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Itajaí.
SCULfiANDO
~- El~OS AROUIVOS
por rredQrlCO K.:li.an
.
/~
C'\ VEM se der ao trabalho de vasculhar os arquwos de nossa comuna
~ encont'ra'rá coisas inte'ressantíssimas e que já há muito haviam caí-
do no esquecimento. E' portanto de louvar-se a iniciativa de José
Fe1"reira da Silva, de trazer a público e à apreciação dos atuais e futuros
afeiçoados da história de Blumenau, fatos e episódios que estão intimamente
ligados à formação administrativa, econômica e cultural de nosso município
e do vale do Itajaí. Aí estão, por exemplo, os "RELATÓRIOS" do Dr. Blu-
menau, nos quais êste presta minuciosa conta de sua administração ao Go-
vêrno, informando-o ainda de tôdas as oconências p1"incipais da colônia e
do desenvolvimento desta. A êstes "Relatórios" o D'r. Blumena1t anexava
quadros estatísticos, os quais, por assim dizer, servi1"am de modêlo aos
atuais minuciosos relatórios ap1'esentados pelos P1"efeitos blumenauenses,
anualmente, à Câmara de Ve1'ead01'es. Ma,s nem tudo podia ser tratado nes-
tes relatórios, sob1"etudo atos que inicialmente eram, de interêsse exclusiva-
mente particular, t01'naram-se, com o tempo, fatos históricos, em vi1'tude de
não se te1'em tornado comum e vulgar, mas pe1"inanecido isolados e únicos.
l!Jntre êstes podemos citar a existência e manutenção de escravos na colônia
de Blumenau. Sabemos que o Dr. Blumenau era um inimigo da escTavidão,
pois um dos traços mais característicos do mesmo e1"a o seu amor à liberda-
de individual, baseada numa moral sumamente cristâ e sua ideologia demo-
c1"ática. Assim é que êle, já muito antes de iniciar sua colonização aqui no
Brasil, deixou bem cla1"O, em suas "Propostas" submetidas ao Govêrno Im -
perial, que de forma alguma se1'ia tolerada a escravatura no seio da coWnia.
Nestas "proposta,," estabelecia-se, entre outras exigências e normas que :
- "fú/ava radicalmente p1'oibida a introdução de escravos na colônia," -
"A nenhum m01'ador da colônia .~erá pe'rmitido mante1' escravos. Viajantes
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e comen;iantes vindos de fo'ta poderão traze'r escr'avos, porérn, somente pa-
Ta um p'razo prefixado e 1/71;camente para pr'estar"em 8prviços domésticos".
;)e bem flue esta "P , oposta" não chegou a adq'lâri1' fôrça de lei, o Dr .
Blumenau dur'ante todo o tempo em que estêve na dú'eção da Colônia,
zelou pelo fiel cumpr'i7/wnto destas disposições, não per'mitindo a entr'ada de
escravos, pois só assim se compr'eende que até a emancipação da colônia e o
afastamento do Dr. Blumenau da direção da 7/tesma, não houve um só caso
de compra ou intr'odução de escr"avo em Blumenau. Foi p'reciso que viesse
a emancipação e com ela a volta do Dr .. Blumenau para a Alemanha, para
que em Blumenau o comércio de escravos fôsse intr"oduzido. Mas mesmo as-
sim, no lapso de tempo decorrente entre a emancipação da Colônia, em 1880
e a promulgação da "Lei áurea", em 1888, houve a1Jenas um único caso de
compTa de eSCTavo, tTansação esta constante da escl'ituTa lavr'ada nas notas
do 1.° tabelião desta cidade, em 13 de maio de 1882, justamente 6 anos
antes da abolição da escravatura no Brasil. Por se tTatar de um documen-
to inte-ressante, passamos a transcr"evê-lo na o'rtogTafia or'iginal:
LIVRO DE NOTAS N.o 13 - Fls. 16 a 17. -
Escriptura de venda d'um escravo de nome Camillo que a Pedro
Wagner faz Dona Alexandr'ina Mar"ia da Conceição, pela quantia de seis-
centos mil reis, na forma abaixo.
