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Dicionário de Mitologia Nórdica - Johnni Langer (org).


PLANTAS MÁGICAS

A utilização de ervas e plantas tanto para o uso culinário, como medicinal e mágico
acompanha o ser humano desde tempos ancestrais. Na Escandinávia da Era Viking não foi
diferente. As plantas, que além de fornecer alimento, fios para a tecelagem, também eram
responsáveis por conceder um sabor especial à alimentação cotidiana, curar os males e
proporcionar uma ligação com os deuses.
Algumas fontes literárias nos oferecem dados fundamentais para o estudo da importância
da flora no cotidiano escandinavo medieval: seja no uso culinário, medicinal ou mágico. Muitas
espécies foram domesticadas e eram cultivadas em hortas, próximas das casas para serem
utilizadas in natura durante a primavera e o verão; durante o inverno eram utilizadas secas e, para
isso, eram colhidas e postas para secar e armazenadas penduradas nas paredes e pendentes dos
telhados, ou ainda em pequenos potes de cerâmica.
A maioria das ervas possuía um duplo uso: medicinal e culinário, pois sua utilização como
tempero era apreciada por conferir um melhor sabor aos alimentos, e também eram utilizados
como conservantes dos alimentos. O uso medicinal das ervas da culinária pode ser comprovado
tanto pela cultura material como também pela literatura. A seguir detalhamos as principais plantas
e ervas mágicas da Escandinávia Medieval (os nomes em latim correspondem à classificação
botânica moderna):

Linum usitatissimum (Linho). Dessa planta retirava-se a fibra para fazer tecido de
linho e também as suas sementes eram utilizadas na culinária e na medicina caseira: a
farinha era utilizada para pães e mingaus, e também, devido ao seu poder cicatrizante, era
utilizada em cataplasmas. O óleo extraído dessas sementes era um excelente cicatrizante.
Além desses usos culinários e medicinais é fundamental destacar o uso mágico do linho.
Segundo Hilda Davidson o linho é um claro símbolo de riqueza e poder.
Allium porrum (alho-poró). Essa planta é ainda hoje muito utilizada na alimentação
não só na Escandinávia, mas também em praticamente todo o mundo. O alho-poró
tem um sabor mais suave do que o alho comum, e lembra o sabor da cebola. Esse
vegetal é considerado um símbolo fálico e, portanto, possuía uma alta conotação
sexual, sendo, portanto, muito utilizado para a confecção de amuletos para a magia
sexual. O alho-poró é um bulbo comprido e não tão fino sendo associado portanto ao
pênis e à virilidade. A poesia éddica emprega esta erva como metáfora para a
virilidade, a exemplo do herói Sigurd que é comparado a um alho-poró crescendo
acima da grama (“sem væri grænn laukr”, Guðrúnarkviða in forna 2). Tanto o linho quanto o alho-poró aparecem
inseridos na inscrição rúnica de uma faca de Fløksand, Noruega, datada do século IV d.C. e encontrada numa sepultura
feminina: “Lina, laukaz, fehu” (Linho, alho-poró, prosperidade). Evidentemente, aqui temos uma fórmula mágica
intentando a abundância de comida, protegendo assim toda a fazenda. Essa conexão de fertilidade ctônica tem
sentido com outras referências éddicas desta erva, como no momento após a criação de Midgard por Odin, Vili e Ve,
onde “brotaram do chão verdejantes alhos-porós” (“þá var grund gróin grænum lauki”, Völuspá 4).
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Artemisia Vulgaris (Artemísia, Losna). Usada extensivamente para medicina


doméstica e considerada a erva feminina por excelência (aumenta o leite
materno, facilita o parto, alivia a cólica menstrual, auxilia o útero nas
contrações do parto, alivia o enjoo da gravidez). Era utilizada na culinária
como amaciante da carne de gado e peixe, além de facilitar a digestão. Ela
possui efeito analgésico, poderosa ação digestiva e calmante. Jamais era
utilizada crua, pois nesse estado é altamente toxica.

Galium verum (Verbena, conhecida no mundo nórdico


como Freyjar gras). Planta utilizada para coalhar o leite na
fabricação do queijo na Europa Nórdica. Na Alemanha e
países escandinavos, era colocada na cama da mulher
durante o trabalho de parto, para proteger simbolicamente
o recém-nascido. Associada com a deusa Freyja e depois
incorporada à tradição mariana.

Adiantum capillus veneris (Avenca). Popularmente conhecida com o nome


islandês de Freyjuhar (cabelos de Freyja). Usada para aliviar a cólica
menstrual.

