Você está na página 1de 11

O iluminismo

APRESENTAR OS FATOS SOBRE A INDEPENDÊNCIA AMERICANA; A VIRADA PARA O RACIONALISMO E

OS ESCRITOS POLÍTICOS.

AUTOR(A): PROF. ELTON LUIZ ALIANDRO FURLANETTO

O contexto histórico
O começo do segundo grande período cultural dos Estados Unidos coincide com um acontecimento

histórico importante, chamado de Revolução Americana. A Guerra de Independência aconteceu entre 1775 e
1783. Trata-se da primeira guerra moderna contra um poder imperial. Ela serviu de modelo na Europa, para
a Revolução Francesa e também em outras colônias, no decorrer do século seguinte. No decorrer do período

do conflito, temos o surgimento de grandes escritos políticos, como a Declaration of Independence de


Thomas Jefferson, mas pouca literatura propriamente dita foi produzida e os motivos podem ter sido:
- os americanos estavam dependentes dos modelos ingleses e não eram lidos lá;

- havia poucos leitores nacionais;


- ainda que procurassem um sentimento nacional, a maioria deles era inglês ou tinha pais e avós ingleses;

- era muito fácil piratear as obras produzidas na Inglaterra e mesmo aquelas produzidas nacionalmente, o
que fez aparecer as primeiras leis de proteção dos direitos autorais, que não era tão efetiva no princípio.
Legenda: ILUSTRAçãO IDEALIZADA DE FRANKLIN, ADAMS E JEFFERSON (DA ESQUERDA PARA A

DIREITA) TRABALHANDO NA DECLARAçãO DA INDEPENDêNCIA, POR JEAN LEON GEROME FERRIS, EM

1900

O Iluminismo norte-americano
O século XVIII foi marcado pela influência do pensamento europeu e uma mudança, dos dogmas religiosos

para os métodos científicos, do racionalismo se opondo à fé cega e de um governo representativo no lugar

das monarquias.

Os escritos políticos
Várias figuras se destacam no mundo das letras norte-americanas. Alguns intelectuais e pais fundadores

iam e vinham para a Europa e criavam textos de conotação política e relatos biográficos sobre suas

experiências de vida. O mais famoso deles é Benjamin Franklin.

Franklin viveu entre 1706 e 1790, tendo participado de todos os grandes eventos acontecidos neste período.

Parte de sua vida está registrada em sua mais conhecida obra, Autobiography (1768), que cobre os anos de
1731-1759, quando da sua juventude. A obra foi escrita para o filho de Franklin e ele buscava servir como

modelo das virtudes do ser humano. Essa e outras de suas obras, como Almanaque do pobre Ricardo, o

autor revela sua personalidade e sua veia satírica. Foi um grande cientista e inventor, além de

correspondente em Paris, onde fez muitos amigos e criou muitos vínculos. Com seu método quase
científico, um trecho de sua Autobiografia é uma espécie de manual de vícios e virtudes, que devem ser
eliminados um a um, para que o homem possa atingir o bem, que, longe das ameaças puritanas, era a forma

de mais alta de realização pessoal.

Legenda: BENJAMIN FRANKLIN DRAWING ELECTRICITY FROM THE SKY, POR BENJAMIN WEST, EM 1816

Trecho de Autobiografia:

These names of virtues, with their precepts, were:

1. TEMPERANCE. Eat not to dullness; drink not to elevation.

2. SILENCE. Speak not but what may benefit others or yourself; avoid trifling

conversation.

3. RESOLUTION. Resolve to perform what you ought; perform without fail what you

resolve.
4. ORDER. Let all your things have their places; let each part of your business have its

time.

5. FRUGALITY. Make no expense but to do good to others or yourself; i.e., waste nothing.

6. INDUSTRY. Lose no time; be always employed in something useful; cut off all

unnecessary actions.
7. SINCERITY. Use no hurtful deceit; think innocently and justly, and, if you speak, speak
accordingly.

8. JUSTICE. Wrong none by doing injuries, or omitting the benefits that are your duty.

9. MODERATION. Avoid extremes; forbear resenting injuries so much as you think they

deserve.

10. CLEANLINESS. Tolerate no uncleanliness in body, clothes, or habitation.

11. TRANQUILITY. Be not disturbed at trifles, or at accidents common or unavoidable.

12. CHASTITY. Rarely use venery but for health or offspring, never to dullness, weakness,

or the injury of your own or another's peace or reputation.

