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DA FAZENDA TABULEIRO GRANDE AOS CONTRASTES

METROPOLITANOS ATUAIS: O CASO DE JUAZEIRO DO NORTE

Diego Coelho do Nascimento2, Josefa Cicera Martins Alves, Emmanuelle Monike Silva
Feitosa, Gledson Alves Rocha.

Correspondência para: diegocn_jua@yahoo.com.br

Palavras-chave: Contrastes. Desigualdades. Metropolização.

A história de Juazeiro do Norte, outrora denominado Fazenda Tabuleiro Grande,


começou a ser escrita alguns anos antes do nascimento do Padre Cícero. Mas a relação
que há entre o município e o sacerdote, patriarca e fundador, é tão forte que para falar
de um, obrigatoriamente, fala-se no outro. O Padre Cícero Romão Batista do Juazeiro, o
“Padim Ciço”, foi um homem religioso, político e com uma característica marcante: a
administração de conflitos de pessoas, ideias e ideais. As terras do pequeno povoado
Joaseiro – como grafava a escrita da época, abrigavam apenas uma pequenina capela,
meia dúzia de casas, poucos moradores e três grandes pés de Juá – que segundo os
primeiros habitantes foi o que posteriormente deu nome à vila. De acordo com relatos
históricos, próximo ao Natal de 1871 o professor Simeão Correia de Macedo convidou
o padre Cícero, recém-ordenado e chegado de Fortaleza, para celebrar a primeira missa
na Vila Joaseiro. Nessa época, cerca de vinte famílias já residiam em torno da capela de
Nossa Senhora das Dores, que estava sem padre há algum tempo. Inicialmente, Padre
Cícero, ainda sem paróquia, aceitou o convite. O povo foi gostando até que pediu para
que ele ficasse em definitivo, em 11 de abril de 1872”, conta o escritor e memorialista
Barbosa (2004). O pesquisador e escritor Walker (2010) afirma em um de seus trabalhos
que Padre Cícero “ganhou a simpatia” dos habitantes, passando a exercer grande
liderança na comunidade. Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os

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Universidade Federal de Pernambuco (UFPB)
passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo
capelão. O fato conhecido como “Milagre da Hóstia ou de Juazeiro” ocorrido em 1º de
março de 1889, numa sexta-feira de Quaresma, se repetiu durante dois anos sempre às
quartas e sextas-feiras. Segundo relatos da época, por causa do “Milagre da Hóstia” a
primeira romaria aconteceu em 7 de julho do mesmo ano.. Os moradores da vila que
não passavam de 400 se espantaram com aproximadamente 3 mil pessoas na
comunidade. Daí em diante nem o silêncio de Padre Cícero abafava o tal fenômeno, que
já era chamado de “milagre do Juazeiro”, pelos moradores e visitantes. Logo o bispo da
Diocese do Ceará tomou conhecimento da fama e escreveu diversas vezes ao Padre
Cícero cobrando explicações. Dom Joaquim queria esclarecer de uma vez por todas que
não havia milagre, por isso nomeou dois sacerdotes de sua confiança que relataram que
o fato se tratava de algo divino. O bispo não gostou desse resultado e nomeou outra
Comissão, constituída pelos Padres Antônio Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido,
que afirmaram não haver milagre. Dom Joaquim enviou relatório do Inquérito à Santa
Fé, e por sua vez, Roma acatou posição do bispo e suspendou Padre Cícero das
atividades clerísticas. Em 1907 o povoado de Juazeiro já havia alcançado um
considerável nível de “desenvolvimento”, mas continuava pertencente ao município de
Crato. Isto começou a incomodar os juazeirenses, surgindo daí o desejo de
independência iniciado por eminentes cidadãos locais que recebeu mais tarde a adesão
do Padre Cícero e de outros atores históricos importantes, culminando com a vitória em
22 de julho de 1911, quando foi assinada a lei nº 1028, que elevou o povoado à
categoria de Vila e sede do Município. O Padre Cícero foi empossado como seu
primeiro Prefeito, ou Intendente, como se chamava naquela época. Walker (2010)
escreveu ainda que “Padre Cícero é o maior benfeitor de Juazeiro e a figura mais
importante de sua história. Foi ele quem trouxe para Juazeiro as Ordens dos Salesianos
e dos Capuchinhos; doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do
aeroporto; construiu as capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de
Nossa Senhora das Dores; incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate);
fundou a Associação dos Empregados do Comércio e o Apostolado da Oração; realizou
a primeira exposição da arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou e dinamizou o
artesanato artístico e utilitário, como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de
ourivesaria; estimulou a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas
culturas; contribuiu para instalação de muitas escolas, inclusive a famosa Escola Normal
Rural e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durante as secas e epidemias,
prestando-lhe toda assistência e, finalmente, projetou Juazeiro no cenário político
nacional, transformando um pequeno lugarejo na maior e mais importante cidade do
interior cearense.” Mas depois de cem anos de emancipação política e de um
crescimento econômico que se diferencia de municípios vizinhos e até mais antigos,
Juazeiro do Norte é hoje o foco dos investimentos na construção civil, ensino superior
público e privado, indústria e comércio. O município está em terceiro lugar na economia
do Ceará. O PIB, de acordo com IPECE (2008), cresceu 157% entre 2004 e 2008, o que
significa que saltou de R$ 770 milhões para quase R$ 2 bilhões de reais. Foi o segundo
maior crescimento entre os municípios do Estado neste período. A diversidade na fonte
de renda mais antiga e que mais contrata na cidade é grande. Conforme a Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento de Juazeiro do Norte, o comércio mantém 3.500
estabelecimentos comerciais em pleno funcionamento, do mais simples ao mais
sofisticado e gera 70% dos empregos formais de todo município, conforme o Sinde\Idt.
Na indústria, o Pólo Calçadista parte na frente produzindo anualmente mais de 10 mil
pares de calçados, uma parte já para exportação. Em seguida, vêm as fábricas de
folheados e joias, um ramo da indústria que também gera emprego e renda. Dados do
SEBRAE apontam que são produzidas dois milhões e quinhentas mil peças de folheado
por mês. A Prefeitura de Juazeiro do Norte estima que R$ 400 milhões foram investidos
no município, principalmente nos setores da habitação e infraestrutura, como por
exemplo, o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC, que trouxe o maior projeto
habitacional do interior cearense para Juazeiro do Norte. Até o início de 2014 foram
entregas mais de 2000 unidades habitacionais para famílias com renda de até R$ 1.600 e
R$ 5.000 mensais. O escritório do IBGE de Juazeiro do Norte contabilizou no último
Censo, 2010, 36 bairros aqui no município. Destes, o Campo Alegre está entre os mais
novos, que foram criados a partir de uma Lei Municipal, em 2009. Além dele, os outros
três novatos são: Frei Damião, Santo Antônio e Cidade Universitária, considerado o de
menor população residencial, com apenas 270 moradores. Consta no Censo (2010), que
o bairro Campo Alegre, apesar de ter sido criado há apenas 2 anos oficialmente, é
considerado populoso, com 2.401 moradores. Tipicamente residencial, o Campo Alegre
começou a se formar através da venda de lotes e aos pouco foi recebendo equipamentos
sociais, como: escola e posto de saúde, que funcionam de forma precária. No bairro há
pequenos comércios montados na sala de casa, em sua maioria, ou mini-fábricas. Os
moradores relataram durante a pesquisa de campo que ônibus coletivo, mas passa
próximo ao bairro (Tiradentes e Cidade universitária) e coleta de lixo três vezes por
semana. O maior problema, conforme a população local é infraestrutura: saneamento
básico e calçamento das ruas. O presente estudo enquadra-se na condição de Estudo de
Caso, tendo como objeto de estudo o município de Juazeiro do Norte, mais
precisamente o bairro Campo Alegre como recorte de uma realidade vivenciado em
outros bairros. A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão bibliográfica, onde
foram analisados artigos, livros e documentos referentes a influência do Padre Cícero na
conjectura urbana atual em Juazeiro do Norte sob a perspectiva dos contrastes
metropolitanos. Dessa maneira, o objetivo desse foi o de refletir sobre os atuais
contrastes metropolitanos em Juazeiro do Norte.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Geraldo Menezes. Relíquia: o mistério do sangue das hóstias de Juazeiro


do Norte. Juazeiro do Norte: Gráfica e Editora Royal, 2004.

NETO, Lira. Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.

WALKER, Daniel. História da Independência de Juazeiro do Norte. Juazeiro do Norte:


HB Editora, 2010.

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