Você está na página 1de 40

Conceitos

da Administração e
Ética Empresarial
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Distância; MENEGASSI, Cláudia Herrero Martins.

Conceitos da Administração e Ética Empresarial. Cláudia
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Herrero Martins Menegassi Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2018. Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
304 p.
“Graduação - EaD”. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
1. Conceitos. 2. Administração . 3. Ética Empresarial 4. EaD. I. Design Educacional Débora Leite; Head de
Título.
Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
ISBN 978-85-459-0991-0 Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
CDD - 22 ed. 658 Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos
Impresso por: Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock
Coordenador de Conteúdo Fábio Augusto Gentilin
e Crislaine Rodrigues Galan
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Designer Educacional Yasminn Tavares Zagonel
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação Revisão Textual Erica Fernanda Ortega, Ivy Mariel
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná Valsecchi e Silvia Caroline Gonçalves
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Editoração Isabela Belido, José Jhonny Coelho,
Melina Belusse e Thayla Guimarães Cripaldi
Ilustração Bruno Pardinho, Marta Kakitani e
Marcelo Goto
Realidade Aumentada Thiago Surmani e
Leandro Naldei
PALAVRA DO REITOR

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-


mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
MEC como uma instituição de excelência, com
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter pelo menos
três virtudes: inovação, coragem e compromisso
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as
quais visam reunir o melhor do ensino presencial
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-


munidade do Conhecimento.
Essa é a característica principal pela qual a
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é
importante destacar aqui que não estamos falando
mais daquele conhecimento estático, repetitivo,
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global,
democratizado, transformado pelas tecnologias
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de
pessoas, lugares, informações, da educação por
meio da conectividade via internet, do acesso
wireless em diferentes lugares e da mobilidade
dos celulares.
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer
transformou-se hoje em um dos principais fatores de
agregação de valor, de superação das desigualdades,
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
Logo, como agente social, convido você a saber
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e
usar a tecnologia que temos e que está disponível.
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato
com ambientes cativantes, ricos em informações
e interatividade. É um processo desafiador, que
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você
está iniciando um processo de transformação,
pois quando investimos em nossa formação, seja
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e,
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível
de desenvolvimento compatível com os desafios
que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa-
nhará durante todo este processo, pois conforme
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem
dialógica e encontram-se integrados à proposta
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como
principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita
o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de
crescimento e construção do conhecimento deve
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas
ao vivo e participe das discussões. Além disso,
lembre-se que existe uma equipe de professores e
tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren-
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a)!


Bem-vindo a este livro, escrito pensando em você e em suas necessidades
como pessoa, estudante, trabalhador, funcionário, empresário… sim, os con-
ceitos aqui presentes podem ser aplicados em diversos âmbitos da vida. Sabe
por quê? Porque estamos inseridos em uma sociedade composta por organiza-
ções por todos os lados e cada uma delas requer gestão e requer ética também!
Por isso, Conceitos da Administração e Ética Empresarial é um livro não
só voltado à realidade de empresas, mas também de organizações como
um todo e como toda organização — seja ela uma empresa ou não — é
um pequeno “pedaço de sociedade”, este livro também nos ajudará a com-
preender a sociedade sob diversos aspectos e os indivíduos que a compõe.
Na primeira unidade, são apresentados os conceitos e características das
organizações bem como cada uma das funções administrativas — planejar,
organizar, dirigir, coordenar e controlar. Na segunda unidade, são descritas
algumas das mais relevantes teorias da administração, ou seja, as diferentes
formas como a administração foi concebida com ênfases distintas — ora
complementares, ora contraditórias — tais como o modelo burocrático, a
administração científica, organização como sistema, teoria contingencial
e administração por objetivos. Isso nos ajuda a compreender as diferentes
concepções que há em termos de estilos de gestão no âmbito organizacional.
Na Unidade 3, o destaque é dado ao principal elemento de toda organização: as
pessoas. Nela são abordadas as teorias da administração voltadas principalmente
às pessoas: a Escola das Relações Humanas e a Abordagem Comportamental.
Além disso, a unidade traz um tópico especial sobre o papel do foco na vida
pessoal e no trabalho, fundamental para termos êxito em tudo o que fazemos
na vida, desde os propósitos pessoais até as metas no trabalho e a carreira que
queremos trilhar. Considero esse tópico um presente do livro a você.
A Unidade 4 trata das diversas áreas funcionais da administração. São aquelas
presentes em todas ou na maioria das organizações e que precisam ser geridas,
tais como administração de operações, logística, marketing, recursos huma-
nos e financeira, ou seja, as áreas centrais que compõem uma organização.
Na Unidade 5, o tema é a gestão estratégica; ali podemos compreender
como as organizações se dividem em níveis estratégicos, o que significa
a estratégia nesse âmbito, a análise SWOT e sua importância para o pla-
nejamento estratégico e as duas principais teorias estratégicas: a teoria de
análise da estrutura da indústria e a visão da empresa baseada em recursos.
A Unidade 6 traz elementos fundamentais acerca da gestão de projetos,
compreendendo suas características, suas etapas, o fator humano e a ge-
rência nos projetos e a análise do ambiente e viabilidade. Na Unidade 7,
por sua vez, são apresentados alguns temas que são tendências no campo
da administração, como a Gestão do Conhecimento, a gestão da qualidade,
reengenharia, inovação e sustentabilidade do negócio.
A Unidade 8 transcende as abordagens de gestão tradicionais e traz temas
que envolvem questões que vão muito além das fronteiras das organizações:
responsabilidade social, Economia de Comunhão, Economia Solidária e
gestão de organizações do Terceiro Setor. Esse conhecimento certamente é
fundamental para que novos horizontes se abram ao nosso entendimento
de mundo, a fim de que possamos compreender que nossas ações — tanto
pessoais como em nível organizacional — podem impactar pessoas, co-
munidades e a sociedade em geral.
Por fim, mas não menos importante, a ética empresarial, tema da Unidade
9. A ética, na realidade, permeia todos os aspectos apresentados ao longo de
todo o livro, mas devido à sua importância foi dedicada a ela uma unidade
inteira, onde são trazidos conceitos de ética e de moral e a concepção de
ética no âmbito organizacional, os diversos princípios éticos aplicáveis às
atividades organizacionais e as ações que podem ser tomadas para insti-
tucionalizar a ética como cultura da própria organização.
Como você pode perceber, este livro foi escrito com uma visão holística
da vida organizacional, considerando sempre esse microambiente como
uma célula de sociedade na qual existem objetivos a serem alcançados, mas
também pessoas envolvidas, comunidades, meio ambiente… e nesse sentido
palavras como competência, metas, desenvolvimento, ética, respeito, solida-
riedade, desempenho, inovação, justiça, competitividade, sustentabilidade
e tantas outras que parecem ser distantes entre si, na realidade podem e
devem ser concebidas de forma harmoniosa na busca de uma sociedade
desenvolvida, ética e justa ao mesmo tempo.
Tenha uma ótima leitura!
CURRÍCULO DO PROFESSOR

Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi


Doutora em Administração pela Universidade Positivo (UP/2013). Mestre em Administração
pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2007). Possui Especialização em Administração
Tributária pela Universidade Candido Mendes (UCAM/2009). Graduada em Administração pelo
Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2014). Graduada em Tecnologia em Processos
Gerenciais pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2013). Graduada em Economia
pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2004). É membro do corpo docente do Mestrado
em Gestão do Conhecimento nas Organizações na Unicesumar e professora de cursos de
graduação e especialização na mesma instituição. Desenvolve pesquisas voltadas, principal-
mente, aos temas: Gestão do Conhecimento, Economia de Comunhão, Economia Solidária,
Estratégia (Resource-Based View), Modelo Burocrático e Educação a Distância.
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações,
acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir:

http://lattes.cnpq.br/4229317394755159
Organizações
e Administração

13

Teorias da
Administração

41

O Fator Humano
nas Organizações

71
Tendências no
Áreas Funcionais
Campo da
da Administração
Administração

101 199

Abordagens
Gestão Estratégica Alternativas
de Gestão

137 239

Gestão de Projetos Ética Empresarial

171 273
17 Tipos de organização
51 Estudo de movimentos e tempos (EMT)
81 Pirâmide de Maslow
106 O Timing na logística
139 A fábula “os cegos e o elefante”
177 Os principais stakeholders relacionados a projetos
210 Data server
249 Economia de comunhão
289 Modelo de ética corporativa

Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi

Organizações
e Administração

PLANO DE ESTUDOS

Administração e gestão Dirigir, coordenar e controlar

O que são organizações? Planejar e Organizar

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Apresentar conceitos e características das organizações, • Descrever as funções da administração “planejar” e “or-
bem como os diferentes tipos em que podem se apre- ganizar”.
sentar. • Descrever as funções da administração “dirigir”, “coorde-
• Apresentar os conceitos de gestão, administração e seus nar” e “controlar”.
princípios e elementos.
O que são
Organizações?

Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)!


Antes ainda da resposta a essa pergunta que
é o título da nossa unidade, você deve estar se
perguntando: por que estudar as organizações e
não empresas? Empresas não são organizações?
Organizações não são empresas? A resposta para
a segunda pergunta é “sim” e para a terceira é “nem
sempre”. E por isso vamos falar mais de organiza-
ções do que de empresas.
De modo geral, estarei me referindo sim às
empresas, mas é importante termos claro que o
conceito de organização é muito mais amplo do
que o de empresa. Pode estar na forma de uma
empresa, mas também na de uma organização
do terceiro setor, de um órgão público, de uma
igreja, de uma associação, de uma cooperativa e
não acaba por aqui. Sendo assim, embora o foco
seja no tipo de organização empresarial, temos
que ter em mente que os mesmos conceitos que
veremos ao longo de todo este livro podem ser
pensados também para diversos outros tipos de
organização.
Bem, voltemos então à nossa pergunta inicial:
o que são organizações? O que é uma organiza-
ção? E agora a notícia (boa ou ruim?): não há uma
definição única de organização. Tudo depende de
como você a concebe. Bem, não você ou eu exa- Jones (2010), por sua vez, define organização
tamente, mas um bocado de gente que estudou a de uma forma até mesmo peculiar: “uma orga-
fundo as organizações ao longo de décadas e que nização é uma ferramenta que as pessoas usam
nos mostraram algumas formas de concebê-las. para coordenar suas ações e obter alguma coisa
Gareth Morgan (1996), em seu livro Imagens que desejam ou valorizam - ou seja, para atingir
da Organização, faz uma brilhante apresentação seus objetivos” (JONES, 2010, p. 1). Eu mesma
das diversas formas de se conceber as organiza- nunca tinha pensado na organização como sen-
ções a partir do uso de metáforas. Segundo essa do uma “ferramenta”, mas é uma definição bas-
autora, as organizações podem ser vistas como tante verídica, pensando ferramenta como um
máquinas, organismos, cérebros, cultura, sistemas meio para se fazer algo. As organizações são
políticos, prisões psíquicas, fluxo e transforma- esse meio, esse ambiente propício a se atingir
ção e instrumentos de dominação. Parece algo determinadas finalidades.
impensável, não é? Contudo, é exatamente assim: Certamente todos nós estamos inseridos em
há muitas maneiras de se enxergar e conceber as organizações. Você está fazendo um curso supe-
organizações e é isso que faz que esse campo de rior e não o faz passeando no parque. Está bem,
estudo e também de prática seja tão instigante e você pode até fazer, se estiver com um tablet ou
desafiador. celular nas mãos, porque parte do seu curso é a
Sobral e Peci (2013, p. 5) definem organizações distância e permite isso, mas você está matricu-
como lado em uma instituição de ensino superior para

““
conseguir fazer esse curso, mesmo com a como-
grupos estruturados de pessoas que se didade de poder até mesmo fazer suas leituras
juntam para alcançar objetivos comuns. passeando no parque.
Surgem como respostas à necessidade dos Eu estou aqui, “falando” com você por meio
indivíduos de alcançar metas mais ambicio- desse material. Isso é possível, mais uma vez, por
sas, impossíveis de serem atingidas indivi- que estamos em um âmbito organizacional, se não,
dualmente, em virtude da complexidade e como eu teria chegado até você ou você até mim?
da variedade das tarefas inerentes ao tra- As organizações são esse meio, essa ferramenta,
balho a se efetuar. Podem ser organizações onde você e eu atingimos nossos objetivos, que
formais, como no caso de um exército ou nesse caso são distintos e complementares.
de uma empresa, ou informais, como um Terminando este curso, você vai abrir sua pró-
grupo de amigos que se junta para jogar pria empresa, seu próprio escritório? Ou preferirá
vôlei na praia. trabalhar em uma organização já existente? Em
ambos os casos, lá estará você novamente den-
tro de uma organização - como dono ou como
funcionário. Contudo, eu conheço gente que
não trabalha fora de casa! Essas pessoas estão à
Organização margem do mundo organizacional? Não… essas
Grupo estruturado de pessoas que se unem para pessoas fazem compras no supermercado, têm
alcançar objetivos comuns. filhos nas escolas e se relacionam com a escola e os
Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 5). professores, talvez paguem aluguel ou condomí-
nio… organizações, organizações, organizações...

UNIDADE I 15
A essa altura você já entendeu que as organizações
fazem necessariamente parte da nossa vida e que
não temos que estar alheios a elas.
Precisamos então conhecê-las o máximo pos-
sível para compreender seu funcionamento, suas
formas, suas nuances… Atingiremos todas elas?
Não. Impossível. No entanto, podemos ter uma
boa ideia daquilo que permeia grande parte delas.
Podemos ter nossa mente mais preparada, aberta e
atenta para alguns sinais que antes nos passariam
despercebidos.
O dicionário Aurélio define organização como
Figura 1 - Máquina de escrever “associação ou instituição com objetivos defini-
dos” (DICIONÁRIO, 2010, p. 1518). Define tam-
bém em outros sentidos, mas este é o que está
dentro do nosso contexto. Os tipos de organização
podem ser diversos, mas uma coisa todos têm
em comum: objetivos definidos. Essa é a razão de
ser de uma organização. Contudo, vamos ainda
pensar um pouco mais sobre as organizações, por-
que depois esse pensamento permeará também
as diversas formas nas quais elas se apresentam.
Bem, se há objetivos, é porque existem por trás
deles necessidades. E concebendo a organização
como uma ferramenta ou um meio, precisamos
também pensar em recursos e processos. Arrisco
Figura 2 - Fita de vídeo (VHS) aqui até a propor quatro pilares que caracterizam
as organizações: necessidades, recursos, processos e
objetivos, e tudo isso dentro de algo que chamarei
de ambiente. As necessidades são o que motivam
a criação de uma organização e estão diretamen-
te relacionadas ao seu objetivo. Para que ele seja
alcançado, todavia, são necessários recursos (tais
como matérias-primas, mão de obra, informação,
conhecimento, tecnologia, capital, estruturas…)
e processos que coloquem todos esses recursos
“para trabalhar” em prol do objetivo; e tudo isso
em um contexto, um ambiente geográfico, econô-
mico, cultural e social. Quando um ou mais sofre
alterações, a configuração da organização deve se
Figura 3 - Fita K7 alterar para manter sua sobrevivência.