Angelica archangelica (Angélica, conhecida no mundo


escandinavo por Ætihvönn). Planta introduzida na Europa pelos
Vikings e muito utilizada na Islândia Medieval, sendo sua planta
medicinal mais popular. Muito utilizada para problemas estomacais
e respiratórios. A planta era conhecida como “Erva do Norte” até o
século XVII, quando um monge francês a catalogou como Angelica
archangelica. No poema “As Nove Ervas de Wotan”
encontramos o nome de nove ervas utilizadas para encantamentos
– uso mágico – e também o seu uso medicinal. Ao analisarmos o
poema e a descrição das ervas constatamos que todas essas ervas
possuíam um triplo uso: culinário, medicinal e mágico. A seguir analisaremos algumas das ervas
presentes no poema, e seus usos:
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Plantago major cujo nome popular é tanchagem, trasnagem ou


tansagem é descrita como a “mãe das ervas” era também utilizada para
combater os envenenamentos. Era usada para combater os males do
estômago e depurar o sangue. Também eram feitos emplastos cicatrizantes
para feridas. Suas sementes depois de secas eram utilizadas em pães e
sopas.

Cardamine hisurtea é também conhecida como agrião selvagem. Muito


cultivada nas hortas para complementar a alimentação, essa hortaliça
também era utilizada para combater o efeito dos venenos, pois sua ação
digestiva e purgativa facilitava a eliminação das toxinas. Muito utilizada
também – e esse uso se estende até os dias atuais – no tratamento das
infecções das vias respiratórias. Echinochloa crus-galli é conhecida
como capim-arroz e é uma espécie de praga que invadia as lavouras de
cevada e trigo. Por ser uma planta invasora era eliminada, mas era
também utilizada como antidoto e como alimentação para os animais.

Antehmis cotula. Essa erva popularmente conhecida como


macelinha é da mesma família da camomila (Matricaria chamomilla). Muito
utilizada para combater infecções e inflamações causadas por ferimentos e
também para doenças relacionadas à respiração. Por ter um sabor
adocicado era utilizada como condimento em bebidas e comidas na
Escandinávia medieval.

Pyrus malus é o nome científico da maçã. Essa fruta, com uso tanto para a
fabricação de bebidas como a sidra e chás, e em comidas, como vários doces e
pães, possuía também um caráter sagrado. A deusa Idunna, que velava pelas
maçãs que asseguravam a juventude dos deuses, foi roubada, e a partir daí os
deuses começaram a envelhecer. Em muitas culturas essa fruta é sagrada: símbolo
do conhecimento, da vida eterna, do renascimento a maçã é, por excelência um fruto sagrado. No
poema ela é descrita como antidoto e também usada como proteção contra envenenamentos.
Também utilizada como analgésico.
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Anthriscus cerefolium planta da mesma família da salsinha, e muitas vezes


confundida com ela devido à semelhança morfológica que apresentam, é
também utilizada como um substituto desta. Era utilizada contra os venenos
e para aliviar a dor, principalmente a estomacal, e também como diurética.
Era muito utilizada na culinária da Escandinávia na Alta Idade Média.

Foeniculum vulgare vulgarmente conhecida como funcho.


Muito utilizada como remédio para problemas intestinais e
estomacais. É depurativa; era utilizada na culinária por ser
muito aromática.

Urtica dioica é a urtiga. Uma planta que está relacionada ao uso


mágico por conter espinhos e o menor contato com a pele causa
irritações. A urtiga é uma das primeiras plantas que desabrocham
depois dos longos invernos. Era muito utilizada como medicamento,
por seu alto poder cicatrizante, e como alimento, pois a alta
concentração de sais minerais a torna uma planta altamente nutritiva,
que auxiliava o corpo a restabelecer-se depois da longa ingestão de
comidas desidratadas e salgadas. Até hoje se utiliza a urtiga como um poderoso alimento contra a
anemia. Luciana de Campos
ANÔNIMO. Norse Magical and Herbal Healing (AM 434a), tradução de Ben Waggoner. New
Haven: The Troth, 2011. DAVIDSON, Hilda. Roles of the Northern Goddess. Londres/Nova
York: Routledge, 1998.

ROBERTSON, David. “Magical medicine in Viking Scandinavia”. Medical History 20(3), 1976,
pp. 317–322.

FONTE:

LANGER, Johnni (org.) – Dicionário de Mitologia Nórdica. São Paulo: Hedra, 2017. Edição
do Kindle.

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