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Antibióticos e outros quimioterápicos

Introdução

Desde a pré-história, os microrganismos provocam doenças no homem.

Entretanto, as causas dessas doenças só começaram a ser descobertas no século XIX, a

partir de 1878, graças, sobretudo, aos trabalhos de Pasteur e Koch, que demonstraram a

origem infecciosa de várias enfermidades do homem e de animais. Desde muito tempo o

homem utiliza substâncias para combater as infecções. Chineses, hindus, babilônios,

sumérios e egípcios empregavam plantas medicinais e seus derivados, e, também,

produtos de origem animal, como a gordura, toucinho, mel, ou de origem mineral, como

o sal de cozinha e sais ou óxidos simples, contendo cobre, antimônio, chumbo e outros.

As primeiras descrições sobre o uso de antimicrobianos datam de 3.000 anos, quando os

médicos chineses usavam bolores para tratar tumores inflamatórios e feridas infectadas,

e os sumérios recomendavam emplastros com uma mistura de vinho, cerveja, zimbro e

ameixas. O valor terapêutico desta última mistura, certamente, era decorrente da ação

antimicrobiana do álcool contido no vinho e na cerveja, e do ácido acético contido no

zimbro. Já o valor dos bolores, possivelmente, devia- se à ação de antibióticos

produzidos pelos fungos neles presentes e absolutamente desconhecidos naquela época.

A partir do século XVI com o desenvolvimento da alquimia, as drogas

medicinais passaram a ser obtidas por métodos laboratoriais. Data dessa época o uso do

mercúrio para tratamento de sífilis, uso de sais de antimônio, potássio e arsênio, ácido

clorídrico, amoníaco e fenóis para tratamento de outras infecções. Com o conhecimento

de métodos laboratoriais foi possível desenvolver melhor o estudo das plantas com

propriedades terapêuticas. Uma das primeiras substâncias antimicrobiana descobertas

foi a quinina, obtida em 1820 de uma árvore do Peru chamada Cinchona, essa

substância possuía ação contra malária. Diversos estudos continuaram e muitas drogas
com atividade antimicrobiana foram descobertas, mas não tinham aplicabilidade pois

eram muito tóxicas para seres superiores. Logo descobriram algumas substâncias que

usadas em doses adequadas eram capazes de destruir os microrganismos sem prejudicar

o hospedeiro.

O fato mais marcante na história dos antibióticos ocorreu em 1928, quando

Alexander Fleming, após voltar de suas férias, encontrou suas amostras contaminadas

por mofo. Quando ia descartar a amostra, um colega o visitou e perguntou sobre a

pesquisa, Fleming usou as amostras que tinha para explicar o trabalho e percebeu que, o

crescimento da bactéria Staphylococcus aureus foi inibido em uma área que circundava

a colônia de um bolor que havia contaminado a placa de Petri. O bolor foi identificado

como Penicillium notatum, e seu composto ativo, isolado logo em seguida, foi chamado

de penicilina. Reações inibitórias semelhantes entre colônias em meio sólido são

comumente observadas na microbiologia, e o mecanismo de inibição é chamado de

antibiose.

O termo antibiótico derivou da palavra antibiose e é uma substância produzida

por um microrganismo que, em pequenas quantidades, pode inibir outros

microrganismos. No entanto, com o decorrer do tempo descobriram que as plantas

também podem produzir substâncias que inibem o crescimento de micro-organismos e

que algumas substâncias antimicrobianas podem ser produzidas pelo próprio organismo

animal, como a lisozima.

O conceito de quimioterápico abrange, essencialmente, as substâncias

sintetizadas em laboratório ou de origem vegetal que apresentam toxicidade baixa para

as células normais do hospedeiro e alta para o agente agressor.

Os antibióticos eram inicialmente obtidos somente a partir de determinados

microrganismos e de certos vegetais superiores. No entanto com a descoberta da sua


estrutura química, alguns passaram a ser sintetizados em laboratórios, enquanto de

outros foram obtidos derivados semissintéticos que podem apresentar propriedades

diferentes da substância original. Atualmente os semissintéticos mais desenvolvidos são

derivados da penicilina, cefalosporina, tetraciclina e eritromicina. As penicilinas

semissintéticas são obtidas pela adição de diferentes radicais ao núcleo básico da

penicilina G e o mesmo ocorre com as cefalosporinas. Os derivados semissintéticos

podem apresentar propriedades bastante diferentes da substância natural. Por exemplo, a

oxacilina, derivada da penicilina, apresenta maior resistência à inativação pelo pH ácido

e penicilinases que a penicilina G.