16 Organizações e administração
Ambiente

Necessidades Recursos

Processos Objetivos

Tipos de organização

As necessidades podem deixar de ser importantes a certo ponto ou se- vivo, complexo e interligado, eu
rem substituídas por outras e isso impacta diretamente as organizações, sempre digo: não não… corpos
que se transformam para se adaptarem ao novo cenário ou desaparecem humanos geralmente são mui-
(JONES, 2010). Vamos pensar em alguns exemplos muito práticos: apa- to mais simples. O coração de
relhos de videocassete, fitas VHS e K7, máquinas de escrever… motivos uma pessoa geralmente faz exa-
para essas mudanças? Mudança tecnológica, por exemplo. tamente a mesma coisa que o de
As mudanças tecnológicas afetam diretamente os recursos dispo- outra pessoa. A “rota” do sangue
níveis e os processos. Maquinário que substitui mão de obra, maqui- no corpo também é a mesma
nário que facilita a mão de obra, softwares, internet… e continuamos e por aí vai. É de certo modo
a alterar as organizações a cada mudança dessa. previsível o funcionamento do
Também as áreas de negócio se alteram com mudanças ambientais, corpo humano, em situações de
que englobam todo o contexto no qual a organização está inserida, normalidade da saúde. Nas or-
em termos econômicos, geográfico, social… A quebra do monopólio ganizações, é muito mais difícil
da telefonia fixa no Brasil, por exemplo. Se você tem mais de 30 anos, encontrar esses pontos comuns.
provavelmente se lembra da época em que uma linha telefônica custa- Elas são de difícil compreensão,
va o equivalente a um carro usado. Era muito dinheiro! E geralmente porque são muito mais com-
se ficava na fila para conseguir uma linha. Lembro-me de pessoas que plexas e são diferentes mesmo
ganhavam a vida alugando linhas telefônicas. As que estavam atentas aquelas que atuam no mesmo
às mudanças que estavam ocorrendo, conseguiram sair do negócio a segmento e no mesmo quartei-
tempo; outras perderam todo o capital investido. Hoje com R$ 10,00 rão, que dirá as de segmentos
você compra “uma linha” para o seu celular, que é o seu chip. e portes completamente dife-
Por essas e outras é que quando as organizações são compa- rentes e localizadas em outros
radas com o corpo humano para demonstrar que é um sistema países ou regiões.

UNIDADE I 17
Contudo, voltando nossos pés para o chão: ou transnacionais (de acordo com sua localização
tentaremos sempre tratar ao menos os pontos a abrangência), basicamente podem ser dos
comuns à maioria delas, afinal, algum tipo de or- setores da indústria, comércio ou serviço e o que
ganização a organização deve ter, não é mesmo? todas têm em comum é a natureza jurídica.
E quais são suas formas? Como elas podem se Outros tipos de organização: igrejas, organi-
apresentar? De muitas maneiras! Não esgotaremos zações do terceiro setor, cooperativas, os diversos
todas elas aqui, com toda a certeza. Primeiramente tipos de empreendimentos econômicos solidários,
porque focaremos propositalmente naquelas que associações…
mais se aproximarão da sua vida “lá fora” e também É importante salientar que cada um desses
porque eu acredito que lá no Japão ou na Índia tipos de organização tem suas características
certamente há tipos de organização que eu nem próprias. Igrejas, por exemplo. Primeiramente,
imagino! O ser humano, de fato, cria organizações há vários tipos de igrejas, com crenças e valores
de muitos tipos diferentes para atingir seus propó- específicos e também com formas de se organizar
sitos também diferentes e pode apostar que muitos peculiares. Algumas delas são regionais, enquan-
deles estão fora do nosso âmbito de conhecimento. to outras fazem parte de uma instituição maior,
Vamos começar, então, por aquele que talvez mais presente em vários países e liderança única. Com
faça parte da nossa vida: as empresas. Segundo a de- muitos ou poucos seguidores... Isso porque esta-
finição do dicionário Aurélio, empresa é uma “orga- mos falando somente em igrejas. Se pensarmos
nização econômica destinada à produção ou venda nas grandes religiões, o conceito se expande ainda
de mercadorias ou serviços, tendo em geral como mais. No entanto, todas elas têm necessidades,
objetivo o lucro” (DICIONÁRIO, 2010, p. 779). objetivos, recursos, processos e estão inseridas
Guerrini (2016) caracteriza empresa como “um em um ambiente ou contexto.
conceito jurídico e um fenômeno econômico”. Cooperativas também são organizações. Não
são empresas, mas são atividades produtivas ou
comerciais e que possuem um modo próprio
de organização, baseado em princípios coope-
rativistas: adesão livre e voluntária; gestão de-
Enquanto o conceito de Organização pode ser mocrática; participação econômica; autonomia
discutido e idealizado por diversas áreas do co- e independência; educação, formação e infor-
nhecimento, o conceito de empresa é estrita- mação; cooperação entre cooperativas; interesse
mente jurídico. É necessário formalizar um plano pela comunidade (ROCHA, 1999). Você pode
e declarar objetivos organizacionais para comu- imaginar que esses princípios e essa forma de
nicar as intenções da empresa. organização que não prevê donos, mas coopera-
Fonte: Guerrini (2016, p. 11). dos, e condições equânimes entre eles requerem
uma forma de gestão bastante diferente daquelas
presentes nas empresas.
Em se tratando somente de empresas, já temos aí As cooperativas podem também ser de
um mundo de diversidade. Podem ser micro, pe- Economia Solidária. Além desse tipo, há di-
quenas, médias ou grandes (definição que pode versos outros de empreendimentos econô-
variar pelo número de funcionários ou micos solidários que não são empresas, mas
faturamento), locais, nacionais, multinacionais são organizações dentro desse nosso conceito.

18 Organizações e administração
Alguns deles apenas citados aqui e que serão me-
lhor apresentados na Unidade 8 são: clubes de
trocas, comércio justo, empresas autogestioná-
rias (que apesar da natureza de empresa, tem seus
princípios próprios), finança solidária e economia
sem dinheiro. Para cada um, com suas especifici-
dades, uma forma de gestão.
As associações, por sua vez, também se apre-
sentam de diversos tipos. Podem ser formais, com
a presença de estatutos com definições e regras
claras e podem também ser informais. Há asso-
ciações de bairros, comerciais, industriais, de ben-
feitores, criminosas e assim por diante. E, acredite,
até mesmo as criminosas precisam de gestão!
Bem, acredito que tenha ficado muito claro
o que são as organizações e alguns de seus tipos.
Você já está inserido neste contexto de modo prá-
tico e, agora, também teórico. Agora vamos passar
aos conceitos de administração e gestão e como
eles estão relacionados às organizações.

UNIDADE I 19
Administração
e Gestão

Estávamos falando sobre organizações. Bem,


como disse Sobral e Peci (2013, p. 5): “com o apa-
recimento das organizações, surge a necessidade
de administrá-las”.
Você certamente já ouviu muitas vezes os
termos administração e gestão. Geralmente es-
ses termos estão atrelados ao mundo dos negó-
cios, das empresas, dos empreendimentos, onde
sempre é necessário administrar e gerir. No en-
tanto, já vimos também essas palavras voltadas
a outros contextos, como a administração do
tempo, da casa… gestão das finanças pessoais,
do conhecimento… Será que administração e
gestão são a mesma coisa?
A definição do dicionário Aurélio para gestão
é bastante simples: “ato de gerir; gerência; admi-
nistração” (DICIONÁRIO, 2010, p. 1029). Para o
termo administração as definições são mais am-
plas. Reproduzindo aqui aquelas que de certa for-
ma estão relacionadas ao nosso objetivo, tem-se:



1. ação de administrar. 2. Gestão de negó-
cios públicos ou particulares. 3. Governo, re-
gência. 4. Conjunto de princípios, normas e
funções que têm por fim ordenar a estrutura
e funcionamento de uma organização (em-

20 Organizações e administração
presa, órgão público etc.). 5. Prática desses gestão - tem que dar conta de colocar tudo isso
princípios, normas e funções (DICIONÁ- para funcionar.
RIO, 2010, p. 57). Em 2011, Maximiano retorna com uma defini-
ção um pouco mais estendida de administração,
No idioma inglês, temos como tradução para ges- acrescentando alguns processos. Para ele, então,
tão o termo management. Para administração, administrar é
temos o mesmo termo - significando gestão, ge-
rência e administração como no sentido 1, 2, 4 e 5 tomar decisões para cuidar adequadamen-
do Aurélio e também o termo administration sig- te dos recursos e realizar objetivos. Esse
nificando gerência, governo, ou seja, mais similar processo de tomar e executar decisões
ao ponto 3 do dicionário Aurélio há pouco citado. compreende cinco processos principais in-
Sendo assim, tomaremos administração e ges- terligados: planejamento, organização, lide-
tão como sinônimos, no sentido de gerir, de orde- rança (e outros processos da gestão de pes-
nar a estrutura e o funcionamento de organizações. soas), execução e controle (MAXIMIANO,
Além desse conceito ao qual chegamos, porém, 2011, p. 8).
diversos autores conceituaram administração ou
gestão segundo enfoques específicos e vamos tra- O que o autor traz como processos principais da
zer alguns aqui para nosso conhecimento. administração é equivalente ao que Henry Fayol
Lacombe (2009, p. 3), por exemplo, dá maior há mais de um século chamou de funções admi-
destaque às pessoas e aos objetivos pessoais e nistrativas, que veremos melhor nos próximos
organizacionais. Em sua definição, “administrar tópicos. O que Maximiano (2011) traz de novo às
é obter resultados por meio de pessoas, ou seja, funções administrativas de Fayol é acrescentar a
é o ato de trabalhar com pessoas para realizar elas a liderança (e outros processos de adminis-
os objetivos da organização e de seus membros”. tração de pessoas).
Certamente que esse destaque - nas pessoas - é
fundamental, mas talvez faltem alguns outros
elementos, pois há outros recursos também ne-
cessários para se alcançar esses objetivos, como
tecnologia, matérias-primas, capital…
Segundo Maximiano (2004, p. 33), “adminis- Liderança é o processo de trabalhar com pessoas
tração é um processo dinâmico de tomar deci- para possibilitar a realização de objetivos. Lide-
sões sobre a utilização de recursos, para possi- rança é um processo complexo, que compreende
bilitar a realização de objetivos”. Veja que nesse diversas atividades de administração de pessoas,
conceito alguns elementos se destacam: processo como coordenação, direção, motivação, comuni-
dinâmico (não é feito uma única vez), tomada de cação e participação no trabalho em grupo.
decisões (sempre e a cada momento), utilização Fonte: Maximiano (2011, p. 9).
de recursos (o meio para se alcançar os objetivos)
e objetivo. Isso faz lembrar aquela tipologia que
fizemos sobre as características das organizações, Sobral e Peci (2013) acrescentam à definição de
não faz? Não é coincidência. Se a organização administração os conceitos é de eficiência e eficá-
tem essas características, a administração - ou cia. Segundo os autores, administração é “um pro-

UNIDADE I 21
cesso de coordenação do trabalho dos membros contrôle). A obra foi publicada em 1916 e reper-
da organização e de alocação dos recursos orga- cutiu o mundo inteiro.
nizacionais para alcançar objetivos estabelecidos Mesmo sendo sua obra original datada de
de uma forma eficaz e eficiente” (SOBRAL; PECI, tanto tempo atrás, suas ideias continuam muito
2013, p. 6). A eficiência diz respeito a processos atuais. Segundo Fayol (2007), há seis grupos de
e a eficácia, a resultados, ambos elementos fun- operações ou o que ele chama de funções essen-
damentais do que se espera de uma organização. ciais que são comuns a todas as empresas, inde-
De modo geral, o que percebemos nos concei- pendentemente de seu porte ou nível de comple-
tos é que a gestão ou a administração (que aqui xidade, descritas a seguir:



trataremos como sinônimos) é algo inerente a
todo o tipo de organização. Sem ela, seria caos o conjunto das operações de toda empresa
e não organização. E isso se refere até mesmo a pode ser dividido em seis grupos, a saber:
estruturas informais. Já imaginou sua família sem 1) Operações técnicas: produção, fabricação,
um pouco de (ou muita) administração? Não te- transformação. 2) Operações comerciais:
ria almoço na mesa, roupas passadas para o uso, compras, vendas, permutas. 3) Operações fi-
logística de transporte à escola, trabalho ou fa- nanceiras: procura e gerência de capitais. 4)
culdade e até mesmo seu lugarzinho certo para Operações de segurança: proteção de bens e
dormir a noite. de pessoas. 5) Operações de contabilidade:
É, a administração é fundamental para a nossa inventários, balanços, preços de custo, es-
vida cotidiana. Ela está estruturada em alguns tatística etc. 6) Operações administrativas:
pontos principais. Esses pontos são chamados previsão, organização, direção, coordenação
de funções administrativas, que foram propostas e controle (FAYOL, 2007, p. 23).
inicialmente por Henry Fayol, engenheiro
francês, em seu livro Administração Industrial Fayol (2007) dizia que os cinco primeiros grupos
e Geral: previsão, organização, comando, coor- são bastante conhecidos nas rotinas organizacio-
denação e controle, cujo título original é: Admi- nais, mas o grupo administrativo necessitaria de
nistration industrielle et générale: prévoyance, maior aprofundamento. E aí ele parte de uma de-
organisation, commandement, coordination, finição de administração que se tornou clássica:

“Administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar.


Prever é perscrutar o futuro e traçar o programa de ação.
Organizar é constituir o duplo organismo, material e social, da empresa.
Comandar é dirigir o pessoal.
Coordenar é ligar, unir e harmonizar todos os atos e todos os esforços.
Controlar é velar para que tudo ocorra de acordo com as regras estabe-
lecidas e as ordens dadas” (FAYOL, 2007, p. 26).

22 Organizações e administração
Veremos melhor as especificidades desse con- Perceba que, embora o autor tenha escrito isso
ceito nos próximos tópicos, mas antes disso ainda originalmente em 1916, um século mais tarde
falaremos um pouco mais aqui sobre Fayol. esses princípios são ainda muito atuais! Talvez
O autor empregou o termo princípios para al- alguns deles não se apliquem ou se apliquem
gumas condições inerentes à administração, mas menos em determinados tipos de organização,
com uma ressalva importante: não há um número ou outros ainda deveriam ser inseridos, mas isso
limitado deles e nem rigidez. Eles podem se alterar o próprio autor já previu quando deu a abertura
a todo o tempo, pois é sempre necessário observar para outros princípios e para esses mesmos em
as circunstâncias, as variáveis, as necessidades de vários graus distintos de acordo com as caracte-
adaptação… enfim, uma organização nunca será rísticas de cada organização a qual se pretende
exatamente igual à qualquer outra e os princípios analisar.
de administração têm que se adequar a essa miría- Poderíamos, por exemplo, inserir como um
de de situações distintas que caracteriza o mundo desses princípios o “ba”, que é o ambiente propí-
organizacional. E mesmo que os princípios sejam cio ao compartilhamento do conhecimento, por
os mesmos, Fayol salienta que se trata sempre de exemplo. Para alguns tipos de empresa, isso é fun-
uma questão de medida, ou seja, dificilmente se damental! Entretanto, veremos mais sobre isso na
aplicará o mesmo princípio mais de uma vez em Unidade VII, quando falaremos sobre Gestão do
condições idênticas (FAYOL, 2007). Conhecimento.

O autor menciona, então, alguns princípios administrativos que ele afirma ter
tido a oportunidade de aplicar com maior frequência — tendo clara essa res-
salva apresentada anteriormente:
1) a divisão do trabalho;
2) a autoridade e a responsabilidade;
3) a disciplina;
4) a unidade de comando;
5) a unidade de direção;
6) a subordinação do interesse particular ao interesse geral;
7) a remuneração do pessoal;
8) a centralização;
9) a hierarquia;
10) a ordem;
11) a equidade;
12) a estabilidade do pessoal;
13) a iniciativa;
14) a união do pessoal.
(FAYOL, 2007, p. 43-44)

UNIDADE I 23
Planejar
e Organizar

Bem, além desses princípios, uma das grandes


contribuições de Fayol (2007) foi o que ficou co-
nhecida como “funções da administração”, mas
que em seu livro ele trata como “elementos de ad-
ministração”. De qualquer forma, estaremos falan-
do das mesmas coisas. Ele apresentou 5 elementos
— previsão, organização, comando, coordenação
e controle — que depois foram tratados também
por outros autores, mais atuais, e também os ter-
mos foram ajustados. O que o autor chamou de
“previsão” foi tratado pela maioria dos autores que
vieram depois como “planejamento” e o que ele
chamou de “comando” foi tratado como “direção”,
mas o conteúdo a que se refere é praticamente o
mesmo, salvo alguns elementos adicionais mais
típicos das décadas seguintes.
Tendo visto os conceitos de gestão e adminis-
tração, os princípios da administração e seus ele-
mentos, é hora, então, de adentrarmos às funções
administrativas — ou elementos de administra-
ção, conforme nominou Fayol (2007) — que geral-
mente dizem respeito às empresas, mas que você
verá que poderão se estender a diversos outros
tipos de organização.

