Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NUTRIÇÃO
FUNCIONAL
Brazilian Journal of Functional Nutrition
ISSN 2176-4522
ano 20. edição 81
www.vponline.com.br
RECEITA
Alimentos Fermentados e
Saúde: Como Fazer Kefir
Microbiota
e preferências alimentares: qual a relação?
O conteúdo científico desta edição contará com revisões sobre o papel dos
alimentos nas doenças neurodegenerativas, abordando de forma objetiva e prática os
principais alimentos investigados em pesquisas clínicas recentes, e sobre os conceitos
e a importância da crononutrição na saúde humana, elucidando os principais fatores
a serem considerados na conduta dietética no que se refere aos aspectos temporais da
alimentação.
A matéria desta edição traz aspectos importantes sobre a vida e obra de Ana Primavesi, agrônoma
e autora de valiosas obras de referência em agroecologia e estudos do solo, como principal agente
propagador da vitalidade no meio ambiente. Ainda, apresenta um vídeo com um modelo de agricultura
regenerativa no Sítio Eco Recanto Lótus.
Para finalizar, nossa seção de gastronomia traz um vídeo com o passo a passo para você aprender
como fazer adequadamente o Kefir, uma estratégia prática e acessível para inserir probióticos no
planejamento alimentar.
Boa leitura!
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020
2
Expediente
Revista
Brasilei
ra de
NUTR
IÇÃO IÇÃ
de
Brasileira
N U T R NAFLUNCIONA O
Revista
RECEIT
Panque A
www
ISSN 2176
ano 19.
ediç
-4522
.vponlin ão 79
e.com.b
r
Diretora Responsável Redação, Publicidade e Administração
Valéria Paschoal VP Centro de Nutrição Funcional
taioba ca de cogume
de lar ao molho los co
anja funcion m
al
RECEITA
frescante
de
e Ho rtelã
Drink Re com Laranja
s
Melancia s bioativo
Bases
das es dom
Ação no
ol en
s alim
tos
tratég eculares
mposto
dos cohecimento e lon
envel
gevidade
Leite
Coordenação Científica Yu Mei - contato@vponline.com.br
Neiva dos Santos Souza Fone / Fax: (11)3582-5600
como
ias de reia m
glicem gulador ep aterno
u
treina e a
ídico
mu-cam mentpe o rfil lip
igené
tico
ar de ca Vaugh) sobre o
do néct da
neiva.souza@vponline.com.br
Efeito dubia (Kunthter ) Mc
mi cos Os 60 +
ia les olê ntável
(Myrciar os normoco do XV Co ura Su ste
de adult ngresso AgricultCo
be rtura co
As condutas nutricionais preconizadas na
Interna
ciona
l de Nu mplet
trição a do
Funcion
al
Coordenação e Autores
Conselho Editorial
Ana Cláudia Poletto
Nutricionista pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2002) e mestre em Ciências, com ênfase em Fisiologia
Humana pela Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora (doutoranda, desde 2007) do programa de Fisiologia
Humana da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia Endócrina, atuando nos temas:
mecanismos transcricionais envolvidos na regulação da expressão do gene SLC2A4, sensibilidade à insulina,
metabolismo lipídico, obesidade e diabetes mellitus.
3
Coordenação e Autores
Fernanda Serpa
Diretora e Docente da Empresa Nutconsult. Nutricionista pela Universidade do Estado do RJ/UERJ. Título de
residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Pós-graduada em Nutrição Clínica
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Docente convidada
dos cursos de pós-graduação e extensão da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade
Cruzeiro do Sul. Mestre em Clínica Médica - IPPMG/UFRJ. Nutricionista Militar do Corpo de Bombeiros do RJ.
Nutricionista Municipal do Hospital Souza Aguiar.
Gilberti Hübscher
Nutricionista. Mestre e Doutora em Fisiologia Cardiovascular pela UFRGS. Especialista em Gestão e Saúde pela
PUC-RS, Gestão em UAN pela UNISINOS e em Saúde da Família pela ULBRA (RS). Docente convidada dos cursos de
pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade
Cruzeiro do Sul e dos cursos de graduação em Nutrição e pós-graduação em Saúde e Trabalho da Feevale (RS).
Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).
Sandra Matsudo
Médica Especializada em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Doutorado e pós-doutorado
em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Diretora Geral do Centro de Estudos do Laboratório de
Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS. Coordenadora geral do Projeto Longitudinal de Envelhecimento e
Aptidão Física de São Caetano do Sul. Coordenadora pela IUHPE dos Cursos de Atividade Física e Saúde Pública - Agita
Mundo. Professora Titular do Curso de Educação Física do Centro Universitário FMU. Editora Executiva da Revista
Brasileira de Ciência e Movimento. Autora dos Livros: “Avaliação do Idoso - Física e Funcional”, “Envelhecimento
e Atividade Física” e “Obesidade e Atividade Física”.
Valéria Paschoal
Nutricionista. Mestre na área de Nutrição e Pediatria pela UNIFESP – EPM. Editora Científica da Revista Brasileira
de Nutrição Funcional. Coordenadora científica e docente convidada dos cursos de Nutrição Clínica Funcional e
Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do
Sul. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Autora dos Livros “Nutrição Clínica Funcional: dos Princípios à
Prática Clínica”, “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”, “Nutrição Clínica
Funcional: câncer” "Tratado de Nutrição Esportiva Funcional" e "Nutrição & Sustentabilidade: alimentando um
mundo saudável". Coordenadora da Comissão Científica do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).
Membro do The Institute for Functional Medicine – USA. Nutricionista do CSA Brasil (Community Supported
Rev Bras Nutr Func; 41(76), 2018
Agriculture - Agricultura Sustentada pela Comunidade). Membro do conselho consultivo da CNTU (Confederação
Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados).
5
Índice
Efeitos fisiológicos do exercício físico prolongado: estudo de caso de uma atleta de ultraendurance
27
54
6
Caroline Aparecida Pereira de Souza, Ludmilla Scodeler de Camargo e Neiva dos Santos Souza
Resumo
A capacidade de adaptação dos seres vivos às características do meio ambiente possibilitou sua evolução e sobrevivência. A presença
de ritmos biológicos nos organismos vivos é fundamental para a adaptação preditiva da fisiologia e do comportamento às características
cíclicas do meio ambiente. Nesse contexto, a crononutrição estuda a relação entre os ritmos biológicos, nutrição e metabolismo e considera,
para a adequada avaliação nutricional, o aspecto temporal da alimentação. É importante apontar que a expressão do comportamento
alimentar está ligada ao relógio biológico, e que abordagens dietéticas devem considerar também o cronotipo do indivíduo para que os
resultados à saúde sejam mais individualizados e efetivos.
Abstract
The ability of living beings to adapt to the characteristics of the environment enabled their evolution and survival. The presence of bio-
logical rhythms in living organisms is fundamental for the predictive adaptation of physiology and behavior to the cyclical characteristics
of the environment. In this context, chrononutrition studies the relationship between biological rhythms, nutrition and metabolism, and
considers, for adequate nutritional assessment, the temporal aspect of food. It is important to point out that the expression of eating
behavior is linked to the biological clock, and that dietary approaches must also consider the individual's chronotype so that health
results are more individualized and effective.
7
Caroline Aparecida Pereira de Souza, Ludmilla Scodeler de Camargo e Neiva dos Santos Souza
A
A Crononutrição nada mais é que a junção do metabolismo, estudada pela crononutrição, já está
estudo de duas áreas: a cronobiologia e a nutrição. descrita na literatura, pautando a disponibilidade
Desta forma, esta ciência investiga a relação entre dos alimentos como transmissor de informação
os ritmos biológicos, nutrição e metabolismo1. de tempo para o relógio biológico, sincronizando
Para entendermos esta relação, necessitamos ter alguns relógios periféricos6.
conhecimento de um fator indispensável à nossa Vale ressaltar que os seres humanos são parte
evolução, que é a capacidade dos seres vivos de de uma espécie diurna que se alimenta durante
adaptarem-se às alterações que ocorreram/ocorrem o período de claro (dia) e repousa/jejua durante
no meio ambiente. Dentre os vários fenômenos a noite. A alimentação e o comportamento
biológicos que permitiram que esse processo alimentar são influenciados pelo ritmo biológico
adaptativo ocorresse, estão os ritmos biológicos. do indivíduo. O conflito entre o padrão de
Uma das classificações dos ritmos biológicos alimentação e a alternância de luminosidade do
baseia-se na frequência de ocorrência, a saber: ciclo claro/escuro veio em decorrência do mundo
ritmos infradianos, ultradianos e circadianos. moderno, que possibilitou e estendeu o período
Esse último tem o nome derivado do latim de disponibilidade de alimentos também para o
circa diem, que significa em torno de um dia e período da noite, momento em que o organismo
refere-se aos ritmos que ocorrem a cada 24 horas humano apresenta menor capacidade de resposta
aproximadamente. Os ritmos circadianos estão à ingestão alimentar7,8. Tal cenário não fez parte
normalmente sincronizados ao processo de rotação da evolução da espécie ao longo de milhares
da terra, que nos expõe diariamente à alternância de anos, estando presente a partir do advento
dos ciclos claro/escuro (dia e noite) e às mudanças da energia elétrica e do processo avançado de
de temperatura2,3. urbanização, que trouxeram como resultados, por
Para que esse processo ocorra de modo exemplo, a obtenção de alimentos, seu preparo,
adequado, o nosso organismo conta com um armazenamento e conservação sem a limitação
intricado sistema de temporização formado por do tempo.
um oscilador ou relógio central, conexões neurais Existem também padrões rítmicos de
e humorais, e relógios periféricos localizados sinalização endogenamente gerados e que fazem
em órgãos e tecidos. Um importante mediador parte da constituição do organismo vivo, como a
hormonal desse sistema é a melatonina. Essa adequada temporização de órgãos como o fígado e a
indolamina, que tem sua concentração plasmática liberação de hormônios e secreções orgânicas, que
garantida pela produção pela glândula pineal, é participam dos processos de digestão e absorção de
sintetizada somente durante a noite desde que a nutrientes. A ingesta alimentar, como um marcador
mesma seja escura, sendo esse processo inibido de tempo, pode interferir com a sincronização
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020. doi: 10.32809/2176-4522.46.81.01
pela presença de luz. Devido a essa característica, desses padrões rítmicos6-8. Assim, é importante
ela atua como um sinalizador do fotoperíodo para que os processos correlacionados à alimentação,
o ambiente interno e, por meio dessa função, digestão e absorção dos nutrientes, que são
a melatonina é capaz de controlar diversos essenciais para um adequado funcionamento do
processos fisiológicos como: sono e vigília, organismo, sejam conduzidos da melhor forma
processos reprodutivo, digestivo e de sinalização possível. Somado a isso, o número crescente dos
insulínica, além de garantir a manutenção do casos de obesidade e doenças cardiometabólicas
balanço energético4,5. Nesse sentido, é importante fez com que a alimentação adequada se tornasse
também considerar o âmbito da frequência o foco de diversas pesquisas.
alimentar, do horário das refeições e, até mesmo, A qualidade e a quantidade do que se é ingerido
do comportamento alimentar, que são aspectos ganhou destaque, porém alguns estudos apontam
nutricionais que também podem influenciar a que a busca por uma alimentação e estilo de vida
homeostase do metabolismo energético6. saudáveis deve levar em conta o horário em que
A relação entre nutrição, ritmos biológicos e as refeições são realizadas ou não realizadas.
8
Crononutrição & Saúde
A metanálise de Chen et al.9 buscou avaliar melatonin onset, que se refere ao momento de início
a associação entre não realizar o café da manhã do aumento na curva plasmática de melatonina)
e o risco cardiovascular, avaliando 7 estudos com o conteúdo dos alimentos ingeridos e com
de coorte, totalizando 221.732 indivíduos. Os a composição corporal. Participaram do estudo
indivíduos que não realizavam essa refeição típica transversal 110 jovens entre 18 e 22 anos que
do período da manhã, em comparação com aqueles registraram toda a ingestão de alimentos durante
que a realizavam regularmente, apresentaram um 7 dias consecutivos em sua rotina diária regular,
risco elevado de doença cardiovascular (risco além de terem aferidas as medidas de composição
relativo de 1,22 - intervalo de confiança de 95% corporal e concentração salivar de melatonina. Os
1,10–1,35) e de todas as causas de mortalidade principais resultados mostraram que os indivíduos
relacionadas (risco relativo de 1,25 - intervalo com alta porcentagem de gordura corporal
de confiança de 95% 1,11–1,40). Os autores consumiram a maior parte das calorias diárias
discutiram possíveis explicações para esse cerca de 1,1h mais perto do início do horário de
achado, como possíveis alterações fisiológicas e liberação noturna de melatonina (que informa o
metabólicas que podem ocorrer nos indivíduos que início da noite biológica para o organismo), do
não realizaram o café da manhã e tiveram risco que indivíduos com baixa porcentagem de gordura
aumentado de doenças cardiovasculares, dentre as corporal. De acordo com a análise de regressão
quais possível hiperatividade do eixo hipotálamo- múltipla, o momento da ingestão de alimentos
hipófise-adrenal, não atrelada ao estresse, que em relação ao horário de início da liberação de
elevaria a concentração de cortisol e a pressão melatonina foi significativamente associado com
arterial; aumento nos níveis de colesterol total e a porcentagem de gordura corporal e índice de
LDL-colesterol (colesterol ligado à lipoproteína massa corporal. O mesmo não foi observado
de baixa densidade); prejuízos à sensibilidade quando considerada a quantidade ou qualidade
à insulina e maior risco de diabetes; e a relação dos alimentos. Dessa forma, os autores concluíram
com preferências alimentares e hábitos de vida que o consumo alimentar próximo ao início da
menos saudáveis, como maior ingestão de bebidas noite circadiana, independentemente de outros
açucaradas, aperitivos e álcool, tabagismo e fatores de risco tradicionais como quantidade
sedentarismo. ou qualidade da ingestão de alimentos e nível de
Alguns indivíduos, como aqueles que pulam atividade, desempenha um papel importante na
o café da manhã ou acordam mais tardiamente, composição corporal.
tendem a arrastar os horários das próximas Indícios como esse fizeram com que a crono-
refeições para mais tarde, avançando no período nutrição ganhasse mais destaque. De acordo com
noturno. os preceitos seguidos pela crononutrição três as-
McHill et al.10 examinaram a associação entre pectos relacionados ao tempo devem ser levados
o momento do consumo alimentar (em relação em conta para adequada avaliação nutricional do
ao horário do relógio e ao DLMO – Dim light indivíduo11:
www.vponline.com.br
9
Caroline Aparecida Pereira de Souza, Ludmilla Scodeler de Camargo e Neiva dos Santos Souza
Estes aspectos são influenciados por ações imposição social, que molda nosso estilo de vida
individuais dependentes do cronotipo (é definido e reflete em nosso contexto alimentar11-13.
como a expressão fenotípica da relação do Há ainda a influência dos padrões de vida
indivíduo com a flutuação rítmica do meio atuais, como a exposição excessiva à luz artificial
ambiente em que ele vive), levando em conta que no período noturno e o hábito de se alimentar
os horários de sono e de atividade influenciam a tardiamente, especialmente na madrugada,
característica temporal do hábito alimentar, que que causam uma desorganização temporal do
são tão importantes quanto os aspectos qualitativos ritmo circadiano de funções biológicas gerando
e quantitativos da alimentação11. impactos negativos à saúde ao intensificar ou
Pesquisas mostram que indivíduos com desencadear processos moleculares envolvidos
cronotipo vespertino, que são aqueles que têm em diferentes doenças crônicas não transmissíveis
preferência por realizar as atividades mais como obesidade, diabetes, resistência à insulina e
tardiamente, têm maior incidência de doenças síndrome metabólica11-13.
cardiometabólicas e sobrepeso devido à propensão É possível concluir que abordagens dietéticas
a manter uma rotina alimentar irregular e uma que considerem os preceitos da crononutrição
ingestão tardia de alimentos. Por outro lado, – que visam garantir a organização dos hábitos
indivíduos com cronotipo matutino, ou seja, que alimentares considerando o relógio biológico –,
apresentam preferência em realizar suas atividades são importantes para a organização temporal de
durante em horários mais cedo do dia, tendem nossa fisiologia e comportamento, auxiliando
a manter maior regularidade em seus hábitos a manutenção de nossas respostas celulares e
alimentares e a apresentarem menor predisposição modulações fisiológicas para a promoção da saúde.
ao risco cardiometabólico e ao desenvolvimento Ainda, quando tais estratégias vão de encontro ao
de obesidade11,12. cronotipo, respeitando a organização biológica
Outros aspectos também devem ser considerados de nosso corpo e suas necessidades e o ciclo de
nessa avaliação como a idade, etnia, moradia, jejum/alimentação, as respostas podem ser mais
estresse, carga de trabalho, trabalho em turno, efetivas quando utilizadas para melhorar a saúde
qualidade e horas de sono e jetlag social. Estes metabólica, reduzindo os riscos de doenças.
fatores podem influenciar a ingestão alimentar e a
Resumo gráfico
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020. doi: 10.32809/2176-4522.46.81.01
Referências bibliográficas
1. OIKE, H.; OISHI, K.; KOBORI, M. Nutrients, Clock Genes, and Chrononutrition. Curr Nutr Rep; 3(3):204-212, 2014.
2. CIPOLLA-NETO, J.; CAMPA, A. Ritmos biológicos. AIRES, M.M. Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
17–19, 1999.
3. CIPOLLA NETO, J.; MARQUES, N.; MENNA-BARRETO, L. Introdução ao estudo da cronobiologia. São Paulo:
Ícone, 1988.
4. CIPOLLA-NETO, J.; SKORUPA, A.L., RIBEIRO-BARBOSA, E.R. et al. The role of the retrochiasmatic area in the
control of pineal metabolism. Neuroendocrinology; 69(2), 97–104, 1999.
5. YAMAZAKI, S.; NUMANO, R.; ABE, M. et al. Resetting central and peripheral circadian oscillators in transgenic rats.
Science; 288(5466), 682–685, 2000.
6. JOHNSTON, J.D.; ORDOVÁS, J.M.; SCHEER, F.A. et al. Circadian Rhythms, Metabolism, and Chrononutrition in
Rodents and Humans. Adv Nutr; 7(2):399-406, 2016.
7. NETO, J.C.; AMARAL, F.G.; AFECHE, S.C. et al. Melatonin, energy metabolism, and obesity : a review. J Pineal
Res; 371–381, 2014.
8. OKAMURA, H.; YAMAGUCHI, S.; YAGITA, K. Molecular machinery of the circadian clock in mammals. Cell and
Tissue Research; 309(1): 47–56, 2002.
9. CHEN, H.; ZHANG, B.; GE, Y. et al. Association between skipping breakfast and risk of cardiovascular disease and all
cause mortality: A meta-analysis. Clin Nutr; 2020.
10. MCHILL, A.W.; PHILLIPS, A.J.; CZEISLER, C.A. et al. Later circadian timing of food intake is associated with
increased body fat. Am J Clin Nutr; 106(5):1213-1219, 2017.
11. ALMOOSAWI, S.; VINGELIENE, S.; GACHON, F. et al. Chronotype: Implications for Epidemiologic Studies on
Chrono-Nutrition and Cardiometabolic Health. Adv Nutr; 10(1):30-42, 2019.
12. XIAO, Q.; GARAULET, M.; SCHEER, F.A.J.L. Meal timing and obesity: interactions with macronutrient intake and
chronotype. Int J Obes (Lond); 43(9):1701-1711, 2019.
13. HENRY, C.J.; KAUR, B.; QUEK, R.Y.C. Chrononutrition in the management of diabetes. Nutr Diabetes; 10(1): 6, 2020.
www.vponline.com.br
11
Angélica Simões Ferrari
Resumo
O trato gastrointestinal humano é composto por abundantes e diversas comunidades microbianas, sendo o cólon o principal habitat
para elas, com cerca de 1013 a 1014 microrganismos que exercem uma relação mutualista com o hospedeiro, influenciando no fenótipo
imunológico e metabólico e, assim, impactando na saúde do ser humano. Dessa relação mutualista, o eixo microbiota-intestino-cérebro
exerce um papel importante na função do sistema nervoso, interligando o intestino com o centro da fome/saciedade, podendo influenciar
no comportamento alimentar e afetar a qualidade e quantidade do que é consumido. Essa comunicação entre cérebro e intestino pode
ocorrer através de quatro vias principais interligadas entre si: imune, neuronal, endócrina e metabólica, onde a via imune ocorre por
meio das citocinas produzidas pelas células imunológicas, a comunicação neuronal dá-se por meio do sistema nervoso entérico e
nervo vago, a ligação endócrina faz-se por intermédio do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e na via metabólica tem-se a participação
dos metabólitos produzidos pela microbiota intestinal, como o butirato. Portanto a microbiota intestinal tem um papel chave nessas
comunicações, podendo influenciar no apetite e preferências alimentares, destacando-se, assim a importância da homeostase microbiana
e saúde intestinal no comportamento alimentar.
Abstract
The human gastrointestinal tract is composed of abundant and diverse microbial communities, the colon being the main habitat for them,
with about 1013 to 1014 microorganisms that exercise a mutualistic relationship with the host influencing the immune and metabolic
phenotype and thus impacting human health. From this mutualistic relationship, the microbiota-gut-brain axis plays an important role
in the function of the nervous system, connecting the intestine with the center of hunger/satiety, which can influence eating behavior
and affect the quality and quantity of what is consumed. This communication between the brain and the intestine can occur through
four main routes interconnected: immune, neuronal, endocrine and metabolic, where the immune pathway occurs through the cytokines
produced by immune cells, the neuronal communication occurs through the enteric nervous system and the vagus nerve, the endocrine
connection is made through the hypothalamic-pituitary-adrenal axis and in the metabolic path there is the participation of metabolites
produced by the intestinal microbiota, such as butyrate. Therefore, the intestinal microbiota has a key role in these communications,
which can influence appetite and food preferences, thus highlighting the importance of microbial homeostasis and intestinal health in
eating behavior.
12
Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?
Introdução
O
O intestino humano é composto por abundantes e comensais, estado denominado de disbiose,
diversas comunidades microbianas, que consistem associado a um aumento da permeabilidade
principalmente em bactérias, fungos, protozoários, intestinal, pode predispor o organismo a uma
vírus e arqueias, denominadas de microbiota inflamação crônica de baixo grau, ocasionando
intestinal. O cólon é quem abriga a maior parte um remodelamento vagal, levando à alterações
desse ecossistema, com cerca de 1013 a 10 14 no controle da fome/saciedade, aumentando a
microrganismos, que interagem com o hospedeiro ingestão alimentar7,8.
desempenhando importantes funções metabólicas Diante do exposto, a presente revisão de
e imunológicas, impactando assim na saúde do ser literatura teve como objetivo abordar o impacto
humano1-3. A microbiota intestinal também tem um da microbiota no comportamento alimentar, o
papel importante no desenvolvimento e função que pode influenciar em distúrbios metabólicos
do sistema nervoso, exercendo uma comunicação como a obesidade, e a importância do equilíbrio
bidirecional com o cérebro, através das vias microbiano para um melhor controle da fome/
neuronal, endócrina, imune e/ou metabólica, por saciedade, visando uma melhor qualidade de vida.
meio do eixo microbiota-intestino-cérebro, que Será, ainda, apresentado um estudo de caso, com o
também interliga o intestino com o centro da fome/ intuito de discutir, de forma prática, os conceitos
saciedade, podendo impactar no comportamento teóricos abordados.
alimentar, afetando a qualidade e quantidade do Para a escrita foram considerados como
que é consumido2-4. objetos de estudo artigos e outras revisões da
Considerando essa influência que a microbiota literatura, disponíveis no banco de dados PubMed,
exerce no controle da fome/saciedade, é importante publicados nos últimos 10 anos, utilizando as
salientar que ela pode ocorrer por diferentes palavras-chave “microbiota”, “microbioma”
maneiras, controlando a ingestão alimentar. Dentre “comportamento alimentar” e o termo “microbiota
tais maneiras, destaca-se a capacidade das bactérias e ingestão alimentar”. Os artigos incluídos foram
intestinais de sintetizar neurotransmissores, como apenas aqueles que relacionavam a microbiota
serotonina, dopamina e ácido γ-aminobutírico com a ingestão alimentar, tanto em modelo
(GABA) que podem atuar localmente no sistema experimental, quanto em humanos.
nervoso entérico ou transmitir sinais ao sistema
nervoso central através dos neurônios aferentes Microbiota
vagais, no nervo vago. Além disso, tais bactérias,
também podem metabolizar carboidratos O trato gastrointestinal humano é colonizado por
indigeríveis em ácidos graxos de cadeia curta trilhões de microrganismos, como fungos, vírus,
(AGCC), principalmente butirato, acetato e protozoários, arqueias e principalmente bactérias,
propionato, que podem ligar-se a receptores conhecidos como microbiota intestinal, que vive
acoplados a proteína G, especificamente GPR41 uma relação mutualista com o hospedeiro1,3,9.
e GPR43, nas células intestinais enteroendócrinas, Essa colonização dá-se ao início da vida, sendo
estimulando a liberação do peptídeo semelhante influenciada pela microbiota da mãe, modo
ao glucagon (do inglês, glucagon-like peptide – de entrega (parto normal ou cesárea), tipo de
GLP-1) e peptídeo YY (PYY), ambos conhecidos leite recebido (aleitamento materno ou fórmula
pelo efeito anorexigênico2,5,6. Em contrapartida, infantil), introdução alimentar, ambiente que a
www.vponline.com.br
13
Angélica Simões Ferrari
Nos primeiros anos de vida, a microbiota é tecido linfoide associado ao intestino (do inglês –
relativamente instável e menos diversa, com uma gut associated lymphoid tissue - GALT), sintetiza
predominância dos gêneros Bifidobacterium e algumas vitaminas, como por exemplo as vitaminas
Lactobacillus. Com o passar do tempo, quando B9, B12 e K e, por fim, também influencia no
a criança atinge 3 a 4 anos de idade essa processo digestivo, expressando algumas enzimas
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020 doi: 10.32809/2176-4522.46.81.02
14
Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?
levando ao chamado intestino “gotejante” ou, todas essas vias sofrem interferência da microbiota,
do inglês, leaky gut, além de um aumento de por meio do eixo microbiota-intestino-cérebro,
lipopolissacarídeos bacterianos (LPS - componente no qual ela pode impactar de alguma maneira
da membrana celular de bactérias gram-negativas) no comportamento alimentar, influenciando nas
no lúmen intestinal que, através desse intestino preferências alimentares e apetite, bem como em
mais permeável, atinge a corrente sanguínea, distúrbios alimentares e metabólicos18,19.
provocando uma endotoxemia metabólica, com À vista disso, segue uma discussão mais
inflamação crônica de baixo grau7,8,12. detalhada de cada uma dessas vias que fazem
Quando esse desequilíbrio microbiano acontece a comunicação do intestino com o cérebro,
na relação entre os filos Firmicutes e Bacteroidetes lembrando que elas estão interligadas entre si.
há uma correlação com a obesidade, com a
microbiota intervindo na coleta de energia, nas Via imunológica – comunicação microbiota-
alterações no comportamento, na modulação intestino-cérebro através de citocinas
de respostas imunológicas e na sinalização Bactérias intestinais possuem componentes
inadequada de AGCC, com consequente impacto na membrana celular (padrões moleculares)
no controle da saciedade15,16. Ademais, a microbiota que podem ser reconhecidos por receptores de
também pode influenciar no desenvolvimento reconhecimento de padrão, particularmente os do
e função do sistema nervoso, onde a disbiose tipo Toll (TLR) que são expressos em diferentes
associa-se à algumas patologias que atingem esse células no trato gastrointestinal e sistema nervoso.
sistema, com a endotoxemia metabólica gerando Dentre tais receptores destacam-se o TLR4
uma inflamação neuronal, com consequente responsável por reconhecer o LPS proveniente da
remodelamento vagal, causando hiperfagia e membrana celular de bactérias gram-negativas5,7.
