Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
No primeiro vo-
que na atual sociedade, todos os processos se lume da Trilogia, Sociedade em Rede - A Era
somam em um só processo, em tempo real no da informação: Economia, sociedade e cul-
planeta inteiro. A predominância das redes no tura, o autor faz uma profunda análise da era
mundo pós-moderno coloca em xeque conceitos da informação e seus reflexos na economia,
tradicionais como tempo e espaço, pulverizando sociedade e cultura e, consequentemente, dos
as fronteiras entre o local. impactos na comunicação, o que configura em
Muitos desse avanços são possíveis devido à sua perspectiva uma nova sociedade, denomi-
evolução da própria Engenharia. Se pensarmos nada “sociedade em rede”.
em como a internet ou a grande rede mundial é Castells (2011) analisa a sociedade contem-
composta fisicamente para conectar o mundo todo, porânea, que, segundo ele, vive em um cenário
vamos encontrar muita contribuição da engenha- mediado pelas novas tecnologias de informação
ria, que oportunizou a construção de estruturas de e comunicação (TICs) e investiga como estas
comunicação gigantescas e que não são visíveis, interferem nas estruturas sociais.
mas que permitem a todos nós navegar na web. O autor propõe o conceito de capitalismo
Além das transmissões via satélites que orbi- informacional e aponta o forte desenvolvimento
tam a terra, as informações na internet trafegam das tecnologias de informação a partir da dé-
por grandes redes de cabos submarinos, chama- cada de 1970 como um dos principais fatores
dos backbones e que cruzam os mares e oceanos que reestruturaram o modo de produção capi-
ligando diversos continentes. talista, decorrentes da “revolução tecnológica
Muito interessante, não é mesmo? Agora concentrada nas tecnologias de informação”
vamos retomar o estudo de Castells sobre a (CASTELLS, 2011, p. 39).
As redes de tecnologias digitais permitem a existência de redes que ultrapassem os seus limites
históricos e transcende fronteiras, a sociedade em rede é global, é baseada em redes globais. Esta
lógica das redes chega a todos os lugares e se difunde por meio do poder de integração das redes
globais de capital, bens, serviços, comunicação, informação, ciência e tecnologia.
UNIDADE II 37
Desde a invenção e popularização da inter- O verbo acessar, inclusive, passou a fazer parte
net, as redes estão tomando o lugar do mercado do cotidiano das pessoas. O não acesso a infor-
tradicional de compra e venda. O mercado, que mações, sejam elas jornalísticas ou publicitárias,
estava acostumado a ter vendedores e compra- tornou-se uma forma de exclusão social e não
dores, agora está se acostumando a ter forne- estar conectado é o mesmo que não estar vivo
cedores e usuários. socialmente. A ausência ou presença de ferra-
Jeremy Rifikin aborda este momento de transi- mentas que possibilitem esse acesso transforma-
ção para uma sociedade em rede e cada vez mais ram-se em novas formas de medir a participação
conectada como a Era do Acesso, na qual a cultura social de um indivíduo.
de posse começa a dar lugar à cultura do acesso. Rifkin (2001, p. 91) afirma que pertencer, na
O autor defende que a produção de bens mate- nova era, é estar conectado a várias redes que
riais está cedendo lugar à produção cultural, que formam a nova economia global. “Ser um assi-
cada vez mais domina as atividades econômicas. nante, um sócio ou cliente torna-se tão impor-
A informação se torna também muito importante, tante quanto ter bens materiais”. É, em outras
e o acesso a recursos e experiências culturais tor- palavras, ter acesso em vez de a mera proprie-
nam-se tão importantes quanto manter as posses. dade que determina cada vez mais o status de
Rifkin (2001, p. 12) considera que “[...] a noção alguém na próxima era.
de acesso e de redes, entretanto, está cada vez mais
importante e começando a redefinir a nossa dinâ- Na nova era, os mercados estão cedendo
mica social de uma forma tão poderosa quanto a
redefinição da ideia de propriedade e de mercados
às vésperas da era moderna”.
sociedade a repensar os tipos de vínculos e Portanto as redes estruturam uma nova morfo-
limites que irão definir as relações humanas logia social. Por elas correm os fluxos, sendo que
no século XXI (RIFKIN, 2001, p. 5) a rede de fluxos financeiros é uma das bases do
capitalismo global e, interagindo com as outras
Surge assim uma geração que já nasceu com a redes de fluxos, fazem das cidades pós-modernas
tecnologia para a qual o acesso já é uma forma extensas teias de telecomunicações avançadas,
de vida. Indivíduos que já nasceram inseridos no ou seja, além de centros da vida política, econô-
ambiente do ciberespaço. Não é uma geração que mica, e socioculturais, tornaram-se verdadeiros
precisou se acostumar e se alocar dentro das redes. sistemas eletrônicos.
UNIDADE II 41
O autor aborda diversos estudos populacionais
que apontam grupos de jovens assistindo cada
vez menos televisão de forma tradicional. Entre O momento que estamos vivendo é o de maior
alunos de ensino médio, usuários de banda larga, crescimento da capacidade expressiva da história
usuários do YouTube, constata-se a mudança e humana. (Clay Shirky)
sua observação básica é sempre a mesma: po-
pulações jovens com o acesso à mídia rápida e
interativa estão se afastado da mídia tradicional O público receptor, mais do que nunca, assume
que pressupõe puro consumo.“Quando assistem papel fundamental e ativo no processo comuni-
a vídeos online, aparentemente uma mera varia- cacional. Este mesmo poder dos novos consumi-
ção da TV, eles têm oportunidades de comentar dores foi transportado aos hábitos e ao consumo
o material, compartilhá-los com os amigos, rotu- de produtos midiáticos.
lá-los, avaliá-lo ou classificá-lo e, é claro, discuti- A comunicação digital apresenta-se como um
-lo com outros espectadores por todo o mundo” processo comunicativo em rede e interativo. Nes-
(SHIRKY, 2011, p. 15). te, a distinção entre emissor e receptor é substituí-
Mesmo quando ocupados em ver TV, mui- da por uma interação de fluxos normativos entre o
tos membros da população estão ocupados uns internauta e as redes, resultante de uma navegação
com os outros, e esse entrosamento se correla- única e individual que cria um rizomático proces-
ciona com comportamentos que não são os do so comunicativo entre arquiteturas informativas
consumo passivo. (site, blog, comunidades virtuais etc.), conteúdos
Segundo Shirky (2011), esse fazer e comparti- e pessoas (FELICE, 2008, p. 44).
lhar é, sem dúvida, uma surpresa, comparada ao Enquanto a comunicação tradicional (tea-
comportamento anterior. tro, livro, cinema, rádio e TV), apresenta um
fluxo unidirecional, a comunicação em rede,
Quando compramos uma máquina que “apresenta-se como um conjunto de teias nas
Quando falamos em comunicação digital, percebe- Segundo o autor, o “novo consumidor” — lem-
mos que as novas tecnologias e seus impactos nas re- brando que este por sua vez é mais inteligente,
lações de mídia e de consumo estão transformando emancipado, cético, antenado, exigente —, valo-
o próprio mercado publicitário. Não tem jeito, surge riza seu tempo e por esses ingredientes torna-se
uma nova maneira das empresas se comunicarem “desfiel”, proposta classificada, pelo autor, como
com seus públicos de interesse, pois a forma invasiva um consumidor sem fidelidade. “A grande mídia,
e unidirecional de antes está perdendo seu efeito. as grandes agências, os grandes clientes e a grande
Pelo menos nos últimos 100 anos a comunica- ideia jamais dominarão a comunicação de mar-
ção das empresas era feita por meio da interrup- keting como dominaram na segunda metade do
ção. Até hoje, a propaganda tradicional nos meios século XX” (JAFFE, 2008, p. 13).
de comunicação de massa procura atrair a atenção Estamos vivendo uma transição entre a pu-
de maneira bastante intrusiva, atravessando-se em blicidade tradicional e a publicidade atual, que
meio ao entretenimento do consumidor. busca garantir um lugar no futuro, praticando
Deste modo, acredita-se que as agências conti- um modo novo de entender o comportamento
nuam produzindo propaganda em moldes ultra- do consumidor e de engajá-lo mais pelo convite
passados, que estão consolidados sob um modelo do que pelo empurrão de conteúdos vendedores.
de recepção que talvez já não exista. As marcas assumem, portanto, um novo papel,
Jaffe (2008) faz pesadas críticas ao modelo tradi- de engajar, envolver o seu público por meio de um
cional de propaganda massificada, especificamente objetivo maior, no qual o produto não é mais o herói
aos comerciais televisivos (30”) e sua ineficiência na história que as marcas contam, mas um coadju-
na busca de resultados para as organizações. Por vante que ajuda na construção de algo maior.“Mar-
questões de sobrevivência, é preciso um “re-pen- keting costumava ser sobre anunciar, e anunciar é
sar dos fundamentos de marketing centrando as muito caro. Hoje, marketing é sobre engajamento
atenções aos consumidores, na gestão das marcas, a com uma tribo, e entregar produtos e serviços com
publicidade e por fim nas agências de publicidade”. histórias que se espalhem” (GODIN, 2008, p. 20).
A expressão “intervalo comercial” está ficando cada vez mais deslocada em tempos de conteúdo
digital sob demanda.
CASTELLS, M.; CARDOSO, G. A Sociedade em Rede: do conhecimento à ação política. Conferência pro-
movida pelo Presidente da República. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, Portugal, 2005. Disponível
em: <http://cies.iscte-iul.pt/destaques/documents/Sociedade_em_Rede_CC.pdf>. Acesso em: 21 mar. 2018.
DIZARD, W. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2000.
FELICE, M. Do público para as redes: a comunicação digital e as novas formas de participação social. 1. ed.
São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2008.
GODIN, S. Tribes: We Need You to Lead Us. New York: Penguin Books, 2008.
JAFFE, J. O declínio da mídia de massa: Por que os comerciais de TV de 30 segundos estão com os dias
contados. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2008.
RIBEIRO, J. C. Um breve olhar sobre a sociabilidade no ciberespaço. In: LEMOS, A. PALACIOS, M. (Org.).
Janelas do ciberespaço. Porto Alegre: Sulina, 2000.
RIFKIN, J. A era do Acesso. Tradução: Maria Lucia G. L. Rosa. São Paulo: Makron Books, 2001.
REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <http://blog.corujadeti.com.br/mapa-com-a-internet-via-cabos-submarinps/>. Acesso em: 20 mar. 2018.
49
1. B.
2. C.
3. D.
50
51
52