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Algumas teses centrais de História e consciência de classe, de Geoerg Lukács,

serão apontadas como elementos importantes na compreensão do estatuto e da


funcionalidade do proletariado.

O autoconhecimento do proletariado significa o conhecimento objetivo da


estrutura da sociedade de classes: “Marx exprimiu claramente a posição particular do
proletariado na sociedade e na história, o ponto de vista a partir do qual sua essência
adquire importância como sujeito-objeto idêntico do processo histórico-social de
desenvolvimento, já em sua primeira crítica à Filosofia do direito, de Hegel: ‘Quando o
proletariado anuncia a dissolução da ordem mundial até então existente, exprime apenas
o segredo de sua própria existência, pois ele é a dissolução efetiva dessa ordem
mundial’. Senso assim, o autoconhecimento do proletariado é, ao mesmo tempo, o
conhecimento objetivo da essência da sociedade. Enquanto persegue os seus fins de
classe, o proletariado realiza de sua maneira consciente os fins – objetivos – do
desenvolvimento da sociedade, os quais, sem a sua intervenção consciente, teriam de
permanecer como possibilidades abstratas e barreiras objetivas”. (pp. 308-309).

“Se, portanto, o ponto de vista do proletariado é confrontado com o da classe


burguesa, o pensamento proletário não exige de modo algum uma tabula rasa, um
recomeço ‘sem pressupostos’, para a compreensão da realidade, como o fez o
pensamento burguês em relação às formas feudais da Idade Média – pelo menos em sua
tendência fundamental. É justamente porque o pensamento proletário tem por objetivo
prático a transformação fundamental do conjunto da sociedade que ele concebe a
sociedade burguesa e todas as suas produções intelectuais e artísticas como ponto de
partida para seu próprio método.” (p. 332)

Lukács atribui a relação do pensamento imediato à realidade imediata à função


de dominação da estrutura de poder da burguesia. Para o proletariado, no entanto, deve-
se superar de forma imanente da barreira, colocando toda visão de mundo dominante
sob seu ponto de vista, através das categorias da mediação. É nessa diferença que reside
a diferença não somente teórico-científica, mas ontológica:

“A função metodológica das categorias da mediação consiste no fato de que,


com sua ajuda, aquelas significações imanentes que advêm necessariamente aos objetos
da sociedade burguesa (mas que também estão necessariamente ausentes do surgimento
imediato desses objetos na sociedade burguesa e, portanto, do seu reflexo mental no
pensamento da burguesia) podem tornar-se objetivamente ativas e com isso ser elevadas
ao nível da consciência do proletariado. Ou seja, não é um mero acaso, nem um
problema puramente teórico-científico o fato de a burguesia deter-se teoricamente no
imediatismo, enquanto o proletariado vai além dele. Na diferença dessas duas atitudes
teóricas expressa-se, antes, a distinção do ser social de ambas as classes. Certamente, o
conhecimento resultante do ponto de vista do proletariado é aquele objetiva e
cientificamente superior”. (p. 332)

“Para a burguesia, seu método ascende diretamente do seu ser social, o que
significa que o simples imediatismo adere ao seu pensamento como algo exterior, mas,
por isso mesmo, também como uma barreira insuperável do seu pensamento. Para o
proletário, ao contrário, trata-se de superar internamente essa barreira do imediatismo
no ponto de partida, no momento em que assume seu ponto de vista. [...] Para o
proletariado, a barreira do imediatismo tornou-se uma barreira interna”. (p. 333-334)

“A tese da qual partimos, de que na sociedade capitalista o ser social é –


imediatamente – o mesmo para a burguesia e para o proletariado, permanece inalterada.
Porém, pode-se acrescentar que, por meio do motor dos interesses de classes, esse
mesmo ser mantém presa a burguesia nesse imediatismo, enquanto impele o
proletariado para além dele. Pois, no ser social do proletariado, revela-se
imperiosamente o caráter dialético do processo histórico e, por conseguinte, o caráter
mediado de cada fator, que obtém sua verdade, sua autêntica objetividade somente na
totalidade mediada. Para o proletariado, tomar consciência da essência dialética da sua
existência é uma questão de vida ou morte, enquanto a burguesia encobre a estrutura
dialética do processo histórico na vida cotidiana com as categorias abstratas de reflexão,
como a da quantificação, do progresso infinito etc., para então vivenciar catástrofes
imediatas nos momentos de transformação”. (p. 334)