impactando assim, no comportamento alimentar, O nervo vago possui neurônios envolvidos na
conforme discutido a seguir3,5,7. regulação da ingestão alimentar, estando os
terminais periféricos dos neurônios aferentes
Influência da microbiota no comporta- vagais localizados na mucosa intestinal. Tais
mento alimentar neurônios, juntamente com os plexos mioentérico
e submucoso expressam tais receptores, sugerindo
Um adequado controle da ingestão alimentar que o LPS pode controlar as sinalizações neuronais
depende de um equilíbrio neuronal e hormonal entéricas5,20.
entre o intestino e o sistema nervoso central Quando o LPS se liga ao TLR4 ocorre a
(SNC), onde o cérebro recebe e assimila sinais translocação nuclear do NF-κB, um fator de
intestinais, modificando o comportamento transcrição que regula positivamente a liberação
alimentar conforme a necessidade e o desejo do de citocinas com ação pró-inflamatória, como as
organismo. Essa comunicação entre o cérebro e interleucinas 1β e 6 (IL-1β e IL-6) e o fator de
o intestino é bidirecional, através de quatro vias necrose tumoral α (TNF-α). Dessa maneira, na
principais interligadas entre si: imune, neuronal, disbiose intestinal, ocorre um aumento do LPS
endócrina e metabólica. Em síntese, a via imune no lúmen, devido ao aumento de bactérias gram-
ocorre por meio das citocinas produzidas pelas negativas, levando a uma maior ativação desses
células imunológicas, ao passo que a comunicação receptores, gerando uma resposta inflamatória
neuronal dá-se por meio do sistema nervoso que lesiona a barreira intestinal, aumentando a
entérico e nervo vago, com neurônios aferentes e permeabilidade com consequente passagem do
eferentes vagais. Já a ligação endócrina faz-se por LPS para a corrente sanguínea, provocando uma
intermédio do eixo hipotálamo-hipófise(pituitária)- inflamação crônica de baixo grau (endotoxemia
adrenal (HPA) e na via metabólica tem-se a metabólica). Foi demonstrado em modelos
www.vponline.com.br
15
Angélica Simões Ferrari
16
Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?
ressaltando também que os polifenóis presentes aumentando ainda mais a secreção de GLP-1 e
nos alimentos vegetais podem exercer efeitos PYY, com estudos demonstrando que tais células
prebióticos26,27,28. No tocante aos microrganismos, podem produzir também o GLP-2 que auxilia
17
Angélica Simões Ferrari
18
Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?
em prebióticos e hábitos de vida saudáveis, para energético. A Figura 2 sintetiza todas essa vias de
um melhor controle da fome/saciedade e equilíbrio controle que sofrem influência microbiana.
Legenda: AGCC: ácidos graxos de cadeia curta; DA: dopamina; GABA: ácido γ-aminobutírico; Ach: acetilcolina; HI:
histamina; TRP: triptamina; 5-HT: serotonina; NA: noradrenalina; Neurotrans.: neurotransmissores; ClpB: protease
caseinolítica; CEE: células L-enteroendócrinas; Perm. BI: Permeabilidade da barreira intestinal; IN: insulina; LP: leptina;
GR: grelina; Comp alim: comportamento alimentar; TC: tronco cerebral; Cels. recep. paladar: diferenciação de células
receptoras do paladar.
Outro aspecto que também merece atenção é a contrapartida, modificar o relógio biológico,
conexão da microbiota com o ciclo circadiano pois, com hábitos noturnos e restrição do sono, estilo
conforme Kaczmarek, Thompson e Holscher3, o de vida estressante e comportamento alimentar
metabolismo microbiano pode variar ao longo tipo ocidental, com alto consumo de alimentos
www.vponline.com.br
19
Angélica Simões Ferrari
Possui o hábito de estudar a noite, devido ao produzido. Ainda, essa má digestão proporciona
silêncio, pois relata dificuldade de concentração. uma passagem maior de fragmentos alimentares
Além disso, mencionou estresse com o período de para o intestino, favorecendo a fermentação
provas na faculdade. Visto que mora sozinha, baseia microbiana e produção de gases, corroborando
a sua alimentação em produtos industrializados, com o aumento da distensão abdominal relatado
como macarrão instantâneo, bolachas recheadas pela paciente. Além disso, um tempo de trânsito
e lanches prontos. Somado a isso, tem percebido mais lento, também permite que nutrientes fiquem
um aumento no consumo alimentar nos últimos disponíveis para fermentação por um tempo maior,
meses, com dificuldade em perceber a saciedade. favorecendo a proliferação microbiana. Portanto,
todos esses fatores possibilitam o surgimento de
2. Entendimento funcional do caso: uma disbiose intestinal, piorando ainda mais a
Pensando na Teia das Interconexões Metabólicas saúde e qualidade de vida dessa mulher34,35,36.
proposta pelo Instituto de Medicina Funcional e Contribuindo com esse quadro, uma
representada por Souza et al.37, alguns pontos alimentação baseada em produtos alimentícios
20
Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?
21
Angélica Simões Ferrari
compulsão alimentar, obesidade e outras desordens assim sucessivamente, o que deixa claro a primazia
metabólicas, além de colocar o organismo em um de hábitos de vida saudáveis na modulação da
looping infinito, partindo para escolhas alimentares microbiota para um perfil mais positivo, que
mais palatáveis, exacerbando a disbiose que então irá modular o comportamento alimentar,
aumenta a fome por alimentos mais palatáveis e
Highlights
• Manter uma microbiota saudável é essencial para o equilíbrio imunológico e
metabólico do hospedeiro;
• A microbiota também pode influenciar no desenvolvimento e função do sistema
nervoso, onde a disbiose associa-se a alterações no comportamento alimentar;
• Um adequado controle da ingestão alimentar depende de um equilíbrio neuronal
e hormonal entre o intestino e o sistema nervoso central (SNC);
• A comunicação entre o cérebro e o intestino ocorre através de quatro vias principais
interligadas entre si: imune, neuronal, endócrina e metabólica, todas sofrendo influência
da microbiota;
• Uma das estratégias utilizadas para modular a microbiota intestinal e,
consequentemente, equilibrar o comportamento alimentar, pode ser o programa dos 6R.
Referências bibliográficas
22
Microbiota e preferências alimentares: qual a relação?
23
Luana Meller Manosso
Short Communication:
O papel da alimentação na melhora
da cognição e prevenção de
doenças neurodegenerativas
Short Communication: The role of food in improving cognition and
preventing neurodegenerative diseases
D
Dados da Organização Mundial da Saúde Por outro lado, a alimentação tem um
evidenciam que já existem mais de 50 milhões de papel importante na melhora da cognição e na
pessoas com demências1. Várias questões podem diminuição no risco de desenvolver alguma
influenciar no funcionamento cerebral, piorando doença neurodegenerativa. O padrão alimentar
a cognição e aumentando o risco de doenças que tem sido mais estudado é o baseado na dieta
neurodegenerativas, incluindo: estresse oxidativo, do mediterrâneo, com mais frutas, verduras,
disfunção mitocondrial, inflamação, prejuízo na alimentos integrais, azeite de oliva, maior ingestão
eliminação de resíduos moleculares/agregados de peixes, menor ingestão de carnes vermelhas e
proteicos, prejuízo no reparo no DNA, alteração na menos alimentos industrializados e refinados5–7.
comunicação neuronal, diminuição nos níveis do Além disso, uma alimentação orgânica é bem
fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF), importante, já que pesticidas podem aumentar o
diminuição da neurogênese, entre outros2–4. risco de doenças neurodegenerativas8.
www.vponline.com.br
24
Short Communication: O papel da alimentação na melhora da cognição e prevenção de doenças neurodegenerativas
Além de manter um padrão alimentar saudável, humanos que foram associados com melhora de
podemos pensar em alguns alimentos em específi- algum aspecto da cognição:
co, os quais já foram estudados em pesquisas em
www.vponline.com.br
25
Luana Meller Manosso
Referências bibliográficas
1. WHO (World Health Organization). Risk Reduction of Cognitive Decline and Dementia. Risk Reduction of Cognitive
Decline and Dementia: WHO Guidelines, 2019.
2. MATTSON, M.P.; ARUMUGAM, T.V. Hallmarks of Brain Aging: Adaptive and Pathological Modification by Metabolic
States. Cell Metabolism; 27:1176–1199, 2018.
3.KUMAR, A.; PAREEK, V.; FAIQ, M.A. et al. Adult neurogenesis in humans: A review of basic concepts, history, current
research, and clinical implications. Innov Clin Neurosci; 16:30–37, 2019.
4. NG, T.K.S.; HO, C.S.H.; TAM, W.W.S. et al. Decreased serum brain-derived neurotrophic factor (BDNF) levels in
patients with Alzheimer’s disease (AD): A systematic review and meta-analysis. Int J Mol Sci; 20:1–26, 2019.
5. FERNÁNDEZ-SANZ, P.; RUIZ-GABARRE, D.; GARCÍA-ESCUDERO, V. Modulating Effect of Diet on Alzheimer’s
Disease. Diseases; 7:12, 2019.
6. WADE, A.T.; ELIAS, M.F.; MURPHY, K.J. Adherence to a Mediterranean diet is associated with cognitive function in
an older non-Mediterranean sample: findings from the Maine-Syracuse Longitudinal Study. Nutr Neurosci; 0:1–12, 2019.
7. MCEVOY, C.T.; HOANG, T.; SIDNEY, S. et al. Dietary patterns during adulthood and cognitive performance in midlife:
The CARDIA study. Neurology; 92:E1589–E1599, 2019.
8. GUNNARSSON, L.G.; BODIN, L. Occupational exposures and neurodegenerative diseases—a systematic literature
review and meta-analyses. Int J Environ Res Public Health; 16(3):337, 2019.
9. MORRIS, M.C.; WANG, Y.; BARNES, L.L. et al. Nutrients and bioactives in green leafy vegetables and cognitive
decline: Prospective study. Neurology; 90:E214–E222, 2018.
10. RAINEY-SMITH, S.R.; GU, Y.; GARDENER, S.L. et al. Mediterranean diet adherence and rate of cerebral Aβ-amyloid
accumulation: Data from the Australian Imaging, Biomarkers and Lifestyle Study of Ageing. Transl Psychiatry; 8:238, 2018.
11. CALABRÒ, R.S.; DE COLA, M.C.; GERVASI, G. et al. The efficacy of cocoa polyphenols in the treatment of mild
cognitive impairment: A retrospective study. Med; 55:1–9, 2019.
12. DECROIX, L.; DE PAUW, K.; VAN CUTSEM, J. et al. Acute cocoa flavanols intake improves cerebral hemodynamics
while maintaining brain activity and cognitive performance in moderate hypoxia. Psychopharmacology (Berl); 235:2597–
2608, 2018.
13. LAMPORT, D.J.; CHRISTODOULOU, E.; ACHILLEOS, C. Beneficial effects of dark chocolate for episodic memory
in healthy young adults: A parallel-groups acute intervention with a white chocolate control. Nutrients; 12(02):483, 2020.
14. ZHU, L.N.; MEI, X.; ZHANG, Z.G. et al. Curcumin intervention for cognitive function in different types of people:
A systematic review and meta-analysis. Phyther Res; 33:524–533, 2019.
15. BISHOP, N.J.; ZUNIGA, K.E. Egg Consumption, Multi-Domain Cognitive Performance, and Short-Term Cognitive
Change in a Representative Sample of Older U.S. Adults. J Am Coll Nutr; 38:537–546, 2019.
16. YLILAURI, M.P.T.; VOUTILAINEN, S.; LÖNNROOS, E. et al. Association of dietary cholesterol and egg intakes
with the risk of incident dementia or Alzheimer disease: The Kuopio Ischaemic Heart Disease Risk Factor Study. Am J
Clin Nutr; 105:476–484, 2017.
17. WU, S.; DING, Y.; WU, F. et al. Omega-3 fatty acids intake and risks of dementia and Alzheimer’s disease: A meta-
analysis. Neurosci Biobehav Rev; 48:1–9, 2015.
18. DARCEY, V.L.; MCQUAID, G.A.; FISHBEIN, D.H. et al. Dietary long-chain omega-3 fatty acids are related to impulse
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020. doi: 10.32809/2176-4522.46.81.03
control and anterior cingulate function in adolescents. Front Neurosci; 13:1–11, 2019.
19. BUTLER, L.J.; JANULEWICZ, P.A.; CARWILE, J.L. et al. Childhood and adolescent fish consumption and adult
neuropsychological performance: An analysis from the Cape Cod Health Study. Neurotoxicol Teratol; 61:47–57, 2017.
20. RITA CARDOSO, B.; APOLINÁRIO, D.; DA SILVA BANDEIRA, V. et al. Effects of Brazil nut consumption on
selenium status and cognitive performance in older adults with mild cognitive impairment: a randomized controlled pilot
trial. Eur J Nutr; 55:107–116, 2016.
21. KAKUTANI, S.; WATANABE, H.; MURAYAMA, N. Green tea intake and risks for dementia, Alzheimer’s disease,
mild cognitive impairment, and cognitive impairment: A systematic review. Nutrients; 11: 2019.
26
Guilherme Cysne Rosa e Franciela Salete Santin
Efeitos fisiológicos do
exercício físico prolongado: estudo de caso
Resumo
Caracteriza-se uma ultramaratona como qualquer corrida a pé com distância superior à da maratona, 42.195 m, sendo as mais populares
as de 50 km, 100 km e 100 milhas. Além da distância e variabilidade de terrenos, vários pontos diferenciam a ultra de uma maratona,
principalmente em relação aos aspectos fisiológicos. Atletas que competem em esportes de ultra-resistência devem gerenciar questões
nutricionais, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio energético e à ingestão hídrica. Este trabalho teve por objetivo avaliar os
efeitos do exercício físico prolongado em uma atleta amadora de ultraendurance, detalhando as alterações hematológicas e bioquímicas
relacionadas 27 dias antes, 48 horas depois e 10 dias após a corrida, bem como apresenta as estratégias periodizadas de nutrição e
suplementação, considerando sua participação em uma ultramaratona de 100 km. Os resultados demonstraram que 48 horas após a
ultramaratona houve grandes alterações, principalmente nos marcadores inflamatórios avaliados, como PCR e CK, além dos marcadores
hepáticos, como TAG e TGP, marcadores do sistema renal, como creatinina e ureia, porém, com rápida recuperação dos parâmetros
avaliados 10 dias após a competição.
