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“Para a burguesia, seu método ascende diretamente do seu ser social, o que
significa que o simples imediatismo adere ao seu pensamento como algo exterior, mas,
por isso mesmo, também como uma barreira insuperável do seu pensamento. Para o
proletário, ao contrário, trata-se de superar internamente essa barreira do imediatismo
no ponto de partida, no momento em que assume seu ponto de vista. [...] Para o
proletariado, a barreira do imediatismo tornou-se uma barreira interna”. (p. 333-334)
Por sua vez, “o efeito da categoria da totalidade manifesta-se muito tempo antes
que a multiplicidade completa dos objetos possa ser esclarecida por ela. Ela se impõe
precisamente quando essa intenção está presente na ação que, tanto por seu conteúdo
quanto em relação à consciência, parece reduzir-se à relação com objetos particulares,
ou seja, quando a ação, de acordo com seu sentido objetivo, está orientada para a
transformação da totalidade.” (p. 352). Daí a importância metodológica da dialética na
compreensão da história: seu exercício nos fornece a visão da formação da realidade em
sua estrutura objetiva, pois: “muito antes que os homens pudessem ter clareza sobre o
desaparecimento de uma determinada forma de economia e das formas sociais, jurídicas
etc., ligadas a ela, a contradição que se tornou manifesta apresenta-se nitidamente nos
objetos de sua ação cotidiana”. (p. 353).
Diferença entre Marx e Hegel: “o grande passo que o marxismo, como ponto de
vista científico do proletariado, dá em relação a Hegel consiste em compreender as
determinações da reflexão não como uma etapa ‘eterna’ da compreensão da realidade
em geral, mas como a forma de existência e pensamento necessária da sociedade
burguesa, da reificação do ser e do pensamento e, assim descobrir a dialética na própria
história. Nesse caso, portanto, dialética não é levada para dentro da história ou explicada
com o auxílio dela (como muito frequentemente ocorre em Hegel), mas antes
interpretada e tornada consciente a partir da própria história como sua forma necessária
de manifestação nessa etapa determinada do desenvolvimento”. (p. 356)
Marx não se utiliza da dialética para interpretar a história, mas percebe, antes, a
constituição dialética do próprio processo histórico da realidade, a partir do qual o
proletariado se insere e expressa tal negatividade imanente à estrutura social. A
consciência do proletariado sobre seu papel nesse processo histórico não poderia outro
senão a manifestação da dialética do próprio real, no qual ele mantém e perpetua. Mas:
“por um lado, essa consciência é apenas a expressão da necessidade histórica. O
proletariado ‘não tem um ideal a realizar’. Transporta para a prática, a consciência do
proletariado só pode criar aquilo que é impelido à decisão pela dialética histórica; na
‘prática’, porém, ela nunca deixa de considerar a marcha da história ou impingir-lhe
meros desejos ou conhecimentos. Pois ela mesma é apenas a contradição do
desenvolvimento social que se tornou consciente.” (p. 356)
“Por outro lado, no entanto, uma necessidade dialética não é de modo algum
idêntica a uma necessidade mecânica e causal. Na sequência da passagem acima citada,
Marx declara: a classe operária ‘tem de libertar (grifo meu) apenas os elementos da
nova sociedade que já se desenvolveram no seio da sociedade burguesa que se
desintegra. À mera contradição – ao produto automaticamente de acordo com as leis do
desenvolvimento capitalista – é preciso acrescentar algo de novo: a consciência do
proletariado que se torna ato. Porém, quando a simples contradição eleva-se por esse
meio em contradição dialética consciente, quando o processo de tornar-se consciente
transforma-se em ponto de passagem prático, o modo de ser já frequentemente
mencionado da dialética proletária mostra-se outra vez de maneira mais concreta: visto
que aqui a consciência não é a consciência de um objeto oposto a ela, mas a
autoconsciência do objeto, o ato de tornar-se consciente modificar a forma de
objetivação do seu objeto”. (p. 357)
“E a história consiste justamente no fato de que toda fixação reduz-se a uma aparência:
a história é exatamente a história da transformação ininterrupta das formas de
objetivação que moldam a existência do homem” (p. 371)
“Somente a dialética história cria aqui uma situação radicalmente nova. Não apenas
porque nela os limites relativizaram-se a si mesmos, ou melhor, tornaram-se fluídos;
não apenas porque todas aquelas formas de existência, cuja contraparte conceitual é o
absoluto em suas diferentes formas, são dissolvidas em processos e compreendidas
como manifestações concretas da história – de modo que o absoluto não é negado
abstratamente, mas compreendido em sua figura histórica concreta, como momento do
próprio processo –, mas também porque o processo histórico, em seu caráter único, em
sua aspiração dialética progressiva e em seus revezes dialéticos é uma luta ininterrupta
pelos níveis mais elevados da verdade, do autoconhecimento (social) do homem”.