O proletariado não se mantém nessa estrutura do ser social imediata porque o é


impelido para o mediatismo, por meio da sua real exploração qualitativa. A produção
irracional de mercadoria reduz todos os objetos à quantficação, a fim de facilitar a
maneira manipular, circular e consumir a totalidade de mercadorias no capitalismo. O
proletariado, por isso: “é objeto a sofrer um processo em que se transforma em
mercadoria e se reduz à simples quantidade”. (p. 337). Porém, sua exploração medida
pelo tempo no seu desenvolvimento desvela a sua forma qualitativa: “deve aparecer
para o trabalhador como categorias qualitativas e decisivas de toda sua existência física,
intelectual, moral etc.”. (p. 337). Se a redução da vida social às categorias da quantidade
se torna um modo de dominação da classe dominante, para o proletariado, tal redução
ao imediatismo do mundo não lhe afeta peremptoriamente, uma vez que a realidade
impõe a sua consciência a relação concreta com o mundo. A sistematização da
exploração pelo regime de produção incessante de mercadoria, do qual transforma o
trabalhador indivíduo em força de trabalho cambiável, se torna, sob o ponto de vista do
proletariado, mera abstração quantitativa da qualidade do real. Daí porque, para Lukács,
o proletariado se torna consciente de si quando percebe sua gênese na forma-
mercadoria:

“O trabalhador só pode tornar-se consciente do seu ser social se se tornar


consciente de si mesmo como mercadoria. Seu ser imediato o insere – como foi
mostrado – como objeto puro e simples no processo de produção. Quando esse
imediatismo se mostra como consequência de diversas mediações, quando começa a
ficar claro tudo o que esse imediatismo pressupõe, as formas fetichistas da estrutura das
mercadorias começam a desintegrar-se: o trabalhador reconhece a si mesmo e suas
próprias relações com o capital na mercadoria. Enquanto ele for incapaz na prática de se
elevar acima desse papel de objeto, sua consciência constituirá a autoconsciência da
mercadoria ou, expresso de modo diferente, o autoconhecimento, o autodesvendamento
da sociedade capitalista, fundada sobre a produção de mercadorias, sobre relações de
mercado.” (p. 340-341)

Sobre a dialética: “o método dialético distingue-se do pensamento burguês não


apenas pelo fato de ele ser capacitado para o conhecimento da totalidade, mas por este
conhecimento ser possível somente porque a relação do todo com as partes tornou-se
fundamentalmente diferente daquela existente no pensamento reflexivo. Dito de
maneira breve, a essência do método dialético – a partir desse ponto de vista – consiste
no fato de que a totalidade está compreendida em cada aspecto assimilado corretamente
pela dialética e de que todo o método pode desenvolver-se a partir de cada aspecto”. (p.
342-343)

Mas qual a especificidade da situação do proletariado? “Sua situação baseia-se


no fato de que a superação do imediatismo tem aqui uma intenção voltada para a
totalidade da sociedade – pouco importa se essa intenção permanece psicologicamente
consciente ou inconsciente de início. Tal é a razão pela qual – segundo a sua lógica –, a
consciência de classe não deve deter-se num estágio relativamente superior do
imediatismo que retorna, mas encontrar-se num movimento ininterrupto em direção a
essa totalidade, portanto, no processo dialético do imediatismo que se supera
constantemente”. (p. 349-350).

Por sua vez, “o efeito da categoria da totalidade manifesta-se muito tempo antes
que a multiplicidade completa dos objetos possa ser esclarecida por ela. Ela se impõe
precisamente quando essa intenção está presente na ação que, tanto por seu conteúdo
quanto em relação à consciência, parece reduzir-se à relação com objetos particulares,
ou seja, quando a ação, de acordo com seu sentido objetivo, está orientada para a
transformação da totalidade.” (p. 352). Daí a importância metodológica da dialética na
compreensão da história: seu exercício nos fornece a visão da formação da realidade em
sua estrutura objetiva, pois: “muito antes que os homens pudessem ter clareza sobre o
desaparecimento de uma determinada forma de economia e das formas sociais, jurídicas
etc., ligadas a ela, a contradição que se tornou manifesta apresenta-se nitidamente nos
objetos de sua ação cotidiana”. (p. 353).

Diferença entre Marx e Hegel: “o grande passo que o marxismo, como ponto de
vista científico do proletariado, dá em relação a Hegel consiste em compreender as
determinações da reflexão não como uma etapa ‘eterna’ da compreensão da realidade
em geral, mas como a forma de existência e pensamento necessária da sociedade
burguesa, da reificação do ser e do pensamento e, assim descobrir a dialética na própria
história. Nesse caso, portanto, dialética não é levada para dentro da história ou explicada
com o auxílio dela (como muito frequentemente ocorre em Hegel), mas antes
interpretada e tornada consciente a partir da própria história como sua forma necessária
de manifestação nessa etapa determinada do desenvolvimento”. (p. 356)

Marx não se utiliza da dialética para interpretar a história, mas percebe, antes, a
constituição dialética do próprio processo histórico da realidade, a partir do qual o
proletariado se insere e expressa tal negatividade imanente à estrutura social. A
consciência do proletariado sobre seu papel nesse processo histórico não poderia outro
senão a manifestação da dialética do próprio real, no qual ele mantém e perpetua. Mas:
“por um lado, essa consciência é apenas a expressão da necessidade histórica. O
proletariado ‘não tem um ideal a realizar’. Transporta para a prática, a consciência do
proletariado só pode criar aquilo que é impelido à decisão pela dialética histórica; na
‘prática’, porém, ela nunca deixa de considerar a marcha da história ou impingir-lhe
meros desejos ou conhecimentos. Pois ela mesma é apenas a contradição do
desenvolvimento social que se tornou consciente.” (p. 356)

