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Aluizio Belisário*
O momento pós-eleitoral parece propício à reflexão sobre alguns aspectos relativos à democracia e um
dos temas recorrentes diz respeito às possibilidades concretas de uma gestão pública democrática,
destacando-se aí, a questão enfrentada pelas Metrópoles: como conduzir um grande centro urbano,
com sua enorme gama de problemas, a uma administração democrática?
Muitos estudiosos e membros das máquinas governamentais parecem convergir para uma mesma
solução: a saída "mágica" estaria na descentralização e na criação de canais de participação popular.
Saída "mágica" porque, todos parecem apegar-se a esta proposta como algo de fácil implementação,
sem maiores preocupações com a necessidade de uma clara compreensão de seu conteúdo ideológico e
das implicações de ordem política, oriundas de sua adoção.
Mais ainda, há uma grande confusão entre os conceitos de descentralização – que pode ser entendida
como uma política administrativa, onde a tônica encontra-se na delegação de autoridade e autonomia;
e desconcentração - que implica na distribuição e alocação dos Centros prestadores de serviços, nas
áreas ou regiões, onde se localizam seus usuários.
Parece, portanto, de suma importância desmistificar a "descentralização" como tábua de salvação das
grandes cidades e procurar entendê-la como instrumento de implementação de uma política mais
ampla, de democratização das instituições publicas.
Esta discussão leva, naturalmente, à necessidade de uma reflexão mais cuidadosa acerca das grandes
cidades, ou seja, como podem ser entendidas e administradas de modo que se atenuem dois de seus
maiores problemas: a deterioração da qualidade de vida e a complexidade de sua gestão.
Tendo em vista que, apesar de a maioria dos municípios poderem ser encarados como unidades
próximas dos cidadãos e pequenas o suficiente, para permitir uma gestão mais democrática e eficiente
– não são poucas as cidades que se caracterizam como Metrópoles ou caminham para isso – há centros
urbanos que possuem contingentes populacionais e extensões territoriais de tal ordem, que são, muitas
vezes, superiores a estados ou mesmo países, isso sem dizer que são, em geral, compostos de
microrregiões bastante desassemelhadas entre si.
Pensar na descentralização, como forma de tornar a administração publica mais eficiente, não constitui
novidade. Pensar na descentralização, como instrumento de uma política mais ampla, voltada para a
democratização da gestão publica, ou seja, utilizar-se da descentralização da máquina administrativa,
para torná-la permeável à participação popular no processo decisório, isto sim, pode ser considerado
um avanço em direção a uma gestão moderna e democrática.
Mais do que realizar reformas administrativas, que transformem a fechada máquina burocrática em
instrumento, não da cooptação do interesse dominado através de sua submissão às regras do jogo
burocrático, mas sim, de encaminhamento independente destes interesses, é necessária uma definição
inequívoca de uma política socializante, ou seja, mais do que uma reforma de estrutura ou
procedimentos administrativos, trata-se de provocar uma revolução no comportamento da burocracia e,
porque não dizer, também da comunidade organizada, tendo em vista a necessidade de se repensar as
relações governantes-governados.
Qualquer tentativa de mobilizar a comunidade a participar das decisões governamentais, passa por
entender que, esta mesma comunidade deve participar das definições das mudanças administrativas a
serem efetuadas, de modo a minimizar os riscos de sua cooptação por parte de uma burocracia, cujo
objetivo é, claramente, impor-se como centro de poder, com base em uma pretensa racionalidade
tecnocrática. Assim, embora todas as indicações levem a crer que a saída para a crise política, social,
econômica e administrativa das Metrópoles, encontra-se na implantação da descentralização, é
necessário que se tenha muita clareza, tanto com relação ao que significa descentralizar, quanto dos
limites desta descentralização.
É importante salientar que, muitas vezes, defensores radicais da descentralização, tornam-se críticos
contundentes desta política, exatamente por confundirem desconcentração com descentralização e por
não terem percebido o real alcance político de tal proposta – que obviamente, não é apenas uma
resposta de ordem organizacional ou administrativa aos problemas das Metrópoles.