As características de um antibiótico ou quimioterápico ideal são:

 Ter atividade antibacteriana sobre amplo espectro de microrganismos;

 Ser administrado por todas as vias;

 Ter fácil distribuição pelos tecidos e líquidos orgânicos, atingindo concentração

bactericida;

 Não sofrer destruição por enzimas teciduais e/ou bacteriana;

 Não provocar efeitos irritantes, tóxicos ou alérgicos no hospedeiro;

 Não induzir o desenvolvimento de microrganismos resistentes;

 Não provocar diminuição da resistência do organismo do hospedeiro;

 Não ter efeitos teratogênicos;

 Produzir concentrações elevadas e por tempo prolongado;

 Ser facilmente obtido em escala industrial, possibilitando sua fabricação em

grande quantidade e a baixo custo.

Espectro de Atividade

Antibióticos e quimioterápicos afetam diferentes alvos dentro de uma célula.

Células procarióticas e eucarióticas apresentam diferenças muito marcantes, sendo


assim, desenvolver drogas que afetam partes específicas de células procarióticas não é

uma tarefa difícil, no entanto, desenvolver fármacos para microrganismos eucariotos

como fungos e protozoários é mais complicado pois suas células utilizam os mesmos

mecanismos de síntese de proteínas e ácidos nucleicos que animais superiores, e drogas

que afetam as células desses organismos podem afetar também as células do hospedeiro.

Fármacos para esses microrganismos requerem alta especificidade para que não

apresentem riscos para o hospedeiro. Por exemplo, o cetoconazol, fármaco eficiente

contra fungos, atua inibindo a síntese de ergosterol que é constituinte essencial da

membrana desses microrganismos, esse fármaco prejudica as funções da membrana

fazendo com que as fiquem deformadas, impossibilitando o desenvolvimento. Já

infecções por vírus são bem mais difíceis de tratar pois o vírus utiliza maquinário

celular do hospedeiro, portanto, fica dentro das células, o que torna a criação de

fármacos bem mais complicada.

Algumas drogas apresentam espectro de atividade restrito ou alcance de tipos

microbianos diferentes, a exemplo a penicilina G, afeta maior parte das bactérias gram

positivas, mas poucas gram negativas. Os fármacos que afetam amplamente vários tipos

de bactérias são chamados de amplo espectro.

Uma vez que a identidade do patógeno nem sempre é reconhecida imediatamente,

uma droga de amplo espectro é muito mais vantajosa pois age contra uma gama de

microrganismos, assim o paciente não precisa ficar esperando identificar o patógeno

antes de iniciar o tratamento. No entanto, antibióticos de amplo espectro apresenta

efeitos negativos, ele prejudica a microbiota normal do hospedeiro, pois atua contra a

maior parte das bactérias de acordo com as características celulares, logo afeta também

as bactérias presentes na microbiota.


A microbiota normal do organismo serve como barreira para os patógenos, pois ela

compete e limita o crescimento. Por exemplo o fungo Candida albicans, é um fungo

presente na flora vaginal juntamente com bactérias do tipo Bacillus. Essas bactérias

mantêm o pH vaginal ideal e evita a proliferação do fungo, entretanto, quando se utiliza

antibióticos de amplo espectro esses bacillus são afetados, o pH vaginal fica

desregulado e o fungo se prolifera. Nessa situação temos um caso de superinfecção.

Tipos de Antibióticos

Existem diversas variedades de antibióticos que são usados para diferentes tipos de

infecção. Os antibióticos são separados de acordo com suas estruturas químicas e

mecanismos de ação. Os principais são:

Penicilinas

Refere-se a um grupo que engloba mais de 50 antibióticos quimicamente

relacionados. Todas apresentam uma estrutura comum, o anel β-lactâmico chamado de

núcleo, as moléculas de penicilina se diferenciam pelas cadeias laterais conectadas ao

núcleo. Podem ser produzidas de forma natural ou semissintética, seus mecanismos de

ação consistem em impedir a ligação cruzada entre peptideoglicanos, o que interfere nos

estágios finais da formação da parede celular. As penicilinas naturais são extraídas de

culturas do bolor Penicillium, apresentam algumas desvantagens, as principais são

estreito espectro de atividade e susceptibilidade a penicilinases que são enzimas que

clivam o anel β-lactâmico.