“Por outro lado, no entanto, uma necessidade dialética não é de modo algum
idêntica a uma necessidade mecânica e causal. Na sequência da passagem acima citada,
Marx declara: a classe operária ‘tem de libertar (grifo meu) apenas os elementos da
nova sociedade que já se desenvolveram no seio da sociedade burguesa que se
desintegra. À mera contradição – ao produto automaticamente de acordo com as leis do
desenvolvimento capitalista – é preciso acrescentar algo de novo: a consciência do
proletariado que se torna ato. Porém, quando a simples contradição eleva-se por esse
meio em contradição dialética consciente, quando o processo de tornar-se consciente
transforma-se em ponto de passagem prático, o modo de ser já frequentemente
mencionado da dialética proletária mostra-se outra vez de maneira mais concreta: visto
que aqui a consciência não é a consciência de um objeto oposto a ela, mas a
autoconsciência do objeto, o ato de tornar-se consciente modificar a forma de
objetivação do seu objeto”. (p. 357)

Sobre a violência extra-econômica da burguesia e a violência do proletariado (p.


358-359)

Dialética marxista é essencialmente diferente da doutrina do devir de Heráclito,


pois, para este, o objeto permanece imóvel, enquanto que “o processo dialético em Marx
metamorfoseia as próprias formas de objetivação dos objetos num processo, num
fluxo”. (p. 361)

O quinto ponto do subcapítulo “O ponto de vista do proletariado” procura identificar a


singularidade da concepção de história e de homem para o materialismo histórico contra
as filosofias do materialismo, do relativismo e a social democracia.

“E a história consiste justamente no fato de que toda fixação reduz-se a uma aparência:
a história é exatamente a história da transformação ininterrupta das formas de
objetivação que moldam a existência do homem” (p. 371)

“Somente a dialética história cria aqui uma situação radicalmente nova. Não apenas
porque nela os limites relativizaram-se a si mesmos, ou melhor, tornaram-se fluídos;
não apenas porque todas aquelas formas de existência, cuja contraparte conceitual é o
absoluto em suas diferentes formas, são dissolvidas em processos e compreendidas
como manifestações concretas da história – de modo que o absoluto não é negado
abstratamente, mas compreendido em sua figura histórica concreta, como momento do
próprio processo –, mas também porque o processo histórico, em seu caráter único, em
sua aspiração dialética progressiva e em seus revezes dialéticos é uma luta ininterrupta
pelos níveis mais elevados da verdade, do autoconhecimento (social) do homem”.
(p.375)

“Em Marx, a dialética torna-se a própria essência do processo histórico, esse movimento
de pensamento aparece igualmente apenas como uma parte de todo o movimento da
história. A história torna-se a história das formas de objetivação que constituem o
ambiente e o mundo interior do homem, os quais ele se esforça para dominar no
pensamento, na prática, nas artes etc. (Enquanto isso, o relativismo trabalha sempre com
formas de objetivação rígidas e imutáveis)”. (p. 376)

Somente a classe pode referir-se à totalidade de maneira prática e revolucionária, e


nunca o indivíduo: “o indivíduo nunca pode se tornar a medida das coisas, pois
contrapõe-se necessariamente à realidade objetiva como a um complexo de coisas
rígidas, prontas e inalteradas, que lhe permitem alcançar apenas o juízo subjetivo do
reconhecimento ou da rejeição. Somente a classe (e não a ‘espécie’, que não passa de
um indivíduo contemplativo, estilizado e transformado em mito) é capaz de referir-se à
totalidade da realidade de maneira prática e revolucionária”. (p. 383)

“Com a ideologia socialdemocrata, o proletariado recai em todas as antinomias da


reificação, analisadas anteriormente em detalhes. O fato de o princípio ‘do homem’
como valor, como ideal, como dever etc. desempenhar um papel cada vez mais forte
justamente nessa ideologia – ao mesmo tempo, é claro, com um ‘discernimento’
crescente da necessidade e da legalidade do acontecimento econômico-factual – é
apenas um sintoma dessa recaída no imediatismo reificado da sociedade burguesa. Pois
a justaposição imediata das leis naturais e do dever são a expressão intelectual mais
coerente do ser social imediato na sociedade burguesa”. (p. 390-391)
Que é reificação?

“A reificação é, portanto, a realidade imediata e necessária para todo homem que vive
no capitalismo, e só pode ser superada por um esforço constante e sempre renovado
para romper na prática a estrutura reificada da existência, mediante uma referência
concreta às contradições que se manifestam concretamente no desenvolvimento global,
e com a conscientização do sentido imanente dessas contradições para a totalidade do
desenvolvimento”. (p. 391)

Como é possível romper com a reificação?

“Esse rompimento é possível apenas como conscientização das contradições imanentes


do próprio processo. Apenas quando a consciência do proletariado é capaz de indicar
o caminho para o qual concorre objetivamente a dialética do desenvolvimento, sem no
entanto poder cumpri-lo em virtude da sua própria dinâmica, consciência do próprio
processo; somente então o proletariado surgirá comomo sujeito-objeto idêntico da
história, e a sua práxis se tornará uma transformação da realidade.” (p. 391)

A ação do proletariado consiste em dar o passo seguinte do processo de


desenvolvimento objetivo da história: “se o proletariado for incapaz de dar esse passo, a
contradição permanecerá sem solução e será reproduzida numa potência superior, sob
uma figura modificada, pela mecânica dialética do desenvolvimento com intensidade
reforçada. Nisso consiste a necessidade objetiva do processo de desenvolvimento. A
ação do proletariado só pode ser, portanto, a execução prática e concreta do passo
seguinte do desenvolvimento. O caráter ‘decisivo’ ou ‘episódico’ deste passo depende
das circunstâncias concretas; mas nesse contexto, que trata do conhecimento da
estrutura, isso não tem uma importância determinante, visto que a questão principal se
refere a um processo ininterrupto de tais rupturas”. (p. 391-391)

Como a ação se relaciona com a totalidade?

“A relação com a totalidade não exige que a plenitude extensiva dos conteúdos esteja
conscientemente integrada nos motivos e nos objetos da ação. O importante é que haja
uma intenção voltada para a totalidade, que a ação cumpra a função – descrita acima –
na totalidade do processo”. (p. 392)
“O pensamento do proletariado, enquanto pensamento prático, é fortemente
pragmático”. (p. 393).

Marx quem resolveu o problema entre pensamento e ser com a transformação da


filosofia em prática.

“Reconhecer que não se pode banhar duas vezes no mesmo rio é apenas uma expressão
mais extrema da oposição intransponível entre conceito e realidade, mas que não
acrescenta nada de concreto ao conhecimento do rio. EM contrapartida, reconhecer que
o capital como processo só pode ser capital acumulado ou, para dizer melhor, capital
que acumula as i mesmo significa resolver coreta e positivamente um quantidade de
problemas concretos e positivos do capital no que concerne ao conteúdo e ao método.
Portanto, apenas quando a dualidade – teórico – entre filosofia e ciência específica,
entre metodologia e conhecimento dos fatos é superada, pode abrir-se o caminho para a
anulação intelectual da dualidade entre pensamento e ser.” (p. 401)

“Mas nunca se deve esquecer que ‘apenas a consciência de classe do proletariado, que
se tornou prática, possui essa função transformadora”. (p. 404).

“O pensamento proletário é, antes de tudo, apenas uma teoria da práxis, para então
metamorfosear-se gradualmente (é verdade que muitas vezes aos saltos) numa teoria
prática que revoluciona a realidade. Somente as etapas individuais desse processo –
cujo esboço não cabe aqui – poderiam mostrar com clareza como a consciência de
classe do proletariado (da constituição do proletariado em classe) evolui dialeticamente.
Somente então se esclareceriam as íntimas ações recíprocas e dialéticas entre a situação
histórico-social objetiva e a consciência de classe do proletariado; somente então se
concretizariam efetivamente a constatação de que o proletariado é o sujeito-objeto do
processo social de desenvolvimento” (p. 405-406)

“Pois mesmo o proletariado só é capaz de tal superação da reificação na medida em que


se comporta efetivamente de maneira prática”. (p. 406)

“No que diz respesito à consciência do proletariado, o desenvolvimento funciona de


maneira ainda menos automática: para o proletariado, vale em medida crescente aquilo
que o antigo materialismo mecânico crescente naquilo que o antigo materialismo
mecânico e intuitivo não podia compreender, ou seja, que a transformação e a
emancipação só podem ser seu próprio ato, ‘que o próprio educador tem de ser
educado’. O desenvolvimento econômico objetivo foi capaz apenas de criar a
posição do proletariado no processo de produção. Tal posição determinou seu ponto
de vista. Mas o desenvolvimento objetivo só conseguiu colocar ao alcance do
proletariado a possibilidade e a necessidade de transformar a sociedade. No entanto,
essa transformação só pode ser o ato – livre – do próprio proletariado”. (p. 410-
411).

Classe significa a totalidade do sujeito:

“A totalidade só pode ser determinada se o sujeito que a determina é ele mesmo uma
totalidade; e se o sujeito deseja compreender a si mesmo, ele tem de pensar o objeto
como totalidade. Somente as classes representam esse ponto de vista da totalidade como
sujeito na sociedade moderna.” (p. 107)

“A superioridade metódica e científica do ponto de vista da classe (em oposição ao do


indivíduo) já foi esclarecida no que precede. Agora é também o fundamento dessa
superioridade que se torna claro: somente a classe, por sua ação, pode penetrar a
realidade social e transformá-la em sua totalidade. Por isso, por ser a consideração da
totalidade, a ‘crítica’ que se exerce a partir desse ponto de vista é a unidade dialética da
teoria e da práxis. Ela é, numa unidade dialética indissolúvel, ao mesmo tempo
fundamento e consequência, reflexo e motor do processo histórico-dialético. O
proletariado, como sujeito do pensamento da sociedade, rompe de um só golpe o dilema
da impotência, isto é, o dilema do fatalismo das leis puras e da ética das intenções
puras”. (p. 125)

Revolução significa, por isso, a unidade entre teoria e prática:

“Se, portanto, para o marxismo, o conhecimento do caráter historicamente limitado do


capitalismo (o problema da acumulação) torna-se uma questão vital, é porque somente
esse elo, a unidade da teoria e da prática, pode fazer manifestar como fundamentado a
necessidade da revolução social, da transformação total da totalidade da sociedade”. (p.
125)

Proletariado é produto da crise (p. 127)

O partido é a forma de consciência de classe proletária:


“O nível do processo histórico que imprime à consciência de classe do proletariado um
caráter de exigência, um caráter ‘latente e teórico’, deve se transformar em realidade
correspondente e, enquanto tal, intervir de maneira ativa na totalidade do processo. Essa
forma da consciência de classe proletária é o partido”. (p. 127).

“Rosa Luxemburgo reconheceu cedo que a organização é, antes, uma consequência do


que uma condição prévia do processo revolucionário, do mesmo modo como o
proletariado só pode se constituir em classe no processo e por ele. Nesse processo, que o
partido não pode nem provocar, nem evitar, cabe, portanto, ao partido o papel elevado
de ser o portador da consciência de classe do proletariado, a consciência de sua
missão histórica”. (p. 128)

“A consciência de classe é a ‘ética’ do proletariado, a unidade de sua teoria e de sua


práxis, o ponto em que a necessidade econômica de sua luta emancipadora se
transforma dialeticamente em liberdade. Uma vez reconhecido o partido como forma
histórica e portador ativo da consciência de classe, ele se torna, ao mesmo tempo, o
portador da ética do proletariado em luta.” (p. 129)

“Pois a força do partido é uma força moral: ela é alimentada pela confiança das massas
espontaneamente revolucionárias, coagidas pela evolução econômica a sublevar-se, pelo
sentimento das massas de que o partido é a objetivação de sua vontade mais íntima,
ainda que não inteiramente clara para si mesmas, a forma visível e organizada de sua
consciência de classe. Somente depois que o partido lutar por essa confiança e merecê-
la poderá tornar-se um líder da revolução. Pois somente então o impulso espontâneo das
massas tenderá, com toda a sua energia e cada vez mais instintivamente, na direção do
partido e de sua própria tomada de consciência”. (p. 130)

“A relação com a totalidade concreta e as determinações dialéticas dela resultantes


superam a simples descrição e chega-se à categoria da possibilidade objetiva. Ao se
relacionar a consciência com a totalidade da sociedade, torna-se possível reconhecer os
pensamentos e os sentimentos que os teriam tido numa determinada situação da sua
vida, se tivessem sido capazes de compreender perfeitamente essa situação e os
interesses dela decorrentes, tanto em relação à ação imediata, quanto em relação à
estrutura de toda a sociedade conforme esses interesses”. (p. 141)
Consciência de classe é consciência adjudicada voltada à totalidade:

“Ora, a reação racional adequada, que deve ser adjudicada a uma situação típica
determinada no processo de produção, é a consciência de classe. Essa consciência não é,
portanto, nem a soma, nem a média do que cada um dos indivíduos que formam a classe
pensam, sentem etc. E, no entanto, a ação historicamente decisiva da classe como
totalidade é determinada, em última análise, por essa consciência e não pelo pensamento
do indivíduo; essa ação só pode ser conhecida a partir dessa consciência”. (p. 142)

“Portanto, do ponto de vista abstrato e formal, a consciência de classe é, ao mesmo


tempo, uma inconsciência, determinada conforme a classe, de sua própria situação
econômica, histórica e social”. (p. 143).

“A vocação de uma classe para a dominação significa que é possível, a partir dos seus
interesses e da sua consciência de classe, organizar o conjunto da sociedade conforme
esses interesses”. (p. 144)

“O destino de uma classe depende da sua capacidade de esclarecer e resolver, em todas


as suas decisões práticas, os problemas que lhe impõe a evolução histórica”. (p. 146)

A economia não havia anunciado a dominação da sociedade nas sociedades pré-


capitalistas. Daí o materialismo histórico não ter nascido:

“Por conseguinte, a relação entre a consciência de classe e a história é totalmente


diferente nas épocas pré-capitalistas e na capitalista. Pois, nas primeiras, as classes só
podiam ser retiradas da realidade histórica imediatamente dada por intermédio da
interpretação da história operada pelo materialismo histórico, enquanto no capitalismo
as classes são essa realidade imediata e histórica.” (p.154-155)

“Com o capitalismo, o desaparecimento das estruturas estamentais e com a constituição


de uma sociedade com articulações puramente econômicas, a consciência de classe
chegou ao estágio em que pôde se tornar consciente.” (p. 156)

Definição de “classe” em 18 brumário (p. 158)

“Consciência de classe e interesse de classe encontram-se, também na burguesia, numa


relação de oposição, de objeção. Esse antagonismo não é contraditório, mas dialético.”
(p. 160)
Os limites da consciência de classe da burguesia são os limites da produção capitalista:

“Assim, os limites objetivos da produção capitalista tornam-se os limites da consciência


de classe da burguesia. Ao contrário das antigas formas ‘naturais e conservadoras’ de
dominação, que deixaram intocadas as formas de produção de largas camadas dos
dominados e por isso aturam de maneira predominantemente tradicional e não
revolucionária, o capitalismo é uma forma de produção revolucionária por excelência.
Sendo assim, essa necessidade de os limites econômicos objetivos do sistema
permanecerem inconscientes manifesta-se como uma contradição interna e dialética na
consciência de classe. Dito de outra forma, a consciência de classe da burguesia está
formalmente preparada para uma consciência econômica. Com efeito, o grau mais
elevado de inconsciência, a forma mais crassa da ‘falsa consciência’ manifesta-se
sempre na ilusão exacerbada de dominar conscientemente os fenômenos econômicos.
Do ponto de vista da relação da consciência com o conjunto dos fenômenos sociais, essa
contradição se exprime na oposição insuperável entre ideologia e fundamento
econômico. A dialética dessa consciência de classe baseia-se na oposição insuperável
entre o indivíduo (capitalista), o indivíduo segundo o esquema do capitalista individual
e o processo ‘natural’ e inevitável de desenvolvimento, isto é, não passível por princípio
de ser dominado pela consciência; essa dialética leva, assim, teoria e práxis a uma
oposição intransponível. De uma maneira, contudo, que não admite dualidade pacífica,
mas tende constantemente à unificação de princípios divergentes, provocando sem
cessar uma oscilação entre a ‘falsa’ união e o dilaceramento catastrófico.” (p. 164-165)

“O trágico e o dialético da situação de classe da burguesia revela-se no fato de que não


somente é do seu interesse, mas é até mesmo uma necessidade imprescindível para ela
adquirir, sobre cada questão particular, uma consciência tão clara quanto possível dos
seus interesses de classe, mas que se torna fatal para ela, se ela mesma consciência se
estender à questão da totalidade”. (p. 167) “Mas, para a própria burguesia, a
dissimulação da essência da sociedade burguesa também é uma necessidade vital”. (p.
167).

“Quando o Manifesto comunista salienta que a burguesia produz seus próprios coveiros,
isso é correto não apenas no plano econômico, mas também no plano ideológico”. (p.
168).
Proletariado é superior à burguesia:

“A superioridade do proletariado em relação à burguesia, que, aliás, é superior ao


primeiro sob todos os pontos de vista (intelectual, organizacional etc.), reside
exclusivamente no fato de ser capaz de considerar a sociedade a partir do seu centro,
como um todo coerente e, por isso, agir de maneira centralizada, modificando a
realidade; no fato de, para sua consciência de classe, teoria e práxis coincidirem e
também, por conseguinte, de poder lançar conscientemente sua própria ação na balança
do desenvolvimento social como fator decisivo.” (p. 172)

“O proletário deve agir de maneira proletária, mas sua própria teoria marxista vulgar lhe
obstrui a visão do caminho correto”. (p. 173)

Revolução e proletariado:

“Quando o instante da passagem ao ‘reino da liberdade’ é dado de modo objetivo, isso


se manifesta com mais precisão no fato de as forças cegas impelirem para o abismo de
uma forma realmente cega, com uma violência cada vez maior e aparentemente
irresistível, e apenas a vontade consciente do proletariado pode proteger a humanidade
de uma catástrofe. Em outros termos, desde que a crise econômica final do capitalismo
entrou em cena, o destina da revolução (e com ela o da humanidade) depende da
maturidade ideológica do proletariado, da sua consciência de classe”. (p. 174)

“Assim é definida a função única da consciência de classe para o proletariado, em


oposição à função para outras classes. Justamente porque é impossível para o
proletariado libertar-se como classe sem suprimir a sociedade de classes em geral, sua
consciência, que é a última consciência de classe na história da humanidade, deve
coincidir, de um lado, com o desvendamento da essência da sociedade e, de outro,
tornar-se uma unidade cada vez mais íntima da teoria e da práxis. Para o proletariado,
sua ideologia não é uma ‘bandeira’ de luta, nem um pretexto para as próprias
finalidades, mas é a finalidade e a arma por excelência. Toda tática proletária sem
princípios rebaixa o materialismo histórico à mera ‘ideologia’, impõe ao proletariado
um método de luta burguês (ou pequeno-burguês); despoja-o de suas melhores forças ao
atribuir à sua consciência de classe o papel de uma consciência burguesa, papel simples
acompanhamento ou de inibição (isto é, de inibição apenas para o proletariado), em vez
da função motriz determinada à consciência proletária”. (p. 174-175).
Revolução do proletariado só pode ser consciente:

“Como o proletariado é colocado pela história diante da tarefa de uma transformação


consciente da sociedade, surge necessariamente em sua consciência de classe a
contradição dialética entre o interesse imediato e o fim último, entre o fator individual e
a totalidade. Pois o fator individual do processo, a situação concreta com suas
exigências concretas são, por sua própria essência, imanentes à sociedade capitalista
presente, encontram-se sob suas leis, estão submetidos à estrutura econômica. Somente
quando inseridos na visão geral do processo e relacionados à meta final, esses fatores
apontam de maneira concreta e consciente para além da sociedade capitalista e se
tornam revolucionários. Para s consciência de classe do proletariado, porém,
subjetivamente isso significa que a relação dialética entre o interesses imediato e a
influencia objetiva sobre a totalidade da sociedade é transferida para a própria
consciência do proletariado, em vez de desenrolar-se como para todas as classes
anteriores – como um processo puramente objetivo para além da consciência
(adjudicada).” (p. 176-177)

Revolução proletária é distinta das revoluções anteriores:

“A vitória revolucionária do proletariado não é, portanto, como para as classes


anteriores, a realização imediata do ser socialmente dado da classe, mas, como já
reconhecera e enfatizara vivamente o jovem Marx, é seu auto-aniquilamento. O
Manifesto comunista formula essa diferença da seguinte maneira: ‘todas as classes
anteriores que tomaram o poder buscavam assegurar sua posição já conquistada,
submetendo toda a sociedade às condições de sua conquista. Os proletários só podem
tomar para si as forças produtivas da sociedade abolindo o modo de apropriação que
utilizavam até então e, assim, todo o antigo modo de apropriação”. (p. 177).

Como solucionar a contradição e desvelar a consciência de classe?

“Enquanto na consciência de classe da burguesia até mesmo as constatações corretas de


fatos particulares ou de aspectos do desenvolvimento revelava, por sua relação com a
totalidade da sociedade, os limites da consciência e se desmascaravam como ‘falsa’
consciência, na ‘falsa’ consciência do proletariado e nos seus erros reais, há uma
intenção orientada para o verdadeiro. [...] Somente dessa maneira a contradição na
consciência de classe do proletariado pode ser solucionada e, ao mesmo tempo, tornar-
se um fator consciente da história. Pois a intenção objetiva, orientada para o verdadeiro,
que é inerente até mesmo à ‘falsa’ consciência do proletariado, não significa de modo
algum que ela possa vir à luz por si mesma, sem a ação ativa do proletariado. Pelo
contrário, somente pela intensificação do seu caráter consciente, pela ação e pela
autocrítica conscientes, surge, a partir da mera intenção dirigida para o verdadeiro e
despindo-o de suas máscaras, o conhecimento efetivamente verdadeiro, historicamente
significativo e socialmente revolucionário.” (p. 178-179).

No entanto, esse conhecimento significa somente a possibilidade, e não a solução da


ação do proletariado: “certamente, esse conhecimento seria impossível se essa intenção
objetiva não estivesse em seu fundamento, e aqui que se confirmam as palavras de
Marx, segundo as quais ‘a humanidade só se coloca tarefas que pode resolver’. Mas
aqui é dada somente a possibilidade. A própria solução só pode ser o fruto da ação
consciente do proletariado. Essa mesma estrutura da consciência, sobre a qual repousa a
missão histórica do proletariado, o fato de apontar para além da sociedade existente
provoca nela a cisão dialética”. (p. 179).

“O que nas outras classes aparecia como oposição entre o interesse de classe e o
interessa ad sociedade, entre a ação individual e suas consequências sociais etc., ou seja,
como limite externo da consciência, transfere-se agora para o interior da própria
consciência de classe proletária como oposição entre o interesse momentâneo e o fim
último. Portanto, é a superação interna dessa cisão dialética que possibilita a vitória
exterior do proletariado na luta de classes.” (p. 179)

Assim, o que significa “consciência de classe”?

“É justamente essa cisão [entre consciência imediata e visão geral do processo] que
oferece uma via para compreender – como foi sublinhado na citação – que a consciência
de classe não é a consciência psicológica de cada proletário ou a consciência
psicológica de massa do seu conjunto, mas o sentido, que se tornou consciente, da
situação histórica da classe. O interesse individual momentâneo, no qual esse sentido
se objetiva aos poucos, só pode ser omitido ao preço de se fazer a luta de classe do
proletariado retroceder ao nível mais primitivo do utopismo.” (p. 179)

“A origem de todo oportunismo está justamente em partir dos efeitos e não das causas,
das partes e não do todo, dos sintomas e não do fato em si; em ver no interesse
particular e na luta por sua realização não um meio de educação em vista do combate
final, cujo resultado depende da aproximação da consciência psicológica em relação à
consciência adjudicada, mas algo valioso em si e por si ou, pelo menos, algo que em si e
por si caminha em direção ao objetivo; numa palavra, está em confundir o verdadeiro
estado de consciência psicológica dos proletários com a consciência de classe do
proletariado.”. (p. 180)

Esse oportunismo “visa a impedir que a consciência de classe do proletariado avance do


simples dado psicológico à adequação ao desenvolvimento objetivo em seu conjunto,
visa a reduzir a consciência de classe do proletariado ao nível de um dado psicológico
e,assim, dar orientação contrária ao movimento dessa consciência de classe, até então
apenas instintivamente existente”. (p. 183).

“Somente a consciência do proletariado pode mostrar a saída para a crise do


capitalismo.” (p. 183) “Pois o proletariado não pode furtar-se à sua vocação. Trata-se de
saber apenas quanto deve sofrer ainda antes de alcançar a maturidade ideológica, o
conhecimento correto de sua situação de classe, a consciência de classe”. (p. 184)

Consciência e proletariado no jovem Marx:

“O empenho filosófico do jovem Marx orientava-se, em grande medida, no sentido de


refutar as diversas teorias equivocadas da consciência (tanto a teoria ‘idealista’ da
escola hegeliana quanto a ‘materialista’ de Feuerbach) e alcançar uma concepção
correta sobre o papel da consciência na história. Já a correspondência de 1843 concebe
a consciência como imanente ao desenvolvimento. A consciência não está além do
desenvolvimento histórico real. Não deve ser introduzida no mundo somente pelo
filósofo; o filósofo não tem, portanto, o direito de lançar um olhar arrogante sobre as
pequenas lutas do mundo e de desprezá-las. Mostramos-lhe simplesmente [ao mundo] o
porquê da sua luta na realidade, e a consciência é algo que ele tem de adquirir, mesmo
que não queira’. Trata-se então somente de ‘explicar-lhes suas próprias ações’. (p. 186)

“A teoria objetiva da consciência de classe é a teoria da sua possibilidade objetiva”.


(p. 189)

“Portanto, nunca se deve ignorar a distância que separa o nível de consciência dos
operários mais revolucionários da verdadeira consciência de classe do proletariado. Mas
essa situação objetiva também é explicada a partir da doutrina marxista da luta de
classes e da consciência de classe. O proletariado se realiza somente ao negar a si
mesmo, ao criar a sociedade sem classes levando até o fim a luta de classes. A luta por
essa sociedade, em que a ditadura do proletariado não passa de uma fase, não é uma luta
somente contra o inimigo exterior, a burguesia; é também, ao mesmo tempo, a luta do
proletariado consigo mesmo: contra os efeitos devastadores e aviltantes do sistema
capitalista sobre sua consciência de classe. O proletariado somente alcançará a vitória
quando superar em si mesmo esses efeitos. A separação de domínios isolados, que
deveriam estar reunidos, os diferentes níveis de consciência que o proletariado atingiu
até então nas diferentes áreas são uma medida precisa do que ele alcançou e do que resta
a conquistas. O proletariado não deve temer nenhuma autocrítica, pois somente a
verdade pode trazer sua vitória, e a autocrítica deve ser, por isso, seu elemento vital.” (p.
191)

Luta contra o capitalismo é também uma luta pela consciência social:

“O proletariado combateu o capitalismo obrigando a sociedade burguesa a um


autoconhecimento que inevitavelmente a fazia aparecer como proeblmática a partir do
seu interior. Paralelamente à luta científica, foi travada uma luta pela consciência da
sociedade equivale, porém, à possibilidade de conduzir a sociedade. O proletariado
conquista a vitória em suas lutas de classe não apenas na esfera do poder, mas
simultaneamente nessa luta pela consciência social, quando, a partir dos últimos
cinquenta ou sessenta anos, decompõe em linha crescente a ideologia burguesa e
desenvolve sua própria consciência como a única consciência social adequada.” (p.
421).

“Natureza” é uma categoria social:

“A natureza é uma categoria social. Em outras palavras, aquilo que, num determinado
estágio do desenvolvimento social, é considerado como natureza, o modo como é
constituída a relação dessa natureza com o homem e a forma sob a qual ocorre o
confronto deste com aquela, ou seja, o que a natureza deve significar quando à sua
forma e ao seu conteúdo, à sua extensão e à sua objetivação, é sempre condicionado
socialmente.” (p. 431)
“Exatamente na medida em que o capitalismo efetuou a socialização de todas as
relações, tornou-se possível atingir um autoconhecimento, o autoconhecimento
verdadeiro e concreto do homem como ser social”. (p. 436)

Visão sobre o futuro, em Marx, não pertence ao método dialético, mas a um


esclarecimento da reificação do capital. (p. 454)

A revolução política sanciona a realidade econômica. (p. 468)

Legalidade e ilegalidade:

“O proletariado russo conduziu sua revolução vitoriosamente não porque circunstâncias


felizes colocaram o poder em suas mãos (tal como correu com o proletariado alemão em
1918 e com o húngaro na mesma época e em março de 1919), mas porque ganhou força
em longas lutas ilegais, compreendeu claramente a essência do Estado capitalista e
ajustou suas ações à realidade efetiva, e não a ilusões ideológicas. O proletariado da
Europa central e ocidental ainda tem um duro caminho pela frente. Para chegar à
consciência de sua vocação histórica e à legitimidade do seu domínio vencendo todas as
resistências, ele precisa, antes de tudo, aprender a compreender o caráter meramente
tático da legalidade e da ilegalidade e afastar tanto o cretinismo legal quanto o
romantismo da ilegalidade.” (p. 487)

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