Abstract
Ultramarathon is characterized as any walking race with a distance greater than the marathon, 42,195m, the most popular being those
of 50 km, 100 km and 100 miles. In addition to the distance and variability of terrain, several points differentiate the ultra from a mar-
athon, mainly in relation to the physiological aspects. Athletes who compete in ultra-resistance sports must manage nutritional issues,
especially with regard to energy balance and water intake. This study aimed to evaluate the effects of prolonged physical exercise in an
amateur ultraendurance athlete, detailing the related hematological and biochemical changes 27 days before, 48 hours after and 10
days after the race, as well as presenting the periodic nutrition and supplementation strategies, considering its participation in a 100
km ultramarathon. The results showed that 48 hours after the ultramarathon there were major changes, mainly in the inflammatory
markers evaluated, such as CRP and CK, in addition to the hepatic markers, such as TAG and TGP, markers of the renal system, such
as creatinine and urea, however, with rapid recovery of parameters evaluated 10 days after the competition.
27
Guilherme Cysne Rosa e Franciela Salete Santin
A
foram relatadas por Fallon et al.5 durante uma
A participação de atletas amadores em competi- ultramaratona de 1.600 km, entre 10 e 16 dias,
ções desportivas aumentou consideravelmente nos embora tenham mostrado que uma série de
últimos anos, porém são as provas de ultraendu- variáveis também permaneceram dentro dos
rance ou de longa duração que despertam maior limites normais, apesar de grave estresse físico
fascínio1. A cada ano, verifica-se um número maior após a corrida. Os resultados mostraram aumento
de corredores de rua migrando para esse tipo de significativo na ureia, lactato, CK, TGO, TGP,
esporte, assim como profissionais e pesquisadores glicose, albumina, cálcio e fosfato, porém
da área da Saúde interessando-se nessas compe- diminuição significativa foi encontrada para
tições para gerar novos estudos que forneçam globulina, ácido úrico e colesterol. Nenhuma
informações sobre os benefícios e riscos desse alteração ocorreu no potássio sérico, bicarbonato,
estresse fisiológico. creatinina e triglicerídeos.
Denissen et al. 2 publicaram estudo sobre A ureia é o principal produto final do
os marcadores de lesão muscular e inflamação metabolismo das proteínas. A maior parte da
em ultramaratonistas durante três dias de ureia é filtrada pelos rins e eliminada pela urina6.
corrida. Os biomarcadores foram coletados Concentrações elevadas podem sinalizar uma
antes, imediatamente após e nas 24 e 72 horas possível aceleração do catabolismo das proteínas
subsequentes do pós prova. Tais biomarcadores musculares, o que poderia comprometer o
incluíam creatina quinase (CK), proteína C-reativa desempenho aeróbio e a potência muscular do
(PCR), cortisol, troponina T (cTnT) e osmolalidade atleta7. Um aumento na concentração de ureia pode
(sOsm), bem como mioglobina urinária (UMB), ser relacionado com a redução do fluxo sanguíneo
mudanças na massa corporal e dor muscular de renal (e da taxa de filtração glomerular) secundário
início tardio. Os autores constataram que aumentos à deficiência de volume de líquidos, ao aumento
significativos foram verificados na CK e PCR, não do catabolismo proteico e/ou sangramento para
tendo sido constatadas mudanças expressivas em o intestino, que podem, todos, ocorrer após uma
troponina T, cortisol e mioglobina urinária. Os ultraendurance.
autores concluíram que três dias consecutivos com A concentração de creatinina também aumenta
95 km de corrida em trilha resultaram em aumento geralmente após esforço prolongado, incluindo
dos marcadores de lesão muscular e inflamação, eventos como uma ultramaratona. O aumento
apesar da manutenção de uma frequência cardíaca na concentração plasmática de creatinina é
acima de 77%. provavelmente o resultado de sua liberação em
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020. doi: 10.32809/2176-4522.46.81.04
28
Efeitos fisiológicos do exercício físico prolongado: estudo de caso de uma atleta de ultraendurance
Estudo realizado no Brasil, no ano de 2009, que reuniram, de maneira mais completa, a sua
com 11 atletas participantes da Brazil 135 Ul- respectiva abordagem ao escopo deste artigo, de
tramarathon, ultramaratona de 217 quilômetros, forma a atender a discussão baseada nas palavras-
analisou as respostas inflamatórias e hematoló- chave aqui apresentadas: “ultraendurance”,
gicas desses atletas, bem como verificou se essas “desempenho”, “corrida”, “biomarcadores
respostas estavam correlacionadas com a perfor- fisiológicos”, “alimentação”, “suplementação”.
mance dos mesmos. Amostras de sangue foram
coletadas pré e pós-prova para determinação de Desenvolvimento
hemograma completo e de proteína C-reativa. Os
principais encontrados desse estudo foram que os A ultramaratona de que a atleta deste estudo
atletas que concluíram a Brazil 135 Ultramara- participou foi a TUTAN – Transmantiqueira
thon tinham valores significativamente elevados Ultratrail Agulhas Negras, realizada no dia
de leucócitos, neutrófilos, monócitos e proteína 20 de abril de 2019, com largada na cidade
C-reativa, valores significativamente reduzidos de de Itamonte - MG e chegada na cidade de
basófilos e que, apesar de os valores de eritrócitos, Rezende - RJ. Largaram 64 corredores, porém
hemoglobina, hematócrito, MCV e RDW terem concluíram a prova 40 ultramaratonistas dos sexos
permanecido mantidos, as concentrações de MCH, feminino e masculino. Nove corredores foram
MCHC e de plaquetas aumentaram após a prova. desclassificados, e outros 15 desistiram em algum
Além disso, maiores valores de leucócitos e neu- ponto da competição. O percurso da prova foi
trófilos ao final da corrida estiveram relacionados realizado em terrenos acidentados compostos de
com maior velocidade média e porcentagem de trilhas na mata (70%), estradões de terra (25%) e
velocidade crítica em que os atletas percorreram asfalto (5%), com altimetria acumulada de mais
a prova, bem como com menor tempo de pausa de 3.000 metros.
dos atletas. Essa competição possui importante relevância
Objetivando ampliar os estudos existentes no cenário internacional de ultramaratonas, uma
com atletas de ultraendurance, este trabalho teve vez que concede pontuação junto ao ITRA –
como objetivo avaliar os efeitos do exercício Internacional Trail Running Association, uma
físico prolongado em uma atleta amadora de associação mundial com normas e diretrizes
ultramaratona, 38 anos de idade, detalhando voltadas para a modalidade. A atleta em estudo foi
as alterações hematológicas e bioquímicas a campeã da prova no sexo feminino, realizando-a
relacionadas 27 dias antes, 48 horas depois e em 15:03:29, quebrando o recorde de tempo que
10 dias após a corrida, por meio de exames de até então era de 16:27:56. A segunda colocada
sangue e urina, bem como apresentar as estratégias fez a prova em 18:43:43, seguida da terceira,
periodizadas de nutrição e suplementação, que necessitou de 19:25:55 para concluir a
considerando sua participação em uma ultramaratona.
ultramaratona de 100 quilômetros.
Para esta revisão foram analisados trabalhos Ciclo de treinamento
publicados em base de dados como: PubMed,
Google Acadêmico e SciELO, buscando O ciclo de treinamento da atleta em estudo
selecionar artigos publicados recentemente. foi elaborado e acompanhado por profissional
Os descritores de busca utilizados foram: habilitado em educação física, treinador de
ultramarathon; endurance; nutritional strategies corrida com experiência internacional em provas
www.vponline.com.br
29
Guilherme Cysne Rosa e Franciela Salete Santin
Nesse período, a atleta percorreu 850 quilômetros da tarde e jantar. Também foi dada especial aten-
em treinos variados, como fartleks, intervalados, ção à hidratação pré prova, sendo que houve o
regenerativos e os longões do final de semana, consumo diário de 2 litros de água, acrescida de
divididos em 5 treinos semanais de corrida. Além repositor eletrolítico, 4 dias antes da competição.
disso, como forma de fortalecer a musculatura, a As atividades de endurance geram uma eleva-
atleta realizou 2 treinos físicos semanais de 1 h ção do gasto energético com significativo aumento
das taxas de oxidação de carboidratos15. Durante
cada um, perfazendo 22 h totais nesse período.
o exercício físico, é importante que a suplemen-
Os treinos foram acompanhados por personal com
tação de carboidratos ingerida seja rapidamente
formação em educação física. absorvida, para que se mantenha a concentração
de glicose sanguínea, principalmente em esforços
Alimentação e suplementação realizados por períodos de tempo prolongados,
quando os depósitos endógenos de carboidratos
O impacto da nutrição no desempenho e na tendem a se reduzir significativamente17.
saúde humana tem sido foco de estudos que Durante a competição, a atleta utilizou-se de 40
buscam estabelecer estratégias dietéticas capazes a 50 g de carboidrato/hora por meio da ingestão
de aperfeiçoar o desempenho e a ergogênese12. A de comida (p.e.: batata inglesa, tâmaras, goiabada
nutrição bem equilibrada pode minimizar a fadiga, cascão, banana seca, castanhas de caju, damascos,
reduzir as lesões, otimizar os depósitos de energia, chocolate 70%, bisnagas de pão recheadas com
e finalmente, ajudar a saúde em um modo geral13,14. creme de castanhas, gel de carboidrato, entre ou-
Diante disso, durante o ciclo de treinamento tros), além da suplementação diluída em água que
de corrida e treino físico, a atleta foi orientada e também continha carboidratos de rápida, média
acompanhada por nutricionista, especialista em e lenta absorções, associados a doses específicas
nutrição ortomolecular, funcional e esportiva. de creatina e BCAA, que era ingerida a cada 10
Toda a alimentação e suplementação prescritas minutos em forma de pequenos goles durante toda
estavam em consonância com a periodização do a ultramaratona. Além disso, no período noturno
treinamento, e o que foi utilizado na competição da prova a atleta utilizou-se de uma combinação
foi testado anteriormente durante os treinos, de cápsulas de cafeína, associadas a L-taurina
objetivando gerar processo adaptativo e sublingual.
maximização dos resultados. Conforme Jeukendrup18, existe uma relação
As atividades de endurance promovem elevação direta entre a ingestão alimentar do atleta e seu
do gasto energético, com aumento significativo desempenho na prática esportiva, sendo funda-
das taxas de oxidação de carboidratos15. Para a mental que as necessidades de nutrientes e energia
reposição dos estoques de carboidratos torna- sejam satisfeitas. Em provas de endurance, o des-
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020. doi: 10.32809/2176-4522.46.81.04
se necessário um aumento da ingestão de CHO gaste físico dos atletas promove uma significativa
durante todo o período de competição (antes, demanda energética e substancial aceleração do
durante e após), e essa manipulação dietética é metabolismo. A rotina exaustiva de treinamento
uma prática cientificamente comprovada como físico conduz a alterações consideráveis nas ne-
benéfica para o desempenho no exercício16. cessidades nutricionais de um atleta19.
No período pré evento, estudos aconselham As refeições e estratégias de hidratação e uso
o armazenamento de energia muscular. Diante de recursos ergogênicos nos períodos pré, durante
disso, 3 dias anteriores à prova ocorreu aumento e principalmente pós-exercício devem focar no
significativo no consumo de carboidratos, apro- fornecimento de energia e nutrientes adequados
ximadamente 230 gramas por refeição no almoço às características daquele esforço. Falhas relacio-
e jantar. Além disso, foi realizada saturação de nadas a esses períodos de ingestão podem provo-
alguns suplementos 7 dias antes da competição, car sintomas como tonturas e náuseas durante o
sendo ingeridas doses específicas de beta-alanina, exercício, muitas vezes ocasionados por escolha
bicarbonato de sódio e creatina juntamente com de alimentos com índice glicêmico, quantidade,
café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche perfil lipídico e outras estratégias inadequadas20-22.
30
Efeitos fisiológicos do exercício físico prolongado: estudo de caso de uma atleta de ultraendurance
Nesse sentido, logo após a competição do treinamento da atleta em questão elaborado por
a atleta se utilizou de suplementação 4:1, seu treinador, período esse em que se iniciava a
que ofereceu uma combinação de 4 partes de redução dos volumes de treino.
carboidrato com diferentes perfis de absorção A coleta laboratorial 48 horas após a
(rápida, intermediária e lenta) para 1 parte ultramaratona de 100 km e 10 dias subsequentes
de proteína, associada a blend de vitaminas e se deu por questões de logística de retorno da
minerais, objetivando proporcionar um rápido prova e após 1 semana de repouso.
reabastecimento de energia, além de cápsulas de Os resultados demonstraram que 48 horas
ômega-3, doses específicas de glutamina, BCAA após a ultramaratona houve grandes alterações
e um composto de probióticos manipulados em principalmente nos marcadores inflamatórios
farmácia especializada, com foco em reduzir avaliados, como PCR e CK, além dos marcadores
possíveis quedas no sistema imunológico. Nos hepáticos como TAG e TGP, marcadores do
4 dias subsequentes à competição, o cuidado sistema renal, como creatinina e ureia, porém, com
com a hidratação permaneceu, e a atleta fez uso rápida recuperação dos parâmetros avaliados 10
diário de repositor eletrolítico diluído em água, dias após a competição.
além da alimentação, que permaneceu rica em As tabelas abaixo representam os parâmetros
carboidratos. avaliados, considerando coleta de sangue e urina
Objetivando avaliar os efeitos do exercício 27 dias antes da competição, 48 horas após e 10
físico prolongado, a atleta em estudo realizou dias subsequentes ao término da ultramaratona.
coleta de sangue e urina em laboratório autorizado O objetivo foi verificar as alterações decorrentes
27 dias antes da competição. Justifica-se esse do esforço físico extenuante, bem como verificar
período de coleta, tendo em vista a periodização a recuperação da atleta posteriormente.
Tabela 1. Comportamento hematológico de inflamação e dano tecidual pré, 48 h após e 10 dias pós
competição em atleta amadora de ultraendurance.
31
Guilherme Cysne Rosa e Franciela Salete Santin
Tabela 2. Comportamento do hemograma pré, 48h após e 10 dias pós competição em atleta amadora
de ultraendurance.
