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A utilização de ervas e plantas tanto para o uso culinário, como medicinal e mágico
acompanha o ser humano desde tempos ancestrais. Na Escandinávia da Era Viking não foi
diferente. As plantas, que além de fornecer alimento, fios para a tecelagem, também eram
responsáveis por conceder um sabor especial à alimentação cotidiana, curar os males e
proporcionar uma ligação com os deuses.
Algumas fontes literárias nos oferecem dados fundamentais para o estudo da importância
da flora no cotidiano escandinavo medieval: seja no uso culinário, medicinal ou mágico. Muitas
espécies foram domesticadas e eram cultivadas em hortas, próximas das casas para serem
utilizadas in natura durante a primavera e o verão; durante o inverno eram utilizadas secas e, para
isso, eram colhidas e postas para secar e armazenadas penduradas nas paredes e pendentes dos
telhados, ou ainda em pequenos potes de cerâmica.
A maioria das ervas possuía um duplo uso: medicinal e culinário, pois sua utilização como
tempero era apreciada por conferir um melhor sabor aos alimentos, e também eram utilizados
como conservantes dos alimentos. O uso medicinal das ervas da culinária pode ser comprovado
tanto pela cultura material como também pela literatura. A seguir detalhamos as principais plantas
e ervas mágicas da Escandinávia Medieval (os nomes em latim correspondem à classificação
botânica moderna):
Linum usitatissimum (Linho). Dessa planta retirava-se a fibra para fazer tecido de
linho e também as suas sementes eram utilizadas na culinária e na medicina caseira: a
farinha era utilizada para pães e mingaus, e também, devido ao seu poder cicatrizante, era
utilizada em cataplasmas. O óleo extraído dessas sementes era um excelente cicatrizante.
Além desses usos culinários e medicinais é fundamental destacar o uso mágico do linho.
Segundo Hilda Davidson o linho é um claro símbolo de riqueza e poder.
Allium porrum (alho-poró). Essa planta é ainda hoje muito utilizada na alimentação
não só na Escandinávia, mas também em praticamente todo o mundo. O alho-poró
tem um sabor mais suave do que o alho comum, e lembra o sabor da cebola. Esse
vegetal é considerado um símbolo fálico e, portanto, possuía uma alta conotação
sexual, sendo, portanto, muito utilizado para a confecção de amuletos para a magia
sexual. O alho-poró é um bulbo comprido e não tão fino sendo associado portanto ao
pênis e à virilidade. A poesia éddica emprega esta erva como metáfora para a
virilidade, a exemplo do herói Sigurd que é comparado a um alho-poró crescendo
acima da grama (“sem væri grænn laukr”, Guðrúnarkviða in forna 2). Tanto o linho quanto o alho-poró aparecem
inseridos na inscrição rúnica de uma faca de Fløksand, Noruega, datada do século IV d.C. e encontrada numa sepultura
feminina: “Lina, laukaz, fehu” (Linho, alho-poró, prosperidade). Evidentemente, aqui temos uma fórmula mágica
intentando a abundância de comida, protegendo assim toda a fazenda. Essa conexão de fertilidade ctônica tem
sentido com outras referências éddicas desta erva, como no momento após a criação de Midgard por Odin, Vili e Ve,
onde “brotaram do chão verdejantes alhos-porós” (“þá var grund gróin grænum lauki”, Völuspá 4).
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Pyrus malus é o nome científico da maçã. Essa fruta, com uso tanto para a
fabricação de bebidas como a sidra e chás, e em comidas, como vários doces e
pães, possuía também um caráter sagrado. A deusa Idunna, que velava pelas
maçãs que asseguravam a juventude dos deuses, foi roubada, e a partir daí os
deuses começaram a envelhecer. Em muitas culturas essa fruta é sagrada: símbolo
do conhecimento, da vida eterna, do renascimento a maçã é, por excelência um fruto sagrado. No
poema ela é descrita como antidoto e também usada como proteção contra envenenamentos.
Também utilizada como analgésico.
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ROBERTSON, David. “Magical medicine in Viking Scandinavia”. Medical History 20(3), 1976,
pp. 317–322.
FONTE:
LANGER, Johnni (org.) – Dicionário de Mitologia Nórdica. São Paulo: Hedra, 2017. Edição
do Kindle.