SAIBAM quantos este p7,/,blico instr"umento de escr"iptur'a de venda
vir'em, que sendo no Anno do Nascimento do Nosso Senhor Jesus Christo de
mü oitocentos e oitenta e dois, aos tr'eze dias do mez de Ma'io do dito anno,
nesta Freguezia São Paulo de Blumenau, em cartor"io comparecerão pre-
sentes partes havidas e contractadas, como 'uendedor'a Dona Alexandrina
Maria da Conceição rep'resentado por' seu bastante procumdor PolidoTo
Dias de Moura, que por' isso exhibio a divida e legalprocur'ação feito pelo
Tabeflião Tavares da Cidade de Itajahy no Livro de Notas Numero vinte
folhas vinte e nove ve1'SO e como comp'rado'r Pedr'o Wagner, mor'ador"es des-
te districto, reconhecidos pelos pr"oprios de que dou fé. E pelo mesmo pro-
curador da vendedora foi dito, em presença de duas testemunhas abaixo
nomeadas e assignadas, que a Dona Alexand'rina Maria da Conceição é se-
nhor'a e possuidor'a de um escravo de n01ne CamiUo, solteiro, côr pa'rda. nar-
tural desta província, lavr"adoT de quarenta annos de idade, mais ou me-
nos, e por' que o possue livr"e e dezernba'raçado de qualqu,er" penhor"a ou
hypotheca, com todos os seus achaques - novos e velhos, vende como defac-
to vendido tem de hoje para sempr'e por' m'eio desta ao comprador" Pedro
Wagner, por' 1JTeço da quantia de seiscentos rnil r"eis 600$000, o que lhe
foi entregue pelo dito comprado?' em moeda corrente deste Impér'io, pelo
que lhe dava plena e ge-ral quitação de pago e satisfeito para mais em tempo
algunt lhe não ser pedida por si e nem por seus herdeir'os; e que toda posse,
domínio e senhoria que no dito escr'avo tem tido todo cede e tr'aspassa par-
'ra a pessoa do compr"ad01 que o gozará como seu, que j ica sendo por bem
desta. E pelo C07/tpr-a.d01' f oi dito que aceitava esta escriptura de venda a
elle feita, e desde já se dava por' empossado do r"eferido escravo Camillo.
Pagou o compr"ad01' a siza na collectoria das r'endas provinciais como cons-
ta da Certidão do teôr seguinte: Guido von Seckendor'ff, Escrivão interino
das rendas pr'ovinciais de Blumenau. Certifico que o Senhor Pedro Wag-
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CID~DE-P~L)\CIO
o DIGNO e ilustrado professor, Sr. Francisco C. Corrêa acaba de com-
por, com versos de J. Ferreira da Silva, um interessante hino à cidade de
Blumenau, que tem merecido francos louvores dos entendidos, que o julgam
uma peça harmoniosa, de fácil interpretação, mesmo pelas crianças das es-
colas. Os edabelecimentos de ensino primário e secundário de Blumenau já
o estão ensaiando com a dupla finalidade de, com a sua execução, abrilhan-
tarem as solenidades em que tomarem parte e a de incutirem, em Eeus a-
lunos, maior intusiasmo e civismo pelo engrandecimento material e moral
de sua comuna.
Na impossibilidade, por motivos de ordem técnica, de trazer a partitu-
ra para as páginas dêste caderno, damos pelo menos, a Eua letra.
Os que desejarem obter um exemplar da partitura para piano e côro
a quatro vozes, poderão dirigir seus pedidos ao autor, Sr. Francisco C. Cor-
rêa. Rua Gonçalves Dias, 222 - Curitiba - Paraná, enviando Cr$ 15,00
para as despesas de cópia e porte postal.
São êstes os versos do hino a Blumenau:
Blumenau, ó "cidade-palácio",
Moradia de um povo feliz,
A cultura que ostentas, pujante,
Enaltece êste grande país.
Estribilho:
Cantando as tuas belezas
Tua gente varonil,
N a virtude, no trabalho,
E' orgulho do Brasil
Os colonos, que um dia te ergueram,
Foram sábios, velaram por ti,
Te cobriram de flôres, de glórias,
Linda pérola do Itajaí!
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mirante Joaquim José Inácio, futu- Parece que o ilustre titular.
ro visconde de Inhaúma. Pedia com larga visão de estadista, des-
uma boa lei de promoções que "sem cortinava o sangrento conflito que,
desconhecer o direito de antigüi- d 'ali a meses, se desenrolaria nas
dade proporcione razoável qui- águas do Prata e do Paraguai! Es-
nhão ao merecimento, cortando o boçava êle um program;a naval,
abuso pela prefixação de condições que comportaria a construção de
na escolha e interstícios para o 46 unidades de guerra , sendo 3
acesso de um pôsto ao outro" . corvetas encouraçadas de primeira
Quanto às Classes anexas , mos- ordem, 3 canhoneiras couraçadas.
trava achar-se o Corpo de Saú- 30 canhoneiras de ferro e 10 cor-
de incompleto devido à pouca vetas de madeira, sistema misto,
afluência de candidatos para o a iate, de fôrça de 500 cavalos.
serviço sanitário naval, razão que Durante sua administração conti-
tinha sua natural explicação nas nuaram os levantamentos hidro-
vantagens e cômodos, que os mé- gráficos da nossa costa entregues
dicos encontram no exercício da à competência técnica de Vidal de
clínica civil, por certo muito su- Oliveira e de Hoonholtz (barão de
periores às que lhe asseguram os Tefé) .
planos e regulamentos navais; o Quando o Dr. Araújo Brusque
Corpo de faz enda ressentia-se abandonou o ministério - escreve
também de defeitos e vícios. um dos seus biógrafos - " a im-
Com referência à Marinhagem. prensa carioca teceu os mais ras-
dizia: - "Sendo . . . muito limi- gados elogios à sua administração.
tado o número de nacionais que que só se inspirou no bem públi-
fazem profissão da vida do mar, e co". Em 1865 voltou à Câmara dos
também diminuto o dos estrangei- deputados, continuando nela , a fi-
ros que procuram o serviço mili- gurar na 15. a legislatura (1872-
tar. em que, para compensar os 1875 ), militando sempre na polí-
ônus da disciplina, não deparam as tica liberal. Nesse tempo retirou-se
vantagens que encontram na Ma- à vida privada, dedicando-se en-
rinha mercante, vê-se o govêrno, tão, exclusivamente. ao mister da
para o preenchimento das lotações advocacia . Nunca militou na im-
dos seus navios, adstrito aos re- prensa di-lo um dos seus fi-
cursos que lhe proporciona o Cor- lhos.
po de Imperiais Marinheiros e O Dr. Francisco Carlos de Araú-
companhias de Aprendizes Mari- jo Brusque teve a satisfação de re-
nheiros. E é por isto que identüi- ceber, em vida, dos catarinenses
cando-me com as vistas dos meus uma elevada prova de gratidão
antecessores tratarei de dar a se- pelos serviços prestados como ad-
melhantes companhias o maior ministrador do seu privilegiado
impulso possível". rincão. Pela lei provincial n. o 920 ,
Compunha-se então a nossa Fôr- de 23 de março de 1881, foi criado
ça naval de 42 navios; 13 de vela o Município de BRUSQUE como
e 29 a vapor, montando 239 bô- homenagem ao ilustre presidente.
cas de fogo e guarnecidos por Mais tarde, ao sul do Estado. no-
2.787 praças de pré e 602 Ofi- vo povoado tomou o seu nome.
ciais do Corpo d' Armada e ou-
tras classes de embarque. Mesmo O nosso biografado, além do
assim, o ilustre titular achava título de Conselho, era condecora-
" que o estado de nossa Fôrça na- do com o oficialato da Ordem da
val, já em relação ao número. já Rosa. com o hábito de Cristo e
confrontando-o com os melhora- com a Grã-Cruz do leão de ouro
mentos que a ciência tem moder- Neerlandez.
namente introduzido nas marinhas Era cunhado do famoso Gene-
de guerra, torna-se cada dia mais ral Francisco Pedro de Abreu, ba-
precário e fraco". rão de Jacuí. apelidado o Morin-
Depois de mostrar as causas pri- gue, bravo e astuto imperialista,
mordiais da decadência do mate- que se distinguiu na campanha
rial flutuante, prosseguia em consi- contra os Farroupilhas (1835-
derações demonstrativas da neces_ 1845).
sidade premente de possuirmos uma
Marinha eficiente e poderosa. Continua na página '174
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·· Reil~
PLilodendron R enaux: ••
,
1885 - dia 7. Foi assassinado, à noitinha, Heinrich Kaestner,
de 60 a nos de idade. Era dirigente de uma banda de música em Badenfurth.
1885· dia 10. Reali za-se a segunda eleição para vereadores. São
eleitos J o~é Henrique Flôres Filho c José Joaquim Gomes, completando-se
a[sim o n úmer o legal de componentes da Câmara. . - .
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1886 - dia 30 O presidente da província assina a lei n.o 1.109,
desta data, que cria a Comarca de Blumenau. E' êste o teor da lei: "O Dou-
tor Francisco José da Rocha, Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa, Co-
mendador da de Nossa Senhora da Conceição da Vila Viçosa e Presidente
da Província de Santa Catarina, faço saber a todos os habitantes que a
Assembléia Legislativa Provincial decretou e eu sancionei a lei seguinte:
Art. 1.0 - O Têrmo de São Paulo de Blumenau fica desmembrado da Co-
marca de Itajàí. Art 2.° - O dito Têrmo formará uma Comarca com a
denominação de Comarca de São Paulo de Blumenau. Art. 3.° - Os limites
da nova comarca serão os atualmente existentes do município do mesmo
nome. Revogadas as disposições em contrário. Mando, portanto a tôdas as
autoridades, a que o conhecimento e execução da referida lei pertencer que
a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém.
CORREIAS
ENCERADOS "LOCOMOTIVA"
LONAS
COUROS
PLÁSTICOS
FERRAGENS
Varejo e Atacado