Você está na página 1de 17

Arq Bras Cardiol Marin-Neto

Estado e cols
da Arte
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

Cardiopatia Chagásica
José Antonio Marin-Neto, Marcus Vinícius Simões, Álvaro V. Lima Sarabanda

Ribeirão Preto, SP

A doença de Chagas (DC) já afligia a humanidade há Estudos epidemiológicos transversais no Brasil e na


cerca de 4.000 anos, como evidenciado pela recuperação de Venezuela avaliaram a prevalência das manifestações clíni-
material gênico do T. cruzi em cadáveres sul-americanos cas e a mortalidade associadas à cardiopatia chagásica. En-
mumificados 1. Durante expedição à América do Sul, Charles tretanto, em virtude de não terem sido realizados estudos
Darwin pode ter-se tornado chagásico, a julgar por sua vívi- em larga escala, apropriadamente concebidos, não se dis-
da descrição da picada do inseto transmissor e pelos sinto- põe de visão concreta da epidemiologia deste grave proble-
mas apresentados posteriormente 2. Entretanto, somente ma de saúde pública no subcontinente sul-americano. Além
no início do século XX, Carlos Chagas, em um dos feitos disso, a notificação epidemiológica não é inteiramente
mais insólitos da História da Medicina, descobriu não so- confiável, mesmo em regiões altamente endêmicas. Taxas de
mente a entidade mórbida que o imortalizou como epônimo, morbidade e mortalidade relacionadas à cardiopatia
mas também o agente etiológico e seu mecanismo essencial chagásica são muito variáveis até em regiões endêmicas de
de transmissão: excretas eliminados por insetos da família um mesmo país. Isso decorre, provavelmente, de diferenças
Reduviidae (subfamília Triatominae), contaminadas com o importantes em características relativas às cepas parasí-
T. cruzi, permitem sua inoculação no local da picada ticas, e a fatores genéticos, climáticos, socioeconômicos,
hematófaga 3. condições higiênicas e alimentares, e a políticas de saúde
O parasito invade células de hospedeiros mamíferos, pública, atuando variavelmente em diversas regiões 6.
por mecanismos ainda não inteiramente conhecidos. Entre- Embora sua real prevalência seja ignorada, as estimati-
tanto, trabalhos experimentais sugerem que a ativação do vas aproximadas acima indicam que a miocardite chagásica
receptor do fator de crescimento transformante beta seja constitua a forma nitidamente mais comum de cardio-
implicada nesse processo. Assim, não há penetração ou miopatia nos países sul-americanos 7. Devido à atual onda
replicação do parasito em células desprovidas de tais recep- globalizante, correntes migratórias tendem a tornar o pro-
tores. Em contraposição, a capacidade invasora do T. cruzi blema com características de ubiqüidade 7. Para exemplificar
é potenciada por administração desse fator de crescimento esta tendência pode-se citar a recente conscientização so-
em modelos experimentais 4. bre a presença de cardiopatia chagásica nos Estados Uni-
Virtualmente, qualquer sistema orgânico pode ser aco- dos da América (EUA). Com base em prevalência de
metido. Envolvimento visceral digestivo ocorre, em cerca de serologia positiva para DC, da ordem de 4,5% em 205 imi-
6%, e distúrbios neurológicos, em aproximadamente 3% da grantes latino-americanos e em estimativas deste contin-
população chagásica, porém a cardiopatia constitui a mais gente populacional nos EUA, acredita-se existir nesse país
séria complicação, atingindo, em algum momento de sua aproximadamente meio milhão de indivíduos chagásicos 8.
vida, um terço dos indivíduos sorologicamente positivos. Em adição, expressiva migração da zona rural para a urbana,
ocorrida no Brasil durante as últimas três décadas, foram
Aspectos epidemiológicos responsáveis pelo aporte de 500 mil chagásicos para as
grandes cidades 6.
Há condições propícias para transmissão vetorial no
Continente Americano, entre as latitudes 42ºN e 40ºS, em Mecanismos adicionais de transmissão
território abrangendo desde o México até a Argentina. Le-
vantamentos sorológicos, ainda que imperfeitos, permitem Embora, infreqüentemente, a infestação também pode
estimar que 4 a 7% de 200 milhões de latino-americanos em ocorrer por transmissão congênita, por via oral, aleitamen-
21 países sejam chagásicos, e que 65-90 milhões de outros to, contaminação laboratorial acidental e transplante de ór-
estejam expostos ao risco 5. gãos. Infestação por via transfusional tem sido objeto de in-
tenso escrutínio recente, tendo em vista que levantamento
efetuado, entre 1988 e 1990 em 850 municípios brasileiros,
revelou que a triagem serológica para o diagnóstico de in-
Correspondência: José Antonio Marin-Neto - Div de Cardiologia, Depto de Clínica fecção chagásica, somente era executada em cerca de dois
Médica – Hospital das Clínicas - FMRP-USP - Av. Bandeirantes, 3900 - 14048-900
terços dos doadores 6. Revisão de levantamentos seroló-
- Ribeirão Preto, SP
gicos, realizados em vários países durante a década de 1980,

247
Marin-Neto e cols Arq Bras Cardiol
Cardiopatia chagásica volume 72, (nº 3), 1999

demonstrou taxas de positividade serológica para moléstia - rurais e hospitalares, para avaliação dos fatores prognós-
de Chagas variáveis entre 10% e 50% dos doadores em re- ticos que influenciam a história natural da cardiopatia
giões endêmicas 9. chagásica 7. Assim, nos estudos baseados em populações
rurais geralmente não se faz exploração adequada do
Prevenção - A cardiopatia chagásica reveste-se de envolvimento cardíaco 27-37. Em contrapartida os resultados
muito intenso impacto social. Estima-se perda de mais de dos trabalhos com pacientes hospitalares, embora superio-
750 mil anos de vida produtiva anualmente, por morte pre- res na caracterização da cardiopatia, não podem ser livre-
matura nos países latino-americanos, a custo aproximado de mente extrapolados para o conjunto da população chagá-
1200 milhões de dólares americanos/ano de vida 10. Por isso, sica 8,38-41. Adicionalmente, devido ao extremamente
a eliminação da transmissão vetorial (por melhora do pa- protraído curso da cardiopatia chagásica crônica (CCC), des-
drão habitacional e uso de inseticidas de ação residual) e de a fase de miocardite aguda até as formas avançadas de in-
transfusional, em regiões endêmicas e não-endêmicas 11-13, suficiência cardíaca (IC) e/ou arritmia maligna, não há estudos
constitui claramente política de saúde pública dotada de prospectivos englobando todo o espectro evolutivo da do-
elevada razão benefício/custo 7,10. Apesar de formidáveis ença, em populações numericamente adequadas 7,42.
obstáculos econômicos, estas metas já foram atingidas em
áreas geográficas esparsas 14-16. Prognóstico na fase aguda - Muito embora resultados de
O programa denominado Iniciativa do Cone Sul, biópsia cardíaca e de estudos necroscópicos evidenciem a
deslanchado em 1991, a custo de 207 milhões de dólares presença constante de miocardite na fase aguda, os estudos
norte-americanos para os seis países sul-americanos envol- descritivos de séries de pacientes em áreas endêmicas, utili-
vidos, tem produzido resultados muito significativos 5,16,17. zando testes sorológicos específicos, mostram que apenas
No Brasil, redução de 89% no número de municípios com cerca de 10% dos casos apresentam manifestações clínicas
infestação domiciliar, associou-se queda de 6,5% para 1% condizentes com o diagnóstico de moléstia de Chagas 26,27, di-
na taxa de doadores de sangue com serologia positiva para ficultando sobremaneira a percepção dos distúrbios que
moléstia de Chagas, de 1982 a 1993 16,17. Com base nesses aparecem na transição para a fase crônica, em humanos. En-
resultados, projeta-se para o ano 2000 a virtual extinção da tretanto, os aspectos citados são reproduzidos em modelos
transmissão de T. cruzi, no Brasil, Argentina, Chile e Uru- experimentais da doença.
guai 5,18. Contudo, relatos esporádicos de transmissão em Quando o diagnóstico clínico da moléstia foi possível
regiões supostamente sob controle epidemiológico, reco- (em subgrupo pequeno), o envolvimento cardíaco foi
mendam cautela em tais projeções 19. detectável em próximo de 90% de 313 casos sucessivos; 70-
80% apresentavam cardiomegalia radiológica, em contraste
Histórianaturalefatoresprognósticos com apenas 50% de casos com anormalidades eletro-
cardiográficas. A gravidade da miocardite é inversamente
Conceitualmente, costuma-se dividir a história natu- proporcional à idade, sendo a IC duas vezes mais intensa
ral da cardiopatia chagásica nas fases de miocardite aguda em crianças menores de dois anos, comparativamente àque-
e crônica, separadas pela longa (10-30 anos, usualmente) e las com idades de dois a cinco anos 27. A mortalidade da fase
enigmática forma indeterminada 7,20,21. A base científica aguda nesse estudo foi de 8,3%, superior, portanto, às cifras
para esta divisão conceitual deriva de evidências experi- de 3-5% relatadas em estudos similares em áreas endêmicas
mental, patológica e clínica. Mais recentemente, tem avul- do Brasil, Argentina e Uruguai. O eletrocardiograma (ECG)
tado a reagudização, com expressão clínica muito protei- foi normal em 63,3% dos casos não fatais, em apenas 14,3%
forme, em chagásicos portadores da forma crônica, que daqueles falecidos durante a fase aguda. Ocorreram 75%
exibem imunodepressão natural ou iatrogenicamente de- dos óbitos em crianças com menos de três anos. Sem se
senvolvida 22-25. correlacionar com a idade, a IC, acompanhada ou não de
Vários estudos observacionais em regiões endêmicas encefalite, foi complicação constante nos casos fatais 27.
do Brasil, Argentina e Venezuela, iniciados nos idos de 1940, Outro estudo de 172 pacientes com fase aguda conhe-
possibilitaram o desvendamento da história natural da cida por resultados sorológicos e clínicos, seguidos por até
cardiopatia chagásica 7,26-43. Dispõem-se também de muitos 40 anos em Bambuí, Minais Gerais, mostrou que o apareci-
estudos descritivos de séries de casos na fase aguda, adqui- mento de sintomas, e alterações do exame físico ou do ECG
rida por transmissão não-vetorial, mas tem valor limitado para ou radiológicas, ocorria em 33,8%, 39,3% e 58,1%, respecti-
o conhecimento da história natural da cardiopatia 7,22-26. vamente após períodos de 10-20, 21-30 e 31-40 anos 27. Em
Os trabalhos sobre a história natural são predominan- outra resenha de 268 pacientes da mesma região, com fase
temente de cunho transversal, sobre pacientes infectados aguda determinada em média 27 anos antes, a mortalidade
em regiões rurais dos países mencionados. Muito poucos global no período foi de 13,8% 27.
estudos tiveram o caráter de descrição de casos e controles Nos pacientes que sobrevivem observa-se desapare-
não-chagásicos 7. Outro grupo de estudos observacionais cimento dos sintomas e sinais do envolvimento cardíaco,
enfocou a descrição e o seguimento de coortes de pacien- em cerca de 1-3 meses, e normalização do ECG em mais de
tes chagásicos internados 7,38-41. 90% dos casos após um ano. Entretanto, não há qualquer
Há flagrantes limitações de ambos os tipos de estudos evidência de cura espontânea da infecção, como demons-

248
Arq Bras Cardiol Marin-Neto e cols
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

trado em testes seriados de xenodiagnóstico e sorologia, oportuno enfatizar que após 10 anos, quase 80% dos pacien-
em grupos de várias centenas de pacientes chagásicos 7. tes chagásicos permanecem com a forma indeterminada da
doença, e que provavelmente 50% da população global de
Prognóstico na forma indeterminada - Embora a rele- infectados com o T. cruzi jamais apresentarão qualquer mani-
vância clínica desta designação seja atualmente questio- festação clinicamente significante associada a esta etiologia.
nável, o conceito de fase indeterminada da moléstia de Cha- Permanece decepcionantemente elusiva a razão pela qual
gas implica na ausência completa de sintomas e alterações apenas certa proporção da população chagásica geral con-
físicas imputáveis a essa etiologia, positividade de reações serva-se protegida quanto a complicações cardíacas. É pro-
sorológicas específicas e/ou do xenodiagnóstico, e nenhu- vável que a explicação do fenômeno seja multifatorial 7.
ma anormalidade atribuível à doença, no ECG e exames ra-
diológicos cardíaco, esofágico e do cólon. Portanto, esta Prognóstico na forma crônica da cardiopatia - Os es-
fase, por definição, termina com o aparecimento de quais- tudos acima referidos, analisando fatores prognósticos já
quer dessas manifestações clínicas ou laboratoriais. na fase indeterminada em populações rurais, e avaliando de
O potencial evolutivo deste estágio da doença, deter- forma bastante superficial o desempenho cardíaco, de-
minado por fatores ainda desconhecidos, é indiscutivel- monstram que a simples manifestação de alterações
mente mostrado por estudos longitudinais de coortes em eletrocardiográficas constitui sinal bastante ominoso 34,35.
áreas endêmicas. Nesses trabalhos o envolvimento cardía- Também um trabalho retrospectivo, em chagásicos segui-
co tem sido surpreendido com taxas anuais de 1-3% 7. dos por 18 anos, revelou que o bloqueio de ramo direito
Entre 400 adultos jovens seguidos por 10 anos, 91 (BRD) do feixe de His era três vezes mais freqüente em casos
(23%) tiveram alterações clínicas, no ECG ou na radiografia de óbitos do que nos sobreviventes nesse período 34.
torácica. Contudo, dentre oito óbitos registrados no perío- Além dos distúrbios eletrocardiográficos, a noção de
do, apenas um decorreu da doença, por reagudização da que o gênero masculino represente fator de mau prognósti-
cardite chagásica 30. co, em pacientes com doença cardíaca manifesta, deriva de
Outro estudo longitudinal, em Bambuí, comparou a estudos com seguimento longo de coortes hospitalares e de
evolução de 885 pacientes chagásicos jovens, na forma um estudo tipo caso-controle 27-29. Este último trabalho tam-
indeterminada, com a de 911 pacientes, também chagásicos, bém sugere possível segregação geográfica, agregação fa-
porém com alterações no ECG, já presentes no início do pe- miliar nos casos de cardiopatia chagásica, em áreas
ríodo de seguimento de 10 anos. Em cada um desses grupos endêmicas 29.
a sobrevivência foi de 97,4% and 61,3% 31. Poucos estudos de seguimento de casos-controle fo-
Um 3º estudo longitudinal, realizado em região rural ram executados em regiões endêmicas 7,36,37. No Brasil cen-
venezuelana, endêmica, seguiu 364 pacientes chagásicos tral 36 duas avaliações clínicas transversais foram efetuadas
por período médio de quatro anos. Nesses indivíduos, a em 1974 e 1984, incluindo o ECG-12 derivações e o estudo
taxa anual de aparecimento de DC foi de 1,1%. Esta etiologia radiológico da silhueta cardíaca. Indivíduos sorologi-
foi diretamente responsável por 69% dos óbitos ocorridos camente positivos foram cotejados com controles pareados
nesse período, sendo a mortalidade geral da comunidade por idade e gênero. Na 1ª das avaliações, 264 pares foram
igual a 3% 32. incluídos, dos quais 110 puderam ser recompostos e
Em 1973, iniciou-se no nordeste brasileiro estudo lon- reexaminados com os mesmos métodos, 10 anos depois. A
gitudinal de campo, em área rural endêmica. Pela avaliação incidência de cardiopatia (diagnosticada por aparecimento
inicial, de 644 indivíduos com idade >10 anos, 53,7% tinham de sintomas, e/ou distúrbios no ECG/radiografia de tórax),
sorologia positiva para a DC. Essa mesma população foi em chagásicos previamente hígidos, foi de 38,3% durante a
reavaliada em 1977, 1980 e 1983. O desenvolvimento de anor- década transcorrida com o trabalho. A mortalidade global
malidades no ECG ocorreu a taxa anual de 2,57% para os entre os chagásicos foi de 23%, em comparação com ape-
chagásicos, contra 1,25% dos indivíduos sorologicamente nas 10,3% no grupo controle. Ademais, a mortalidade
negativos, configurando risco relativo de 2, para a mesma cardiovascular, incluindo morte súbita (MS) e por IC, foi
área geográfica. A taxa de mortalidade ajustada etariamente 17% no grupo sorologicamente positivo, contraposta a
foi de 8,9/1.000/ano em 488 chagásicos, enquanto a de 509 apenas 2,3% entre os controles. Significativamente, a morta-
indivíduos sorologicamente negativos foi de 7,8/1.000/ano. lidade global foi superior nos chagásicos do gênero mascu-
A mortalidade foi nitidamente associada à presença de dis- lino, e predominou na faixa etária de 30 a 59 anos 36.
túrbios de condução e arritmias ventriculares 33. O mesmo grupo de investigadores, empregando méto-
Em suma, esses estudos indicam que, enquanto os in- dos similares em região nordestina brasileira, encontrou ta-
divíduos chagásicos permanecem na forma indeterminada, xas de mortalidade de 1,6 e 0% para 125 grupos pareados
seu prognóstico é excelente 7. Deve-se ressalvar que esses respectivamente, de indivíduos chagásicos e controles,
resultados foram obtidos em populações chagásicas com seguidos por 4,5 anos 37. A progressão da doença, avaliada
>50% dos indivíduos tendo idades <20 anos. De fato, a eletrocardiograficamente, ocorreu em apenas 10,4% dos
prevalência da forma indeterminada da doença tende sempre chagásicos, em comparação a 4,8% de alterações no ECG,
a decrescer para populações menos jovens, em virtude da verificadas entre os controles. Embora sem comprovação
natureza evolutiva da moléstia de Chagas. Mesmo assim, é direta levantou-se a hipótese de se dever à diversidade de

249
Marin-Neto e cols Arq Bras Cardiol
Cardiopatia chagásica volume 72, (nº 3), 1999

cepas do T. cruzi a diferença de morbidade e mortalidade ríodo de incubação de cerca de 7 a 10 dias. As lesões conhe-
encontrada entre as duas regiões 7. cidas como “chagomas”, incluindo o típico mas não especí-
Há também suficiente evidência para apoiar a noção de fico sinal de Romaña, decorrem de edema de mucosa ou
que a mortalidade associada à cardiopatia chagásica seja cutâneo, no local na inoculação. Alterações cardíacas sem-
nitidamente correlacionada com a gravidade da disfunção pre podem ser detectadas em qualquer fase da cardiopatia
ventricular 7. Assim, sobrevivência até dois anos, após o chagásica, mas, caracteristicamente, na fase aguda, verifica-
primeiro episódio clinicamente manifesto de IC, foi de ape- se notável dissociação entre a gravidade da miocardite e a
nas 33.4% em 160 pacientes 38. A notar, 10% dos óbitos fo- escassez de manifestações clínicas 7. Sintomas e sinais
ram súbitos, inesperados. Nos 98 pacientes que foram au- sistêmicos infecciosos (febre, hepato-esplenomegalia,
topsiados nessa série, documentou-se prevalência <20% sudorese, mialgias) são acompanhados, na fase aguda, por
de formas tissulares do T. cruzi, com flagrante predomínio alterações laboratoriais igualmente não-específicas:
deste aspecto em homens 38. leucocitose, com linfocitose absoluta, cardiomegalia radio-
Em estudo de 107 pacientes chagásicos seguidos por lógica, e distúrbios eletrocardiográficos [sendo os mais fre-
10 anos, significante redução da expectativa de vida, com- qüentes taquicardia sinusal, batimentos ectópicos ventri-
parativamente à de 22 indivíduos controles, ocorreu apenas culares, baixa voltagem, alterações difusas da repolarização
naqueles portadores de alterações clínicas e/ou eletro- e bloqueio atrioventricular (BAV) incompleto]. Durante as
cardiográficas. Quando havia sinais de IC no início do perío- primeiras semanas os testes sorológicos para infecção
do de seguimento, a mortalidade em 10 anos alcançou o ní- chagásica são usualmente negativos, mas o xenodiag-
vel de 82% em 34 pacientes, contrastando com sobrevivên-
nóstico pode comprovar formas circulantes do T. cruzi. O
cia de 65% em 10 anos, para os pacientes sem IC, mesmo que
diagnóstico de miocardite chagásica aguda causada por
portadores de alterações no ECG, quando do início do perí-
transfusão sangüínea requer elevado grau de conscien-
odo observacional 39.
tização e acuidade clínica, principalmente em regiões não-
Outra investigação, envolvendo 104 pacientes chagá-
endêmicas 42. Este princípio também é aplicável ao problema
sicos masculinos internados por IC, relatou taxa de mortali-
diagnóstico representado pela reagudização da DC em pa-
dade de 52% após cinco anos. Os preditores mais relevan-
tes para sobrevivência foram a fração de ejeção de ventrí- cientes crônicos cursando com deficiência imunológica 42.
culo esquerdo (FEVE) e o consumo máximo de oxigênio du- Estudos necroscópicos e investigações in vivo, empregan-
rante esforço físico 40. do diversos métodos de avaliação da função contrátil, da
Em série de 42 pacientes com cardiopatia chagásica perfusão miocárdica, do controle autonômico sinusal e do
diagnosticada nos EUA, 11 mortes ocorreram durante segui- ritmo cardíaco, bem como biópsia ventricular direita, de-
mento médio de aproximadamente cinco anos, sempre em monstraram que virtualmente todos os indivíduos chagá-
associação com disfunção de ventrículo esquerdo (VE), re- sicos (inclusive aqueles com a forma indeterminada), são
gional ou global. A IC na apresentação ou superveniente afetados por alterações de graus variáveis do desempenho
durante o seguimento constituiu importante preditor de cardiovascular 7,43-48.
mortalidade. Isso, surpreendentemente, não se verificou Torna-se oportuno enfatizar que todas as alterações
com a MS abortada nem com a ocorrência de taquicardia anatômicas e funcionais detectadas em vida são consisten-
ventricular sustentada (TVS) 8. Estes resultados conflitam tes com os resultados de autópsias efetuadas em séries ex-
com a evidência obtida em outro estudo, com 44 pacientes tensas de pacientes falecidos nos vários estágios evo-
seguidos por dois anos, para os quais a taquicardia ventri- lutivos da cardiopatia chagásica 43,44,49,50.
cular detectada durante o esforço físico representou rele- Tendo em vista as implicações prognósticas discutidas
vante risco de MS 41. A discrepância entre esses dois estu- acima, é conveniente classificar os pacientes cardiopatas
dos provavelmente explica-se pela limitação comum a am- chagásicos de acordo com vários indicadores: sintomas, si-
bos, de englobarem relativamente pequeno número de pa- nais físicos, alterações eletrocardiográficas, presença de
cientes e curto período de seguimento. cardiomegalia radiológica, grau de disfunção ventricular di-
Em síntese, há evidência substancial de que o mais reita e esquerda sistólica e diastólica, defeitos perfusionais
importante fator de mau prognóstico na CCC manifesta seja miocárdicos, disautonomia cardíaca e anormalidades
o grau de disfunção miocárdica. Quando se instala falência teciduais detectadas pela biópsia de ventrículo direito (VD)
ventricular, o prognóstico é bastante sombrio, comparável (tab. I). Os sintomas e sinais físicos presentes na forma crôni-
ao descrito nas coortes de Framingham, com mortalidade ca da cardiopatia chagásica derivam de três síndromes essen-
próxima a 50% em quatro anos. É possível, embora não se ciais, que podem coexistir no mesmo paciente: IC, disritmias,
disponha de evidência sólida para embasar esta noção, que e tromboembolismo sistêmico e/ou pulmonar.
arritmias ventriculares e MS contribuam relativamente mais A IC de etiologia chagásica é geralmente de padrão
para a mortalidade geral associada à cardiopatia chagásica biventricular. Caracteristicamente, as manifestações de in-
do que à devida a outras etiologias de IC 7. suficiência ventricular direita (aumento da pressão venosa
jugular, edema, ascite, hepatomegalia) são mais pronuncia-
Manifestaçõesclínicas das do que as de congestão pulmonar (dispnéia, estertores
crepitantes) 51. Outro sintoma comum é a fatigabilidade. O
Após a inoculação do agente etiológico, segue-se pe- exame físico geralmente evidencia sopros regurgitantes

250
Arq Bras Cardiol Marin-Neto e cols
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

Tabela I - Classificação fisiopatológica da cardiopatia chagásica crônica conforme o estágio evolutivo,


baseada em evidências clínicas e laboratoriais de dano miocárdico

Forma clínica Indeterminada cardiopatia clinicamente manifesta Insuficiência cardíaca


Estágio evolutivo IA IB II III

Sintomas Ausente Ausente Mínimos Conspícuos


Exame físico Normal Normal Pode ser anormal Anormal
Alterações no ECG Ausente Ausente BRD, BRE, BAV, BEVP + ondas Q TV
Área cardíaca Normal Normal Normal Aumentada
(radiografia torax)
VD: anatomia e função Normal Pode estar deprimida Freqüentemente anormal Anormal
VE: função diastólica ? Anormalidades leves Anormal Anormal
VE: função sistólica Normal Leve dissinergia regional Dissinergia segmentar Depressão global
Defeitos perfusionais ? Podem ocorrer Freqüente Freqüente
Função autonômica ? Pode ser anormal Pode ser anormal Freqüentemente
Biópsia VD ? Pode ser anormal Anormal Anormal
Teste de esforço Normal Pode ser anormal: Pode ser anormal: Anormal:
- arritmia - arritmia + redução da
- déficit cronotrópico - déficit cronotrópico capacidade física
Arritmia/morte súbita Ausente Muito raro Freqüência variável Freqüente

* Modificada6, com permissão. VE- ventrículo esquerdo; VD- ventrículo direito; ECG- eletrocardiograma; BAV- bloqueio atrioventricular: BRD- bloqueio do ramo
direito do feixe de His; BRE- bloqueio do ramo esquerdo; BEVP- batimento ectópico ventricular prematuro; TV- taquicardia ventricular; ? - desconhecido.

mitral e/ou tricúspide, amplo desdobramento da 2ª bulha, tópsias consecutivas de pacientes chagásicos mostrou
devido à combinação dos efeitos da hipertensão pulmonar trombose cardíaca ou embolização periférica em 44% dos
e do BRD, além de impulso apical impulsivo e/ou amplo. casos, onde, embora a formação de trombos murais afetasse
A arritmia cardíaca, incluindo salvas de extra-sístoles, igualmente as câmaras direitas e esquerdas, a embolia
causa palpitação, lipotimia, pré-síncope e síncope 52. Esses sistêmica era mais freqüente do que a embolização pulmo-
sintomas podem também ser causados por BAV completo, nar, sendo que esta última complicação relacionava-se dire-
que pode ser diagnosticado por inspeção meticulosa do tamente com a causa mortis em 14% de todos os casos 50.
pulso jugular e pela ausculta cardíaca. Como referido, a Dor torácica, usualmente atípica para isquemia miocár-
complexidade da arritmia cardíaca tende a se correlacionar dica, é outro sintoma comum 8,47,53,54. Em um contingente
com a intensidade da disfunção ventricular. Entretanto, não pequeno, mas não desprezível de pacientes chagásicos,
é incomum encontrar-se pacientes chagásicos com formas esse sintoma mimetiza muito fielmente o quadro de síndrome
avançadas de arritmia ventricular e preservação da FEVE. coronariana aguda 55,56.
Em geral, tais pacientes apresentam distúrbios regionais da
mobilidade ventricular 52. Métodos diagnósticos complementares
MS ocorre com incidência não bem determinada, mas
certamente não é um fato irrelevante e pode ocorrer, embora É um fato marcante da CCC, que alguns portadores de
muito raramente, mesmo em pacientes previamente assin- anormalidades eletrocardiográficas e áreas de dissinergia
tomáticos. Esse tipo de desfecho é muitas vezes precipitado ventricular significante possam ser trabalhadores braçais
por esforço físico estrênuo e associa-se, nos casos em que por longos períodos, sem sintomas decorrentes de sua in-
foi possível documentá-lo, com taquicardia degenerando tensa atividade física 7,44,47.
para fibrilação ventricular, ou, muito menos freqüentemente, De forma geral, o uso judicioso de diversos tipos de
a assistolia e BAV. Estudos necroscópicos revelam que pa- exames laboratoriais pode indigitar a presença de anormali-
cientes que sofreram MS em tais condições apresentavam dades anatômicas e funcionais e contribuir para o estabele-
graus variáveis porém constantes de miocardite e depo- cimento de diagnóstico e prognóstico apropriados, em vári-
pulação neuronal cardíaca 44. Em alguns desses pacientes, as condições clínicas 42.
havia evidência em vida, ou post-mortem de aneurismas
ventriculares em diversas áreas ventriculares (posterior, Exames sorológicos - Métodos capazes de detectar
ínfero-lateral ou apical) 42. anticorpos dirigidos a antígenos parasitários específicos
Embolia sistêmica ou pulmonar, originada das próprias permitem o diagnóstico etiológico da doença 57. De utiliza-
câmaras cardíacas ou de trombose venosa profunda preci- ção mais freqüente são os baseados em fixação de comple-
pitada por débito cardíaco baixo cronicamente, constitui mento, imunofluorescência e ELISA, os quais, rigorosamen-
complicação freqüente e grave da cardiopatia chagásica. te padronizados, alcançam sensibilidade e especificidade
Muito provavelmente a real incidência dessa complicação é superiores a 90%. Métodos mais modernos e acurados con-
subestimada, clinicamente. Assim, um estudo de 1.345 au- sistem no emprego de técnicas de biologia molecular para

251
Marin-Neto e cols Arq Bras Cardiol
Cardiopatia chagásica volume 72, (nº 3), 1999

detectar DNA parasitário 58-60. Tais técnicas também am- malidade coronária subepicárdica pela angiografia e, prova-
pliam o potencial de melhor caracterizar diagnóstica e velmente, decorrem de disfunção ao nível microcirculatório
prognosticamente a infecção chagásica, por permitirem ou fibrose localizada 8,47,53.
identificar mais adequadamente a cepa parasitária 60.
Estudo hemodinâmico intravascular e angiografia de
Eletrocardiograma - O ECG de 12 derivações rotineiro contraste - O cateterismo cardíaco acompanhado de estudo
detecta, com muita freqüência, BRD associado ou não a angiográfico torna-se muitas vezes imperativo, em pacien-
hemibloqueio anterior esquerdo, alterações difusas da tes com sintomas sugestivos de isquemia miocárdica, e re-
repolarização ventricular, batimentos ventriculares ectópi- sultados inconclusivos pela avaliação com ECG e cintilo-
cos, isolados ou em salvas, muitas vezes multiformes. Tam- grafia miocárdica, para confirmar ou, mais comumente, afas-
bém são comuns ondas Q patológicas, e graus variáveis de tar a presença de doença coronária obstrutiva. O método
BAV. Em estágios mais avançados da cardiopatia pode apa- também possibilita visibilização muito acurada das
recer baixa voltagem generalizada e fibrilação atrial 61. dissinergias parietais ventriculares, que podem ser compli-
cadas por trombose 42,53-56.
Radiologia do tórax - O aspecto mais característico, em
muitos doentes, consiste de cardiomegalia global, des- Estudo eletrofisiológico intracardíaco - Exame indica-
proporcionalmente intensa perante o grau discreto de con- do em casos selecionados para avaliar a função sinusal e a
gestão pulmonar 42. condução AV, quando a origem dos sintomas permanece
obscura após avaliação não-invasiva 42. Embora sem de-
Monitorização eletrocardiográfica dinâmica (Holter) monstração objetiva de benefício direto, aceita-se a utilida-
- Praticamente todos os tipos de disritmia atrial e ventricular, de deste exame em dois outros subconjuntos da população
incluindo-se a disfunção do nó sinusal, o BAV intermitente, cardiopata chagásica: sobreviventes de episódio de MS; e
e a ectopia ventricular complexa podem ser detectados 52,62. pacientes com TVS , para avaliar o prognóstico e ajudar na
escolha da estratégia terapêutica (medicações antiarrítmi-
Ecocardiografia - Nos estágios iniciais da doença, este cas, cirurgia, ou desfibrilador implantável) 70,71.
exame é valioso para detecção de áreas dissinérgicas, inclu- Em muitos pacientes com preservação da função glo-
sive a virtualmente patognomônica lesão apical. Nos está- bal de VE, que não apresentam taquicardia espontânea
gios mais avançados da doença verifica-se hipocinesia e di- (apenas indutível), ou somente sofrem de episódios não-
latação global, comumente associada a regurgitação mitral e/ sustentados, a eletrofisiologia intracardíaca deixa de ter re-
ou tricuspídea 63. levância prognóstica. Assim, a estimulação programada não
se mostrou capaz de induzir taquicardia ventricular em qual-
Teste ergométrico - Este exame é relativamente limita- quer dos 72 pacientes apresentando de 400 a 1200 extra-
do para avaliação de pacientes chagásicos com dor sístoles/hora, dos quais 35% tinham taquicardia ventricular
precordial, porquanto muitos deles apresentam alterações não sustentada (TVNS) durante a monitorização por méto-
no ECG basal, que virtualmente impossibilita sua interpreta- do de Holter 71. Nesse grupo a FEVE era em média de 60%.
ção durante o esforço físico, com relação a possíveis dis- Apenas um entre os 72 pacientes apresentou TVS durante
túrbios isquêmicos 64. Entretanto, o teste ergométrico pode seguimento médio de três anos 71.
representar alternativa adequada ao exame de Holter, para
detecção de arritmias ventriculares durante o exercício 41,65. Eletrocardiografia de alta resolução - Existe apenas
Também pode ser constatada deficiente resposta cronotró- experiência preliminar com esta técnica. Em pacientes sem
pica ao esforço, devida à depressão do controle parassim- distúrbios dromotrópicos, sugere-se que os potenciais tar-
pático sinusal 66,67. dios ocorrem mais freqüentemente quando coexistem episó-
dios de TVS 72. Essas alterações também parecem se
Angiocardiografia nuclear - Ainda que menos dispo- correlacionar com o grau de disfunção ventricular, mas o seu
nível do que a ecocardiografia para finalidades clínicas, este significado prognóstico permanece por estabelecer 73.
exame tem se mostrado muito útil em pesquisas visando à
análise da função biventricular, em fases precoces da Ressonância magnética - Este método, conquanto
cardiopatia. Assim, em pacientes com a forma digestiva, ainda não utilizável para fins clínicos habituais na cardio-
isolada ou indeterminada, disfunção ventricular direita re- patia chagásica, demonstra potencialidade para revelar o
gional e global pode ser surpreendida na ausência de processo inflamatório subjacente, além de propiciar a ava-
envolvimento aparente do VE 68,69. liação anatômica e funcional da função cardíaca, com exce-
lente resolução espacial 74.
Cintilografia miocárdica de perfusão - Distúrbios
transitórios (do tipo reversível ou paradoxal) e irreversíveis Avaliação autonômica cardíaca - Diversos testes
são detectáveis, com bastante freqüência, em chagásicos autonômicos simples (inclusive a medida da variabilidade
portadores de síndromes anginóides. Essas alterações da da freqüência cardíaca durante a monitorização eletro-
perfusão miocárdica regional ocorrem na vigência de nor- cardiográfica) podem ser empregados para demonstrar

252
Arq Bras Cardiol Marin-Neto e cols
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

disautonomia (predominantemente parassimpática) em pa- mento inflamatório e de fibrose reparativa do ramo direito e
cientes cardiopatas chagásicos crônicos 47,75-77. Todavia, as do fascículo ântero-superior esquerdo do feixe de His 89.
anormalidades da regulação autonômica não produzem sin- Distúrbios microvasculares descritos em modelos experi-
tomas nem causam hipotensão postural, de forma que seu mentais consistem de rarefação capilar, edema intersticial,
significado clínico é incerto. agregados plaquetários e espessamento da membrana basal
vascular. Aspectos semelhantes foram encontrados em mate-
Alteraçõespatológicas rial de biópsia endomiocárdica. Em pacientes com a forma
indeterminada, tais alterações foram encontradas em 60% dos
O conhecimento das alterações patológicas na casos, mas tipicamente foram menos intensas do que em
cardiopatia chagásica deriva de estudos necroscópicos em chagásicos com cardiopatia clinicamente manifesta 46,87.
humanos, e de observações em vários modelos experimen- Depopulação neuronal intracardíaca e degeneração
tais que reproduzem razoavelmente os vários estágios da dos plexos nervosos ocorre de forma intensa e típica na for-
doença 43,78-86. Também os resultados da biópsia endo- ma crônica da cardiopatia chagásica 82,91,92. Contudo, não há
miocárdica foram úteis nesse sentido, inclusive para estudo correlação entre a intensidade da agressão neuronal e o
da forma indeterminada da moléstia 46,87. grau de dilatação cardíaca ou outros sinais de miocardite na
Na fase aguda, a patologia se exterioriza, principal- fase crônica da moléstia 91.
mente, por dilatação cardíaca global e derrame pericárdico.
A microscopia denota parasitismo intenso de praticamente Fisiopatologia e mecanismos de patogênese
todos os sistemas orgânicos. A miocardite é intensa e
difusa, ocorrendo necrose miocitolítica, edema, vasculite e As manifestações clínicas e o próprio dano orgânico
infiltrado inflamatório, de natureza mono e polimorfonuclear. da fase aguda são nitidamente associados à multiplicação
Trombose mural pode complicar o processo inflamatório, parasitária no miocárdio, aparelho digestivo e sistema ner-
que se estende até o endocárdio. Há também envolvimento voso. A elevada parasitemia também se correlaciona com os
do sistema de condução e dos plexos nervosos intramurais sinais de reação imunológica sistêmica, tais como a linfa-
e extracardíacos. denopatia, e o aumento de baço e fígado típicos desta fase
Quando o óbito sobrevem, após a instalação de IC na da moléstia. Com a remissão da parasitemia e das reações
fase crônica, observa-se na autópsia dilatação e aumento inflamatórias sistêmicas, acredita-se que, durante a fase
conspícuo do peso cardíaco (350 a 800g em geral). A dilata- indeterminada se desencadeie processo de miocardite focal
ção predomina nas câmaras direitas e os sinais de conges- mais incessante, levando à destruição cumulativa de fibras
tão sistêmica são mais proeminentes do que os de conges- miocárdicas e paulatina fibrose reparativa 7,78.
tão pulmonar 84,51. É possível que este aspecto peculiar seja Neste período, a miocardite é essencialmente silente,
explicado por dano precoce e intenso do VD, fato este mui- salvo por episódios esporádicos de arritmia cardíaca e,
tas vezes negligenciado por estudos funcionais da CCC, possivelmente, até de MS 44,93. A miocardite também leva a
mas surpreendido por pesquisas dirigidas 68,69. perda progressiva de massa miocárdica que, atingindo-se
Encontra-se trombose mural, em vários estágios de certo limiar de destruição, provoca dilatação cardíaca e/ou
organização, em cerca de 50% dos pacientes autopsiados, disritmia ventricular potencialmente letal 7,78. O suporte
envolvendo igualmente as câmaras direitas e esquerdas 50. científico para esta concepção fisiopatológica genérica
A lesão mais específica é o aneurisma apical, descrito, em advém de evidências proporcionadas por pesquisas em
um estudo, em 52% de 1.078 pacientes autopsiados 88. Esta vários modelos experimentais de cardiopatia chagásica, o
lesão não apresenta a típica fibrose que costuma ocorrer em que, também, é corroborado por estudos correlativos de
aneurismas de origem isquêmica e, muito raramente, se rom- aspectos clínicos e resultados necroscópicos em humanos.
pe 78,88. Não se observa boa correlação entre a prevalência Esses trabalhos observacionais incluíram sempre algumas
de aneurisma apical e idade, peso cardíaco. A lesão apical dezenas de pacientes nas fases aguda e indeterminada e
tem sido encontrada também em pacientes falecidos subita- várias centenas ou milhares de casos com a forma crônica
mente sem manifestações clínicas pregressas da doença 44. da cardiopatia chagásica 7,78.
O estudo histológico mostra a miocardite crônica, com de- Arritmia ventricular complexa constitui um dos mais
generação e necrose miocitária focal, associada a infiltrados relevantes aspectos fisiopatológicos da CCC, em vista de
inflamatórios de tipo mononuclear 82,89. Estas anormalida- sua potencial implicação na gênese de MS. Acredita-se que
des têm sido tradicionalmente interpretadas como indepen- esta manifestação seja mais conspícua em pacientes
dentes de parasitismo direito das fibras miocárdicas, por- chagásicos do que em miocardiopatas de outras etiologias,
que o T. cruzi é raramente encontrado, na fase crônica, em embora não se tenha descrição de estudos comparativos.
estudos microscópicos de humanos e de modelos experi- Previsivelmente, há evidência de que a complexidade e in-
mentais de DC 82. tensidade desses distúrbios de ritmo se correlacionem com
Fibrose focal, coalescente, constitui feição das mais o agravamento da disfunção ventricular 94. Entretanto, po-
salientes, no miocárdio e no sistema especializado de con- dem também ocorrer em pacientes chagásicos com função
dução do estímulo elétrico 90. As alterações eletrocar- ventricular esquerda global dentro de limites de normalida-
diográficas descritas acima correlacionam-se com o envolvi- de. Há evidência de que o substrato eletrofisiológico bási-

253
Marin-Neto e cols Arq Bras Cardiol
Cardiopatia chagásica volume 72, (nº 3), 1999

co para a TVS seja constituído pela presença de macro- Apesar destas objeções, é oportuno considerar-se o
circuitos de reentrada do estímulo elétrico, em regiões fato de que em todas as investigações mencionadas, a ava-
ventriculares posteriores-basais ou póstero-laterais 95. liação autonômica limitou-se ao controle da freqüência car-
A despeito dos avanços registrados recentemente na díaca, como marcador de influência parassimpática. Portan-
compreensão da fisiopatologia da cardiopatia chagásica, o to, é plausível especular-se que eventuais distúrbios
desafio precípuo continua sendo a identificação dos meca- autonômicos ao nível ventricular possam ocorrer sem pos-
nismos patogenéticos operantes durante a fase indeter- sibilidade de detecção por esses métodos 47.
minada da moléstia de Chagas. A marcante discrepância Investigações mais recentes permitiram aprofun-
entre as manifestações clínicas e patológicas das fases damento sobre este aspecto, utilizando-se cintilografia por
aguda e crônica, também requer elucidação a partir de sua impregnação com 123 I-meta-iodo-benzil-guanidina, para ava-
base comum infecciosa. liação direta do sistema simpático ao nível miocárdico 104-106.
Fundamentalmente, há quatro classes de mecanismos Denervação simpática regional foi detectada em elevada
implicados na patogênese da cardiopatia chagásica: proporção de pacientes, inclusive com a forma inde-
terminada da doença. Tais alterações foram verificadas em
Mecanismos neurogênicos - Como já assinalado, há am- áreas sem anormalidades contráteis e constituem a primeira
pla evidência necroscópica de intensa depopulação neuronal evidenciação de distúrbios do sistema simpático em nível
nos vários estágios evolutivos da doença 49,79-82. Esses resulta- ventricular na CCC.
dos são reproduzidos por investigações experimentais em Em um desses estudos, também se observou elevada taxa
modelos animais de infecção chagásica 49,83-86,96-99. Os aspectos de esvaimento da impregnação miocárdica com 123 I-MIBG em
histopatológicos mais salientes consistem de destruição
regiões ventriculares, exibindo mobilidade normal 106. Tal altera-
neuronal difusa e irregularmente distribuída nos vários tecidos.
ção poderia ser devida a aumento precoce da atividade simpá-
Observam-se parasitismo ganglionar direto, mas também
tica em nível miocárdico, e interpretada como elemento compa-
periganglionite e lesões degenerativas das fibras nervosas
tível com os postulados da teoria neurogênica. Entretanto, ex-
e das células de Schwann. Embora mais estudadas ao nível
plicação alternativa consiste na possibilidade de ocorrência de
do sistema parassimpático intramural cardíaco, essas anor-
competição pelos receptores neurais simpáticos, entre o rádio-
malidades também envolvem o sistema ganglionar simpáti-
co pára-vertebral 81. traçador utilizado e substâncias endógenas antagônicas.
Em correspondência a esses estudos patológicos, ex- Esta última e hipotética possibilidade poderia se coa-
tensa gama de investigações clínicas documentaram, em dunar com relatos recentes sobre a existência de anticorpos
humanos, graus intensos de depressão do controle auto- circulantes, com capacidade de ligação a receptores tanto
nômico cardíaco, predominante, mas não exclusivamente colinérgicos como adrenérgicos em linfócitos e no mio-
parassimpático 47,69,75-77,96. Isto constitui um dos aspectos cárdio 107-111. Tais anticorpos parecem ser capazes de de-
mais característicos, embora não específicos da CCC. Em sencadear efeitos fisiopatológicos, enzímicos, morfo-
estudos comparativos, a denervação parassimpática, en- lógicos e alterações moleculares potencialmente lesivas
contrada na doença reumatismal, na cardiomiopatia dilatada ao miocárdio 109-111. Além disso, depósito desses anti-
idiopática, e na endomiocardiofibrose, foi nitidamente de corpos em estruturas de receptores neurotransmissores
menor expressão do que na moléstia de Chagas 49. poderia causar sua dessensibilização e causar denervação
É oportuno salientar que a depopulação neuronal expli- progressiva. Mecanismos como esses, se comprovados
ca satisfatoriamente a gênese do megaesôfago e megacólon em investigações adicionais, poderiam conciliar alterações
chagásicos 100 e, por analogia, tem sido implicada na teoria neurogênicas e agressão imunológica, como fatores
neurogênica da CCC: a destruição preferencial do sistema fisiopatológicos na CCC.
parassimpático cardíaco, instalando-se de forma intensa e Em síntese, a teoria neurogênica continua muito discu-
precoce, levaria a prolongado desequilíbrio autonômico, e tível. O significado prognóstico de suas implicações não foi
como conseqüência provocaria processo cardiomiopático de estabelecido, e a atraente hipótese de seu envolvimento na
base essencialmente catecolaminogênica 49,79. gênese de mecanismos de MS permanece inteiramente
Essa postulação tem sido desafiada por várias linhas especulativa 93,112.
de evidência, questionando-se diretamente a possibilidade
de mecanismos neurogênicos constituírem fatores pato- Mecanismos inflamatórios ligados ao parasita - Du-
genéticos fundamentais 7. Assim, a freqüência e intensida- rante várias décadas passadas acreditou-se que, em virtude
de do processo de destruição neuronal são extremamente do baixo grau de parasitismo miocárdico e da intrigante au-
variáveis ao nível individual e não se correlacionam com sência de correlação topográfica entre os focos inflama-
qualquer parâmetro de disfunção miocárdica 77,92,96,101-103. tórios e os locais de assestamento das formas amastigotas
Essa variabilidade do comprometimento do sistema auto- do T. cruzi nas miocélulas, o parasita não representasse fa-
nômico cardíaco poderia, em tese, ser explicada por diversidade tor patogenético decisivo na fase crônica da cardiopatia 82.
neurotrópica entre cepas parasitárias ou por outros fatores, Esta visão enraizava-se na verificação de que a miocardite
genéticos ou ambientais 99. Estudos recentes mostram não linfocitária focal e a necrose miocitolítica podiam ocorrer em
haver associação entre a disautonomia parassimpática e distúr- áreas não aparentemente parasitadas, e também, na consta-
bios regionais de contração ventricular 69. tação de que a parasitemia era sempre, quando existente,

254
Arq Bras Cardiol Marin-Neto e cols
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

muito escassa, na forma crônica 51,113,114. Entretanto, investi- so, administração de verapamil, antagonista dos canais de
gações mais recentes, empregando técnicas imunohisto- cálcio dotado de potente efeito vasodilatador e, possivel-
químicas para detecção de anticorpos dirigidos contra mente, também antiplaquetário, mostrou-se capaz de reduzir
antígenos do T. cruzi, comprovam a existência de correlação a extensão do dano miocárdico e a letalidade em camundon-
topográfica entre os focos onde estas alterações são gos infectados com T. cruzi 135.
detectáveis e as próprias reações inflamatórias 113,115. Resul- Também em várias investigações clínicas independen-
tados similares foram obtidos quando se empregou o mé- tes, usando-se diversos marcadores perfusionais (tálio-201, 99m
todo de PCR para detectar fragmentos genômicos de T. -sestamibi e microesferas também marcadas com tecnécio-99m)
cruzi 116. Adicionalmente, técnicas de biologia molecular foram documentados defeitos miocárdicos perfusionais, du-
permitem, agora, detectar antígenos plasmáticos derivados rante esforço e repouso, em pacientes chagásicos com artérias
do T. cruzi em contingentes apreciáveis de pacientes coronárias angiograficamente normais 8,47,70,136-142. Esses distúr-
chagásicos nos quais essa evidenciação era impossível bios perfusionais (fixos, reversíveis ou paradoxais) foram en-
usando técnicas sorológicas convencionais 117,118. Assim, contrados em significante proporção desses pacientes, mes-
torna-se plausível especular que mesmo sendo de baixo ní- mo na completa ausência de outros sinais de dano miocárdico.
vel, o parasitismo possa representar mecanismo de ativação Estudo da resposta de fluxo coronariano à administra-
antigênica permanente, e constituir fator patogenético es- ção de acetil-colina, em pacientes chagásicos, sugeriu a
sencial de alteração imunológica na fase crônica da moléstia ocorrência de disfunção endotelial 143. De forma análoga,
de Chagas 119-121. outra investigação relatou reatividade coronária subepicár-
Se o parasitismo estivesse comprovadamente ligado à dica anormal aos testes da hiperventilação e da ministração
patogênese da cardiopatia crônica, haveria relevantes implica- de nitrato. Estes resultados são também compatíveis com a
ções terapêuticas potenciais. Nesse sentido, há apenas escas- noção de que em chagásicos crônicos haja anormalidades
so indício da possibilidade de que o tratamento etiológico pu- funcionais da regulação do fluxo coronário 144. Estudos com
desse influenciar favoravelmente o curso clínico da fase crôni- técnicas de análise ultra-estrutural em modelo canino de
ca da doença 122. Assim, um estudo não-randomizado, aberto, cardiopatia chagásica, sugerem que o comprometimento
controlado por placebo, incluiu 131 chagásicos tratados com microcirculatório possa ser secundário à interação lesiva de
benzonidazol, que tiveram sua evolução comparada à de ou- células inflamatórias com o endotélio vascular 145. Torna-se
tros 70 pacientes não tratados com essa medicação, em segui- plausível especular que substâncias como a tromboxana-
mento de oito anos em média 123. Relatou-se redução significa- A2, citocinas, e prostaglandinas, secretadas no infiltrado
tiva da incidência de novas alterações eletrocardiográficas e de inflamatório, afetem de forma incisiva a reatividade vascu-
deterioração clínica no grupo tratado. Resultados semelhantes lar. Esta hipótese, portanto, vincula a isquemia micro-
foram relatados recentemente, usando-se itraconazol e vascular detectada na cardiopatia chagásica ao processo
alopurinol 124. Se esses estudos puderem ser ratificados por inflamatório 126. Em contraposição, os fenômenos isquê-
outras investigações mais abrangentes, tais resultados refor- micos potenciariam os efeitos lesivos da inflamação primá-
çariam consideravelmente a teoria de que o parasita possa par- ria, em mecanismo de retro-alimentação fisiopatológica.
ticipar direta e decisivamente na gênese da agressão mio- Também parece razoável admitir-se, como hipótese de
cárdica da fase crônica da DC. trabalho, que a elucidação dos mecanismos causais da
isquemia experimentada por pacientes chagásicos possa
Anormalidades microcirculatórias - Várias classes contribuir para definição da estratégia mais adequada de tra-
de evidência clínica e experimental subsidiam o conceito de tar a precordialgia que apresentam.
que distúrbios isquêmicos transitórios ocorram em nível
microvascular na CCC. Mecanismos de agressão imunológica - Vasto acervo
A primeira classe de evidências relaciona-se com as de relatos de investigações científicas parece apoiar a teoria
características morfológicas da miocardite crônica. A distri- que atribui a mecanismos de auto-imunidade o papel-chave
buição focal e a natureza miocitolítica da necrose observa- da patogênese da CCC. O conceito de que a miocardite
da, bem como a intensa fibrose reparativa são feições tam- mononuclear propicie os elementos celulares efetores de
bém observadas em modelos experimentais não-chagásicos agressão de fibras miocárdicas não parasitadas deriva de
de isquemia/reperfusão miocárdica, e indigitam a ocorrên- estudos histopatológicos, utilizando microscopia de luz.
cia de distúrbios isquêmicos miocárdicos esparsos, com Mais recentemente, essa evidência foi corroborada por es-
envolvimento coronário em nível microcirculatório 125-127. tudos em modelos de experimentação animal, com métodos
Este último aspecto patológico tem sido também verificado ultra-estruturais, sugerindo a ocorrência de reatividade imu-
em estudos necroscópicos em humanos 127-129 e em modelos ne cruzada entre antígenos do parasita e do miocárdio 145.
murinos de CCC 130-134. Em animais de experimentação, des- Esse mimetismo antigênico relativo ao T. cruzi e ao
creveu-se a presença de trombos oclusivos plaquetários miocárdio tem sido descrito para extensa série de anti-
em vasos coronarianos subepicárdicos e intramurais, com- corpos dirigidos contra diversos antígenos do hospedeiro
patíveis como fatores causais de isquemia provocada por da infecção chagásica 146-150. Todavia, para demonstrar que
anormalidades microvasculares e verificada nesses estu- esse efeito biológico pudesse ter relevância clínica, pelo
dos por técnicas histoquímicas específicas 133,134. Além dis- menos potencial, no sentido de apoiar a teoria da auto-imu-

255
Marin-Neto e cols Arq Bras Cardiol
Cardiopatia chagásica volume 72, (nº 3), 1999

nidade, seria necessário identificar a presença de auto- da estrutura protéica miocárdica. Essa intolerância imuno-
antígenos específicos, cuja injeção em hospedeiro sensí- lógica parece ocorrer por mimetismo dessas estruturas por
vel, reproduzisse a agressão orgânica. Lesão miocárdica antígenos parasitários.
deveria, ainda, ser produzida por transferência passiva de Em síntese, a visão moderna confere a mecanismos li-
linfócitos 151. gados à presença do agente etiológico e a respostas auto-
Recentemente, esse tipo de evidência em apoio à teo- imunes o papel preponderante na gênese da CCC. Disau-
ria auto-imune foi obtida pela identificação, no modelo tonomia cardíaca e isquemia em nível microvascular são,
murino de doença chagásica experimental, de linfócitos muito possivelmente, apenas fatores ancilares, atuando
TCD4+ específicos contra miosina 152. Outro indício forte- para intensificar e ampliar o alcance deletério daqueles meca-
mente sugestivo foi a demonstração de que é possível deter nismos patogenéticos sobre o miocárdio. Esta visão fisiopa-
o processo de agressão miocárdica, nesse modelo, induzin- togênica global, com as interações de retro-alimentação po-
do-se a depleção desses linfócitos 153. Em adição, lesão sitiva postuladas, encontra-se esquematizada na figura 1.
miocárdica em animais não infectados pôde ser induzida por
transferência passiva dos linfócitos TDC4+ obtidos dos Tratamento da cardiopatia chagásica
camundongos chagásicos 153.
Finalmente, epítopos específicos, associados com a Tratamento etiológico - Dois fármacos (nifurtimox e
resposta imune do hospedeiro, com potencial capacidade benzonidazol) são disponíveis para uso clínico, com
de mediar dano miocárdico, foram identificados 120,154-162. Há efetividade antiparasitária comparável e, também, exibindo
também evidência de que a estimulação permanente de espectro superponível de efeitos colaterais nocivos,
macrófagos expostos aos antígenos do T. cruzi leva a pro- comumente responsáveis pela interrupção do tratamento:
dução de citocinas, modulando a resposta imune e, possi- dermatite, polineurite, leucopenia, intolerância gastroin-
velmente, causando a relativa depressão imunológica que, testinal 165,166. O relato recente de mais alta incidência de
provavelmente, é responsável direta por perpetuar a infec- câncer em pacientes chagásicos submetidos a transplante
ção 121,163,164. Todos esses resultados investigacionais re- cardíaco e requerendo terapia tripanossomicida, também
centes se colimam para apoiar a teoria de que a miocardite sugere ser a pesquisa de drogas mais efetivas e melhor tole-
linfocitária fibrosante, focalmente identificada na CCC seja radas altamente recomendada 167. Há resultados recentes de
determinada por resposta auto-imune a epítopos próprios tratamento da reativação chagásica em pacientes que rece-

Fig. 1 – Mecanismos patogenéticos na cardiopatia chagásica crônica.

256
Arq Bras Cardiol Marin-Neto e cols
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

beram transplante cardíaco, com alopurinol e itraconazol, inflexões na história natural da cardiopatia crônica, que fos-
que são especialmente provocantes mas demandam escru- sem imputáveis ao tratamento tripanossomicida 7.
tínio e confirmação rigorosos, antes de permitirem conclu-
sões mais abalizadas 124,168. Tratamento da insuficiência cardíaca congestiva -
É virtualmente consensual a opinião de que pacientes Sendo a exteriorização hemodinâmica da IC de etiologia
com a forma aguda da infecção chagásica, por qualquer dos chagásica superponível em muitos aspectos à da mio-
mecanismos identificados de transmissão, devam ser trata- cardiopatia dilatada, intervenções terapêuticas clássicas -
dos etiologicamente, para controle sintomático, deter o pro- restrição salina, diuréticos, digital, vasodilatadores como
cesso da miocardite e/ou encefalite, e, presumivelmente, nitratos e hidralazina - têm sido empregadas liberalmente
minimizar o dano orgânico. A eficácia do tratamento no que para alívio sintomático em cardiopatas chagásicos 7. De
concerne a este último aspecto não pôde ainda ser demons- fato, vários trabalhos observacionais, de pequenas dimen-
trada, por carência de estudos controlados, com seguimen- sões populacionais, não controlados por placebo, relataram
to apropriado. Após o tratamento nessa fase aguda, há benefício hemodinâmico agudo associado ao uso desses
negativação do xenodiagnóstico em mais de 90%, e os tes- diversos agentes farmacológicos, e, em menor grau, aumen-
tes sorológicos são normalizados em cerca de 80% dos pa- to da capacidade de esforço físico a curto prazo. Todavia,
cientes. O alcance prognóstico da conversão sorológica não há estudos publicados sobre redução de mortalidade
permanece por ser determinado, também por não se dispor ou mesmo sobre benefício sintomático ou hemodinâmico a
de estudos adequadamente conduzidos para avaliar tão im- longo prazo, em cardiopatas chagásicos 7.
portante aspecto clínico. Na CCC os potenciais efeitos pro- Estudos preliminares, englobando pequenos grupos
tetores da terapêutica antiparasitária não são demons- de pacientes tratados com inibidores da enzima de conver-
tráveis por combinação de razões: em primeiro lugar, os mé- são da angiotensina (IECA) pareceram evidenciar resulta-
todos de avaliação da eficácia terapêutica não são absoluta- dos promissores em termos de alívio sintomático 172,173. Em-
mente confiáveis; além disso, somente escassos estudos bora não se disponham de estudos com esses agentes, ou
muito limitados numericamente e, quanto ao esquema pro- mesmo, com quaisquer outros, mostrando impacto benéfico
tocolar não controlado, foram relatados 169-171. Por exemplo, sobre a sobrevivência, na cardiopatia chagásica, é lógico
a negativação sorológica com o tratamento não pode ser supor, como hipótese de trabalho, que os efeitos favoráveis
usada como indicador de impacto sobre o curso clínico da dos IECA possam ser, em pacientes chagásicos, super-
moléstia, porquanto esses dois aspectos são claramente poníveis aos verificados em outras etiologias de IC. Em rea-
dissociáveis, e a negatividade da sorologia e da parasitemia lidade, há evidência incipiente de que, pelo menos aguda-
são espontaneamente comuns na evolução natural da fase mente, administração desse tipo de agente, produza efeito
crônica. Outro limitante encontrado nesses estudos refere- neuromodulador benéfico em cardiopatas chagásicos com
se ao viés introduzido por seleção de pacientes com para- essa síndrome 174.
sitemia persistente antes do tratamento 7. Finalmente, con- Conforme já exposto, são precocemente detectáveis,
forme já discutido, estudos experimentais revelam que, en- em alguns pacientes chagásicos com a forma indeterminada
quanto a parasitemia pode ser escassa ou mesmo não da doença, anomalias regionais contráteis 63,175. Por outro
detectável, com os métodos empregados naqueles estudos, lado, a discreta dissinergia assim manifesta parece refletir a
o parasitismo tissular pode ser significativamente mais in- extensão do dano miocárdico, mais fielmente do que as alte-
tenso e relevante 114. rações no ECG que, classicamente, foram consideradas pre-
Em contraposição, sorologia persistentemente positi- cursoras de envolvimento cardíaco mais grave 176. Ademais,
va poderia simplesmente refletir a vigência de mecanismos recentemente obteve-se indício de que a dissinergia regio-
de memória imune, ou se associar a reatividade cruzada con- nal, ainda que discreta, precocemente detectada, associe-se
tra antígenos alterados do hospedeiro. Assim, todos os cri- a relevante implicação prognóstica desfavorável 177. Por
térios já utilizados para avaliação sorológica dos resultados conseguinte, à luz dessas evidências em conjunto, torna-se
de tratamento etiológico na fase crônica da moléstia de Cha- plausível admitir a conveniência de se testar a hipótese de
gas são inadequados, impedindo interpretações definitivas que, na cardiopatia chagásica, por analogia com o demons-
sobre o significado das taxas bastante reduzidas de nega- trado em outras etiologias de agressão miocárdica, a inter-
tivação verificadas (4-8%) nos estudos mencionados 169-171. venção terapêutica precoce possa evitar a instalação de IC
Em conseqüência dessas limitações, enquanto não se clinicamente manifesta, e alterar a ominosa história natural
dispuser de método laboratorial adequado para avaliação, o da doença.
único critério aceitável de efetividade de qualquer forma de
tratamento etiológico deverá forçosamente se basear na Abordagens cirúrgicas - Transplante cardíaco -
prevenção de complicações clínicas da doença. Como em outras cardiopatias, o transplante cardíaco foi rea-
Portanto, não são atualmente autorizadas quaisquer re- lizado em pequenos grupos de pacientes chagásicos com
comendações de tratamento etiológico, como recurso clínico IC refratária. Atualmente, a aplicação do método está restri-
indiscriminado na fase crônica da moléstia de Chagas. Clara- ta por impedimentos de ordem socioeconômica, e pelo po-
mente, seria necessário seguimento prolongado de coortes tencial de reativação da infecção chagásica que se segue à
extensas de pacientes chagásicos, para detectar eventuais depressão do sistema imune. Miocardite aguda, acompa-

257
Marin-Neto e cols Arq Bras Cardiol
Cardiopatia chagásica volume 72, (nº 3), 1999

nhada de marcante depressão da função ventricular, ocorreu não isquêmica, a etiologia chagásica foi comprovada em 9
em cinco dos nove primeiros pacientes incluídos na mais ex- (13,0%) casos. Isto representou a 3ª causa mais freqüente
tensa série (22 casos) operada em um único centro médico 178. de embolia, após fibrilação atrial (29%) e doença valvular
Embora a reagudização seja geralmente bem controlada por reumática (20,3%)
terapêutica antiparasitária, a possibilidade de dano irre- Entretanto, o risco real de tromboembolismo na cardio-
versível ao coração transplantado não é negligenciável. patia chagásica é desconhecido, pois não foram realizados
Nos últimos 13 pacientes dessa série, tratados com regime de estudos dirigidos a obter tal informação. Também não se
imuno-modulação com ciclosporina mais apropriado, essa dispõem de dados sobre o valor prognóstico da ocorrência
complicação ocorreu em apenas um caso. Neste subgrupo a de tromboembolismo na história natural da cardiopatia
sobrevida após dois anos do transplante foi de 80%, confi- chagásica, por inexistência de trabalhos clínicos enfocando
gurando resultados encorajadores relativamente a outras este aspecto 7.
séries anteriores. Contudo, deve-se reconhecer que o im- Portanto, as recomendações atuais para anticoa-
pacto desta modalidade terapêutica a longo prazo está ain- gulação em cardiopatas chagásicos seguem os princípios
da por ser determinada, mediante estudos adequadamente estabelecidos para outras cardiomiopatias dilatadas. As-
desenhados, em coortes mais amplas de pacientes 7. sim, devem receber medicação anticoagulante endovenoso
ou oral os pacientes com disfunção global de VE, aqueles
Cardiomioplastia dinâmica - Este procedimento cirúr- com fibrilação atrial, antecedentes tromboembólicos, trom-
gico paliativo tem sido empregado de forma bastante limita- bose mural em áreas dissinérgicas 183. Estas recomendações
da em pequenos grupos de pacientes chagásicos nos quais são dificilmente aplicáveis em muitos pacientes chagásicos,
foram obtidos resultados iniciais promissores, em termos de por limitações socioculturais e econômicas 7.
controle sintomático e melhora hemodinâmica aguda 179.
Tratamento de pacientes com precordialgia - Tais pa-
Resenha recente de experiência em centros sul-americanos
cientes podem constituir subgrupo de difícil manejo clínico
com essa técnica cirúrgica, compreendendo total de 112
e o tratamento é inteiramente empírico. O sintoma não é de-
pacientes, englobava apenas 13 pacientes chagásicos com
vido à angina vasotônica, e também não há evidências de
IC 180. Após um e cinco anos de seguimento após a inter-
que possuam aumento do tônus coronário basal, pois não
venção, a sobrevivência no subgrupo chagásico foi res-
se demonstrou a vigência de respostas exacerbadas a estí-
pectivamente de 40 e 9,5%, valores que, aparentemente, são mulos vasoconstrictores ou vasodilatação mediada por
muito inferiores aos observados nos demais pacientes des- mecanismo endotelial 144,184.
sa compilação, portadores de cardiomiopatia dilatada, com Por outro lado, não há apoio para intervenções diri-
sobrevivência de 86,1% e 49,8% nos respectivos períodos gidas ao controle de possíveis mecanismos esofágicos
de seguimento. Não se despistaram possíveis fatores de como potencialmente responsáveis pelo sintoma. Embora
mau prognóstico que explicassem o aparente insucesso re- muitos desses pacientes tenham evidência endoscópica
lativo do procedimento em cardiopatas chagásicos. Isso objetiva de esofagite, sua sensibilidade a estímulos quími-
demonstra a necessidade de se definir, com base em expe- cos e mecânicos está reduzida, de acordo com estudo recen-
riência prospectivamente desenhada e controlada, o papel te 185. Alguns pacientes obtêm alívio sintomático pelo uso
eventual desse procedimento, em grupos seletos de pacien- de nitratos, e bloqueadores beta-adrenérgicos ou dos ca-
tes chagásicos refratários, pelo menos como abordagem nais de cálcio, mas a resposta individual é imprevisível.
temporária, talvez como passo intermediário para adoção
de condutas mais radicais e potencialmente mais efetivas, Tratamento dos distúrbios de ritmo - O tratamento de
como o transplante 7. bradiarritmias sintomáticas é similar ao recomendado para
outras cardiomiopatias, geralmente baseado no implante de
Prevenção de complicações tromboembólicas - Existe marcapasso permanente. Todavia, não há evidências con-
apenas escassa informação sistematizada sobre prevenção clusivas para respaldar esta ou qualquer outra opção tera-
de fenômenos tromboembólicos em pacientes chagásicos pêutica na cardiopatia chagásica 7.
apresentando trombos murais ou aneurisma apical 7. Em 65 Indicações preferenciais para inserção do marcapasso
portadores desta última lesão estudo de seguimento por são a disfunção do nó sinusal e o BAV completo 186. O bene-
período mediando de 19 a 176 meses documentou 17 episó- fício desta estratégia terapêutica é assumido como poten-
dios de embolia em 14 pacientes (24,5%) 181. Esses pacientes cial com base em evolução clínica aparentemente superior
também apresentavam IC congestiva, tendo 11 deles faleci- de grupos assim tratados, comparativamente à história na-
dos durante o tempo de observação do estudo. Em oito ca- tural de outros pacientes em que esse tratamento não foi
sos a causa mortis foi diretamente ligada à IC e em três a possível 187,188. Outro aspecto relevante neste contexto refe-
embolia cerebral. re-se à freqüente associação de arritmia ventricular comple-
Outro estudo de pequenas dimensões populacionais xa e distúrbios da condução atrioventricular. Embora não
focalizou a contribuição específica da cardiopatia chagásica haja também evidência conclusiva para apoiá-la a estratégia
como causa de embolia em 69 pacientes com acidentes usual em tais casos consiste no implante “profilático” de
vasculares cerebrais tratados em região sul-americana marcapasso artificial e concomitante terapêutica anti-
endêmica 182. Entre 13 pacientes com cardiopatia dilatada arrítmica farmacológica.

258
Arq Bras Cardiol Marin-Neto e cols
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

Em pacientes assintomáticos com ectopia ou TVNS anatômica e eletrofisiologicamente 194. Resultados inci-
nenhuma estratégia antiarrítmica parece prover elevação da pientes com esta estratégia parecem indicar sucesso em até
taxa de sobrevivência 7. Carece-se de informação adequada 60% dos casos assim selecionados 194.
sobre este relevante aspecto clínico, apenas dois ensaios Em casos de taquicardia ventricular monomórfica,
clínicos de moderada amplitude, randomizados, tendo in- indutível, hemodinamicamente bem tolerada e com circuito
cluído pacientes chagásicos, para testar os efeitos do trata- de reentrada bem definido, pode-se tentar ablação por
mento com amiodarona 189,190. radiofreqüência após a introdução percutânea de cateteres
O estudo GESICA (Grupo de Estudio de la Sobrevida com ponta dirigível 195-199. Experiência com esse método, uti-
en la Insuficiencia Cardiaca en Argentina) 189 concluiu, lizando a via endocárdica para ablação, mostrou que 4 (27%)
após dois anos de seguimento, que doses baixas de de 15 pacientes tornavam-se curados da taquicardia
amiodarona produziam redução de mortalidade e de hospi- ventricular 195. Em outros 5 (33%) houve modificação do cir-
talização em pacientes com IC grave, independente da cuito da taquicardia, e o procedimento não teve êxito nos
ocorrência de arritmia ventricular complexa. Desafortunada- demais (40%). Medicações antiarrítmicas continuaram a ser
mente, o contingente de pacientes chagásicos foi bastante usadas em 14 (93%) pacientes. Durante seguimento de dois
inexpressivo (48 entre total de 516 casos), tornando imprati- anos, as taxas de recorrência da arritmia e de mortalidade
cável a análise específica desse subgrupo. foram significativamente diminuídas nos pacientes em que
Encontra-se em andamento estudo multicêntrico, a taquicardia foi suprimida ou atenuada pelo uso da
randomizado, controlado, para avaliar o impacto da amioda- radiofreqüência, comparativamente ao grupo em que ocor-
rona na sobrevivência de pacientes (inclusive chagásicos) reu insucesso. Todavia, outro estudo de ablação endo-
com disritmia ventricular não acompanhada de sintomas 190. cárdica com radiofreqüência ou corrente contínua de baixa
Em sua fase piloto, este ensaio incluiu 127 pacientes (24 com
energia, executado em 24 pacientes, mostrou que, embora
DC) portadores de FE média de VE <35%, e batimentos
supressão ou modificação do circuito da taquicardia fosse
ectópicos ventriculares muito freqüentes, ou em salvas, ou
alcançado em 19 (79%) dos casos, o êxito clinicamente com-
multiformes, sem sintomas concomitantes. Os resultados
provado do procedimento era obtido apenas em 4 (17%),
preliminares após 12 meses de seguimento mostraram
durante seguimento de 26±21 meses 196. Além disso, somen-
significante redução da incidência de MS no grupo tratado
te 2 (8%) pacientes puderam ter suspensa toda medicação
com amiodarona (7,0% vs 20,4%). A respeito deste estudo
deve-se frisar que o seguimento foi conseguido em apenas antiarrítmica, enquanto houve necessidade de incorpora-
106 pacientes, por excessiva taxa de abandonos (16%), difi- ção de novos princípios farmacológicos de tratamento em
cultando a análise dos resultados. Portanto, aguarda-se a outros 4 (17%) pacientes. Dessa forma, como só pode ser
finalização deste estudo, para conclusões sobre o uso de utilizado em grupos bastante selecionados de pacientes, e
amiodarona neste grupo selecionado de pacientes. 90% deles ainda requerem medicações antiarrítmicas após
Não há relatos de estudos prospectivamente conduzi- ablação por radiofreqüência endocárdica, este procedimen-
dos e controlados sobre o tratamento farmacológico de pa- to deve ser encarado como forma terapêutica ancilar 197.
cientes chagásicos com TVS mas hemodinamicamente bem Trabalhos mais recentes sugerem que algum progres-
tolerada. A despeito desta limitação, tais pacientes são geral- so possa ser obtido com ablação realizada após mapea-
mente tratados de forma empírica com fármacos da classe III - mento eletrofisiológico por novas técnicas de abordagem,
amiodarona 1g/dia por 10-14 dias, e depois manutenção com através do sistema venoso coronário 198 ou mediante pun-
200-600mg como doses diária 191 ou sotalol (320mg/dia) após ção transtorácica e pericárdica, para identificação de circui-
estudo eletrofisiológico diagnóstico 192. É oportuno salientar tos epicárdicos de taquicardia que possam ser cauterizados
que a efetividade desse tratamento empírico com amio- pela emissão de radiofreqüência 199. Nesta última pesquisa
darona é bastante influenciada pelo grau de disfunção encontrou-se alta prevalência desses circuitos epicárdicos
ventricular esquerda. Assim, as taxas de mortalidade após de reentrada, responsáveis pela taquicardia ventricular. De
um ano foram de 0 e 40%, respectivamente para pacientes 10 casos sucessivos em que esse mapeamento epicárdico
com classes I-II e III-IV da NYHA; de forma similar, a foi efetuado, conseguiu-se eliminar a taquicardia em todos
recorrência de taquicardia ventricular no mesmo período, os seis pacientes em que a ablação foi tentada por essa mes-
para cada um desses grupos tratados com amiodarona foi ma via de abordagem 199. Isso contrastou com o insucesso
respectivamente de 30 e 100% 42,191. eletrofisiológico e clínico registrado nos outros quatro pa-
Quando há risco elevado de MS pela detecção de cientes, nos quais, embora o mapeamento fosse feito pela
taquiarritmias ventriculares sintomáticas, depreende-se, via epicárdica, a ablação foi tentada pela técnica de aborda-
também empiricamente, que haja benefício potencial asso- gem endocárdica.
ciado ao implante de um cardioversor/desfibrilador automá- Estes resultados encorajadores demonstram a clara
tico 8,193; esta conduta, obviamente, tem aplicação limitada necessidade de pesquisa para expandir a experiência inicial
por restrições econômicas no momento atual. Pode-se indi- com estes novos métodos, no sentido de se definir seu po-
car aneurismectomia ou ablação criocirúrgica, em casos tencial relativo ao controle da taquicardia ventricular e redu-
selecionados de refratariedade ao tratamento farma- ção da mortalidade decorrente em pacientes chagásicos
cológico, quando lesões estruturais são bem definidas crônicos.

259
Marin-Neto e cols Arq Bras Cardiol
Cardiopatia chagásica volume 72, (nº 3), 1999

Sumarizando, as estratégias de tratamento farma- vel deveria ser primariamente considerada como indicação
cológico, baseadas em cardiologia intervencionista percu- para implante de desfibrilador/cardioversor automático. Mé-
tânea, ou mesmo cirúrgicas, para tratamento da disritmia todos de ablação intervencionista com cateteres e técnicas
ventricular na CCC, são todas empíricas, e ainda não funda- de correção cirúrgica devem ser considerados como procedi-
mentadas em experiência extensa, prospectivamente dese- mentos investigacionais, a serem empregados em pacientes
nhada e controlada 7. Bradiarritmias sintomáticas são usual- com boa tolerância durante a taquicardia ventricular. Pacien-
mente tratadas mediante inserção de marcapasso cardíaco tes com ectopia ou mesmo TVNS e assintomática, não de-
artificial. Taquicardia ventricular hemodinamicamente instá- vem, em princípio, receber tarapêutica antiarrítmica 200.

Referências

1. Guhl F, Jaramillo C, Yockteng R, Vallejo GA, Cardenas-Arroyo F -Trypanosoma with reactivation of Chagas’disease causing cardiac disease in three patients. Clin
cruzi DNA in human mummies. Lancet 1997: 10; 349: 1370. Infect Dis 1998; 26: 177-9.
2. Adler S - Darwin’s illness. Nature 1959; 184: 1102-3. 24. Ferreira MS, Nishioka S de A, Silvestre MT, Borges AS, Nunes-Araujo FR,
3. Chagas C - The discovery of Trypanosoma cruzi and of American Trypanosomiasis. Rocha A - Reactivation of Chagas’ disease in patients with AIDS: report of three
Mem Inst Oswaldo Cruz 1922; 15: 1. new cases and review of the literature. Clin Infect Dis 1997; 25: 1397-400.
4. Ming M, Ewen ME, Pereira ME, et al - Trypanosome invasion of mammalian cells 25. Sartori AM, Lopes MH, Benvenuti LA, et al - Reactivation of Chagas’ disease in
requires activation of the TGF beta signaling pathway. Cell 1995; 82: 287-9. a human immunodeficiency virus-infected patient leading to severe heart disease
5. Schmunis GA, Zicker F, Moncayo A - Interruption of Chagas’ disease transmission with a late positive direct microscopic examination of the blood. Am J Trop Med
through vector elimination. Lancet 1996; 348: 1171. Hyg 1998; 59: 784-6.
6. Wanderley DMV, Corrêa FMA - Epidemiology of Chagas’ heart disease. São 26. Parada H, Carrasco HA, Añez N, Fuenmayor C, Inglessis I - Cardiac involvement
Paulo Med J 1995; 113: 742-9. is a constant finding in acute Chagas’ disease: a clinical, parasitological and
7. Marin-Neto JA, Simões MV, Maciel BC - Specific diseases: cardiomyopathies and histopathological study. Int J Cardiol 1997; 60: 49-54.
pericardial diseases. Other cardiomyopathies. In: Yusuf S, Cairns J, Camm J, Fallen 27. Dias JCP - Cardiopatia chagásica: História Natural. In: Cançado JR, Chuster M,
E, Gersh BJ, eds. - Evidence Based Cardiology. London, GB: BMJ Books, Brit eds. Cardiopatia Chagásica. Belo Horizonte, MG: Fundação Carlos Chagas de
Med Association, 1998: 744-61. Pesquisa Médica, 1985: 99-113.
8. Hagar JM, Rahimtoola SH - Chagas’ heart disease in the United States. N Engl J 28. Dias JCP - The indeterminate form of human chronic Chagas’ disease. A clinical
Med 1991; 325: 763-8. epidemiological review. Rev Soc Bras Med Trop 1989; 22: 147-56.
9. Schmunis GA - Trypanosoma cruzi, the etiologic agent of Chagas disease: 29. Zicker F, Smith PG, Almeida Netto JC, Oliveira RM, Zicker EMS- Physical
status of blood supply in endemic and nonendemic countries. Transfusion 1991; activity, opportunity for reinfection, and sibling history of heart disease as risk
31: 547-57. factors for Chagas’ cardiopathy. Am J Trop Med Hyg 1990; 43: 498-505.
10. Schofield CJ, Dias JCP - A cost benefit analysis of Chagas disease control. Mem 30. Macedo V - Forma indeterminada da doença de chagas - J Bras Med 1980; 38: 34-40.
Inst Oswaldo Cruz 1991; 86: 285-95. 31. Forichon E - Contribuition aux estimations de morbidité et de mortalité dans la
11. Hamerschlak N, Pasternak J, Amato Neto V, et al - Chagas’ disease: an algorithm maladie de Chagas (Tèse Univers.). Toulouse, France: Paul-Sabatier, 1974: 47p.
for donor screening and positive donor counseling. Rev Soc Bras Med Trop 32. Puigbó JJ, Rhode JRN, Barrios HG, Yépez CG - A 4-year follow-up study of a
1997; 205-9. rural community with endemic Chagas’ disease. Bull. World Health Organ 1968;
12. Salles NA, Sabino EC, Cliquet MG, et al - Risk of exposure to Chagas’ disease 39: 341-8.
among seroreactive Brazilian blood donors. Transfusion 1996; 36: 969-73. 33. Mota EA, Guimarães AC, Santana OO, Sherlock I, Hoff R, Weller TH - A nine
13. Ramirez LE, Lages-Silva E, Pianetti GM, Rabelo RM, Bordin JO, Moraes-Souza year prospective study of Chagas’ disease in a defined rural population in
H - Prevention of transfusion-associated Chagas’ disease by sterilization of northeast Brazil. Am J Trop Med 1990; 42: 429-40.
Trypanosoma cruzi-infected blood with gentian violet, ascorbic acid, and light. 34. Dias JCP, Kloetzel K - The prognostic value of the electrocardiographic features
Transfusion 1995; 35: 226-30. of chronic Chagas’ disease. Rev Inst Med Trop São Paulo 1968; 10: 158-62.
14. Acquatella H, Catalioti F, Gomez-Mancebo JR, Davalos V, Villalobos L - Long- 35. Maguire JH, Mott KE, Lehman JS, et al - Relationship of electrocardiographic
term control of Chagas disease in Venezuela: effects on serologic findings, abnormalities and seropositivity to Trypanosoma cruzi within a rural
electrocardiographic abnormalities, and clinical outcome. Circulation 1987; 76: community in Northeast Brazil. Am Heart J 1983; 105: 287-94.
556-62. 36. Coura JR, Abreu LL, Pereira JB, Willcox HP - Morbidade da doença de chagas.IV.
15. Basombrio MA, Schofield CJ, Rojas CL, del Rey EC - A cost-benefit analysis of Estudo longitudinal de dez anos em Pains e Iguatama, Minas Gerais. Mem Inst
Chagas’disease control in north-western Argentina. Trans R Soc Trop Med Hyg Oswaldo Cruz 1985; 80: 73-80.
1998; 92: 137-43. 37. Pereira JB, Cunha RV, Willcox HP, Coura JR - Development of chronic human
16. Costa FC, Vitor RW, Antunes CM, Carneiro M - Chagas’ disease control Chagas’ cardiopathy in the hinterland of Paraíba, Brazil, in a 4.5 year period. Rev
programme in Brazil: a study of the effectiveness of 13 years of intervention. Bull Soc Bras Med Trop 1990; 23: 141-7.
World Health Organ 1998; 76: 385-91. 38. Pugliese C, Lessa I, Santos Filho A - Estudo da sobrevida na miocardite crônica
17. Dias JC, Schofield CJ - The control of the transmission by transfusion of Chagas’ de Chagas descompensada. Rev Inst Med Trop São Paulo 1976; 18: 191-201.
disease in the southern cone initiative. Rev Soc Bras Med Trop 1998; 31: 373-83. 39. Espinosa R, Carrasco HA, Belandria F, et al - Life expectancy analysis in patients
18. Marsden PD - The control of Latin American trypanosomiasis. Rev Soc Bras Med with Chagas’ disease: prognosis after one decade (1973-1983). Int J Cardiol
Trop 1997; 30: 521-7. 1985; 8: 45-56.
19. Ciaravolo RM, Domingos M de F, Wanderley DM, et al - Autochthonous acute 40. Mady C, Cardoso RHA, Barreto ACP, Luz PL, Bellotti G, Pileggi F - Survival
Chagas’disease in São Paulo State, Brazil: epidemiological aspects. Rev Inst and predictors of survival in congestive heart failure due to Chagas’ cardio-
Med Trop São Paulo 1997; 39: 171-4. myopathy. Circulation 1994; 90: 3098-102.
20. Ianni BM, Mady C - The indeterminate form of Chagas’disease. Myths vs facts. 41. de-Paola AA, Gomes JA, Terzian AB, Miyamoto MH, Martinez Fo EE - Ventri-
Arq Bras Cardiol 1997; 68: 147-8. cular tachycardia on exercise testing is significantly associated with sudden
21. Ribeiro AL, Rocha MO - Indeterminate form of Chagas’ disease: considerations cardiac death in patients with chronic chagasic cardiomyopathy and ventricular
about diagnosis and prognosis. Rev Soc Bras Med Trop 1998; 31: 301-14. arrhythmias. Br Heart J 1995; 74: 293-5.
22. Simões MV, Soares FA, Marin-Neto JA - Severe myocarditis and esophagitis, 42. Marin-Neto JA, Maciel BC, Simões MV - Chagas’ heart disease. In: Rose BD,
during reversible long standing Chagas’disease recrudescence in immuno- Podrid PJ, Gersh BJ, eds. - UpToDate in Cardiovascular Medicine, a CD-ROM
compromised host. Int J Cardiol 1995; 49: 271-3. Textbook. Vol 6. Wellesley, MA, USA: UpToDate in Medicine, Inc., February 1998.
23. Sartori AM, Shikanai-Yasuda MA, Amato Neto V, Lopes MH - Follow-up of 18 43. Laranja FS, Dias E, Nobrega G, Miranda A - Chagas’disease: a clinical,
patients with human immunodeficiency virus infection and chronic Chagas’disease, epidemiologic, and pathologic study. Circulation 1956; 14: 1035-59.

260
Arq Bras Cardiol Marin-Neto e cols
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

44. Lopes ER, Chapadeiro E, Almeida HO, Rocha A, Rocha A - Contribuição ao alta resolución y variabilidad de la frecuencia cardiaca en pacientes chagásicos
estudo da anatomia patológica dos corações de chagásicos falecidos subi- crónicos. Arch Inst Cardiol Méx 1997; 67: 277-85.
tamente. Rev Soc Bras Med Trop 1975; 9: 269-82. 74. Kalil Filho R, de Albuquerque CP - Magnetic resonance imaging in Chagas’
45. Garzon SAC, Lorga AM, Ferreira JGS, et al - Cardiopatia chagásica sem sinais heart disease - Rev Paul Med 1995; 113: 880-3.
clínicos de cardiopatia. Arq Bras Cardiol 1975; 28: 232-42. 75. Marin-Neto JA, Gallo L Jr, Manço JC, Rassi A, Amorim DS - Mechanisms of
46. Barreto ACP, Arteaga-Fernandez E - RV endomyocardial biopsy in chronic tachycardia on standing: studies in normal individuals and in chronic Chagas’
Chagas’disease. Am Heart J 1986; 111: 307-12. heart patients. Cardiovasc Res 1980; 14: 541-50.
47. Marin-Neto JA, Marzullo P, Marcassa C, et al - Myocardial perfusion defects in 76. Sousa ACS, Marin-Neto JA, Maciel BC, Gallo Jr L, Amorim DS -Cardiac
chronic Chagas’ disease. Assessment with thallium-201 scintigraphy. Am J parasympathetic impairment in gastrointestinal Chagas’ disease. Lancet 1987;
Cardiol 1992; 69: 780-4. I 8539: 985.
48. Barreto ACP, Ianni BM - The undetermined form of Chagas’ heart disease: 77. Amorim DS, Marin-Neto JA - Functional alterations of the autonomic nervous
concept and forensic implications. São Paulo Med J 1995; 113: 797-801. system in Chagas’ heart disease. São Paulo Med J 1995; 113: 772-83.
49. Oliveira JSM - A natural human model of intrinsic heart nervous system 78. Marin-Neto JA - Etiology and pathogenesis of Chagas’disease. In: Rose BD,
denervation: Chagas’cardiopathy. Am Heart J 1985; 110: 1092-8. Podrid PJ, Gersh BJ, eds. - Uptodate in Cardiovascular Medicine, a CD-ROM
50. Oliveira JSM, Araújo RRC, Mucillo G - Cardiac thrombosis and throm- Textbook. Vol.6. Wellesley, MA, USA: UpToDate in Medicine, Inc., February
boembolism in chronic Chagas’ heart disease. Am J Cardiol 1983; 52: 147-51. 1998.
51. Prata A, Andrade Z, Guimarães AC - Chagas’ heart disease. In: Shaper AG, Hutt 79. Köberle F - Enteromegaly and cardiomegaly in Chagas’ disease. Gut 1963; 4:
MSR, Fejfar Z, eds. - Cardiovascular Disease in the Tropics. London: British 399-405.
Medical Association, 1974: 264-81. 80. Mott KE, Hagstrom JWC - The pathologic lesions of the cardiac autonomic
52. Rassi Jr A, Rassi AG, Rassi SG, et al - Arritmias ventriculares na doença de nervous system in chronic Chagas’ myocarditis. Circulation 1965; 31: 273-86.
Chagas. Particularidades diagnósticas, prognósticas e terapêuticas. Arq Bras 81. Alcântara FG - Denervação dos gânglios cardíacos intramurais e cervico-
Cardiol 1995; 65: 377. torácicos na moléstia de Chagas. Rev Goiana Med 1970; 16: 159-77.
53. Marin-Neto JA, Marzullo P, Ayres-Neto EM, et al - Myocardial perfusion 82. Köberle F - Chagas’ heart disease and Chagas’ syndromes: the pathology of
disturbances detected by 99mTc-microspheres in Chagas’ patients with American trypanosomiasis. Adv Parasitol 1968; 6: 63-116.
angiographically normal coronary arteries. Circulation 1995; 92: I-471. 83. Okumura M, Brito T, Pereira da Silva LH, et al - The pathology of experimental
54. Hammersmeister KE, Caeiro T, Crespo E, Palmero H, Gibson DG - Left ventricular Chagas’ disease in mice. I. Digestive tract changes with special reference to
wall motion in patients with Chagas’s disease. Br Heart J 1984; 51: 70-6. necrotizing arteritis. Rev Inst Med Trop São Paulo 1960; 2: 17.
55. Feit A, El-Sherif N, Korostoff S - Chagas’disease masquerading as coronary 84. Kumar R, Kline L, Abelman W - Experimental Trypanosoma cruzi myocarditis.
artery disease. Arch Intern Med 1983; 143: 144-5. Relative effects upon the right and left ventricles. Am J Pathol 1969; 57: 31.
56. Simões MV, Ayres-Neto EM, Santos JLA, et al - Síndromes anginóides agudas em 85. Teixeira ARL, Teixeira L, Santos-Buch CA - The immunology of experimental
portadores de Moléstia de Chagas: avaliação prospectiva de 7 casos. Rev Soc Chagas’ disease. IV. The production of lesions in rabbits similar to those of
Cardiol Est SP 1995; 5: 31. chronic Chagas’ disease in man. Am J Pathol 1975; 80: 163.
57. Ferreira AW, Avila SLM - Laboratory diagnosis of Chagas’ heart disease. São 86. Andrade ZA - The canine model of Chagas’ disease. Mem Inst Oswaldo Cruz
Paulo Med J 1995; 113: 767. 1984; 79(suppl): 77.
58. Degrave WM - Molecular diagnosis of Chagas disease. In: Wendel S, Brener Z, 87. Carrasco-Guerra HA, Palacios-Prü E, Scorza CD, et al - Clinical, histochemical
Camargo ME, Rassi A, eds. - Chagas Disease (American Trypanosomiasis): Its and ultrastructural correlation in septal endomyocardial biopsies from chronic
Impact on Transfusion and Clinical Medicine. São Paulo, Brazil: ISBT Brazil, chagasic patients: Detection of early myocardial damage. Am Heart J 1987; 113:
1992: 225. 716-24.
59. Britto C, Cardoso MA, Vanni CM, et al - Polymerase chain reaction detection of 88. Oliveira JSM, Oliveira JAM, Frederigue Jr U, Lima-Filho EC - Apical aneurysm
Trypanosoma cruzi in human blood samples as a tool for diagnosis and treatment of Chagas’s heart disease. Br Heart J 1981; 46: 432-7.
evaluation. Parasitology 1995; 110: 241-7. 89. Andrade ZA - The canine model of Chagas’ disease. Mem Inst Oswaldo Cruz
60. Montamat EE, De Luca D’ Oro GM, Gallerano RH, Sosa R, Blanco A - Characte- 1984; 79(suppl): 77.
rization of Trypanosoma cruzi populations by zymodemes: correlation with 90. Rossi MA - Patterns of myocardial fibrosis in idiopathic cardiomyopathies and
clinical picture. Am J Trop Med Hyg 1996; 55: 625-8. chronic Chagasic cardiopathy. Can J Cardiol 1991; 7: 287-94.
61. Garzon SAC, Lorga AM, Nicolau JC - Electrocardiography in Chagas’ heart 91. Lopes ER, Tafuri WL - Involvement of the autonomic nervous system in Chagas’
disease. São Paulo Med J 1995; 113: 802-13. heart disease. Rev Soc Bras Med Trop 1983; 16: 206.
62. Grupi CJ, Moffa PJ, Barbosa AS, et al - Holter monitoring in Chagas’ heart 92. Mott KE, Hagstrom JWC - The pathologic lesions of the cardiac autonomic
disease. São Paulo Med J 1995; 113: 835-40. nervous system in chronic Chagas’ myocarditis. Circulation 1965; 31: 273-86.
63. Maciel BC, Almeida-Filho OC, Schmidt A, Marin-Neto JA - Ventricular function 93. Baroldi G, Oliveira SJ, Silver MD - Sudden and unexpected death in clinically
in Chagas’ heart disease. São Paulo Med J 1995; 113: 814-20. “silent” Chagas’disease. A hypothesis. Int J Cardiol 1997; 58: 263-8.
64. Simões MV, Ayres Neto EM, Attab dos Santos JL, et al - Detecção de isquemia 94. Carrasco HA, Guerrero L, Parada H, Molina C, Vegas E, Chuecos R - Ventricular
miocárdica em chagásicos crônicos com precordialgia atípica pelos testes de arrhythmias and left ventricular myocardial function in chronic chagasic patients.
esforço e Holter. Arq Bras Cardiol 1993; 60: 315. Int J Cardiol 1990; 28: 35-41.
65. Sgammini HO, Kuschnir E, Evequoz MC, Marin-Neto JA - Evaluation of severe 95. Sosa E, Scanavacca M, Marcial MB, et al - Tratamento cirúrgico das arritmias
ventricular arrhythmias in chronic Chagas’ heart disease by effort test and Holter cardíacas. In: Cruz Filho FES, Maia IG, eds. - Eletrofisiologia Clínica e Interven-
monitoring. Braz J Med Biol Res 1985; 18: 285. cionista das Arritmias Cardíacas. Rio de Janeiro: Revinter, 1997: 443-54.
66. Gallo Jr L, Marin-Neto JA, Manço JC, Rassi A, Amorim DS - Abnormal heart rate 96. Amorim DS, Manço JC, Gallo L Jr, Marin-Neto JA - Chagas’ heart disease as an
responses during exercise in patients with Chagas’disease. Cardiology 1975; experimental model for studies of cardiac autonomic function in man. Mayo Clin
60: 147-62. Proc 1982; 57: 48-60.
67. Gallo Jr L, Morelo-Filho J, Maciel BC, Marin-Neto JA, Martins LEB, Lima-Filho 97. Machado CR, Caliari MV, de Lana M, Tafuri WL - Heart autonomic innervation
EC - Functional evaluation of sympathetic and parasympathetic system in during the acute phase of experimental American trypanosomiasis in the dog. Am
Chagas’ disease using dynamic exercise. Cardiov Res 1987; 21: 922-7. J Trop Med Hyg 1998; 59: 492-6.
68. Marin-Neto JA, Marzullo P, Sousa ACS, et al - Radionuclide angiographic 98. Camargo ER, Haertel LR, Machado CR - Preganglionic fibres of the adrenal
evidence for early predominant right ventricular involvement in patients with medulla and cervical sympathetic ganglia:differential involvement during
Chagas’ disease. Can J Cardiol 1988; 4: 231-6. experimental American trypanosomiasis in rats. Int J Exp Pathol 1996; 77: 115-24.
69. Marin-Neto JA, Bromberg-Marin G, Pazin-Filho A, Simões MV, Maciel BC - Cardiac 99. De Souza MM, Andrade SG, Barbosa AA Jr, Macedo dos Santos RT, Ferreira
autonomic impairment and early myocardial damage involving the right ventricle are Alves VA, Andrade ZA - Trypanosoma cruzi strains and autonomic nervous
independent phenomena in Chagas’ disease. Int J Cardiol 1998; 65: 261-9. system pathology in experimental Chagas disease. Mem Inst Oswaldo Cruz
70. De Paola AAV, Horowitz LN, Miyamoto MH, et al - Angiographic and electro- 1996; 91: 217-24.
physiologic substrates of ventricular tachycardia in chronic chagasic 100. Meneghelli UG - Chagas’disease: a model of denervation in the study of
myocarditis. Am J Cardiol 1990; 65: 360. digestive tract motility. Brazilian J Med Biol Res 1985; 18: 255-64.
71. Scanavacca M, Sosa EA - Electrophysiologic study in chronic Chagas’ heart 101. Ribeiro AL - Autonomic disfunction and ventricular arrhythmia in Chagas
disease. São Paulo Med J 1995; 113: 841-50. disease patients without apparent cardiac involvement. Rev Soc Bras Med Trop
72. Moraes AP, Moffa PJ, Sosa EA, et al - Signal-averaged electrocardiogram in 1997; 30: 257-8.
chronic Chagas’ heart disease. São Paulo Med J 1995; 113: 851-7. 102. Dávila DF, Inglessis G, Dávila CAM - Chagas’ heart disease and the autonomic
73. Carrasco-GH, Jugo D, Medina R, Castillo C, Miranda P - Electrocardiograma de nervous system. Int J Cardiol 1998; 66: 123-7.

261
Marin-Neto e cols Arq Bras Cardiol
Cardiopatia chagásica volume 72, (nº 3), 1999

103. Marin-Neto JA - Cardiac dysautonomia and pathogenesis of Chagas’ heart pathology of minety-one biopsies taken from the cardia. Rev Inst Med Trop São
disease. Int J Cardiol 1998; 66: 129-31. Paulo 1959; 1: 195-206.
104. Giorgi MCP - Avaliação cintilográfica da inervação cardíaca simpática e da 130. Jörg ME - Tripanosomiasis cruzi: anarquia angiotopográfica por desca-
perfusão miocárdica na doença de Chagas (Tese de Doutorado). São Paulo: pilarizacion mesenquimoreactiva, cofactor patogénico de la miocardiopatia
Faculdade de Medicina da USP, 1997: 89p. crónica. Pren Med Argent 1974; 61: 94-106.
105. Simões MV, Pintya AO, Sarabanda AV, Pazin-Filho A, Maciel BC, Marin-Neto JA 131. Okamura M, Brito T, Pereira-da-Silva LH, Carvalho-da-Silva A, Correa-Netto
- Reduced [123I]MIBG uptake precedes wall motion impairment in Chagas’ A - The pathology of experimental Chagas’ disease in mice: digestive tract
disease. J Nucl Cardiol 1999 (no prelo). changes, with reference to necrotizing arterites. Rev Inst Med Trop São Paulo
106. Simões MV, Pintya AO, Sarabanda AV, Maciel BC, Bromberg-Marin G, Marin- 1960; 2: 17-28.
Neto JA - Assessment of cardiac sympathetic activity in Chagas’ cardio- 132. Factor SM, Sho S, WittnerM, Tanowitz H - Abnormalities of the coronary
myopathy using [123]MIBG scintigraphy. J Nucl Cardiol 1999 (no prelo). microcirculation in acute murine Chagas’ disease. Am J Trop Med Hyg 1985; 34:
107. Ribeiro dos Santos R, Marquez, JO, Von Gal Furtado CC, Ramos de Oliveira JC, 246-53.
Martins AR, Köberle F - Antibodies against neuros in chronic Chagas’ disease. 133. Rossi MA, Gonçalves S, Ribeiro-dos-Santos R - Experimental Trypanosoma
Tropenmed Parasitol 1979; 30: 19-23. cruzi cardiomyopathy in BALB/c mice: the potential role of intravascular platelet
108. Sterin-Borda LJ, Borda ES - Participation of autonomic nervous system in the aggregation in its genesis. Am J Pathol 1984; 114: 209-16.
pathogenesis of Chagas’ disease. Acta Physiol Pharmacol Thera Latinoam 1994; 134. Rossi MA, Carobrez SG - Experimental Trypanosoma cruzi cardiomyopathy in
44: 109-23. BALB/c mice: histochemical evidence of hypoxic changes in the myocardium. Br
109. Borda ES, Sterin-Borda L - Antiadrenergic and muscarinic receptor antibodies in J Exp Pathol 1985; 66: 155-60.
Chagas’ cardiomayopathy. Int J Cardiol 1996; 54: 149-56. 135. Morris SA, Weiss LM, Factor S, Bilezikian JP, Tanowitz HB, Wittner M - Verapamil
110. Cremaschi G, Zwirner NW, Gorel B, et al - Modulation of cardiac physiology by amiliorates clinical, pathological and biochemical manifestations of experimental
an anti-Trypanosoma cruzi monoclonal antibody after interaction with chagasic cardiomyopathy in mice. J Am Coll Cardiol 1989; 14: 782-9.
myocardium. FASEB J 1995: 9: 1482-8. 136. Kuschnir E, Épelman M, Kustich F, Santarnarina N, Podio RB - Valoración del
111. Oliveira SF, Pedrosa RC, Nascimento JH, Campos de Carvalho AC, Masuda MO fluxo miocárdico con Rb 86, en pacientes con cardiopatia chagásica,con
- Sera from chronic chagasic patients with complex cardiac arrhythmias depress insuficiência coronaria y en controles normales. Parte 2: respuesta al ejercicio y
electrogenesis and conduction in isolated rabbit hearts. Circulation 1997; 16: a la cardiotonificación aguda. Arq Bras Cardiol 1974; 27: 721-32.
2031-7. 137. Rotondaro D, Castelletti LJ, Rios V, et al - Cambios en las imágenes de perfusión
112. Ramos SG, Matturri L, Rossi L, Rossi MA - Lesions of mediastinal paraganglia in miocárdica con talio 201 en pacientes com miocardiopatía chagásica crônica,
chronic chagasic cardiomyopathy: cause of sudden death? Am Heart J 1996; despúes del tratamiento con dipiridamol. Arq Bras Cardiol 1979; 47: 129-36.
131: 417-20. 138. Meneghelo RS, Thom AF, Martins LRF - Aspectos da cintilografia miocárdica.
113. Higuchi ML, DeBrito T, Reis MM, et al - Correlation between T.cruzi parasitism In: Cançado JR, Chuster M, eds. Cardiopatia chagásica. Belo Horizonte:
and myocardial inflammatory infiltrate in human chronic chagasic myocarditis: Fundação Carlos Chagas 1985: 184-7.
light microscopy and immunohistochemical findings. Cardiovasc Pathol 1993; 139. Kuschnir E, Kustich F, Epelman M, Podio RB - Efectos del dipiridamol sobre Ia
2: 101-6. funcion ventricular en pacientes con miocardiopatia chagásica crônica. Estudios
114. Brener Z - O parasito: relações hospedeiro-parasito. In: Brener Z, Andrade ZA, con camara gamma computada. Rev Fed Arg Cardiol 1981; 10: 3-12.
eds. - Trypanosoma cruzi e Doença de Chagas. Rio de Janeiro: Guanabara 140. Kuschnir E, Sgammini H, Castro R, Evequoz C, Ledesma R - Miocardiopatía
Koogan, 1979: 1-41. chagásica crônica: effectos del dipiridamol sobre la dinámica ventricular. Arq
115. Bellotti G, Bocchi EA, Moraes AV, et al - In vivo detection of Trypanosoma cruzi Bras Cardiol 1983; 41: 373-8.
antigens in hearts of patients with chronic Chagas’ disease. Am Heart J 1996; 141. Kuschnir E, Kustich F, Epelman MN, Podio RB - Estudios del flujo miocárdico
131: 301-7. en pacientes com insuficiência coronaria y en pacientes con cardiopatía chagásica
116. Jones EM, Colley DG, Tostes S, Lopes ER, Vnencak-Jones CL, McCurley TL - A crônica. Respuesta a la administración de dinitrato de isosorbide y dipiridamol.
Trypanosoma cruzi DNA sequence amplified from inflammatory lesions in human Pren Med Arg 1983; 60: 637-50.
chagasic cardiomyopathy. Trans Assoc Am Physicians 1992; 105: 182-9. 142. Hagar JM, Tubau JF, Rahimtoola SH - Chagas’ heart disease in USA: Thallium
117. Avila HA, Sigman DS, Cohen LM, Millikan RC, Simpson L - Polymerase chain abnormalities mimic coronary artery disease. Circulation 1991; 84(suppl): II-631.
reaction amplification of Trypanosoma cruzi kinetoplast minicircle DNA 143. Torres FW, Acquatella H, Condado J, Dinsmore R, Palacios I - Coronary vascular
isolated from whole blood lysates: diagnosis of chronic Chagas’ disease. Mol reactivity is abnormal in patients with Chagas’ heart disease. Am Heart J 1995;
Biochem Parasitol 1991; 48: 211-21. 129: 995-1001.
118. Wincker P, Telleria J, Bosseno MF, et al - PCR-based diagnosis for Chagas’ 144. Simões MV, Ayres-Neto EM, Attab-Santos JL, Maciel BC, Marin-Neto JA -
disease in Bolivian children living in an active transmission area: comparison Chagas’ heart patients without cardiac enlargement have impaired epicardial
with conventional serological and parasitological diagnosis. Parasitology coronary vasodilation but no vasotonic angina. J Am Coll Cardiol 1996; 27:
1997; 114: 367-73. 394A-5A.
119. Higuchi ML - Chronic chagasic cardiopathy: the product of a turbulent host- 145. Andrade ZA, Andrade SG, Correa R, Sadigursky M, Ferrans VJ - Myocardial
parasite relationship. Rev Inst Med Trop São Paulo 1997; 39: 53-60. changes in acute Trypanosoma cruzi infection. Am J Pathol 1994; 144: 1403-11.
120. Cunha-Neto E, Kalil J - Autoimmunity in Chagas’ heart disease. São Paulo Med 146. Cossio PM, Laguens RP, Diez C, Szarfman A. Segal A, Arana RM - Antibodies
J 1995; 113: 757-66. reacting to the plasma membrane of striated muscle and endothelial cells.
121. Higuchi ML, Ries MM, Aiello VD, et al - Association of an increase in CD8+ T Circulation 1974; 50: 1252-9.
cells with the presence of Trypanosoma cruzi antigens in chronic human 147. Santos-Buch C, Acosta A, Zweerink H - Primary muscle disease: definition of a 25
chagasic myocarditis. Am J Trop Med Hyg 1997; 56: 485-9. kDa polypeptide myopathic specific Chagas antigen. Clin Immunol Immun-
122. Fragata-Filho AA, Dias da Silva MA, Boainaim E - Ethiological treatment of opathol 1985; 37: 334-50.
acute and chronic Chagas’ heart disease. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 148. Acosta A, Santos-Buch C - Autoimmune myocarditis induced by Trypanosoma
1994; 4: 192-7. cruzi. Circulation 1985; 71: 1255-61.
123. Viotti R, Vigliano C, Armenti H, Segura E - Treatment of chronic Chagas’ disease 149. Bonfá E, Viana W, Barreto ACP, Yoshinari N, Cossermelli W - Autoantibodies in
with benznidazole: clinical and serologic evolution of patients with long-term Chagas’ disease: an antibody cross-reactive with human and Trypanosoma
follow-up. Am Heart J 1994; 127: 151-62. cruzi ribosomal proteins. J Immunol 1993; 150: 3917-23.
124. Apt W, Aguilera X, Arribada A, et al - Treatment of chronic Chagas’ disease with 150. Laguens RP, Argel MI, Chambo J, Storino R, Cabeza Meckert PM - Presence of
itraconazole and allopurinol. Am J Trop Med Hyg 1998; 59: 133-8. antiheart and antiskeletal muscle glycolipid autoantibodies in the sera of
125. Morris SA, Tanowitz HB, Wittner M, Bilezikian JP - Pathophysiological patients with chagasic cardiopathy. Can J Cardiol 1994; 10: 769-76.
insights into the cardiomyopathy of Chagas’ disease. Circulation 1990; 82: 151. Davies JM - Molecular mimicry: can epitope mimicry induce autoimmune disease
1900-9. ? Immunol Cell Biol 1997; 75: 113-26.
126. Rossi MA - Microvascular changes as a cause of chronic cardiomyopathy in 152. Rizzo LV, Cunha-Neto E, Teixeira A - Autoimmunity in Chagas’ disease: Specific
Chagas’ disease. Am Heart J 1990; 120: 233-6. inhibition of reactivity of CD4+ T cells against myosin in mice chronically
127. Torres CM - Miocitólise e fibrose do miocárdio na doença de Chagas. Mem Inst infected with Trypanosoma cruzi. Infect Immun 1989; 57: 2640.
Oswaldo Cruz 1960; 58: 161-82. 153. Santos RR, Rossi MA, Laus JL, Santana-Silva J, Savino W, Mengel J - Anti-CD4
128. Torres CM - Arterioloesclerose das finas ramificações arteriais do miocárdio abrogates rejection and reestablishes long-term tolerance to syngeneic newborn
(coronarite chagásica) e miocitólise focal do miocárdio na cardiopatia cha- hearts grafted in mice chronically infected with Trypanosoma cruzi. J Exp Med
gásica crônica. O Hospital 1958; 54: 19-34. 1992; 175: 29-39.
129. Brito T, Vasconcelos E - Necrotizing arteritis in megaesophagus. Histo- 154. Reis DD, Jones EM, Tostes S - Expression of major histocompatibility complex

262
Arq Bras Cardiol Marin-Neto e cols
volume 72, (nº 3), 1999 Cardiopatia chagásica

antigens and adhesion molecules in hearts of patients with chronic Chagas’ isolated conduction abnormalities in chronic Chagas’ disease. J Am Coll
disease. Am J Trop Med Hyg 1993; 49: 192-200. Cardiol 1998; 31(suppl C): 339C.
155. Levin MJ, Mesri E, Benarous R - Identification of major Trypanosoma cruzi 177. Pazin-Filho A, Almeida-Filho OC, Schmidt A, Simões MV, Marin-Neto JA,
antigenic determinants in chronic Chagas’ heart disease. Am J Trop Med Hyg Maciel BC - Prognostic implications of minor segmental wall motion abnor-
1989; 41: 530-8. malities in patients with Chagas’ disease. J Am Coll Cardiol 1998; 31(suppl C):
156. Cunha-Neto E, Duranti M, Gruber A, et al - Autoimmunity in Chagas’ disease 339C.
cardiopathy: biological relevance of a cardiac myosin-specificepitope cross- 178. Bocchi EA, Bellotti G, Mocelin AO, et al – Heart transplantation for chronic
reactive to an immunodominant Trypanosoma cruzi antigen. Proc Natl Acad Sci Chagas’ heart disease. Ann Thorac Surg 1996; 61: 1727-33.
1995; 92: 3541-5. 179. Jatene AD, Moreira LF, Stolf NA, et al - Left ventricular function changes after
cardiomyoplasty in patients with dilated cardiomyopathy. J Thorac Cardiovasc
157. Laucella SA, de Titto EH, Segura EL - Epitopes common to Trypanosoma cruzi
Surg 1991; 102: 132-8.
and mammalian tissues are recognized by sera from Chagas’ disease patients:
180. Moreira LF, Stolf NA, Braile DM, Jatene AD - Dynamic cardio-myoplasty in
prognosis value in Chagas’ disease. Acta Trop 1996; 62: 151-62.
South America. Ann Thorac Surg 1996; 61: 408-12.
158. Laderach D, Cerban F, Motran C, Vottero de Cima E, Gea S - Trypanosoma cruzi:
181. Albanesi-Filho FM, Gomes JB - O tromboembolismo em pacientes com lesão
the major cysteinyl proteinase (cruzipain) is a relevant immunogen of parasite apical da cardiopatia chagásica crônica. Rev Port Cardiol 1991; 10: 35-42.
acidic antigen (FIII). In J Parasitol 1996; 26: 1249-54. 182. Rey RC, Lepera SM, Kohler G, Monteverde DA, Sica RE - Cerebral embolism of
159. Motran CC, Cerban FM, Rivarola W, Iosa D, Vottero de Cima E- Trypanosoma cardiac origin. Medicina, Buenos Aires 1992; 52: 206-6.
cruzi: immune response and functional heart damage induced in mice by the main 183. Braga JC, Labrunie A, Villaça F, Nascimento E, Quijada L - Thromboembolism in
linear B-cell epitope of parasite ribosomal P proteins. Exp Parasitol 1998; 88: chronic Chagas’ heart disease. São Paulo Med J 1995; 113: 862-6.
223-30. 184. Simões MV, Bromberg-Marin G, Maciel BC, Marin-Neto JA - Exacerbated
160. Morrot A, Strickland DK, Higushi ML, Reis M, Pedrosa R, Scharfstein J - Human coronary artery constrictor responses and autonomic dysfunction in vasotonic
T cell responses against the major cysteine proteinase (cruzipain) of Trypa- angina: a comparative study with Chagas’ heart disease. J Am Coll Cardiol 1998;
nosoma cruzi: reole of the multifunctional alfa2-macroglobulin receptor in 31(suppl C): 340C.
antigen presentation by monocytes. Intern Immunol 1997; 6: 825-34. 185. Ejima FH, Dantas RO, Simões MV, Marin-Neto JA, Meneghelli UG - Intra-
161. Rizzo LV, Cunha-Neto E, Teixeira A - Autoimmunity in Chagas’disease: Specific esophageal balloon distension test in Chagas’disease patients with noncardiac
inhibition of reactivity of CD4+ T cells against myosin in mice chronically chest pain. Dig Dis Sci 1998; 43: 2567-71.
infected with Trypanosoma cruzi. Infect Immun 1989; 57: 2640. 186. Sosa EA, de Paola AAV, Martinelli M, et al - Recomendações do Departamento
162. Cunha-Neto E, Coelho VPC, Guilherme L, Fiorelli A, Stolf N, Kalil J - de Arritmias e Eletrofisiologia Clínica (DAEC) da Sociedade Brasileira de
Cardiologia para indicações de implante de marcapasso definitivo, escolha do
Autoimmunity in Chagas’disease: identification of cardiac myosin-B13
modo de estimulação e indicações para implante de desfibrilador-cardioversor
Trypanosoma cruzi protein crossreactive T cell clones in heart lesions of a
automático. Arq Bras Cardiol 1995; 64: 579-83.
chronic Chagas’cardiomyopathy patient. J Clin Invest 1996; 98: 1709-12.
187. Rassi A, Rassi Jr A, Faria GHDC, et al - História natural do bloqueio atrio-
163. Gorelik G, Cremaschi G, Borda E, Sterin-Borda L - Trypanosoma cruzi antigens
ventricular total de etiologia chagásica. Arq Bras Cardiol 1992; 59(suppl II): 191.
down-regulate T lymphocyte proliferation by muscarinic choinergic-receptor- 188. Lorga AM, Garzon SAC, Jacob JLB - Eletrograma do feixe de His na doença de
dependent release of PGE2. Acta Physiol Pharmacol Ther Latinoam 1998; 48: Chagas crônica: localização e evolução do bloqueio atrioventricular. In:
115-23. Davalos AR, ed. - Enfermedad de Chagas. La Paz: Editorial Los Amigos del
164. Cunha-Neto E, Rizzo LV, Albuquerque F, et al - Cytokine production profile of Libro, 1979: 433-52.
heart-infiltrating T cell in Chagas’disease cardiomyopathy. Braz J Med Biol Res 189. Doval HC, Nul DR, Grancelli HD, Perrone SV, Bortman GR, Curiel R -
1998; 31: 133-7. Randomized trial of low-dose amiodarone in severe congestive heart failure.
165. Andrade ALSS, Zicker F, Oliveira RM, et al - Randomised trial of efficacy of Lancet 1994; 344: 493-8.
benznidazole in treatment of early Trypanosoma cruzi infection. Lancet 1996; 190. Garguichevich JJ, Ramos JL, Gambarte A, et al - Effect of amiodarone therapy on
348: 1407-13. mortality in patients with left ventricular dysfunction and asymptomatic complex
166. Coura JR, de Abreu LL, Willcox HP, Petana W - Comparative controlled study ventricular arrhythmias: Argentine pilot study of sudden death and amiodarone
on the use of benznidazole, nifurtimox and placebo, in the chronic form of (EPAMSA). Am Heart J 1995; 130: 494-500.
Chagas’disease, in a field area with interrupted transmission. I. Preliminary 191. Scanavacca MI, Sosa EA, Lee JH, Bellotti G, Pileggi F - Terapêutica empírica com
evaluation. Rev Soc Bras Med Trp 1997; 30: 139-44. amiodarona em portadores de miocardiopatia chagásica crônica e taquicardia
167. Bocchi EA, Higuchi ML, Vieira NL, et al - Higher incidence of malignant ventricular sustentada. Arq Bras Cardiol 1990; 54: 367-71.
192. Gondin FAA, de Paola AAV, Silva RMFL, Metha N, Martinez Filho EE - Eficácia
neoplasms after heart transplantation for treatment of chronic Chagas’ heart
e tolerância ao sotalol em pacientes com taquiarritmias ventriculares sustentadas.
disease. J Heart Lung Transplant 1998; 17: 399-405.
Arq Bras Cardiol 1994; 62: 64.
168. Almeida DR, Carvalho AC, Branco JN, et al - Chagas’disease reactivation after
193. The Antiarrhythmics Versus Implantable Defibrillators (AVID) Investigators - A
heart transplantation: efficacy of allopurinol treatment. J Heart Lung Transplant
comparison of antiarrhythmic drug therapy with implantable defibrillators in
1996; 15: 988-92.
patients resuscitated from near-fatal sustained ventricular arrhythmias. N Engl J
169. Cerisola JA - Chemotherapy of Chagas’infection in man. Chagas’ Disease
Med 1997; 337: 1576-83.
Symposium Proceedings: 35-47.
194. Magalhães L, Sosa E, Barbero-Marcial M, et al - Resultados da Crioablação
170. Ferreira HO - Tratamento da “forma indeterminada” da doença de Chagas com
Endomiocárdica Interpapilar no Tratamento da Taquicardia Ventricular
nifurtimox e benzonidazol. Rev Soc Bras Med Trop 1990; 23: 209-11.
Chagásica. Arq Bras Cardiol 1994; 63(supl I): 66.
171. Andrade SG, Rassi A, Magalhães JB, Ferriolli Filho F, Luquetti AO - Specific
195. Távora MZP, Mehta N, Silva RMFL, Gondin FAA, Hara VM, de Paola AAV -
chemoterapy of Chagas’disease: a comparison between the response in patients
Clinical impact and mechanisms of radiofrequency catheter ablation of sustained
and experimental animals inoculated with the same strains. Trans Royal Soc ventricular tachycardia inpatients with Chagas Disease. J Am Coll Cardiol
Trop Med and Hyg 1992; 86: 624-6. 1998; 31(suppl C): 415C.
172. Batlouni M, Barretto AC, Armaganijan D, et al - Treatment of mild and moderate 196. Sanchez OD, Sosa E, Scanavacca M, et al - Ablação endocárdica da taquicardia
cardiac failure with captopril. A multicenter trial. Arq Bras Cardiol 1992: 58: ventricular sustentada em pacientes chagásicos: resultados a longo prazo. Arq
417-21. Bras Cardiol 1997; 69(supl I): 107.
173. Roberti RR, Martinez EE, Andrade JL, et al - Chagas cardiomyopathy and 197. Sosa EA, Scalabrini A, Rati M - Successful catheter ablation of the source of
captopril. Eur Heart J 1992; 13: 966-70. recurrent ventricular tachycardia in chronic chagasic heart disease. J Electro-
174. Khoury AM, Davila DF, Bellabarba G, et al - Acute effects of digitalis and physiol 1987; 1: 58-61.
enalapril on the neurohormonal profile of chagasic patients with severe 198. de Paola AAV, Melo WDS, Távora MZP, Martinez EE - Angiographic and
congestive heart failure. Int J Cardiol 1996; 57: 21-9. electrophysiological substrates for ventricular tachycardia mapping through the
175. Simões MV, Pazin-Filho A, Bromberg-Marin G, Maciel BC, Marin-Neto JA - coronary veins. Heart 1998; 79: 59-63.
Early myocardial damage detected by radionuclide angiography evaluation of 199. Sosa E, Scanavacca M, d’Avila A, et al - Endocardial and epicardial ablation
patients with the indeterminate phase of Chagas’ disease. J Am Coll Cardiol guided by nonsurgical transthoracic epicardial mapping to treat recurrent
1998; 31(suppl C): 339C. ventricular tachycardia. J Cardiovasc Electrophysiol 1998; 9: 229-39.
176. Maciel BC, Almeida-Filho OC, Schmidt A, Marin-Neto JA - Mild segmental 200. Marin-Neto JA, Simões MV, Sarabanda AVL - Doença cardíaca no indivíduo
dyssynergy reflects more extensive myocardial involvement as compared to assintomático com moléstia de Chagas. Rev Soc Cardiol Est SP 1997; 7: 726-34.

263

Você também pode gostar