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ENCONTRO NO
ESPAÇO
Autor
KURT MAHR
Tradução
RICHARD PAUL NETO
Digitalização e Revisão
SKIRO
Estamos no ano 2.401. Há muito os terranos pertencentes
ao Império Solar de Perry Rhodan assumiram a herança
técnico-científica dos arcônidas — mas agora têm de carregar
o peso dessa herança, representado pelo prosseguimento do
conflito com os maahks que, vindos de Andrômeda e
obedecendo às ordens dos misteriosos senhores da galáxia,
avançam para o centro da Via Láctea e chegam a ameaçar a
própria existência do Império Solar e da civilização galáctica.
Allan D. Mercant, chefe da Segurança Solar, enviara
cinco homens condenados à morte ao setor controlado pelos
maahks, na esperança de que esses agentes voltassem com
informações importantes sobre os planos de invasão do
inimigo... A ação de Mercant provoca uma reação dos maahks!
Os cinco agentes regressam da nebulosa anã Andro-Alfa,
para onde tinham sido levados pelo inimigo — mas não são
mais eles mesmos. São criaturas do multiduplicador, que
produziu cópias perfeitas dos originais, que foram mortos. As
duplicatas se parecem com os mortos até a última célula, até o
último átomo. São a quinta coluna do serviço secreto dos
maahks, escalada para preparar a conquista da Galáxia.
A despedida de Pol Kennan e Hilar Kinsey foi mais sentimental do que o primeiro
imaginara. Pela primeira vez — desde que Pol o conhecia — aquele homem magro e
ossudo demonstrou uma coisa parecida com um interesse pessoal. Quando Pol lhe
estendeu a mão, Kinsey deu uma palmadinha em seu ombro.
— Sinto muito que tenha de ir embora, major — disse em voz alta. — Mas a
transferência representa uma vantagem para o senhor. Quase chega a ser uma promoção.
A Ploféia... bem, é uma boa nave. Mantenha-se em forma. Sempre que fizer um bom
trabalho, diga que já serviu na Casso. Quando fizer uma bobagem, fique bem quietinho.
Entendido?
— Entendido, senhor — respondeu Pol com um sorriso de deboche.
Fez sua mudança. A Ploféia era um couraçado de oitocentos metros de diâmetro,
comandada pelo Coronel Felipe Hastara. Estava estacionada no mesmo campo de pouso
que a Casso, que era bem menor, cerca de duzentos quilômetros ao sul das pirâmides
dispostas em hexágono. Pol entrou num planador que o levou à eclusa inferior da
gigantesca nave. Enquanto sua bagagem estava sendo carregada, ficou refletindo sobre
sua situação. Com seus trinta e dois anos era um major bem jovem. O posto de imediato
de um cruzador de patrulhamento correspondia ao seu tempo de serviço, que era bastante
reduzido. Agora passaria a exercer as funções de imediato da Ploféia. Tratava-se de um
posto que costumava ser ocupado por um tenente-coronel. Hilar Kinsey tinha razão. A
transferência quase chegava a ser uma promoção.
Usou o elevador expresso para subir ao convés de comando. Enquanto se dirigia ao
camarote particular do Coronel Hastara, lembrou-se de que se esquecera de fazer-se
anunciar. Resolveu passar pelo camarote e ir à sala de comando para reparar a falha. Mas
a escotilha do camarote abriu-se. Um homem pequeno e delicado, de seus quarenta anos,
com cabelos negros, olhos brilhantes e um bigode que quase chegava a ser bem cuidado
demais entrou no corredor. Usava uniforme e insígnias de coronel. Pol fez continência,
ficando numa impecável posição de sentido.
— Cale a boca, major! — gritou o homenzinho.
Pol respondeu com um olhar de perplexidade.
— O senhor não é Pol Kennan?
A voz do baixinho parecia um pouco forçada, mas não chegava a ser antipática.
— Perfeitamente, senhor. Venho da Casso. Peço permissão para apresentar-me para
entrar em...
— Ora veja! Eu já lhe disse que deve calar a boca.
Pol parecia cada vez mais confuso.
— Queira desculpar, senhor. Não estou compreendendo.
— O senhor não se despediu do Tenente-Coronel Kinsey?
— Sim senhor.
— E ele não lhe disse que só deve mencionar o nome da nave em que serviu quando
estiver causando uma boa impressão?
Pol arregalou os olhos.
— Mais ou menos...
— Ele disse textualmente: Quando fizer um trabalho bem feito, diga que serviu na
Casso. Quando fizer uma bobagem, fique quietinho. Não foi?
Pol engoliu em seco.
— Perfeitamente, senhor. Foi o que ele disse.
Hastara continuava com o rosto muito sério.
— Pois o senhor fez uma bobagem. Devia ter-se feito anunciar. Por que mencionou
o nome de sua nave?
De repente deu uma gargalhada. Estendeu a mão para Pol e divertiu-se a valer com
o rosto apavorado do mesmo.
— Seja bem-vindo a bordo, major. Não me leve a mal a brincadeira que acabo de
fazer. Servi cinco anos sob as ordens de Hilar Kinsey e sei qual é o conselho que costuma
dar quando seus subordinados se despedem. Vamos. Vou apresentá-lo aos oficiais...
Pol foi à sala de comando em companhia de seu novo comandante. Sentia-se um
pouco confuso, mas estava bem impressionado. Encontrou todos os oficiais da Ploféia
reunidos. Pol teve de fazer a ronda e sacudiu quatro dezenas de mãos. Só depois disso
teve permissão para dar uma olhada em seu camarote e instalar-se no mesmo.
Como era o imediato da nave, ocupava dois aposentos situados ao lado da suíte do
comandante. Esvaziou suas bolsas e constatou que seus pertences não ocupavam metade
dos armários e gavetas. Teria de aumentar seu enxoval. Era o mínimo que poderia fazer
como imediato de um couraçado.
Enquanto ia tirando suas coisas, pôs a mão num livro de bolso. Estava impresso em
inglês e trazia o título Last Horizon. Pol endireitou o corpo e ficou parado por um
instante. Todo compenetrado, abriu a primeira página e leu as palavras que alguém tinha
lançado no papel: Para você refletir. Uma oferta do Cole.
Num gesto apressado, como se quisesse afastar estes pensamentos, atirou o livro de
volta para dentro da bolsa. Continuou a arrumar suas coisas, mas o livro não lhe saía mais
da cabeça. O livro e Cole Harper, que lhe dera o mesmo.
Cole fora seu amigo. Fora. Contraíra a peste do centro numa das inúmeras viagens
que fizera ao setor central da Galáxia. A última coisa que Pol ouvira dele é que havia sido
transferido para Asto IV. A população de Asto IV era formada por inválidos ou pessoas
que sofriam uma doença incurável. As pessoas que contraíam a peste do centro eram
transferidas para este mundo, para passar o resto dos seus dias no ambiente paradisíaco
desse planeta semelhante à Terra. Pol chegara a solicitar uma licença para ir ao planeta e
visitar Cole. A licença fora negada. Voltara a tentar, mas o resultado fora o mesmo. Viu
que assim não conseguiria nada e resolveu falar com Cole pelo hipercomunicador.
Alguém respondeu ao chamado em Asto IV, mas este alguém disse que sentia muito, mas
o Capitão Cole Harper não poderia falar com mais ninguém.
Foi um golpe duro para Pol. Sempre se entendera muito bem com Cole. Tinham
servido juntos na Calcutá, quando eram tenentes, e as viagens nessa nave eram perigosas
e excitantes.
Cole Harper estava morto. “Já está na hora de eu me conformar com isso”, pensou
Pol e enfiou a bolsa em que não havia mais nada além do livro em um dos armários.
***
Cole Harper fez pontaria com cuidado. Queria acertar a extremidade inferior da
caixa metálica. Era onde ficava o distribuidor. Se a caixa fosse para os ares por estar
submetida a uma sobrecarga, as marcas da destruição seriam mais nítidas nos restos da
parte inferior da caixa. Tudo tinha sido muito bem pensado. Só podia dar certo.
Cole comprimiu o acionador da arma. O raio branco ofuscante da arma energética
atingiu de raspão a borda inferior da caixa. Uma onda de calor espalhou-se. O metal
estalava enquanto ia inchando, ficou incandescente e começou a pingar no chão. Cole deu
um passo para trás.
Dali a um minuto o trabalho estava concluído. O conjunto energético central do
hipertransmissor deixara de existir. Fragmentos incandescentes estavam espalhados pelo
chão. Cole ficou satisfeito com o resultado. Era como se a caixa tivesse ido para os ares
por ter trabalhado em regime de sobrecarga.
A Kitara não tinha mais nenhuma possibilidade de entrar em contato com o mundo
exterior. Isolada, ficou vagando lentamente pelas imensidões salpicadas de estrelas do
centro galáctico. Caso fosse abordada por uma nave terrana, poderiam perfeitamente
alegar que o antigo comandante tinha expedido o S.O.S. antes da hora, mas que na
verdade as salvas da nave maahk não tinham atingido a Kitara em cheio. As marcas dos
tiros que teriam atingido a nave de raspão apareciam em toda parte, e Cole Harper fizera
um trabalho paciente e persistente para que realmente tivessem este aspecto.
Voltou a olhar em torno. Quando se dispunha a abandonar a sala de rádio, o
intercomunicador chamou. Cole ligou o receptor e viu o rosto de Halgor Sorlund
projetado na tela.
— Já terminou aí embaixo? — perguntou Halgor, esticando as palavras como era
seu costume.
— Terminei neste instante — respondeu Cole.
— Pois então está tudo liquidado. Venha ajudar aqui. Cole confirmou com um gesto
e desligou. Enquanto caminhava lentamente em direção à escotilha, perguntou-se por que
de repente não suportava Halgor Sorlund. Halgor era o oficial mais antigo a bordo da
Kitara, depois que a tripulação propriamente dita tinha sido morta com gás venenoso e
seus cadáveres foram expelidos pelas eclusas de detritos, depois de enfiados em trajes
espaciais. Halgor comandava a nave da forma fleumática que lhe era peculiar. Fazia de
conta que as ordens que dava não o interessavam nem um pouco, e que tanto fazia que as
mesmas fossem cumpridas ou não. Até pouco tempo atrás Cole se dava muito bem com
ele. Tão bem como um ser artificialmente gerado pode dar-se com outro ser da mesma
espécie, já que os dois estão ligados por uma finalidade comum.
Fazia mais ou menos um dia que isso tinha mudado. Cole Harper não se sentia
muito bem no papel que estava desempenhando. Um mal-estar persistente o afligia. Não
era que tivesse qualquer dúvida quanto à finalidade da missão que estavam
desempenhando. Afinal, fora muito bem condicionado para a mesma. De dois em dois
minutos tinha a impressão de que havia um relógio em seu cérebro, que o fazia recordar
dolorosamente que seus sentimentos e pensamentos não eram os de um ser humano, mas
sim de um maahk. No entanto, sentia-se como se estivesse no lugar errado. Preferiria que
outra pessoa fizesse o trabalho que tinha de executar por ordem de Halgor. Nas últimas
dez horas destruíra uma porção de aparelhos importantes e colocara o interior da Kitara
num estado que faria supor que houvera uma explosão nuclear nas imediações da nave. A
cada minuto que passava, sentia mais repugnância pelo trabalho que estava fazendo. Em
algum lugar, bem no fundo de seu subconsciente, havia uma coisa que o deixava
perturbado.
Entrou no elevador antigravitacional e subiu ao porão de carga principal. A Kitara
era uma nave-transporte. A potência de seus propulsores era relativamente baixa, mas em
compensação sua capacidade de carga era extremamente elevada. O porão principal
ocupava todo o interior da nave, do convés B ao convés D. Tratava-se de um pavilhão de
cinqüenta metros de comprimento e igual largura, por quarenta metros de altura. Cole
passou por uma escotilha e entrou no recinto gigantesco, vindo do lado em que ficava a
sala de comando. Toda vez que entrava ali, sentia-se perturbado pelos inúmeros aparelhos
espalhados no chão. O fantasma do Cole Harper que já estava morto parecia andar por aí.
Cole Harper fora biofísico. O cérebro que era uma cópia perfeita do original dispunha de
conhecimentos extensos nesta área, mas a técnica mecânica lhe era completamente
estranha.
Halgor Sorlund estava de pé no porão. Embora estivesse com o corpo ligeiramente
encurvado, via-se que tinha um metro e noventa e quatro. Quando viu Cole, fez um sinal
com o braço direito. Cole viu que estava movendo os lábios, mas à distância de vinte
metros em que se encontrava não entendeu uma palavra.
Son-Hao, um chinês pequeno e delicado, estava a uns dez metros dele.
— Ele quer que você ande depressa! — gritou.
Imar Arcus e Hegete Hegha encontravam-se alguns metros atrás de Halgor.
Estavam inclinados sobre um estranho aparelho. Pareciam entretidos na observação do
mesmo, pois nem sequer levantaram a cabeça à entrada de Cole.
— Dê uma mão a eles — disse Halgor em tom indolente.
Cole hesitou.
— Vou ver o que posso fazer.
Imar e Hegete conversavam em voz baixa. Imar era um homem alto e tinha os
ombros mais largos que Cole já tinha visto. Parecia antes um campeão de luta livre que
estivesse inclinado sobre sua vítima, para ver se a mesma ainda fazia algum movimento.
Hegete estava de joelhos e pôs-se a mexer no revestimento do estranho aparelho, que
tinha o aspecto de uma granada de um metro e meio de altura.
Cole olhou para os dois homens. Estes não lhe deram nenhuma atenção. Olhou em
torno e viu Halgor mexer com uma peça do aparelho. Por um instante sentiu uma
tendência quase irresistível de pegar uma das peças metálicas espalhadas por ali e golpear
a cabeça de Halgor com a mesma. Mas logo se espantou com esta idéia. Por que tivera
vontade de fazer uma coisa dessas? Halgor e ele estavam trabalhando em conjunto. As
dificuldades vindas de fora eram muito grandes. Se começassem a brigar, estariam
praticamente perdidos.
Dirigiu-se a Son-Hao, que acabara de pôr de pé, por meio de um guindaste, uma
coluna de um metro de espessura e cerca de oito metros de altura. A figura metálica
erguia-se, brilhante e imponente. Son-Hao passou os dedos pela superfície lisa.
— Posso ajudar? — perguntou Cole.
Son encolheu-se. Parecia assustado.
— Sim, naturalmente — respondeu em tom apressado. — Ajude-me a procurar.
— OK — resmungou Cole. — O que vamos procurar?
Son recuou um passo e mediu a coluna com os olhos.
— Isto é o projetor geral — explicou. — Recolhe os impulsos pré-constituídos,
vindos daqueles aparelhos — apontou para o lugar em que estavam Imar e Hegete. —
Estes impulsos são ligados para formar um sinal de estrutura bem definida, para depois
serem irradiados. Este sinal, por sua vez, libera um canal lateral, situado em posição
perpendicular em relação à via de transporte do sistema de transmissores formado por
Kahalo e pelos sóis dispostos em hexágono. Em outras palavras, retiraremos energia do
transmissor. Tudo que deveria chegar a Kahalo, acabará materializando nas imediações
da Kitara. Entendido?
— Mais ou menos. O transmissor não está equipado para este tipo de trabalho, não é
mesmo?
— É verdade. Talvez não se deva dizer que o aparelho retira energia do sistema de
transmissores. Trata-se antes de um rompimento do canal regular do transmissor. Dada a
estrutura do sinal, uma parte considerável do campo transportador é interrompida no
ponto em que este atinge o canal de comunicação, fazendo com que este seja dirigido
para cá.
— Isso não exige quantidades muito grandes de energia?
Son-Hao acenou fortemente com a cabeça.
— É claro que sim. O aparelho com que Halgor está mexendo é o arco gerador. A
longo prazo é capaz de gerar até um milhão de megawatts. A curto prazo suporta uma
sobrecarga que permite gerar até mil vezes esta potência.
Para Cole estes números não significavam muita coisa. Mas conseguiu imaginar que
devia tratar-se de um volume tremendo de energia.
— Por que isso tem o nome de arco gerador?
Son-Hao lançou-lhe um olhar desconfiado.
— Trata-se de um condensador gravitacional. Um campo dirigido provoca um
colapso gravitacional em certa porção de matéria. Esta passa por um processo de
condensação e, uma vez atingida a densidade crítica, desaparece do nosso Universo. A
curvatura do espaço fecha-se em torno dela. O processo libera certa quantidade de
energia gravitacional. O campo orientado é em forma de arco. Por isso o aparelho é
conhecido como arco gerador.
Cole Harper ficou quieto de repente. Prestou atenção ao que se passava em seu
interior e notou que os conhecimentos que Son lhe estava transmitindo saíam
simultaneamente de seu subconsciente. Até parecia que tinham estado armazenados lá o
tempo todo e que ele mesmo poderia ter respondido às perguntas que acabara de fazer,
desde que refletisse bastante.
Não era a primeira vez que sentia o afloramento de um saber estranho em sua
mente. Isso acontecia toda vez que falava ou pensava em alguma coisa que o verdadeiro
Cole Harper não sabia, ou melhor, não poderia saber, porque a tecnologia de sua raça
ainda não havia evoluído bastante. Quando isso acontecia, começava a tomar consciência
das informações adicionais introduzidas em seu cérebro, porque o mesmo teria de
cumprir certas tarefas que exigiam tais conhecimentos.
Qualquer pessoa que lidasse com campos de transmissão, quer fosse terrano,
arcônida ou maahk, sabia de que maneira o campo de transporte de um transmissor
comum podia ser interrompido e conduzido em outra direção. O verdadeiro Cole Harper
não entendia nada disso, porque sua especialidade era bem diferente. Este conhecimento
não fora transmitido ao cérebro artificialmente copiado, para evitar que ocorresse uma
perda de identidade. Mas o mesmo tinha sido informado sobre o funcionamento do arco
gerador, pois tratava-se de uma informação que não estava ao alcance de nenhum terrano
e que se tornava imprescindível ao êxito da missão que o grupo teria que desempenhar. O
que aconteceria, por exemplo, se Halgor e Son-Hao, Imar e Hegete morressem de
repente? Neste caso teria de estar em condições de executar a tarefa sozinho.
— Como é? — disse Son em meio aos seus pensamentos. — Já podemos...?
Cole sorriu. Parecia um pouco embaraçado.
— Podemos. Vamos procurar o quadro de comando. A coluna será transportada no
interior da bolha energética. Todas as peças têm de ser cuidadosamente protegidas contra
qualquer influência externa. O quadro fica atrás de uma portinhola hermeticamente
fechada. Basta comprimir o acionador com o dedo, e a portinhola se abre
automaticamente.
Son sorriu e acenou com a cabeça. Estava satisfeito.
— Você voltou a pensar sem rodeios — disse em tom de elogio.
Dali a duas horas Cole estava sozinho na sala de comando da Kitara, observando as
telas. Já não precisavam de seu auxílio no porão de carga. A trilha de desvio de impulsos
era um conjunto que no momento adequado retiraria parte da energia do canal de
transporte regular do transmissor solar e levaria o objeto necessário à execução da tarefa
para perto da Kitara. A interferência nas atividades do transmissor seria imperceptível
para qualquer pessoa que não estava preparada para o acontecimento. Os terranos, que
controlavam firmemente o transmissor solar e a conexão de Gêmeos, nem desconfiariam
que um objeto estranho estava sendo introduzido em sua Galáxia.
A Kitara deslocava-se praticamente em queda livre, mantendo constante a
velocidade. Atravessava os setores da Galáxia situados nas proximidades do centro. Os
homens que se encontravam a bordo da nave sabiam que o perigo de serem descobertos
por uma espaçonave do Império era bastante grande. Fazia mais de vinte horas que a
velha nave transportadora tinha saído de Kahalo. Isso aconteceu no instante em que o
transmissor começou de repente a expelir grandes contingentes de naves robotizadas dos
maahks, que passaram a travar uma batalha renhida em torno do planeta. A Kitara
decolara em conformidade com as ordens recebidas, a fim de escapar ao bombardeio
pelos maahks. O piloto a trouxera de volta ao Universo normal a algumas centenas de
anos-luz de Kahalo.
Dali a pouco teve início a fase seguinte do plano para Halgor e seus homens. Hegete
Hegha tirara a cápsula de veneno da prótese da perna e introduzira o gás concentrado no
sistema de distribuição de ar. Dentro de alguns minutos os doze tripulantes estavam
mortos. Os agentes empurraram os cadáveres pela eclusa de detritos. A seguir fizeram
detonar uma bomba nuclear e pouco antes que a mesma explodisse no espaço
transmitiram um S.O.S.
Diante disso a frota do Império registrou a destruição e a baixa da nave Kitara.
Mas ainda havia um perigo. Era possível que uma das naves de patrulhamento
terranas que circulavam aos milhares nessa área para proteger Kahalo localizasse a nave
que se acreditava tivesse sido destruída. O alcance dos rastreadores terranos era
impressionante. Era bem verdade que todos os aparelhos que geravam e consumiam
energia no interior da Kitara tinham sido desligados, com exceção daqueles
imprescindíveis à vida a bordo da nave, a fim de eliminar o perigo do rastreamento
energético. Acontece que até mesmo um corpo metálico completamente inerte poderia ser
detectado a alguns milhões de quilômetros de distância. Como o número das naves do
Império que cruzavam a área era muito grande, não seria nada improvável que alguma
delas se aproximasse a menos que a distância crítica. Halgor incumbira Cole de ficar na
observação. Exatamente de cinco em cinco minutos acionava o rastreador de matéria e
deixava que o mesmo vasculhasse todo o setor espacial durante alguns segundos.
Tratava-se de um instrumento que consumia pouca energia, mas registraria a presença de
qualquer objeto de mais de dez metros de diâmetro que se encontrasse num raio de oito
milhões de quilômetros.
Cole olhou para o grupo compacto de estrelas projetado nas telas e pôs-se a matutar.
Os acontecimentos mais recentes, especialmente o ódio que de repente passara a sentir
por Halgor Sorlund, davam-lhe que pensar. Lembrou-se da evolução de sua
personalidade e tentou descobrir um ponto de partida que lhe permitisse tatear na
escuridão que cercava sua mente.
Tinha sido gerado num mundo que servia de base, situado na ilha sideral
denominada Andro-Alfa. Formara-se à base de energia, conforme dissera o verdadeiro
Cole Harper. Na verdade sua idade não passava de quinze dias terranos. Mas seu cérebro
era a cópia fiel do cérebro de Cole Harper, com o qual se igualava até o último grupo de
moléculas, e nele estavam armazenadas todas as recordações do original. Sabia onde o
mesmo tinha estudado e quais foram seus amigos. Sabia quando sentira pela primeira vez
o desejo de tornar-se cosmonauta. Lembrava-se perfeitamente dos sacrifícios e privações
por que tivera de passar para ver cumprido este desejo. Recordava-se de todos os detalhes
da vida de Cole Harper, da mesma forma que este se lembrava.
Mas sabia mais que o verdadeiro Cole Harper. Sabia como funcionava um gerador
de arco. Sabia que em breve a Galáxia sofreria uma invasão, isto se Halgor e seus
companheiros conseguissem cumprir integralmente sua missão. Sabia que uma
gigantesca espaçonave comandada por Grek-1 apareceria nas imediações da Kitara, assim
que a trilha de desvio de impulsos tivesse sido instalada e o momento apropriado
chegasse. Eram coisas que o verdadeiro Cole Harper não sabia.
No entanto...
As informações adicionais tinham sido introduzidas à força na mente da cópia; não
tinham surgido naturalmente. Estavam gravadas na memória que nem um conjunto de
anotações cuidadosamente lançadas numa placa de escrita. Tinham sido inoculadas nele
que nem um remédio capaz de aumentar suas chances de sobrevivência. Não faziam parte
de seu consciente, mas somente da memória.
“Qual é a diferença que existe entre mim e o verdadeiro Cole Harper?”, perguntou
Cole a si mesmo.
Encontrou algumas respostas corriqueiras. “Sei mais que Cole Harper”, ou então,
“Cole Harper está morto e eu estou vivo.” Mas não era isso que ele queria saber. Desde
que começara a sentir um ódio inexplicável por Halgor Sorlund ficara desconfiado.
Queria saber se existia uma possibilidade de a consciência do verdadeiro Cole Harper
romper as barreiras que o criador de seu cérebro artificial introduzira no mesmo.
Lembrou-se de que por enquanto não tivera nenhuma dificuldade em desempenhar seu
papel. Era a duplicata de um terrano, uma duplicata perfeita, que ninguém conseguiria
distinguir do original. Tinha as mesmas simpatias e aversões de um ser humano. Mas não
tinha a menor dúvida de que era um maahk. Ou, se não pudesse ser considerado um
membro dessa raça, era ao menos um produto da mesma, à qual devia favores.
A mudança foi lenta e passo a passo. Só naquele momento tornara-se nítida a ponto
de não haver mais a menor dúvida. Cole tinha a impressão de que as barreiras do
consciente, levantadas por seus criadores, estavam ficando cada vez mais fracas. Restava
saber quanto tempo levaria o eu original de Cole Harper para fortalecer-se o suficiente
para derrubar essas barreiras.
E então? O que aconteceria?
Cole teve suas dúvidas de que fosse haver uma alteração total. Não acreditava que
um dia pudesse sentir pelos terranos a mesma lealdade que dedicara aos maahks logo
após sua criação. Mas de uma coisa tinha certeza. Uma vez completada a alteração, já não
teria nenhum interesse em colaborar no projeto de Halgor Sorlund. Afinal, este projeto
era perigoso, e ninguém se dispõe a enfrentar o perigo sem que haja um motivo para isso.
Seria preferível manter relações amistosas com os terranos, pois era deles que partia o
perigo. Talvez conseguisse chamar sua atenção para a presença da Kitara sem que Halgor
percebesse. Teria de inventar uma história que afastasse todas as suspeitas. Não
acreditava que as desculpas que Halgor tinha preparado Pudessem enganar os terranos
por muito tempo. Talvez tosse preferível que ele mesmo explicasse espontaneamente a
verdadeira situação, assim que os terranos pusessem os pés na Kitara. Os terranos não
dariam maior importância ao fato de ele ser apenas uma duplicata. Levá-lo-iam a um dos
seus mundos — para bem longe dos setores da Galáxia nos quais os maahks pudessem
penetrar. E era exatamente este seu objetivo. Continuaria vivo.
Encontrou forças para fazer ironia consigo mesmo. Cole Harper certamente fora um
homem muito forte. Fazia apenas algumas semanas que tinha saído da retorta — e já se
sentia atraído para a vida.
Procurou imaginar como seria sua vida: Dispunha do arsenal enorme de recordações
de Cole Harper, que já estivera em inúmeros mundos da Galáxia. Talvez chegasse a ver a
Terra, que era o centro do Império Solar e o berço da Humanidade. Achava que seria
mais que justo que lhe mostrassem o planeta em que tinha nascido a raça segundo cuja
imagem fora feito.
Lançou um olhar distraído para o relógio e viu que estava na hora de acionar o
rastreador de matéria. Ligou o aparelho sem dar muita atenção ao que estava fazendo.
Mal empurrou a chave-mestra, um ponto luminoso apareceu na superfície verde da tela
de ecos.
No mesmo instante uma estranha transformação se verificou em seu consciente.
Cinco segundos atrás ainda estava disposto a chamar a atenção da nave cuja presença
acabara de ser constatada para a presença da Kitara, na intenção de abandonar o projeto e
colocar-se em segurança. Mas de repente nem pensou mais nisso. Até parecia que a
mancha luminosa projetada na tela despertara um reflexo inconsciente em seu cérebro.
Sabia o que tinha que fazer. Halgor precisava ser informado. Enquanto a nave
terrana estivesse por ali, não poderiam ligar nem mesmo uma tesoura automática. Cole
conhecia os hábitos dos comandantes das naves terranas. Os rastreadores de energia
funcionavam ininterruptamente. Os rastreadores de matéria, cujo alcance não era tão
grande, só costumavam ser ligados quando isso se tornava necessário para realizar as
manobras. A Kitara tinha uma chance de passar sem que sua presença fosse notada. Mas
era necessário informar Halgor.
No momento em que pegou o microfone, a consciência reprimida de Cole Harper
começou a revoltar-se. Mas a compulsão vinda do nada era mais forte. O humanóide
voltara a ser aquilo que devia ser segundo a vontade de seu criador: um instrumento dos
maahks.
Cole nem esperou que Halgor respondesse ao chamado. Aproximou o microfone da
boca e gritou:
— Nave desconhecida. Distância de oito milhões de quilômetros!
3
Perry Rhodan parecia mais sério que de costume. Quando Atlan e Reginald Bell
entraram em seu gabinete, limitou-se a acenar com a cabeça. Fazia apenas dois minutos
que tinha feito uma ligação para pedir aos dois que viessem o mais depressa possível.
Não esperou que Bell encontrasse uma cadeira que lhe servisse. Principiou
imediatamente.
— Natã fez a análise dos fatos. Diante dos dados introduzidos no computador
impotrônico, o mesmo chegou à conclusão inequívoca de que a explosão da Kitara foi
uma farsa, e de que Halgor Sorlund e seus companheiros são agentes dos maahks.
Atlan acenou com a cabeça. Não disse uma palavra. Bell fitou-o com uma expressão
de surpresa.
— Natã não conseguiu chegar a qualquer conclusão sobre como foi possível obrigar
os cinco homens a colocar-se a serviço dos maahks — prosseguiu Rhodan. — Por
enquanto o centro de computação não pode prestar qualquer informação sobre os
objetivos dos agentes. Quanto a estes, podemos supor que tenham sido hipnotizados ou
transformados, ou que não se trata dos mesmos homens que saíram daqui há algum
tempo, mas de simples copias dos mesmos. Quem sabe de que recursos dispõem os
maahks? É difícil explicar como um fato de tamanha gravidade pôde escapar aos nossos
médicos e biólogos. Mas no momento isso não tem muita importância.
— O que realmente importa é descobrirmos o que essa gente veio fazer por aqui.
Quais são seus planos? É o que podemos fazer para evitar que os mesmos sejam
executados?
Atlan voltou a levantar-se. Parecia muito nervoso. Fez uma ronda completa em
torno da enorme escrivaninha que ficava no centro da sala, com os braços cruzados nas
costas e a cabeça abaixada.
Parou à frente de Rhodan.
— O objetivo dos maahks só pode ser um — exclamou em tom exaltado. — Invadir
a Galáxia!
Rhodan ouviu-o com muita atenção. Reginald Bell, que estava sentado numa
poltrona muito confortável, disse em tom de deboche:
— Formidável! Já conseguiram introduzir cinco homens entre nós. Se prosseguirem
na mesma velocidade, dentro de dez mil anos completarão sua obra...
— Os cinco homens não formam um grupo de invasão — interrompeu Atlan em
tom áspero. — Talvez tenham vindo para fazer um reconhecimento. É uma possibilidade.
Outra possibilidade é que disponham de meios que os ajudem a... a...
Fez um gesto de perplexidade e de raiva, atirando os braços para o alto, e exclamou:
— Meu Deus! Não sei... Ninguém pode imaginar do que seriam capazes os maahks!
O fato é que estou prevenindo há muito tempo, mas ninguém quer me ouvir. Com os
maahks não se brinca. E volto a prevenir. Procurem a Kitara e prendam os cinco homens
que estão na mesma...
Interrompeu-se ao ver Rhodan acenar animadoramente com a cabeça.
— Não fique nervoso, meu chapa — pediu em tom delicado. — Penso exatamente
como você.
Atlan parecia espantado.
— A frota foi colocada de prontidão — prosseguiu Rhodan. — No momento temos
vinte mil unidades nesta área. Basta que as mesmas introduzam pequenas modificações
em sua rotina de rastreamento, e a Kitara não terá chance de escapar.
Bell levantou-se e aproximou-se de Rhodan.
— Já temos um bom ponto de partida que nos indicará onde mais ou menos
devemos começar a procurar — disse. — Acho que Sorlund e seus companheiros farão
tudo que estiver ao seu alcance para não serem descobertos. Quer dizer que não poderão
recorrer aos vôos lineares, pois se os usassem seriam localizados...
— Além disso — interrompeu Rhodan — a Kitara é uma nave antiga e os cinco
homens não seriam capazes de controlar os instrumentos necessários ao vôo linear.
— Quer dizer que para você a tripulação está morta? — perguntou o arcônida.
Rhodan acenou com a cabeça. Estava com o rosto sério.
— Eles mataram Hallgan. Desta forma não se explica por que não teriam matado os
outros. Acho que fazem questão de ficar bem à vontade durante o trabalho, e dessa forma
não vão querer a tripulação por perto.
Por alguns segundos reinou um silêncio constrangedor. Numa discussão que girava
em torno da existência de várias raças cósmicas a morte de doze homens não deveria
assumir muita importância. Mas examinando melhor o assunto, as coisas mudavam de
figura. Os homens do grupo de Sorlund haviam revelado uma falta total de escrúpulos e
um egoísmo imenso ao assassinar os tripulantes da Kitara. Rhodan sentiu que a raiva ia
tomando conta dele.
— O cadáver de Hallgan — prosseguiu com a voz embargada — foi encontrado a
cerca de uma unidade astronômica do lugar em que a Kitara teria explodido. Tenho
certeza quase absoluta de que Sorlund usou uma das bombas que se encontravam a bordo
da Kitara para fazer a encenação. Resta saber a que distância se encontrava a nave
quando a bomba explodiu. A conclusão a que se chega é que nossa situação não é das
mais felizes. Temos um ponto de referência e podemos supor que a Kitara se encontre
num raio de um bilhão de quilômetros em torno desse ponto. É muito espaço para ser
vasculhado, ainda mais se eles forem cuidadosos.
Voltou para trás da escrivaninha e tirou uma folha de uma pilha, colocando-a no
centro da mesa.
— Quero que você comande a operação de busca, Atlan — disse. — Aqui você tem
as diretrizes gerais. Bell e eu cuidaremos das informações enviadas pelas naves que
participarão da operação e que se encontrem em posição mais afastada. Receio que
alguma coisa vai acontecer. A propósito. Só há quatro ou cinco unidades nas
proximidades do ponto em torno do qual acreditamos esteja a Kitara. Acho conveniente
que as mesmas continuem na mesma Posição. Devem ficar com os rastreadores de
matéria ligados É quanto basta. A Ploféia está estacionada lá fora. Mande que saia e se
dirija ao ponto de referência — estreitou os olhos, como se estivesse refletindo sobre
alguma coisa. — Ah, sim! Outro detalhe. Não sabemos se há outros agentes maahks entre
nós. Devemos manter sigilo sobre as operações de busca e as suspeitas que pesam sobre
Sorlund e seus companheiros. Só daremos as explicações necessárias à compreensão das
ordens que forem dadas — esboçou um sorriso irônico. — Se os maahks atacarem, verão
que erraram nos seus cálculos. Mas quando perceberem já será tarde.
***
Pol Kennan não ficou muito surpreso quando o Coronel Hastara lhe pediu que
comparecesse à sua presença. Afinal, já fazia mais de um dia e meio que se encontrava a
bordo da Ploféia, e por enquanto ninguém se dera ao trabalho de investi-lo com as
devidas solenidades no posto que lhe deveria caber.
Mas acabou percebendo que não fora por isso que Felipe Hastara mandara chamá-
lo. Estava só em seu pequeno gabinete e parecia mais sério que de costume. Retribuiu o
cumprimento de Pol e convidou-o a sentar.
— Vamos diretamente ao assunto — principiou e juntou as mãos sobre a
escrivaninha. — A Ploféia decolará daqui a menos de duas horas. Deram-nos uma
missão. Trata-se de um assunto ultra-secreto. Até mesmo eu não sei tudo. E recebi ordens
para, do pouco que sei, só comunicar aos tripulantes o que for estritamente necessário.
Como vê, estou disposto a violar as instruções que recebi. Quero que saiba tudo que me
foi comunicado. Deve haver alguém que seja capaz de assumir meu lugar caso isso se
torne necessário.
Pol tinha algumas palavras de agradecimento bem torneadas na ponta da língua.
Felipe parecia imaginar o que ele pretendia dizer e fez um gesto para que ficasse calado.
— Esqueça — disse num tom que quase chegava a ser áspero. — Normalmente
nem pensaria em transmitir justamente ao meu oficial mais jovem aquilo que sei. Mas
encontramo-nos numa situação toda especial. Portanto, lá vai. Estamos à procura da
Kitara.
Pol arregalou os olhos.
— A Kitara não existe mais, senhor! — exclamou, perplexo.
Felipe acenou com a cabeça.
— Perfeitamente. Era o que pensávamos, até pouco tempo atrás. Quem nos
convenceu do contrário foi o senhor. Deve estar lembrado de Bing Hallgan.
Pol escorregou nervosamente para a frente em sua poltrona.
— Perfeitamente, senhor. É claro que achei estranho que tivéssemos recolhido um
cadáver intacto, quando depois de uma explosão nuclear só deveriam restar alguns
fragmentos e talvez um ou outro corpo mutilado. Mas...
— Houve outras pessoas que acharam isso estranho — observou Felipe. —
Acharam tão estranho que resolveram consultar Natã.
Isto fez com que Pol se calasse por completo. Ficou imóvel por alguns segundos,
tentando digerir a impressão causada pela informação que Felipe acabara de lhe dar.
Natã, o produto máximo da supertecnologia positrônico-impotrônica! Natã, o sábio!
Natã, o centro de computação que era tão grande que seria capaz de dirigir sozinho os
destinos da Humanidade, caso isso se tornasse necessário. Alguém resolvera consultar
Natã por causa da Kitara. Uma consulta deste tipo só poderia ser apresentada pelos
escalões mais elevados do governo do Império. E se essa gente começava a interessar-se
pelo assunto, devia haver alguma coisa muito importante atrás disso. De repente Pol teve
a impressão excitante de que entrara sem querer num assunto de importância enorme.
— Natã — prosseguiu Felipe em tom calmo e objetivo — acha muito provável que
a Kitara ainda exista, e que o pedido de socorro e a explosão sejam apenas um disfarce. É
claro que isso coloca as pessoas que se encontram a bordo da nave numa situação muito
esquisita. A Kitara é uma velha nave-transporte que tinha doze tripulantes. Bing Hallgan
era um deles. Antes que as naves robotizadas dos maahks aparecessem perto de Kahalo,
cinco homens que não combinavam muito bem com os tripulantes juntaram-se a estes. O
comando supremo da frota incumbira estes homens semanas antes de ir às escondidas a
um dos planetas dos maahks para fazer espionagem. Não sei como isto é feito, mas fui
informado de que os cinco homens foram bem-sucedidos. Permaneceram por pouco
tempo no mundo que serve de base ao inimigo. Este mundo faz parte de uma
concentração de estrelas situada à frente da nebulosa de Andrômeda. Não sei por quê,
mas os homens tiveram de fugir. A fuga foi bem-sucedida. Uma das nossas naves da
classe Androtest recolheu os homens nas proximidades de Horror e levou-os de volta
para Gêmeos. De lá a Crest III os levou para Kahalo, onde foram colocados na Kitara.
Esta nave recebeu ordens para afastar-se assim que os maahks aparecessem nas
proximidades de Kahalo. Alguns minutos depois disso foi transmitido o pedido de
socorro. O resto o senhor já sabe.
Já não havia a menor dúvida. O assunto realmente era importante. Até então
nenhum humano soubera que um punhado de homens conseguira chegar à periferia de
Andrômeda.
— Acredita-se — prosseguiu Felipe — que eles mataram não somente Bing
Hallgan, mas toda a tripulação da Kitara. O crime só pode ter sido cometido pelos cinco
agentes. Quanto aos motivos que os possam ter levado a cometer um ato tão hediondo, só
podemos formular hipóteses. Entre estas hipóteses a mais plausível é a de que estes
homens foram condicionados pelos maahks e resolveram trabalhar para o inimigo. Estão
tramando alguma coisa, mas ninguém sabe o que é. De qualquer maneira, temos de
impedi-los de fazer o que pretendem. Em outras palavras, precisamos encontrar a Kitara e
prender os cinco homens.
Recostou-se na poltrona e fitou as mãos, que continuavam sobre a escrivaninha.
— Vou explicar por que tive de informá-lo sobre isto — disse em voz tão baixa que
Pol mal conseguiu entender o que dizia. — Os cinco homens que, ao que supomos, estão
a bordo da Kitara, são inimigos. Representam uma ameaça à segurança do Império e de
toda a Galáxia. Temos de pô-los fora de ação e tomaremos todas as medidas que se
tornarem necessárias para isso. Entenda bem, Pol. Talvez sejamos obrigados a matá-los.
Pol acenou com a cabeça. Estava confuso e não se sentia muito à vontade.
— Os cinco homens que o comando da Frota havia escolhido para a missão estavam
condenados a morrer. Tinham contraído a peste do centro. Ainda tinham dois meses de
vida. Sabiam disso e acharam que seria uma boa idéia gastar o tempo de vida que lhes
restava na solução de um problema que assume uma importância extraordinária para o
Império.
Ao ouvir falar na peste do centro, Pol lembrou-se de Cole Harper. Espantou este
pensamento. Cole estava morto. Falecera tranqüilamente em Asto IV.
— Se é assim, senhor — objetou — por que vamos preocupar-nos? Os homens
morrerão dentro de pouco tempo, e o problema estará resolvido.
— Não estará, não — respondeu Felipe e seus olhos negros chamejaram. — Os
homens a que acabo de aludir não estão doentes. Não apresentam nenhum sintoma da
peste do centro. Não sabemos por que isso acontece. Talvez os maahks possuam algum
remédio contra esta doença. Talvez outros fatores completamente desconhecidos tenham
interferido no curso da doença. De qualquer maneira, os cinco agentes gozam de boa
saúde e se não conseguirmos pôr a mão neles, poderão cumprir sua missão. Não podemos
permitir que isso aconteça. Fez uma pequena pausa e prosseguiu:
— Afastamo-nos do assunto. Acabo de dizer que é muito importante que estes
homens sejam postos fora de ação. E os sentimentos pessoais não deverão interferir na
ação que leve a isso. Examinei sua ficha individual, Pol. O senhor já foi amigo íntimo de
um homem que desempenha um papel muito importante neste caso. O senhor não deve
permitir que isso interfira com sua atuação. Entendido?
Pol ergueu-se ligeiramente na poltrona.
— Será que o senhor se refere a... — exclamou.
Felipe acenou fortemente com a cabeça.
— Isso mesmo. Um dos homens que se encontram a bordo da Kitara é Cole Harper.
***
Alguém entrou, passando pela escotilha da sala de comando. Cole ouviu-o fungar.
Não virou a cabeça. Continuou a olhar fixamente para o ponto projetado na tela, que
parecia deixá-lo fascinado.
— Era só o que faltava — resmungou Halgor Sorlund com a voz rouca.
Devia ter vindo pela escada. Por isso fungava tanto. O elevador antigravitacional
não podia ser usado. O transporte de um objeto através do campo de gravitação artificial
daria origem à emissão de impulsos energéticos que uma aparelhagem bastante sensível
poderia detectar a grande distância.
— Qual é a direção? — perguntou Halgor.
Cole Harper já esquecera a antipatia que lhe inspirava Halgor. A influência da coisa
estranha que se alojara em seu cérebro e o mantinha sob controle, Halgor lhe parecia um
amigo que se encontrava na mesma situação difícil que ele.
— Rota duzentos e dezoito graus — informou Cole. A nave desconhecida passará
obliquamente à nossa esquerda. No momento de maior aproximação a distância será
inferior a um milhão de quilômetros.
“O diabo sabe que é pouco”, acrescentou em pensamento.
O núcleo da Galáxia estava repleto de radiações residuais emitidas pelos sóis que se
acumulavam no setor. Por isso o rastreamento tornava-se dez vezes mais difícil que nas
áreas periféricas da Via Láctea, onde a distância entre as estrelas era de pelo menos três
ou quatro anos-luz. Mas a uma distância de menos de um milhão de quilômetros as
radiações residuais poderiam ser detectadas até mesmo nessa área, e a nave
possivelmente seria localizada, apesar de todas as precauções que fossem tomadas. Além
disso a Kitara seria projetada que nem uma tocha acesa nas telas da nave estranha, caso
seus ocupantes se lembrassem de acionar os rastreadores de matéria.
Halgor fez alguns cálculos apressados.
— Faltam cerca de duas horas e meia para alcançarmos o ponto de aproximação
máxima — resmungou, contrariado. — Até lá temos de pensar em alguma coisa.
Apoiou o queixo nas mãos e fechou os olhos. Cole começou a ficar nervoso. Que
idéia poderiam ter? Uma nave que não deve ligar seus propulsores não pode mudar sua
rota.
Mordeu os lábios e de repente uma idéia lhe veio à cabeça, vinda do nada. Quis
afastá-la imediatamente, porque parecia muito arriscada. Mas a idéia continuou
obstinadamente em sua mente. Finalmente dirigiu-se a Halgor.
— Preste atenção — pediu. — Sei que você não vai gostar, mas não temos muita
escolha.
Ficou falando durante quinze minutos. Halgor formulou objeções, conforme era de
esperar, mas sua resistência foi diminuindo. Levantou-se.
— É a idéia mais idiota que já ouvi — resmungou. — O que você quer mesmo?
Verniz fosco negro?
— Exatamente — confirmou Cole. — E três bombas nucleares de grosso calibre.
***
A Ploféia decolou no momento combinado e seguiu em direção ao setor espacial de
dois bilhões de quilômetros, em cujo interior se acreditava estivesse a Kitara. Três horas
após a decolagem o couraçado teve um encontro de duas horas com a nave-patrulha EX-
8003, que circulava a quatrocentas unidades astronômicas do setor suspeito, à procura de
eventuais abalos estruturais. O comandante da EX-8003 asseverou que a tripulação de
sua nave não tinha notado nada de extraordinário nas últimas dez horas. Felipe deu
algumas instruções, que em última análise diziam que dali em diante, até o fim da
operação de busca, a EX-8003 ficaria sob seu comando e iria em auxílio da Ploféia toda
vez que isso se tornasse necessário. A EX-8003 era uma nave pequena pertencente à frota
exploradora; seus tripulantes tinham o status de militares, mas em sua maioria eram
cientistas. Os homens não gostavam de ficar circulando a sós e inativos, mas as
instruções de Felipe os deixara ainda mais contrariados. O comandante, que era um
radiólogo que ocupava o posto de major, queixou-se amargamente. Felipe limitou-se a
sorrir amavelmente e disse:
— Meu caro, o senhor deve queixar-se ao destino que os fez vir justamente a este
lugar. Tenho de pegar aquilo em que consigo pôr as mãos. Posso garantir que preferiria
dispor de uma unidade regular da frota em vez de um grupo de cabeças de ovo.
Esta observação não contribuiu para melhorar o relacionamento entre a Ploféia e a
EX-8003. Mas pôs fim às lamentações. A Ploféia afastou-se e seguiu de vez em direção à
área a ser vasculhada.
***
Dali a uma hora viram que o ponto luminoso projetado na tela era um objeto
cilíndrico de pontas arredondadas. Portanto, o veículo espacial que estava atravessando o
caminho da Kitara não era uma nave terrana. Cole Harper respirou aliviado. Estivera
receoso. O objeto cilíndrico que já se havia aproximado a quatro milhões de quilômetros
devia ser uma nave dos saltadores. Cole não tinha a menor idéia do que os saltadores
poderiam estar fazendo em plena área de manobra da frota do Império, mas tinha certeza
de que reagiriam ao seu plano conforme ele esperava.
Imar Arcus e Hegete Hegha continuavam no porão de carga principal, e já tinham
voltado ao trabalho de montar a trilha de desvio de impulsos. O momento crítico se
aproximava, e o aparelho teria de estar pronto quando precisassem dele. Halgor e Son-
Hao fizeram alguns cálculos, enquanto Cole ficava de olho na nave dos saltadores.
Puseram em funcionamento o transmissor automático, que passou a irradiar num ritmo
monótono sempre o mesmo sinal. Sua potência sofria uma variação estatística, dando a
impressão de que havia um defeito no mesmo. Estava regulado de tal maneira que os
saltadores não teriam de ouvir a transmissão quando se aproximassem a menos de dois
milhões de quilômetros.
Halgor continuou na sala de comando, enquanto Son-Hao descia a um dos hangares
e começou a passar verniz negro fosco num carro voador, que os tripulantes da Kitara
costumavam usar para descarregar mercadorias muito sensíveis. Tratava-se de um
veículo bastante desconfortável. Consistia numa plataforma de carga, no assento
completamente aberto do motorista e num potente sistema de propulsão.
Cole Harper recapitulou seu plano pela décima vez. Se não fizessem nada, as
chances de serem descobertos pela nave estranha no momento de maior aproximação
eram aproximadamente de oitenta por vinte. Era um risco que não podiam assumir. Os
saltadores ficariam surpresos e provavelmente pediriam socorro. Mas se os ocupantes da
mesma notassem de antemão que uma nave cujo transmissor de emergência funcionava
ininterruptamente, em base eletromagnética e com um alcance de somente dois milhões
de quilômetros, vagava pelo espaço, aparentemente à deriva, teriam sua curiosidade
despertada e se aproximariam, na esperança de fazer uma presa. Se fosse uma nave
terrana, Cole não teria tanta certeza de que seu plano daria certo. Mas mesmo neste caso
seria de esperar que o comandante resolvesse dar uma olhada no objeto desconhecido
antes de avisar seus superiores. E segundo o plano de Cole ele não teria oportunidade
para isso.
Olhou para o relógio. Eram dezoito horas e vinte e três, tempo de bordo. Dentro de
uma e meia a duas horas poderia dar início à execução de seu plano. Dentro de duas horas
e meia a operação devia ter chegado ao fim e a Kitara se encontraria a alguns milhões de
quilômetros de distância, já que às vinte e uma horas a trilha de desvio de impulsos
deveria entrar em ação.
Cole não se sentia muito à vontade. Lançou um olhar disfarçado para Halgor e
surpreendeu-se ao notar que a velha antipatia que sentia por esse homem voltara a
insinuar-se em sua mente.
4
— Não vamos nos iludir — disse Felipe Hastara, aborrecido. — Podemos andar por
aqui por semanas a fio sem encontrar a Kitara.
Pol estava sentado a seu lado à frente do console do comandante, que ficava numa
plataforma ligeiramente elevada, da qual se via o recinto circular que formava a sala de
comando.
— Não compreendo — confessou Pol. — Se é tão importante que a Kitara seja
encontrada, por que destacaram somente uma nave para as operações de busca?
Felipe sacudiu a cabeça.
— O senhor se esquece de que há pelo menos vinte mil unidades neste setor do
espaço. É uma rede de malha fina, da qual a Kitara não poderá escapar.
— Se é assim, por que precisam de nós?
Felipe fez uma careta.
— Querem que nos aproximemos discretamente o mais possível da Kitara, para
descobrir o que está acontecendo com ela.
Pol tinha outra pergunta na ponta da língua, mas viu-se interrompido pelo som
estridente do alarme. No mesmo instante duas luzes de alerta vermelhas acenderam-se na
base do intercomunicador de Felipe. Este pegou o fone. A tela iluminou-se, mostrando
um rosto nervoso.
— Detectamos um forte impulso produzido por radiações, senhor — disse o
homem. — A interpretação dos dados ainda não foi concluída, mas não há dúvida de que
os impulsos foram produzidos pela explosão de uma bomba nuclear.
Felipe não perdeu a calma.
— Forneça os dados assim que os mesmos estiverem disponíveis — pediu.
Desligou e esfregou as mãos.
— Parece que andamos pessimistas demais — disse com o rosto radiante.
Pol não sabia o que significava aquilo. Alguém fizera detonar uma bomba nuclear.
Para quê? O espaço estava vazio. Só havia algumas naves-patrulha terranas por perto — e
evidentemente a Kitara, caso a mesma realmente vagasse por este setor do espaço. Era
possível que a bomba nuclear tivesse sido lançada pela Kitara, que fora descoberta
repentinamente por uma das naves-patrulha e começava a defender-se. Mas se uma das
unidades tivesse descoberto a Kitara, a Ploféia teria sido informada imediatamente. Fora
combinado assim.
O que teria acontecido mesmo?
Dali a dois minutos o homem incumbido do rastreamento forneceu os resultados da
interpretação dos dados. O impulso energético fora causado por uma explosão nuclear de
potência muito elevada, ocorrida a cerca de treze unidades astronômicas. O impulso
tivera uma duração de oitenta e seis segundos. Durante esse tempo os rastreadores
energéticos da Ploféia ficaram bloqueados para a recepção de outros sinais.
Felipe deu ordem para que as coordenadas exatas do local da explosão fossem
transmitidas ao astronavegador. Feito isso, virou a cabeça para Pol.
— Foram espertos, não foram?
Pol confirmou com um gesto.
— Por que acha que foram espertos? — perguntou Felipe imediatamente. — Sabe o
que quero dizer?
— Acho que sim — respondeu Pol em tom calmo.
— Pois diga!
Pol cruzou as pernas.
— O impulso durou quase um minuto e meio — respondeu. — Foi uma explosão
tão forte que provavelmente não foi causada por uma, mas por várias bombas. Nossos
aparelhos ficaram bloqueados por um minuto e meio. A Kitara é uma nave antiga, mas
sua capacidade de aceleração chega a quarenta mil gravos. Em menos de noventa
segundos pode alcançar, caso conserve a mesma rota, uma velocidade adicional de trinta
e seis mil quilômetros por segundo.
Felipe sorriu.
— Foram muito espertos — confessou. — É claro que com isso a área a ser
vasculhada aumenta consideravelmente. Todavia...
Calou-se e olhou para cima, dando a impressão de que refletia intensamente. Dois
ou três minutos se passaram antes que voltasse a olhar para Pol.
— Não acredito que isso represente uma vantagem para a Kitara — disse em tom
pensativo. — É claro que teríamos de fazer o cálculo pelo computador, mas tenho certeza
quase absoluta. Os homens que se encontram na Kitara sabem tanto de astronáutica
quanto eu. Logo...
Fitou Pol, como se quisesse pedir-lhe que prosseguisse.
— ...logo, a Kitara deve ter tido outro motivo para detonar as bombas — completou
Pol. — Estava em perigo. Teve que detonar as bombas para não ser descoberta. Resolveu
tirar proveito da situação de emergência e acelerou a toda, enquanto os rastreadores
energéticos das naves-patrulha ficaram ofuscados pela explosão.
Felipe estreitou os olhos.
— O senhor quase chega a ser esperto demais, Pol — disse em tom sério.
Mas logo voltou a sorrir.
— Como sabemos — prosseguiu em tom solene — que não foi uma nave terrana
que cruzou o caminho da Kitara, pois, se fosse, teríamos sido informados, só podemos
concluir que nossos amigos acabaram com a vida de um não-terrano.
***
Dali a trinta minutos o rastreador de matéria detectou objetos de pequenas
dimensões, que atravessavam o espaço em velocidade uniforme, mas em várias direções.
A suspeita de Felipe Hastara se confirmara. As bombas tinham sido detonadas para dar
cabo de uma nave desconhecida, que chegara perto demais da Kitara.
Felipe deu ordem para que a EX-8003 se aproximasse e recolhesse o maior número
possível de destroços. Era necessário identificar a nave desconhecida.
No momento não havia sinal da Kitara. Com base na direção e velocidade dos
destroços foi possível determinar o momento e o lugar da explosão. Os resultados
combinaram com as indicações anteriores dos rastreadores.
Dali se concluía que há cerca de trinta e quatro minutos a Kitara se encontrara num
lugar que ficava a apenas três unidades astronômicas da posição da Ploféia. Daquele
momento em diante a nave que estavam procurando deslocava-se a uma velocidade
situada entre zero e 36.000 quilômetros por segundo, numa direção desconhecida. Ou, em
outras palavras, a Ploféia encontrava-se a três unidades astronômicas do centro de uma
esfera em cujo interior devia encontrar-se a Kitara. Na melhor das hipóteses, o diâmetro
da esfera era de apenas alguns milhares de quilômetros — ou seja, o estritamente
necessário para que a explosão não pudesse avariar a Kitara. Felipe recusava-se por
princípio em admitir a hipótese mais favorável. Para ele a esfera em cujo interior teriam
de procurar a Kitara tinha naquele momento um diâmetro de cerca de 75 milhões de
quilômetros, sem contar as três unidades astronômicas que o separavam do foco dos
acontecimentos. E o raio da esfera crescia à razão de mais de um décimo da velocidade
da luz.
No fundo a situação melhorara — pelo menos no momento. Antes da explosão teria
de procurar a Kitara num setor esférico de dois bilhões de quilômetros de diâmetro. Os
rastreadores e outros instrumentos de que dispunha eram melhores que os que se
encontravam a bordo da nave fugitiva.
Uma coisa era muito importante. Não podia perder tempo. A cada segundo que
passava aumentavam as chances de o inimigo lhe escapar. Teria de agir imediatamente.
Do contrário a operação não seria bem-sucedida.
Dali a instantes a Ploféia voltara a atravessar o espaço à velocidade máxima. O
computador positrônico havia determinado, com base nos elementos disponíveis, uma
trajetória que atravessava o setor esférico em contínua ampliação no qual estavam sendo
realizadas as buscas. Essa trajetória permitia que os instrumentos funcionassem com o
máximo de eficiência. Felipe Hastara sabia perfeitamente que o inimigo seria capaz de
detectar as emanações energéticas dos propulsores e do campo defensivo. Mas isso não o
incomodava. Já elaborara sua tática.
Estava na hora de conversar com Pol Kennan. Pol desempenhava um papel muito
importante em seu plano.
***
— É um pedido, não uma ordem — concluiu Felipe.
Pol estava sentado todo duro à frente da escrivaninha de Hastara, no gabinete do
mesmo.
— O senhor está depositando muita confiança em mim, senhor — respondeu em
tom áspero. — Fico-lhe grato por isso.
Felipe teve uma observação sarcástica na ponta da língua, mas por estranho que
pudesse parecer, tinha-se a impressão de que Pol realmente pensava o que estava
dizendo. Felipe engoliu o comentário e preferiu dizer.
— Acho que o senhor está plenamente qualificado para uma operação desse tipo.
Dou-lhe quinze minutos para refletir. Infelizmente não posso conceder mais. A qualquer
momento a Kitara pode aparecer em nossas telas.
Pol levantou-se.
— Obrigado, senhor. Não preciso de nenhum prazo de reflexão. Naturalmente
cumprirei a tarefa que me deu.
Felipe acenou com a cabeça. Não parecia nem um pouco emocionado.
— Obrigado, Pol. Aprecio sua atitude. Desça ao convés E e peça que lhe entreguem
o equipamento. Diga ao sargento Oppelt que ele vai se ver comigo se não lhe der o
melhor que tem.
Pol sorriu, fez continência e foi saindo. O sargento Oppelt era o tipo do homem que
ninguém espera encontrar numa espaçonave. Era pequeno e rechonchudo, tinha pelo
menos cinqüenta anos de idade, usava óculos fora de moda em vez de lentes corretoras e
tinha uma predileção toda especial para as conversas animadas. Pol apresentou seu
pedido. A primeira reação de Oppelt foi a seguinte:
— Deve haver algum engano, senhor. Pelo que me consta, não foi planejada
nenhuma missão que exija estes equipamentos.
Pol mostrou um sorriso amável.
— O senhor deve estar muito bem informado sobre tudo que se planeja a bordo da
Ploféia, não é mesmo, sargento?
O rosto de Oppelt, que estava radiante, ficou um pouco mais sério. Coçou a cabeça,
fazendo com que o boné lhe escorregasse pela testa lisa.
— Infelizmente é isso mesmo — queixou-se. — Tenho trinta e dois anos de
experiência no espaço, enquanto o Coronel Hastara só tem dezesseis — abriu os braços,
como que num gesto de acusação. — Mas ele não quer me ouvir. Deveria consultar-me
sempre que se... esqueça! O que deseja mesmo?
Pol repetiu seu pedido. Depois de ter dado vazão aos seus sentimentos, Oppelt
provou ser um homem entendido e previdente, que sabia administrar o depósito que
estava a seu cargo. Dentro de alguns minutos Pol estava equipado com armas, um traje
transportador, um rádio e porções de alimentos concentrados capazes de sustentar até
mesmo um homem esfomeado durante dez dias. Agradeceu ao sargento e Oppelt garantiu
que sempre teria muito prazer em servi-lo, pedindo ao senhor major que transmitisse
recomendações ao senhor coronel.
Quando Pol caminhava em direção ao elevador antigravitacional, o
intercomunicador chamou de repente.
— Hastara chamando Kennan! Ande depressa, Pol! Temos a Kitara nas telas dos
rastreadores!
Pol saiu correndo.
***
— Droga! — resmungou Halgor. — Não pensei que chegassem tão depressa.
Cole Harper contemplou a mancha luminosa projetada na tela do rastreador. Não se
sentia muito à vontade. Não sabia o que pensar. Não havia dúvida de que se tratava de
uma das naves terranas empenhadas nas buscas. Pela rota que estava seguindo seria quase
impossível que a Kitara não fosse descoberta. Encontrava-se a duas unidades
astronômicas de distância, mas o computador calculara sua trajetória, e a mesma passava
a menos de dez milhões de quilômetros da rota da Kitara. Dez milhões de quilômetros
representavam uma distância crítica. Os rastreadores de matéria mais modernos
funcionavam perfeitamente a esta distância, embora os aparelhos mais antigos
dificilmente alcançassem mais de nove milhões de quilômetros. O destino da Kitara
parecia depender dos instrumentos com que estivesse equipada a nave do Império.
Cole prendeu a respiração enquanto via a mancha luminosa aproximar-se
preocupadoramente. A outra nave não desenvolvia mais de setenta por cento da
velocidade da luz. Dentro de menos de trinta minutos atingiria o ponto de maior
aproximação. Cole olhou para o relógio. Dali a cinqüenta minutos colocariam em
funcionamento a trilha de desvio de impulsos e se encontrariam com a nave vinda para
dar-lhes apoio.
Isto naturalmente se aquela nave não estragasse seus planos. Cole teve uma
sensação desagradável. Os acontecimentos pareciam precipitar-se.
Os minutos foram passando lentamente. Imar Arcus, que se encontrava no
compartimento de carga, chamou, anunciando que Son-Hao tinha regulado a potência do
gerador para o nível desejado, e que no que dependia dele poderiam começar. Cole
explicou que ainda tinham tempo, e que nem tinham certeza se ainda poderiam entrar em
ação. Imar praguejou terrivelmente e desligou. Cole teve a idéia de que os maahks não
tinham sido muito inteligentes ao gerar humanóides com um instinto de conservação
perfeitamente humano. O desejo de sobreviver poderia representar um perigo para a
missão.
Finalmente chegou o momento em que a nave terrana se aproximou da marca dos
dez milhões de quilômetros. Cole ficou com os olhos grudados na tela do rastreador até
que os mesmos começaram a arder. A outra nave permanecia obstinadamente na mesma
rota. Ultrapassou o ponto de maior aproximação e passou a afastar-se da Kitara. Cole
percebeu que durante todo o tempo prendera a respiração. Exalou ruidosamente o ar e
suspirou:
— Conseguimos!
Halgor acenou com a cabeça e levantou-se. O terrano não notara sua presença. Dali
a quarenta minutos desapareceria nas profundezas do espaço. O perigo tinha passado.
Cole sentiu que uma carga tremenda saía de sua consciência, permitindo que voltasse a
pensar seus próprios pensamentos.
Seus próprios pensamentos?
Parecia que estava despertando de um sonho. O velho ódio contra Halgor e tudo que
estava ligado à missão que executavam voltou de repente. Halgor virou-se neste exato
momento. Sobressaltou-se ao notar a expressão do rosto de Cole.
— Vou descer — disse. — Continue com os olhos abertos.
Não dava a perceber se estava preocupado. Cole mostrou um sorriso forçado e
acenou com a cabeça. Halgor saiu. A escotilha fechou-se atrás dele com um chiado. Cole
resolveu que no futuro teria mais cuidado.
***
A Kitara estava mais adiante, cercada pela escuridão. Pol ainda não se recuperara
completamente do choque da catapultagem. Ainda se sentia como se estivesse pendurado
entre duas rodas. Por uma fração de segundo, no momento exato em que saiu da eclusa da
Ploféia, foi cercado pelo campo transportador hiperenergético, que neutralizou a
velocidade enorme que até então mantivera em relação à Kitara e o colocou na rota certa.
A Ploféia já tinha desaparecido. Pol estava preso no interior de um monstruoso traje
transportador. Deslocava-se à velocidade de cerca de 300 quilômetros por segundo em
direção à Kitara. Se tivesse sorte, levaria dez horas para chegar às imediações dessa nave.
Um sistema de propulsão química de pequenas dimensões levaria mais uma hora para
reduzir sua velocidade e aproximá-lo da Kitara.
Isso naturalmente se Halgor Sorlund e seus companheiros não resolvessem mudar a
rota antes disso. Trazia no pulso um pequeno rastreador, que indicava a posição da
Kitara. Sua rota fora adaptada a essa posição. Os aparelhos que possuía para fazer a
navegação espacial a grande distância eram bastante deficientes. Se a Kitara mudasse de
rota, teria de chamar de volta a Ploféia.
Pol nem quis pensar nesta possibilidade. A solidão e a perspectiva de um vôo de dez
horas pela escuridão do espaço eram difíceis de suportar. Precisava de coisas que o
animassem.
Chupou um tubinho que conseguia colocar na boca com a maior facilidade, fazendo
um movimento ligeiro da cabeça. Ingeriu um gole de um nutriente adocicado. Não estava
com fome. Procurou convencer-se de que estava somente experimentando o sistema.
Lançou um olhar para o rastreador. A Kitara aparecia sob a forma de um pontinho
luminoso na extremidade superior do mesmo. O ponto parecia imóvel, mas na verdade
deslocava-se bem devagar em direção ao centro da tela fluorescente, que era do tamanho
de um relógio de pulso.
Levaria dez horas para atingir esse centro. Pouco depois chegaria o momento em
que Pol Kennan reencontraria pela primeira vez, depois de muito tempo, seu velho amigo
Cole Harper.
Pol temia esse momento. Não conseguia soltar o nó que formavam seus
pensamentos e sentimentos. Cole já não era a mesma pessoa que ele conhecia. Talvez
nem fosse o próprio Cole. Precisava descobrir isso antes de aparecer à sua frente. Antes
de fazer qualquer coisa, teria de saber quais eram as intenções dos homens que se
encontravam na Kitara.
Voltou a sugar o tubinho e filtrou o líquido pegajoso entre os dentes antes de engoli-
lo. “Estou é nervoso”, pensou. Deveria tentar dormir um pouco. Alguém já disse que num
traje destes consegue-se dormir tão bem como numa cama muito confortável.
Tentou, mas não conseguiu. Passou o tempo observando o pontinho projetado na
tela do rastreador ou procurando localizar constelações fantásticas em meio ao acúmulo
de estrelas. Esta atividade acabou sendo útil. O cérebro superexcitado começou a relaxar.
Voltou a fechar os olhos e adormeceu sem dificuldades.
***
Reginald Bell entrou no gabinete do Administrador-Geral sem fazer-se anunciar.
Sacudia uma folha de papel na mão direita.
— Uma mensagem direcional da Ploféia! — exclamou, alegre.
Perry Rhodan, que estava inclinado sobre algumas folhas de papel empilhadas em
sua escrivaninha, levantou a cabeça.
— Encontraram a Kitara — prosseguiu Bell e ficou de pé à frente da escrivaninha.
— Fizeram sair um homem que tentará subir a bordo da Kitara sem que seus ocupantes o
percebam. Até lá Hastara manterá a área limpa, para que Sorlund e seus homens não
desconfiem.
Rhodan parecia surpreso.
— Por que resolveu fazer isso? — perguntou.
— Não temos informações sobre isso — disse Bell, dando a entender que
lamentava. — A mensagem é bem lacônica. Talvez pretenda colher certas informações
que não conseguiria se chegasse perto da Kitara com sua nave.
Rhodan recostou-se na poltrona.
— Pode ser — admitiu. — Confio em Hastara. Se resolveu agir assim, ele sabe por
quê. Se houver alguma novidade, avise imediatamente.
Bell fitou-o. Parecia aborrecido.
— Está me mandando embora? — perguntou.
Perry Rhodan fez que sim.
— Tenho que fazer — explicou. — Você sabe que a Kitara não é o único problema
que tenho que resolver.
— Está bem; vou embora — resmungou Bell, fingindo-se de zangado.
Dispôs-se a cumprir o que acabara de prometer. Mas antes que chegasse à porta
ouviu-se o som estridente das sereias de alarme.
Bell parou. Uma voz indiferente e controlada saída do alto-falante do
intercomunicador informou:
— O transmissor das pirâmides entrou em atividade há alguns segundos e vem
rematerializando naves robotizadas inimigas. Conforme as ordens recebidas, cem
unidades da Frota concentram-se em torno do ponto de materialização para atacar o
inimigo.
Perry Rhodan levantou-se de um salto.
— Dê partida na nave! — gritou para Bell. — A Crest vai dar uma olhada de perto.
***
Foi uma batalha durante a qual a pessoa ficava sem saber quais eram mesmo as
intenções do inimigo. Cinqüenta naves-lápis saíram do campo incandescente de energia
condensada que se formara bem acima da superfície de Kahalo. Não tiveram muito tempo
para orientar-se. As unidades da Frota formaram um círculo compacto em torno do
campo energético e seus canhões conversores martelavam impiedosamente o inimigo.
Mesmo que tivessem lançado um número mais elevado de naves ao ataque, os maahks
seriam impotentes diante dessa forma de resistência. As naves-lápis foram arrebentando
uma após a outra sob a fúria tremenda do fogo concentrado.
A batalha durou duas horas. Depois dela não havia mais uma única nave robotizada
nas proximidades de Kahalo. Somente uma unidade conseguiu escapar ao fogo cerrado.
Perry Rhodan deu ordem para que cinco cruzadores da classe Cidade saíssem em sua
perseguição, para que este último inimigo também fosse destruído. Conforme se
observara, a nave inimiga fora atingida várias vezes.
A Crest retirou-se e pousou no mesmo lugar do qual tinha decolado duas horas
atrás. Perry Rhodan, Bell e Atlan encontravam-se na sala de comando. Todos os
instrumentos da nave gigantesca tinham funcionado a plena potência durante a batalha. O
processamento dos dados colhidos estava em pleno andamento.
Mal a Crest acabou de pousar, o comandante do grupo de cruzadores Cidade
chamou para informar que a última nave inimiga acabara de ser destruída. Rhodan virou-
se para o arcônida. Havia um sorriso malicioso em seu rosto.
— Quer dizer que também não foi isso — constatou.
Atlan fitou-o com uma expressão de espanto.
— Não foi o quê? — perguntou Bell, estupefato.
Rhodan apontou para o teto.
— Foi um ataque simulado — disse. — Vocês sabem disso tão bem quanto eu. Se
os maahks quiserem expulsar-nos daqui, lançarão no ataque pelo menos cem vezes mais
unidades, e ainda por cima unidades maiores. Quer dizer que a finalidade do ataque foi
outra. Qual será? Não é difícil adivinhar. Queriam desviar nossa atenção de alguma coisa.
De quê? Quanto a isso não temos certeza. Acredito que mais alguma coisa passou pelo
transmissor além das cinqüenta naves robotizadas. No ardor da luta ninguém percebeu.
Quanto mais reflito, mais certeza tenho de que causamos danos ao inimigo, mas de que
foi ele quem venceu a batalha.
Bell fez um gesto de perplexidade.
— Não compreendo — disse. — Onde você acha que está neste momento a coisa
misteriosa que teria passado pelo transmissor durante a batalha?
Rhodan sorriu.
— Isso é uma boa pergunta, não acha? Por que não espera até que os dados colhidos
sejam processados? Talvez isso nos dê uma resposta.
Atlan olhava para o chão. Até parecia que não percebia nada do que se passava em
torno dele.
— Talvez nosso amigo saiba alguma coisa — disse Bell, apontando para o arcônida.
Atlan levantou os olhos. Parecia confuso.
— Como...? Eu? Não — fez um gesto de pouco-caso. — Só tive uma idéia.
— Que idéia foi essa? — perguntou Rhodan em tom seco.
O arcônida parecia embaraçado.
— Cheguei à conclusão — principiou em tom hesitante — de que tudo estava na
melhor ordem aqui em Kahalo, até que Halgor Sorlund e seus companheiros chegaram.
Depois disso foi o diabo. Kahalo foi atacado por um grupo de naves robotizadas. A
Kitara desapareceu com tudo que havia a bordo. Faz pouco tempo que conseguimos
encontrá-la. Temos certeza quase absoluta de que Sorlund e seus companheiros são
agentes dos maahks. De repente Kahalo sofre um novo ataque, e um ataque que mostra
perfeitamente que o objetivo do inimigo não é a conquista deste planeta — Atlan já
recuperara a autoconfiança e fitou Rhodan com uma expressão de desafio. — Será que
ninguém teve a idéia de que os cinco homens que se encontram a bordo da Kitara estão
na base de tudo isso? De que as coisas que estão sendo introduzidas através do
transmissor devem ter alguma ligação com a Kitara e provavelmente estão sendo levadas
para lá?
— Seria difícil explicar — objetou Bell — como os maahks poderiam levar um
objeto de Kahalo ao ponto em que a Kitara se encontra neste momento sem que nós
percebêssemos.
— Isso se admitirmos que os maahks empregam os mesmos recursos ou ao menos
recursos semelhantes aos nossos — respondeu Atlan. — Qualquer um já terá notado que
em certas áreas a tecnologia dos maahks é mais adiantada que a nossa. Não podemos
negar um acontecimento pelo simples fato de não estarmos em condições de explicar o
mesmo.
Bell interrompeu-o com um gesto.
— Tudo bem, amigo — parecia um tanto contrariado. — Só quis evitar que alguém
tirasse conclusões apressadas, enganando o pessoal. E só isto. Se alguém me apresentar
uma idéia sensata sobre o que os maahks podem ter introduzido pelo transmissor e como
podem ter levado o objeto ao destino sem que nós percebêssemos, serei o primeiro a
concordar com todas as medidas para proteger-nos. Mas por enquanto...
Bell foi interrompido. Um dos oficiais que estavam fazendo o processamento dos
dados fornecidos pelos instrumentos veio correndo em direção a Perry Rhodan.
— Senhor!
Rhodan virou a cabeça.
— A interpretação do hiper-rastreamento foi concluída, senhor — disse o jovem
oficial. — Acho que já encontramos o que os senhores estão procurando. O rastreador
registrou um impulso de grande intensidade um décimo de segundo após o aparecimento
da última nave robotizada. Mas as objetivas acopladas ao mesmo não registram o
aparecimento de qualquer objeto.
— Quer dizer — observou Rhodan — que uma coisa invisível passou pelo
transmissor.
— Isso mesmo, senhor.
Rhodan agradeceu com um gesto. O jovem oficial voltou ao seu lugar de trabalho.
Rhodan coçou a cabeça. Era um gesto que raramente se notava nele. Depois de algum
tempo disse:
— Acho que vamos avisar a Ploféia de que deve estar preparada para qualquer
eventualidade.
6
Assim que a escotilha se fechou atrás de Cole, Imar Arcus levantou-se de um salto e
desligou o transmissor. Depois correu para junto da parede, recolheu os cinturões com as
armas e entregou a cada um a sua.
— Temos de avisar Grek-1 — fungou. — Ele precisa saber imediatamente o que
está acontecendo.
Foi interrompido. O receptor zumbiu. Imar ligou. A voz mecânica saída de uma
tradutora simultânea disse:
— A nave de vocês está transmitindo um sinal de grande intensidade, terrano! O
que significa isso?
Imar fez um relato apressado.
— Com isto a situação se modifica — disse a voz. — Já não podemos esperar que
não nos descubram — Imar espantou-se ao notar que não perdeu uma única palavra com
Cole Harper. — A qualquer momento uma nave inimiga pode aparecer por aqui. Temos
de dar início a uma manobra de camuflagem. Enviarei um grupo de robôs de combate.
Eles os atacarão. Procurem defender-se!
Imar confirmou o recebimento da ordem. Desligou e virou a cabeça. Halgor, Son-
Hao e Hegete fitaram-no com uma expressão de espanto.
— O que significa isso? — perguntou Halgor com a voz apagada.
— Isto significa — respondeu Imar — que teremos uma boa explicação para o fato
de a tripulação da Kitara ter desaparecido e de não termos dado notícias. Em vez de
destruir-nos numa explosão nuclear, o comandante maahk preferiu apoderar-se da nave,
deixando-a intacta até onde isso fosse possível. Enviou um grupo de robôs para dar cabo
da tripulação. As máquinas de guerra não tiveram dificuldades com os terranos
inexperientes. Mataram-nos e atiraram seus corpos no espaço. Mas nós, que conhecemos
os maahks, conseguimos resistir por algumas horas aos robôs.
De repente teve uma idéia.
— Até poderíamos...
— Um instante — interrompeu Halgor.
Levantou-se e foi para perto da escotilha.
A pesada chapa de metal deslizou para o lado, deixando entrar uma onda de barulho
e fumaça. Imar recuou apavorado e lançou um olhar assustado para fora.
A cinco metros do lugar em que estava havia os corpos de dois maahks caídos ao
chão. Seus trajes protetores estavam estragados. O cheiro desagradável de amoníaco e
plástico queimado enchia o ar. O barulho vinha mais de baixo, do lugar em que um
corredor lateral terminava junto à galeria de carga principal.
Uma fumaça espessa enchia o corredor.
Imar voltou.
— Não sei o que está acontecendo, mas acho que devemos dar o fora — disse
fungando. — Vamos erguer uma barricada num dos porões de carga menores. Levem
todas as armas e provisões que puderem carregar.
Sua impulsividade contaminou os companheiros, que se levantaram de um salto e
pegaram outras armas além das que já carregavam. Quando saíram da sala de comando,
lá embaixo já estava tudo em silêncio. A fumaça estava menos espessa. Imar viu mais
três maahks caídos ao chão. Estavam todos mortos.
Foram saltando um após o outro para dentro do elevador antigravitacional que
levava ao convés superior. Imar não perdeu tempo. Escolheu um dos seis compartimentos
de carga dispostos em torno do centro do convés. As armas e os mantimentos foram
colocados no centro do compartimento, que estava vazio. Imar fez um ligeiro inventário e
constatou que dispunham de armas e mantimentos para resistir alguns dias.
No fundo não lhe importava nem um pouco que conseguissem arranjar-se com isso
ou não. Tinham sido criados para executar certa tarefa. Concluída esta, deviam estar
preparados para serem eliminados. Era, em resumo, o destino de todos os humanóides.
Assim mesmo surpreendeu-se desejando ardentemente que uma nave terrana
aparecesse quanto antes nas proximidades.
***
Pol estava sentado todo duro, absorto em suas reflexões. Acabara de ouvir o que o
homem que se encontrava à sua frente tinha a dizer. Havia coisas tão grandiosas, tão
terríveis, tão estranhas, que a inteligência não conseguia digeri-las. Limitava-se a
registrá-las e guardá-las.
— O senhor... — principiou Pol, confuso — ...você não é Cole Harper.
— Você não seria capaz de me distinguir do verdadeiro Harper, nem você, nem
qualquer outra pessoa — respondeu o humanóide.
Pol parecia deprimido.
— Sim. Mas...
— Sei o que está sentindo — interrompeu Cole. — Procure pensar no que eu sinto.
Fico andando por aí o tempo todo com a impressão de que eu não sou eu mesmo!
Pol fitou-o por alguns segundos. Cole teve a impressão de que estava olhando para
além dele. Finalmente levantou-se abruptamente, como se tivesse tomado uma decisão.
Saiu caminhando em direção à escotilha.
— Não adianta quebrar a cabeça com problemas metafísicos — disse em voz alta e
clara. — Você se parece bastante com Cole Harper. Estamos nos dando muito bem. A
única coisa que importa no momento é salvar a pele. Sua pele e a minha. Você conhece
os maahks melhor que eu. O que farão em seguida?
Cole quis dar de ombros. Seu rosto ficou desfigurado quando a dor lancinante lhe
recordou a ferida que sofrera. Pol tratara da mesma da melhor forma que isso era possível
com o estoque reduzido de medicamentos que trazia consigo.
— Não faço idéia — respondeu Cole. — Grek-1 deve ter ouvido o pedido de
socorro. Só pode esperar que nas próximas horas uma nave terrana apareça por aqui. Não
arriscará um combate. Mas ninguém sabe o que lhe dará na cabeça. Talvez resolva
destruir a Kitara com tudo que se encontra a bordo, talvez resolva enviar um comando de
abordagem que dê cabo de nós.
Pol sacudiu a cabeça.
— Alguma coisa não está certa — constatou. — Se o maahk resolvesse destruir a
Kitara, ele o teria feito logo. Será que ele ainda precisará de alguma das peças espalhadas
por aí?
Cole reconheceu que essa possibilidade não podia ser excluída.
— Neste caso estaremos em segurança, enquanto ainda houver algum aparelho lá
fora — concluiu Pol. — Por quanto tempo será?
Cole pôs-se a refletir.
— O teor energético da bolha é constante — disse no tom de quem fala consigo
mesmo. — Quer dizer que a formação da bolha será cada vez mais rápida, à medida que
diminuir o número de objetos que a mesma tem de recolher — levantou os olhos. —
Acho que vai demorar menos de uma hora.
Pol mordeu o lábio. Era menos do que ele acreditara.
— Suponhamos que eles resolvam enviar um comando de abordagem —
prosseguiu. — Eles descobririam imediatamente que estamos escondidos no porão de
carga principal. Eles se espalhariam em torno do mesmo e passariam ao ataque assim que
a bolha energética tivesse concluído o transporte dos aparelhos. Depois disso estaríamos
numa armadilha.
Formou seu plano enquanto ainda estava falando. Só havia uma saída. Se Felipe
tivesse reagido ao aparecimento da nave cilíndrica conforme ele previra, a Ploféia devia
estar a três unidades astronômicas de distância. Pouco menos de quinze minutos se
passariam antes que o pedido de socorro expedido por Cole alcançasse a nave. A reação
de Felipe seria imediata. Quanto a isso não havia a menor dúvida. Se tudo desse certo, a
Ploféia poderia chegar dentro de meia hora. Teriam de agüentar até lá. Ao que parecia, o
mais fácil seria esperar no porão principal até que chegasse auxílio. Enquanto a bolha
energética não concluísse seu trabalho, os maahks não poderiam atacar esse recinto. Pelos
cálculos de Cole, isso ainda deveria demorar cerca de uma hora. Mas havia um problema.
Antes de resgatá-lo juntamente com Cole, os tripulantes da Ploféia teriam de pôr fora de
ação o comando de abordagem. Ninguém sabia quanto tempo demoraria isso. Tudo
dependia da força do comando. Um número bastante elevado de maahks talvez fosse
capaz de numa frente defender-se dos atacantes vindos da Ploféia, e na outra frente
penetrar no porão de carga e matá-lo juntamente com Cole.
Portanto, teriam de sair do porão em que se encontravam. Cole precisava de uma
pausa para descansar.
Quando estivessem em condições de sair, os maahks já teriam chegado e manteriam
ocupadas todas as saídas. Os dois teriam de criar um novo caminho de fuga.
Pediu que Cole lhe explicasse os arredores do porão de carga. Assim que acreditou
estar suficientemente informado, saiu da sala de comando e mandou que Cole ficasse
deitado, para que pudesse voltar a entrar em ação quanto antes. Uma vez no corredor,
saiu à procura de um lugar em que, segundo a descrição de Cole, devia haver uma sala
alongada que servia de depósito de ferramentas. Ligou sua arma energética para a
potência máxima e disparou um raio concentrado contra a parede de metal plastificado.
As paredes das espaçonaves eram construídas para resistir a esse tipo de ação. Pol
sentiu isso. Levou nada menos de cinco minutos para abrir um buraco de dez centímetros
de diâmetro. Mais dez minutos, e o tamanho do buraco era suficiente para que pudesse
enfiar a cabeça e olhar em torno. As informações de Cole eram corretas. O buraco ficava
quase exatamente no centro da parede dos fundos da sala de ferramentas. Esta tinha
pouco menos de três metros de largura por oito de comprimento. Conforme afirmara
Cole, a saída levava a uma área do convés central que não podia ser vista de qualquer
ponto do compartimento de carga principal.
Pol trabalhava sem parar. Em menos de quinze minutos o buraco permitia que
passasse pelo mesmo. Era quanto bastava, pois Cole Harper tinha a mesma estatura que
ele. Atravessou a sala e abriu cuidadosamente a escotilha que levava ao convés central.
Viu um corredor largo e bem iluminado à sua frente. Havia um forte ruído, vindo
não se sabia de onde. Pol pôs-se a escutar. O barulho parecia cada vez mais próximo.
Deixou a escotilha aberta e atravessou o corredor, até atingir uma curva da qual podia ver
a entrada principal do porão de carga. Lançou um olhar para a frente e recuou
apressadamente.
O que acabara de ver bastava para congelar o sangue até mesmo nas veias de um
homem destemido. Cerca de duas dezenas de objetos ovais, de quase três metros de
altura, estavam suspensas no ar lá embaixo, chiando e zumbindo incessantemente. Cada
um desses objetos estava cercado por um círculo de braços tentaculares móveis. As
estranhas criaturas movimentavam-se a apenas dez centímetros do chão, dando a
impressão de que estavam apoiadas numa armação invisível.
Pol logo se recuperou do susto e arriscou mais um avanço. Desta vez teve
oportunidade de examinar melhor as estranhas criaturas. Constatou que seus corpos
tinham formas geométricas regulares. Os envoltórios dos corpos ovais eram
completamente lisos. A superfície emitia um brilho metálico. Pol teve a impressão de que
as criaturas estranhas, vinte e quatro ao todo, eram exatamente do mesmo tamanho.
A confiança que sentia sofreu um forte abalo. Acreditara que teria de lutar com os
maahks. Fosse qual fosse a opinião que a pessoa tinha dos maahks, eles eram seres que
sentiam e possuíam um sadio instinto de auto-conservação, que conforme as
circunstâncias poderia representar uma vantagem para o inimigo.
Os objetos ovais que se encontravam lá na frente não eram maahks.
Eram robôs.
***
Os cientistas de Grek resolveram o problema num tempo recorde. Quando o grupo
de ataque, formado por trinta e dois robôs de combate de alta qualidade, saiu da nave
maahk para colocar a Kitara no estado que Grek-1 julgava desejável caso fosse ela
descoberta por uma nave terrana, um dos robôs carregava um objeto cuidadosamente
embalado, cujas dimensões correspondiam mais ou menos às de um corpo humano.
Grek-1 ainda não tivera notícias dos cinco homens que enviara atrás de Cole
Harper. Isso contrariava flagrantemente as instruções que tinha dado. Como sabia que
nenhum dos seus subordinados seria capaz de fazer qualquer coisa que contrariasse sua
vontade, concluiu que alguma coisa devia ter acontecido ao grupo. Uma coisa grave, que
tornava impossível a transmissão de um relatório.
Em outras palavras, os cinco maahks estavam mortos.
Com isso Cole Harper ascendeu aos olhos de Grek à posição de inimigo número um
dos maahks. Deu ordem para que os robôs se dividissem em dois grupos. Um deles,
formado por oito robôs, perseguiria Halgor Sorlund e seus três companheiros e entraria
em combate com os mesmos. O outro grupo, que era três vezes mais numeroso, trataria
de localizar Cole Harper e dar cabo dele.
Grek-1 deu-se conta de que imaginara que a operação fosse muito mais fácil do que
realmente era. Teve de confessar que estava enfrentando uma espécie de dilema. Sem
dúvida os robôs de combate fariam um trabalho completo a bordo da Kitara. Mas havia as
peças da trilha de desvio de impulsos que teriam de ser levadas de qualquer maneira para
bordo de sua nave. A qualquer momento poderia surgir uma nave inimiga. Acontece que,
se fosse mantido o suprimento atual da bolha energética, a descarga da Kitara ainda
demoraria algum tempo.
A bolha energética era uma coisa muito útil. Só tinha uma desvantagem. Consumia
toda a energia que os geradores da nave maahk podiam ceder sem afetar as funções vitais
do veículo espacial.
Grek-1 resolveu tomar uma medida drástica. Reduziu o consumo de energia de sua
nave. Em virtude disso o suprimento de ar, a iluminação e a calefação deixaram de
funcionar em vários lugares. A energia ganha foi projetada em direção à Kitara, para que
a formação da bolha energética pudesse ser completada mais depressa.
Dali a instantes teve oportunidade para felicitar-se pela decisão audaciosa. Os
rastreadores registraram a presença de impulsos energéticos gerados por sistemas
propulsores de alta potência. Na opinião de Grek-1 isso só podia significar que uma nave
terrana tinha captado o pedido de socorro emitido pela Kitara e resolvera vir em auxílio
da mesma. Levaria apenas alguns segundos para aparecer na tela dos rastreadores de
matéria. Conforme a precisão com que trabalhavam seus goniômetros, materializaria
entre zero e cinco milhões de quilômetros de distância. Grek-1 poderia desaparecer no
espaço linear com sua nave.
“Por enquanto nada está perdido”, concluiu Grek.
***
Quando Pol chegou ao porão de carga principal, notou que alguma coisa tinha
mudado. Olhando constantemente, criara uma sensação segura que lhe dizia com que
rapidez avançava aquilo que Cole Harper chamava de bolha energética, fazendo
desaparecer a aparelhagem. Ficou observando durante um minuto e chegou à conclusão
de que a frente da bolha energética realmente avançava bem mais depressa.
Resolveu agir imediatamente. Dentro de alguns minutos o pavilhão estaria vazio, e
então os robôs poderiam passar ao ataque. Teriam que dar o fora quanto antes, senão
estariam perdidos. Correu para a sala de controle e ajudou Cole a pôr-se de pé. Forneceu
uma explicação apressada. Cole esboçou um sorriso e garantiu que se sentia muito bem.
Quando chegou ao porão de carga, Pol viu que agira no último instante. Só sobrava
um punhado de aparelhos. A parede invisível quase chegava a desenvolver a velocidade
de um homem a pé.
Cole foi o primeiro a passar pelo buraco que Pol tinha aberto na parede dos fundos
da sala de ferramentas. Não foi muito hábil e bateu com o ombro ferido. Pol ouviu-o
respirar profundamente e viu que estava cambaleando. Segurou-o nos quadris para evitar
que caísse. Cole virou o rosto muito pálido para ele. Estava com os dentes profundamente
cravados no lábio inferior e sacudiu a cabeça.
Avançaram o mais depressa que puderam para a parte da frente da sala. Pol abriu
cuidadosamente a escotilha. O zumbido e as batidas produzidas pelos robôs continuavam
a vir do lado direito. À sua esquerda tudo parecia estar em silêncio. Pol empurrou Cole à
sua frente. O mesmo devia sofrer dores horríveis. Mal conseguia coordenar os passos.
Tropeçava em vez de caminhar.
Não havia tempo para perguntar aonde levava o corredor. Pol tinha que assumir o
risco. Certamente encontrariam um poço de iluminação, ou uma rampa que levava para
outro convés. Deviam deixar os robôs para trás o mais que fosse possível e atingir a
periferia da nave. Se conseguissem isso, poderiam ficar escondidos até que os homens da
Ploféia subissem a bordo.
Quando tinham percorrido dez metros, chegaram a um corredor largo, no qual
desembocava perpendicularmente o corredor vindo do porão de carga. Pol parou. Estava
indeciso.
— Para onde vamos? — perguntou.
— Para a direita — resmungou Cole entre os dentes.
Sua ferida se abrira. O sangue corria pelas bordas incrustadas da perfuração
produzida pelo tiro. Pol estava preocupado. Perguntou-se quanto tempo Cole ainda
agüentaria. Era apenas um humanóide, mas sua semelhança com o verdadeiro Cole
Harper era tamanha que Pol não seria capaz de abandoná-lo por aí.
Pegaram o corredor da direita. Pol teve a impressão de que já conhecia a disposição
dos diversos corredores. O porão de carga principal ficava em posição assimétrica em
relação ao centro da nave. O ponto central do mesmo ficava obliquamente embaixo do
centro de gravidade da nave. Afastaram-se do porão e caminharam em direção a um dos
grandes poços de carga que levavam da eclusa inferior para dentro da nave. Bastaria que
se deixassem cair no poço para irem parar numa das eclusas inferiores. Pol estava cada
vez mais otimista. De forma alguma se poderia dizer que estavam perdidos. Mais alguns
minutos, e estariam em segurança.
Mal concluiu estes pensamentos, um estrondo sacudiu o corpo metálico da nave. O
chão ergueu-se como se estivesse sendo sacudido por um terremoto. Cole caiu ao chão, e
Pol perdeu alguns segundos preciosos levantando-o. O ruído da batalha vinha de algum
lugar, provavelmente através do poço de carga. Pol ouvia o zumbido e os estrondos
produzidos pelos robôs, que se misturavam ao chiado das armas energéticas. Acreditara
que os robôs que se encontravam junto à entrada do porão de carga principal fossem os
únicos que estavam a bordo. Mas viu que não era assim.
Num dos conveses superiores estava sendo travada uma batalha encarniçada.
Provavelmente os maahks também estavam usando robôs contra Halgor Sorlund e seus
companheiros.
Cole estava exausto. Pol arrastou-o atrás de si. O corredor descreveu uma curva
suave. O barulho vindo de cima era cada vez mais forte. Pol viu a abertura extensa do
poço de carga. Segurou Cole pelos quadris e carregou-o o resto do caminho.
Quando ainda se encontravam a quatro ou cinco metros do poço, aconteceu uma
coisa que destruiu suas esperanças. Ouviu um chiado. Antes que se desse conta do que
era, uma figura gigantesca saiu da abertura do poço. Parecia que notara imediatamente a
presença dos dois homens. Permaneceu quase imóvel, flutuando no centro do corredor e
fechando-lhes o caminho. Era uma figura oval brilhante de quase três metros de altura,
dotada de sete extremidades parecidas com garras, que descansava sobre uma almofada
energética que zumbia constantemente.
Pol estacou. Estava indefeso diante do robô. Segurava Cole nos braços. O ser
mecânico o mataria antes que pudesse soltar Cole e pegar a arma.
9
***
**
*
O jogo dos duplos, que desde o início
provocara as desconfianças de Atlan e Gucky,
foi descoberto. Mas falta a prova definitiva de
seus atos de traição. Pol Kennan, que poderia
esclarecer tudo, jaz inconsciente.
Atlan acha que a situação é tão grave que
está disposto a usar a arma secreta da USO —
Os Parasprinters!
Leia a história no próximo volume da série
Perry Rhodan.