24 Organizações e administração
Planejar e organizar são as duas primeiras fun-
ções da administração. Vamos começar com o
primeiro: planejar.
Fayol (2007) denominava essa função como
“prever”, mas veja seu conceito para prever: “pre-
ver, aqui, significa ao mesmo tempo calcular o
futuro e prepará-lo; é, desde logo, agir” (FAYOL,
2007, p. 65). Certamente é a isso que nos referimos
quando dizemos “planejar”, enquanto talvez para
nós o termo prever dê um pouco a conotação de
algo que necessitaria de uma bola de cristal.
O autor ainda traz como um instrumento efi-
caz para a previsão o programa de ação que é,
segundo ele, “o resultado visado, a linha de con-
duta a seguir, as etapas a vencer, os meios a em-
pregar” (FAYOL, 2007, p. 65). Então, a previsão
dele somado a esse programa de ação é o que nós
costumamos mesmo chamar de planejamento.
Vamos, então, aos autores mais atuais. Sobral e
Peci (2013, p. 195) definem planejamento como “fun-
ção da administração responsável pela definição dos
objetivos da organização e pela concepção de planos
que integram e coordenam suas atividades”.
Nesse conceito temos dois elementos chave:
objetivos e planos.

““
Os objetivos são resultados, propósitos,
intenções ou estados futuros que as
organizações pretendem alcançar. Já os
planos são guias que indicam o que deve
ser feito, especificando os recursos e as
ações necessárias para alcançar os objetivos
(SOBRAL; PECI, 2013, p. 195).

Lacombe e Heilborn (2008) inserem alguns elemen-


tos a esse conceito, mas sem perder o mesmo sentido:

““
Planejamento pode ser visto como (a) a
determinação da direção a ser seguida para
se alcançar um resultado desejado ou como
(b) a determinação consciente de cursos de

UNIDADE I 25
ação, isto é, dos rumos. Uma característica muito interessante e que talvez não nos da-
Ele engloba decisões, mos conta é que quando se fala em planejamento, estamos falando
com base em objetivos, também em atitude. Maximiano (2011) confere à atitude a respon-
em fatos e na estimati- sabilidade pela capacidade de sobrevivência de uma empresa, tanto
va do que ocorreria em a atitude proativa como a reativa. A ideia é que haja um equilíbrio
cada alternativa. Plane- entre essas duas, de modo que a atitude proativa cumpra seu pa-
jar é, portanto, decidir pel de promover crescimento e mudança e a reativa de manter a
antecipadamente o que estabilidade e impedir mudanças desnecessárias e para as quais a
fazer, de que maneira fa- empresa pode não estar ainda preparada.
zer, quando fazer e quem
deve fazer (LACOMBE;
HEILBORN, 2008, p.
Levantamento de informações;
162, grifo dos autores).

Os autores salientam também a


importância dos recursos quan-
do se pensa em planejamento. Análise dessas informações;
Eles são de naturezas variadas,
tais como recursos financeiros,
humanos, insumos, tecnológi-
cos, informação, conhecimento, Preparação de um plano ou de
entre tantos outros. planos.
Embora muitas vezes essa
função da administração seja Figura 4 - Etapas do processo de planejamento
tratada com displicência pelas Fonte: baseada em Maximiano (2011).
organizações, ela é considera-
da a base de todas as outras. Sobre os planos que compõem o planejamento, Sobral e Peci (2013)
Podemos dizer que alguns dos trazem alguns elementos que os caracterizam: 1) quanto à abran-
diversos benefícios de um bom gência (estratégicos, táticos ou operacionais); 2) quanto ao horizonte
planejamento são: “proporcio- temporal (longo, médio ou curto prazo); 3) quanto à especificidade
nar senso de direção, focalizar (gerais ou específicos); 4) quanto à permanência (permanentes ou
esforços, maximizar a eficiência, temporários).
reduzir o impacto do ambiente, No que tange à abrangência, esses três níveis serão melhor tra-
definir parâmetros de controle, tados na Unidade V, mas apenas para que se tenha clareza sobre a
atuar como fonte de motivação que se refere essa tipologia, o nível estratégico está relacionado às
e comprometimento, potencia- atividades que competem à alta administração de uma organização
lizar o autoconhecimento orga- e diz respeito à visão da organização como um todo, seus objetivos
nizacional e fornecer consistên- de longo prazo e suas perspectivas frente à concorrência. O nível
cia à ação gerencial” (SOBRAL; tático diz respeito às unidades ou departamentos de uma organi-
PECI, 2013, p. 195). zação, com o intuito de definir as principais ações que devem ser

26 Organizações e administração
feitas em cada unidade e a orientação geralmente 6. hierarquizáveis: que seja possível estabe-
é a médio prazo. O nível operacional, por fim, está lecer uma ordem de prioridade entre os
relacionado às atividades rotineiras, à definição diversos objetivos (SOBRAL; PECI, 2013).
dos procedimentos e processos específicos e aos
objetivos relacionados aos resultados esperados Tendo claro de que retirar trata o planejamento e
de indivíduos ou grupos (SOBRAL; PECI, 2013). suas características, passamos agora para a próxi-
Quando se pensa nos objetivos do planeja- ma função administrativa: organizar.
mento, primeiramente deve-se ter em mente o Enquanto o planejamento se ocupa com a de-
que move a organização e onde ela quer chegar, finição dos objetivos e das estratégias para alcan-
ou seja, sua missão e visão. çá-los, o objetivo principal da função de organizar
é criar condições para que esses objetivos sejam
alcançados (SOBRAL; PECI, 2013).
Fayol (2007, p. 77) dizia que “organizar uma
empresa é dotá-la de tudo o que é útil a seu fun-
“Missão: declaração escrita que descreve a razão cionamento: matérias-primas, utensílios, capitais
de ser da organização, seu propósito, valores, e pessoal”. Sobral e Peci (2013, p. 251) trazem al-
princípios e linhas orientadoras”. guns outros elementos complementares a esse
“Visão: declaração do que a organização deseja conceito: “organização: função da administração
ser, ou seja, da posição que ela quer ocupar no responsável pela distribuição de tarefas e recursos
futuro”. pelos membros e unidades da empresa, e esta-
Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 200-201). belecimento dos mecanismos de comunicação e
coordenação entre estes”.
Os mesmos autores compreendem a organização
Tendo considerado a missão e a visão, outros ele- como um processo de tomada de decisões e definem
mentos são importantes ao se pensar os objetivos. dois processos específicos que caracterizam a função
São características que, se atendidas, ajudarão os de organizar: a diferenciação e a integração. A dife-
objetivos a serem mais eficazes: renciação consiste em dividir as diversas atividades
1. específicos: transmitir com clareza qual é e tarefas para serem executadas pelas pessoas ou
o resultado esperado; departamentos especializados e competentes para
2. mensuráveis: que seja possível definir for- a função. A integração, por sua vez, é o processo de
mas de mensuração para facilitar o pro- coordenação dessas atividades de modo a obter uni-
cesso de avaliação; dade de esforços para o mesmo objetivo.
3. desafiadores, porém alcançáveis: devem Essa função da administração é também res-
representar um desafio para motivar, mas ponsável pela definição de diversos elementos,
devem ser realistas; como qual é o grau desejável de especialização
4. definidos no tempo: é necessário especi- do trabalho, quem será responsável por qual
ficar o prazo para sua realização, pois só atividade ou equipes de trabalho, qual o tama-
assim poderá ser avaliado seu alcance; nho dos grupos de trabalho, quais os critérios
5. coerentes: que os vários objetivos de uni- de divisão das tarefas por departamentos, qual
dades diferentes da organização não sejam o grau desejável de centralização das tomadas de
contraditórios entre si, mas consistentes; decisão, qual o grau desejável de formalização

