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SISTEMAS DE PROTEÇÃO

CONTRA DESCARGAS
ATMOFÉRICAS E
ATERRAMENTO

Autores:
Ademar Macedo de O. Júnior
Roberto José da Silva

Orientador:
Prof. Wanir José de Medeiros Júnior

Goiânia
Fevereiro/2004
ADEMAR MACÊDO DE OLIVEIRA JÚNIOR (MATRÍCULA: 980115)
ROBERTO JOSÉ DA SILVA (MATRÍCULA: 920175)

SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS


ATMOSFÉRICAS E ATERRAMENTO

Projeto Final apresentado ao Curso de Engenharia


Elétrica da Escola de Engenharia Elétrica da
Universidade Federal de Goiás, para obtenção do título
de Engenheiro Eletricista.

Área de Concentração: Sistemas de Energia

Banca examinadora:
• Engenheiro Antônio Marcos de Melo
Medeiros- mestrando EEEC-UFG
• Msc. Henrique Mendonça Queiroz
• Prof. Wanir José de Medeiros Júnior

Orientador: Prof. Wanir José de Medeiros Júnior

Goiânia
Fevereiro/2004
Agradecimentos:

Agradeço ao Prof. Orientador Wanir José de Medeiros


Júnior pela grande ajuda prestada para a minha formação.

Ademar Macedo de Oliveira Júnior

Agradeço à Minha esposa, Fernanda, meus filhos Pedro


e Letícia e a todos meus familiares.
Roberto José da Silva.
Epígrafe:

“Quando uma porta se fecha, outra se abre. Mas muitas


vezes nós ficamos olhando tanto tempo, tristes, para a porta
fechada que nem notamos que se abriu outra para nós”.
Alexander Graham Bell
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS....................................................................................................... 01
LISTA DE TABELAS....................................................................................................... 02
SIGLAS UTILIZADAS..................................................................................................... 03
RESUMO............................................................................................................................ 04
INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 05
1 ATERRAMENTO........................................................................................................... 07
1.1 O campo magnético........................................................................................... 08
1.2 Potencial de Passo e de Toque........................................................................... 09
1.3 Escoamento da Malha........................................................................................ 10
1.4 Conceitos relevantes.......................................................................................... 10
1.5 Finalidades......................................................................................................... 11
1.6 Requisitos........................................................................................................... 12
1.7 Fatores que Influenciam no Aterramento........................................................... 12
2 RESISTIVIDADE DO SOLO........................................................................................ 14
2.1 Introdução.......................................................................................................... 14
2.2 Influência da umidade........................................................................................ 15
2.3 Influência da temperatura................................................................................... 16
2.4 Tópicos sobre medição....................................................................................... 16
2.4.1 Potencial em Um Ponto....................................................................... 17
2.4.2 Potencial em Um Ponto Sob a Superfície de Um Solo Homogêneo.. 18
2.4.3 Método de Wenner.............................................................................. 20
2.4.4 Medição Pelo Método de Wenner....................................................... 22
2.4.5 Curva Característica ρ x a................................................................... 24
2.4.6 Análise dos resultados......................................................................... 24
3 TRATAMENTO DO SOLO.......................................................................................... 27
3.1 Tipos de tratamento químico.............................................................................. 27
3.1.1 Bentonita............................................................................................. 28
3.1.2 Earthron............................................................................................... 28
3.1.3 Gel...................................................................................................… 29
3.2 Coeficiente de redução kt............................................................................................................................. 29
3.3 Variação da resistência de terra.......................................................................... 30
4 SISTEMAS FÍSICOS..................................................................................................... 33
4.1 Hastes................................................................................................................. 33
4.2 Dimensionamento do sistema............................................................................ 34
4.2.1 Uma haste vertical............................................................................... 34
4.2.2 Hastes Paralelas................................................................................... 36
4.2.2.1 Resistência Equivalente de Hastes Paralelas....................... 38
4.2.3 Índice de Aproveitamento................................................................... 40
4.2.4 Hastes Profundas................................................................................. 40
5 CORROSÃO NOS COMPONENTES DO SISTEMA................................................ 42
5.1 Utilização de materiais diferentes...................................................................... 42
5.2 Solos com diferentes concentrações de elementos............................................. 44
5.3 Heterogeneidade da temperatura do solo........................................................... 45
6 ATERRAMENTO PARA MÉDIA TENSÃO.............................................................. 46
6.1 Classificação segundo NBR 5419...................................................................... 46
6.2 Esquemas com neutro aterrado ou Txx.............................................................. 48
6.3 Esquemas TN..................................................................................................... 48
6.4 Esquema TT....................................................................................................... 49
6.5 Esquema IT........................................................................................................ 50
7 DESCARGAS ATMOSFÉRICAS................................................................................. 52
7.1 Condução........................................................................................................... 53
7.2 Uso do concreto armado.................................................................................... 55
7.3 O concreto pré-formado..................................................................................... 57
7.4 O concreto protendido........................................................................................ 57
7.5 Eletrodos de aterramento................................................................................... 58
8 RISCO DE EXPOSIÇÃO DE UMA EDIFICAÇÃO................................................... 60
8.1 Densidade de descargas para a terra................................................................... 60
8.2 Área de exposição equivalente........................................................................... 62
8.3 Freqüência média anual previsível................................................................................. 62
8.4 freqüência média anual admissível............................................................................... 63
8.5 Avaliação geral do rico.................................................................................................. 63
8.6 Verificação da necessidade de proteção contra descargas atmosféricas........................ 63
8.7 Níveis de proteção.......................................................................................................... 64
9 TIPOS DE PÁRA-RAIOS.............................................................................................. 66
9.1 Pára-raios de haste............................................................................................. 66
9.2 Gaiola de Faraday.............................................................................................. 67
9.3 Pára-raios em linhas de transmissão.................................................................. 69
9.3.1 Pára-raios de Carboneto de Silício...................................................... 69
9.3.2 Pára-raios de Óxido de Zinco............................... 70
10 PROIBIÇÃO DO PÁRA-RAIOS RADIOATIVO..................................................... 73
10.1 Razões para a proibição.............................................................................................. 73
10.2 Riscos........................................................................................................................... 74
10.3 Recolhimento............................................................................................................... 75
10.4 Reprojeto...................................................................................................................... 75
10.5 Resolução do CNEN.................................................................................................... 75
11 CONCLUSÃO............................................................................................................... 77
LISTA DE FIGURAS

FIG. 1.1 Instalação genérica em prédio norma NBR5410/93...................... 18


FIG. 2.1 Curva característica ρ x Temperatura.............................................. 19


FIG. 2.2 Linhas de corrente elétricas ............................................................. 20
FIG. 2.3 Linhas de correntes elétricas ........................................................... 21
FIG. 2.4 Ponto imagem.................................................................................. 21
FIG. 2.5 Quatro hastes cravadas no solo........................................................ 21
FIG. 2.6 Imagem do ponto 1 a 4 .................................................................... 21
FIG. 2.7 Método de Wenner .......................................................................... 21
FIG. 3.1 Valores típicos de kt em função da resistividade ............................. 21
FIG. 3.2 Variação da resistividade de terra, com o tempo, de eletrodos em
solos tratados e não tratados ............................................................................................ 21
FIG. 3.3 Resistência de terra reduzida pelo tratamento químico do solo ...... 21
FIG. 3.4 Tratamento químico do solo e variações mensais da resistência .... 21
FIG. 4.1 Haste cravada no solo ...................................................................... 21
FIG. 4.2 Zona de interferência nas linhas equipotênciais de duas hastes ...... 21
FIG. 4.3 Superfícies equipotenciais de duas hastes ....................................... 21
FIG. 4.4 Hastes em paralelo........................................................................... 21
FIG. 4.5 Paralelismo das resistências ............................................................ 21
FIG. 5.1 Aterramento com aço e cobre.......................................................... 21
FIG. 5.2 Área de ferro exposta....................................................................... 21
FIG. 5.3 Zonas de solos distintos................................................................... 21
FIG. 5.4 Solos com concentrações distintas .................................................. 21
FIG. 7.0 Descarga atmosférica....................................................................... 21
FIG. 7.1 Condutores do sistema de proteção contra descargas atmosféricas 21
FIG. 8.1 Mapa isoceráunico do Brasil ........................................................... 21
FIG. 9.1 Exemplo da gaiola de Faraday ........................................................ 21

1
LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1 RELAÇÃO ENTRE TIPO DE SOLO E RESISTÊNCIA ............................................... 43


TABELA 8.1 NÍVEL CERÁUNICO EM DIVERSOS PAÍSES ......................................................... 68
TABELA 8.2 NÍVEL CERÁUNICO NO BRASIL ........................................................................ 85
TABELA 8.3 NÍVEIS DE PROTEÇÃO ...................................................................................... 95
TABELA 9.1 DISTÂNCIA ENTRE OS CABOS DE MALHA DE PROTEÇÃO.................................. 97

2
SIGLAS UTILIZADAS

CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear


Dco Distância entre condutores
Dimensão da área plana da malha captora no sentido da largura e do
Dm
comprimento (m)
E Potencial(V)
Fig Figura
H Altura (m)
J Densidade de corrente (A)
L Comprimento (m)
N Frequencia média anual previsível
Nc Freqüência média anual admissível de danos
Ng A densidade de descargas atmoféricas para a terra
R Resistência (Ω)
SiC Carboneto de silício
Td Nível ceráunico
Tab Tabela
W Largura (m)
ZnO Óxido de zinco
ρ Resistividade do solo (Ωxm)
k Coeficiente de reflexão

3
RESUMO

Para o bom funcionamento de um sistema elétrico, seja na área de potência ou na


área de telecomunicação ou até mesmo em pequenos sistemas como uma sala com
computadores em rede, é imprescindível um bom sistema de proteção contra descargas
atmosférica e um bom sistema de aterramento. Embora aparentemente simples, os sistemas
de proteção devem levar em consideração muitas variáveis, abordadas nesse trabalho, com
o objetivo de garantir a continuidade do funcionamento dos sistemas onde são empregados.
Nesse trabalho também serão abordados as diversas técnicas e modelos de sistemas de
proteção contra descargas atmoféricas e sistemas de aterramento, bem como métodos de
otimização dos resultados.

4
INTRODUÇÃO

Os primeiros estudos experimentais sobre a eletricidade atmosférica foram


realizados no século XIII pelo livreiro e impressor americano Benjamin Franklin. Ele partiu
da seguinte hipótese: a descarga que saltava de um capacitor, conhecido na época com o
nome de garrafa de Leyden, incluindo faísca e ruído, equivaleria, em menor escala, à
descarga atmosférica, relâmpago e trovão. Para verificar se essa hipótese era verdadeira, ele
propôs um experimento: colocar uma haste metálica abaixo de uma nuvem de tempestade e
aproximar dela um corpo aterrado, que esteja em contato com o solo para descarregar a
eletricidade que vai ser passada pela haste. Em maio de 1752, o cientista francês Thomas-
François D'Alibard (1703-1799) realizou o experimento proposto por Franklin. Levantou
uma barra de ferro pontiaguda na direção de nuvens de tempestade e aproximou desta um
fio aterrado, verificando que faíscas saltavam do mastro para o fio. Além de provada a
hipótese de Franklin, se estabeleceu assim o princípio do funcionamento dos pára-raios.
A invenção dos pára-raios permitiu maior segurança contra as descargas
atmosféricas. Ele faz parte do que hoje se chama de sistema de proteção. Esses sistemas
foram feitos para proteger construções e seus ocupantes dos efeitos da eletricidade dos
relâmpagos. Ele cria um caminho, com um material de baixa resistência elétrica, para que a
descarga entre ou saia pelo solo com um risco mínimo às pessoas presentes no local. Um
sistema é dividido em três componentes: o terminal aéreo, os condutores de descida e o
terminal de aterramento. O terminal aéreo é uma haste metálica rígida e pontiaguda ,
montada numa base ou tripé, no ponto mais alto da estrutura, que deverá capturar a
descarga. É comumente conhecido pelo nome de pára-raio.
Os terminais de aterramento são hastes, geralmente de cobre, enterradas no
chão, a um nível que dependerá do tipo de solo e do tipo de construção que se deseja
proteger. Os minerais que compõem o solo determinam melhores resultados no escoamento
da descarga. Existem componentes não convencionais dos sistemas de proteção que
desativam momentaneamente um aparelho, um instrumento ou transmissor elétrico nas
proximidades do local de queda do relâmpago. A voltagem desses intrumentos pode
aumentar e esse aumento é denominado surto de tensão ou sobretensão. Os supressores de
surto ou pára-raios eletrônicos são componentes adicionados aos sistemas convencionais

5
proteger contra as sobretensões. Centelhadores, varistores, diodos zener, são exemplos
comuns de supressores.
Quanto à sistemas de aterramento pode se afirmar que segurança para o usuário
e para o equipamento ligado a uma fonte elétrica é a finalidade básica e fundamental em
qualquer sistema elétrico. Projetado para evitar correntes de modo incomum, assegurando
tranqüilidade para o usuário de uma instalação de um prédio, de uma empresa, de uma casa,
e também a segurança do equipamento eventualmente ligado a uma fonte elétrica.