Conclusão
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020. doi: 10.32809/2176-4522.46.81.04
Nossos achados mostraram valores muito ter sido importantes fatores de proteção para a
elevados de creatina quinase, assim como atleta, que demonstrou rápida recuperação dos
tendências de dano hepático (TGO e TGP), que marcadores relacionados apenas sete dias após a
podem ser explicados pela sobrecarga decorrente competição.
da lesão tecidual cardíaca e musculoesquelética O efeito a longo prazo de alterações com a
que ocorre após exercício físico prolongado, manutenção da prática desse tipo de atividade
porém com regressão expressiva dos valores que ainda é desconhecido. Porém os estudos têm de-
retornaram aos parâmetros normais após 10 dias monstrado importantes alterações hematológicas,
de repouso ativo. bioquímicas e até mesmo cardíacas em atletas de
A hiponatremia não foi um achado consistente, ultraendurance, o que demonstra a importância
e, embora outros fatores possam ter sido da continuidade de pesquisas ainda mais aprofun-
considerados importantes, a ingestão provável dadas nesse campo e com um número maior de
de alimentos sólidos, utilização de eletrólitos atletas amadores de ultramaratonas.
e bebidas com concentração de glicose podem
32
Efeitos fisiológicos do exercício físico prolongado: estudo de caso de uma atleta de ultraendurance
Referências bibliográficas
1. FERREIRA, A.M.D.; RIBEIRO, B.G.; SOARES, E.A. Consumo de carboidratos e lipídios no desempenho em exercícios
de ultra-resistência. Rev Bras Med Esporte; 7(2), 2001.
2. DENISSEN, E.C.; WAARD, A.H.; SINGH, N.R.; PETERS, E.M. Low markers of muscle damage and inflammation
following a 3-day trail run. SAJSM; 24 (1): 15-21, 2012.
3. CLARKSON, P.M.; SAYERS, S.P. Etiology of exercise-induced muscle damage. Can J Appl Physiol; 24: 234-248, 1999.
4. BANFI, G.; COLOMBINI, A.; LOMBARDI, G. et al. Metabolic Markers In Sports Medicine. Advances in Clinical
Chemistry; 56, 2012.
5. FALLON, K. E.; SIVYER, G.; SIVYER, K.; DARE, A. The biochemistry of runners in a 1600 km ultramarathon. Br
J Sports Med; 33: 264-269, 1999.
6. LEHNINGER, A.L; NELSON, D.L.; COX, M.M. Princípios de Bioquímica. 2 ed. São Paulo: Sarvier, 1995.
7. LOPES, R.F. Comportamento de alguns marcadores fisiológicos e bioquímicos durante uma prova de triathlon
olímpico. Curitiba: UFPR, 2006. 119 p. Dissertação (Mestrado) - Programa de pós-graduação em Educação Física.
Departamento de Educação Física. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
8. MILLET, G.Y. Can Neuromuscular Fatigue Explain Running Strategies and Performance in Ultra-Marathons? The Flush
Model. Sports Med; 41 (6): 489-506, 2011.
9. HOFFMAN, M.D. Performance trends in 161-km ultramarathons. Int J Sports Med; 31(1):31-7, 2010.
10. WEGELIN, J.A.; HOFFMAN, M.D. Variables associated with odds of finishing and finish time in a 161-km
ultramarathon. Eur J Appl Physiol; 111(1):145-53, 2011.
11. MILLET, G.Y.; TOMAZIN, K.; VERGES, S.; VINCENT, C.; BONNEFOY, R.; CLAUDE-BOISSON, R.; GERGELÉ,
L.; FÉASSON, L.; MARTIN, V. Neuromuscular Consequences of an Extreme Mountain Ultra-Marathon. PLoS One;
6 (2): 17059, 2011.
12. DANIEL, F.M.; NEIVA, M.C. Avaliação da Ingestão Proteíca e do Balanço Nitrogenado em Universitários Praticantes
de Musculação. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte; 8(1): 21-39, 2009.
13. FERREIRA, A.M.D.; RIBEIRO, B.G.; SOARES, E.A. Consumo de carboidratos e lipídios nodesempenho em exercícios
de ultra-resistência. Rev Bras Med Esporte; 7(2), 2001.
14. SANTOS, M.Â.A.; SANTOS R.P. Uso desuplementos alimentares como forma demelhorar a performance nos programas
deatividade física em academias de ginástica. Rev Paul Educ Fís; 16(2): 174-185, 2002.
15. SOUSA, M.M.S.; NAVARRO, F. A suplementação de carboidratos e a fadiga em praticantes de atividades de endurance.
Rev Bras Nutr Esp; 4 (24): 462-474, 2010. Disponível em: <http://www.rbne.com.br/index.php/rbne/article/view/217/206>.
Acesso em: 14 out. 2019.
16. GOMES, R.T.M.; SANTOS, M.G. A influência dos carboidratos sobre a performance física de triatletas. EFDeportes.
com; 16 (161): 2011.
17. SILVA, A.L.; MIRANDA, G.D.F.; LIBERALI, R. A influência dos carboidratos antes, durante e após- treinos de alta
intensidade. Rev Bras Nutr Esp; 2 (10): 211-224, 2008. Disponível em: <http://www.rbne.com.br/index.php/rbne/article/
view/67/66>. Acesso em: 14 out. 2019.
18. JEUKENDRUP, A. E. Periodized Nutrition for athletes. Sports Med; 47: 51-67, 2017.
19. DE REZENDE, M.G.; TIRAPEGUI, J. Relação de alguns suplementos nutricionais e o desempenho físico. ALAN;
50 (4): 317-329. 2000.
20. COYLE, E. F. Fluid and fuel intake during exercise. J Sports Sci; 22 (1): 29-55, 2004.
21. FERREIRA, A.M.D.; RIBEIRO, B.G.; SOARES, E.A. Consumo de carboidratos e lipídios no desempenho em exercícios
de ultra-resistência. Rev Bras Med Esp; 7 (2): 67-74. 2006.
22. CITARELLA, R.; ITANI, L.; INTINI, V. et al. Nutritional Knowledge and Dietary Practice in Elite 24-Hour
Ultramarathon Runners: A Brief Report, 2019. Sports; 44, 2019.
www.vponline.com.br
33
Ticiane Aragão da Silveira Gomes
Modulação nutricional no
transtorno do espectro autista -
um estudo de caso
Resumo
O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio de desenvolvimento neurológico complexo e geneticamente heterogêneo caracterizado
por comprometimento das habilidades sociais, falta de recursos verbais e não verbais, além de alterações comportamentais estereotipadas
e repetitivas. Dentre os problemas mais frequentemente identificados em indivíduos autistas estão patologias gastrointestinais, carências
de vitaminas e de minerais, deficiências nos processos de destoxificação e metilação. Atualmente, várias formas alternativas de tratamento
têm sido propostas, dentre as quais se incluem dietas isentas de glúten e caseína, associadas a suplementações de vitaminas, minerais,
ômega-3, probióticos e antioxidantes, além de enzimas digestivas para auxiliar nos problemas gastrointestinais tão presentes nesses
pacientes. O objetivo do presente estudo foi relatar um caso de um paciente com TEA, com a meta de equilibrar a microbiota, reduzindo
a inflamação intestinal e cerebral, melhorar a digestão e absorção dos nutrientes e reduzir a carga tóxica do organismo, por meio da
implementação de uma dieta de exclusão de alimentos que contivessem glúten e caseína, associada à suplementação individualizada
com micronutrientes que auxiliariam na melhora dos sinais e sintomas. Foram realizadas quatro consultas, compostas de avaliação
nutricional pelos parâmetros antropométricos, bioquímicos, dietéticos e exame clínico nutricional, através da teia das interconexões
metabólicas. Após as avaliações, foi elaborada a prescrição de plano alimentar e de suplementação individualizada. Concluiu-se que a
intervenção nutricional levou a um resultado positivo, com a melhora da maioria dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente. Para
estabelecer a conduta nutricional utilizada na prescrição do plano dietoterápico e suplementação foi realizada uma revisão bibliográfica
através das plataformas Scielo, MEDLINE, PubMed e Lilacs, utilizando os seguintes termos: português e inglês, “autismo” relacionado
a “nutrição”, “dieta”, “suplementação”, “distúrbio gastrointestinal”, “eixo intestino-cérebro”, “gestação”.
Palavras-chave: Autismo, nutrição, dieta, eixo intestino-cérebro, suplementação.
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020 doi: 10.32809/2176-4522.46.81.05
Abstract
Autism spectrum disorder (ASD) is a complex and genetically heterogeneous neurodevelopmental disorder characterized by impaired
social skills, lack of verbal and non-verbal resources, in addition to stereotyped and repetitive behavioral changes. Among the problems
most frequently identified in autistic individuals are gastrointestinal disorders, deficiencies in vitamins and minerals, deficiencies in the
processes of detoxification and methylation. Currently, several alternative forms of treatment have been proposed, including gluten-free
and casein-free diets, associated with supplementation of vitamins, minerals, omega 3, probiotics and antioxidants, in addition to digestive
enzymes to assist in gastrointestinal problems, a frequent issue between such patients. The objective of the present study was to report
a case of a patient with ASD, with the goal of balancing the microbiota, reducing intestinal and cerebral inflammation, improving the
digestion and absorption of nutrients and reducing the toxic load of the organism, through the implementation of an exclusion diet of
foods containing gluten and casein, associated with individualized supplementation with micronutrients that would help in the improve-
ment of signs and symptoms. Four consultations were held, consisting of nutritional assessment of anthropometric, biochemical, dietary
parameters and clinical nutritional examination, through the web of metabolic interconnections. After the evaluations, the prescription
of a diet plan and individualized supplementation was prepared. It was concluded that the nutritional intervention led to a positive
result, with the improvement of most of the signs and symptoms presented by the patient. To establish the nutritional conduct used in
the prescription of the dietary plan and supplementation, a bibliographic review was carried out through Scielo, MEDLINE, PubMed
and Lilacs platforms, using the following terms: Portuguese and English, "autism" related to "nutrition", "diet", “supplementation",
“gastrointestinal disorder", “gut-brain axis", "pregnancy".
Keywords: Autism, nutrition, diet, gut-brain axis, supplementation..
34
Modulação nutricional no transtorno do espectro autista – um estudo de caso
O
de exercícios, tipo de parto, comportamentos
O transtorno do espectro autista (TEA) é cognitivos e sociais, estresse, medo e ingestão de
um distúrbio de desenvolvimento neurológico alimentos8.
complexo e geneticamente heterogêneo O microbioma pode produzir efeitos locais
caracterizado por comprometimento das e sistêmicos na biologia do hospedeiro. A
habilidades sociais, falta de recursos verbais e ruptura de uma composição equilibrada do
não verbais, além de alterações comportamentais microbioma intestinal, denominada disbiose,
estereotipadas e repetitivas1,2. pode causar inflamação intestinal crônica, que
Sua etiologia multifatorial envolve uma pode estar relacionada ao TEA 10. O sistema
interação complexa de fatores genéticos e fatores imunológico também atua como uma das rotas
de risco ambientais, com alterações imunes e para a comunicação intestino-cerebral11.
deficiência de conexão sináptica no início da vida. I n d i v í d u o s c o m T E A g e r a l m e n t e
Evidências sugerem que haja um conjunto de apresentam problemas de saúde gastrointestinal,
múltiplos genes defeituosos e fatores ambientais incluindo problemas de motilidade intestinal,
desempenhando uma ação catalisadora. Segundo autoimunes e / ou outras respostas adversas a certos
Fakhoury3, existe uma desregulação do sistema alimentos e falta de absorção de nutrientes. Esses
imunológico, além de inflamação, exposição problemas podem ser causados ou exacerbados por
a tóxicos e uma relação com a microbiota padrões comportamentais restritivos (por exemplo,
intestinal3,4. preferência por alimentos doces, salgados e/ou
Dados atuais dos Centros de Controle de recusa de alimentos saudáveis). Os indivíduos com
Doenças mostram que o autismo afeta 1 em cada problemas gastrointestinais tendem a demonstrar
58 indivíduos com menos de 21 anos que vivem mais déficits comportamentais (por exemplo,
nos EUA. Isso representa um aumento de 15% irritabilidade, agitação, hiperatividade) e também
na prevalência em relação à taxa anterior de 1 tendem a ter um desequilíbrio na composição geral
em 68, ressaltando a urgência de mais pesquisas do microbioma intestinal, corroborando vários
relacionadas a etiologia do TEA5. Além disso, estudos que implicaram vias cérebro-intestinais
alguns estudos mostram que o TEA ocorre quatro como potenciais mediadores da disfunção
vezes mais em meninos do que em meninas6,7. comportamental12.
Embora o TEA possa ser classicamente De acordo com o manual de orientação da SBP13
pensado como um distúrbio neurológico em sua sobre TEA, aproximadamente 91% das crianças
patologia, estudos relatam que o microbioma autistas apresentam distúrbios gastrointestinais
intestinal tem desempenhado um importante como distensão gasosa, constipação, diarreia e
papel no eixo bidirecional intestino-cérebro, o dor abdominal.
qual integra as atividades relacionadas ao intestino Outros sintomas também relatados nesses
e ao sistema nervoso central. Dessa forma, o pacientes são: dor abdominal, azia, refluxo
conceito eixo microbioma-intestino-cérebro gastroesofágico e flatulência 10. Um estudo 14
tem sido bastante estudado nos últimos anos. Os mostrou que constipação era o sintoma
estudos estão revelando como diversas formas gastrointestinal mais prevalente em crianças
de distúrbios neuroimunes e neuropsiquiátricos com TEA: 85% de acordo com relatos dos pais e
estão correlacionados e ou modulados por avaliações das crianças por gastroenterologistas.
variações no microbioma. Por conseguinte, Crianças autistas com sintomas gastrointestinais
o intestino provavelmente está envolvido na apresentam uma maior prevalência em relação
fisiopatologia de diversas desordens do sistema aos distúrbios do sono, comparadas com o
nervoso central, incluindo o TEA8,9. estado geral da população que não tem sintomas
www.vponline.com.br
Existem muitos fatores que demonstraram ter gastrointestinais e com irmãos15,16. Além disso, os
um efeito modulador no cérebro e na microbiota, sintomas gastrointestinais estão significativamente
incluindo hereditariedade congênita e epigenética correlacionados com insônia e parassonias17.
35
Ticiane Aragão da Silveira Gomes
36
Modulação nutricional no transtorno do espectro autista – um estudo de caso
ferramenta de auxílio para ampliar os aspectos balança da marca Inbody®, com capacidade para
integrativos do paciente, já que representa as 250 kg e resolução de 0,1 kg.
interrelações que ocorrem no metabolismo, O critério utilizado para avaliação dos
como os mecanismos bioquímicos, hormonais, resultados dos parâmetros antropométricos foi a
neurológicos, imunológicos e químicos26. classificação pelas curvas de referência da OMS
Após as avaliações, foi proposto um tratamento 200727. Utilizando a idade e valores de peso,
nutricional, com a elaboração de um plano estatura e IMC, foram classificados os indicadores
alimentar e a prescrição de suplementação de P/I, E/I e IMC/I28.
forma individualizada. Dessa forma, o diagnóstico antropométrico
A metodologia empregada na revisão indicou magreza acentuada para a idade (IMC
bibliográfica para embasamento das condutas 11,35 Kg/m2, Escore-z < -3), muito baixo peso
envolveu o levantamento de artigos indexados para a idade (P/I Escore-z < -3) e estatura adequada
através das plataformas Scielo, MEDLINE, para a idade (E/I Escore-z < -1).
PubMed e Lilacs, utilizando os seguintes termos: Em relação à anamnese nutricional, a mãe
português e inglês, “autismo” relacionado a descreveu que a criança era muito seletiva e,
“nutrição”, “dieta”, suplementação”, “distúrbio apesar de não ter problemas com a textura dos
gastrointestinal”, “eixo intestino-cérebro”, alimentos, consumia quase todas as refeições
“gestação”. A pesquisa foi realizada no período por mamadeiras (vitamina de frutas e cereais,
de fevereiro a abril de 2020. Salienta-se que os hortaliças, leguminosas e carnes liquidificadas),
trabalhos encontrados foram triados a partir dos todas adicionadas com leite de vaca integral e
resumos, sendo selecionados para discussão os mucilagens contendo grandes quantidades de
artigos que apresentaram em seu conteúdo uma glúten e açúcar. O paciente apresentava uma
associação direta entre os termos pesquisados, ingestão alimentar abaixo das suas necessidades
tornando-se relevantes para a revisão aqui de macro e micronutrientes.
apresentada. Foram excluídos os artigos que, Em relação aos dados bioquímicos, observaram-
embora contemplassem o tema, não abordassem se as seguintes alterações nos exames: pesquisa
uma consonância científica na sua intervenção de polimorfismo no gene MTHFR indicou
nutricional. mutação heterozigótica no cromossomo C677T,
sinalizando uma baixa atividade enzimática;
Detalhamento do caso estudado hemoglobina glicada elevada de 5,7% indicando
risco aumentado para desenvolver diabetes;
Paciente, sexo masculino, com idade de 5 anos hipertrigliceridemia de 138 mg/dl; ferritina
e 4 meses, residente da cidade de Fortaleza, Ceará. baixa de 7,9 ng/ml; zinco eritrocitário baixo de
Nasceu de parto prematuro, cesárea, com 32 430,6 μg/dl; hipovitaminose D de 16,41 ng/ml;
semanas de gestação, com 1.700 gramas, devido e alumínio elevado de 15,7 μg/l. Além disso, o
provavelmente a uma amniorrexe prematura. exame de coprologia funcional apresentou muco,
Ficou internado na UTI por cerca de 30 dias indicando provavelmente estado inflamatório da
e mamou exclusivo por apenas dois dias. Ainda mucosa intestinal, presença numerosa de fungos
no berçário da UTI, recebeu fórmula infantil e leveduras, flora bacteriana aumentada, presença
antirregurgitação de proteína intacta, apresentou de amido e fibras bem e mal digeridas.
muitas cólicas e distensão abdominal, e a fórmula De acordo com a descrição da mãe, a criança
foi substituída por fórmula infantil extensamente apresentava dificuldades com o sono, despertava
hidrolisada sem lactose. de madrugada e passava horas acordada andando
Referente ao estado nutricional, a medida da pela casa, só vindo a adormecer novamente pela
estatura foi obtida por meio de um estadiômetro manhã. Também rangia muito os dentes enquanto
www.vponline.com.br
37
Ticiane Aragão da Silveira Gomes
sendo esse o único sintoma até os 3 anos de idade. sobre sinais e sintomas gastrointestinais,
Com 3 anos, começou a apresentar algumas este- preferências e aversões e exame físico nutricional,
reotipias e crises de birra. Com 3 anos e 6 meses, no primeiro momento foi implementado um
parou de falar e perdeu algumas habilidades. Já plano alimentar individualizado, com exclusão
sabia o seu próprio nome completo, o nome dos de possíveis alérgenos e alimentos que formam
pais, o nome das cores, reconhecia os números, compostos opioides que continham glúten,
reconhecia parentes em fotos e respondia sobre caseína, soja e açúcar, por serem proteínas mais
todas essas coisas quando era perguntada. Adorava difíceis de digerir. Além disso, houve redução de
cantar. Com 3 anos e 6 meses perdeu todas essas aditivos químicos e disruptores endócrinos, com
habilidades. o objetivo de equilibrar a microbiota, reduzindo
Pelo exame físico, foram observadas na criança a inflamação intestinal e cerebral, melhorando a
olheiras, distensão abdominal, pele ressecada, digestão e absorção dos nutrientes e reduzindo
saburra lingual e urticária papular causada por a carga tóxica do organismo, adequado às
alergia a picada de mosquitos. necessidades do paciente. A prescrição nutricional
Em relação à função intestinal do paciente, a contou com uma dieta com baixo teor de
mãe referiu histórico de fezes muito volumosas oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos
e dificuldades para evacuar, levando à formação e poliálcoois fermentáveis (FODMAPs) para
de fecalomas algumas vezes. Passou a fazer uso auxiliar a modificar favoravelmente a microbiota
de laxantes e, ainda assim, o paciente ficava às intestinal, diminuir a formação de gases e
vezes por três dias sem defecar. Também foi restaurar as anormalidades nas células endócrinas
relatada flatulência, com evacuação oscilando gastrointestinais.
entre constipação e diarreia, e, conforme a Escala Nessa etapa, destacou-se também a orientação a
de Bristol, suas fezes se encontravam entre os uma dieta ecológica, priorizando alimentos livres
números 1 e 7. de agrotóxicos, pesticidas e aditivos, visando a
No consultório, a criança apresentou compor- melhora da microbiota intestinal. Além disso, para
tamento hiperativo e ansioso, não passando mais eliminar patógenos como fungos e leveduras, foi
do que cinco minutos brincando com o mesmo sugerido adicionar o consumo de óleo de coco,
brinquedo nem parada no mesmo lugar, sempre alho, cebola, orégano, cúrcuma, tomilho, sementes
andando de um lado para o outro. de abóbora e ervas antiparasitárias, antifúngicas
Em relação à teia de interconexões metabólicas, e antibacterianas, associado a um adequado
foram registrados antecedentes como o parto consumo de banana verde e farelo de aveia sem
prematuro e o consumo de fórmulas lácteas desde glúten como fontes de prebióticos e líquidos como
os primeiros dias de vida, gatilhos como disbiose água saborizada e chás digestivos como hortelã,
intestinal, sono inadequado e dieta inflamatória, erva-doce e chá da casca do abacaxi.
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020 doi: 10.32809/2176-4522.46.81.05
38
Modulação nutricional no transtorno do espectro autista – um estudo de caso
dos nutrientes e a diminuição dos sintomas. de levar objetos ou a mão à boca e continuava não
Na segunda etapa, foi mantido o plano alimentar se interessando muito pelas atividades escolares,
com evolução nas texturas, já que o paciente teve apesar de estar interagindo mais com outras
uma boa adesão à conduta sugerida. De acordo crianças, permitindo que os colegas brincassem
com a melhora significativa da maioria dos com ele.
sintomas apresentados, como sintomas gástricos Nesse contexto, a prescrição de probióticos para
e função intestinal, foi incluída a prescrição de: pacientes com TEA, segundo Critchfield et al.29, é
vitamina A, vitaminas do complexo B, vitaminas baseada em três pilares: primeiro, no tratamento
C, D, E, K; minerais como magnésio, ferro, da síndrome do intestino irritável (SII), devido
zinco, vanádio, entre outros; aminoácidos como às semelhanças dos sintomas gastrointestinais
lisina, carnitina, carnosina; fitoquímicos, como presentes em ambas as doenças, uma vez
coenzima Q10, visando a prevenção e correção de que a melhora dos pacientes com SII após os
deficiências nutricionais; e ácidos graxos ômega-3, probióticos já está bem estabelecida, melhorando
por seu papel antinflamatório e imunomodulador, os sintomas gastrointestinais, como distensão e dor
no intuito de auxiliar na melhora dos sinais e abdominais, entre outros; em segundo lugar, pela
sintomas de comportamento, memória e cognição. elevada quantidade de espécies de Clostridium
A exclusão de açúcar também permaneceu, encontrada nas crianças com TEA associadas com
uma vez que ele favorece a disbiose nas crianças problemas gastrointestinais, o comportamento e
autistas. Sendo necessária a restrição por tempo a comunicação melhoraram durante o período
mais prolongado, o açúcar foi substituído por de tratamento, implicando na correção do
edulcorantes naturais à base de esteviosídio equilíbrio microbiano da microbiota intestinal
e taumatina. Da mesma forma, continuou pelo mecanismo de ação dos probióticos29; em
a recomendação para evitar alimentos que terceiro lugar, pelo aumento da permeabilidade
contenham corantes como tartrazina e vermelho intestinal encontrada no autismo, a qual pode
carmoisine, edulcorantes artificiais à base de ser melhorada pelos probióticos, pois eles
aspartame e conservantes à base de benzoato e são capazes de estabilizar a barreira mucosa e
glutamato de sódio19. reduzir supercrescimento bacteriano, sintetizar
As condutas foram orientadas no período de antioxidantes, aumentar a expressão de mucina
dezembro de 2018 a novembro de 2019, sendo e estimular a imunidade da mucosa, melhorando,
cada consulta realizada com posterior reavaliação assim, sua permeabilidade intestinal29.
por um período de 30 dias. Ao longo do acompanhamento nutricional,
o paciente apresentou melhoras nos sintomas
Resultados e discussão gastrointestinais de uma maneira geral, função
intestinal mais controlada (fezes no tipo 3
No decorrer do acompanhamento nutricional, o na Escala de Bristol) e, depois da prescrição
paciente teve uma boa adesão à conduta sugerida. de uma suplementação individualizada de
Na segunda consulta, a mãe do paciente descreveu vitaminas, minerais, fitoquímicos e ômega-3, a
melhora significativa nos sintomas digestivos, mãe relatou que houve uma melhora progressiva
função intestinal mais controlada, e, segundo a no comportamento da criança (mais falante,
Escala de Bristol, as fezes estão nos tipos 3 e 4. dizendo palavras e frases soltas, algumas vezes
Com o uso dos probióticos e da banana verde, além com função e outras não). Também passou a
da suspensão de alimentos com glúten, lácteos, responder bem melhor aos comandos e conseguir
açúcar e da redução dos alimentos industrializados ficar um tempo maior participando de atividades
em geral, o paciente obteve melhora nos sintomas com outras crianças.
intestinais, diminuiu a distensão abdominal e a Importante salientar que, nas primeiras consul-
www.vponline.com.br
constipação, e o sono se tornou mais regular. Mas tas, a prioridade foi remover os alimentos da dieta
ainda apresentava, segundo relato da mãe, crises que estavam causando inflamação e uma provável
de birra, embora menos frequentes, além da mania síndrome desabsortiva, prejudicando o desenvol-
39
Ticiane Aragão da Silveira Gomes
vimento e a saúde da criança, substituindo por uma a base de mandioca (polvilho doce e azedo),
alimentação anti-inflamatória, antioxidante e livre farinhas de leguminosas (grão-de-bico) e de
de glúten, leite e soja. Tratar o aparelho digestivo oleaginosas (amêndoas, castanhas) e amido de
foi o passo seguinte, fornecendo enzimas digesti- milho. Em relação ao leite animal, foi sugerida a
vas por meio da inclusão de chás digestivos (150 troca por um rodízio de leites vegetais, acrescidos
ml após as refeições) contendo alecrim, sálvia, de proteína vegetal, e um aumento no cardápio de
cidreira, canela, erva-doce ou hortelã e frutas como alimentos ricos em cálcio, como gergelim, chia,
abacaxi e mamão, que melhoram a digestão das aveia, grão-de-bico, sardinha e ovos.
proteínas, associados à suplementação de clori- Deficiências no processamento sensorial
drato de betaína, proteases, lipases e sacaridases, também são extremamente comuns, afetando
além de prebióticos, como banana verde e aveia, e muitas áreas da vida diária, incluindo o comer. As
probióticos, recuperando o intestino e restituindo crianças com TEA são frequentemente descritas
os nutrientes23. como seletivas35.
