Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAPÍTULO
13
Direito e economia
1
Fernando Muniz Santos
___________________
1. Este capítulo foi escrito pelo professor Fernando Muniz Santos, doutor em direito pela
UFPR e professor da FAE Business School, de Curitiba.
2
sanção pelo ato ilícito, permite-se toda espécie de análises, não só a respeito da
aplicabilidade de dispositivos legais à conduta submetida a julgamento, mas também
a respeito de quais foram os fundamentos para o indivíduo realizar a escolha.
A economia, nesse caso, encontra fácil recepção, visto que oferece ao operador
do direito uma teoria do comportamento humano apta a prognosticar (ou
compreender) como os indivíduos respondem ante o preço ou, em outras palavras,
ante a expectativa de sanção ou de recompensa. Assim, diversos conceitos como
valor, custo, oferta, demanda, utilidade, maximização, eficiência, entre muitos outros
fornecidos pelas teorias econômicas, servem como ferramentas analíticas que
conferem alto rigor à investigação dos fatos sujeitos aos dispositivos legais.
Direito e economia ainda dialogam cotidianamente em situações como as que
envolvem a elaboração e execução de contratos. A celebração do um contrato sem
prévia investigação dos riscos a que se submetem as partes, dos custos decorrentes
da adversidade esperada e das garantias que podem ser licitamente exigidas para
mitigar ou afastar os identificados é fato mais do que usual na rotina de trabalho dos
operadores jurídicos, como os advogados. O que tais operadores aprendem, muitas
vezes, por meio da experiência (e de reveses que podem significar a ruína de seus
clientes) encontraria maior respaldo, caso fosse utilizado com maior frequência o
arsenal teórico das denominadas análises de custos ou análises de risco, por
exemplo.
Os raciocínios econômicos, aliás, auxiliam não só a aplicação da lei, mas
também sua elaboração. Uma vez que a análise econômica centraliza suas
atenções nos comportamentos antes de eles ocorrerem, as consequências possíveis
da aplicação de sanções podem ser avaliadas no momento em que se está
debatendo a respeito da viabilidade (ou não) da promulgação de determinada lei. Os
debates legislativos, portanto, teriam muito a ganhar, caso os projetos de lei em
tramitação nos parlamentos fossem submetidos com frequência a uma avaliação
dos potenciais efeitos das sanções nele previstas sobre os comportamentos que se
pretende normatizar por meio das leis.
Mas as possibilidades de diálogo entre direito e economia não se resumem ao
que foi exposto. O acentuado apuro terminológico das construções teórico-jurídicas
pode auxiliar a atividade cotidiana do economista, de diversas maneiras. É plausível
afirmar que as palavras, a matéria-prima dos operadores do direito, recebem destes
um tratamento rigoroso. Isso porque as palavras comportam distintos significados
possíveis, e a incerteza quanto ao significado de termos pode potencializar, muito
mais do que diminuir, os conflitos sociais.
Assim, as elaborações teóricas do direito a respeito de institutos como
propriedade, família, empresa, contrato, responsabilidade, dano, vício, entre muitos
outros, além de auxiliar os operadores do direito a resolverem conflitos, são de
grande valia ao economista, que, muitas vezes, não se preocupa com a precisão
terminológica desses conceitos. O emprego de termos como contrato, por exemplo,
de modo pouco técnico pode prejudicar a construção de modelos e cenários
econômicos, distanciando-os da realidade (Cooter e Ulen, 1998, p. 19).
Apesar de tais possibilidades, até o início da década de 60, a utilização da
economia pelos operadores do direito estava circunscrita à compreensão do
funcionamento dos mercados e da formação de monopólios e oligopólios, no âmbito
do direito antitruste (Posner, 1999, p. 25). Os casos levados a julgamento pelas
cortes norte-americanas serviam como uma fonte valiosa de informações para os
economistas compreenderem as razões e consequências legais das práticas
3
Adaptado de:
MENDES, Judas Tadeu Grassi. Economia: fundamentos e aplicações. São Paulo:
Prentice Hall, 2004.