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AFINIDADES E CONTRIBUIÇÕES
RESUMO
Os meios de comunicação de massa ocupam uma posição privilegiada na
organização social e na construção da realidade social contemporânea - importância
que propiciou uma grande convergência de interesses de diferentes disciplinas das
ciências sociais, particularmente a Comunicação Social e a Psicologia Social. Este
artigo - uma investigação sobre algumas teorias destas duas disciplinas -, toma como
eixo de análise a Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici e uma teoria da
comunicação de massa, a Agenda-Setting, com o objetivo de apontar eventuais
contribuições teóricas e metodológicas.
Palavras-chave: representações sociais, agenda-setting, comunicação social, psicologia
social.
Em maio de 2000 foi possível visualizar uma conjunção entre seis planetas, a
lua e o sol. Há milhares de anos, sem instrumentos ou satélites, era a visão, a posição e
concorrente que temos hoje, o céu era mais nítido, facilitando diferenciar planetas das
estrelas. Uma conjunção como a de 2000 poderia ser acompanhada durante meses pela
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população nas mais diferentes localidades do planeta. Hoje a astronomia tem a sua
o nascimento das estrelas, sobre o tamanho do universo e com uma capacidade inédita
fim do mundo (mitos e crenças ainda conseguem ser mais fortes que as explicações
científicas). Utilizando um pouco de ironia, poderíamos dizer que até poucos séculos
atrás era a única transmissão “via satélite” possível, ao contrário de hoje, onde a
publicação e de uma das fotos mais divulgadas e conhecidas do século XX. A foto havia
nenhum dado pessoal. Desde então a redação da revista recebeu milhares de cartas
Gula lembrou-se da ocasião em que McCurry havia tirado a foto mas nunca havia visto
durante uma entrevista ao programa “Sem Censura” (TVE Brasil) que, durante o
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seqüestro, seu pensamento mais recorrente era voltar para casa e ligar a TV para ver o
que se passava. Estar presente não era suficiente para compreender o que vivenciava.
papel de conectar o mundo, antes relegado apenas aos transportes e estradas. Ao nos
depararmos com casos como o de Sharbat Gula verificamos que vivemos em universos
eles, onde se vive num aparente isolamento. Talvez, ainda mais surpreendente que este
Geographic que tinham interesse em saber onde ela se encontrava e o que estaria
fazendo, como se fosse alguém conhecido que de repente tivéssemos perdido o contato.
notícias e propagandas, isto não significa a atingir todas as pessoas possíveis, mas as
Também não significa que apenas as pessoas interessadas terão acesso, voluntário ou
não, a estas informações, mas que algumas podem estar em países, continentes, lugares
de massa possui graus e formas bastante variados, a depender das culturas locais.
Entretanto, por mais acessíveis que sejam, os conteúdos são produzidos, transmitidos e
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absorvidos de maneira bastante distinta a depender da cultura local, do meio de
EM COMUM
Nenhuma disciplina das ciências sociais surgiu sem influência de outra. Como
disse Braudel, “todas as ciências sociais se contaminam uma às outras” (1977: 125).
Mead, entre outros, são encontrados com freqüência e igual importância nestes e em
outros campos disciplinares. Nos últimos 30 anos, entretanto, estes dois campos
um passo importante para diferenciar as normas sociais adquiridas pelos mass media das
1
Para Wright (1973: 90), a “socialização é o processo pelo qual o indivíduo adquire a cultura do seu grupo e
interioriza suas normas sociais, fazendo com que seu comportamento leve em conta as expectativas dos outros. É
importante enfatizar que a socialização é um processo contínuo — estendendo-se da infância à velhice”.
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ou ainda, explorar a extensão da padronização da cultura pela comunicação de massa.
Quais seriam as condições em que isto ocorre? Quais os fatores sociais, psicológicos,
indivíduo com a sociedade, com seu grupo e com sua identidade, exercendo a ligação
entre um e outro. Este papel de organizadores sociais será o foco da análise entre a
que aquilo que é comentado, discutido, pensado na esfera social deve-se, em grande
parte, aos mass media. São eles o principal elo entre os fatos e a opinião pública, entre o
about it” (KOSLICKI, 1993: 104), direcionando e dando certo sentido à realidade social.
importante quanto saber o que os meios querem que a opinião pública pense, discuta, se
preocupa com estes conteúdos, deixando aberta pelo menos duas possibilidades de
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Elaborada por Maxwell McCombs e Donald Shaw, a hipótese nasceu a partir
Correspondência esta que ocorre em dois níveis de impacto (WOLF, 1999: 147):
É esta interação entre o público e mass media que a aproxima da teoria das
televisão a tornaria inapta para constituir “um quadro cognitivo adequado às opções que
o eleitorado é chamado a fazer” (WOLF, 1999: 148-150). McCombs acredita que haja
hora de priorizar os conteúdos e na escolha de qual meio (jornais e/ou rádio e/ou
televisão, por exemplo). O poder que cada um irá exercer dependerá também do
público, das características sociais e dos temas tratados tanto quanto do meio utilizado.
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Para a Agenda-setting, a escolha dos temas que estão em sintonia
pesquisas relatadas por Wolf (1994) pois quanto maior for a relevância dos temas para a
sociedade, maior será a influência da agenda proposta pelos meios. Esta característica
explica porque tanto os fatos analisados pela agenda-setting quanto os fenômenos das
representações sociais precisam ter relevância social, pois só uma informação que é
tornam as pesquisas na área mais complexas do que aparentam. (WOLF, 1999). Escolher
o tema relevante, analisar sua compreensão eas diferenças dos efeitos que cada meio
exerce sobre ele além de verificar o período da influência dos meios são dificuldades
necessita, ou seja, que sejam capazes “de explicitar como é que a nova informação,
(1999: 167) e critica McCombs por acreditar que este último simplifica o problema2 ao
sugerir que a articulação dos “temas segundo a freqüência com que um tema ou um
Assim, para que se possa obter resultados eficazes, é preciso verificar alguns
parâmetros nem sempre fáceis de se determinar (WOLF, 1999: 171) como o intervalo
2
Implica que os destinatários teriam na mensagem todos os elementos de compreensão do texto.
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entre a avaliação de uma agenda e outra, o período de tempo que deve haver antes do
TROCAS
trabalhos desenvolvidos sob a ótica da Agenda-setting (SÁ, 1998: 68-72), tais como:
media nas relações simbólicas entre os indivíduos. Essa divisão reflete o papel da
jornalística que, segundo o autor, caracteriza-se por criar um interesse comum sobre
Sá sugere que as pesquisas sobre ancoragem sejam desenvolvidas em duas etapas onde
a primeira se ocuparia “de uma descrição e/ou uma comparação das representações” e,
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descritas. O interessante, entretanto, é o ele apresenta como alternativa para pesquisas
com a afirmação de Jovchelovitch que considera esses dois processos como mediações,
dando conta da concreticidade das representações sociais na vida social” (1994: 81).
construção desta realidade. Essas peculiaridades fizeram com que a teoria se tornasse o
tempo, o interesse pela proposta teórica fez com que a “grande teoria”se desmembrasse
pertinentes aos estudos sobre influencia dos meios de comunicação de massa vindo ao
encontro de uma necessidade colocada por Mauro Wolf: a de um modelo que seja
“capaz de explicar como é que a nova informação, absorvida através dos mass media,
pensam e sobre o que pensam, como definir o poder de cada meio ou como ocorre a
Abric pode ser uma alternativa na solução de alguns deles. No caso, por exemplo, da
agendado em cada público ou grupo que se deseja pesquisar e também nos discursos dos
que determinam o que as pessoas pensam e sobre o que pensam comparando elementos
Mauro Wolf (1999: 155) refere-se à “centralidade” dos temas. Esta centralidade está
relacionada com a distância que o público possui sobre o assunto e não o contrário:
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quanto menor a “experiência direta, imediata e pessoal” que público tiver com o tema,
NA PRÁTICA
A importância e a influência dos meios de comunicação de massa nas
de algumas variáveis:
percebe-se que as variáveis acima não possuem para a teoria das representações sociais
3
Os jornais, mais elaborados, precisam de substituição diária, tornando-os menos acessíveis. Numa espécie de
tentativa para compensar o prejuízo, os jornais no Brasil passaram por algumas modificações que os tornaram
semelhantes às revistas.
4
Tornando as variáveis - público-alvo, diferenças sociais, econômicas, tecnológicas etc -, coadjuvantes.
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representações sociais. Consequentemente, o foco das pesquisas em psicologia social se
das Representações Sociais constatou que, das nove Mesas Redondas e dos 121 posters,
não houve nenhuma pesquisa envolvendo os mass media; dos 151 trabalhos dos GTs,
apenas 11 trataram dos mass media: um trabalho teórico, duas pesquisas sobre em
revistas, cinco em jornais, uma sobre campanhas educativas e uma sobre cinema.
Comum a todas estas pesquisas é o fato de não consideram que os meios são
- representação de quem? -, não fica claro6. Desta forma, justamente ao contrário das
as regiões em que os jornais são produzidos, a linha editorial, o público que se espera
atingir, quem realmente tem acesso às informações e se, os conteúdos propostos são
mesma, sem que sejam levados em conta suas particularidades (por ex., Estado de São
Paulo x Folha de São Paulo, que possuem propostas editoriais distintas), suas
5
GT D1.08, GT D1.12 e D2.07
6
o que não deve ser visto como surpresa, pois, na verdade, para estes pesquisadores, não há um sujeito específico e
sim, um grupo social.
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de massa ao observar que perguntas (1996: 223) tais Como e quanto os meios de
ingênuas, são armadilhas metodológicas que apenas nos levam de uma resposta à outra,
sejam distintos. Dessa maneira, um mesmo conteúdo, se difundido pela TV, pelo
telefone, por uma conversa informal ou por um outdoor, pode provocar interpretações e
reações diferentes em seus públicos-alvo. No caso das pesquisas citadas, o interesse não
do discurso que é (re) produzido pelos mass media reforçando o senso comum. Todo o
de produtores quanto o de produtos, e que os mass media agem, seja no sentido de falar
apresentadas passam a não ser tão ingênuas como o sugerido. Na verdade, observando
as pesquisas apresentadas, o que parece é que não há uma produção significativa para
que as dúvidas apresentadas por este autor tenham sido discutidas de uma forma
conclusiva.
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Silêncio7 sobre os efeitos sociais dos mass medias: “The two theories’ seemingly
disparte views of the world are akin to two travelers riding the same train but looking
Em nossa opinião, o modo peculiar que cada ciência observa a ocorrência dos
agenda-setting), apesar de seus propósitos diferentes, não impede que se possa haver
Comunicação Social, quanto esta pode fornecer um aparato conceitual que permita uma
como observam esta relação entre os indivíduos, pela análise que fazem dos grupos
sociais e dos conteúdos mediáticos e ferramentas metodológicas utilizadas, que pelo real
foco de interesse que constitui o objeto de estudo de cada uma delas (respectivamente
podem apresentar uma a outra. Contribuições que embora não tenham recebido a devida
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