As penicilinas semissintéticas foram desenvolvidas com o intuito de superar as

desvantagens das penicilinas naturais. Podem ser sintetizadas de duas formas: a) os

cientistas interrompem a síntese para obter apenas o núcleo comum a ser utilizado; b)

removem as cadeias laterais naturais completas e adicionam outras cadeias que as

tornem mais resistentes a penicilinases ou aumentem seu espectro de ação.


Carbapenemos

É uma classe de antibiótico anel β-lactâmicos onde um átomo de carbono é

substituído por um de enxofre e uma ligação dupla é adicionada ao núcleo da penicilina.

Possuem função de inibir a síntese de parede celular e possuem amplo espectro de ação.

Fármaco conhecido é Primaxina (imipenem + cilastatina sódica), a combinação com

cilastatina é porque essa substância previne a degradação da combinação nos rins.

Monobactamos

Antibiótico sintético que possui apenas um anel simples anel β-lactâmico. O

espectro de atividade é surpreende para um composto relacionado a penicilina, possui

toxicidade baixa, afeta apenas certos tipos de bactérias gram-negativas.

Cefalosporinas

Núcleo das cefalosporinas é semelhante ao das penicilinas, mas seu anel β-lactâmico

é um pouco diferente. No entanto, as bactérias já desenvolveram anel β-lactamases

capazes de inativar o anel. As cefalosporinas possuem várias gerações de

medicamentos. Os da primeira geração têm espectro de ação relativamente restrito, em

especial contra bactérias gram-positivas; os de segunda geração possuem um espectro

um pouco mais estendido; as drogas de terceira geração são mais ativas contra bactérias

gram-negativas; as drogas de quarta geração possuem espectro de ação mais amplo, no

entanto requer aplicação com uso de injeção.

Polipeptídicos

Antibióticos polipeptídicos são uma classe quimicamente diversa de antibióticos

anti-infecciosos contendo cadeias polipeptídicas não proteicas. Exemplos dessa classe

incluem actinomicina, bacitracina, vancomicina e polimixina B.

Quinolonas
As quinolonas são compostos antibacterianos sintéticos que perturbam o

metabolismo microbiano interferindo no DNA- girase bacteriano, impedindo o

superenovelamento do DNA, uma etapa necessária ao empacotamento do DNA na

célula bacteriana. São efetivas no tratamento de infecções por bactérias gram-positivas e

gram-negativas. Ciprofloxacino é um exemplo de fármaco desse grupo, muito utilizado

em infecções do trato urinário, é também muito utilizado na indústria frigorifica e

avícola para prevenção e tratamento de doenças respiratórias nestes animais.

Macrolídeos

Essa classe contém anéis de lactona ligados a açucares. Variações tanto no anel

quanto nos açucares, resultam em uma grande variedade de antibióticos macrolídeos. Os

mais comuns são a eritromicina, claritromicina, azitromicina, rifamicina, rifampicina e

telitromicina. A maioria são inibidores de síntese proteica.

Tetraciclinas

São produzidas por várias espécies de Streptomyces, são antibióticos de amplo

espectro que inibem praticamente todas as bactérias gram-positivas e negativas. A

estrutura básica das tetraciclinas consiste em um sistema de anel naftaceno,

substituições no sistema do anel ocorrem naturalmente, originando novos análogos de

tetraciclina. Junto com os antibióticos β-lactâmicos, são os dois grupos mais

importantes de antibióticos na medicina. As tetraciclinas são utilizadas também como

suplemento nutricional para aves domésticas e suínos em alguns países.

Ação das drogas antimicrobianas

As drogas antimicrobianas podem ter efeito bactericida, em que elas matam os

microrganismos, ou bacteriostáticas, onde o crescimento é interrompido.

As drogas atuam através de diferentes mecanismos:

▫ Inibidores de síntese de parede;


▫ Inibidores de síntese de proteínas;

▫ Inibidores da replicação de DNA/RNA/tradução;

▫ Danos à membrana plasmática;

▫ Inibição da síntese de metabólitos secundários essenciais.