(p.375)
“Em Marx, a dialética torna-se a própria essência do processo histórico, esse movimento
de pensamento aparece igualmente apenas como uma parte de todo o movimento da
história. A história torna-se a história das formas de objetivação que constituem o
ambiente e o mundo interior do homem, os quais ele se esforça para dominar no
pensamento, na prática, nas artes etc. (Enquanto isso, o relativismo trabalha sempre com
formas de objetivação rígidas e imutáveis)”. (p. 376)
“A reificação é, portanto, a realidade imediata e necessária para todo homem que vive
no capitalismo, e só pode ser superada por um esforço constante e sempre renovado
para romper na prática a estrutura reificada da existência, mediante uma referência
concreta às contradições que se manifestam concretamente no desenvolvimento global,
e com a conscientização do sentido imanente dessas contradições para a totalidade do
desenvolvimento”. (p. 391)
“A relação com a totalidade não exige que a plenitude extensiva dos conteúdos esteja
conscientemente integrada nos motivos e nos objetos da ação. O importante é que haja
uma intenção voltada para a totalidade, que a ação cumpra a função – descrita acima –
na totalidade do processo”. (p. 392)
“O pensamento do proletariado, enquanto pensamento prático, é fortemente
pragmático”. (p. 393).
“Reconhecer que não se pode banhar duas vezes no mesmo rio é apenas uma expressão
mais extrema da oposição intransponível entre conceito e realidade, mas que não
acrescenta nada de concreto ao conhecimento do rio. EM contrapartida, reconhecer que
o capital como processo só pode ser capital acumulado ou, para dizer melhor, capital
que acumula as i mesmo significa resolver coreta e positivamente um quantidade de
problemas concretos e positivos do capital no que concerne ao conteúdo e ao método.
Portanto, apenas quando a dualidade – teórico – entre filosofia e ciência específica,
entre metodologia e conhecimento dos fatos é superada, pode abrir-se o caminho para a
anulação intelectual da dualidade entre pensamento e ser.” (p. 401)
“Mas nunca se deve esquecer que ‘apenas a consciência de classe do proletariado, que
se tornou prática, possui essa função transformadora”. (p. 404).
“O pensamento proletário é, antes de tudo, apenas uma teoria da práxis, para então
metamorfosear-se gradualmente (é verdade que muitas vezes aos saltos) numa teoria
prática que revoluciona a realidade. Somente as etapas individuais desse processo –
cujo esboço não cabe aqui – poderiam mostrar com clareza como a consciência de
classe do proletariado (da constituição do proletariado em classe) evolui dialeticamente.
Somente então se esclareceriam as íntimas ações recíprocas e dialéticas entre a situação
histórico-social objetiva e a consciência de classe do proletariado; somente então se
concretizariam efetivamente a constatação de que o proletariado é o sujeito-objeto do
processo social de desenvolvimento” (p. 405-406)
“A totalidade só pode ser determinada se o sujeito que a determina é ele mesmo uma
totalidade; e se o sujeito deseja compreender a si mesmo, ele tem de pensar o objeto
como totalidade. Somente as classes representam esse ponto de vista da totalidade como
sujeito na sociedade moderna.” (p. 107)
“Pois a força do partido é uma força moral: ela é alimentada pela confiança das massas
espontaneamente revolucionárias, coagidas pela evolução econômica a sublevar-se, pelo
sentimento das massas de que o partido é a objetivação de sua vontade mais íntima,
ainda que não inteiramente clara para si mesmas, a forma visível e organizada de sua
consciência de classe. Somente depois que o partido lutar por essa confiança e merecê-
la poderá tornar-se um líder da revolução. Pois somente então o impulso espontâneo das
massas tenderá, com toda a sua energia e cada vez mais instintivamente, na direção do
partido e de sua própria tomada de consciência”. (p. 130)
“Ora, a reação racional adequada, que deve ser adjudicada a uma situação típica
determinada no processo de produção, é a consciência de classe. Essa consciência não é,
portanto, nem a soma, nem a média do que cada um dos indivíduos que formam a classe
pensam, sentem etc. E, no entanto, a ação historicamente decisiva da classe como
totalidade é determinada, em última análise, por essa consciência e não pelo pensamento
do indivíduo; essa ação só pode ser conhecida a partir dessa consciência”. (p. 142)
“A vocação de uma classe para a dominação significa que é possível, a partir dos seus
interesses e da sua consciência de classe, organizar o conjunto da sociedade conforme
esses interesses”. (p. 144)
“Quando o Manifesto comunista salienta que a burguesia produz seus próprios coveiros,
isso é correto não apenas no plano econômico, mas também no plano ideológico”. (p.