UNIDADE I 27
das tarefas e funções, dentre tantas outras que Além disso, somente o fato de não precisar
envolvem esse processo de organização (SO- trocar de ferramentas ou de lugar, já era uma boa
BRAL; PECI, 2013). economia de tempo. Taylor depois aprofundou
O processo de organizar, segundo Maximiano esse conceito no estudo dos tempos e movimentos
(2011, p. 137): (SMITH, 2003).



consiste em dividir o trabalho e atribuir res-
ponsabilidades e autoridade a pessoas. As
principais etapas (ou decisões) no processo
de organizar são: 1) analisar os objetivos e o Tenha sua dose extra de
trabalho a realizar; 2) dividir o trabalho, de conhecimento assistindo ao
acordo com os critérios mais apropriados vídeo. Para acessar, use seu
para a realização dos objetivos; 3) definir leitor de QR Code.

as responsabilidades pela realização do tra-


balho; 4) definir os níveis de autoridade; 5)
desenhar a estrutura organizacional. Chiavenato (2014, p. 215) define a organização
como: “dividir o trabalho, agrupar as atividades
Sobre a divisão do trabalho, é fácil compreender- em uma estrutura lógica; designar pessoas para
mos do que se trata. Nada mais é do que a divisão executar o trabalho; alocar os recursos necessá-
de uma determinada tarefa em partes e cada parte rios; coordenar os esforços”.
é atribuída a uma pessoa ou grupo de pessoas O que podemos perceber com clareza é que
específicos. cabe a essa função da organização viabilizar
O economista escocês Adam Smith, em seu aquilo que foi planejado e da forma mais or-
livro “A riqueza das nações”, teorizou pela primeira gânica possível, considerando os recursos ne-
vez sobre a divisão do trabalho. Nessa obra ele cessários para isso. É na fase da organização
apresentou o icônico exemplo da fábrica de alfi- que surgirá também a necessidade de ajustes
netes. Se antes um trabalhador esticava o arame, no planejamento, com base nos recursos dis-
media, cortava, fazia a pontinha do alfinete, depois poníveis — ou indisponíveis — na alocação
a cabecinha, depois contava e colocava na caixa e das tarefas considerando as atribuições que já
produzia apenas uns 20 alfinetes por dia, quando fazem parte do cotidiano da empresa e assim
a tarefa era dividida e uma pessoa somente esti- por diante.
cava o arame, outra apenas media, outra apenas Fundamental também sobre essa função é
cortava e assim por diante, em um caso real, em definir os níveis de autoridade e a estrutura or-
dez trabalhadores, produziam em conjunto mais ganizacional, conforme descreveu Maximiano
de 48.000 alfinetes em um dia! É a especialização (2011). Isso porque, na divisão de tarefas é neces-
do trabalho que traz a destreza necessária para sário ter presente quem são os responsáveis por
ser cada vez mais ágil e perfeito na execução de cada setor e/ou equipe. Somente assim é possível,
determinada tarefa. de fato, organizar as coisas.

28 Organizações e administração
Dirigir, Coordenar
e Controlar

É claro que começamos sempre pelo pai da


criança: nosso já conhecido Fayol. A função da
administração dirigir foi concebida por ele com
outro termo, ao menos a tradução inicial foi esta:
comando. Esse termo para nós soa um pouco es-
tranho, talvez por isso essa função tenha tido seu
nome alterado.
Contudo, vamos ver o que ele queria dizer com
comando. Para ele, a missão do comando é fazer
as coisas funcionarem, missão essa que se dilui
entre as diversas pessoas com cargo de chefia,
de acordo com seus encargos e responsabilidade
de seus setores. A ideia é que cada uma dessas
pessoas consiga extrair o melhor de suas equipes
(FAYOL, 2007).
Fayol (2007) entendia o comando como uma
arte que engloba tanto certas características pes-
soais quanto conhecimento dos princípios ge-
rais da administração e se manifesta em todas
as empresas, sejam elas de pequeno ou grande
porte. Vou reproduzir aqui alguns preceitos que,
segundo o autor, têm por objetivo facilitar o co-
mando. São palavras dele, já logo me defendo, pois
algumas delas podem parecer um pouco chocan-
tes para nossos dias:

UNIDADE I 29


O chefe encarregado de um comando deve: esforços nas coisas que de fato farão a diferença
1) ter conhecimento profundo do seu pes- no trabalho da equipe. E quanto ao termo “devo-
soal; 2) excluir os incapazes; 3) conhecer tamento”, ele se refere ao respeito pela autoridade,
bem os convênios que regem as relações pela hierarquia, a fim de manter a equipe unida e
entre a empresa e seus agentes; 4) dar bom não haver dualidade de comando.
exemplo; 5) fazer inspeções periódicas do Bem, tendo compreendido os princípios do
corpo social, recorrendo nessas inspeções “pai da criança” a respeito dessa função adminis-
ao auxílio de quadros sinópticos; 6) reunir trativa, vamos passar para os autores mais recen-
seus principais colaboradores em conferên- tes. Segundo Sobral e Peci (2013, p. 10),



cias, onde se preparam a unidade de dire-
ção e a convergência dos esforços; 7) não se A direção está relacionada com os processos
deixar absorver pelos detalhes; 8) incentivar de gestão de pessoas na organização. Diri-
no pessoal a atividade, a iniciativa e o devo- gir significa liderar, motivar, e coordenar os
tamento” (FAYOL, 2007, p. 120-121). trabalhadores no desenvolvimento de suas
tarefas e atividades. Dirigir também signi-
Algumas coisas soam bastante estranhas, não é fica selecionar os canais de comunicação
mesmo? No entanto, vamos nos lembrar que o mais adequados e resolver conflitos entre
texto original foi escrito há um século, portanto, os subordinados.
em um contexto social e temporal muito dife-
rente do nosso. Vamos então procurar as atua- Aqui entrariam diversas questões que pode-
lidades disso: ter conhecimento do seu pessoal, ríamos acrescentar a respeito dessa função. O
por exemplo. Esse é o primeiro passo, de fato, conhecimento de questões comportamentais,
para conseguir fazer um bom ajuste de divisão por exemplo, é de grande ajuda a um gestor que
do trabalho. Excluir os incapazes talvez esteja se possui essa função de direção. Compreender os
referindo a não considerar como parte integrante diferentes tipos de personalidade, ter sensibili-
de determinado projeto ou tarefa as pessoas que dade para perceber como estão as relações entre
não tenham ainda as habilidades necessárias para as pessoas que trabalham juntas, capacidade de
fazê-lo e cuja possibilidade de treinamento não motivação… Sobre vários desses temas vamos
seja viável por alguma razão. O quadro sinóptico ainda tratar melhor ao longo do nosso livro, mas
mencionado por ele se refere ao uso do recurso gostaria agora somente de expor duas tipologias
de resumos esquematizados de uma ideia, para que nos ajudarão a compreender melhor a ques-
facilitar o entendimento. tão dos fatores de personalidade e dos traços de
Quanto a não se deixar absorver pelos deta- personalidade com relação ao comportamento
lhes, isso dependeria do caso, concordam? Há dentro das organizações.
projetos em que os detalhes são fundamentais Bom, primeiramente vamos definir personali-
e talvez o que se espera dos chefes nesse caso é dade. Você já deve ter ouvido (e falado) um boca-
exatamente uma absoluta atenção sobre eles. Há do de vezes a expressão: “fulano tem personalida-
outros casos em que a ideia é não se deixar distrair de forte!”. O que isso quer dizer exatamente? No
por questões menos importantes e concentrar os senso comum, talvez isso se refira mais às pessoas

30 Organizações e administração
“mandonas”, mas na realidade, pela definição, talvez não seria adequado usar essa expressão para tal
finalidade, dado que todas as personalidades podem ser fortes, no sentido de acentuadas. Alguém
extremamente tímido poderia, então, ser descrito como uma personalidade forte (em timidez), não
é mesmo?
Contudo, estou aqui falando da definição e nem apresentei ela ainda. Vamos lá: “a personalidade de
um indivíduo refere-se ao conjunto de características psicológicas estáveis que o caracteriza e diferencia
de outras pessoas, refletindo em seu comportamento” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 309).
Considerando esse conceito, foi concebido um modelo que descreve a personalidade humana com
base em 5 dimensões: extroversão, agradabilidade, senso de responsabilidade, estabilidade emocional
e abertura a novas experiências. Vamos lembrar que se trata de uma tipologia, uma das tantas que há
nesse campo. Abrange todos os seres humanos? Talvez. Abrange todas as características de personali-
dade possíveis em uma pessoa? Certamente não! Além disso, essas dimensões podem ser combinadas
em diferentes graus e de diferentes formas. Você deve estar pensando: “isso é óbvio, né? As pessoas são
diferentes umas das outras; não são só 5 tipos de seres que há por aí” e você está completamente certo!
Vamos às características de cada uma dessas dimensões:

Descreve até que ponto uma pessoa é sociável, comunicativa,


Extroversão
assertiva e se sente confortável nas relações interpessoais.

Descreve até que ponto uma pessoa é de boa índole, tolerante,


Agradabilidade
cooperativa e compreensiva.

Descreve até que ponto uma pessoa é responsável, cuidadosa,


Senso de responsabilidade
organizada, de confiança, persistente e voltada para realizações.

Descreve até que ponto uma pessoa é calma, entusiasta, segura


Estabilidade emocional
(positivos) ou tensa, nervosa e insegura (negativos).

Descreve até que ponto uma pessoa é imaginativa, curiosa, ar-


Abertura a novas experiências
tisticamente sensível e aberta intelectualmente.

Quadro 1 - O modelo dos cinco fatores de personalidade


Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 310).

Você conseguiria pensar um pouco sobre si mesmo e tentar compreender a própria personalidade a
partir dessas descrições? Até certo ponto sim, mas é difícil conseguirmos determinar, por exemplo, até
que ponto sou entusiasta ou curiosa, não é verdade?
Bem, há diversos testes baseados nesse modelo e que buscam adequar a personalidade de um
candidato a um cargo. Além dele, outra tipologia relevante a ser considerada pelas organizações é
com relação ao lócus de controle, o maquiavelismo e o automonitoramento (SOBRAL; PECI, 2013),
apresentados no quadro a seguir:

UNIDADE I 31
Percepção que os indivíduos Passamos agora para a coordenação. Para
têm sobre o controle dos Fayol (2007, p. 126, grifos do autor), “coordenar
acontecimentos de sua vida:
algumas pessoas acreditam é estabelecer a harmonia entre todos os atos de
Lócus de que seu sucesso ou fracasso uma empresa de maneira a facilitar o seu funcio-
controle é consequência de sua habili-
dade e esforço (controle inter- namento e o seu sucesso”. Isso envolve promover
no), outros creem que é fruto o equilíbrio das despesas e recursos financeiros,
do acaso ou de forças externas
(controle externo). envolve considerar as obrigações e consequências
de toda e qualquer operação, estabelecer priori-
Tendência em direcionar o
comportamento para a aqui-
dades e adaptar os meios ao fim (FAYOL, 2007).
sição de poder e manipulação
Maquiave- dos outros. Os indivíduos com
lismo cotações elevadas na escala
de maquiavelismo tendem a
comportar-se de forma egoísta
e hostil em relação aos outros.
Coordenar é equilibrar, sincronizar e integrar as
Habilidade de um indivíduo ações das pessoas e as atividades das unidades
para ajustar seus comporta-
organizacionais, de acordo com certa ordem e
mentos aos fatores externos
e situacionais. Indivíduos com método, para assegurar seu desenvolvimento
Automoni- alto automonitoramento são harmônico.
toramento sensíveis à informação externa
ou interpessoal, ao passo que Fonte: Lacombe e Heilborn (2008, p. 206).
indivíduos com baixo automo-
nitoramento são sensíveis aos
sentimentos e emoções.
Lacombe e Heilborn (2008) apresentam alguns
Quadro 2 - Principais traços de personalidade estudados esforços de coordenação necessários para que
em comportamento organizacional as atividades de uma organização aconteçam
Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 310).
da melhor forma possível:
E aqui, você consegue se autoanalisar a respeito a) o balanceamento, que se refere ao equilí-
de seu lócus de controle, do seu grau de maquia- brio das quantidades;
velismo e de automonitoramento? E imagina o b) a sincronização, que se refere a coordenar
quanto é importante para o responsável por uma as atividades de modo a tudo acontecer
equipe identificar e compreender esses aspectos em seu tempo correto;
nas pessoas que a compõe. Alguém que tem sem- c) a integração dos esforços, que se refere à
pre a tendência de culpar os outros ou as circuns- orientação de todas as atividades para o
tâncias, por exemplo. Identificar que a pessoa tem propósito comum.
tendência ao controle externo pode ser o primeiro
passo para ajudá-la a assumir melhor suas res- Perceba que a divisão do trabalho, conforme
ponsabilidades. Imagine as diferentes ocasiões em já vimos, é fundamental para a produtividade,
que esses traços de personalidade podem influen- mas concomitante a ela há todo um trabalho de
ciar na vida organizacional e, melhor ainda, tente coordenação para que todas as atividades con-
identificar esses comportamentos no local onde corram para o mesmo objetivo. Seria, de certa
você trabalha. É importante esse treinamento para forma, “montar o quebra-cabeças”, sendo cada
melhor poder conduzir equipes. peça uma tarefa específica que foi designada a

32 Organizações e administração
alguém (ou grupo/equipe/setor) por meio da Atualmente, por exemplo, é comum que em-
divisão do trabalho. presas tenham um controle tecnológico também,
Há alguns mecanismos de coordenação im- como o bloqueio de páginas da internet, e-mails
portantes para conduzir esse processo. Lacombe corporativos a cujos conteúdos a empresa tem
e Heilborn (2008) trazem como mecanismos o acesso ou a proibição do uso dos próprios smar-
ajuste espontâneo (que pode ser tanto formal tphones dos funcionários. Essas são questões
quanto informal), a supervisão direta, a definição polêmicas, sem dúvida, que renderiam uma boa
da estrutura e dos padrões de trabalho e a padro- conversa, mas aqui vamos considerar os dois lados
nização das habilidades. Como instrumento para e, de repente, até mesmo pensar naquele ditado
poder se utilizar desses mecanismos, os autores popular que já ouvimos tantas vezes “o combinado
sugerem como aspecto principal a comunica- não sai caro”. Talvez com regras claras e estabele-
ção e isso implica tanto o contato direto, quanto cidas previamente, o que poderia parecer invasivo
documento escritos ou comunicação por meios pode ser um acordo entre as partes baseado em
eletrônicos. algumas razões e aceito por todos.
A comunicação nesse processo, de fato, tem des- Ainda sobre o controle, Sobral e Peci (2013, p.
taque e importância singular. Sobre esse aspecto 10) apresentam a seguinte definição:



fundamental não trataremos profundamente aqui,
pois você terá uma disciplina voltada especifica- o controle é a função da administração que
mente a ele, tamanha sua importância para nossa assegura que os objetivos estão sendo al-
formação, tanto humana quanto profissional. cançados. Consiste no monitoramento e na
Por último, mas não menos importante, o avaliação do desempenho da organização,
controle. na comparação deste com os objetivos pla-
Começando sempre por aquele que carinho- nejados e na correção dos possíveis desvios.
samente estamos chamando de “pai da criança”: A função de controle envolve: a definição de
Fayol. Para ele, medidas de desempenho; a verificação siste-

““
mática do desempenho efetivo; a compara-
numa empresa, o controle consiste em ve- ção entre os padrões e objetivos planejados
rificar se tudo corre de acordo com o pro- e o desempenho efetivamente observado; e,
grama adotado, as ordens dadas e os princí- finalmente, o estabelecimento de medidas
pios admitidos. Tem por objetivo assinalar corretivas (no caso de se verificarem des-
as faltas e os erros, a fim de que se possa vios significativos). É por meio da função
repará-los e evitar sua repetição (FAYOL, de controle que a organização se mantém
2007, p. 130). no rumo pretendido ou planeja mudanças.

O autor ainda salienta que diversos aspectos de- Há diversos tipos de controle. Sobral e Peci (2013)
vem ser considerados, ou seja, o controle se aplica trazem alguns deles: 1) o controle preventivo, que
a tudo, às coisas, pessoas ou ações. Ele recomenda tem a função de antecipar possíveis problemas
algumas ações pontuais segundo diversos pontos (ex.: inspecionar insumos e matérias-primas); 2) o
de vista: o comercial, o técnico, o financeiro, de controle simultâneo, que tem como característica
segurança, da contabilidade e poderíamos ainda corrigir os problemas à medida que ocorrem (ex:
acrescentar diversos outros. supervisão direta dos trabalhadores); 3) o controle

UNIDADE I 33
posterior, que corrige os problemas depois que Mais uma vez, a importância de uma comuni-
eles acontecem (ex: controle de qualidade dos cação clara e objetiva.
produtos finais). Há diversas formas de se estabelecer o controle
Aqui podemos pensar que talvez o ideal mes- em uma organização. Muitos autores trazem pro-
mo, em termos de excelência, fosse os três tipos, postas nesse sentido, inclusive propõem algumas
pois evitaria problemas com os insumos (que pelo ferramentas, como auditoria, inspeções visuais,
efeito cascata acarretaria problemas aos produtos sistemas automatizados para contagem e medição
finais), com o andamento do trabalho (cujo efeito ou até mesmo o cartão ponto. Enfim, existe uma
também afetaria os produtos finais) e com proble- infinidade de ferramentas, mas aquelas que de fato
mas de insatisfação dos clientes ou retrabalho ou funcionarão serão as que fizerem sentido dentro
recalls, fazendo o controle de qualidade. da organização. Não adianta, por exemplo, con-
Estamos falando de produtos nesse exemplo, tratar uma auditoria se o problema, já se sabe, está
mas também para serviços isso se aplica: os insu- na qualidade das matérias-primas. O importante
mos (conhecimento e demais recursos necessários é procurar os mecanismos que ajudem a organi-
para desempenhar o trabalho), o “durante”, que talvez zação a atingir seus objetivos, que sejam também
necessite ainda de algum ajuste, e o “depois”, fazendo éticos e não agridam as pessoas que ali trabalham;
talvez uma pesquisa de opinião aos clientes sobre a um sistema sensato e transparente, de modo que
qualidade do serviço. Em suma, a ideia do controle não se queira como objetivo “achar um culpado”,
é que tudo o que foi planejado lá atrás dê certo! É mas sim diminuir a probabilidade de problemas e
garantir (ou tentar garantir) um bom resultado final. aumentar as possibilidades de alcance do objetivo
Sistemas de controle organizacional podem organizacional.
ser os mais variados. As características de sistemas Nessa unidade foram apresentados os concei-
de controle eficazes dependerão da natureza do tos de organização, empresa, gestão, administra-
negócio e de como se pretende administrar uma ção, enfim, do que será fundamental para poder-
organização. Lacombe e Heilborn (2008, p. 173) mos caminhar pelos próximos assuntos. Vimos
estabelecem algumas etapas para o controle: “pa- também as funções da administração: planejar,
drões de desempenho; medidas (aferição); inter- organizar, dirigir, coordenar e controlar e como
pretação e ação corretiva”. De fato, é fundamental elas podem ser aplicadas na prática.
para o controle que haja padrões de desempenho Isso nos dá a base para compreendermos o
bem definidos e também medidas objetivas que que envolve o mundo das organizações e de sua
possam ser aferidas. Do contrário, as pessoas não administração. Na próxima unidade, falaremos
sabem o que nem quanto se espera delas, o que sobre algumas das principais teorias da adminis-
torna injusta uma avaliação e difícil o acerto den- tração. Obrigada pela companhia e até a próxima
tro de padrões que elas desconhecem. unidade!

34 Organizações e administração
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Nossa vida é permeada de relações organizacionais. Há uma organização por


trás de quase tudo que fazemos no nosso cotidiano. A respeito das organizações
e de sua gestão, assinale a alternativa correta.
a) Organizações e empresas são sinônimos. Sempre que se fala de organizações,
estamos nos referindo especificamente a empresas.
b) Organização é um grupo estruturado de pessoas que se unem para alcançar
objetivos comuns.
c) Todas as organizações têm as mesmas características, independentemente de
sua natureza ou propósito.
d) Administração e gestão são termos completamente distintos em significado,
com funções diferentes que não se tangenciam.
e) Dentre os princípios administrativos, a divisão do trabalho é o menos relevante
deles, uma vez que não colabora para o aumento de produtividade.

2. Planejar e organizar são duas das funções da administração fundamentais para


uma boa gestão. Com relação a essas funções, leia as afirmações abaixo:
I) Quando se fala em planejamento, há alguns elementos basilares a serem
considerados: os objetivos, os recursos e os planos.
II) O processo de planejamento inclui também o levantamento de informações,
para somente depois da análise delas poder preparar um plano de ação.
III) Embora a missão e a visão da empresa sejam declarações importantes, não
é necessário que os objetivos traçados no planejamento sejam coerentes
com elas.
IV) A organização é a função da administração responsável pela distribuição de
tarefas e recursos pelos membros e unidades da empresa e pelo estabeleci-
mento dos mecanismos de comunicação e coordenação entre estes.

35
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I, II, e IV estão corretas.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

3. Dirigir, coordenar e controlar são funções da administração que, combinadas


com o prévio planejamento e a organização colaboram para uma boa gestão de
organizações. A respeito dessas funções, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) :
(( ) A direção está relacionada com os processos de gestão de pessoas na organi-
zação, bem como com a escolha dos canais de comunicação mais adequados
para resolver eventuais conflitos entre elas.
(( ) Coordenar é equilibrar, sincronizar e integrar as ações das pessoas e as ativi-
dades das unidades organizacionais, de acordo com certa ordem e método,
para assegurar seu desenvolvimento harmônico.
(( ) O controle pode estar presente em diversos momentos em uma organização.
Pode ser preventivo, simultâneo ou posterior.

Assinale a alternativa correta.


a) V-V-V.
b) V-F-F.
c) F-F-F.
d) F-V-V.
e) V-F-V.

36
LIVRO

Administração industrial e geral


Autor: Henri Fayol
Editora: Atlas
Sinopse: esta obra está dividida em duas partes. A primeira discorre sobre a
possibilidade de um ensino administrativo, apresentando uma definição de
administração, destacando a importância relativa das diversas capacidades
que constituem o valor do pessoal das empresas e delineando métodos por
meio dos quais esta necessidade seja identificada e o ensino administrativo
seja idealizado. Na segunda parte, são estudados os princípios gerais da admi-
nistração, sob o prisma de que todos os agentes de uma empresa participam,
mais ou menos, dos processos administrativos. Por outro lado, estudam ainda
os elementos da administração, a saber, a previsão, a organização, o comando,
a coordenação e o controle.

37
CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 5. ed. Barueri-SP: Manole, 2014.

FAYOL, H. Administração industrial e geral: previsão, organização, comando, coordenação e controle. 7. ed.
São Paulo: Atlas, 2007.

FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Editora Positivo, 2010.

GUERRINI, F. M. Administração para Engenheiros. São Paulo: Elsevier, 2016.

JONES, G. R. Teoria das organizações. 6. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.

LACOMBE, F. J. M. Teoria geral da administração. São Paulo: Saraiva, 2009.

LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

______. Introdução à administração. Edição compacta. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.

SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

ROCHA, E. E. R. B. O cooperativismo agrícola em transição: dilemas e perspectivas. 1999. Tese (Doutorado)


- Instituto de Economia. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1999.

SOBRAL, F.; PECI, A. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. 2. ed. São Paulo: Pearson Educa-
tion do Brasil, 2013.

38
1. B.

2. C.

3. A.

39
40

Você também pode gostar