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Série Retrospectiva

8 Principais julgados de
DIREITO CIVIL
Márcio André Lopes Cavalcante

1. Em regra, a cláusula penal moratória não pode ser cumulada com indenização por lucros cessantes
A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e,
em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessan-
tes.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.498.484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso re-
petitivo) (Info 651).

2. O companheiro que, com seu comportamento, assume o risco de transmissão do vírus HIV à parcei-
ra, deve pagar indenização pelos danos morais e materiais a ela causados
O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento sabidamente
temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros), e mesmo assim continua nor-
malmente tendo relações sexuais com sua companheira sem alertá-la para esse fato, assume os riscos
de sua conduta e, se ela for contaminada, responde civilmente pelos danos causados.
A negligência, incúria e imprudência mostram-se evidentes quando o cônjuge/companheiro, ciente
de sua possível contaminação, não realiza o exame de HIV, não informa o parceiro sobre a probabili-
dade de estar infectado nem utiliza métodos de prevenção.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 647).
3. Prazo prescricional na responsabilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-
tual 3 anos
A pretensão indenizatória decorrente do inadimplemento contratual sujeita-se ao prazo prescricional
decenal (art. 205 do Código Civil), se não houver previsão legal de prazo diferenciado.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.281.594-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min. Felix Fischer,
julgado em 15/05/2019 (Info 649).

4. A prática de sham litigation (litigância simulada) configura ato ilícito de abuso do direito de ação,
podendo gerar indenização por danos morais e materiais
O ajuizamento de sucessivas ações judiciais, desprovidas de fundamentação idônea e intentadas com
propósito doloso, pode configurar ato ilícito de abuso do direito de ação ou de defesa, o denominado
assédio processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.817.845-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy An-
drighi, julgado em 10/10/2019 (Info 658).
Trata-se daquilo que, nos Estados Unidos, ficou conhecido como “sham litigation” (litigância simula-
da), ou seja, a “ação ou conjunto de ações promovidas junto ao Poder Judiciário, que não possuem
embasamento sólido, fundamentado e potencialidade de sucesso, com o objetivo central e disfar-
çado de prejudicar algum concorrente direto do impetrante, causando-lhe danos e dificuldades de
ordem financeira, estrutural e reputacional.” (CORRÊA, Rogério. Você sabe o que é Sham Litigation?
Disponível em: https://sollicita.com.br/Noticia/?p_idNoticia=13665&n=voc%C3%AA-sabe-o-que-%-
C3%A9-sham-litigation?)
5. No acordo ficou ajustado que o devedor pagaria a pensão durante certo tempo; passado esse perío-
do, o indivíduo, por mera liberalidade, continuou pagando; isso não significa, contudo, que ele passou
a ter o dever de pagar para sempre a pensão
Obrigação alimentar extinta, mas mantida por longo período de tempo por mera liberalidade do ali-
mentante, não pode ser perpetuada com fundamento no instituto da surrectio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.789.667-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 13/08/2019 (Info 654).

6. Bem furtado pode ser objeto de usucapião, desde que tenha cessado a clandestinidade
É possível a usucapião de bem móvel proveniente de crime após cessada a clandestinidade ou a vio-
lência.
Nos termos do art. 1.261 do CC/2002, aquele que exercer a posse de bem móvel, interrupta e incon-
testadamente, por 5 anos, adquire a propriedade originária do bem, fazendo sanar todo e qualquer
vício anterior.
A apreensão física da coisa por meio de clandestinidade (furto) ou violência (roubo) somente induz a
posse após cessado o vício (art. 1.208 do CC/2002), de maneira que o exercício ostensivo do bem é
suficiente para caracterizar a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime.
Caso concreto: indivíduo adquiriu caminhão por meio de financiamento bancário, com emissão de
registro perante o órgão público competente, ao longo de mais de 20 anos. Depois se descobriu que
o veículo havia sido furtado antes da aquisição. Pode-se reconhecer que houve a aquisição por usu-
capião, sendo irrelevante se analisar se houve a inércia do anterior proprietário (vítima do furto) ou se
o usucapiente conhecia a ação criminosa anterior à sua posse.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.637.370-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019 (Info 656).
 
7. Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público
Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na
ação possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o
caso, o domínio.
 
8. A separação de fato por tempo razoável mitiga a regra do art. 197, I, do Código Civil
O art. 197, I, do Código Civil prevê que “não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da
sociedade conjugal”.
Se os cônjuges estão separados há muitos anos, não se deve aplicar a regra do art. 197, I, do CC.
Mesmo não estando prevista no rol do art. 1.571 do CC, a separação de fato muito prolongada, ou
por tempo razoável, também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade conjugal.
Logo, não há empecilho que corra o prazo prescricional entre eles.
Caso concreto: a pretensão de partilha de bem comum após mais de 30 anos da separação de fato e
da partilha amigável dos bens comuns do ex-casal está fulminada pela prescrição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.947-TO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/11/2019 (Info 660).
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Retrospectiva - Principais julgados de Direito Civil 2019

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