A dieta de exclusão de glúten, soja e caseína é Na primeira consulta, a mãe relatou que
baseada na alteração da permeabilidade intestinal, a criança era muito seletiva: não tinha problemas
a qual torna ineficiente a digestão das proteínas do com a consistência e nem com as texturas dos
leite e do trigo, gerando peptídeos de cadeia curta, alimentos, mas apresentava alguma alteração
estruturalmente semelhantes a opioides, capazes sensorial com a textura de certos tecidos e com
de adentrar o sangue e a barreira hematoencefálica, determinados sons.
trazendo, assim, repercussões negativas30. Vários fatores podem contribuir para a
Ressalta-se que, no cérebro, os opioides seletividade de alimentos, e um número de
gerados pela caseína (caseomorfinas) e pelo explicações têm sido propostas36,31. Um desses
glúten (gluteomorfinas) podem passar através fatores refere-se à sensibilidade sensorial:
da mucosa intestinal e atravessar a barreira tátil, oral e olfativa. Tem sido sugerido que a
hematoencefálica, atingindo o sistema nervoso sensibilidade sensorial pode levar crianças com
central e promovendo ações semelhantes às TEA a restringir a ingestão de alimentos somente
que ocorrem em usuários de morfina, podendo aos preferidos, toleráveis, e texturas agradáveis
afetar os lobos temporais e causar dificuldades por longos períodos37. A textura é identificada
na fala e na integração da audição, redução das como um aspecto fundamental relacionado à
células nervosas do sistema nervoso central e aceitação de alimentos, o que reforça que a
inibição de alguns neurotransmissores. Além sensibilidade sensorial pode ser um fator que
disso, tais compostos opioides são capazes de contribui negativamente para a seletividade de
bloquear receptores dopaminérgicos, causando alimentos.
derramamento de dopamina no líquido Resultados de vários estudos fornecem
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020 doi: 10.32809/2176-4522.46.81.05
cefalorraquidiano ou na urina, podendo afetar, evidências de que crianças com dietas mais restritas
dessa forma, a fala, a percepção, a emoção, o têm maior risco de inadequações nutricionais, até
humor e o comportamento dos pacientes31,32,19,33. porque a seletividade alimentar severa em crianças
Além disso, tem sido relatado um aumento com TEA envolve a omissão frequente de vegetais
de anticorpos IgA contra a caseína e a gliadina, e frutas38, ressaltando a necessidade de estabelecer
com liberação de citocinas inflamatórias que critérios para definir o alcance e a apresentação de
promovem a inflamação da mucosa intestinal. novos alimentos para essas crianças.
Essa condição, por sua vez, conduz a menor No caso do paciente, foi orientada a
atividade das enzimas, dificultando o processo substituição gradual, padronizada e controlada
de degradação proteica, levando a concentrações dos alimentos com leite animal e dos alimentos
elevadas na urina de pessoas autistas33,31,34. com glúten da dieta, justamente por causa da
Nesse contexto, quanto ao glúten, foi orientada seletividade informada pela mãe e visando a
a substituição nas preparações da farinha de trigo uma redução dos efeitos de abstinência desses
por farinha de arroz, farinha de quinoa, farinhas compostos. Com sua eliminação percebeu-
40
Modulação nutricional no transtorno do espectro autista – um estudo de caso
41
Ticiane Aragão da Silveira Gomes
Highlights
• O objetivo do tratamento nutricional no TEA é equilibrar a microbiota, reduzir inflamação
intestinal e cerebral, melhorar a digestão e absorção dos nutrientes e reduzir a carga tóxica do
organismo;
• O tratamento proposto inclui uma dieta livre de glúten, caseína, soja e açúcar, associada
a uma suplementação de micronutrientes, respeitando a individualidade bioquímica do paciente;
• O passo número 1 é remover possíveis alérgenos e alimentos que formam compostos
opioides que contenham glúten, caseína, soja e açúcar, para reparar a barreira intestinal;
• O passo número 2 é restaurar a microbiota, com enzimas e chás digestivos, e reinocular
probióticos;
• Com o intestino recuperado e mais equilibrado, associa-se a suplementação de vitaminas,
minerais, ômega-3 e antioxidantes, restaurando as funções imunológicas, antialérgicas, anti-
inflamatórias, destoxificantes e mitocondriais.
Referências bibliográficas
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020 doi: 10.32809/2176-4522.46.81.05
gastrointestinal symptoms in children with autism spectrum disorders: a brief review. J Pediatr Nurs; 28: 548-56, 2013.
2. MASI, A. et al. An Overview of Autism Spectrum Disorder, Heterogeneity and Treatment Options. Neurosci Bull; 33:
183-193, 2017.
3. FAKHOURY, M. Autistic spectrum disorders: A review of clinical features, theories and diagnosis. Int J Dev Neurosci;
43: 70-77, 2015.
4. NUTTALL, J.R. The plausibility of maternal toxicant exposure and nutritional status as contributing factors to the risk
of autism spectrum disorders. Nutr Neurosci; 20 (4): 209-218, 2017.
5. CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Facts about ASD. 2014. Disponível em: http://www.cdc.
gov/ncbddd/autism/facts.html. Acesso em: 20 ago. 2018.
6. TSAI, L.Y. Impact of DSM-5 on epidemiology of autism spectrum disorder. JAMA Psychiatry; 8 (1): 1454-70, 2014.
7. MANDIC-MARAVIC, V. et al. Sex Differences in Autism Spectrum Disorders: Does Sex Moderate the Pathway from
Clinical Symptoms to Adaptive Behavior? Sci Rep; 5 (1):1-8, 2015.
8. CRYAN, J.F. et al. The microbiota-gut-brain axis. Physiol Rev; 99 (4): 1877-2013, 2019.
9. MAYER, E.A.; TILLISCH, K.; GUPTA, A. Gut/brain axis and the microbiota. J Clin Invest; 125: 926-38, 2015.
10. WARNER, B. B. The contribution of the gut microbiome to neurodevelopment and neuropsychiatric disorders. Pediatr
Res; 85 (2): 216-224, 2019.
42
Modulação nutricional no transtorno do espectro autista – um estudo de caso
11. DOENYAS, C. Gut Microbiota, Inflammation, and Probiotics on Neural Development in Autism Spectrum Disorder.
Neuroscience; 15 (374): 271-286, 2018.
12. ESSA, M. M.; QORONFLEH, M. W. (ed.) Advances in Neurobiology. Berlin: Springer, 2020.
13. LOUREIRO, A.A et al. Transtorno do Espectro do Autismo. 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/
user_upload/21775c-MO_ _Transtorno_do_Espectro_do_Autismo.pdf. Acesso em: 20 mar. 2020.
14. GORRINDO, P. et al. Gastrointestinal dysfunction in autism: parental report, clinical evaluation, and associated factors.
Autism Res; 5 (2): 101-108, 2012.
15. HORVATH, K.; PERMAN, J.A. Autism and gastrointestinal symptoms. Curr Gastroenterol Rep; 4: 251-258, 2002.
16. VALICENTI-MCDERMOTT, M. et al. Frequency of gastrointestinal symptoms in children with autistic spectrum
disorders and association with family history of autoimmune disease. J Dev Behav Pediatr; 27: 128-136, 2006.
17. LIU, X. et al. Sleep disturbances and correlates of children with autism spectrum disorders. Child Psychiatry Hum
Dev; 37: 179-191, 2006.
18. ASHWOOD, P.; WAKEFIELD, A.J. Immune activation of peripheral blood and mucosal CD3 lymphocyte cytokine
profiles in children with autism and gastrointestinal symptoms. J Neuroimmunol; 173 (1-2): 126-34, 2005.
19. MARQUES, H B. Proposição de Guia Alimentar Funcional para Crianças com Espectro Autista. Rev Bras Nutr
Func; 13 (56): 2013.
20. BUIE, T. et al. Recommendations for evaluation and treatment of common gastrointestinal problems in children with
ASDs. Pediatrics; 125 (1): 19-29, 2010.
21. DE MAGISTRIS, L. et al. Alterations of the intestinal barrier in patients with autism spectrum disorders and in their
first-degree relatives. J Pediatr Gastroenterol Nutr; 51 (4): 418-24, 2010.
22. HSIAO, E.Y. et al. Microbiota modulate behavioral and physiological abnormalities associated with neurodevelopmental
disorders. Cell; 155 (7): 1451-63, 2013.
23. ADAMS, J. B. et al. Comprehensive Nutritional and Dietary Intervention for Autism Spectrum Disorder-A Randomized,
Controlled 12-Month Trial. Nutrients; 10 (3): 369, 2018.
24. CARREIRO, D. M. Abordagem nutricional na prevenção e tratamento do autismo. São Paulo: Metha, 2018.
25. GUEDES, N.P.S; TADA, I.N.C. A Produção Científica Brasileira sobre Autismo na Psicologia e na Educação. Psic
Teor Pesq; 31 (3): 303-309, 2015.
26. PASCHOAL, V.; NAVES, A; FONSECA, A.B. Nutrição Clínica Funcional: dos princípios à prática clínica. São
Paulo: VP Editora, 2014.
27. Organização Mundial de Saúde – OMS. Growth reference data for 5-19 years. 2007. Disponível em: http://www.
who.int/growthref/who2007_bmi_for_ag e/en/index.html.
28. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para a
coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar
e Nutricional (SISVAN). Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
29. CRITCHFIELD, J.W. et al. The potential role of probiotics in the management of childhood autism spectrum disorders.
Gastroenterol Res Pract; 2011:161358, 2011.
30. VAN DE SANDE, M. M.; VAN BUUL, V. J.; BROUNS, F. J. Autism and nutrition: the role of the gut-brain axis. Nutr
Res Rev; 27 (2): 199-214, 2014.
31. SHATTOCK, P. et al. Role of neuropeptides in autism and their relationships with classical neurotransmitters. Brain
Dysfunction; 3 (5-6): 328-345, 1990.
32. REICHELT, K. et al. Gluten, milk proteins and autism: dietary intervention effects on behavior and peptide secretion.
J Appl Nut; 42 (1): 1-11, 1990.
33. WHITELEY, P. Nutritional management of (some) autism: a case for gluten-and casein-free diets? Proc Nutr Soc;
74 (3): 202-207, 2015.
34. EVANS, C. et al. Altered amino acid excretion in children with autism. Nutr Neurosci; 11 (1): 9-17, 2008.
35. LEGGE, B. Can’t Eat, Won’t Eat: Dietary Difficulties and Autistic Spectrum Disorders. London: Jessica Kingsley
Publishers, 2002.
36. WHITELEY, P.; RODGERS, J.; SHATTOCK, P. Feeding patterns in autism. Autism; 4: 207-211, 2000.
37. AHEARN, W. H. et al. An assessment of food acceptance in children with autism or pervasive developmental disorder-
not otherwise specified. J Autism Dev Disord; 31: 505-511, 2001.
38. BERRY, R.C. et al. Nutrition management of gastrointestinal symptoms in children with autism spectrum disorder:
guideline from an expert panel. J Acad Nutr Diet; 115 (12): 1919-1927, 2015.
www.vponline.com.br
39. ADAMS, J. B. et al. Effect of a vitamin/mineral supplement on children and adults with autism. BMC Pediatr; 11: 2011.
43
Escute o solo, as raízes
e ouça os ventos de Primavesi
José Maria Filho – Jornalista
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020
44
Escute o solo, as raízes e ouça os ventos de Primavesi
www.vponline.com.br
A agrônoma Dra. Ana Maria Primavesi em vários momentos da carreira, em trabalho de campo.
45
Por: José Maria Filho – Jornalista
Os filhos da Dra. Ana Primavesi, Carin Primavesi Silveira e Odo Primavesi, que também é agrônomo,
contextualizam: “Ela nasceu e se criou em uma propriedade agrícola, nos Alpes austríacos, e que
tinha a integração entre lavoura, pastagem e floresta, tudo como fonte de renda. Naquela ocasião, ela
conta, já havia sinais de esgotamento de alguns nutrientes na terra, e na Universidade Rural de Viena
ela encontrou um professor tutor e outro professor extensionista que se especializaram em recuperar
solos e aumentar sua produtividade utilizando métodos biológicos (e microbiológicos) e nutricionais.
Foram esses dois que mudaram a visão dela para uma mais holística, e que a marcou para sempre. A
ideia era sempre observar a natureza, como ela desenvolvia os solos e como ela resolvia os problemas.
O teste da pá reta (para analisar a raiz e a agregação do solo) era o indicador mais utilizado no caso
dos aspectos biológicos, e os sintomas visuais de deficiência no caso da nutrição mineral das plantas”.
Primavesi via além do simples orgânico, relatam Carin e Odo. “Ela dizia que precisava ser orgânico
em bases ecológicas, ou seja, realizar o manejo do agroecossistema não simplesmente substituindo
insumos, mas verificando quais as causas que estão deprimindo a produção. Em solos de regiões
tropicais, a degradação da matéria orgânica é muito rápida, e o solo logo fica exposto à radiação
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020
solar intensa e ao impacto das chuvas tropicais. Era preciso manejar os restos vegetais na superfície,
como a natureza mostra claramente (horizonte orgânico), evitando virar muito o solo. E, analisando o
comportamento de raízes pivotantes, avaliar se havia adensamentos no perfil superior que precisavam
ser eliminados por práticas vegetativas (eventualmente mecânicas também). O solo na natureza
(ecossistemas naturais) é protegido por tripla camada: dossel das plantas diversificadas, a serapilheira
(restos vegetais) e a camada de raízes entrelaçadas. Isso deveria ser repetido nos agroecossistemas”.
46
Escute o solo, as raízes e ouça os ventos de Primavesi
Esse era um aspecto interessante. Primavesi simplesmente mostrava como funciona a natureza, o que
significava algum tipo de deficiência, o que é um solo sadio, sem precisar falar contra os agroquímicos.
Quando se conduz um sistema agroecologicamente, cuidando para que o sistema radicular das plantas
esteja saudável e que o solo seja grumoso (grumos são agregados estabilizados biologicamente contra a
dispersão pela água) e, além disso, diversificado, resulta em uma área com elevada atividade biológica,
que exerce seus controles para evitar deficiências ou excessos minerais, populacionais e outros.
Numa condição de muita vida na área (sobre um solo vivo e não morto biologicamente), as plantas
têm seu estado nutricional equilibrado – exceto em casos agudos de alguma deficiência mineral, quando
se agrega esse nutriente, especialmente em solos marginais lixiviados com deficiências múltiplas de
nutrientes – e têm todas as condições de formar substâncias orgânicas complexas previstas no programa
genético, sem acúmulo de substâncias orgânicas de cadeia curta e, portanto, ricas em substâncias
nutritivas de elevado valor, vigorosas, com todo seu sistema de defesa funcionando (inclusive os
inimigos naturais, por causa da diversidade elevada no campo, de plantas vivas, seus resíduos e sistemas
radiculares vigorosos), não havendo praticamente necessidade de se aplicar grandes quantidades de
fertilizantes e defensivos agrícolas (também no sistema orgânico).
Ana mostrava que não se precisava aplicar defensivos. As chamadas pragas viviam tranquilamente
em meio aos outros seres, sem trazer danos econômicos. Os agroecossistemas bem conduzidos são
eficientes no uso de nutrientes e de água e de captação de energia solar, reduzindo o custo de produção.
No caso dos componentes florestais, ela batalhava para pelo menos haver quebra-ventos nos sistemas
de produção, e, no caso da pecuária, também sombra para os animais.
A professora Ana Primavesi não aprendeu sendo agroecologista, mas como uma visão holística, a
partir da observação da natureza, a considerar a biodinâmica no solo, procurar pelas causas primárias,
ver as interrelações entre plantas, organismos associados e organismos independentes, todos eles
dependentes de material orgânico (complexo ou simples) como fonte energética ou mineral.
Para Carin e Odo, a agrônoma Ana Primavesi amava o solo, a natureza, da qual todos nós
dependemos. “Falava com paixão sobre o seu conhecimento adquirido da natureza, conhecimento
www.vponline.com.br
que não tinha lido ou escutado de alguém, mas vivido na prática, portanto falava com autoridade,
com convicção, e isso arrastava as pessoas que quisessem ou não (os defensores da revolução verde,
dos agroquímicos e outros). Ana trazia exemplos, ilustrava fartamente as palestras, e isso facilita o
entendimento dos ouvintes”.
47
Por: José Maria Filho – Jornalista
Ana Maria Baronesa Primavesi, nascida Annemarie Conrad, nasceu num domingo, no dia 3 de
outubro de 1920, no Castelo Pichlhofen, distrito de St. Georgen ob Judenburg, no estado da Estíria, na
Áustria. Cursou agronomia na Escola Agrícola de Viena, tendo concluído o curso em 1942. Doutorou-
se em Cultura de Solos e Nutrição Vegetal. Casou-se em 1946 com o diplomata, fazendeiro e também
Doutor Artur Barão Primavesi, e em 1948 vieram para o Brasil, onde continuaram suas pesquisas.
Lecionaram na Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, instituição na qual Artur fundou
o Instituto de Solos e Culturas e criou o primeiro o curso de pós-graduação em Produtividade e
Conservação do Solos. Também trouxe para a cidade o Segundo Congresso de Biologia de Solos da
América Latina, patrocinado pela UNESCO.
Primavesi publicou diversos artigos científicos. É autora de livros como: Pergunte ao solo e às
raízes, Manejo ecológico do solo, Manejo ecológico de pragas e doenças, Manual do solo vivo,
A convenção dos ventos – agroecologia em contos, Manejo de pastagens em regiões tropicais e
subtropicais, Agricultura sustentável – manual do produtor rural, Agroecologia – agroesfera, tecnosfera
e agricultura, entre outros.
Dra. Ana Maria Primavesi faleceu em São Paulo, no dia 5 de janeiro de 2020, aos 99 anos.
O agrônomo Hiroshi Ota durante o lançamento O agrônomo Hiroshi Ota no solo de Agricultura
do livro da Dra. Primavesi na sede da AAO-SP Natural, na zona Sul de SP
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020
A Profa. Primavesi foi quem começou a dar ênfase para a importância do solo como base da
agricultura. Ela sempre reforçou a observação de como está o solo. Sempre que íamos ao campo
levávamos a pá para cavar e observar os torrões”.
Pensando na prática, na observação do mato como indicador e não como inimigo, para saber o que
está acontecendo no solo dá para tentar descobrir a causa dos problemas e não só cuidar do sintoma
48 com os venenos e muito adubo.
Escute o solo, as raízes e ouça os ventos de Primavesi
Causa e efeito
Dependendo de como cuidamos do solo, as plantas que crescem nele podem ser alimentos melhores
para nós.
Para Hiroshi Ota, a Dra. Primavesi se tornou, com paciência e persistência, uma pessoa importante no
contexto da agroecologia e também para a agricultura natural. “Convivemos mais de 25 anos aprendendo
bastante juntos. A Professora foi consultora da Fundação Mokiti Okada, onde realizávamos encontros
de agricultores, participações em conferências, apresentando resultados e visitando agricultores”.
Hiroshi Ota é agrônomo, gestor da Secretaria de Agricultura Natural e Paisagismo do Solo Sagrado,
na Fundação Mokiti Okada.
Atividades no Sítio Eco Recanto Lótus O técnico agrícola Marcos Soares e a chef
naturalista Tânia Alves no Sítio Eco Recanto
Lótus, em Pindamonhangaba
De acordo com Marcos Soares, a agricultura regenerativa é um trabalho sistêmico. “Como mostrou
a Profa. Ana Maria Primavesi em seus estudos, os microrganismos desempenham papel fundamental
www.vponline.com.br
para a vitalidade do solo. A primeira ação é a limpeza da terra, que depois não deverá mais ser revolvida
para não descontruir as estruturas produzidas pelos microrganismos. Quando falamos em cultivo, em
produções de alimentos, estamos falando em agricultura regenerativa, como bem pontuava a Dra.
Primavesi. A gente alimenta o solo e o solo alimenta os frutos”.
49
Por: José Maria Filho – Jornalista
Primavesi, porque a agrofloresta está conectada ao ambiente físico, para cima da terra e para dentro do
solo e também conectada no tempo. Se observarmos uma floresta se formando numa área abandonada
que era uma pastagem, por exemplo, vamos perceber no início umas graminhas, principalmente,
com alguma vegetação herbácea de porte mais elevado, com mais lignina, mais gravetos, que vai
aumentando, daí um animal pousa ali e defeca e libera uma semente diferente, e assim começa a ter
uma vegetação mais diversa, mais arbustiva e arbórea, e nesse processo de sucessão de vegetação vai
se tornando também mais complexa essa rede de interações para cima e para baixo da terra e no tempo.
50
Escute o solo, as raízes e ouça os ventos de Primavesi
Com o solo melhorando, haverá condições de produzir alimentos que antes não se produziam. E
depois que a agrofloresta virar uma floresta, é possível enriquecer o ambiente com frutos do futuro,
por exemplo os nativos da Mata Atlântica, como a palmeira juçara, para utilizar a polpa da juçara,
trabalhar com frutas como cambuci, grumixama, fruta-do-conde, araçá-boi, cabeludinha, frutas de
mesa como cambucá, e trabalhar com geleias e polpas, que têm um bom shelf life e comercializar, o
que agregará valor ao produto agroflorestal.
espontâneas isso favorece, pois muitas plantas medicinais auxiliam o trato digestivo dos animais e a
criar os mecanismos de defesa. Se eu tenho diversidades minerais e micronutrientes que vão funcionar
nos processos de chave e fechadura, esse sistema vai desenvolver rotas metabólicas nos animais para
que eles produzam as próprias defesas.
51
Por: José Maria Filho – Jornalista
Portanto, os princípios da diversidade e da biodiversidade que são defendidos pela Dra. Ana
Maria Primavesi, inclusive nas pastagens, também precisam ser trabalhados ao pensar, utilizar
a arborização principalmente com árvores que fixam o nitrogênio, que colocam matéria orgânica no
solo, que melhoram a qualidade do solo, melhoram a recarga hídrica, e, com isso, se criam condições
de produzir água dentro da pastagem para que a vegetação possa sobreviver no período de estiagem,
como ocorre no Vale do Paraíba.
Os sistemas agroflorestais têm como foco reconectar o ser humano ao planeta Terra. Os princípios
da Dra. Ana Primavesi são a base desse trabalho da Rede Agroflorestal, porque o objetivo é manter o
solo coberto com matéria orgânica, base da energia, composto de estruturas complexas de carbono,
hidrogênio, nitrogênio e vários minerais e quando a matéria orgânica é adicionada ao solo. Com a poda
de uma árvore, por exemplo, se enriquece o solo de minerais, trazendo toda uma vida para o solo, o
que se traduz em fertilidade do solo, com estruturação, porosidade, agregação biológica, diversidade
de vida, fungos e bactérias benéficas, equilíbrio biológico, entre outros agentes transformadores do
solo, que evitam os surtos de doenças e pragas. A fertilidade também deve ser vista do ponto de vista
químico, ou seja, o solo tem estoques de nutrientes suficientes para manter a vida se desenvolvendo,
o que se traduz na qualidade do alimento que é produzido, que tem mais energia vital.
“Eu não vejo uma condição de ter vida no planeta se não tiver agroecologia e os sistemas
agroflorestais. Pode parecer romântico, mas é uma condição para a vida. Essa reconexão humana
com as questões mais delicadas está mais ligada à área espiritual, talvez. Nos médio e longo prazos,
verificamos que a produção de alimentos orgânicos vem crescendo, bem como a agricultura urbana
no mundo todo, e o despertar de pessoas com essa reconexão com a terra vem crescendo na mesma
proporção. Vejo uma fuga de pessoas do meio urbano para o interior, em busca de um banho de rio,
de sol, de caminhar no meio da vegetação, é um momento de cada um buscar esse refúgio”.
52
Escute o solo, as raízes e ouça os ventos de Primavesi
Veja no vídeo a seguir o Técnico Agrícola Marcos Soares mostrando um modelo de Agricultura
Regenerativa no Sítio Eco Recanto Lótus, em Pindamonhangaba.
www.vponline.com.br
53
Ana Vládia Bandeira e Daniel Francisco de Assis
Nessa oficina culinária, a nutricionista Ana Vládia Bandeira e o Chef Daniel Francisco de Assis,
mostram os benefícios e a forma de preparar adequadamente o Kefir, uma excelente maneira de agregar
probióticos na alimentação, contribuindo para a modulação da microbiota e para a saúde intestinal.
Aprenda o passo a passo da fermentação do Kefir no vídeo a seguir.
Rev Bras Nutr Func; 46(81), 2020
54
Normas para Publicação de Artigos Científicos Guidelines for Publication of Scientific Articles
A Revista Brasileira de Nutrição Funcional publica The Brazilian Journal of Functional Nutrition publishes
artigos inéditos que contribuam para o estudo e o previously unpublished articles which contribute to the
desenvolvimento da ciência da nutrição nas áreas de study and development of the science of nutrition, in the
Nutrição Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional, areas of Functional Clinical Nutrition, Functional Sports
Fitoterapia e Nutrição & Ciclos de Vida. Nutrition, Phytotherapy, and Nutrition & Life Cycles.
São publicados artigos originais (inclusive estudo de Original articles (including case studies), meta-analysis,
caso), metanálise, artigos de revisão e receitas. Os artigos reviews and recipes are published. The articles received are
recebidos são avaliados pelo Conselho Editorial da revista. evaluated by the journal’s Editorial Board. Authors are
Os autores são responsáveis pelas informações contidas responsible for the information contained in their articles.
nos artigos. Os artigos publicados na Revista Brasileira Articles published in the Brazilian Journal of Functional
de Nutrição Funcional poderão também ser publicados na Nutrition may also be published in the electronic (Internet)
versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros version of the journal, as well as in other media that might
meios que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de emerge in the future. By authorizing publication of their
seus artigos na revista, os autores concordam com estas articles in the journal, authors agree to these conditions.
condições.
Enviar o artigo para a VP Centro de Nutricional Articles must be sent to VP Centro Nutrição Funcional
Funcional, através do email neiva.souza@vponline.com.br, at the email address neiva.souza@vponline.com.br, in a
em arquivo editado com MS Word e formatado em papel MS Word file formatted in A4 paper, 2.0 cm margins (top,
tamanho A4, margem (superior, inferior, esquerda e direita) bottom, left and right), 1,5 line spacing, Times New Roman
de 2,0 cm, espaço entre linhas de 1,5, Times New Roman, font, size 12 for text and size 7 for references. Maximum
fonte tamanho 12 para o texto e fonte tamanho 7 para as article length is 15 pages, including abstract, tables, figures,
referências bibliográficas. O tamanho máximo total do diagrams and references.
artigo é de 15 páginas, incluindo resumos, tabelas, figuras, All authors mentioned in the text body must be followed
esquemas e referências bibliográficas. by numbers also listed in the references. Thus, references
Todos os autores citados no corpo do texto devem must be listed in the order they appear in the text, in
ser sucedidos por números que constam nas referências compliance with Vancouver norms. Reference numbers in
bibliográficas. Dessa forma, as referências devem ser the text body must be in superscript, without space. Several
relacionadas de acordo com a ordem de aparecimento no references in a row are to be separated with commas,
texto seguindo as normas da ABNT NBR6023/2002. Os without space.
números das referências inseridas no corpo do texto devem The name, address, telephone and fax numbers, email
ser grafados em sobrescrito e sem espaço. Quando forem address and résumé of the author(s) must be provided,
várias referências, separá-las por vírgulas sem espaço. as well as the ORCID number (for new register access:
Indicar o nome, endereço, números de telefone e fax, https://orcid.org/ and click "Register Now" for data entry
além do email e minicurrículo do(s) autor(es), bem como o and number generation. Authors may submit only articles
número ORCID (para novos registros acessar: https://orcid. not previously published in other journals.
org/ e clicar em “Register Now" para preenchimento de
dados e geração do número. Os autores deverão encaminhar
apenas artigo que não foi publicado anteriormente em
nenhuma outra revista.
Deve conter o título em português e inglês, o nome The article must include the title in English, the full
completo sem abreviações de cada autor, palavras-chave (non-abbreviated) name of each author, keywords in English
para indexação em português e inglês, resumo em português for indexation, abstract in English with a maximum of 300
e inglês com no máximo 300 palavras, texto com tabelas e words, text with tables and graphs, and references.
gráficos, e as referências. The text must contain: background, methodology,
O texto deverá conter: introdução, metodologia, results, discussion and conclusions. Scanned images
resultados, discussão e conclusões. As imagens obtidas (illustrations and graphs) must be submitted in .jpg format
com “scanner” (figuras e gráficos) deverão ser enviadas at a 300 dpi resolution.
em formato .jpg em resolução de 300 dpi. Recipes must include: ingredients, preparation
A receita deve apresentar: ingredientes, modo de preparo instructions, and functional properties of the recipe. They
e propriedades funcionais atribuídas à receita. Deve conter must include a maximum of 6 references.
no máximo 6 referências bibliográficas. Patients enrolled in studies and trials must have signed
Pacientes envolvidos em estudos e pesquisas devem ter an Informed Consent Document, and the studies must have
assinado o Consentimento Informado e a pesquisa deve ter been approved by the research ethics committee of the
a aprovação do conselho de ética em pesquisa da instituição institutions the authors are affiliated to.
à qual os autores estão vinculados.
www.vponline.com.br
@vpnutricaofuncional