168).
Proletariado é superior à burguesia:
“O proletário deve agir de maneira proletária, mas sua própria teoria marxista vulgar lhe
obstrui a visão do caminho correto”. (p. 173)
Revolução e proletariado:
“O que nas outras classes aparecia como oposição entre o interesse de classe e o
interessa ad sociedade, entre a ação individual e suas consequências sociais etc., ou seja,
como limite externo da consciência, transfere-se agora para o interior da própria
consciência de classe proletária como oposição entre o interesse momentâneo e o fim
último. Portanto, é a superação interna dessa cisão dialética que possibilita a vitória
exterior do proletariado na luta de classes.” (p. 179)
“É justamente essa cisão [entre consciência imediata e visão geral do processo] que
oferece uma via para compreender – como foi sublinhado na citação – que a consciência
de classe não é a consciência psicológica de cada proletário ou a consciência
psicológica de massa do seu conjunto, mas o sentido, que se tornou consciente, da
situação histórica da classe. O interesse individual momentâneo, no qual esse sentido
se objetiva aos poucos, só pode ser omitido ao preço de se fazer a luta de classe do
proletariado retroceder ao nível mais primitivo do utopismo.” (p. 179)
“A origem de todo oportunismo está justamente em partir dos efeitos e não das causas,
das partes e não do todo, dos sintomas e não do fato em si; em ver no interesse
particular e na luta por sua realização não um meio de educação em vista do combate
final, cujo resultado depende da aproximação da consciência psicológica em relação à
consciência adjudicada, mas algo valioso em si e por si ou, pelo menos, algo que em si e
por si caminha em direção ao objetivo; numa palavra, está em confundir o verdadeiro
estado de consciência psicológica dos proletários com a consciência de classe do
proletariado.”. (p. 180)
“Portanto, nunca se deve ignorar a distância que separa o nível de consciência dos
operários mais revolucionários da verdadeira consciência de classe do proletariado. Mas
essa situação objetiva também é explicada a partir da doutrina marxista da luta de
classes e da consciência de classe. O proletariado se realiza somente ao negar a si
mesmo, ao criar a sociedade sem classes levando até o fim a luta de classes. A luta por
essa sociedade, em que a ditadura do proletariado não passa de uma fase, não é uma luta
somente contra o inimigo exterior, a burguesia; é também, ao mesmo tempo, a luta do
proletariado consigo mesmo: contra os efeitos devastadores e aviltantes do sistema
capitalista sobre sua consciência de classe. O proletariado somente alcançará a vitória
quando superar em si mesmo esses efeitos. A separação de domínios isolados, que
deveriam estar reunidos, os diferentes níveis de consciência que o proletariado atingiu
até então nas diferentes áreas são uma medida precisa do que ele alcançou e do que resta
a conquistas. O proletariado não deve temer nenhuma autocrítica, pois somente a
verdade pode trazer sua vitória, e a autocrítica deve ser, por isso, seu elemento vital.” (p.
191)
“A natureza é uma categoria social. Em outras palavras, aquilo que, num determinado
estágio do desenvolvimento social, é considerado como natureza, o modo como é
constituída a relação dessa natureza com o homem e a forma sob a qual ocorre o
confronto deste com aquela, ou seja, o que a natureza deve significar quando à sua
forma e ao seu conteúdo, à sua extensão e à sua objetivação, é sempre condicionado
socialmente.” (p. 431)
“Exatamente na medida em que o capitalismo efetuou a socialização de todas as
relações, tornou-se possível atingir um autoconhecimento, o autoconhecimento
verdadeiro e concreto do homem como ser social”. (p. 436)
Legalidade e ilegalidade: