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Resumo
Este ensaio pretende explorar criticamente o quantum histórico e civilizatório da disponibilidade
humana em investir horror contra membros de sua própria espécie. No recorte aqui pretendido,
olho para esta disponibilidade presente nas décadas modernas de 1930 a 1980 tanto nos campos
de concentração nazistas quanto no hospício Adauto Botelho de Goiânia, Estado de Goiás,
procurando evidenciar aproximações.
Palavras-chave: degradação, indiferença psicopática normoforizada, formação
“Meu objetivo não é curá-lo (o louco) por um único método físico, mas sim
usando qualquer meio possível. Se, para motivá-lo, devo parecer duro e até
injusto... por que devo retrair-me de usar tais métodos? Devo ter medo de fazê-
lo sofrer? Que estranha piedade! Seria o mesmo que amarrar as mãos de um
cirurgião quando ele está para realizar uma operação essencial para a vida de
seu paciente porque ela não poderá ser feita sem dor.”
6
Repito: como Auschwitz (em três unidades) e Dachau (que “gerou” Auschwitz e os outros campos).
7
Levando-se em conta a indissociabilidade entre sociedade e história, considero os socialmente mais
fracos, assim caracterizados por terem sido ao longo da história fragilizados.
8
“Do tratamento moral da insanidade”, numa tradução livre.
As instituições “campo de concentração” e “hospital psiquiátrico” como
objetivações (infraestrutura) de política de Estado merecem, então, atenção por seus
desdobramentos na atitude pretensamente esclarecida, in cotinuum9, proposital das
pessoas ao encaminharem outras, conhecidas, próximas em seu cotidiano, a estas
mesmas instituições, seja por denúncia ou pelo próprio consentimento da vítima destes
espaços, uma vez que esclarecidas sobre a importância e/ou necessidade destes
encaminhamentos.
9
Segundo ADORNO (1979), a onipresença do espírito alienado, segundo sua gênese e seu sentido, não
precede a formação, a segue.
10
HOBSBAWM (1997, p. 256; grifo meu) resgata na história a causa ideológica deste potencial
resolutivo das instituições ao dizer que o clássico liberalismo burguês era uma filosofia “estreita, lúcida,
cortante [...] rigorosamente racionalista e secular, isto é, convencida da capacidade dos homens em
princípio para compreender tudo e solucionar todos os problemas pelo uso da razão”.
11
“O trabalho liberta” – frase colocada no pórtico de entrada de Auschwitz I.
aqueles que estão do lado do sistema, “sobre aqueles que se encontram
irremediavelmente sob seu domínio”, segue: