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O livro “Quarto de Despejo Diário de uma Favelada” é uma obra na qual a autora
sofridos por ela, seus filhos e outros favelados. Apesar de Carolina Maria de Jesus1, não ter
formação acadêmica, apenas havia estudado até a segunda série primária, fato que é
essa condição de semi-analfabeta não foi obstáculo para que o seu livro Quarto de Despejo
fosse publicado pela primeira vez no ano de 1960 e tivesse grande repercussão.
mil exemplares. Em seguida, a livraria Francisco Alves - São Paulo - mandou imprimir mais
noventa mil exemplares que em menos de seis meses superou a vendagem do então
recordista, Jorge Amado. Nos cinco anos subseqüentes, Quarto de Despejo foi traduzido
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Carolina Maria de Jesus nasceu no interior de Minas Gerais em 1914. Na década de 30, mudou-se
para São Paulo foi morar na favela Canindé. Descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, repórter da
Folha da Noite. Publicou os livros: Quarto de Despejo Diário de uma Favelada, Casa de Alvenaria,
Diário de uma ex-favelada, Pedaços da Fome e Provérbios. Carolina faleceu em São Paulo em 1977.
Anais do II Seminário Nacional Literatura e Cultura
Vol. 2, São Cristóvão: GELIC, 2010. ISSN 2175-4128
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O livro “Quarto de Despejo Diário de uma favelada”, rompe com critérios tradicionais
da produção literária brasileira, na medida em que, a autora sendo uma mulher negra,
favelada e analfabeta fugia dos padrões ou estereótipos das escritoras que atuavam no
mercado nacional, num momento em que a produção literária era difícil para as mulheres
Antes de iniciarmos esta reflexão sobre abordagem teórica nos estudos da recepção,
convém esclarecer o uso desse conceito que só foi possível a partir dos estudos culturais,
que permitiram um outro olhar, abrindo novas possibilidades para novas discussões e,
modelos teóricos que surgiram em meados do século XX. Nessa abordagem, teóricos que
se debruçaram sobre o conceito da recepção como Hans Robert Jauss, Roger Chartier e
Paul Zumthor, o texto é visto não como um documento biográfico ou histórico, ou simples
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MEIHY, J. C. S. B & Levine, R. M. Cinderela Negra: a saga de Carolina Maria de Jesus. Rio de
Janeiro: UFRJ. 1994.
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soma de influências exercidas sobre ele, mas como obra de arte sujeita e submetida às
Hans Robert Jauss3 traz contribuição teórica para os estudos de recepção, com a
propondo um diálogo entre a obra e o público. Assim também Chartier, em sua reflexão
teórica inovadora cria condições para que se estabeleça uma nova postura nos estudos da
história cultural e estimula a permanente renovação nas formas de ler e fazer história, diante
meados do século XX, mais precisamente em 1960 seu livro bateu recorde de venda, tendo
sido editado oito vezes no mesmo ano. Em menos de doze meses, mais de setenta mil
exemplares foram vendidos. Zumthor5, em seus estudos, privilegia o ponto de vista do leitor,
perpassando por diversos momentos históricos, criando alternativas e outras reflexões, para
o olhar literário, discutindo o oral e o escrito. Dessa forma, o leitor rompe horizontes e
despe-se de preconceitos literários. Essa foi possivelmente a atitude assumida pelos leitores
de Carolina de Jesus.
Quando fui catar papel encontrei um preto. Estava sujo que dava pena (...).
O seu olhar era um olhar angustiado como se olhasse o mundo com
desprezo. Indigno para um ser humano. (...) Não estava embriagado, mas
vacilava no andar. Cambaleava. Estava tonto de fome! (JESUS, 1960, p.
48).
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JAUSS, Hans Robert. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. Tradução Sergio Tellaroli. São Paulo:
Editora Ática. 1994. (PP 55 – 56 – 57 – 58)
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CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1990.
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ZUMTHOR, Paul. Performance recepção leitura. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: EDUC,
2000.
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Nesse sentido aspectos da obra biografada permite uma abordagem que contempla a
Carolina demonstra muita inquietação por ter a consciência alerta para a condição
da mulher. Como consequência ela não se vê dentro dos padrões constituídos, ou seja, não
...E elas têm que mendigar e ainda apanhar. Parece tambor. À noite
enquanto elas pedem socorro eu tranquilamente no meu barracão ouço
valças vienenses. Enquanto os esposos quebram as tabuas do barracão eu
e meus filhos dormiram sossegados. Não invejo as mulheres casadas da
favela que levam vida de escravas indianas... (Jesus, 1993, p.14)
Carolina Maria de Jesus, este último, Levine, professor norte-americano, cientista social, há
muitos anos utiliza os escritos de Carolina em suas aulas, para entender e problematizar a
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Favorece reflexões oriundas de pesquisas, que contemplam a consideração da vida humana e suas
construções bem como configurações dos relatos de experiências individuais e coletivas.
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Organizam-se dados onde protagonistas das biografias e autobiografias deixam marcas perenes no universo
literário.
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MEIHY, J. C. S. B & Levine, R. M. Cinderela Negra . Op cit. Estudioso da percepção das clivagens entre ficção
e realidade e das múltiplas possibilidades de interpretação.
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Id idem
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Teoria desenvolvimentista política econômica baseada na meta de crescimento da produção industrial.
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autora, com a publicação de Cinderela Negra a Saga de Carolina Maria de Jesus. Em 1995,
organizaram e publicaram Meu Estranho Diário (Trechos inéditos dos diários de Carolina
Maria de Jesus).
Ser negra num mundo dominado por brancos, ser mulher num espaço
regido por homens, não conseguir fixar-se como pessoa de posses num
território em que administrar o dinheiro é mais difícil do que ganhá-lo,
publicar livros num ambiente intelectual de modelo refinado, tudo isto
reunido fez da experiência de Carolina um turbilhão (Meihy & Levine, 1994,
p.63).
apontam que a autora é pouco conhecida, tanto nas universidades brasileiras quanto por
Alvenaria, publicado em 1961, um livro que trata de depoimentos do seu cotidiano em sua
temporada de ascensão social e que não fez sucesso. Iniciou-se, assim, um processo de
ostracismo da autora quando comparada a autores como Jorge Amado, Clarice Lispector e
outros.
Sua obra foi adaptada para teatro, rádio, televisão e cinema, sempre com grande
sucesso. Até hoje, apesar de não ser muito conhecida em seu próprio país de origem, é a
escritora brasileira mais publicada no exterior, em particular nos Estados Unidos, sendo
Apesar de seu nome ter sido progressivamente esquecido no Brasil, Carolina Maria
universidades no Canadá e nos Estados Unidos. Para o professor Robert M. Levine, um dos
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reconhecidos como literatura, assim ele11 faz a seguinte afirmação: “Isto pode ou não ser
verdade. Mas ignorar a importância de Carolina desta maneira diminui seu valor e despreza
seu legado como uma grande figura da cultura brasileira do século 20”.
Despejo, Carolina Maria de Jesus continua sendo uma das maiores indagações sobre a
sociedade brasileira. À parte sua pouca instrução formal, sua narrativa pessoal densamente
privilegiados, em sua maioria negros. Suas descrições da vida na favela não romantizam a
pobreza, mas a despedaça como um machado. E contém uma fúria intensa e constante,
direcionada a uma sociedade corrupta que ignora os pobres, sentenciando-os a uma vida
sua percepção. Uma vez que a constatação dessa lacuna ainda que muito superficial se dá
Brasil o descaso por essa importante produção. Enquanto que em outros países, grupos de
em fontes primárias e secundárias como: jornais, revistas, artigos, livros, material publicado
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Supra em entrevista dada ao jornal Correio Popular matéria publicada na edição de 13.04.2008.
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reflexões visando colaborar com o resgate de uma obra que foi negligenciada por
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
CAMPOS, Maria Consuelo Cunha. Gênero. In: JOBIM, José Luís. Palavras da crítica. Rio
de Janeiro: Imago, 1992.
JESUS, C. M. de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Editora
Ática. 1993.
MURARO, Rose Marie. A mulher no terceiro milênio. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos,
2000.