13. HUMILITY. Imitate Jesus and Socrates.

My intention being to acquire the habitude of all these virtues, I judg’d it would be well

not to distract my attention by attempting the whole at once, but to fix it on one of them

at a time; and, when I should be master of that, then to proceed to another, and so on, till

I should have gone thro’ the thirteen (…) p. 75-76 


(DISPONíVEL EM: HTTPS://ARCHIVE.ORG/DETAILS/AUTOBIOGRAPHYOFB1884FRAN)

Outro autor que foi contemporâneo de Franklin e seu amigo foi Thomas Jefferson. Além de ser considerado

o autor principal  da Declaração de Independência, ele também escreveu livros como Notes on the State of

Virginia (1785), no qual buscava defender os valores da democracia da tirania e anarquia. Foi presidente dos
Estados Unidos entre 1801 e 1809. 

Legenda: O JEFFERSON MEMORIAL, EM WASHINGTON, DC, EUA

Ainda, temos Thomas Paine (1737-1809), um inglês que foi perseguido na Europa e sob a proteção de

Franklin, começa uma nova vida nas colônias. Ele publica alguns panfletos, conhecidos pela sua
radicalidade: este era um gênero bastante exercitado naquela época. Seus mais conhecidos eram Common
Sense, Os direitos do homem, e A crise. De acordo com Bessa (2008) mais de dois mil panfletos foram
publicados naquela época e lidos para grupos de pessoas. Outro desenvolvimento americano na época da

Revolução era a popularidade dos jornais. Houve um grande crescimento do público leitor.

Legenda: COMMON SENSE, PUBLICADO EM 1776

Alguns autores buscaram aproveitar os movimentos Revolucionários para criar em poesia o grande

épico americano, porém todos falharam. A poesia satírica acabou muito mais desenvolvida na

época, por sua forma de permitir a crítica social, a reflexão sobre os excessos da época.

Os romancistas
Ainda que o romance não fosse a grande forma do século XVIII, alguns autores surgiram na época e

popularizaram a ficção norte-americana dentro e fora dos Estados Unidos. Eles encontraram novas formas e

escreveram em diversos gêneros. Alguns tentaram viver da própria produção, porém, na época, o ofício
exclusivo de escritor não era uma alternativa para alguém que não tivesse outra fonte de renda. Os temas

eram diversos e locais, as perspectivas históricas eram adotadas e o passado e a mudança eram bastante

comuns. Vejamos alguns dos mais conhecidos representantes da época:

Charles Brockden Brown nasceu em 1771 e faleceu em 1810. Ele foi influenciado por escritores ingleses do

gênero gótico como Ann Radcliffe e William Godwin. Ele foi sempre extremamente pobre e escreveu com

dificuldade, entre 1798 e 1801, os seguintes romances, cujos temas principais eram:

Wieland – loucura, terror e obsessão religiosa


Edgar Huntly – natureza selvagem, criminalidade
Ormond – libertinagem satânica
Arthur Mervyn – calamidades urbanas
Clara Howard e Jane Talbot – dilemas éticos das relações amorosas
Para os críticos, Brown expressou as “ansiedades profundas sobre a inedequação das instituições sociais da

nova nação.” Seu estilo era poderoso e altamente literário, apesar de sua pouca educação formal. 

Legenda: WIELAND, OU, THE TRANSFORMATION, REIMPRESSãO DE 1811

Vejamos um trecho de seu romance Wieland:

O romance gótico, muito popular no período, tratava de assuntos como o inexplicável, a loucura,
The tales of apparitions and enchantments did not possess that power over my belief

which could even render them interesting. I saw nothing in them but ignorance and folly,

and was a stranger even to that terror which is pleasing. But this incident was different

from any that I had ever before known. Here were proofs of a sensible and intelligent

existence, which could not be denied. Here was information obtained and imparted by

means unquestionably super-human.

WIELAND, P. 38

distúrbios psicológicos e outros aspectos da alma humana. As histórias, cheias de mistério e

suspense, passavam-se em lugares exóticos e selvagens. 

Washington Irving (1789-1859) teve uma vida diferente de Brown. Foi, assim como Franklin e Jefferson,

embaixador cultural e diplomata. Mesmo tendo bastante talento artístico, apenas se torna escritor por uma

série de coincidências. Com ajuda dos amigos ele publica seu livro Sketch Book of Geoffrey Crayon (1819),

que era seu pseudônimo. Nesta coleção de histórias, temos dois contos famosos seus como “Rip Van

Winkle” e “The Legend of Sleepy Hollow”. Assim como o próprio nome da segunda história indica, Irving

estava dando para os Estados Unidos um conjunto de lendas. Ele adaptou histórias de origem européia, e

transformava a região onde morava em um lugar mágico. Além disso, ele analisava o “descobrimento” dos

Estados Unidos numa biografia de Cristovão Colombo. Depois disso, ele se voltou ao tema do Oeste falando

sobre os pioneiros e caçadores em A tour on the Praries (1835) e Astoria (1836). 

Objeto disponível na plataforma


Informação:
Rip Van Winkle
figura de Rip Van Winkle

FIGURA DE RIP VAN WINKLE

ILUSTRADOR THOMAS SPERLING E TíTULO RIP VAN WINKLE

James Fenimore Cooper (1789-1851) da mesma maneira que Irving, ele buscou no passado norte-

americano uma maneira de estabelecer melhor a identidade do país nascente. Enquanto os outros escritores
buscavam na Europa suas inspirações de contos e lendas, Cooper buscava na selvagem América seu mito

nacional. Para ele, a chegada dos europeus era uma espécie de queda do paraíso, a natureza sendo destruída

diante dos olhos e por meio das mãos dos pioneiros.

Seu herói mais famoso, Natty Bumppo, era considerado um homem da fronteira. Ele foi a inspiração para os

cowboys modernos, e outros habitantes dessa região selvagem, considerada terra sem lei, no qual brancos e

índios se misturavam, entravam em conflitos e um deles era sobrepujado. Porém, diferente da sociedade

que o cerca, ainda que pobre e isolado, Bumppo é um símbolo de pureza e carregado de valores éticos. Ele

amava a natureza e a liberdade. Sua imagem lembra bastante aquela dos cavaleiros medievais: casto, culto

e espiritual. Seus romances mais famosos são:


The Pioneer
The Last of the Mohicans
The Prarie
Notions of the Americans
Lionel Lincoln
The Eclipse
 

Legenda: ILUSTRAçãO DE THE LAST OF THE MOHICANS, EDIçãO DE 1896, POR J.T. MERRIL

Sua série, chamada de Leather-Stocking Tales conta a vida de Natty e as grandes guerras e migrações ,

principalmente nas fronteiras, entre os período de 1740 e 1804. Tais migrações constantemente deslocavam

as pessoas, os novos colonizadores “empurravam” os antigos para mais longe, e os índios também e Cooper

faz uma análise dos aspectos positivos e negativos dessa movimentação. Vemos a ganância dos

colonizadores brancos, o desprezo deles pela natureza, e foi o primeiro a mostrar os Estados Unidos não da

perspectiva de um olhar europeu, e sim, com toques da trágica exploração desencadeada desde a chegada

dos peregrinos.

ATIVIDADE
There is reason in an Indian, though nature has made him with a red skin! . . . I am no
scholar, and I care not who knows it; but judging from what I have seen, at deer chases
and squirrel hunts, of the sparks below, I should think a rifle in the hands of their
grandfathers was not so dangerous as a hickory bow and a good flint-head might be, if
drawn with Indian judgment, and sent by an Indian eye.
 
- Os índios têm razão, embora a natureza os tenha feito com a pele-vermelha!  ...  - Eu não

sou um sábio, mas a julgar pelo que tenho visto nas caçadas aos veados e aos esquilos,

acho que uma espingarda nas mãos dos teus antepassados não seria tão perigosa quanto

um arco feito de madeira de nogueira e uma boa ponta de pedra, se manejados com a

decisão de um índio e arremessada com a pontaria de um índio.

TRECHO DE THE LAST OF THE MOHICAN, QUE VIROU FILME EM 1992 (SEGUIDO DE

TRADUçãO DA EDITORA NACIONAL)

Podemos afirmar, sobre a literatura iluminista norte-americana que:

A. As maiores figuras da época eram não apenas escritores, mas políticos,

filósofos e cientistas.

B. Havia um desejo de encontrar uma identidade americana nos romances

e histórias da época

C. Os autores ainda dependiam da Inglaterra para publicar os seus livros e

também para ter um público leitor.

D. Todas estão corretas

E. Todas estão incorretas

REFERÊNCIA
BESSA, Maria Cristina. Panorama da Literatura Americana. São Paulo: Alexa Cultural, 2008.

BROWN, Charles B. Wieland; Or, The Transformation: An American Tale . Disponível em:

http://www.gutenberg.org/ebooks/792

COOPER, James F. The last of the Mohicans. Disponível em: http://www.planetpublish.com/wp-

content/uploads/2011/11/The_Last_of_the_Mohicans_T.pdf

FRANKLIN, Benjamin. Autobiography. Disponível em https://archive.org/details/autobiographyofb1884fran

ROYOT, Daniel. A Literatura Americana. Série Essência. Tradução Maria Helena Vieira de Araújo. Revisão

técnica Marcos César de Paula Soares. São Paulo: Ática, 2009.

VANSPANCKEREN, Kathryn. Outline of American Literature. Washington, D.C.: U.S. Information Agency,

1994.

Você também pode gostar