6
1 ATERRAMENTO

Um aterramento elétrico consiste em uma ligação elétrica proposital de um


sistema fisico ao solo. Este se constitui basicamente dos eletrodos de aterramento, as
conexões destes ao sistema a ser protegido e a terra que envolve os eletrodos. A figura 1.1
ilustra um aterramento genérico em prédio, segundo norma NBR 5419/93:

FIG. 1.1 Instalação genérica em prédio norma NBR5410/93


Promover a segurança é a principal finalidade de um aterramento, projetado


para evitar correntes de modo comum, assegurando tranqüilidade para o usuário de uma
instalação de um prédio, de uma empresa, de uma casa, e também a segurança do
equipamento eventualmente ligado a uma fonte elétrica.
Um aterramento pode ser projetado para escoar descarga elétrica atmosférica, e
com essa finalidade ele faz parte de um sistema de proteção contra descargas atmosféricas,
e sua função é a de simplesmente conduzir a carga que estava na nuvem e que deve descer
para neutralizar uma outra carga oposta. Uma outra finalidade básica do aterramento é no
âmbito de sistema de controle, comando e proteção, no que se refere à compatibilidade
eletromagnética. Esta compatibilidade está associada à fonte de indução eletromagnética
que pode perturbar o funcionamento de um equipamento, e que pode ser por ele perturbada.
Ou seja, um equipamento pode ser uma origem de perturbação de natureza eletromagnética
e, ao mesmo tempo, pode sofrer efeitos desse tipo de perturbação. O aterramento, ao qual
todo tipo de equipamento deve estar ligado, tem uma série de requisitos para atender a esse

7
tipo de conceito de compatibilidade eletromagnética, e evitar que ele receba ou produza
ruído externo.
Esses ruídos são chamados de campo magnético, que pode ser positivo ou
negativo.

1.1 CAMPO MAGNÉTICO

Os equipamentos têm um certo grau de sensibilidade à perturbação de origem


eletromagnética. Um simples raio que caia perto de uma instalação que tenha muitos
sensores, transdutores associados a sinal, comandos, pode causar um mal funcionamento.
De uma forma mais simples, não é danificar esse equipamento, é levar a ele uma
informação que será codificada, não como um raio que caiu, mas uma informação de uma
atitude que ele deve tomar e que vai ser errada. Isso é uma perturbação de origem
eletromagnética, porque o raio cria um campo magnético, que vai provocar o mau
funcionamento dos comandos, controle de operação.
Tudo o que envolve segurança muito grande no campo de controle deve estar
protegido contra esse fenômeno classificado como compatibilidade magnética e os
equipamentos devem estar imunes o máximo possível a esse tipo de interferência.
Deve haver uma preocupação em imunizar o equipamento para evitar o mau
funcionamento contra o fenômeno de perturbação e, ao mesmo tempo, evitar que o
equipamento produza ruídos de natureza de campo eletromagnético que perturbe o
funcionamento de outros e dele mesmo.
Através de legislação pertinente, um número cada vez maior de equipamentos
eletro-eletrônicos deve ser avaliado através de ensaios quanto a esses dois aspectos: a
emissão e a imunidade.
Então, essa é a finalidade básica do estudo de um aterramento, da escolha
adequada do tipo de aterramento para evitar correntes comuns. É assegurar, ao usuário da
instalação, segurança para o equipamento que está instalado, para evitar certos tipos de
sobretensão, que são provocadas por falhas na rede elétrica, como curto-circuito, por
exemplo. Mais uma finalidade do aterramento é a de promover uma referencia de
potenciais para a boa operação dos sistemas elétricos, em especial quando há partes
isoladas eletricamente, como um transformador.

8
1.2 POTENCIAL DE PASSO DE TOQUE

O ser humano, quando é submetido a uma diferença de potencial, é uma


impedância. Por ele vai passar uma corrente, que dependendo da intensidade pode provocar
desde um simples mal estar até a carbonização das células, mas antes disso, passa por um
fenômeno de contração muscular, quer dizer, existe um limiar de corrente no qual você
contraí os músculos. É como popularmente se diz: a pessoa ficou "grudada no fio". Ela
coloca a mão, contraí a musculatura e independentemente da sua vontade cerebral, fica
contraída, "grudada". Um nível acima dessa corrente é provocado uma fibrilação, ao invés
de contrair, a pessoa laceia, aí morre por parada cardíaca. Acima disso, ocorre carbonização
das células, o que é fatal.
Então, quando se projeta uma malha de terra, há algumas grandes
preocupações, como o cuidado para que a tomada seja capaz de escoar a corrente para a
qual ela vai ser dimensionada. Uma malha para uma subestação é totalmente diferente de
uma malha de terra para a rede primária, porque o nível, a potência de curto-circuito, na
casa de uma pessoa, é totalmente diferente da potência de curto-circuito de um sistema de
500 mil volts. Quanto mais alto for o nível de tensão, mais alta a potência de curto-circuito,
maior a capacidade de um defeito na penetração da corrente dentro do solo, então a malha
deve ser dimensionada para o valor da corrente que deva ser escoada. Essa corrente vai
entrar dentro da terra, vai mexer com os potenciais da malha, portanto deve-se checar esses
potenciais para os dois limites: o potencial de passo e o de toque que estão ligados na
corrente, no ser humano. A corrente que a malha deve escoar mexe com os potenciais e
estes podem estar aplicados em uma pessoa.
A malha de terra é projetada para que tenha baixa resistência, porque a corrente
que entrar vai mexer em seus potenciais, assim, quanto menor a resistência da malha,
menores serão essas diferenças de potencial. O ponto forte vai repousar no escoamento da
corrente, na limitação dos valores de passo e de toque que vão provocar e na resistência
baixa da malha.

9
1.3 ESCOAMENTO DA MALHA

A malha é geralmente instalada no solo, por sua capacidade infinita de absorção


dessas cargas elétricas, mas pode fazer parte da malha de terra a estrutura de um prédio.
Entre as diversas finalidades do aterramento, no caso do escoamento do raio,
isso é feito através do pára raios, um sistema de proteção para descargas atmosféricas. Os
pára raios normalmente estão no topo de uma edificação, de um prédio, de uma casa. Antes
do pára raios, há o captor, que é o primeiro contato da nuvem , através do raio, com a malha
que vai escoar a carga elétrica, mas se essa corrente descer só por um fio pode provocar
interferências eletromagnéticas, então, a cada vinte metros de um prédio, é necessário que
seja feito um equalizador de potenciais.
No caso de um prédio de vários andares, terão de ser feitas várias cintas para
igualar todos os potenciais e descidas por muitos caminhos. Embaixo do prédio deve haver
um anel de cobre ou outro material condutor, ligado ao sistema de malha de terra que são
várias hastes que estão cravadas no solo em volta do edifício. Dessa forma, uma malha de
terra que está junto com o sistema de descida do captor pode interferir na instalação.
Modernamente, é possível utilizar a própria ferragem da estrutura do prédio para fazer essa
descida. Se for um prédio de estrutura de ferro ou aço, pode-se usar essa estrutura também
como meio de descida da descarga atmosférica, interferindo no projeto da instalação.

1.4 CONCEITOS RELEVANTES

Sistema de aterramento: é o conjunto de condutores, cabos, hastes e conectores


interligados, circundados por elementos que dissipe para a terra as correntes que sejam
impostas a esse sistema.
Resistência de aterramento: é a resistência oferecida à passagem de corrente
elétrica, quando é aplicada uma tensão a esse sistema. Essa resistência é composta dos
sequintes elementos.

• Resistência dos eletrodos, cabos, conexões e fiações;

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• Resistência de contato entre os eletrodos ou cabos e o elemento circundante
(que poderá ser a própria terra);
• Resistência do elemento que circunda o eletrodo ou cabo (poderá ser a
própria terra).

O primeiro componente geralmente é desprezível e poderá ser tornado menor


ainda, bastando aumentar a seção dos cabos e eletrodos. Normalmente varia com o tempo,
devido ao efeito de corrosão que se verifica principalmente nas conexões, devido ao meio
em que se encontra mergulhado o sistema (características não neutras), piorando a
qualidade dos contatos elétricos nos pontos de conexão.
Para efeito de condução de descargas atmosféricas, cuja característica é alta
frequência, deverá ser diminuído ao máximo o comprimento dos cabos de interligação entre
o elemento a ser aterrado e a malha de terra, para se ter a reatância do cabo diminuida,
minimizando, portanto, o potencial resultante no elemento considerado.
O segundo componente também pode ser tomado pequeno desde que o eletrodo
e a terra circundante estejam livres de gorduras, componentes orgânicos, pedras, pinturas,
vernizes e óxidos. Também varia com o tempo, devido a oxidação do eletrodo ou cabo em
contato com o meio no qual se acha envolvido. Por esse motivo, devem ser usados
eletrodos ou cabos constituídos de material não oxidante, como tipo Copperweld (alma de
aço com revestimento externo de cobre). Os mesmos proporcionam sistemas de grande
confiabilidade e de grande durabilidade.
O terceiro componente depende do formato e dimensões do eletrodo ou cabo,
da natureza, umidade e temperatura do meio circundante (terra) e, praticamente, é ele quem
define o valor da resistência de aterramento.

11
1.5 FINALIDADES

• Proporcionar uma baixa resistência de aterramento;


• Manter valores da tensão carcaça-terra e estrutura-terra dentro do nivel de
segurança para o pessoal, no caso das partes metálicas da carcaça ou estrutura
acidentalmente energizadas;
• Proporcionar um caminho de escoamento para o terra das descargas
atmosféricas ou sobretensões devidas a manobras de equipamentos;
• Permitir aos equipamentos de proteção, fusíveis, disjuntores, etc, isolar
rapidamente as falhas à terra;
• Diminuir valores de tensão fase-terra do sistema, fixando a tensão de
isolação a valores determinados;
• Proporcionar o escoamento para a terra da eletricidade estática gerada por
equipamentos ou por indução, evitando faiscamento.

1.6 REQUISITOS

Todo sistema de aterramento, para que possa ser considerado como perfeito,
deve apresentar as seguintes características:
• Capacidade de condução de corrente — Seu valor está associado ao tempo
de eliminação da falha, ao tipo de conexão usada, no material constituinte dos cabos e
hastes empregados e as características do solo.
• Segurança — O índice de segurança característica de uma instalação
depende do dimensionamento do sistema de aterramento, que deverá ser executado de tal
forma que os potenciais resultantes (de correntes de falhas consideradas) estejam em
conformidade com os limites estabelecidos pelas normas técnicas.
• Estabilidade — Para obter um sistema de aterramento razoavelmente estável,
isto é, que apresente invariabilidade no valor da resistência de aterramento com relação as
condições climáticas, é necessário instalá-lo em um meio que presente resistividade
constante, o que pode ser obtido naturalmente ou artificialmente com tratamento do solo,
por exemplo, com aplicação de bentonita.

12
1.7 FATORES QUE INFLUENCIAM NO ATERRAMENTO

Há vários fatores que podem influenciar num aterramento:

• tipo de solo;
• a geometria das malhas de aterramento;
• a estratificação do solo em várias camadas.

Esses fatores interferem nos dois principais valores finais do projeto de


aterramento que são: a resistência da malha da terra, e a possível elevação do potencial
dessa malha, em alguns pontos, quando ocorre um curto-circuito de uma fase para a terra,
de uma fase para essa malha. Ao se injetar corrente nessa malha, a tensão da malha sofre e
isso vai determinar valores limites de suportabilidade do homem.

13
2 RESISTIVIDADE DO SOLO

2.1 CONCEITOS GERAIS

O valor da resistividade em Ω x m é numericamente igual a resistência de um


cubo de 1 m de aresta.
Vários fatores influenciam na resistividade do solo. Entre eles, pode-se
ressaltar:

• Tipo de solo;
• Mistura de diversos tipos de solo;
• Solos com camadas estratificadas com profundidades e materiais diferentes;
• Teor de umidade;
• Temperatura;
• Compactação e pressão;
• Composição química dos sais dissolvidos na água retida.

As diversas combinações acima resultam em solos com características


diferentes e, conseqüentemente, com valores de resistividades distintas. Assim, solos
aparentemente iguais têm resistividades diferentes.
Para ilustrar, a tabela 2.1 abaixo mostra a variação da resistividade para solos
de natureza distintas.

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TABELA 2.1 - Relação entre tipo de solo e resistência
TIPO DE SOLO RESISTIVIDADE Ω.m
Lama 5 a 100
Terra de jardim com 50% de umidade 140
Terra de jardim com 20% de umidade 480
Ar ila seca 1.500 a5.000
Argila com 40% de umidade 80
Ar ila com 20% de umidade 330
Areia molhada 1.300
Areia seca 3.000 a 8.000
Calcário com acto 1.000 a 5.000
Granito 1.500 a 10.000

2.1 INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA

De uma maneira genérica, a performance de um determinado solo submetido a


variação da temperatura pode ser expressa pela curva da figura 2.1.

FIG. 2.1 Curva característica ρ x Temperatura

A partir do ρmínimo com o decréscimo da temperatura, e a conseqüente


contração e aglutinação da água, é produzida uma dispersão nas ligações iônicas entre os
grânulos da terra no solo, o que resulta num maior valor da resistividade. Observa-se que
no ponto de temperatura de 0ºC (água) a curva sofre descontinuidade, aumentando o valor

15
da resistividade no ponto 0ºC (gelo). Isto é devido ao fato de ocorrer uma mudança brusca
no estado da ligação entre os grânulos que formam a concentração eletrolítica. Com um
maior decréscimo na temperatura há uma concentração no estado molecular tornando o solo
mais seco, aumentando assim sua resistividade. Já em outro extremo, com temperaturas
elevadas, próximas a 100 ºC, o estado de vaporização deixa o solo mais seco, com a
formação de bolhas internas, dificultando a condução de corrente, conseqüentemente,
elevando o valor de sua resistividade.

2.2 INFLUÊNCIA DA UMIDADE

A resistividade do solo sofre alterações com a umidade. Esta variação ocorre


em virtude da condução de cargas no mesmo ser predominantemente iônica. Uma
quantidade maior faz com que os sais, presentes no solo, se dissolvam, formando um meio
eletrolítico favorável a passagem da corrente iônica. Assim, um solo específico, com
concentração diferente de umidade apresenta uma grande variação na sua resistividade.
Conclui-se, portanto, que o valor da resistividade do solo acompanha os períodos de seca e
chuva de uma região. Os aterramentos melhoram a sua qualidade com solo úmido, e pioram
no período da seca.

2.3 TÓPICOS SOBRE MEDIÇÃO

Um solo apresenta resistividade que depende do tamanho do sistema de


aterramento.
A dispersão de correntes elétricas atinge camadas profundas com o aumento da
área envolvida pelo aterramento. Para se efetuar o projeto do sistema de aterramento deve-
se conhecer a resistividade aparente que o solo apresenta para o aterramento pretendido.
Os métodos de medição são resultados da análise de características práticas das
e equações de Maxwell do eletromagnetismo, aplicadas ao solo.

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2.3.1 POTENCIAL EM UM PONTO

Seja um ponto “c” imerso em um solo infinito e homogêneo, emanando uma


corrente elétrica “I”. O fluxo resultante de corrente diverge radialmente, conforme figura
2.2.

FIG. 2.2 Linhas de corrente elétricas

O campo elétrico E no ponto p é dado pela lei de Ohm local, abaixo:

Ep = ρ Jp (2.1)
Onde:
Jp = Densidade de corrente no ponto p.

A densidade de corrente é a mesma sobre a superfície da esfera de raio “r”, com


centro no ponto “c” e que passa pelo ponto p. Seu valor é:

I
Jp= (2.2)
4π r 2

Portanto,

ρI
Ep= (2.3)
4π r 2

O potencial do ponto p, em relação a um ponto infinito é dado por:

17

Vp= ∫ Edr (2.4)
r

Onde:

dr = variação infinitesimal na direção radial ao longo do raio r.

Das equações acima tem-se que:


ρI ∞ 1
4π ∫r r
Vp= dr (2.5)

2.3.2 POTENCIAL EM UM PONTO SOB A SUPERFÍCIE DE UM SOLO


HOMOGÊNEO

Um ponto “c”, imerso sob a superfície de um solo homogêneo, emanando uma


corrente elétrica “I”, o qual produz um perfil de distribuição do fluxo de corrente como
mostra a figura 2.3.

FIG. 2.3 Linhas de correntes elétricas

As linhas de correntes se comportam como se houvesse uma fonte de corrente


pontual simétrica em relação a superfície do solo. Figura 2.4.

18
FIG. 2.4 Ponto imagem

O comportamento é idêntico a uma imagem real simétrica da fonte de corrente


pontual (método das imagens). Portanto, para achar o potencial de um ponto p em relação
ao infinito basta efetuar a superposição do efeito de cada fonte da corrente individualmente,
considerando todo o solo homogêneo, inclusive o de sua imagem. Assim, para calcular o
potencial do ponto “p”, basta usar duas vezes a expressão.

ρI ρI
Ncm =
Dm
+ 1 Vp= + (2.6)
Dco 4π r 1p 4π r 1´p

O levantamento dos valores da resistividade é feito através de medições em


campo, utilizando-se métodos de prospecção geoelétricos, neste trabalho será exposto o
método de Wenner.

19
2.3.3 MÉTODO WENNER

O método usa quatro pontos alinhados, igualmente espaçados, cravados a uma


mesma profundidade.

FIG. 2.5 Quatro hastes cravadas no solo

Uma corrente elétrica “I” é injetada no ponto 1 pela primeira haste e coletado
no ponto 4 pela última haste. Esta corrente, passando pelo solo entre os pontos 1 e 4,
produz potencial nos pontos 2 e 3. Usando o método das imagens, já citado (figura 2.4),
obtém-se os potenciais nos pontos 2 e 3.

FIG. 2.6 Imagem do ponto 1 a 4

20
O potencial no ponto 2 é:

ρI  1 1 1 1 
V 2=  + − −  (2.7)
4π r  a a 2 + (2 p ) 2 2a a 2 + (2 p ) 2 

O potencial no ponto 3 é:

ρI  1 1 1 1 
V2 =  + − −  (2.8)
4π r  2a (2a ) 2 + (2 p ) 2 a a 2 + (2 p ) 2 

Portanto, a diferença de potencial nos pontos 2 e 3 é:

ρI  1 2 2 
V23 = V2-V3 =  + −  (2.9)
4π r  a a 2 + (2 p) 2 (2a ) 2 + (2 p) 2 

Fazendo a divisão de potencial V23 pela corrente I, teremos o valor da


resistência elétrica R do solo para uma profundidade aceitável de penetração de corrente I.
Assim teremos:

V23 ρ  1 2 2 
R= =  + −  (2.10)
I 4π  a a 2 + (2 p ) 2 (2a) 2 + (2 p) 2 

A resistividade do solo é dada por:

4π aR (2.11)
ρ=
 2a 2a 
1 + 2 − 
 a + (2 p)2 (2a)2 + (2 p)2 

21
A expressão (2.11) é conhecida como Fórmula de Palmer, e é usada no método
de Wenner. Recomenda-se que diâmetro da haste ≤ 0,1a . Para um afastamento entre as
hastes relativamente grande, isto é, a > 20p, a fórmula de Palmer se reduz a:

ρ = 2πaR [Ω x m] (2.12)

2.3.4 MEDIÇÃO PELO MÉTODO WENNER

O método utiliza um Megger, instrumento de medida de resistência que possui


quatro terminais, dois de corrente e dois de potencial. O aparelho, através de sua fonte
interna, faz circular uma corrente elétrica “I” entre as duas hastes externas que estão
conectadas aos terminais de corrente Cl e C2, conforme figura 2.7. As duas hastes internas
são ligadas nos terminais P1 e P2. Assim, o aparelho processa internamente e indica na
leitura, o valor da resistência elétrica de acordo com a expressão (2.10).

FIG. 2.7 Método de Wenner

Onde:

22
R = leitura da resistência em Ω no Megger, para uma profundidade a
a = Espaçamento dos eletrodos (hastes)
p = Profundidade da haste cravada no solo

O método considera que praticamente 58% da distribuição de corrente que


passa entre as hastes externas ocorre a uma profundidade igual ao espaçamento entre as
hastes.
A corrente atinge uma profundidade maior, com uma correspondente área de
dispersão grande, tendo, em conseqüência, um efeito que pode ser desconsiderado.
Portanto, para efeito do método de Wenner, considera-se que o valor da resistência elétrica
lida no aparelho é relativa a uma profundidade “a” do solo. As hastes usadas no método
devem ter aproximadamente 50 cm de comprimento com diâmetro entre 10 a 15 mm.
Devem ser feitas diversas leituras, para vários espaçamentos, com as hastes sempre
alinhadas.
Deve se observar durante a medição, que:
• As hastes devem estar alinhadas;
• As hastes devem estar igualmente espaçadas;
• As hastes devem estar cravadas no solo a uma mesma profundidade,
recomenda-se l0 a 20cm;
• O aparelho deve estar posicionado simetricamente entre as hastes;
• As hastes devem estar bem limpas, principalmente isentas de óxidos e
gorduras para possibilitar bom contato com o solo;
• A condição do solo (seco, úmido, etc) durante a medição deve ser anotada;
• Não devem ser feitas medições sob condições atmosféricas adversas, tendo-
se em vista a possibilidade de ocorrências de raios;
• Deve-se utilizar calçados e luvas de isolação para executar as medições.

23
2.3.5 CURVA CARACTERÍSTICA ρ X A

Alguns métodos de estratificação do solo, que serão estudados posteriormente,


necessitam de mais leitura para pequenos espaçamentos, o que é feito para possibilitar a
determinação da resistividade da 1º camada do solo.
Para um único ponto de aterramento, isto é, para cada posição do aparelho,
devem ser efetuadas medidas em três direções, com ângulos de 60 graus entre si.
Este é o caso de sistema de aterramento pequeno, com um único ponto de
ligação a equipamentos tais como: regulador de tensão, religador, transformador,
seccionalizador, TC, TP, chaves à óleo, etc. No caso de subestações deve-se efetuar
medidas em vários pontos, cobrindo toda a área da malha pretendida.

2.3.6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Feitas as medições, uma análise dos resultados deve ser realizada para que os
mesmos possam ser avaliadas em relação a sua aceitação ou não. Esta avaliação é feita da
seguinte forma:

1. calcular a média aritmética dos valores da resistividade elétrica para cada


espaçamento adotado.

1 n
ρ M ( aj ) = ∑ ρ i ( aj ) j =1, q
i =1, n (2.13)
n i =1
Onde:

ρM (aj) = resistividade média para o respectivo espaçamento aj;


n = Número de medições efetuadas para o respectivo espaçamento aj;

ρ1 (aj) = Valor da i-ésima medição da resistividade com o espaçamento aj;


q = Números de espaçamentos empregados.

24
2. Proceder o cálculo do desvio médio de cada medida em relação ao valor
médio como se segue:

ρ i ( aj ) − ρ M ( aj ) j =1, q
i =1, n (2.14)

Observações:

a) Deve-se desprezar todos os valores de resistividade que tenham desvio maior


que 50% em relação a média, isto é:

ρ i (aj ) − ρ M (aj ) j =1, q


x100 ≥ 50% i =1, n (2.15)
ρ M (aj )
b) Se o valor da resistividade tiver o desvio abaixo de 50% o valor será aceito
como representativo.
c) Se observado a ocorrência de acentuado número de medidas com desvio
acima de 50%, recomenda-se executar novas medidas na região correspondente. Se a
ocorrência de desvio persistir, deve-se então, considerar a área como uma região
independente para efeito de modelagem.
3. Com as resistividades médias para cada espaçamento, tem-se então os
valores definitivos e representativos para traçar a curva característica ρ x a.

25
3 TRATAMENTO DO SOLO

Todo sistema de aterramento depende da sua integração com o solo e da


resistividade aparente. Se o sistema já está fisicamente definido e instalado, a única maneira
de diminuir sua resistência elétrica é alterar as características do solo, usando um
tratamento químico. O tratamento químico deve ser empregado somente quando:

• Existe o aterramento no solo, com uma resistência fora da desejada, e não se


pretende altera-lo por algum motivo, como por exemplo fator econômico;
• Não existe outra alternativa possível, dentro das condições do sistema, por
impossibilidade de trocar o local, e o terreno tem resistividade elevada.

O tratamento químico do solo visa a diminuição de sua resistividade,


conseqüentemente a diminuição da resistência de aterramento. Os materiais a serem
utilizados para um bom tratamento químico do solo devem ter as seguintes características:

• Boa higroscopia;
• Não lixiviável;
• Não ser corrosivo;
• Baixa resistividade elétrica;
• Quimicamente estável no solo;
• Não ser tóxico;
• Não causar dano a natureza.

3.1 TIPOS DE TRATAMENTO QUIMICO

São apresentados a seguir alguns produtos utilizados nos diversos tipos de


tratamento químico do solo.

26
3.1.1 BENTONITA

Bentonita é um material argiloso que tem as seguintes propriedades:

• Absorve facilmente a água;


• Retém a umidade;
• Boa condutividade elétrica;
• Baixa resistividade (1,2 a 4 Ωxm);
• Não é corrosivo, pH alcalino e protege o material do aterramento contra a
corrosão natural do solo

É pouco usado atualmente. Hoje é empregado uma variação onde se adiciona o


gesso para dar maior estabilidade ao tratamento.

3.1.2 EARTHRON

O Earthron é um material líquido de lignosulfato, principal componente da


poupa de madeira, mais um agente geleificador e sais inorgünicos. Suas principais
propriedades são:

• Não é solúvel em água;


• Não é corrosivo, devido à substância gel que anula a ação do ácido da
madeira;
• Seu efeito é de longa duração;
• É de fácil aplicação no solo;
• E quimicamente estável;
• Retém umidade.

27
3.1.3 GEL

O gel é constituído de uma mistura de diversos sais que, em presença da água,


forma o agente ativo de tratamento. Suas propriedades são:

• Quimicamente estável;
• Não é solúvel em água;
• Higroscópico;
• Não é corrosivo;
• Não é atacado pelos ácidos contidos no solo;
• Seu efeito é de longa duração.

3.2 COEFICIENTE DE REDUÇÃO KT

O valor de kt poderá ser obtido, para cada caso, medindo-se a resistência do


aterramento antes e após o tratamento. Desta forma obtém-se:

Rcomtratamento
kt = (3.1)
Rsemtratamento

Para ilustrar, na figura 3.1, tem-se um gráfico dos valores prováveis de kt em


função da resistividade do solo para um tratamento do tipo Gel.

28
FIG. 3.1 Valores típicos de kt em função da resistividade

A região hachurada é a faixa provável dos valores de kt dada pelo fabricante.


Observa-se que em solos com alta resistividade, o tratamento químico é mais eficiente.

3.3 VARIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE TERRA

Nos gráficos das figuras (3.2), (3.3) e (3.4) são apresentadas o comportamento
das variações da resistência de terra com o tratamento químico do solo do tipo Gel [1].
Pode-se observar que o tratamento químico vai perdendo o seu efeito ao longo
do tempo. Recomenda-se fazer novo tratamento periodicamente.

29
FIG. 3.2 Variação da resistividade de terra, com o tempo, de eletrodos em solos
tratados e não tratados

Fig. 3.3 – Resistência de terra reduzida pelo tratamento químico do solo

30
FIG. 3.4 Tratamento químico do solo e variações mensais da resistência

Como o tratamento químico do solo é empregado na correção de aterramento


existente, deve-se então, após a execução do mesmo, fazer sempre um acompanhamento
com medições periódicas para analisar os efeitos e a estabilização do tratamento.
Deve-se sempre dimensionar e executar projetos de sistema de aterramento de
modo eficiente, para não ser necessário usar tratamento químico.
A ação efetiva do tratamento químico deve-se ao fato de o produto químico ser
higroscópico e manter retida a água por longo tempo, portanto, recomenda-se nas regiões
que tenham período de seca bem definido, molhar a terra do sistema de aterramento, o que
terá o mesmo efeito do tratamento químico. Em subestações pode-se deixar instalados um
conjunto de mangueiras e a períodos regulares, molhar a terra que contém a malha. Pode-se
inclusive, adicionar água a solução do produto químico do tratamento. Em terreno muito
seco, pode-se concretar o aterramento. O concreto tem a propriedade de manter a umidade.
Sua resistividade está entre 30 e 90 Ωxm.

31
4 SISTEMAS FÍSICOS

Os diversos tipos de sistemas de aterramento devem ser realizados de modo a


garantir a melhor ligação com a terra. Os principais tipos são:

• Uma simples haste cravada no solo;


• Hastes alinhadas;
• Hastes em triângulos;
• Hastes em quadrado;
• Hastes em círculos;
• Hastes profundas;

O tipo de sistema de aterramento a ser adotado depende da importância do


sistema de energia elétrica envolvido, do local e do custo. O sistema mais eficiente é a
malha de terra.

4.1 HASTES

O material das hastes de aterramento deve ter as seguintes características:

• Ser bom condutor de eletricidade;


• Ser um material praticamente inerte as ações dos ácidos e sais dissolvidos no
solo;
• O material deve sofrer a menor ação possível da corrosão galvânica;
• Resistência mecânica compatível com a cravação e movimentação do solo;

As melhores hastes são geralmente as acobreadas:

• Tipo copperweld — É uma barra de aço de seção circular onde o cobre é


fundido sobre a mesma;

32
• Tipo encamisada por extrusão — A alma de aço é revestida por um tubo de
cobre através do processo de extrusão;
• Tipo cadWeld — O cobre é, depositado eletroliticamente sobre a alma de
aço.
É muito empregada também, com sucesso, a haste de cantoneira de ferro
zincada.

4.2 DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA

O cálculo exato da resistência de aterramento requer desenvolvimentos


analíticos, que podem ser mais simples ou mais complicados, conforme a configuração dos
eletrodos. A seguir apresentaremos, de forma simplificada, a determinação da resistência de
terra para algumas configurações de eletrodos.

4.2.1 UMA HASTE VERTICAL

Uma haste cravada em um solo homogêneo, de acordo com a figura 4.1, tem
uma resistência elétrica que pode ser determinada pela fórmula (4.1).

ρ a  4L 
R1h = ln   (Ω ) (4.1)
2π L  d 

FIG. 4.1 Haste cravada no solo

33
Onde:

ρa = resistividade aparente do solo [Ω x m];


L = comprimento da haste [m];
d = diâmetro do círculo equivalente à área da secção transversal da haste [m];

No caso de haste tipo cantoneira, deve-se efetuar o cálculo da área de um


circulo equivalente a secção transversal e igualar à área de um círculo. Assim:

scantoneira
d =2 (4.2)
π

Onde:

Scantoneira = área da secção transversal

Pode se observar que a expressão (4.2) não leva em conta o material de que é
formada a haste, mas sim o formato da cavidade que a geometria da haste forma no solo. O
fluxo formado pelas linhas de corrente elétrica entra ou sai do solo, utilizando a forma da
cavidade. Portanto, o R1th refere-se somente à resistência elétrica da forma geométrica do
sistema de aterramento interagindo com o solo.
Alguns tipos de aplicação requerem que o aterramento possua valor muito
reduzido de resistência. Em muitos casos não é possível alcançar tal condições específicas
de resistividade do solo local. Examinando a fórmula (4.1), pode-se saber os parâmetros
que influenciam na redução do valor da resistência elétrica. Eles são:

• Aumento do comprimento da haste;


• Redução do ρa utilizando tratamento químico do solo.

34
4.2.2 HASTES PARALELAS

A interligação de hastes em paralelo diminui sensivelmente o valor da


resistência do aterramento. O cálculo da resistência de hastes paralelas interligadas não
segue a lei simples do paralelismo de resistência elétrica. Isto devido as interferências nas
zonas de atuação das superficies equipotenciais. No caso de duas hastes cravadas no solo
homogêneo, distanciadas de “a”, a figura 4.2 mostra as superficies equipotenciais que cada
haste teria se a outra não existisse, onde pode ser observada também a zona de
interferência. A figura 4.3 mostra as linhas equipotenciais resultantes do conjunto formado
pelas duas hastes. A zona de interferência das linhas equipotenciais causa uma área de
bloqueio do fluxo da corrente de cada haste, resultando numa maior resistência de terra
individual. Como a área de dispersão efetiva da corrente de cada haste torna-se menor, a
resistência de cada haste dentro do conjunto aumenta.
Observe-se que o aumento do espaçamento das hastes paralelas faz com que a
interferência seja diminuída. Teoricamente para um espaçamento infinito, a interferência
seria nula, porém, um aumento muito grande de espaçamento aconselhável gira em tomo do
comprimento da haste. Adota-se muito o espaçamento de 3 metros.

35
FIG. 4.2 Zona de interferência nas linhas equipotênciais de duas hastes

FIG. 4.3 Superfícies equipotenciais de duas hastes

36
4.2.2.1 RESISTÊNCIA EQUIVALENTE DE HASTES PARALELAS

Para o cálculo da resistência equivalente de hastes paralelas, deve-se levar em


conta o acréscimo de resistência ocasionado pela interferência entre as hastes. A fórmula
(4.3) apresenta a resistência elétrica que cada haste tem inserida no conjunto.

n
Rh = Rhh + ∑R
m=2
hm
(4.3)
m≠h

Onde:

Rh = Resistência apresentada pela haste h inserida no conjunto considerando as


interferências das outras hastes;
N = Número de hastes paralelas;
Rhh = Resistência individual de cada haste sem a presença de outras hastes;
Rhm = Acréscimo de resistência na haste “h” devido a interferência mútua da
haste “m”, dada pela expressão (4.4).

0,183ρ a  ( bhm + L )2 − ehm 


Rhm = log  2 2
(4.4)
L  e hm − (bhm − L) 

A figura 4.4 segue ilustra um sistema com duas hastes.

FIG. 4.4 Hastes em paralelo

37
Num sistema de aterramento emprega-se hastes iguais, o que facilita a
padronização na empresa, e também o cálculo da resistência equivalente do conjunto.
Fazendo o cálculo para todas as hastes do conjunto tem-se os valores da resistência de cada
haste:
R1 = R11 + R12 + R13 + ... + R1n
R2 = R1 + R22 + R23 + ... + R2n
.
.
.
Rn = Rn1 + Rn2 + Rn3 + ... + Rnn

Determinada a resistência individual de cada haste dentro do conjunto, já


considerados os acréscimos ocasionados pelas interferências das outras hastes, a resistência
equivalente das hastes interligadas será a resultante do paralelismo destas, conforme ilustra
a figura 4.5.

FIG. 4.5 Paralelismo das resistências

1 1 1 1
= + + ... + (4.5)
R eq R1 R 2 Rn

1
R eq = (4.6)
1 1 1
+ + ... +
R1 R 2 Rn

38
4.2.3. ÍNDICE DE APROVEITAMENTO

Índice de aproveitamento ou índice de redução (T), é definido como a relação


entre a resistência equivalente do conjunto (Req) e a resistência individual de cada haste
sem a presença de outras hastes (R1haste).

Re q
T= (4.7)
R 1haste

Re q = TR 1haste (4.8)

A expressão (4.8) indica que a resistência equivalente Req do conjunto de hastes


em paralelo está reduzida de T vezes o valor da resistência de uma haste isoladamente. Para
facilitar o cálculo de Req os valores de T são tabelados. A expressão (4.8) também se aplica
para as demais configurações dos sistemas de aterramento.

4.2.4 HASTES PROFUNDAS

O objetivo principal é aumentar o comprimento L da haste, o que faz decair o


valor da resistência praticamente na razão inversa de L. Esta técnica é eficaz quando o solo
apresenta camadas mais profundas de menor resistividade, se o solo é homogêneo, a
eficácia da técnica é reduzida para profundidades superiores a 3,5m [7]. Na utilização de
hastes profundas vários fatores ajudam a melhorar ainda mais a qualidade do aterramento.
Estes fatores são:

• Condição de água presente estável ao longo do tempo;


• Condição de temperatura constante e estável ao longo do tempo;
• Produção de gradiente de potencial maiores no fundo do solo, tomando os
potenciais de passo na superfície praticamente desprezíveis.

39
Assim, devido as considerações acima, obtém-se um aterramento de boa
qualidade, com o valor de resistência estável ao longo do tempo.

40
5 CORROSÃO NOS COMPONENTES DO SISTEMA

O significado do termo corrosão de metais, está associado à degradação das


suas propriedades devido a ação do meio. Todo metal tende a sofrer um certo grau de
corrosão, que é o processo natural da volta do metal ao seu estado primitivo.
Os sistemas de aterramento estarão sempre sofrendo o processo de corrosão
devido a própria característica do solo e do tipo de material empregado.
A seguir serão discutidos alguns elementos que, combinados ou separados,
produzem diversos efeitos de corrosão no material do sistema de aterramento.

5.1 UTILIZAÇÃO DE MATERIAS DIFERENTES

O ideal seria empregar no sistema de aterramento, materiais com a mesma


concentração de metal, para evitar eletronegatividade diferentes, impossibilitando a geração
da força eletromotriz da pilha eletroquímica. Assim o sistema não teria corrosão. Os
sistemas de aterramento, no entanto, são construídos usando componentes diferentes. Ver
figura 5.1.

A figura 5.1 mostra o aterramento do equipamento no poste, um transformador,


que é feito por um cabo de descida de aço e a haste usada é do tipo copperweld, isto é
cobreada.

FIG. 5.1 Aterramento com aço e cobre

41
O solo contém sais dissolvidos na água, tendo-se assim a formação do
eletrólito. Portanto é estabelecida uma ação idêntica aquela existente na pilha
eletroquímica. A corrente galvânica do fluxo de elétrons tem o sentido indicado na figura
5.1. Em conseqüência, o cabo de descida, que está enterrado no solo, sofrerá a corrosão,
isto é, os íons Fe+, irão para o solo, deixando perfurações no cabo de aço.
Outro exemplo é o caso do desfolhamento de pequena parte da cobertura do
cobre de uma haste, mostrado na figura 5.2, que ocorre devido a abrasão no momento da
cravação.

FIG. 5.2 Área de ferro exposta

A camada de cobre e a área exposta de ferro formarão uma pilha eletroquímica,


com o fluxo de elétrons do cobre para o ferro. Portanto, como a área de cobre do cátodo é
grande, será gerada uma grande quantidade de elétrons, que se dirigirão para a pequena área
exposta de ferro e a corrosão será intensa.

42
5.2 SOLOS COM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE ELEMENTOS

Esta corrosão em sistema de aterramento que abrange uma área grande no solo.
O solo sendo heterogêneo, cada parte tem diferentes concentrações e distribuição de sais,
umidade, temperatura, formando verdadeiras zonas anôdicas e catódicas na região em que o
aterramento está contido.

FIG. 5.3 Zonas de solos distintos

A figura 5.3 mostra o fluxo de elétrons que saem da malha pela zona catódica e
entram na zona anôdica. Assim, os metais que compõem a malha de terra na zona anôdica,
serão corroídos, e os da zona catódica serão protegidos. A região com menor resistividade
funcionará como zona anôdica e, conseqüentemente, será a área em que ocorrerá o processo
de corrosão.
No sistema de distribuição de energia elétrica com neutro contínuo, há um
grande número de aterramentos distribuídos por toda a cidade, abrangendo áreas com solos
distintos, formando várias pilhas eletroquímicas. Estas correntes circulando pelo solo irão
corroer os metais contidos na área anódica, que são as áreas de menores resistividades. O
mesmo ocorre no sistema de transmissão, com o aterramento das torres e cabos de
cobertura.
No aterramento profundo, a haste transpõe várias camadas de solos distintos,
gerando várias regiões anódicas e catódicas, tendo-se a corrosão em vários locais.

43
5.3 HETEROGENEIDADE DA TEMPERATURA DO SOLO

Quando um sistema de aterramento encontra-se em regiões com temperaturas


distintas, tem-se a ação termomagnética. Como mostra a figura 5.4 a parte do eletrodo que
está na região fria, agirá como ânodo, e será a zona corroída. A parte que está na região
quente agirá como cátodo e, portanto, será a protegida.

FIG. 5.4 Solos com concentrações distintas

44
6 ATERRAMENTO PARA MEDIA TENSÃO

Uma das novidades apresentadas a revisão da NBR 14039 refere se aos


esquemas de aterramento, conceito que representa um grande avanço técnico e é muito útil
quando se precisa definir os aterramentos sem ambigüidades. Trata-se de uma classificação
de todas as combinações possíveis de aterramento funcional e aterramento de proteção,
descrevendo então as situações relativas do neutro, das massas da instalação e das massas
da subestação.
A classificação de esquema de aterramento apresentada na revisão da NBR
14039, a norma de instalações elétricas de media tensão, é muito semelhante à da NBR
5410, a norma de baixa tensão, porque aquela foi baseada na NEC 13200 — que, por sua
vez, adotou os esquemas de aterramento da IEC 60364, “norma mãe” da NBR 5410. A
NBR 14039 classifica os aterramentos em dois tipos, segundo a sua função na instalação
elétrica:

• Funcional: aterramento de um condutor vivo (normalmente o neutro )


objetivando o correto funcionamento da instalação;
• Proteção: aterramento das massas e dos elementos estranhos, objetivando a
proteção contra choques (contatos indiretos).

6.1 CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO NBR 5419

Em uma instalação MT típica os esquemas de aterramento podem ser


classificados, como faz a revisão da norma, em função de três fatores:

• Modo de aterramento do neutro da subestação;


• Modo de aterramento das massas da instalação;
• Modo de aterramento das massas da subestação de alimentação.

O conceito de esquemas é muito útil quando há necessidade de definir os


aterramentos sem ambigüidades. Trata-se de uma classificação de todas as combinações

45
possíveis de ligações do condutor neutro e do condutor de proteção nos eletrodos de
aterramento, ou seja, todas as combinações possíveis e/ou aplicáveis de interligações entre
o aterramento funcional e de proteção. Por essa classificação, o aterramento do neutro e sua
ligação com o condutor de proteção ficam completamente definidos com apenas três letras,
sem deixar margem a duvidas.

Primeira letra - designa a situação do neutro da instalação em relação à terra:

• T = um ponto de alimentação (geralmente o neutro) está ligado diretamente à


terra;
• I = nenhum ponto de alimentação está ligado diretamente à terra (neutro
isolado ou ligado à terra por meio de uma impedância de alto valor).

Segunda letra - indica a situação das massas da instalação elétrica em relação à


terra:

• T = massas estão ligadas diretamente à terra, independentemente de haver ou


nao um ponto de alimentação aterrado;
• N = massas estão ligadas ao ponto de alimentação aterrado ( normalmente o
neutro).

Terceira letra - designa a situação das massas da subestação de alimentação em


relação ao neutro e às massas de instalação

• R = massas da subestação de alimentação estão ligadas ao eletrodo de


aterramento do neutro e ao das massas da instalação;
• N = massas da subestação de alimentação estão ligadas ao eletrodo de
aterramento do neutro, mas não ao das massas da instalação;
• S =massas de subestação de alimentação estão ligadas a um eletrodo de
aterramento eletricamente separado daquele do neutro e daquele das massas da instalação.

46
Pode-se verificar que a total liberdade na escolha do sistema de aterramento a
ser usado na instalação só existirá quando o suprimento de energia da instalação for feito
por subestação de alimentação do consumidor. Quando o fornecimento de energia for em
média tensão, a escolha do esquema de aterramento a ser utilizado pelo consumidor é
limitada pelo concessionário de energia elétrica. Nesse caso, por exemplo, a terceira letra,
referente à instalação de alimentação, é definida na subestação da concessionária. O fato de
o neutro ser ou não fornecido também pode restringir o usuário: o não-fornecimento do
neutro implica a utilização dos esquemas T T.

6.2 ESQUEMAS COM NEUTRO ATERRADO OU TXX

O conjunto de esquemas Txx é constituído por todos os esquemas que têm o


neutro aterrado diretamente ou por meio de uma impedância de baixo valor. Nesse caso, o
uso da impedância tem como objetivo limitar a corrente de falta. Estes esquemas se
caracterizam, principalmente, por apresentarem uma corrente de falta significativamente
elevada, de forma que a tensão de contato que aparece na massa, no caso de falta, é maior
que a tensão de contato limite.
Como regra geral para todos os esquemas Txx, o circuito deve ser seccionado
automaticamente da alimentação quando uma falta irromper neste circuito ou nos aparelhos
que alimenta. O tempo total de eliminação da falta deve ser compatível com as condições
térmicas dos materiais percorridos pela corrente de falta.
Os esquemas TN e TT são os que apresentam o neutro aterrado.

6.3 ESQUEMAS TN

Estes esquemas apresentam uma corrente de falta da mesma ordem de grandeza


do curto-circuito fase-neutro. Portanto, é permitido que as faltas sejam detectadas por
dispositivos de proteção a sobrecorrente, instalados em todos os condutores de fase, uma
vez que foram dimensionados para atuar também se ocorrer curto fase-neutro. Neste caso,
devem ser verificadas as características de atuação dos dispositivos a sobrecorrente na

47
detecção da falta para a terra, com o objetivo de garantir que eles efetivamente funcionem
em tais situações.
No calculo da corrente de curto-circuito devem ser consideradas as impedâncias
da fonte, dos condutores de fase sob falta e do condutor de proteção. Para permitir este
cálculo, o condutor de proteção deve, a princípio, caminhar ao lado dos condutores de fase,
sem interposição de elementos ferromagnéticos. Por razões praticas, o único esquema
implementável, na família TN, é o TNR.

6.4 ESQUEMA TT

Nos esquemas TT, a corrente de falta é limitada pela:

• Resistência de eletrodo de aterramento do neutro, aumentada do valor da


resistência de limitação eventualmente inserida entre o ponto neutro e a terra;

• Resistência do eletrodo de aterramento das massas (ou do condutor de


proteção);
• Resistência dos condutores (de fase e de proteção).

A corrente de falta no esquema TT, na prática, situa-se pelo menos uma ordem
de grandeza abaixo da corrente de curto-circuito fase-neutro. Portanto, mesmo que a
corrente da primeira falta seja grande, não é permitido que sua detecção seja feita por
dispositivos de proteção a sobrecorrente, pois estes têm limiar de funcionamento muito
elevado em comparação com o valor da corrente de falta. Nesse caso, é necessário recorrer
aos dispositivos sensíveis à corrente diferencial, não sendo preciso verificar as condições de
disparo.
Na pratica, utilizam-se dois esquemas da família TT: o TTN e o TTS.

48
6.5 ESQUEMA IT

Os esquemas IT são implementados com o neutro isolado ou aterrado por meio


de uma impedância grande o bastante para que a corrente de falta não seja suficiente para
provocar o aparecimento de uma tensão de contato superior ao valor da tensão de contato
limite (tabela I).
Na prática, utilizam-se três esquemas da família IT: o ITR o ITN e o ITS.
Neste caso, não é obrigatória a interrupção na primeira falta de isolamento,
desde que as condições seguintes sejam respeitadas:

• Nos esquemas ITN e ITS, a resistência de aterramento das massas da


instalação Ra:

UL
Ra ≤ (6.1)
IF

Sendo:

UL = tensão de contato limite;


IF= corrente que circula no eletrodo de aterramento das massas em uma
primeira falta.

• Um dispositivo supervisor de isolamento (DSI) deve sinalizar a aparição da


primeira falta na instalação, acionando um sinal sonoro ou visual, quando não
os dois.
Após a aparição de uma primeira falta, sua detecção e eliminação requerem o
uso de dispositivos sensíveis à corrente diferencial sobre cada circuito. Quando a
interrupção é efetuada na primeira falta, a detecção de faltas deve ser realizada por
dispositivos sensíveis à corrente diferencial ou por dispositivo supervisor de isolamento que
provoque a interrupção geral da alimentação.

49
7 DESCARGAS ATMOFÉRICAS

Ao longo dos anos, várias teorias foram desenvolvidas para explicar o


fenômeno dos raios. Atualmente tem-se que a fricção entre as partículas de água e gelo que
formam as nuvens, provocada pelos ventos ascendentes, de forte intensidade, dão origem a
uma grande quantidade de cargas elétricas. Verifica-se experimentalmente que as cargas
elétricas positivas ocupam a parte superior da nuvem, enquanto que as cargas negativas se
encontram na parte inferior, acarretando, conseqüentemente, uma intensa migração de
cargas positivas na superfície da terra para a área correspondente à localização da nuvem.
Desta forma, a concentração de cargas elétricas positivas e negativas numa
determinada região faz surgir uma diferença de potencial que se denomina gradiente de
tensão entre a nuvem e a terra. No entanto, o ar apresenta uma determinada rigidez
dielétrica, normalmente elevada, comparada com outros agentes ambientais.
O aumento desta diferença de potencial, que se denomina gradiente de tensão,
poderá atingir um valor que supere a rigidez dielétrica do ar, interposto entre a nuvem e a
terra, fazendo com que as cargas elétricas negativas migrem na direção da terra, um trajeto
tortuoso e normalmente cheio de ramificações, cujo fenômeno é conhecido como descarga
piloto. É de, aproximadamente, 1kV/mm o gradiente de tensão para o qual a rigidez
dielétrica do ar é rompida.
A ionização do caminho seguido pela descarga piloto propicia condições
favoráveis de condutibilidade do ar ambiente. Mantendo-se elevado o gradiente de tensão
na região entre a nuvem e a terra, surge de uma das ramificações da descarga piloto, em
função da aproximação com o solo, uma descarga ascendente, constituída de cargas
elétricas positivas, denominadas de retorno principal, de grande intensidade, responsável
pelo fenômeno conhecido como trovão, que é o deslocamento da massa de ar circundante
ao caminhamento do raio, em função da elevação da temperatura e, conseqüentemente, do
aumento do volume.
Não se tem como precisar a altura do encontro entre estes dois fluxos de cargas
que caminham em sentidos opostos, mas acredita-se que seja a poucas dezenas de metros
da superfície da terra.
A descarga de retorno atingindo a nuvem provoca, numa determinada região da
mesma, uma neutralização eletrostática temporária. Na tentativa de manter o equilíbrio dos

50
ponteciais elétricos no interior da nuvem, surgem nestas, intensas descargas que resultam
na formação de novas cargas negativas na sua parte inferior, dando início às chamadas
descargas reflexas ou secundárias, no sentido da nuvem para a terra, tendo como canal
condutor aquele seguido pela descarga de retorno que em sua trajetória ascendente deixa o
ar ionizado.

FIG. 7.0 Descarga atmoférica

7.1 CONDUÇÃO

Este é um importante tópico de aterramento de vez que as descargas


atmosféricas constituem, de longe, a maior causa de queima de componentes eletrônicos, de
força, incêndios e outros fenômenos de risco para pessoas, equipamentos e animais.

51
FIG. 7.1 Condutores do sistema de proteção contra descargas atmosféricas

Para projeto deste sistema, existem muitas soluções, algumas que tem sido
implementadas são as seguintes:

• Utilização de condutores isolados, afastados, da estrutura por meio de


isoladores;
• Utilização apenas de estruturas metálicas, quando existentes;
• Utilização da ferragem estrutural das colunas suportes de concreto, quando
existentes;
• Utilização de condutores metálicos diretamente apoiados na estrutura, sem
uso de isoladores.

Não é recomendável a utilização de condutores afastados e isolados da estrutura


(utilizando as ferragens padronizadas atuais) pelo simples motivos de que se forma arcos
entre os condutores de descida e a estrutura, principalmente se houver ferragens embutidas
na mesma.
Estes arcos são fontes de interferências maiores do que a própria corrente de
descarga. É fácil de comprovar sua formação. Com uma corrente de descarga de 10 KA
(pico), tempo de frente de 1 (um) microsegundo, e indutância do condutor de descida de 1,5
microhenry por metro, a tensão desenvolvida (V = LdI/dt) é de 15 KV/m. A cada 10 (dez)

52
metros de descida temos 150 kV, desenvolvidos do condutor contra terra (estrutura).
Naturalmente que os isoladores usados nas ferragens não suportam tal tensão,
desenvolvendo-se então arcos ao longo das descidas. Aqueles que defendem a utilização
das descidas isoladas o fazem com o pensamento de utilizar a ferragem e partes metálicas
da estrutura como blindagem para que os campos magnéticos produzidos nos condutores de
descida não atinjam o volume interno do ediflcio, não levando em conta a formação de
arcos.
Para evitar a formação de arcos os condutores de descida deveriam ser
afastados da estrutura a distância bem maiores, utilizando-se isoladores de alto valor de
T.S.I, (tensão suportável de impulso). Naturalmente que esta solução é impraticável,
acresce-se a estas observações o fato de a utilização das ferragens e isoladores, da forma
atual, é uma agressão para a arquitetura dos edificios e residências.
Portanto a recomendação é que, quando se utiliza condutor de descida que estes
sejam instalados diretamente apoiados, fixados, sobre as estruturas sem isoladores. Esta
solução é mais econômica, elimina as ferragens mais caras, e desejável do ponto de vista de
arquitetura.
Quanto à utilização de colunas metálicas como descida a única recomendação é
que nas emendas parafusadas, isto é, não soldadas sejam instaladas “Jumps” metálicos para
garantir a continuidade elétrica, já que as emendas parafusadas das colunas podem não
apresentar características adequadas de condução.
Quanto à utilização da ferragem estrutural das colunas de concreto como
descidas, a norma brasileira NBR5419/1993, indica no seu item 5.1.2.5, condutores de
descida e a forma de utilização destas ferragens. Em geral são instalados condutores de
descida específicos como barras de aço, por exemplo, com continuidade garantida por solda
ou conector aparafusado, embutido na coluna, e interligados a ferragem estrutural.

7.2 O USO DA FERRAGEM DE CONCRETO ARMADO

Embora a grande massa de material metálico dentro do concreto e através do


concreto em contato com o solo pudesse sugerir já há bastante tempo à utilização dessa

53
massa como um aterramento natural nas edificações isso só realmente aconteceu há
relativamente pouco tempo. Foram várias as razões que retardaram essa prática:

• O temor que o aquecimento das barras de aço se destacassem do concreto


pelo aquecimento produzido pela corrente de raios ou de curto-circuito;
• O temor que a passagem de uma corrente de alta freqüência pelas barras de
aço pudesse, pelo efeito pelicular, também separar o aço do concreto;
• O temor que ao passar da ferragem para o solo, a corrente produzisse a
perfuração do concreto e em conseqüência a deteriorização do concreto armado pela
entrada da umidade;
• O temor que houvesse corrosão da ferragem pela passagem da corrente
elétrica;
• O temor que ao interligar um aterramento feito em cobre, anel ou hastes,
com a ferragem da fundação, para equalização dos potenciais, houvesse corrosão
eletrolítica do aço.
Todos esses temores foram sendo vencidos ou por trabalhos laboriais ou pela
experiência acumulada em anos e anos. O único que se mostrou justificável em experiência
de laboratório foi o aquecimento da ferragem pelas correntes de curto-circuito. Isto pode
realmente vir a acontecer se houver só uma barra a conduzir a corrente de curto-circuito e
se o esquema de proteção for tal que só elimine a corrente após um tempo muito longo, o
que não acontece na prática, portanto, este temor também pode ser deixado de lado.
Tanto a norma NBR-5410 de instalação elétrica em baixa tensão quanto à
norma NBR-5419 de proteção de estruturas contra descargas atmosféricas recomendam que
o aterramento seja feito de preferência usando a ferragem das fundações. Com esta prática
serão atingidos dois objetivos essenciais para um sistema de aterramento: a resistência terá
um valor mais baixo que o que se pode conseguir com o uso de condutores horizontais e
hastes verticais, Mais importante que o valor, no entanto, é a equalização dos potenciais
que fica assegurada.

54
7.3 O CONCRETO PRÉ-FORMADO

No caso do concreto pré-formado as barras de aço, por necessidade do processo


de fabricação, necessariamente bem amarradas o que garante uma boa continuidade elétrica
com resistência entre as pontas das peças da ordem de dezenas de mW. Quando a decisão
de usar essa ferragem como condutor natural da corrente for tomada antes da fabricação
basta especificar ao fabricante que deixe um cabo ou barra para interligação entre as
diferentes peças. E possível também especificar uma chapa na superfície de apoio das peças
ligada à ferragem: com isto não haverá na obra necessidade de realizar conexões ou soldas.
A montagem das peças já tornará o prédio similar a um construído com estrutura metálica,
ou seja, um prédio autoprotegido. Para que isso aconteça, é preciso que na base, seja
instalado um anel de aterramento interligado às colunas. Se o edifício já estiver construído,
será necessário quebrar o concreto, fazer a interconexão e refazer o concreto. Esta operação
encontra algumas resistências porque há sempre o risco de que ao refazer o concreto não
serem tomados todos os cuidados necessários e o “remendo” se destaque, expondo a
ferragem às intempéries com risco de sérios danos à estrutura. De qualquer maneira, se o
prédio tiver mais de 20m de altura, deverão ser feitas assim a uma posição adequada do
concreto.

7.4 O CONCRETO PROTENDIDO

Neste tipo de concreto, cabos de aço são tencionados em uma forma e nessa
situação é fundido o concreto sobre eles; depois do concreto estar curado é afrouxada a
tensão dos cabos que ficam em contato íntimo com o concreto, aplicando a este um esforço
de compressão. Quase todas as normas nacionais dos diferentes paises e a norma IEC não
permitem o uso desses componentes metálicos para condução de correntes de raios. Uma da
exceção é a norma inglesa que permite a passagem da corrente, desde que o fabricante
tenha sido avisado e que antes da fusão do concreto tenha feito uma interligação entre os
vários cabos de aço da peça e tenha deixado para fora um rabicho para a interligação com
outras peças ou com captores, se for o caso.

55
Recentemente, porém, começou a ser usado um outro tipo de concreto
pretendido “feito na obra”, como já referimos acima. Neste tipo os cabos, engraxados ou
dentro de bainha de PVC, são instalados em furos deixados dentro das Lages dos pisos e
são tencionadas depois da laje já está parcialmente curada. Como os elementos de fixação
dos tensores ficam em geral em contato com a ferragem das vigas laterais eles serão
percorridos por corrente de equalização entre os potenciais de um lado para o outro do
prédio. Como os cabos assim tencionados não estão em contato com o concreto, não há
risco para a manutenção da integridade da laje.

7.5 ELETRODOS DE ATERRAMENTO

Estes elementos também são muito diversificados quanto a sua forma


construtiva, podendo ser constituídos de eletrodos horizontais enterrados sob e em torno da
edificação, associados ou não a eletrodos verticais ou inclinados. Também tem sido
utilizado como eletrodos, as armações de aço das fundações e sapatas das colunas das
edificações.
Outra opção é a utilização de eletrodos horizontais radiais, partindo em geral
dos cantos do anel formado por eletrodos horizontais enterrados em torno da edificação.
Como uma outra alternativa, poderíamos citar a utilização de eletrodos profundos. Na
escolha do tipo ou geometria de eletrodos a ser utilizado, é importante observar que a
finalidade deste sistema de aterramento é escoar as descargas atmosféricas para o solo, sem
causar sobretensões e diferenças de potenciais perigosos para as pessoas e equipamentos,
principalmente equipamentos sensíveis.
Sabe-se hoje que, para se ter sucesso nesta tarefa, o arranjo e as dimensões do
sistema de aterramento são os fatores mais importantes.
A resistência de aterramento é um fator secundário, embora a própria norma
brasileira recomende uma resistência máxima em torno de 10 Ohms. Esta é uma tentativa
de reduzir as diferenças de potencial momentâneas.
Como escolher o sistema de eletrodos correto, entre tantas opções?

56
Observando que as correntes de descargas atmosféricas são correntes
impulsivas, e, portanto de altas freqüências, ao invés de falarmos em resistência de
aterramento, temos que considerar a impedância de aterramento do solo, a qual não será
fixa, mas variável no tempo, caracterizando uma impedância impulsiva de aterramento.
A elevação de potencial no sistema de aterramento dependerá diretamente do
valor de pico da corrente de descarga e do valor da impedância impulsiva. Esta impedância
é definida como a relação entre o valor de pico da onda de tensão e o valor de pico da onda
de corrente, que não necessariamente, estão em fase (Zp = VP/Ip).
O melhor sistema de aterramento para descargas atmosféricas é aquele que
oferece menor impedância impulsiva para uma determinada corrente de descargas
atmosféricas.

57
8 RISCO DE EXPOSIÇÃO DE UMA EDIFICAÇÃO

A probabilidade de uma edificação ser atingida por um raio em um ano é dada


pelo produto da densidade de descargas atmosféricas para a terra pela área de exposição
equivalente da edificação

8.1 DENSIDADE DE DESCARGAS PARA A TERRA

A densidade de descargas atmosféricas para a terra (Ng) é o número de raios


para a terra por Km2 por ano. O valor Ng para uma determinada região pode ser estimado
pela equação (8.1)

Ng = 0.04 x Td 1.25 (8.1)

Onde:
Td – nº de dias de trovoadas ouvidas por ano, também conhecido como nível
ceráunico.
O nível ceráunico constitui um bom indicador da atividade elétrica da
atmosfera, sendo muito utilizado para a determinação das densidades de descargas, através
da aplicação de fórmulas empíricas. O Td poderá ser obtido:
- Em mapas isoceraúnicos (conforme a figura 7 da NBR 5419/1993);
- Consultando as administrações dos aeroportos da região;
- Consultando os distritos de meteorologia do ministério da agricultura;
- Consultando as empresas concessionárias de eletricidade que atendem a
região.

Convém esclarecer que o valor Td é o n. de dias que ocorrem trovoadas em um


ano
e não o número de descargas para a terra que atingem a região em um ano.
São apresentados na tabela 8.1 alguns valores médios do Td. – nível
ceráunico em diversos países

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TABELA 8.1 Nível ceráunico em diversos países

País Nível Ceráunico


África do Sul 5 a 100
Austrália 4 a 107
Itália 11a 60
Finlândia 17
França 20 a 30
Alemanha 15 a 35

As atividades elétricas no território brasileiro são geralmente mais severas


conforme na tabela 8.2

TABELA 8.2 Nível ceráunico no Brasil

Td- Nível Ceráunico (nº Ng ( Densidade de Descargas


Região atmosféricas para terra
de trovoadas por ano) desc/Km2 ano
Estado de São Paulo 40 a 100 4,02 a 12,65
Estado de Minas Gerais 40 a 120 4,02 a 15,88
Centro-Oeste 80 a 140 9,57 a 15,88
Amazônia 40 a 140 4,02 a 19,26
Nordeste (Litoral) 5 a 10 0,30 a 0,71
Nordeste (Sertão) 20 a 60 1,69 a 6,68
Sul 30 a 80 2.81 a 9,57

A figura 8.1 mostra as interligações entre diversos pontos de mesmo índice


ceraúnico formando curvas isoceraúnicas.

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FIG. 8.1 Mapa isoceráunico do Brasil

8.2 ÁREA DE EXPOSIÇÃO EQUIVALENTE

Á área de exposição equivalente (Ae) é a área do plano de edificação


prolongada em todas as direções, de modo a levar em conta a altura.

Ae = LW + 2LH + 2WH + πH2 (m2) (8.2)

Onde:

L = comprimento;
W = largura;
H = altura.

8.3 – FREQUÊNCIA MÉDIA ANUAL PREVISÍVEL

A freqüência anual previsível (N) de descargas atmosféricas sobre a edificação


é dado por:

N = Ng x Ae x 10-6 (por ano) (8.3)

60
8.4 – FREQUÊNCIA MÉDIA ANUAL ADMÍSSIVEL

A freqüência média anual admissível de danos (Nc) é a seguinte:

- Riscos maiores que 10–3 (isto é, 1 em 1000) por ano são considerados
inaceitáveis:
- Riscos menores que 10–5 (isto é, 1 em 100.000) por ano são, em geral,
considerados aceitáveis.

8.5 – AVALIAÇÃO GERAL DO RISCO

Após a determinação de (N), que é o numero provável de raios que anualmente


atingem uma edificação, deve-se multiplica-lo pelos seguintes fatores de ponderação.
- Fator A – Tipo de ocupação da estrutura:
- Fator B – Tipo de construção da estrutura:
- Fator C – Conteúdo da estrutura e efeitos indiretos das descargas
atmosféricas;
- Fator D – Localização da estrutura:
- Fator E – Topologia da região.

X = N .( FatorA).( FatorB ).( FatorC ).( FatorD).( FatorE ) (8.4)

8.6 – VERIFICAÇÃO DA NECESSIDADE DE PROTEÇÃO CONTRA


DESCARGAS ATAMOSFÉRICAS

A necessidade de um SPDA é determinada da seguinte maneira:

‰ Se X ≥ 10−3 , a edificação requer um SPDA;


‰ Se 10−5 ∠X ∠10−3 , a conveniência ou não de um SPDA deve passar pela
analise critica do projetista e do usuário;

61
‰ Se X ≤ 10−5 , a edificação dispensa um SPDA.

Independente do valor de X é obrigatória a instalação de um SPDA nos


seguinte casos:
- Estruturas com riscos de explosão, contendo gases ou líquidos inflamáveis,
- Locais de grande afluência de publico;
- Áreas com alta densidade de descargas atmosféricas;
- Locais que prestam serviços públicos essenciais;
- Estruturas isoladas, ou com altura superior a 25m;
- Em estruturas de valor histórico e cultural

As estruturas com riscos inerentes de exploração requerem prescrições


complementares.

8.7 NÍVEIS DE PROTEÇÃO

Os níveis de proteção estabelecidos na norma são apresentados na tabela 9.3:

TABELA 8.3 Níveis de proteção

Níveis de proteção Riscos Eficiência do Sist. de Proteção


Nível I Risco muito elevado 98%
Nível II Risco elevado 95%
Nível III Risco normal 90%
Nível IV Baixo risco 80%

A determinação da eficiência mínima de um SPDA pode ser estimada conforme


expressão (8.5)

 Nc 
E = 1−   (8.5)
X 

Sendo:

62
E = relação entre a freqüência média anual de descargas atmosféricas que não
causam danos, interceptadas ou não pelo SPDA, e a freqüência X sobre a estrutura.

63
9 TIPOS DE PÁRA-RAIOS

Fica claro que as descargas elétricas dentro de uma determinada zona são mais
facilmente escoada pelo pára-raios do que por uma estrutura de concreto, por exemplo. As
cargas elétricas, em vez de irromperem em um ponto qualquer do solo, são conduzidas até
as pontas do pára-raios (captor) através de um cabo de excelente condutividade elétrica
(cabo de cobre), permitindo, dessa forma, que as descargas sejam efetuadas através deste,
propiciando a proteção da construção dentro de determinado raio de atuação. A seguir
descreveremos os principais tipos de pára-raios.

9.1 PÁRA-RAIOS DE HASTE

Utilizando a propriedade das pontas metálicas de propiciar o escoamento das


cargas elétricas para atmosfera, chamado de poder das pontas, Franklin concebeu e instalou
um dispositivo que desempenha esta função, que foi denominado de pára-raios. Um sistema
de pára-raios do tipo Franklin, é constituído de diferentes partes, cujos elementos principais
são:
a) Capacitor: é o principal elemento do pára-raios, formado por três pontas ou
mais de aço inoxidável ou cobre. É denominado de ponta;
b) Mastro ou haste: é o suporte de captor, sendo constituído de um tubo de
cobre de comprimento igual a 5m e 55mm de diâmetro. Deve ser fixado firmemente sobre o
isolado de uso exterior. A função do mastro é suportar o captor e servir de condutor
metálico;
c) Isolador: é a base de fixação do mastro ou haste. Normalmente é fabricado
em porcelana vitrificada ou vidro temperado, para nível de tensão de 10KV;
d) Condutor de descida: é o condutor que faz ligação entre o captor e o eletrodo
de terra.
e) Eletrodo de terra: o condutor de descida é conectado na sua extremidade
inferior a três ou mais eletrodos de terra, cujo valor da resistência de aterramento não
deverá ser superior a 10ohms, na pior época do ano (período seco) para instalações em
geral e 1ohm para edificações destinadas a materiais explosivos ou facilmente inflamáveis.

64
Se não houver possibilidade, por qualquer motivo, de se chegar a estes valores deverão ser
adotados novos procedimentos, conforme exposto no capítulo 11 deste trabalho;
f) Conexão de medição: é assim denominada a conexão desmontável destinada
a permitir a medição da resistência de aterramento. Deve ser instalada a 2m ou mais acima
do nível do solo .

9.2 GAIOLA DE FARADAY

O método da gaiola de Faraday consiste em envolver a superfície do volume,


parte superior e laterais, com malha captora de condutores elétricos nus, cuja distância entre
eles é função do nível de proteção desejado conforme tabela 10.1.

Níveis de proteção Distância (m)


Nivel I 5
Nivel II 10
Nivel III 10
Nivel IV 20

TABELA 9.1 Distância entre os cabos de malha de proteção

65
FIG. 9.1 Exemplo da gaiola de Faraday

O número dos condutores da malha pode ser determinado para qualquer


dimensão da malha pela equação (9.1)

Dm
Ncm = +1 (9.1)
Dco

Onde:
Dm = dimensão da área plana da malha captora na sentido da largura e do
comprimento, em m;
Dco = distancia entre os condutores, em m determinado conforme Tab. 10.1
A gaiola de Faraday tem recebido ultimamente a preferência dos projetistas.
Pois pelo método de Franklin, a interligação entre as hastes (suportes dos captores) pode
conduzir a uma malha, no topo da construção, de dimensões tais que resultam praticamente
nas dimensões necessárias à aplicação do método de Faraday.

66
9.3 PÁRA-RAIOS EM LINHAS DE TRANSMISSÃO

Atualmente são comercializados dois tipos de pára-raios a resistor não linear, e


cada um deles apresentam características bem definidas, em função do material utilizado de
que são constituídos.

9.3.1 PÁRA-RAIOS DE CARBONETO DE SILÍCIO

Pára-raios de carboneto de silício são os que utilizam como resistor não-linear o


carboneto de silício (SiC) e têm em série com este um centelhador formado por vários gaps.
Esses pára-raios são constituídos basicamente das seguintes partes:
a) Corpo de porcelana: constituído de porcelana vitrificada mecânica e
dielétrica, dentro do qual estão alojados os principais elementeos ativos do para-raios.
b) Resistores não lineares: são blocos cerâmicos compostos a partir de uma
mistura apropriada de matéria prima (SiC), submetida a uma temperatura em torno de
2000ºC. Como resultado, são formados cristais multicolores que após trituração, são
transformados em pó. Utilizando um aglutinante de fabricação especial, são constituídos os
blocos de caboneto de silício que, empilhados no interior do corpo de porcelana, formam o
resistor não-linear.
Esse material é capaz de conduzir alta corrente de descarga com baixas tensões
residuais. Entretanto, o resistor não-linear oferece uma alta impedância à corrente
subseqüente fornecida pelo sistema.
Se fosse construído um para-raios SiC sem centelhador, este conduziria à terra
uma elevada corrente, cerca de 200A, quando submetido à tensão de operação, em
condições normais de serviço. Como resultado, o bloco cerâmico, através do qual fluiria a
corrente, sofreria um aquecimento exagerado devido às perdas joules nos resistores não
lineares, comprometendo a integridade física do para raios e ocasionado um defeito fase e
terra no sistema. Conclui-se, desta forma, que os pára raios SiC só podem funcionar com a
presença do centelhador série, o que não é verdade para o para-raios a óxido de zinco.
O aumento da temperatura do bloco cerâmico de carboneto de silício não deve
reduzir a sua resistência quando da passagem da corrente subseqüente, pois, caso contrário,

67
esta corrente poderia assumir um valor demasiadamente elevado e não permitir a sua
interrupção pelo centelhador série, na sua primeira passagem por zero, provocando uma
reignição no meio ciclo seguinte da corrente, reduzindo ainda mais a sua resistência térmica
e conseqüentemente elevando a corrente circulante, assim sucessivamente, até que este
processo resulte em danos ao para-raios.
Também a resistência do resistor não linear não deve aumentar com a passagem
da corrente de descarga, pois, caso contrário, haverá uma elevação da tensão residual que
pode resultar em dano ao equipamento.
c) Centelhador série: é constituído de um ou mais espaçadores entre eletrodos,
dispostos em série com os resitores não-linear, e cuja finalidade é assegurar, sob quaisquer
condições, uma característica de disrupção regular com uma extinção da corrente
subseqüente, fornecida pelo sistema. O centelhador série pode ser considerado como uma
chave de interrupção a corrente que segue a corrente de descarga do pára-ráios (corrente
subsequente), quando esta passa pelo ponto zero natural do ciclo alternado.
d) Desligador automático: é constituído de um elemento resistivo colocado em
série com uma cápsula explosiva protegida por um corpo de baquelite. O desligador
automático é projetado para não operar com a mensagem de corrente de descarga e da
corrente subseqüente. Sua principal utilidade é desligar o para-raios defeituoso da rede à
qual esta ligado. Adicionalmente, serve como indicador visual de defeito do próprio pára-
raios. É necessário que a curva de atuação tempo X corrente do desligador automático seja
compatível com as curvas características de atuação dos elementos de proteção do sistema.
Estes dispositivos são disponíveis somente nas unidades de média tensão.
e) Protetor contra sobretensão: é um dispositivo destinado a aliviar a pressão
interna devido a falhas ocasionadas do para-raios e cuja ação permite o escape dos gases
antes que haja o rompimento da porcelana e provoque danos à vida e ao patrimônio.

9.3.2 PARA-RAIOS DE ÓXIDO DE ZINCO

São assim denominados os para-raios que utilizam como resistor não-linear o


óxido de zinco (ZnO) e, ao contrário dos para-raios a carboneto de silício, não possuem
centelhadores série. Estes pára-raios são constituídos basicamente das seguintes partes:

68
a) corpo de porcelana: aprensenta as mesmas características já mencionadas
para o pára-raios SiC.
b) Resistores não-lineares: são blocos cerâmicos compostos a partir de uma
mistura de óxido de zinco, em maior proporção, e outros óxidos metálicos, como o
antimônio, o manganês, o bismuto e o cobalto.

Após a abtenção de pó, resultante da mistura anteriormente referida, procede-se


á prensagem dos blocos nas dimesões desejadas, vindo em seguida a sua sinterização, que
consiste num tratamento térmico cujo objetivo é tornar o bloco um elemento cerâmico, e
isto é obtido quando o mesmo é submetido a uma temperatura que pode chegar aos
1.300ºC. Após cobrir com elemento metálico as superfícies planas do bloco cerâmico, o
mesmo é levado a uma série de testes, depois dos quais pode estar classificado para ser
utilizado nos para-ráios.
Assim como SiC, o óxido de zinco aprensenta uma elevada capacidade de
condução da corrente de surto que resulta em baixas tensões de descarga, ao mesmo tempo
que oferece uma alta resistência à corrente subseqüente, fornecida pelo sistema.
O óxido de zinco apresenta, quando submetido a uma tensão de operação,
conduz à terra uma corrente elétrica de valor muito pequeno, cerca de 0,03mA, incapaz de
provocar um aquecimento significativo no bloco cerâmico. Como resultado deste
desempenho, o pára-raios a óxido de zinco pode dispensar o uso do centelhador série.
Por ser ainda um produto de uso mais recente, os pára-raios de óxido de zinco
suscitam algumas questões que já estão perfeitamente definidas para os pára-raios de
carboneto de silício. Uma delas é a técnica de ensaio que ainda não foi normalizada,
enquanto, para que estes equipamentos sejam recebidos pelo controle de qualidade dos
usuários, são realizados os mesmos ensaios destinados aos pára-raios de carboneto de
silício.
Atualmente alguns fabricantes nacionais estão construindo para-raios de
distribuição de óxido de zinco utilizado os mesmos elementos dos para-raios de carboneto
de distribuição de zinco utilizando os mesmos elementos dos para-raios de carboneto de
silício, ou seja, desligador automático etc.

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Porém, os para-raios destinados aos sistemas de potência já são fabricados
contando com todas as vantagens oferecidas pela tecnologia do óxido de zinco.

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10 PROIBIÇÃO DO PARA-RAIOS RADIOATIVO

Depois de pelo menos quinze anos de utilização irrestrita do Brasil, os captores


radioativos tiveram sua fabricação proibida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear
(C7NEN) através da resolução n0 4, de 19 de abril de 1989, e publicada no diário oficial da
União, do dia 9 de maio. Foi determinado ainda que os pára-raios radioativos já instalados
deveriam ser recolhidos, ainda que num ritmo realista (a remoção seria feita na data já
programada para manutenção do captor).

10.1 RAZÕES PARA A PROIBIÇÃO

A razão exposta pelo CNEN para proibir o captor radioativo — ou como dispõe
textualmente a resolução, “suspender a concessão de autorização para utilização de material
radioativo em pára-raios é que não ficou “tecnicamente comprovada a maior eficácia dos
pára-raios radioativos em relação aos convencionais e que, portanto, o principio da
justificativa previsto a norma CNEN-NE-3.1: Diretrizes Básicas da Radioproteção não
estão demonstrados”.
Essas diretrizes, estipulam que o emprego de qualquer material radioativo em
equipamentos ou ‘dispositivos de uso público está sujeito a três premissas básicas:
justificativa, otimização e limitação da dose. A primeira, e talvez a mais importante, está
ligada ao ganho que a sociedade terá com a aplicação, com seus benefícios econômicos e
sociais. Um exemplo disso são as câmara de cobalto, usadas na ancologia, “No caso dos
captores radioativos não foi ultrapassada a fase da justificativa”. Não foi provado que esses
captores são tecnicamente melhores que os convencionais, que não usam esse tipo de
material.
Em todo o mundo os fabricantes de pára-raios radioativos tiveram tempo o
bastante pra confirmar tecnicamente as vantagens que sempre propalaram a respeito de seus
produtos, basicamente, uma distância de atração e, por conseguinte, uma zona de proteção
bem maior que a do captor tipo Franklin. E ao não provar de forma cabal essa suposta
superioridade, “eles deixaram de atender a premissa da justificativa”: se o material

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radioativo não contribui tecnicamente para tomar mais eficiente a proteção contra descargas
atmosféricas, ele não é absolutamente indispensável e, portanto, não deve ser usado.

10.2 RISCOS

Entre os grandes produtores mundiais de amerício 241, a Inglaterra, a França e


a Espanha, apenas o primeiro, e maior produtor, ainda não proibiu a fabricação do captor
radioativo. E que, de forma geral, quase todos os paises europeus não aceitam a propalada
superioridade do produto, descartando sua utilização. Apenas nos EUA, face a autonomia
dos estados, alguns deles ainda não proibiram o uso desse tipo de captor, mas a maciça
maioria não admite em edificações de uso coletivo. Eles só podem se usados em residências
individuais, em função do próprio liberalismo norte-americano, que garante ao individuo o
direito inclusive de se expor a riscos se assim o desejar.
Cabe ressaltar que a existência de um pára-raios radioativo em uma edificação
não deve ser motivo de grande preocupação, pois especialistas da CNEN chegaram a
afirmar que: “A emissão da pastilha de amerício 241 usada na confecção dos captores
radioativos varia entre 0,1 e 1mCi”. E uma pessoa pode viver a vida inteira, 60 a 80 anos,
com uma pastilha dessas, a uma distancia de 10 a 15cm de seu corpo, sem qualquer
problema.
Os especialistas recomendam cuidados especiais no manuseio e manutenção
dos captores, serviços esses que só devem ser executados por técnicos habituados.
Assim são preocupantes os riscos associados à manutenção e manipulação dos
captores: “Os próprios fabricantes, alegando que a deposição de poeira poderia reduzir a
ionização produzida pelo captor, sempre recomendaram que ele fosse limpo regularmente.
E uma limpeza mais descuidada, feita por pessoa não completamente esclarecida, pode
expô-lo a uma radiação perigosa. Já tivemos noticia de um técnico que, desavisadamente,
limpou o captor escovando-o em um moto esmeril. O técnico durante a escovação, pode
eventualmente ter atingido a pastilha de amerício e, conseqüentemente, inalando poeira
contaminada. Outro problema: na hipótese de queda do captor ou de reforma do prédio
onde se acha instalado, surge o risco de manuseio por pessoas comuns. A vida útil de um

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captor radioativo varia de 15 a 20 anos, mas a pastilha permanece ativa, pois seu tempo de
meia-vida é de 430 anos”.

10.3 RECOLHIMENTO

A Resolução da CNEN determina que os captores radioativos existentes,


instalados ou em estoque, sejam recolhidos, ou mais precisamente, que o material
radioativo remanescente dos pára-raios desativados sejam imediatamente recolhida à
CNEN”.
Isso significa que o recolhimento deve ser imediato à desativação, mas não
significa,necessariamente, que a desativação deva ser imediata.
A CNEN fará circular um comunicado entre os fabricantes e empresas de
manutenção cadastrados no órgão, orientando-os nesse sentido.

10.4 REPROJETO

Se a maior eficácia do pára-raios radioativo não está tecnicamente comprovada,


como afirma a Resolução da CNEN, isso significa que, a rigor, as instalações que o
empregam terão que ser reprojetadas agora de acordo com os procedimentos normalizados.
Este reprojeto levará a necessidade da instalação de um número maior de
captores tipo Franklin, pois a opção inicial pelo pára-raios radioativo foi motivada por
razões econômicas. O depoimento de um projetista apresentado a seguir esclarece o
assunto:
“Nós propúnhamos as duas soluções mas, entre utilizar 10 ou 12 captores tipo
Franldin ou apenas um radioativo, muitos usuários não hesitavam em escolher este último,
simplesmente por razão econômica

10.5 A RESOLUÇÃO DO CNEN

Resolução n0 04, de 19 de abril de 1989 (publicada o Diário Oficial da União


de 09/05/89)

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A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), usando das atribuições que
lhe confere o antigo 1º, da lei nº 6189, de 16 de dezembro de 1974, o artigo 141 do Decreto
nº 51.726, de 19 de fevereiro de 1963, e o artigo 21, incisos de 1 a 5 do Decreto 75569, de
07 de abril de 1975, por decisão de sua Comissão Deliberativa, na 533 Sessão, realizada em
19 de abril de 1989, artigo 1, inciso 2, inline;
Considerando que esse monopólio é exercido pela CNEN na qualidade de órgão
superior de orientação, planejamento, supervisão e fiscalização.
Considerando que compete a CNEN baixar normas gerais sobre substancias
radioativas, bem como receber e depositar rejeitos radioativos;
Considerando a proliferação do uso de substancias radioativas em pára-raios;
Considerando que não está comprovada a maior eficácia de pára-raios
radioativos em relação aos convencionais e que, portanto, o “principio da justificação”
previsto na Norma CNEN NE-3.01 “Diretrizes Básicas de Radioproteção” não esta
demonstrado;
Considerando a necessidade de dar destino adequado ao material radioativo dos
páraraios desativados.
Resolve:

• Suspender, a partir da vigência desta Resolução, a concessão de autorização


para utilização de material radioativo em pára-raios;
• O material radioativo remanescente dos pára-raios desativados deve ser
imediatamente recolhido à CNEN;
• Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

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CONCLUSÃO

As descargas atmosféricas são um dos maiores causadores de acidentes em


sistemas elétricos causando prejuízos tanto materiais quanto para a segurança pessoal. Com
o crescente aumento dessas descargas, tornou-se necessário a avaliação do risco de
exposição a que estão submetidos os edifícios, sendo este um meio eficaz de verificar a
necessidade de instalação de pára-raios.
Os sistemas de aterramento tem como primeiro objetivo, a segurança pessoal.
Devem ser projetados para atender os critérios de segurança tanto em alta freqüência,
descargas atmosféricas e telefonia, quanto em baixas freqüências, como por exemplo,
curtos circuitos em motores trifásicos.
Para que o aterramento seja eficaz é necessário que seja um sistema estável, ou
seja, que apresente uma invariabilidade nos valores da resistência de terra. Deve-se levar
em consideração também a viabilização do projeto, objetivando o ponto ótimo no que se
diz respeito a configuração do sistema e o resultado desejado.
Costuma-se adotar o valor da resistência de terra em torno de 10Ω, mas na
prática, este valor pode ser bem variável. Adotando-se o aterramento com
equipotencialização, por exemplo, o objetivo final é manter todo o sistema a um mesmo
potencial.
Deste trabalho conclui-se a importância do conhecimento de projetos para os
sistemas de aterramento e pára-raios, de maneira minuciosa ressaltando suas características
peculiares.

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BIBLIOGRAFIA

[1] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 5419.


Proteção de Estruturas Contra Descargas Atmosféricas, 32p-. Fev. 2001.
[2] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 5410.
Instalações Elétricas de Baixa Tensão, 128p-. Nov. 1997.
[3] KINDERMANN, G. - Descarga Atmosférica. Sagra Ed. Porto Alegre-
RS.1992, 132p.
[4] LEITE, D.M. & LEITE, C.M. Proteção Contra Descargas
Atmosféricas. Oficina de Mydia Ed. Ltda. São Paulo, 1997.294p.
[5] IEEE-STD-80. Guide for Safety in Arternating Current substation
Grounding, 1976.
[6] INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS.
Guide for Safety in Substation Grounding, IEEE STD 80, 1976.
[7] KINDERMANN, G. & CAMPAGNOLO, S.M. Aterramento Elétrico.
Sagra, Ed. Porto Alegre, RS, 1995, 214p.
[8] LEITE, C.M. & PEREIRA, F. M.L. Técnicas de Aterramentos
Elétricos. Oficina de Mydia Ed. Ltda, São Paulo, 1996. 215p.
[9] LEON, J.A.M. Sistema de Aterramento. Ed. Erico, São Paulo, 1991.

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