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O FIM DE GÊMEOS
Autor
H. G. EWERS
Tradução
RICHARD PAUL NETO
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
No ano de 2.4O1, quando os duplos apareceram na
Galáxia, o Lorde-Almirante Atlan, chefe da United Stars
Organization, viu-se levado a recorrer aos seus mutantes
secretos Tronar e Rakal Woolver, a fim de ajudar Perry Rhodan
a rechaçar os invasores vindos de Andrômeda.
Os parasprinters — nome dado aos gêmeos Woolver,
porque são capazes de locomover-se no interior de qualquer
fluxo de energia — fazem um excelente trabalho. Os gêmeos
nascidos no planeta Imart, de cuja existência nem mesmo
Gucky, o mutante mais competente do exército especial de Perry
Rhodan, tinha conhecimento, desvendaram o mistério dos
duplos, fizeram espionagem no centro de comando dos maahks e
impediram a invasão que ameaçava a Galáxia.
Gucky, o célebre rato-castor, acabou saltando para dentro
da cova do leão, e trouxe Grek-1, comandante da invasão
frustrada dos maahks, para junto de Perry Rhodan. Parece que
o comandante maahk, que se tornou prisioneiro, está disposto a
desligar-se dos seres que o dominam, os chamados senhores da
galáxia. Mas Grek-1 não se esquece da missão de seu povo.
Traz a morte e a destruição para as frotas dos aconenses — e
causa O Fim de Gêmeos...
Hat-Mooh franziu o rosto estreito num sorriso sarcástico, quando os dois guardas
entraram com o prisioneiro.
Não sentia pena pelo terrano baixo, de pele amarela. Aos olhos de Hat-Mooh este
povo vindo de um planeta que há apenas quinhentos anos não tinha nenhuma
importância, e que ficava num braço da Galáxia em que as estrelas eram bastante raras,
era animalesco e primitivo. Para ele quase chegava a ser uma blasfêmia que os terranos se
atrevessem a competir com a única raça verdadeiramente inteligente do Universo, a dos
aconenses.
Um dos guardas quis fazer a apresentação, mas Hat-Mooh fez um gesto de tédio.
— Sentem-no em cima do psicolador! — ordenou.
Por um instante alguma coisa parecida com o medo desenhou-se no rosto amarelo
do terrano. Mas o mesmo logo cerrou os lábios, num gesto de teimosia.
Hat-Mooh notou. Mostrou um sorriso arrogante.
— O silêncio que você vem mantendo não adianta nada, terrano. Quando estiver
sentado no psicolador, você contará tudo que sabe a respeito do misterioso transmissor.
O prisioneiro contorceu-se nas mãos dos guardas. Seus olhos oblíquos faiscavam de
raiva.
— Você pode tripudiar sobre mim, aconense! — gritou, furioso. — O dia em que
você receberá a conta pelo tratamento bárbaro que está me dispensando não está distante!
O rosto de Hat-Mooh tremeu, mas logo mostrou um sorriso de desprezo.
— Bárbaros são os terranos, Major Sun-Jang. Qualquer ser civilizado já teria falado.
Não esperaria pelo psicolador. Quero ver quem vai me apresentar uma conta!
O Major Sun-Jang fez força contra os braços dos guardas que queriam comprimi-lo
contra o assento.
— Quem...? Perry Rhodan!
O rosto de Hat-Mooh ficou pálido como cera. O oficial do serviço secreto aconense
apertou as mãos contra a mesa, para não mostrar que estava tremendo. Deu uma risada,
mas esta saiu histérica. Mas logo se recuperou da fraqueza.
— Amarrem-no! — gritou para os guardas.
Levantou os olhos, irritado, quando a porta se abriu.
Um aconense alto que usava o uniforme dos especialistas do serviço secreto entrou
correndo na sala de interrogatórios. Quando viu o prisioneiro, parou. Virou violentamente
a cabeça para Hat-Mooh. Seu rosto transformou-se numa máscara, que não mostrava
nenhuma emoção.
Hat-Mooh levantou.
— Nir-Lah...! — disse em tom ameaçador. — Por que veio incomodar-me?
— Ouvi dizer que o senhor pretende interrogar o Major Sun-Jang com o psicolador
— disse. — Peço que não se esqueça que com isso provavelmente destruiremos o espírito
do prisioneiro. O Major Sun-Jang era um simples comandante de nave cargueira. Esta
gente não pode dar informações importantes.
Hat-Mooh fitou Nir-Lah com uma expressão de perplexidade. Ficou chocado com o
tom agressivo em que o jovem especialista do serviço secreto se dirigira a ele. Além de
chefiar a divisão mais importante do serviço secreto de Ácon — a que cuidava da
espionagem contra o Império Solar — Hat-Mooh era membro do Conselho Supremo de
Ácon, o que lhe dava muitos poderes. E agora um especialistazinho se atrevia a pôr em
dúvida suas ordens...!
A mão de Hat-Mooh fez um movimento em direção à arma energética que se
encontrava sobre a mesa. Mas logo voltou a recolher a mesma. Respondeu com a voz
rouca de raiva contida.
— Fico muito admirado, Nir-Lah. Como pode ter a audácia de vir incomodar-me
sem fazer-se anunciar? Como se atreve a interferir em assuntos que dizem respeito
exclusivamente a mim?
Nir-Lah continuou com o rosto impassível.
— Foi o respeito que sinto por todas as formas de vida inteligente que me fez agir
assim, Hat-Mooh.
— Vida inteligente? — Hat-Mooh deu um tom de desprezo à voz. — Este terrano é
um bárbaro semi-selvagem, tal qual todos os membros de seu povo sedento de poder. Seu
“espírito” não fará falta a ninguém.
Pela primeira vez o rosto de Nir-Lah deixou de ser uma máscara. Um brilho
ameaçador surgiu em seus olhos.
— Se o senhor usar o psicolador no interrogatório deste prisioneiro, apresentarei
queixa ao Conselho Supremo, Hat-Mooh!
Hat-Mooh deu uma risada de desprezo.
— O senhor pode dar-se por feliz se eu não o rebaixar logo e o obrigar a enfrentar a
corte militar do serviço secreto. O Conselho não tomará conhecimento de sua queixa. O
senhor se esquece de que também pertenço ao mesmo.
“Nir-Lah! Só resolvi poupá-lo porque ainda precisamos do senhor. Se fizer um bom
serviço na missão que temos pela frente, talvez esqueça o incidente. Agora cale-se!”
Nir-Lah encolheu instintivamente a cabeça. Dava a impressão de que pretendia
precipitar-se sobre Hat-Mooh. Mas limitou-se a soltar ruidosamente o ar dos pulmões.
Dali a pouco seu rosto voltou a transformar-se numa máscara. Fez continência e dispôs-se
a sair.
— Espere aí! — disse Hat-Mooh. — O senhor vai ficar aqui, Nir-Lah! Sente de
maneira tal que veja o psicolador. Se fechar os olhos uma única vez, procurarei alguém
para substituí-lo.
Nir-Lah ficou estarrecido. Virou-se automaticamente e dirigiu-se à poltrona mais
próxima. Deixou-se cair no estofado macio. Virou o rosto para o psicolador. Seus olhos
pareciam apagados.
O terrano, que já estava firmemente amarrado, lançou um olhar de espanto para Nir-
Lah. Depois de algum tempo esboçou um sorriso triste.
— Muito obrigado, aconense! — disse com a voz apagada.
Depois fechou os olhos. Sua testa cobriu-se de pingos finos de suor.
Nir-Lah cerrou mais fortemente os lábios.
Hat-Mooh deu uma risada de deboche. Sua mão estreita, bem tratada, atravessou a
escrivaninha e agarrou os botões de um minúsculo quadro de comando.
Uma tela situada em cima do psicolador acendeu-se. Uma rede em forma de gorro
desceu sobre a cabeça do prisioneiro. Um zumbido leve se fez ouvir. O corpo de Sun-
Jang estremeceu. Hat-Mooh começou a fazer suas perguntas.
***
Os dois guardas levaram a vítima. Hat-Mooh fitou seu especialista com um ar de
triunfo.
— Então. Que me diz, Nir-Lah? Como comandante de uma nave cargueira Sun-
Jang estava muito bem informado...
— Felicito-o pelo resultado — respondeu Nir-Lah com a voz apagada.
Hat-Mooh sorriu. Sentiu-se lisonjeado.
— Muito obrigado. Fico satisfeito em ver que resolveu ser sensato, Nir-Lah. As
declarações deste Sun-Jang finalmente nos proporcionaram as coordenadas do
transmissor solar, que estávamos procurando há tanto tempo. Outros prisioneiros já nos
forneceram informações sobre a técnica de aproximação e o congelamento narcótico.
Mostraremos à Galáxia que Ácon não aceita o atentado terrano à liberdade do espaço
cósmico.
Nir-Lah abriu os dedos de ambas as mãos.
— O senhor acredita que os terranos nos deixarão passar sem mais aquela pelo
transmissor solar, Hat-Mooh?
— Eles não têm alternativa! — Hat-Mooh deu uma risada de deboche. — Este
cacique bárbaro chamado Perry Rhodan sabe perfeitamente que nenhuma raça tem o
direito de fechar às demais raças a única passagem para o espaço vazio. E chega a ser tolo
a ponto de guiar-se por concepções morais inspiradas pelos sentimentos. Dificilmente
poderá agir de outra forma, a não ser que queira prejudicar o conceito que sua raça goza
junto às outras raças da Galáxia.
Nir-Lah levantou-se.
— Acho que o senhor ainda terá a justa recompensa por seus atos, Hat-Mooh.
Permite que volte ao meu trabalho?
Hat-Mooh fez um gesto condescendente de concordância. Não notara o sentido
ambíguo das palavras de Nir-Lah.
Quando Nir-Lah saiu da sala de interrogatórios, a máscara parecia cair de seu rosto.
Encostou-se à parede fria de metal plastificado, respirando com dificuldade, e fechou os
olhos.
Viu em sua mente o rosto do terrano que acabara de ser interrogado: cinzento,
idiota, embotado. O psicolador apagara até a última centelha de inteligência que houvera
no cérebro de Sun-Jang.
Nir-Lah ouviu passos e empurrou-se da parede. Pôs-se a escutar. Estava banhado
em suor. Finalmente saiu andando pelo corredor como se nada tivesse acontecido.
Dali a pouco entrou no poço do elevador antigravitacional e desceu ao pavimento
em que ficava seu escritório.
Entrou, respirou aliviado e fechou a porta.
Ficou parado por um instante, absorto em pensamentos. Mas de repente animou-se.
Correu de um lado para outro, examinando muito desconfiado as paredes, o teto e todos
os objetos. Parecia satisfeito com o resultado do exame.
Nir-Lah deixou-se cair numa poltrona confortável. Levantou a mão direita e lançou
um olhar pensativo para o diamante ferrol engastado em seu anel largo. Segurou a pedra
com a ponta dos dedos e girou-a. Feito isso, encostou à boca o dedo em que carregava o
anel.
— AAO1 falando! Chamando borboleta noturna. Aviso para o Chefe: Posição e
técnica de aproximação reveladas a ninho de marimbondos. Devemos contar com o vôo
de aproximação e o ultimato. Desligo. AA-O1 falando.
Nir-Lah retirou o diamante. Abriu a parte superior do relógio de pulso e prendeu a
pedra num trançado fino que nem uma teia de aranha.
Esperou pacientemente.
Dali em diante ouviu-se um clique. Nir-Lah retirou a pedra e colocou-a no anel.
Voltou a fechar cuidadosamente o relógio.
Esperava que os aconenses não tivessem notado o impulso hipercurto. Em
compensação sabia que a mensagem transmitida em código seria captada por uma das
micro estações retransmissoras situadas na periferia do Sistema Azul, que a enviaria
praticamente sem perda de tempo para Kahalo.
Um sorriso triste apareceu no rosto de Nir-Lah. Lembrou-se de Sun-Jang, que não
pudera ajudar, e ficou sem saber como conseguira controlar-se.
O rosto estreito e fino voltou a fechar-se numa máscara quando se lembrou de que
teria de agüentar a mesma coisa vezes sem conta, caso isso se tornasse necessário.
Acontece que o verdadeiro nome de Nir-Lah era Richard Edwards, e o mesmo
exercia as funções de chefe de um grupo de agentes da Segurança Galáctica.
2
Grek-1 terminou sua opulenta refeição e caminhou com movimentos elásticos para
seu leito confortável. Começou a descontrair-se.
Os terranos realmente tinham feito o possível para proporcionar-lhe um ambiente
aconchegante. Os alojamentos especiais, hermeticamente fechados, continham uma
atmosfera de hidrogênio a amoníaco, e eram mantidos à temperatura média de 78 graus
centígrados, à qual estava habituado. Além disso a pressão atmosférica era duas vezes
maior que a do planeta Terra. Um ser humano que penetrasse nos alojamentos de Grek
morreria numa questão de segundos. Mas para o maahk as condições eram ideais.
No entanto, Grek-1 era apenas um prisioneiro. Levantou-se. O sentimento de
satisfação desapareceu tão depressa como tinha surgido. Sabia que se encontrava no
interior da Lua terrana. E sabia que Rhodan, Atlan e Mercant também se encontravam na
Lua. Conversavam com ele várias vezes por dia através da tradutora equipada com um
videofone.
Grek-1 não demorou a perceber que Perry Rhodan não se limitava às palestras
verbais. Seus telepatas tentavam sondar os pensamentos do maahk. Acontece que o
mesmo não fazia nenhuma questão de que os terranos descobrissem seus segredos mais
importantes — ao menos por enquanto. Conseguira introduzir um bloqueio em sua
mente, que continuava impenetrável até durante os períodos de sono.
Grek-1 passou a caminhar nervosamente de um lado para outro em sua prisão de
luxo. Lembrara-se de como fora fácil aos terranos porem as mãos nele. Grek refletiu
sobre isso e procurou mais uma vez descobrir os motivos que o tinham impedido de
desencadear o impulso de autodestruição. Se não quisesse mesmo, nenhum ser vivo
conseguiria prendê-lo. Grek-1 não tinha medo de morrer. Normalmente teria procurado a
morte juntamente com os tripulantes.
Alguma coisa o impedira de agir assim.
Grek-1 sabia que em parte esta coisa se chamava Perry Rhodan. Desde que
aprendera a respeitar os terranos como inimigos honrados, sentira-se ansioso em ver e
falar com o homem que alçara os terranos a este nível de grandeza material e espiritual.
Mas não podia ter sido somente por isso que resolvera infringir o código de sua
raça, continuando vivo.
Poderia indicar outros motivos. Mas nem todos juntos eram plenamente
satisfatórios.
Nem sequer chegou a assustar-se quando teve de confessar a si mesmo que
possivelmente os sentimentos tinham sido um fator importante em sua decisão.
E só isto já era mais que estranho num maahk.
***
Perry Rhodan estava sentado numa cabine isolada da biblioteca da nave. O aparelho
de leitura estava ligado e espalhava uma débil luz amarela. A dois metros do rosto de
Rhodan uma cintilante figura energética movimentava-se sobre uma concha prateada
brilhante. Fórmulas despertavam para uma vida fantasmagórica, reproduzidas em cores e
projetadas em três dimensões por meio do trivideoprojetor.
Ao mesmo tempo vozes mecânicas sussurravam, penetrando profundamente no
subconsciente de Rhodan, onde produziam associações de idéias indestrutíveis. Os
conhecimentos estavam sendo introduzidos no cérebro, onde estariam à disposição a
qualquer momento.
De repente ouviu-se um ruído diferente, que sobrepujou o sussurro das vozes e
perturbou a concentração do homem.
Rhodan estendeu lentamente a mão e apertou uma tecla. As figuras energéticas que
cobriam a concha prateada desapareceram. Os sussurros cessaram. Só restou o som que
se fizera ouvir por último.
As luzes da cabine acenderam-se.
Perry Rhodan pôs-se a escutar o zumbido persistente do intercomunicador. Franziu
a testa, contrariado.
Dera ordens terminantes para que não fosse perturbado enquanto se encontrava na
biblioteca. Afinal, o tempo que podia dedicar a esta ocupação já era bem escasso, o que
se tornava bastante preocupante, pois o Administrador-Geral de um império sideral pode
dispensar menos que qualquer outra pessoa os conhecimentos científicos.
Rhodan cerrou firmemente os lábios e levantou-se. Aproximou-se do pequeno
intercomunicador, que era do tipo espalhado aos milhares pela nave, e ligou-o. Ouviu-se
o chiado que indicava que a ligação tinha sido completada.
A tela de imagem, que era do tamanho da palma de uma mão humana, iluminou-se.
O rosto que aparecia nessa tela dava a impressão de ter sido projetado em tamanho
natural, em virtude de um efeito de lupa.
— Bell — exclamou Rhodan em tom de surpresa.
O Marechal-de-Estado Reginald Bell, substituto de Rhodan, sorriu.
— Olá, Perry!
Rhodan não demorou a recuperar-se da surpresa. Sabia que no momento Bell se
encontrava no chamado setor leste da Galáxia. O amigo fora incumbido de observar as
lutas violentas que há anos vinham sendo travadas para o leste da Galáxia.
— Alguma novidade, Bell?
Reginald Bell fez uma cara de quem acaba de morder num limão.
— Que novidades você pode estar esperando, Perry? — Rhodan ergueu as
sobrancelhas, e o rosto de Bell logo assumiu uma expressão séria. — Tudo bem, Perry.
Serei breve.
“A situação continua praticamente a mesma. Os numerosos povos blues vêm se
exterminando uns aos outros. Parece que esses idiotas nunca vão criar juízo. Além disso
os aconenses estimulam o ódio entre eles. Isso lhes proporciona um bom lucro, e além
disso ficam com as mãos livres para expulsar os arcônidas das posições que ainda
mantêm.
Perry Rhodan acenou com a cabeça.
— Dos aconenses não se poderia esperar outra coisa, Bell. Deixemo-los à vontade,
enquanto não nos atacarem. Um dia ainda se machucarão com suas próprias intrigas.
Ficarão pequenos e humildes sem que tenhamos de fazer nada.
Bell aspirou ruidosamente o ar.
— Você sabe que não sou da mesma opinião, Perry. Gostaria de limpar o ambiente
a ferro e fogo, para obrigar os aconenses a permanecer dentro dos seus limites.
Rhodan sacudiu a cabeça. Um sorriso irônico apareceu em seus lábios.
— Impetuoso como sempre, não é, Bell? Que idade você terá que alcançar para
ficar mais comedido e ponderado? Não, meu caro, não vamos intervir. Não podemos
alçar-nos ao papel de juízes da mora de outras raças. A história os julgará sem que
tenhamos de fazer nada.
— Já sei! — Bell parecia contrariado. — Tudo se liquida historicamente...! Mas
quero lhe dizer uma coisa. Se os aconenses e os blues não pararem com os ataques em
nossa área de interesses, eu lhes darei uma lição que lhes fará perder a vontade de voltar!
Rhodan parecia nervoso.
— Ah, é? Quer dizer que continuam abusando? Dê um exemplo.
— No dia 14 de junho trinta naves médias dos blues atacaram um comboio de naves
mercantes terranas e tentaram obrigar os veículos a pousar num planeta gelado muito
distante. Ao que tudo indica, queriam apoderar-se da carga.
— Isso é um ato de pirataria declarada — comentou Rhodan sem a menor emoção.
— Que medidas foram tomadas diante disso?
Reginald Bell sorriu.
— Eu já tinha dado ordens para que qualquer comboio que transitasse na periferia
de nossa área de influência fosse escoltado por unidades da frota...
“Dezoito naves blues explodiram sob o fogo das naves de escolta. As outras
fugiram.”
— Bem feito! — Rhodan sorriu, aliviado. — Vejo que suas ações são sábias,
mesmo que suas palavras não sejam. Foi uma medida correta e suficiente. Em hipótese
alguma faremos mais que isso. Por que usar nossos canhões para matar passarinhos?
— Você tem razão, como sempre — disse Bell, resignado. — Alguma ordem para
mim?
— No momento não, Bell. Faça o favor de tomar as providências necessárias para
que eu possa entrar em contato com você a qualquer momento. Se tiver de sair do
Sistema Solar, quero que você esteja aqui.
— Os grandes acontecimentos projetam suas sombras — comentou Bell. —
Novamente os maahks...
— Talvez — respondeu Rhodan. — Mas é possível que sejam os aconenses. Parece
que Grek-1 sabe de uma coisa que dentro em breve poderá tornar-se importante para nós.
Reginald Bell resmungou alguma coisa. Parecia contrariado.
— Por que não espreme esse cacique maahk, usando todos os recursos técnicos,
para que ele revele o que sabe?
Rhodan ficou com o rosto impenetrável ao responder.
— Porque o respeito como ser dotado de inteligência e como pessoa, Bell, e ainda
porque um dia talvez possamos precisar dele.
Bell arregalou os olhos.
— Não compreendo!
— Acho que dentro em breve você compreenderá, Bell. Mas já basta. Faça um
trabalho bem feito, meu chapa. Desligo.
— Quero que você engasgue com seus segredos! — resmungou Reginald Bell. —
Desligo.
Rhodan ficou escutando mais algum tempo o sinal de linha livre gerado pelo
dispositivo robotizado. Finalmente desligou o intercomunicador. A ligação de
hipercomunicação por transmissor com o setor leste da Galáxia foi interrompida.
***
Perry Rhodan sorriu como quem sabe alguma coisa quando entrou na sala de
comando da Crest II e encontrou Atlan.
— Vejo que estava com saudades da nave, arcônida.
Atlan retribuiu o sorriso.
— É a força do hábito, bárbaro. Um astronauta só se sente bem nos recintos de uma
espaçonave. Vejo que com você acontece a mesma coisa.
Rhodan suspirou.
— É isso mesmo. Mas um dia haveremos de criar raízes em algum lugar, arcônida.
— Onde...? — perguntou Atlan em tom irônico. — Na nebulosa de Andrômeda?
Pelo que conheço dos humanos, vocês não pararão quando tiverem chegado lá. Sempre
estão à procura de alguma coisa. Será que vocês sabem o que estão procurando, Perry?
— Talvez — respondeu Rhodan em tom de segredo.
— Mas também pode ser que não. Será que isto é tão importante? Não basta que
estejamos procurando?
Fez um gesto de pouco-caso e de repente mudou de assunto.
— Quero fazer uma visita a Grek-1. Sabe onde está Gucky?
Atlan deu uma risada áspera.
— No camarote dele, meu chapa. Nesta nave. Você pensava que não era igual a
nós?
De repente o ar tremeu entre os dois.
Os contornos de um ser peludo começaram a destacar-se. Alcançava os quadris dos
dois e era uma mistura de rato-gigante com castor.
Perry Rhodan franziu a testa.
— Você andou escutando de novo, Gucky?
Gucky escondeu o dente roedor.
— Não costumo fazer isso! — pôs a pata no peito, para reforçar suas palavras. —
Eu tenho culpa se vocês pensaram tão intensivamente em mim que não pude deixar de
notar?
— Deixe para lá! — disse Rhodan em tom áspero. — Como vai o maahk? O que
está pensando?
Gucky suspirou.
— Os humanos são cheios de contradições. Há pouco vocês ficaram zangados
porque acharam que andei escutando, e agora esperam que tenha escutado os
pensamentos de outra pessoa.
— Especialista Gucky...! — disse Rhodan em tom de ameaça.
— Não precisa ficar zangado — disse Gucky, indignado. — Sei como são as coisas.
O maahk carrega um segredo que poderá tornar-se muito importante para nós.
Infelizmente tenho que decepcioná-los. Grek-1 só revela aquilo que quer revelar. O resto
fica escondido atrás de um bloqueio mental. Vocês já sabem o que descobri por meio da
telepatia.
— Quais são seus sentimentos em relação a nós? — perguntou Atlan.
— Sentimentos? — perguntou o rato-castor em voz alta e estridente. — Quem vive
afirmando que um maahk não possui sentimentos?
— Eu — respondeu Atlan. — Mas não me fecho aos acontecimentos novos. Já
sabemos que até mesmo um maahk possui sua vida emocional.
Gucky exibiu o dente roedor solitário.
— Isso mesmo, Atlan. Grek-1 sente, embora seus sentimentos não sejam
propriamente humanos. Percebi claramente que não sente ódio pelos humanos.
Gucky empertigou-se.
— Até chega a sentir certo respeito — pigarreou. — Inclusive por você, Perry. E, o
que é mais, não sente ódio por Atlan, embora saiba que o mesmo é um arcônida. Depois
da última conversa que tiveram ele até sente uma espécie de gratidão por você, Atlan.
Acha que você é um solitário entre os seus. E acredita que ele mesmo também é.
— É estranho — disse Atlan. — Sempre acreditei que tivesse que odiar qualquer
maahk que aparecesse à minha frente. Acontece que não odeio Grek-1. Talvez seja
porque se comportou que nem... que nem um terrano.
Rhodan sorriu. A conversa parecia diverti-lo.
— Isso é um elogio para minha raça ou para os maahks, arcônida? — não esperou
que Atlan falasse. Prosseguiu imediatamente. — Não nos esqueçamos de que os maahks
se preparam para invadir novamente nossa Galáxia. Não devemos confiar em Grek-1,
apesar de todo respeito que um sente pelo outro. Está escondendo alguma coisa de nós.
Quero descobrir o que é.
— Irei com você — disse Atlan.
— E você? — perguntou Rhodan, dirigindo-se a Gucky.
— Por que pergunta? Vou saltar na frente para pegar Mercant.
Rhodan olhou com uma expressão de perplexidade para o lugar em que pouco antes
estivera o rato-castor. Sorriu.
— Já andou espionando de novo meus pensamentos. Vamos, Atlan!
***
Grek-1 não se espantou nem um pouco quando o sinal de chamada do tradutor-
videofone se fez ouvir.
Fez um movimento rapidíssimo com os braços tentaculares e ligou o aparelho.
Mas apesar de tudo seus quatro olhos emitiram um brilho de surpresa.
Esperara o terrano Rhodan, ou Mercant, ou então Atlan — mas não os três ao
mesmo tempo. Além disso veio aquele ser peludo, o aliado dos terranos que era telepata,
telecineta e teleportador ao mesmo tempo.
Viu Perry Rhodan levantar a mão num cumprimento mudo. Grek-1 retribuiu o
cumprimento. Logo se recuperou da surpresa. Sabia por que Rhodan não tinha vindo só.
“Que pena”, pensou. “Estão chegando antes do tempo. Mais uma vez terei que
decepcioná-los.”
O terrano alto e esbelto deu início à conversa. Não falava o kraahmak, mas Grek-1 o
compreendia perfeitamente. A tradutora simultânea funcionava muito bem, traduzindo o
intercosmo para o kraahmak e vice-versa, com todas as sofisticações das duas línguas
completamente diferentes.
— Como vai o senhor, Grek-1?
Grek-1 não demonstrou nenhuma emoção, ao menos nenhuma que os terranos
fossem capazes de interpretar.
— Diante das circunstâncias estou bem, Rhodan. Não posso queixar-me do
tratamento que me está sendo dispensado.
O arcônida interveio na conversa.
— Já pensou como estaria se estivesse com seu povo?
Grek-1 fitou prolongadamente o arcônida.
— Os senhores da galáxia me mandariam executar imediatamente — respondeu em
tom frio. — Por que fez esta pergunta? Sei a quantas ando.
— Não devemos iludir-nos! — disse Rhodan em tom áspero. — Sabemos que o
senhor não é propriamente um inimigo da Humanidade, Grek-1, mas esconde um
segredo. Um segredo muito importante para a Humanidade.
Grek-1 compreendeu imediatamente o que Rhodan quis dizer. Imaginava a origem
das teorias do terrano.
— Os terranos possuem excelentes sistemas de computação positrônica. Por que
não os usam para desvendar meus segredos?
— Preferimos que eles nos sejam revelados espontaneamente — respondeu Rhodan
com muita diplomacia. — Aliás, nossas teorias não foram preparadas por um sistema de
computação positrônica, mas por uma série de computadores impotrônicos.
Grek-1 espreguiçou o corpo robusto. Os olhos que apareciam na cabeça em forma
de foice emitiram um brilho vermelho de tão nervoso que estava.
— Computadores impotrônicos...?
O terrano alto emitiu uma seqüência de ruídos que não foram traduzidos pelo
aparelho. Grek-1 sabia que se tratava de uma manifestação de alegria. Mas os mesmos
ruídos também podiam exprimir raiva ou desapontamento. Grek-1 sentia-se confuso. Sua
raça não conhecia aquilo que os terranos chamavam de riso. Tratava-se de uma
manifestação emocional completamente alheia à sua mentalidade. Era ilógica e por isso
tomava-se incompreensível para qualquer maahk.
— Como vê, também temos nossos segredos — disse Rhodan.
Mais uma vez Grek-1 ficou espantado. Estava aí mais um fator que tomava difícil a
comunicação entre os maahks e os terranos. Os terranos muitas vezes usavam palavras
completamente diversas para designar o mesmo fenômeno. Grek-1 teve de refletir um
pouco para compreender que quando usara a palavra ver o terrano quisera dizer ouvir.
O ser peludo que aparecia na tela pôs à mostra um dente roedor amarelado.
— A linguagem confusa de você lhe dá os mesmos problemas que já enfrentei,
Perry.
Rhodan fez um gesto de pouco-caso. Parecia nervoso. Fitou o maahk tão
intensamente que até se poderia ser levado a acreditar que queria hipnotizá-lo.
— Exijo uma resposta sincera, Grek-1. Está disposto a revelar seu segredo ou não
está?
— Por enquanto não — respondeu Grek-1 em tom resoluto. — Vocês saberão, mas
somente quando chegar o tempo.
— Não confio nele, senhor — cochichou o ser humano que apresentava um círculo
ralo de cabelos grisalhos e usava o nome de Mercant. — É um maahk.
Grek-1 voltou a agitar seus braços tentaculares à frente da objetiva.
— Ouvi o que o senhor disse, Mercant! Acontece que o senhor está enganado.
Durante a guerra que travamos todos os estratagemas eram permitidos. Acontece que não
estamos mais em guerra. Não tenho motivo para mentir para vocês.
Mercant fez uma careta com a qual quis exprimir sua satisfação. Era ao menos o
que acreditava Grek-1, que pensava ter interpretado corretamente esta manifestação
emocional.
— Só quis esclarecer isso — disse Mercant. — Muito obrigado, Grek-1. É bom
saber isso.
Grek-1 compreendeu que o homem de cabelos grisalhos conseguira enganá-lo. Mas
também sabia que não o tinha feito por mal. Teve de reconhecer que além de Rhodan e
Atlan, Mercant podia pelo menos equiparar-se a ele.
Rhodan abriu a boca para dizer uma coisa quando Grek-1 ouviu um zumbido leve.
Rhodan encostou o rádio de pulso ao ouvido. Seu rosto assumiu uma expressão cada vez
mais sombria, enquanto ficava escutando.
Dali a pouco encostou o aparelho à boca.
— Irei imediatamente — disse. Voltou a dirigir-se a Grek-1: — Mais tarde
voltaremos a falar.
Fez um sinal, virou-se e saiu, mas não apressadamente. Os outros seguiram-no.
Grek-1 seguiu-os com os olhos até que a tela se apagou. Estava pensativo.
Depois olhou para o relógio cósmico, que os terranos não lhe haviam tirado.
“Ainda não podem ser eles”, pensou. “Se não forem, só podem ser os outros. Estava
mesmo na hora!”
Grek-1 encolheu-se na cama. Queria dormir enquanto houvesse tempo. Se não se
enganara, Rhodan voltaria logo — e Grek-1 ficaria sem dormir por muito tempo.
***
Perry Rhodan informou os companheiros, enquanto se dirigiam ao intertransmissor
mais próximo.
— Kahalo transmitiu um sinal de alarme. A mensagem foi transmitida através da
nova ponte de estações retransmissoras. O rádio-operador do centro de comando da Lua
não pôde dar informações m ais detalhadas. Acho que um dos sprinters virá
pessoalmente.
Chegaram ao intertransmissor mais próximo. O sistema automático de vigilância fez
a identificação de Perry Rhodan. A porta abriu-se. O transmissor foi ativado no mesmo
instante.
Rhodan digitou o código do centro de comando lunar. A luz verde do mecanismo de
controle acendeu-se.
Os homens passaram muito depressa embaixo da grade que subiu repentinamente.
Rhodan virou a cabeça para Gucky e ainda viu o rato-castor dissolver-se em meio a uma
luminosidade característica. Colocou os pés nos suportes apropriados e segurou-se nas
alças.
A grade voltou a descer atrás deles.
Ouviu-se um zumbido, que cresceu rapidamente.
Rhodan sabia que o sistema de tateamento automático atingia todos os átomos de
seu corpo ao mesmo tempo. De repente sentiu-se ofuscado por um lampejo verde.
Quase no mesmo instante o zumbido, que já se transformara num rugido,
transformou-se num sussurro quase imperceptível.
— Chegamos! — disse Rhodan em tom indiferente. Uma passagem pelo
transmissor já não o abalava nem um pouco, embora o fenômeno continuasse
incompreensível para o espírito humano. Tanto os corpos vivos como a matéria
inorgânica eram apalpados numa fração de segundo, transformados em impulsos
hiperdimensionais, irradiados e reconstituídos praticamente no mesmo instante em sua
estrutura anterior no interior da estação receptora. A teoria mais em voga afirmava que
um transmissor não passa de um duplicador, que usa a energia desprendida pelo
transmissor para fabricar uma duplicata exatamente igual no receptor. Perry Rhodan sabia
que o grau de probabilidade dessa teoria era mais elevado que o de qualquer outra. Mas
como depois de cada passagem pelo transmissor sempre continuara o mesmo, não tomava
conhecimento das conseqüências filosóficas e fisiológicas da mesma. Os transmissores
eram um meio de transporte tão importante que se tinham tornado indispensáveis.
Uma porta abriu-se sem produzir o menor ruído. Rhodan, Atlan e Mercant
atravessaram a mesma e imediatamente se viram numa sala gigantesca. Tratava-se do
centro de comando da Lua terrana.
Gucky já estava lá. Estava parado ao lado do aparelho principal de hiper-rádio,
falando com a voz alta e estridente a uma figura grotesca.
Rhodan viu imediatamente que a pessoa que se encontrava lá era Tronar Woolver
ou seu irmão Rakal.
A figura virou-se e Rhodan viu o grande T no uniforme que a mesma trajava.
Esse T era a única maneira de distinguir Tronar Woolver de seu irmão. Tal qual
Rakal, tinha pernas compridas e era muito estreito dos pés aos quadris. Dali para cima
abria-se um gigantesco tórax em forma de tonel. A cabeça tinha o formato encontrado
nos seres nascidos no planeta Terra, com exceção da pele verde-oliva e do brilho violeta
dos cabelos.
Os dois irmãos eram naturais de um mundo colonial chamado Imart. A
circunferência do tórax resultava de um processo de adaptação pelo qual tinham passado
os habitantes de Imart. O teor de oxigênio da atmosfera desse planeta correspondia a
apenas metade do da atmosfera terrestre.
Os gêmeos possuíam uma faculdade que não podia ser considerada normal, e que
tivera sua origem num processo de mutação. Os dois eram despolizadores parapsíquicos.
Foi graças à sua faculdade extraordinária que receberam o nome de sprinters. Possuíam o
dom de usar toda e qualquer forma de energia como meio de transporte. Era bem verdade
que nem eles mesmos, nem as equipes de cientistas que os tinham testado, eram capazes
de explicar os detalhes do fenômeno.
Tronar Woolver deu alguns passos em direção a Perry Rhodan e parou a uma
distância apropriada. Fez continência.
“Não se vê mais nenhum sinal do sofrimento que experimentou com a migração de
sua alma”, pensou Rhodan.
— Senhor! — disse Tronar Woolver em tom solene. — Trago uma notícia
importante de Kahalo.
Perry Rhodan sorriu, deu três passos em direção a Woolver e deu a mão ao mutante.
— Se veio pessoalmente, deve haver uma coisa muito importante. O que é?
— Os aconenses conhecem a posição do transmissor solar, senhor. O Capitão
Edwards nos deu esta informação. Segundo esta informação, a chegada das primeiras
naves de guerra aconenses é iminente. Além disso o Capitão Edwards anunciou um
ultimato aconense.
Rhodan empalideceu. Ficou calado por alguns segundos, enquanto seu rosto
trabalhava.
— Já esperava isso! — gritou, nervoso.
— O que pretende fazer? — perguntou Atlan.
— Depende do texto do ultimato — respondeu Perry Rhodan. — Imagino que os
aconenses exigirão livre acesso ao transmissor solar e ao sistema de Gêmeos.
— Se recusarmos e impedirmos o acesso à força, teremos a guerra galáctica entre
nós e o Sistema Azul, senhor — observou Mercant.
— Não temos razão para temer um conflito com Ácon! — afirmou Atlan.
— Acha que devemos assumir o risco de um conflito armado? — perguntou
Rhodan, esticando as palavras.
Atlan não respondeu.
— Vejo que suas idéias não são muito diferentes das minhas — disse Rhodan. —
Existe uma responsabilidade para com todas as formas de vida inteligentes, e quem detém
o poder não pode esquivar-se à mesma. Se quisermos dar uma lição aos aconenses, as
populações de inúmeros planetas sofrerão com isso. Serão os humanos, arcônidas e
aconenses que tiverem o azar de estar num planeta que por acaso se transforme no centro
das operações bélicas. Nem quero falar nas tripulações de milhares de naves de guerra ou
mercantes que encontrarão a morte. Seu número nem sequer chegaria a cinco por cento
do número total das vítimas.
Uma veia da testa de Atlan inchou de raiva.
— Quer dizer que você acha que devemos capitular, Perry?
— Capitular...? — Rhodan deu uma risadinha. — Ninguém falou nisso. Existem
outras possibilidades...
3
Hat-Mooh ouviu com o rosto impassível o relato de Nir-Lah. Atrás de sua testa alta
o cérebro estava trabalhando. Reprimiu o sentimento de triunfo que ameaçava tomar
conta dele. Apesar de todas as falhas de seu caráter, Hat-Mooh não era nenhum idiota.
Era um homem capaz de desenvolver um raciocínio lógico e frio.
Havia algo de errado.
Em seu discurso dirigido aos povos da Galáxia, o Administrador-Geral terrano
fizera questão de ressaltar que os planetas do sistema de Gêmeos pertenciam à área de
soberania terrana.
Hat-Mooh sabia que esse terrano costumava cumprir sua palavra. Cumprira a
primeira parte de sua promessa, liberando a passagem pelo transmissor solar. Não era de
supor que agisse de forma diferente em relação à segunda parte.
No entanto, os resultados alcançados pelos centros de rastreamento de mais de dez
mil espaçonaves, que trabalhavam intensamente, eram todos negativos. A julgar pelos
resultados das operações de rastreamento, não havia uma única espaçonave terrana no
sistema de Gêmeos.
E se não dispusessem de uma frota poderosa, os terranos não estariam em condições
de defender qualquer planeta.
Será que eles possuíam armas desconhecidas...?
Hat-Mooh esboçou um sorriso cínico.
Era justamente por causa da suspeita da existência de armas novas e de outros
segredos técnicos que se tornava necessário revistar todos os planetas do sistema de
Gêmeos!
Hat-Mooh voltou a ficar tranqüilo e esperou pacientemente que as oitenta mil naves
saíssem do transmissor. Depois mandou que as mesmas se dividissem em vários grupos.
Dez mil naves ficariam nas proximidades do núcleo energético e atirariam contra
qualquer nave terrana que saísse do transmissor. Duas mil naves se dirigiriam a cada um
dos planetas para fazer uma operação de reconhecimento, enquanto o grosso da frota lhes
daria cobertura, permanecendo nas imediações do quinto planeta.
As unidades da frota de Ácon assumiram suas posições.
***
Quando as naves da frota abandonaram a formação de batalha, Baldru-Ram virou a
cabeça para Nir-Lah. O comandante parecia decepcionado.
— Não recebemos ordens, Nir-Lah... — disse meio zangado.
Nir-Lah abriu os dedos. Dava-se por feliz porque Hat-Mooh tinha “esquecido” a
Umanhat. Não tinha a intenção de envolver-se numa batalha com sua gente. E as ordens
de Hat-Mooh sem dúvida visavam à luta.
— Os pensamentos de nosso chefe são indecifráveis — disse com uma leve ironia.
— Acontece que fomos colocados num desvio, Nir-Lah! — queixou-se o
comandante. — Não acha que devemos entrar em contato com Hat-Mooh para pedir que
nos dê uma tarefa?
Nir-Lah resolveu falar mais claro.
— O senhor acha mesmo que Hat-Mooh nos esqueceu? Pois eu lhe digo uma coisa,
Baldru-Ram. Hat-Mooh quer que sejamos esquecidos. Fomos os primeiros a atravessar o
transmissor. Hat-Mooh veio depois. Sua ambição doentia não se conforma com uma
coisa dessas. Por isso resolveu colocar a Umanhat no desvio. Se alcançamos a glória de
termos sido os primeiros a passar pelo transmissor de Gêmeos, não devemos alcançar
outros êxitos.
— Como pode falar assim de seu chefe, Nir-Lah? — perguntou Baldru-Ram.
O comandante estava com o rosto pálido.
— Se não quiser acreditar em mim, fale com ele, Baldru-Ram!
— Não me compete fazer isso — respondeu o comandante. — Entrar em contato
com o chefe é de sua alçada.
— O senhor sabe por que não entro em contato com ele — respondeu Nir-Lah.
Tomou uma decisão. — Além disso Hat-Mooh não proibiu que fizéssemos alguma coisa.
Poderíamos por exemplo dirigir-nos ao quinto planeta e ver o que está acontecendo por
lá.
O comandante ficou entusiasmado com a sugestão. Só parecia interessado em fazer
qualquer coisa. Pouco importava o que fosse.
Apressou-se em dar as instruções aos tripulantes.
Nir-Lah recostou-se na poltrona anatômica. Estava satisfeito. Tivera seus motivos
para sugerir o quinto planeta. Sabia que esse mundo era conhecido pelo nome de Quinta.
E era em Quinta que se encontrava o centro de comando do transmissor de Gêmeos.
Se Hat-Mooh tivesse uma surpresa, seria lá.
Tinha-se a impressão de que o Comandante Baldru-Ram tinha medo de perder
alguma coisa. Mandou que a Umanhat fosse acelerada ao máximo, para que alcançassem
logo o grupo de naves, que voava mais devagar.
Mas isso não interessava a Nir-Lah.
— Mude a rota, Baldru-Ram — ordenou. — Faça a Umanhat descrever uma curva
em círculo. Vamos aproximar-nos do quinto planeta pelo lado oposto.
O comandante virou a cabeça e lançou um olhar desconfiado para Nir-Lah.
— Desse jeito chegaremos tarde, Nir-Lah.
Nir-Lah mostrou um sorriso apagado.
— Nunca é tarde para morrer, Baldru-Ram...
***
Era um quadro pacífico.
A ampliação setorial da tela frontal mostrava a maior parte do planeta como uma
superfície brilhante que nem um enorme espelho. Só em um dos pólos via-se uma coisa
parecida com um chapéu velho e carcomido. Era o único continente desse mundo
aquático.
Nir-Lah prestou atenção ao farfalhar do intercomunicador, ao borbulhar, aos
murmúrios, aos estalos, ao matraquear e aos zumbidos — enfim, ao conjunto de sons que
compõem a cortina acústica da sala de comando de uma espaçonave.
O agente quase chegou a entregar-se à ilusão de estar a bordo de uma nave do
Império Solar. Quando prestava atenção ao funcionamento preciso das máquinas, aos
movimentos dos oficiais esbeltos e quando ouvia as ordens rápidas e exatas, as perguntas
e respostas, corria perigo de esquecer um fato muito importante: encontrava-se a bordo de
uma nave de guerra do inimigo.
Mas logo voltou à realidade quando viu nas telas dos rastreadores um grupo
compacto de espaçonaves verdes, comandadas por Hat-Mooh, que se dirigiam ao coração
do transmissor de Gêmeos sem que soubessem.
Fez uma ligação de intercomunicador com Baldru-Ram.
— O senhor consegue captar os impulsos de hiper-rádio, comandante?
A resposta de Baldru-Ram foi negativa.
— É por isso que eles formam um grupo tão compacto — concluiu Nir-Lah. —
Preferem conversar pelo rádio normal, para evitar qualquer risco. Mas a uma distância
pequena não deve ser difícil escutar as mensagens. Ligue as antenas para meu receptor,
Baldru-Ram.
O comandante ficou com o rosto apavorado.
— O senhor quer escutar as mensagens de nossa frota...?
Nir-Lah reprimiu no último instante um palavrão terrano.
— Pelos deuses de todas as estrelas, é isso mesmo! — gritou. — Afinal,
pertencemos a esta frota. Se quisermos trabalhar por Ácon, devemos saber o que está
acontecendo na mesma.
— Queira desculpar, Nir-Lah — respondeu Baldru-Ram. — É claro que o senhor
tem razão. Mandarei transferir imediatamente a ligação das antenas.
Nir-Lah sentiu as batidas do coração.
Baldru-Ram certamente era um comandante muito competente. Mas a noção
exagerada do dever que era uma de suas características poderia tornar-se perigosa.
O receptor captou as primeiras mensagens. Nir-Lah regulou o volume e isolou as
transmissões da nave-capitânia.
Um sorriso de desprezo apareceu em seu rosto quando ouviu a voz de Hat-Mooh.
Parecia que este oficial do serviço secreto, desumano e frio que nem gelo, não se sentia
muito à vontade. A essência de suas ordens era a prudência. Devia saber muito bem que
os terranos não se deixavam enganar.
Mas aos poucos Nir-Lah começou a preocupar-se.
As duas mil naves de guerra aconenses encontravam-se a apenas oitocentos mil
quilômetros de Quinta. Se tomarmos por base a distância entre a Lua e a Terra, oitocentos
mil quilômetros são uma distância muito grande. Mas a zona de segurança dos mundos
em que existiam bases terranas, que era conhecida de todos os povos galácticos,
começava a dez milhões de quilômetros.
Por que as baterias de defesa não abriam fogo logo contra os agressores?
A resposta a esta pergunta veio sob a forma de um lampejo que surgiu entre as
naves aconenses.
Uma verdadeira muralha de bolas incandescentes surgiu numa questão de segundos
à frente da frota aconense.
Nir-Lah ouviu Hat-Mooh ordenar aos berros que as naves se desviassem do fogo de
barragem e se espalhassem. Mas viu que estas ordens chegaram tarde.
A ponta da frota aconense penetrou no fogo fulminante, com os retro-propulsores
usados na barragem chamejante. Um sol artificial após o outro foi-se expandindo, muito
mais forte que as bolas incandescentes dos foguetes disparados pelas baterias de defesa.
Tratava-se de naves destruídas.
Nir-Lah estava preparado para isso, mas a idéia de que naqueles poucos minutos
inúmeros soldados espaciais estavam perdendo a vida encheu-o de tristeza. Eram
inimigos, mas também eram filhos de suas mães, noivos das moças que tinham
namorado, pais de famílias.
Quantas lágrimas ainda seriam derramadas, por causa da ambição sem limites de
alguns chefes irresponsáveis...!
***
A ligação com as telas dos rastreadores permitia que Grek-1 acompanhasse os
acontecimentos que se desenrolavam em torno de Quinta.
O maahk assistiu impassível à destruição de algumas dezenas de naves aconenses.
Se sentia alguma coisa, era apenas a satisfação pelo fato de o número dos velhos inimigos
de seu povo se ter reduzido em alguns milhares de pessoas.
Mas isso não bastava!
A estrutura da personalidade de um maahk era bem simples; não apresentava as
complicações da personalidade terrana. Em compensação aquilo que os terranos
costumam designar como liberdade interior estava na dependência de obrigações muito
fortes, que ninguém podia recusar. O indivíduo que deixasse de cumprir essas obrigações
interiores perderia parte de sua liberdade interior. Os maahks costumavam dizer que neste
caso “seu ego foi obscurecido”.
O ego de Grek-1 fora obscurecido.
Estava preso a um velho legado de sua raça, transmitido de geração a geração. Não
podia subtrair-se a este legado. Enquanto o mesmo não fosse cumprido, seu ego ficaria
turvado.
Grek-1 olhou para seu relógio cósmico.
Dali a pouco, muito em breve veria se seu ego voltaria a clarear. Ansiava mais que
nunca por este momento, pois descobrira o ser ao lado do qual talvez pudesse encontrar
uma nova tarefa — a de livrar seu povo dos grilhões que o prendiam.
— Idiotas! — gritou Perry Rhodan. — Será que eles acreditavam que poderiam
atacar o território terrano sem receber o castigo que merecem?
Seus olhos chamejavam de raiva enquanto acompanhavam os acontecimentos junto
à superfície de Quinta. Graças à sua importância decisiva para o transmissor de Gêmeos,
as armas defensivas automáticas estavam concentradas em torno da cúpula do centro de
comando. Estas armas eram capazes de lançar milhares de foguetes nucleares por minuto.
Se apesar disso o atacante tentasse aproximar-se, os canhões energéticos e os
desintegradores superpesados formariam uma área de destruição intransponível. As
posições de canhões conversores tinham sido montadas para o caso em que surgisse a
pior das hipóteses.
— Parece que tiveram uma surpresa — observou Atlan em tom irônico. — Estão se
espalhando em todas as direções. Será que eles pensam que podem quebrar esta noz com
duas mil espaçonaves?
— Não pensam, não — gritou Cart Rudo, que se encontrava do outro lado da sala
de comando. Só mesmo a voz potente do epsalense seria capaz de atravessar a mesma. —
Neste momento um grupo de aproximadamente dez mil unidades está saindo das posições
de reserva para atacar Quinta.
Perry Rhodan cerrou os lábios.
Allan D. Mercant bateu com o punho na mesa.
— Precisamos fazer alguma coisa, senhor. Se as dez mil naves não conseguirem
tomar o planeta, os aconenses usarão mais dez mil, e assim por diante, até que nossas
posições defensivas tenham sido reduzidas a um montão de destroços fumegantes. É
possível que com isto a estação de comando seja danificada.
— Quer dizer que em sua opinião deveríamos dar ordem aos robôs para executarem
a ordem de destruição e depois retirar-nos do Sistema de Gêmeos? — perguntou Perry
Rhodan.
— Isto não parece lógico? — perguntou Mercant.
— Seria lógico — respondeu Rhodan, esticando as palavras — se não fosse Grek-1.
Gostaria de saber o que este maahk espera conseguir com os pedidos que fez. Há alguma
coisa atrás disso...
— Também penso assim, bárbaro — Atlan tentou colocar um pouco de ironia na
voz, mas acabou de falar em tom nervoso. Sua voz acabou saindo rouca. — Só nos resta
esperar. Chame Goratchim, Perry!
Perry Rhodan fitou-o com uma expressão de espanto.
— Goratchim...? O que é que o mutante tem a ver com isso, arcônida?
— Talvez não tenha nada, bárbaro! — a voz de Atlan parecia nervosa. — Mas
tenho a impressão de que daqui a pouco precisaremos muito dele.
Perry Rhodan acabou cedendo.
— Está bem. Seja feita sua vontade. Se não o conhecesse tão bem, talvez achasse
graça. Infelizmente suas impressões muitas vezes deram certo.
Pegou o microfone do intercomunicador e deu ordem para que Goratchim
comparecesse à sala de comando.
O mutante de duas cabeças apareceu dentro de um segundo, seguro pela mão do
rato-castor.
— Está vendo, Perry? — exclamou Gucky em tom de triunfo. — Está vendo como
eu o trato? Basta manifestar um desejo, e eu o cumpro.
Um sorriso triste apareceu no rosto de Rhodan.
— Goratchim, peço-lhe que por enquanto fique aqui. Atlan acredita que daqui a
pouco poderemos precisar do senhor.
— Conte comigo, senhor — respondeu a cabeça que atendia pelo nome de Ivã; o
nome da outra cabeça era Ivanovitch. As duas cabeças não passavam de mutações
exteriores. A mutação mais profunda ocorrera com o cérebro de Goratchim. O mutante de
duas cabeças tinha a capacidade de, com a força de sua mente, provocar a fusão dos
núcleos dos átomos de carbono e cálcio. Bastava concentrar-se com os dois pares de
olhos num alvo definido. Era uma faculdade pavorosa, motivo por que Rhodan só
recorria a este mutante em casos de extrema necessidade.
Rhodan fez uma ligação de intercomunicador com Cart Rudo.
— Faça a Crest subir um pouco mais por cima da borda do sol, coronel. Quero ver
se teremos de interferir. Tenho a impressão de que as interferências provenientes do sol
Alfa aumentaram.
Antes que o Coronel Rudo pudesse dar uma resposta, a voz estrondosa do maahk
saiu da tradutora.
— Permaneça na sombra energética do sol, Rhodan! Eu lhe imploro! Não cometa
nenhuma imprudência.
Rhodan levantou os ombros num gesto de resignação.
— Retiro a ordem, Rudo. Nosso amigo maahk quer assim.
De repente Atlan soltou um grito de alerta estridente, que sobressaltou os outros.
— O transmissor! Olhem! O transmissor!
Todos olharam para a grande tela frontal.
Os dois sóis do sistema de Gêmeos começaram a pulsar fortemente. E entre eles se
formou o já conhecido núcleo energético...
***
As baterias de costado de dez mil espaçonaves aconenses martelavam o único
continente de Quinta.
Tinham sido doze mil, mas nos primeiros trinta minutos o fogo cerrado das baterias
defensivas planetárias havia transformado duas mil em esferas gasosas em expansão. Isto
levou os aconenses a adotar outra tática.
Retiraram-se a quatro milhões de quilômetros e dispararam algumas salvas de
foguetes de longo alcance. Só um por cento dos cem mil foguetes disparados atingiu o
continente de Quinta, mas foi o suficiente para destruir a terça parte das posições
defensivas.
Depois disso os aconenses voltaram ao ataque, disparando ininterruptamente.
Tinha-se a impressão de que dentro de duas horas as defesas planetárias seriam
postas fora de ação.
Nir-Lah ergueu os punhos.
Por que Perry Rhodan mandara retirar a frota de patrulhamento? Devia saber que
nenhuma defesa estacionada num planeta pode resistir por muito tempo a um ataque
maciço vindo do espaço!
De tão nervoso que estava, ficou sem olhar para os sóis do sistema de Gêmeos.
Foi só quando recebeu algumas mensagens não codificadas, dirigidas a Hat-Mooh,
que se deu conta de que o foco do conflito não se encontrava em Quinta.
As mensagens de hipercomunicação que captou eram pedidos de socorro. Por
algum motivo que não conhecia chegaram mutiladas.
Nir-Lah só ficou sabendo que as dez mil naves aconenses que operavam nas
proximidades do transmissor estavam sendo atacadas por um inimigo desconhecido.
Nir-Lah começou a imaginar quem seria esse inimigo.
Não podia ser a frota do Império, pois nesse caso as mensagens não teriam aludido
a um inimigo desconhecido.
E só se poderia pensar numa raça, além dos aconenses e dos terranos: os maahks!
Nir-Lah nem se deu conta da inutilidade do que estava fazendo quando saiu à
procura da tela que reproduzia o setor que ficava para os lados do transmissor.
Teve a impressão de que estava sofrendo uma alucinação.
O núcleo energético situado entre os dois sóis formou um ponto luminoso
ofuscante, que se destacou contra a escuridão do espaço vazio. Em torno deste núcleo
surgiram em rápida sucessão outros pontinhos ofuscantes, que se expandiam e voltavam a
apagar-se. O fogo de artifício executava uma dança ininterrupta sobre o palco negro.
Nir-Lah levou alguns segundos para compreender o que significava isso. A
explosão de uma bomba de gigatons não seria visível a olho nu numa distância como
esta. A explosão de uma bomba de mil gigatons talvez produzisse uma débil mancha
luminosa.
Que arma era esta, que por cima do abismo negro ofuscava a vista a tal ponto que os
olhos doíam?
Quando Nir-Lah compreendeu toda a extensão do fenômeno, levantou-se de um
salto.
Só existia uma única arma que produzia um efeito destes. Era o canhão
transformador dos maahks!
O canhão transformador, lembrou-se Nir-Lah, recordando as informações que
recebera, funcionava quase da mesma forma que o transmissor fictício. Mas seus efeitos
eram bem diferentes. Produzia dentro da área escolhida como alvo um campo de
instabilidade concentrada que atuava na quinta dimensão. Qualquer espaçonave que se
encontrasse nesta área ficaria sujeita a leis físicas completamente diferentes das leis
naturais de caráter universal que conhecemos. Enquanto o campo de instabilidade
permanecesse, nada aconteceria à espaçonave. Mas quando o canhão era desligado, o
campo desaparecia. A matéria envolvida pelo mesmo desmaterializava, perdendo sua
existência normal. Era a destruição total.
O receptor de hipercomunicação transmitiu a voz ampliada de Hat-Mooh. Pedia a
todas as unidades da frota aconense que se reunissem a meio caminho entre o quinto
planeta e o núcleo energético, a fim de esperar o inimigo recém-aparecido.
Baldru-Ram virou a cabeça. Estava com o rosto muito pálido e fitou Nir-Lah com
uma expressão indagadora.
— Solicito suas ordens, Nir-Lah. Vamos seguir em direção ao ponto de reunião?
Nir-Lah acenou com a cabeça. Nem se deu conta que acabara de fazer um gesto
tipicamente terrano, e que se teria traído, se naquele momento houvesse alguém em
condições de cuidar desses detalhes.
— Vamos — respondeu em tom áspero. — Não para lutar, mas para procurar
sobreviventes.
— Não compreendo — disse Baldru-Ram. — Está se referindo a sobreviventes da
frota inimiga?
Nir-Lah deu uma risada estridente e forçada.
— Apresse-se, comandante. E trate de rezar para que ainda encontremos alguns
sobreviventes aconenses.
***
A sala de comando da Crest II encheu-se de uma silenciosa luminosidade trêmula e
ofuscante. Até mesmo a luz do sol a empalideceu diante dessa cruel claridade.
Perry Rhodan estava de pé atrás da poltrona de Cart Rudo. Sentia-se nervoso. Um
pavor frio apertou seu coração. Parecia hipnotizado pelo cilindro giratório do contador.
Finalmente o mesmo parou.
— Trinta mil...! — cochichou. — Trinta mil naves de grande tamanho dos maahks.
E cada uma carrega a morte multiplicada por cem.
— Isto é um golpe de mestre da estratégia dos maahks, bárbaro — disse Atlan com
a voz quase incompreensível.
— É um golpe de mestre da crueldade! — respondeu Rhodan, indignado. — Os
aconenses não têm nenhuma chance contra o canhão transformador. Suas armas
investirão em vão contra os campos defensivos verdes das naves cilíndricas. Já podem ser
considerados mortos.
— O pensamento de um maahk do tipo de Grek-1 move-se em dimensões diferentes
do seu — disse Atlan com a voz um pouco mais firme. — Não sabe o que é compaixão.
E os aconenses, que afinal são humanóides, também não saberiam, se gozassem de
superioridade sobre nós.
Perry Rhodan virou-se abruptamente, ficando de costas para a tela.
— Até é possível que você tenha razão, arcônida. Mas eu gostaria que a frota do
Império estivesse aqui.
Atlan esboçou um sorriso irônico.
— Pelo que conheço de você, você acabaria livrando os aconenses da situação em
que se encontram, seu bárbaro ingênuo...! Será que ainda não compreendeu que aquilo
que pode parecer o cúmulo da brutalidade maahk poupará à nossa Galáxia uma guerra
cruel entre você e Ácon? O tributo de sangue que os aconenses terão de pagar aqui e
agora será apenas uma gota em comparação com o oceano de sangue que seria derramado
numa guerra Galáctica. Será que você nunca vai aprender a pensar em termos cósmicos?
Perry Rhodan olhou prolongadamente para Atlan. A expressão de seu rosto mudou
de um instante para outro.
— Está bem — disse depois de algum tempo. — Você tem razão, arcônida. Mas
nem por isso deixarei de fazer tudo que estiver ao meu alcance para salvar pelo menos os
sobreviventes da carnificina.
Virou o rosto para o comandante da Crest II.
— Coronel Rudo! Siga em direção ao campo de batalha. Mande guarnecer todos os
projetores de raio de tração e prepare os barcos salva-vidas.
O sinal da tradutora se fez ouvir. Perry Rhodan levantou a cabeça. Deu alguns
passos rápidos em direção à mapoteca e ligou o aparelho na recepção. Seu rosto
transformou-se numa máscara.
— O senhor conseguiu o que queria, maahk!
— Muito obrigado, terrano! — respondeu a voz mecânica da tradutora. — Meu
plano está sendo executado. Cumpri meu dever. Daqui a pouco meu ego estará clareado
de novo. Por meu intermédio está sendo cumprido o legado de vingança que me foi
imposto pelo passado. Quando a luta terminar, o senhor poderá contar comigo.
Alguma coisa no interior de Perry Rhodan obrigou-o a desligar a tradutora. Seus
dedos rasgaram a gola do uniforme. Respirava ruidosamente.
— Então é isto — cochichou. — Ele sabia que um ataque em grande escala ao
sistema de Gêmeos era iminente. Por isso fez com que nossa frota de patrulhamento fosse
mandada para casa. E por isso nos levou a agir de tal forma que os aconenses foram
atraídos para a armadilha mortal.
Perry Rhodan levantou os olhos. Havia um brilho resoluto nos mesmos.
— Acontece que o sistema de Gêmeos também se transformará numa armadilha
mortal para trinta mil naves maahks, arcônida!
Atlan sorriu.
— Não tenha a menor dúvida de que Grek-1 também tomou em consideração esta
conseqüência de seu plano, terrano.
***
Baldru-Ram ficou como que paralisado por alguns segundos. De repente levantou-
se de um salto e pegou sua arma energética.
— Já estou compreendendo muita coisa, Nir-Lah, ou seja lá qual for seu nome.
Desde o início me espantei com suas ordens e opiniões. O senhor é um agente terrano,
Nir-Lah!
Richard Edwards exibiu um sorriso frio enquanto olhava para a boca cintilante do
cano da arma.
— O que foi que eu fiz para revelar quem sou, comandante?
Baldru-Ram deu uma risada de deboche.
— O senhor cometeu dois erros quando disse: “Vamos rezar para que ainda
encontremos alguns sobreviventes aconenses”. Primeiro, o senhor usou o verbo rezar, e
depois disse aconenses em vez de nossa gente. Só então me lembrei do gesto que o
senhor fez com a cabeça ao responder quando lhe perguntei se havia alguma ordem. Os
terranos costumam acenar com a cabeça quando confirmam alguma coisa.
— O senhor prestou muita atenção, Baldru-Ram — respondeu Edwards. —
Acontece que só conseguiu prestar atenção aos detalhes porque ainda não se deu conta do
perigo que nos ameaça.
“Sou um agente secreto do Império Solar. Neste ponto o senhor tem razão. Meu
verdadeiro nome é Capitão Edwards. Desta forma está feita a apresentação.
“Mas é inútil ameaçar-me com uma arma, Baldru-Ram. O único perigo, que ameaça
todos nós, está lá fora — apontou para a tela de imagem, que continuava a mostrar os
lampejos ofuscantes.
“O senhor não conhece as armas dos maahks. Pouco importa que a frota aconense
seja atacada por mil, dez mil ou um número ainda maior de naves maahks, sua destruição
é um fato consumado. Vocês não têm nada com que possam oferecer uma resistência
séria aos maahks. Dentro de algumas horas estará tudo no fim, a não ser que façamos
alguma coisa. Infelizmente a única coisa que podemos fazer é recolher alguns
sobreviventes.
“Comandante Baldru-Ram, o senhor sabe que um terrano sempre cumpre sua
palavra. Ofereço-lhe meu apoio sincero. Se sobrevivermos à batalha, o senhor poderá
colocar-me perante uma corte de justiça.”
O rosto do comandante aconense mostrou um traço de respeito e consideração. A
mão que segurava a arma foi baixando lentamente. Finalmente o aconense voltou a
guardar a arma no coldre.
— Tenho muito respeito pela palavra de um terrano, Capitão Edwards. Peço-lhe que
se comporte como se fosse nosso aliado. É possível que o tribunal considere isso.
Naturalmente serei obrigado a avisar Hat-Mooh. Enquanto isso a Umanhat percorrerá no
espaço linear a distância que nos separa do campo de batalha. Os maahks são inimigos
tanto dos terranos como dos aconenses. Talvez suas armas sejam melhores que as nossas,
mas não estão em condições de enfrentar oitenta mil espaçonaves.
O Capitão Edwards preferiu ficar quieto.
Sabia que Baldru-Ram não demoraria nem um pouco para mudar de opinião...
***
A Crest II avançou à velocidade máxima para a frente das naves aconenses, que
estava em dissolução.
Os canhões energéticos aconenses despejaram um verdadeiro furacão de fogo
contra as naves cilíndricas negras dos maahks. Mas as unidades maahks que deslizavam
que nem fantasmas nem sequer tentavam desviar-se do fogo aconense. Seus campos
defensivos verdes resistiam facilmente ao mesmo.
Os canhões transformadores dos maahks varriam sem cessar as naves aconenses
para fora do Universo. O espaço cósmico parecia consistir exclusivamente num oceano
de lampejos ofuscantes.
Perry Rhodan dera ordens de “caça livre”. A guarnição de cada canhão tinha
permissão para abrir fogo contra qualquer nave maahk que estivesse ao seu alcance. Nem
mesmo os campos defensivos verdes eram capazes de resistir às bombas de gigatons
irradiadas pelos canhões conversores. A Crest II foi deixando para trás um rastro de fogo,
formado pelas naves cilíndricas que eram consumidas pelas chamas.
Mas em comparação com as trinta mil naves maahks isso representava menos que
uma gota no oceano.
O moral dos aconenses estava deteriorado.
Um número cada vez maior de naves esféricas com os pólos achatados desprendia-
se da frente de combate, acelerava e iniciava o vôo linear, precipitando-se pelo espaço.
Perry Rhodan sabia que isso só representava um adiamento; o fim dessas naves era
inevitável. O raio de ação das mesmas era pequeno demais para que pudessem percorrer
os novecentos mil anos-luz que as separavam da Galáxia. As reservas de energia, desde
que fossem racionalmente usadas, talvez seriam suficientes para regenerar o ar respirável,
a água e os alimentos orgânicos dos dejetos humanos, garantindo a sobrevivência física
da tripulação. Mas o vazio sem fim e a situação desesperadora levariam os homens à
loucura.
Os homens que trabalhavam nos projetores de raios de tração da Crest II faziam um
esforço tremendo para recolher os sobreviventes aconenses. Mas quando os canhões
transformadores entram em ação não há sobreviventes. Só nos casos em que alguma nave
se precipitava para dentro de seu próprio fogo ou colidia com outra nave ainda restava
vida entre os destroços que se espalhavam no espaço.
***
Quando a Umanhat saiu do espaço linear, entrou numa nuvem de naves que
estavam fugindo.
Richard Edwards sentiu-se ofuscado e fechou os olhos. Quando voltou a abri-los, os
anteparos óticos já se haviam fechado automaticamente. Os lampejos eram suportáveis.
Mas Edwards compreendeu desde o primeiro instante que a salvação se tornara
impossível.
O Comandante Baldru-Ram também parecia ter percebido, pois fazia um esforço
desesperado para fugir do palco do terror.
Por uma fração de segundo os dois fitaram-se nos olhos muito arregalados, o
comandante aconense e o agente secreto terrano.
Foi a última vez que se viram um ao outro.
No mesmo instante uma sombra gigantesca cobriu a tela frontal. O Capitão Edwards
ainda chegou a perceber que se tratava de um cruzador pesado aconense. Depois disso
perdeu o sentido na orgia de barulho produzida pela colisão.
Não chegou a ver a Umanhat arrebentar-se, não viu os fragmentos que se
espalharam no espaço, girando em torno do próprio eixo, e não percebeu quando outras
naves aconenses colidiram com estes fragmentos.
Numa estranha contorção, seu corpo foi vagando no espaço, girando lentamente em
torno do próprio eixo...
Cinco seres feitos de metal plastificado mantinham-se imóveis no abrigo esférico.
Seus sentidos positrônicos já tinham registrado os abalos que haviam chegado a
eles, depois de atravessar a rocha do continente de Quinta.
Sabiam que Quinta estava sendo bombardeado pelo inimigo. Pouco importava quem
fosse esse inimigo. As divergências políticas dos seres orgânicos não lhes interessavam.
A única coisa que tinham de fazer era cumprir as ordens que lhes haviam sido dadas.
Mas por enquanto a ordem decisiva ainda não fora recebida.
Os abalos diminuíram.
Por algum tempo não aconteceu nada. Mas de repente seus receptores captaram uma
série de impulsos, que penetraram em sua consciência positrônica, onde desencadearam
alguns atos previamente determinados.
Relés estalavam, os contadores começaram a tiquetaquear.
Mais dez segundos...
***
Perry Rhodan estava estendido no leito anatômico, enquanto a Crest II se dirigia ao
núcleo do transmissor de Gêmeos.
Em torno dele ouvia-se o chiado das seringas pressurizadas.
Perry Rhodan sabia que dentro de mais alguns segundos o capítulo do transmissor
de Gêmeos chegaria ao fim. A frota maahk deslocava-se em direção a Quinta, a fim de
apoderar-se do centro de comando do transmissor.
Rhodan observava atentamente o ponteiro de seu contador de segundos.
Mais cinco segundos... mais quatro... mais três...
Rhodan deixou a mão suspensa sobre a tecla de um transmissor especial.
É agora...
Mais um segundo para a desmaterialização!
Perry Rhodan colocou a mão sobre a tecla do transmissor, enquanto o robô médico
que se encontrava a seu lado acionava o jato de injeção pressurizada.
Quando Rhodan despertou do congelamento narcótico, o planeta Kahalo brilhava na
tela frontal.
Rhodan ergueu-se.
Ao seu lado Atlan começava a sacudir o atordoamento.
— E isso aí! — disse em tom seco.
Perry Rhodan levantou e dirigiu-se à máquina tradutora.
Grek-1 respondeu imediatamente. Parecia não ter sido afetado pela passagem
através do transmissor, embora não tivesse sido colocado em estado narcótico.
— Já conheço suas perguntas, terrano — seus olhos chamejavam. — O senhor quer
saber por que motivo fiz com que trinta mil espaçonaves de minha raça com cerca de três
milhões de maahks ficassem banidos para sempre no sistema de Gêmeos.
“O senhor saberá.
“Segundo as concepções aceitas por meu povo, eles não eram maahks, embora tanto
seus antepassados como os meus fossem maahks. Não havia mais nada que os ligasse às
leis de meu povo. Nenhum dos membros pertencentes ao comando de vigilância dos
senhores da galáxia é um maahk, embora de fora possa parecer. Seu espírito pertence aos
senhores da galáxia. Depois que cumpri o legado do passado e levei os aconenses para a
destruição, meu ego voltou a clarear. Sou um homem livre e passei a ser o dono de meu
próprio destino. O último ato que pratiquei sob a compulsão dos senhores da galáxia foi a
destruição de minha nave. Agora já não há mais nada que me ligue aos senhores da
galáxia.
“Daqui em diante o senhor poderá contar comigo, Perry Rhodan.”
***
Antes de acordar, seu espírito ficou flutuando mais algum tempo na linha de
penumbra que ficava entre a inconsciência profunda e o despertar completo.
Quando abriu os olhos, soltou um grito.
Teve a impressão de que veria novamente à sua frente a luz ofuscante da destruição.
Uma voz profunda se fez ouvir.
— Anime-se, rapaz! Anime-se! O senhor sobreviveu. Richard Edwards arregalou os
olhos.
— Coronel Mirabelle...!
— Isto mesmo, meu filho, sou eu — o coronel assoou demoradamente o nariz. —
Procure controlar-se, Edwards! Até parece que pelo simples fato de ter tido razão ao dar o
conselho de liberar o transmissor solar se julga com direito de exigir minha compaixão.
Richard Edwards fitou o coronel com uma expressão de espanto. Não compreendia
por que seu superior assoava constantemente o nariz e piscava os olhos.
— O que houve mesmo? — perguntou em tom enérgico. — Como vim parar aqui?
— É o que eu também gostaria de saber, rapaz. O senhor teve uma sorte danada. Por
acaso foi um dos poucos sobreviventes que a Crest andou pescando entre os destroços
com seus raios de tração. O que estava fazendo por lá?
— O quê?... — perguntou Richard Edwards num tom nada militar. — Eu ocupava o
cargo de comandante de flotilha aconense, senhor — procurou erguer-se na cama, mas
logo caiu para trás, pois sua vista começou a turvar-se.
— Nos seis dias que o senhor esteve deitado nesta cama, muita coisa aconteceu na
Galáxia — disse o coronel em voz baixa. — Os aconenses sofreram um choque de que
provavelmente nunca mais se recuperarão de vez. Deram ordem para que todas as naves
do império arcônida de satélites voltassem das áreas limítrofes do império.
“O Administrador-Geral apresentou aos povos astronautas da Galáxia um extenso
material cinematográfico e lhes forneceu informações detalhadas. Espero que isso tenha
convencido até mesmo os tipos mais obtusos de que a Terra é a única potência Galáctica
que está em condições de enfrentar o perigo vindo de Andrômeda.”
— Nem consigo compreender — disse Richard Edwards. — Todos morreram,
menos eu...
De repente lembrou-se de uma coisa.
— Senhor, meu pai sabe que... que estou vivo?
— É claro que sabe — resmungou o Coronel Mirabelle. — Assim que recebeu
meu... meu hipergrama entrou numa espaçonave. Acho que deve chegar hoje.
Richard Edwards sorriu.
— Muito obrigado, senhor.
— Não há de quê! — o Coronel Mirabelle fez um gesto de pouco-caso. — Quando
eu estava na ativa no corpo de agentes, meu pai não vinha atrás de mim toda vez que
conseguia sobreviver a uma missão. O senhor terá que endurecer mais, Major Edwards.
— Major...? — perguntou Richard Edwards, espantado.
O Coronel Mirabelle pigarreou.
— Ainda não contei? O senhor foi promovido ao posto de major da Segurança
Galáctica. Devo ter tido um instante de fraqueza quando o indiquei para a promoção. Um
homem da sua idade ainda não deveria ter passado do posto de tenente.
Sorriu.
Foi a primeira vez que Richard Edwards o viu sorrir.
— Não me envergonhe, rapaz!
***
**
*
Grek-1, um oficial maahk, passou
inteiramente para o lado de Perry Rhodan.
E é Grek-1 quem sugere ao
Administrador-Geral que use o
transmissor de Kahalo para atingir um
sistema que os senhores da galáxia há
muito deixaram de vigiar. É O Sistema dos
Perdidos!
Leia no próximo volume da série
Perry Rhodan a história do avanço da
Crest, até as imediações da nebulosa de
Andrômeda.