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TRECHO DO LIVRO

INTUIÇÃO
O SABER ALEM DA LÓGICA
OSHO

sua individualidade pode ser dividida — apenas com a finalidade de ser compreendida;
do contrário não existe divisão. Ela é uma unidade independente, integral: cabeça,
coração e ser. O intelecto é o funcionamento da cabeça, o instinto é o funcionamento
do corpo e a intuição é o funcionamento do coração. E por trás desses três encontra-se
o seu ser, cuja única característica é a de testemunhar. A cabeça apenas pensa; daí por
que ela nunca chega a nenhuma conclusão. Ela é verbal, linguística, lógica, mas por ela
não ter raízes na realidade, milhares de anos de pensamento filosófico não nos deram
uma única conclusão. A filosofia tem sido o maior exercício da futilidade. O intelecto é
muito esperto para criar perguntas e em seguida criar respostas, e então, dessas
respostas, mais perguntas e mais respostas. Ele pode fazer palácios de palavras,
conjuntos de teorias, mas tudo isso simplesmente não passa de asneiras. O corpo não
pode confiar no intelecto, porque o corpo tem de viver. É por isso que todas as funções
essenciais do corpo estão nas mãos do instinto — por exemplo, a respiração, os
batimentos A

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cardíacos, a digestão dos alimentos, a circulação do sangue—, mil e um processos se


desenvolvem dentro do seu corpo, nos quais você não tem participação nenhuma. E é
bom que a natureza tenha dado ao corpo uma sabedoria própria. Do contrário, se o
intelecto tivesse de tomar conta do corpo, a vida seria impossível! Porque às vezes você
poderia se esquecer de respirar — à noite, pelo menos, como você iria respirar enquanto
estivesse dormindo? Você já está muito confuso apenas com os pensamentos; nessa
confusão, quem cuidaria da circulação sanguínea, preocupando-se se a quantidade certa
de oxigênio atingiria as suas células ou não? Se o alimento que você ingere seria
decomposto em seus constituintes básicos e se esses constituintes seriam enviados aos
locais necessários? E toda essa imensa quantidade de trabalho é feita por instinto. Você
não é necessário. Você pode permanecer em coma; ainda assim o corpo vai continuar
funcionando. A natureza deixou todas as funções essenciais do corpo ao instinto, assim
como deixou também tudo o que dá sentido à vida... porque simplesmente existir,
simplesmente sobreviver, não faz sentido nenhum. Para dar sentido à sua vida, a
existência deu a intuição ao seu coração. Da intuição surge a possibilidade da arte, da
estética, do amor, da amizade — todos os tipos de criatividade são intuitivos. Mas o
mercado não precisa da sua intuição. Ele não negocia com o amor, com as suas
sensibilidades; ele se ocupa das coisas mais concretas e mundanas. Por isso, o seu
intelecto — que é a parte mais superficial — funciona. O intelecto é para a vida
mundana, com os outros no mercado, no mundo, para capacitar você a funcionar. Ele é
a matemática, a geografia, a história, a química — todas as ciências e todas as
tecnologias são criadas pelo intelecto. A sua lógica e a sua geometria são úteis — mas o
intelecto é cego. Ele simplesmente continua criando coisas, mas não sabe se elas estão

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sendo usadas para a destruição ou para a criação. Uma guerra nuclear será uma guerra
criada pelo intelecto. O intelecto tem a sua utilidade, mas por alguma infelicidade ele se
tornou o senhor de todo o seu ser. Isso criou imensos problemas no mundo. O senhor
está oculto atrás destes três: corpo, mente, coração. O senhor está oculto atrás desses
três — esse é o seu ser. Mas você nunca vai para dentro de si; todas as suas vias dão
para fora, todos os seus sentidos estão voltados para fora. Todas as suas conquistas
estão lá fora, no mundo. O intelecto é útil no mundo e todos os seus sistemas
educacionais são técnicas para evitar o coração e tirar a sua energia diretamente da
cabeça. O coração pode criar problemas para a cabeça — o coração não conhece nada
de lógica. O coração tem um centro de funcionamento totalmente diferente, e esse é a
intuição. Ele conhece o amor, mas o amor não é uma mercadoria de alguma aplicação
no mundo. Ele conhece a beleza, mas o que você vai fazer com a beleza no mercado? As
pessoas do coração — os pintores, os poetas, os músicos, os dançarinos, os atores —
são todas irracionais. Elas produzem grande beleza, elas são grandes amantes, mas
estão completamente deslocadas numa sociedade que é organizada pela cabeça. Os
artistas são considerados pela sua sociedade quase como párias, um pouco malucos, um
tipo de gente insana, visionária. Ninguém quer que os seus filhos se tornem músicos,
pintores ou dançarinos. Todos querem que eles sejam médicos, engenheiros, cientistas,
porque essas profissões compensam. A pintura, poesia, a dança são perigosas,
arriscadas — você pode acabar simplesmente como um mendigo na rua, tocando flauta.
O coração tem sido renegado — e, a propósito, será conveniente recordar que a negação
do coração tem sido a negação da mulher. E a menos que o coração seja aceito, a mulher
não pode ser aceita. A menos que o coração tenha a mesma oportunidade de

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crescimento que a cabeça, a mulher não pode ter a sua liberação. A mulher é coração e
o homem é cabeça. A diferença é clara. O instinto, a natureza o tomou da mulher nas
próprias mãos. E sempre que interfere com o instinto você cria perversões. Todas as
religiões têm feito isso; toda religião tem interferido com o corpo — e o corpo e
absolutamente inocente, nunca fez nada errado. Se você aceitar o corpo em sua
absoluta naturalidade, ele irá ajudá-lo tremendamente. Ele ajudará o seu coração,
alimentará o seu coração. Ele ajudará a sua inteligência a se tornar mais afiada, porque
o alimento para o intelecto vem do corpo, o alimento do coração vem do corpo. E se a
sua cabeça, o seu coração e o seu corpo estiverem todos numa sinfonia, então encontrar
o seu ser será a coisa mais fácil do mundo. Mas porque eles estão em conflito, toda a
sua vida continua a ser desperdiçada nesse conflito, conflito entre o instinto, o intelecto
e a intuição. Uma pessoa sensata, sábia, é aquela que cria uma harmonia entre a cabeça,
o coração e o corpo. Nessa harmonia se chega à revelação da fonte da própria vida, o
verdadeiro centro, a alma. E esse é o maior êxtase possível — não só para os seres
humanos como nesse universo inteiro, nada mais é possível. Eu não estou contra nada.
Estou apenas contra a desarmonia, e porque a sua cabeça está criando a situação mais
desarmoniosa, eu quero que a sua cabeça seja colocada em seu lugar certo. Ela é um
servo, não um senhor. Como servo ela é ótima, muito útil.

Um leiteiro de Dublin acabara de fazer as suas entregas, então parou o cavalo e a carroça
na porta do bar e entrou para tomar uma bebida. Depois de uma hora, refeito, ele saiu
e encontrou o seu cavalo pintado de verde-claro. Com muita raiva, voltou para dentro
do bar e perguntou: — Quem de vocês pintou o meu cavalo de verde? Um gigante
irlandês de uns dois metros de altura levantou-se e, inclinando-se sobre ele, declarou:

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— Fui eu. Quer fazer alguma coisa a respeito disso? O leiteiro deu uma risadinha amarela
e respondeu: — Eu só vim lhe dizer que a primeira demão já secou. O intelecto é muito
útil! Existem situações em que você vai precisar do intelecto — mas apenas como um
servo, não como o senhor.

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