond” e melhor
compreensão.
As acepções de Direito

a) Sentido objectivo
A vido do homem decorre na parte mais significativa do seu ciclo sob o império de
princípios, normas ou regras definitivas dos seus comportamentos tipificados.
Mas muitas das condutas humanas são determinadas por outras regras, as sociais que
prescrevem e balizam os comportamentos e devidos. Trata-se pois de regras
interiorizadas ao longo do processo formativo e de aprendizagem e que de modo
espontâneo e por vezes quase inconsciente acata, porque decorrente do património
cultural constitutivo, ou no dizer de certos teóricas, correspondente a sua segunda
natureza1

Mas o que é então o direito?

1
() a higiene, o modo como nos sentamos à mesa, a condução pela directa nos termos previstos pelo direita nos termos
previstos pelo Código de Estudo, o Café que habitualmente tomamos, a saudação que fazemos a pessoas amigas etc.

1
O direito é em primeira análise uma realidade normativa 2 , sendo certo que nem todas
as normas reguladoras da actividade humana são normas jurídicas ou de direito .
Densificando um pouco melhor, diremos que o direito alicerça-se em normas jurídicas
cujo comando é blindada pela coercibilidade, ou seja susceptível de imposição pela força.
São exemplos típicos os comandos constantes do Código Civil 3 ou do Código Penal.

b) Sentido subjectivo

Na sua acepção subjectiva, direito corresponde o poder ou faculdade, concretizadora da


acepção objectiva geradora do poder ou faculdade em que se alicerçam as três principais
teorias que visam densificar o direito subjectivo.
Assim a, teoria da vontade, que tem como seu principal arauto o insigne jurista alemã
Savigny, o direito subjectiva representa um poder da vontade juridicamente tutelado. Ele
confere acento teórico na vontade como faculdade psicológica.
A teoria do interesse também da escola alemã, definida por Ihering afirma que o direito
subjectivo é um interesse juridicamente protegido.
Em substância para Ihering o conceito identificar-se com o interesse que convulado em
direito subjectivo mercê da outorga de protecção legal.
As teorias ecléticas, renunciam as construções puritanas e monistas anteriores.
Autores como Michoud, Santoro – Passorelhi elaboraram as respectivas construções
teóricas com base no interesse e o poder, definindo respectivamente o direito subjectivo
como interesse juridicamente protegidos mediante um poder reconhecido à vontade de os
defender e representar.
Na nossa escola de inspiração jurídica, a portuguesa, Mota Pinto também define o direito
subjectivo como um poder jurídico que é atribuído pela ordem jurídica a alguém para que
possa livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo (acçã) ou
negativo (omissão) ou de por acto livre de vontade produzir determinados efeitos jurídicos
que inevitavelmente se impõe a outra pessoa (contraparte ou adversário).
2
() Conjunto de normas da conduta

3
Vidé artigos 1142º, 1187º

1
O Direito Entre as Ordens Normativas: Religião, Cortesia e Ética
Vimos já que o direito é apenas um dos sistemas do universo normativo que vai para além
dele, havendo entretanto quem diga que outros são pré-existentes a ele, como são o caso da
religião, a cortesia e a moral.
Estas no seu conjunto constituem o universo normativo em que assenta a vida cultural do
homem em e da sociedade.
A Constituição da República de Angola consagra no seu artigo – a liberdade de
consciência, de religião e de culto.
Já no que a moral diz respeito, teremos que fazer outras asserções, porquanto
verificamos a estreitoza de conexão as normas éticas4 e o direito que uma doutrina (a do
mínimo ético).

Administração Publica Em Angola – O Poder Executivo

A aprovação da Constituição da República de Angola pela Assembleia Constitucional


em Janeiro de 2010 e a consequente promulgação pelo Presidente da República ao 5 de
Fevereiro do mesmo ano trouxe profundas alterações a organização Administrativa Angolana
cujo sentido e alcance recomenda um necessário e adequado estudo.
É pois com esse propósito que iremos discorrer sobre os aspectos que consideramos
mais relevante e que resultam da leitura que fazemos da actual estruturação da Administração
Pública Angolana resultante da nova cenário Constitucional.
Neste quadro, primeiro grande alteração que vislumbramos que advém da própria
organização do pode do Estado à luz da actual Constituição.
O artigo 105º da Constituição da República descreve como órgãos de soberania 5 o
Presidente da República, a Assembleia Nacional e os Tribunais.
A anterior Lei Constitucional colocada neste elenco também o Governo.
Por força desta nova colocação, o poder executivo é exercido pelo Presidente da
República que é concomitantemente o Chefe de Estado e o Comandante em Chefe das Forças
Armadas Angolanas.
4
( ) A ética numa acepção mais ampla, identifica-se com o espaço normativo; em sentido restrito, a ética é sinónimo de
moral.
5
Ver artigo 105º nº 1

1
O Presidente da República é o responsável pelo cumprimento das leis e dos acordos
internacionais e como garante, assegura o regular funcionamento dos demais órgãos do
Estado.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Com as responsabilidades anteriormente descritas e nos termos do nº 5 do artigo 108º


da Constituição, o Presidente da República é o responsável pela execução e aplicação das
leis, sendo nesta tarefa auxiliada por um vice-presidente, ministro de estados e ministros,
conforme aliás dispõe o nº 2 do já citado artigo 108º. Ministérios e – Secretárias de Estado
inseridas naquelas, integram os departamentos executivos e na base do principio da
especialidade auxiliam o Presidente da República no exercício das competências decorrentes
da titularidade do poder executivo.
Enquanto titular do poder executivo e nos termos do artigo 120º da constituição compete
ao Presidente da República:
a) Definir a orientação política do País nos termos da constituição;
b) Dirigir a politica geral da governação do País e da administração pública;
c) Submeter a Assembleia Nacional a proposta de orçamento geral do Estado;
d) Dirigir os serviços e a actividade da administração directa do Estado, civil e militar,
superintender a administração indirecta e exercer a tutela sobre a administração
autónoma;
e) Definir a orgânica e estabelecer a composição do poder executivo;
f) Estabelecer no número e a designação dos Ministros de Estado, Ministros, Secretários
de Estado e Vice-Ministros;
g) Definir a orgânica dos Ministérios e provar o regimento do Conselho de Ministros;
h) Solicitar a Assembleia Nacional a autorização legislativa nos termos da Constituição
da República;
i) Exercer iniciativa legislativa, mediante propostas de lei apresentadas a Assembleia
Nacional

1
j) Convocar e presidir às reuniões do Conselho de Ministros e fixar a sua agenda de
trabalhos;
k) Dirigir e orientar a acção do Vice-Presidente da República, dos Ministros de Estado e
Ministros e dos Governadores de Províncias;
l) Elaborar regulamentos necessários à boa execução das leis;

Para além dos Departamentos executivos auxiliares, estão também sob a autoridade do
Presidente da República os Serviços de Informação e segurança do Estado e os Serviços de
Inteligência Externa, decorrente das competências que a constituição dá ao titular do poder
executivo no domínio da Segurança Nacional6.
Neste domínio, compete ao Presidente da República:
a) Definir a política de Segurança Nacional;
b) Determinar, orientar e decidir obre a estratégia de actuação da Segurança Nacional;
c) Aprovar o planeamento operacional o sistema de segurança nacional e dirigir sobre a
estratégia de emprego e utilização das forças Armadas Angolanas e demais
organizações de protecção interior de órgãos de inteligência de Segurança de Estado;
d) Convocar e presidir ao Conselho de Segurança Nacional;
e) Promover a fidelidade das Forças Armadas Angolanas, da Polícia Nacional e dos
órgãos de Inteligência e de Segurança de Estado à Constituição e as instituições
democráticas.

O Presidente da República promulga as leis da Assembleia Nacional nos trinta dias


posteriores à sua recepção, podendo solicitar de forma fundamentada a sua reapreciação,
após a qual uma maioria de dois terços, os deputados pode pôr o Presidente da República
uma promulgação no prazo de quinze dias contado da data da sua recepção nos serviços
auxiliares do Presidente da República7
Enquanto titular o poder executivo e no domínio das relações internacionais, compete ao
Presidente da República:
a) Definir e dirigir a execução da política externa do Estado;

6
Vide artigo 123º da Constituição da República de Angola
7
Vide artigo 123º da Constituição

1
b) Representar o Estado;
c) Assinar e rectificar, consoante os casos, depois de aprovado os tratados, convenções,
acordos e outros instrumentos internacionais:
d) Nomear e exonerar os embaixadores e designar os enviados extraordinários;
e) Acreditar os representantes diplomáticos estrangeiros;

Forma dos Actos

No exercício das suas competências, o Presidente da República emite decretos legislativos


presidenciais, decretos legislativos presidenciais provisórios, decretos presidenciais
despachos presidenciais, e são publicados no diário da República conforme dispõe o artigo
125º da Constituição.
A forma jurídica adequada depende da natureza da competência exercida, sendo aquela
explicitada nos nº 2,3 e 4 do já citado artigo 125º da Constituição.

O Vice – Presidente

O artigo 13 da Lei Constitucional da República de Angola consagra a figura do


Presidente da República no exercício da função executiva.
Nos termos da actual carta magna ele deverá no futuro ser eleito, sendo o candidato
número dois da lista, pelo círculo nacional do partido político ou coligação de partidos
políticos maior nota do no quadro das eleições gerais, realizado no abrigo do artigo 143º e
seguintes da Constituição.
Transitoriamente e sufragado pelo nº 2 do artigo 241º da Constituição e até a
realização das próximas eleições gerais, é da competência do Presidente da República.
Convém notar, de in contendo que actual constituição pretendeu aproximar-se ao
regime de provimento do cargo de Vice-Presidente americano é eleito juntamente com o
Presidente, mas por um Colégio Eleitoral.
No contexto actual, estamos próximos do regime que vigora na África do Sul, em que
o Presidente da República nomeia o Vice-Presidente, dentre os membros da Assembleia
Nacional.

1
Quais são, as funções do Vice – Presidente da República?
Como principal auxiliar do presidente da República, assume a Presidência da
República nas ausências no exterior do País do Presidente da República, bem como nas
situações de impossibilidade ou de impedimento temporário, cabendo-lhe no dizer da
constituição, assumir a gestão corrente da função executiva.
Pessoalmente, não tenho simpatia por essa formulação, que não é clara, já que o
legislador, quer constitucional, quer o ordinário nunca diz o que deve ser entendido por
gestão corrente.
Considerando que enquanto órgão auxiliar do Presidente da República no exercício da função
executiva, assiste-o na condução de programa específicos que lhe são designados por aquele,
melhor seria a meu ver uma outra forma jurídica ao Vice – Presidente da República no
exercício interino das funções de Presidente da República.
(1) Ver outros desenvolvimentos in Constitucional Law; de IM RAUTENBACH e EFJ MALHERBE, SA EDIÇÃO; LEXIX NERIS páginas
208 e seguintes
(2)

Ministro de Estado

Enquanto titular do poder executivo e nos termos do nº 2 do artigo 108º da Constituição,


o Presidente da República conta com o auxílio de Ministros de Estado que exercem poderes
delegados pelo Presidente da República.
Entretanto, a Constituição não é esclarecedora quanto aos termos desta delegação.
Colocam-se aqui questões que os estudiosos do direito constitucional e do direito
administrativo, deverão dar resposta nos próximos tempo da aplicação da actual carta magna.
Nesta sede deveremos encontrar resposta para as seguintes questões.
Haverá uma delegação genérica do titular do poder executivo nos Ministros de Estado
para que estas possam exarar decretos executivos e despachos?
Ou estaremos perante a situação em que o titular do poder executivo efectuará tal
delegação casuisticamente?
Ministros Secretario de Estado e Vice-Ministros

1
Os Ministros, são tal como o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado
auxiliares do titular do poder executivo, sendo que por sua vez os Ministros são auxiliares
por Secretariados de Estados e ou Vice-Ministros, se os houver.
Estando os Ministros a testa por delegação genérica ou composta de departamentos
governativos, eles são a meu ver e a luz do actual texto constitucional, tão só os mais altos
membros do corpo executivo do Estado, cujo poder é titulado pelo9 Presidente da
República

Administração Publica Em Angola – O Poder Executivo

A aprovação da Constituição da República de Angola pela Assembleia Constitucional


em Janeiro de 2010 e a consequente promulgação pelo Presidente da República ao 5 de
Fevereiro do mesmo ano trouxe profundas alterações a organização Administrativa Angolana
cujo sentido e alcance recomenda um necessário e adequado estudo.
É pois com esse propósito que iremos discorrer sobre os aspectos que consideramos
mais relevante e que resultam da leitura que fazemos da actual estruturação da Administração
Pública Angolana resultante da nova cenário Constitucional.

Neste quadro, primeiro grande alteração que vislumbramos que advém da própria
organização do pode do Estado à luz da actual Constituição.
O artigo 105º da Constituição da República descreve como órgãos de soberania 8 o
Presidente da República, a Assembleia Nacional e os Tribunais.
A anterior Lei Constitucional colocada neste elenco também o Governo.
Por força desta nova colocação, o poder executivo é exercido pelo Presidente da
República que é concomitantemente o Chefe de Estado e o Comandante em Chefe das Forças
Armadas Angolanas.
O Presidente da República é o responsável pelo cumprimento das leis e dos acordos
internacionais e como garante, assegura o regular funcionamento dos demais órgãos do
Estado.

8
Ver artigo 105º nº 1

1
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Com as responsabilidades anteriormente descritas e nos termos do nº 5 do artigo 108º


da Constituição, o Presidente da República é o responsável pela execução e aplicação das
leis, sendo nesta tarefa auxiliada por um vice-presidente, ministro de estados e ministros,
conforme aliás dispõe o nº 2 do já citado artigo 108º.- Ministérios e – Secretárias de Estado
inseridas naquelas, integram os departamentos executivos e na base do principio da
especialidade auxiliam o Presidente da República no exercício das competências decorrentes
da titularidade do poder executivo.
Enquanto titular do poder executivo e nos termos do artigo 120º da constituição compete
ao Presidente da República:
m) Definir a orientação política do País nos termos da constituição;
n) Dirigir a politica geral da governação do País e da administração pública;
o) Submeter a Assembleia Nacional a proposta de orçamento geral do Estado;
p) Dirigir os serviços e a actividade da administração directa do Estado, civil e militar,
superintender a administração indirecta e exercer a tutela sobre a administração
autónoma;
q) Definir a orgânica e estabelecer a composição do poder executivo;
r) Estabelecer no número e a designação dos Ministros de Estado, Ministros, Secretários
de Estado e Vice-Ministros;
s) Definir a orgânica dos Ministérios e provar o regimento do Conselho de Ministros;
t) Solicitar a Assembleia Nacional a autorização legislativa nos termos da Constituição
da República;
u) Exercer iniciativa legislativa, mediante propostas de lei apresentadas a Assembleia
Nacional
v) Convocar e presidir às reuniões do Conselho de Ministros e fixar a sua agenda de
trabalhos;

1
w) Dirigir e orientar a acção do Vice-Presidente da República, dos Ministros de Estado e
Ministros e dos Governadores de Províncias;
x) Elaborar regulamentos necessários à boa execução das leis;

Para além dos Departamentos executivos auxiliares, estão também sob a autoridade do
Presidente da República os Serviços de Informação e segurança do Estado e os Serviços de
Inteligência Externa, decorrente das competências que a constituição dá ao titular do poder
executivo no domínio da Segurança Nacional9.
Neste domínio, compete ao Presidente da República:
f) Definir a política de Segurança Nacional;
g) Determinar, orientar e decidir obre a estratégia de actuação da Segurança Nacional;
h) Aprovar o planeamento operacional o sistema de segurança nacional e dirigir sobre a
estratégia de emprego e utilização das forças Armadas Angolanas e demais
organizações de protecção interior de órgãos de inteligência de Segurança de Estado;
i) Convocar e presidir ao Conselho de Segurança Nacional;
j) Promover a fidelidade das Forças Armadas Angolanas, da Polícia Nacional e dos
órgãos de Inteligência e de Segurança de Estado à Constituição e as instituições
democráticas.

O Presidente da República promulga as leis da Assembleia Nacional nos trinta dias


posteriores à sua recepção, podendo solicitar de forma fundamentada a sua reapreciação,
após a qual uma maioria de dois terços, os deputados pode pôr o Presidente da República
uma promulgação no prazo de quinze dias contado da data da sua recepção nos serviços
auxiliares do Presidente da República10
Enquanto titular o poder executivo e no domínio das relações internacionais, compete ao
Presidente da República:
f) Definir e dirigir a execução da política externa do Estado;
g) Representar o Estado;

9
Vide artigo 123º da Constituição da República de Angola
10
Vide artigo 123º da Constituição

1
h) Assinar e rectificar, consoante os casos, depois de aprovado os tratados, convenções,
acordos e outros instrumentos internacionais:
i) Nomear e exonerar os embaixadores e designar os enviados extraordinários;
j) Acreditar os representantes diplomáticos estrangeiros;

Forma dos Actos

No exercício das suas competências, o Presidente da República emite decretos


legislativos presidenciais, decretos legislativos presidenciais provisórios, decretos
presidenciais despachos presidenciais, e são publicados no diário da República conforme
dispõe o artigo 125º da Constituição.
A forma jurídica adequada depende da natureza da competência exercida, sendo aquela
explicitada nos nº 2,3 e 4 do já citado artigo 125º da Constituição.

O Vice – Presidente

O artigo 13 da Lei Constitucional da República de Angola consagra a figura do


Presidente da República no exercício da função executiva.
Nos termos da actual carta magna ele deverá no futuro ser eleito, sendo o candidato
número dois da lista, pelo círculo nacional do partido político ou coligação de partidos
políticos maior nota do no quadro das eleições gerais, realizado no abrigo do artigo 143º e
seguintes da Constituição.
Transitoriamente e sufragado pelo nº 2 do artigo 241º da Constituição e até a
realização das próximas eleições gerais, é da competência do Presidente da República.
Convém notar, de in contendo que actual constituição pretendeu aproximar-se ao
regime de provimento do cargo de Vice-Presidente americano é eleito juntamente com o
Presidente, mas por um Colégio Eleitoral.
No contexto actual, estamos próximos do regime que vigora na África do Sul, em que
o Presidente da República nomeia o Vice-Presidente, dentre os membros da Assembleia
Nacional.
Quais são, as funções do Vice – Presidente da República?

1
Como principal auxiliar do presidente da República, assume a Presidência da
República nas ausências no exterior do País do Presidente da República, bem como nas
situações de impossibilidade ou de impedimento temporário, cabendo-lhe no dizer da
constituição, assumir a gestão corrente da função executiva.
Pessoalmente, não tenho simpatia por essa formulação, que não é clara, já que o
legislador, quer constitucional, quer o ordinário nunca diz o que deve ser entendido por
gestão corrente.
Considerando que enquanto órgão auxiliar do Presidente da República no exercício da
função executiva, assiste-o na condução de programa específicos que lhe são designados por
aquele, melhor seria a meu ver uma outra forma jurídica ao Vice – Presidente da República
no exercício interino das funções de Presidente da República.

(3) Ver outros desenvolvimentos in Constitucional Law; de IM RAUTENBACH e EFJ MALHERBE, SA EDIÇÃO; LEXIX NERIS páginas
208 e seguintes

Ministro de Estado

Enquanto titular do poder executivo e nos termos do nº 2 do artigo 108º da Constituição,


o Presidente da República conta com o auxílio de Ministros de Estado que exercem poderes
delegados pelo Presidente da República.
Entretanto, a Constituição não é esclarecedora quanto aos termos desta delegação.
Colocam-se aqui questões que os estudiosos do direito constitucional e do direito
administrativo, deverão dar resposta nos próximos tempo da aplicação da actual carta magna.
Nesta sede deveremos encontrar resposta para as seguintes questões.
Haverá uma delegação genérica do titular do poder executivo nos Ministros de Estado
para que estas possam exarar decretos executivos e despachos?
Ou estaremos perante a situação em que o titular do poder executivo efectuará tal
delegação casuisticamente?
Ministros Secretario de Estado e Vice-Ministros
Os Ministros, são tal como o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado
auxiliares do titular do poder executivo, sendo que por sua vez os Ministros são auxiliares
por Secretariados de Estados e ou Vice-Ministros, se os houver.

1
Estando os Ministros a testa por delegação genérica ou composta de departamentos
governativos, eles são a meu ver e a luz do actual texto constitucional, tão só os mais altos
membros do corpo executivo do Estado, cujo poder é titulado pelo9 Presidente da
República

O CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO ENQUANTO


GARANTIA DE DEFESA DOS CIDADÃO PERANTE A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1
GARANTIA DA LEGALIDADE E DOS ADMINISTRADOS

A garantia do cumprimento das leis e o respeito dos direitos subjectivos e interesses


legítimos dos administrados reveste-se de capital importância, na medida em que traduz uma
imposição evidente do Estado Direito muito referenciada nas mais variadas ordens jurídicas,
contudo nem sempre materializado.

Entre nós tal questão é igualmente de inquestionável importância, sobretudo agora em


que os adventos das mudanças económicas e políticas que o nosso país vem conhecendo,
apontam para efectivação desta garantias plasmadas nos mais variados diplomas legais.

Qual é entendimento que devemos ter garantias?

Segundo Prof. MARCELLO CAETANO insigne cultor deste quadrante da ciência


jurídica, constituem garantias todos os meios criados pela ordem jurídica com a finalidade
imediata de prevenir ou remediar, quer as violações do direito objectivo (garantias da
legalidade quer as ofensas dos direitos subjectivos ou interesses legitimas dos particulares
garantias dos administrados).

Para o Prof. Freitas do Amaral as garantias são os meios criados pela ordem jurídica
com a finalidade de evitar ou de sancionar quer violações do direito objecto, quer as ofensas
dos direitos subjectivos e dos interesses legítimos dos particulares, pela constatar, não pode
separar ou melhor dito dificilmente se poderá separar “in totum” esta duas espécies de
garantias.

Vamos a partir daqui proceder a referências ainda que sumárias das garantias
plasmadas em algumas diplomas legais contra as actuações indevidas da Administração
Pública. Todavia, alertamos que apesar de grande parte delas não se materializarem por
distorções no sistema, temos fé que de uma perspectiva pragmática a sua materialização será
uma realidade.

As garantias que procuraremos escalpelizar aqui, são classificadas pela doutrina, tendo
em atenção à natureza dos meios em que consiste: podemos nesta base ver garantias
políticas, garantias graciosas (ou administrativas) e garantias contenciosas (ou judiciais).

Garantias Políticas

São garantias políticas todas as que se encontram estabelecidas pela Constituição da


República de Angola para serem dinamizadas através dos órgãos supremos do poder político
e bem assim as que são atribuídas aos cidadãos para serem directamente exercidas contra os
actos ilegítimos da autoridade.

1
Neste quadro, particular ênfase será dado a garantia políticas da legalidade sobretudo
no que tange aos meios de fiscalização da acção governativa, da constitucionalidade das leis,
do cumprimento das leis e a apreciação dos actos do Executivo e da Administração Pública.

As garantias políticas são como diz Freitas do Amaral mais garantias do ordenamento
constitucional do que propriamente garantias subjectivas do cidadão, no caso do nosso
ordenamento jurídico resume-se chamado na doutrina ao direito de petição.

Fica assim patente a insuficiência dessas garantias, que se revelam até um certo ponto
inseguras porquanto a apreciação e efectividade assentam em critérios de conveniência
política, quando o que os cidadãos mais necessitam é de garantias jurídicas sobretudo num,
Estado como o nosso que se pretende democrático e de direito.

Garantias Graciosas

São garantias graciosas todas as que se efectivam através da alteração dos órgãos da
Administração activa.

Estas garantias são disciplinadas através do processo administrativo 11 gracioso que


aliás encontra conforto no artigo 200º- da constituição da Republica de Angola.

De entre as garantias graciosas da legalidade convêm distinguir as preventivas:


(autorizações tutelares e o visto Tribunal de Contas 12 destinadas a observar, melhor dito a
examinar os actos administrativos antes de serem praticados ou executados) das repressivas
(aplicações de sanções no exercício de poderes hierárquicos ou tutelares) trata-se pois da
actuação depois de praticados os actos ilegais, punindo os seus responsáveis e noutros casos
traduzem-se na eliminação ou atenuação dos actos feridos de ilegalidade.

A doutrina trata das garantias graciosas dividindo-as em três grandes grupos a saber:

1. As garantias políticas
2. As garantias impugnatórias
3. A queixa ao Provedor de Justiça13

Dos três grandes grupos, dedicamos a nossa atenção as garantias impugnatórias, por
nos parecer a que mais interessa a nossa abordagem e cujo desenvolvimento em tópicos
passarei mais adiante.

11
Pessoalmente defendo a expressão procedimento administrativo.
12
Ver o Artigo 6º e seguinte da Lei n.º 5/96.
13
O Provedor de Justiça nos termos da Constituição da República de Angola é uma entidade pública independente que
tem por objecto a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando através de meios informais a
justiça e a legalidade da actividade da Administração Pública.

1
Garantias Contenciosas

São garantias contenciosas todas que se efectivam através da actuação de órgãos


jurisdicionais (Tribunais).

Fortemente ligado a esta figura e com muita frequência se ouve falar do contencioso
administrativo, expressão de origem francesa tendo posteriormente sido pela melhor doutrina
do direito administrativo.

As garantias conte ciosas são quanto a mim, a forma mais apurada e eficaz dos direito
e interesses legítimos dos cidadãos, como aliás atestam os artigos 29º e 174º da Constituição.

Recurso Hierárquicos e a Reclamação

O Recurso Hierárquicos e a Reclamação na Lei 2/94

Vamos de seguida proceder a abordagem de uma matéria cuja importância não posso
deixar de assinalar porquanto constituem o recurso hierárquico e a reclamação duas das três
modalidade consagrada no nosso direito positivo de impugnação dos actos administrativos.

Assim consagra a Lei 2/94 no Artigo 9º o recurso hierárquico, dirigido do órgão


hierarquicamente superior ao que proferiu a acto de e a reclamação, dirigida ao órgão de que
dimana o acto como meios de impugnação dos actos administrativos.

Segundo este artigo, só os fundamentos de facto e de direito invocado para a


reclamação e para recurso hierárquico, podem constituir causa para o recurso contencioso.

Analisando mais friamente este artigo, concluo e na esteira da apreciação já feito pelo
Sr. Dr. Manuel Gonçalves – então Bastonário da Ordem dos Advogados aquando a
realização do 1º seminário que teve lugar em 1994 sobre contencioso administrativo, que tal
redacção é infeliz e muito forçada; porquanto não nos parece razoável que administrado
lesado não possa carecer para o recurso contencioso outros elementos de facto e de direito
que não tenha lançado mão nos meios de impugnação graciosa colocando uma limitação que
não cabe no espírito, nem na letra do artigo 29º da actual Constituição, nem mesmo se
enquadrava nas referências do artigo 43º da já enterrada Lei Constitucional que vigorava na
época.

Finalidade da Impugnação
Embora o Artigo 11º da Lei 2/94 fale em objecto da impugnação, prefiro a esta, a
expressão; que corresponde no recurso contencioso a declaração de invalidade ou anulação
dos actos impugnados e para o que mais interessa a abordagem que aqui e agora fazemos a
revogação ou alteração na impugnação por via da reclamação ou do recurso hierárquico.

1
Da Obrigatoriedade da Precedência
O nosso legislador ordinário, obriga a reclamação precedência da declaração e do
recurso hierárquico para o particular lesado possa interpor recurso contencioso. Esta tese da
precedência de que discordo vem plasmada no artigo 12º da Lei que temos estado a analisar.

Qual a razão desta discordância?

Socorro-me uma vez do artigo 29º da Constituição que confere aos cidadãos acesso ao
tribunal, reforçando com o princípio do acesso à justiça plasmado no artigo 109º do Decreto -
Lei n.º 16A/95.

Prazos para Impugnação


Também nesta matéria não fomos muito felizes pois parece existir uma gritante
dissonância intra- sistemática. Pois vejamos, a Lei 2/94 no seu artigo 13º fala num prazo de
30 dias para a impugnação dos actos administrativo por via da reclamação ou do recurso
hierárquico e de 60 dias para o recurso contencioso.

Já o Decreto – Lei n.º 16 A/95 dispõe no artigo 104º outro prazo para reclamação a
saber:

A reclamação deve ser apresentada no prazo de 15 dias a contar:

a) da publicidade do acto no Diário da República, quando a mesma seja obrigatória;

b) da notificação do acto, quando esta se tenha efectuado, se a publicação não for


obrigatória;

c) da data em o interessado tiver conhecimento do acto, nos restantes casos.

Quanto ao recurso hierárquico, o prazo para interposição é coincidente nos dois


diplomas.

O Recurso Hierárquicos e a Reclamação no Decreto - Lei 16A/95

Esta matéria neste diploma retoma em alguns casos e desenvolve em outros a


disciplina jurídica constante da Lei de Impugnação das Actos Administrativos, pois como
sabemos a Lei de Impugnação dedica a este dois meios de impugnação graciosa 6 artigos e
no Decreto – Lei 16 A / 95 são consagrados 19 artigos.

“Para apreciação de questões contenciosas que digam respeito a Administração Pública bem
como a fiscalização sobre actos que envolvam nomeação ou contratação de funcionários da
Administração Pública, serão competentes as salas e câmaras dos Tribunais Provinciais e do
Tribunal Supremo”.

1
Apesar dos inconvenientes que da opção por este sistema poderá resultar, tem contudo o
mérito de constituir um importante passo na moralidade da nossa Administração Pública.
Do Processo Administrativo

Noção do Processo
Apesar de termos estudado em processo declarativo nas mais variadas acepções, nunca
é demais repeti-lo aqui sobretudo na acepção que mais nos interessa, isto no sentido de
sucessão ordenada de formalidades pré – estabelecidas tendentes à formação ou execução de
uma vontade funcional.

Assim o processo administrativo será gracioso quando disciplinar o funcionamento e


actuação dos órgãos da administração que para que prossigam nos interesses postos por lei a
seu cargo devam praticar ou executar actos jurídicos.

Será contencioso quando disciplinar o funcionamento de um órgão independente


competência para decidir, a instância dos interessados e com força de caso julgado, as
contestações surgidas acerca da legalidade dos actos jurídicos anteriormente praticados pela
administração.

O processo administrativo gracioso entre nós será regulado por lei especial (Artigo 27º
n.º2 da lei sobre os princípios a observar pela Administração Pública).

O Decreto – Lei n.º 4A/96, publicado após a anterior aprovação e publicação da Lei
n.º 2/94 de 14 de Janeiro veio suprir as dificuldades de ordem prática evidenciadas, quer
pelos órgãos jurisdicionais, quer ainda pelos profissionais do foro.

OS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA ADMINISTRATIVA


CONSAGRADOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO

Ao falarmos dos princípios da justiça administrativa entre nós, há que considerar


desde logo, as características gerais da nossa ordem jurisdicional administrativa fundadas no
chamado Sistema Unificado de Justiça, que por razões específicas congrega todas as
jurisdições.

Da análise que se pode muito sumariamente fazer aos instrumentos jurídicos que entre
nós reportam-se justiça administrativa podemos erigir os seguintes princípios:

1º - Princípio da dualidade dos graus jurisdição: a hierarquia decisional na nossa


ordem jurisdicional administrativa só comporta dois níveis (ver artigos15º e seguintes da Lei
n.º 2/94).

1
2º - Princípio da alçada: qualquer caso ao ser submetido a Sala do Cível e
Administrativo do Tribunal Provincial ou Câmara do Cível e Administrativo do Tribunal
Supremo deve ter em consideração a importância jurídica ou económica do pedido 14 ou a
natureza dos sujeitos15.

3º - Princípio da Cognição em matéria de facto e de direito: em ambos os graus de


jurisdição administrativa há o poder de cognição em matéria de facto e em matéria de direito.
(ver Artigo 21º do Decreto – Lei 4/96).

4º - Princípio da Unidade de Jurisdição: reconduz-se a integração no Tribunal


Supremo, por força do Sistema Unificado de Justiça, do contencioso administrativo e do
contencioso comum.

5º - Princípio da Subsidiariedade: assenta precisamente na aplicação em matéria de


justiça administrava do regime de administrativa do regime jurídico de justiça comum em
tudo o que não esteja especialmente previsto nas leis administrativas. (ver dentre outros os
Artigo 69º n.º 1, 79º n.º 2, 82º n.º 3, 84º alínea c), 89º, 90º e 98º do Decreto – Lei n.º 4A/96).

6º- Princípio da decisão Previa: consiste na obrigatoriedade do recurso contencioso


ser dirigido contra um acto administrativo que tem de existir, ao menos aparentemente, antes
da interposição do recurso.

7º - Princípio do pedido: o tribunal decide de acordo com o pedido feito pelo


recorrente e, em princípio, limita o seu conhecimento ás questões de facto e de direito
suscitadas pelo recorrente (Artigo 21º do Decreto – Lei n.º 4A/96).

8º Princípio do Contraditório: o recurso contencioso esta sujeita ao contraditório:


por outras palavras significa dizer que elementos fornecidos por outras palavras, significa
dizer que os elementos fornecidos por um dos contentores devem poder ser discutidos pelos
outros. (Artigos 46º-,47º- e 49º-) do Decreto – Lei n.º 4A/96).

O CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO

Como é já do nosso conhecimento e porque por diversas vezes o temos referido o


nosso legislador constitucionalizou a justiça administrativa ao consagrar no artigo 43º da Lei
Constitucional que vigorou até Fevereiro de 2010 o direito a todos os cidadãos de impugnar e
de recorrer aos tribunais, contra todos os actos que violem os seus direitos nela (Lei
Constitucional) estabelecidos bem como nas demais legislações ordenaria.

14
A este respeito o Artigo 23º do Decreto – Lei n.º 4A/96 estabelece a alçada da Sala do Cível e Administrativo, do
Tribunal Supremo em sessenta vezes o salário mínimo da Função Pública.
15
Ver Artigos 16º, 17º e 18º da Lei n.º 2/94.

1
Hoje, a Constituição da República, consagra no seu artigo 29º o acesso ao direito e
tutela jurisdicional efectiva.

Na Senda destas disposições constitucional, a Lei de Impugnação dos Actos


Administrativos consagra na alínea c) do artigo 9º o recurso contencioso, interposto junto do
tribunal competente como um dos meios de impugnação.

O SISTEMA DE JUSTIÇA ADMINISTRATIVA EM ANGOLA

O Sistema unificado de Justiça confere aos tribunais comuns a faculdade de conhecer


e julgar os litígios entre a administração e os particulares como aliás decorre até da própria
Constituição quanto no seu artigo 174º preceitua:

1. Os tribunais são órgãos de soberania com competência de administrar a justiça em


nome do povo.

2. No exercício da função jurisdicional, compete aos tribunais dirimir conflitos de


interesse público ou privado, assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente
protegidos, bem como o princípio do acusatório e contraditório e reprimir as violações
de legalidade democrática.

3. Todas as entidades públicas e privadas têm o dever de cooperar com os Tribunais na


execução das suas funções, devendo praticar, nos limites da sua competência, os actos
que lhes forem solicitados pelos Tribunais.

Voltando a Lei 2/94, encontramos a consagração da competência respectivamente ao


plenário, da Câmara do cível e Administrativo para conhecer:

PLENÁRIO

a) Recursos dos acórdãos proferidos pela Câmara do Cível e administrativo em 1ª


instância.

b) Actos administrativos do Presidente da República e Titular do Poder Executivo, do


Presidente da Assembleia Nacional, e do Presidente do Tribunal Supremo.

DA CÂMARA DO CIVEL E ADMINISTRATIVO

a) Recursos dos actos administrativos dos membros do Governo, dos Governadores


Provinciais e das pessoas colectivas de direito público de âmbito nacional.

1
b) Das acções, derivadas de contratos de natureza administrativa, celebrados pelo
Executivo Central, Governos Provinciais e Pessoas Colectivas de Direito Público de
âmbito nacional.

c) Outros recursos e acções que lhe sejam cometidos por lei.

DA SALA DO CIVIL E ADMINISTRATIVO

a) Recursos dos actos administrativos dos órgãos locais do poder do Estado, abaixo do
Governador Provincial, das pessoas colectivas de direito público e das empresas
gestoras de serviços públicos de âmbito local.

b) Acções derivadas de contratos de natureza administrativa celebrados pelos órgãos e


organismos referidos na alínea anterior.

c) Outros recursos e acções que lhe sejam cometidas por lei.

Sistema de Secção Especializada

Podemos concluir que entre nós vigora o sistema de secção especializada com juízes
ordinários “experts” em matéria administrativa que julgam da legitimidade dos actos
administrativos.

Este sistema é aliás o adoptado em Espanha.

Justiça Administrativa em Angola

A justiça administrativa em Angola, sobretudo após independência encontra-se em


estado lactente porquanto não obstante a constitucionalidade da justiça administrativa, da
publicação da Lei de Impugnação dos Actos Administrativos a sua evolução continua lenta.
O Tribunal Supremo e os de 1ª instância continuam a não dar a contribuição jurisprudencial
que todos os utilizadores do direito, em especial os advogados e investigadores do direito
público deles legitimamente esperam.

Data do ano de 1996 a aprovação do Decreto – Lei n.º 4/96 que veio colmatar as
dificuldades de ordem prática, como sendo a suspensão da eficácia dos actos administrativos
impugnados, a suspensão temporária e a inexecução das decisões dos tribunais, transitadas
em julgado; para só alguns exemplos.

1
O Recurso Contencioso de Anulação no Decreto – Lei n.º 4A/96

Como dissemos anteriormente o Decreto – Lei n.º 4A/96 vem regulamentar o regime
jurídico em matéria de impugnação contenciosa constante da Lei n.º 2/94.

Numa primeira análise destes dois principais instrumentos em sede do contencioso


administrativo verificaremos claramente que encontra tratamento privilegiado, no sentido
mais minucioso o chamado contencioso por natureza e o contencioso por atribuição muito
timidamente tratado.

Assim são deixados de fora o contencioso dos regulamentos, dos direitos e interesses
legítimos.

Definição

O recurso contencioso de anulação é o meio de impugnação de um acto


administrativo, interposto perante o tribunal competente a fim de obter a anulação ou a
declaração de nulidade ou inexistência desse facto.

Finalidade

Tal como preceitua o Artigo 11º da Lei n.º 2/94 a anulação visa eliminar da jurídica
um acto administrativo inválido.

Os Elementos do Recurso Contencioso

Sujeito (Artigo 3º - Decreto 4A/96)


Objecto (Artigo 8º Decreto 4A/96)
Causa de Pedir (Artigo 8º Decreto 4A/96)
O Pedido (Artigo 8º Decreto 4A/96)

Pressupostos Processuais

Os pressupostos processuais são as condições de interposição dos recursos.


Da sua falta resulta a recusa do tribunal e conhecer do pedido.

Competência

(Artigo 17º E18 da Lei n.º 2/94, Artigos 19º e 20º do Decreto – Lei n.º 4A/96).

1
Recorribilidade das Partes

(Artigo 6º da Lei n.º 2/94).

Legitimidade das Partes

Recorrentes (Artigo 3º da Lei n.º 4A/96)


Recorridos (Artigo 4º da Lei n.º 4A/96)

Legitimidade dos Assistentes

(Artigo 7º do Decreto – Lei n.º 4A/96)

Oportunidade de Recurso

O recurso tem de ser interposto dentro de um prazo. Para o recurso Contencioso o


prazo é de 60 dias a partir da data da notificação da decisão que recair sobre a reclamação ou
o recurso hierárquico (Artigo 14º n.º 3 da Lei 2/94).

Discute-se entre nós se tal prazo é de natureza substantiva ou processual.

No dizer do Professor Doutor Carlos Feijó o prazo em referência tem natureza


substantiva e a sua contagem faz se nos termos do Artigo 279º do Código Civil.

1
CONCLUSÕES

Vamos para terminar a minha intervenção extrair algumas Conclusões, melhor dito
tópicos de algumas Conclusões a que chegamos em matérias de garantias de defesa do
cidadão perante a Administração Pública.

1. O nosso ordenamento jurídico consagra o princípio da Estado de Direito e como


corolário desde princípio dispõem de um conjunto de garantias de defesa do ….

1
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