Inibição da síntese de parede celular

A penicilina, primeiro antibiótico a ser descoberto e utilizado é um inibidor da

síntese de parede. Ela e outros antibióticos com mesmo mecanismo de ação previnem a

síntese de peptideoglicano intactos, assim a parede fica enfraquecida e a célula sofre

lise. No entanto, é importante ressaltar que esses antibióticos apresentam efeitos durante

a síntese da parede, então atua apenas nas células em crescimento. A toxicidade desses

antibióticos para os humanos é baixa, pois atuam apenas na parede celular e células

eucarióticas não possuem parede.

Inibição da Síntese Proteica

A síntese de proteínas é comum a todas as células, tanto eucarióticas quanto

procarióticas. A principal diferença entre essas células é a estrutura dos seus

ribossomos, em procariotos o ribossomo possui estrutura 70s e em eucariotos é 80s. Foi

essa diferença que permitiu a toxicidade seletiva dos fármacos que inibem síntese

proteica. No entanto as mitocôndrias das células eucarióticas possuem ribossomos 70s

semelhante aos ribossomos bacterianos, sendo assim, esses antibióticos podem causar

efeitos colaterais no hospedeiro. Exemplos: Cloranfenicol (diversas infecções),

eritromicina (infecções por Legionella, pneumonias por micoplasma e diversas outras

infecções) e tetraciclinas (muitas infecções urinárias, pneumonia por micoplasma,

infecções por clamídias e riquétsias, alternativa para gonorreia e sífilis).

Danos a membrana plasmática


Certos antibióticos induzem modificações na membrana que afetam a

permeabilidade, e essas modificações resultam na perda de metabolitos importantes para

célula. Drogas antifúngicas como o cetoconazol, utilizam desse mecanismo. Elas se

combinam com esteróis específicos na membrana e provocam danos. O esterol que

esses fármacos inibem é o ergosterol, presente na membrana dos fungos. Uma vez que

membranas plasmáticas bacterianas geralmente não possuem esse esterol, esses

antibióticos não apresentam ação contra bactérias.

Inibição da síntese de ácidos nucleicos

Esses fármacos interferem nos processos de replicação de DNA e transcrição

dos microrganismos. Apresentam uso muito limitado, pois podem interferir no

metabolismo de DNA e RNA de mamíferos. Exemplos: Rifamicinas (tuberculose e

lepra).

Inibição da síntese de metabólitos essenciais

A atividade enzimática especifica de um microrganismo pode ser inibida de

forma competitiva por uma substância que se assemelha muito ao substrato normal da

enzima. Um exemplo é a relação entre o antimetabólito sulfanilamida e o ácido

paraminobenzoico (PABA), o PABA é um substrato que leva a produção de ácido

fólico, uma vitamina que funciona como coenzima para síntese de bases purínicas e

pirimidínicas. A sulfanilamida é similar ao PABA, então ela serve de substrato e o

microrganismo não consegue sintetizar a vitamina. Exemplo: Combinação de

trimetoprim e sulfametoxazol (infeções bacterianas, fúngicas e por protozoários).

Produção de antibióticos

A produção de antibióticos está diretamente ligada ao ciclo de vida, condições

do meio e fatores de regulação que controlam o metabolismo secundário (responsável

pela produção de antibióticos) e diferenciação celular.


Os antibióticos, em sua maioria, são produzidos por bactérias, actinomicetos e

fungos através do processo de fermentação. Além disso alguns antibióticos são

semissintéticos e outros são totalmente sintéticos.

A fermentação é o bioprocesso responsável pela produção de grande número dos

antibióticos comercializados. Os bioprocessos, em geral, seguem uma sequência de

mecanismos semelhantes, onde as modificações devem ocorrer de acordo com a

necessidade de cada processo e de acordo com o microrganismo que é utilizado para

realização dele.

De forma geral, segue as seguintes etapas:

1- Preparação do inóculo

2- Preparação e esterilização do meio

3- Inoculação do meio no fermentador

4- Aeração forçada com ar estéril durante a incubação

5- Remoção do micélio após a fermentação

6- Extração e purificação

Depois que termina a fermentação, é necessária a separação do

antibiótico excretado no meio de cultivo e a retirada de uma porcentagem do

antibiótico que permanece unida ao micélio. É então realizada uma etapa de

filtração para retirada do micélio, em seguida o caldo fermentado passa por duas

extrações líquido-líquido contínuas em contracorrente com acetato de amila,

butila ou metilisobutilcetona, em condições adequadas de pH e temperatura,

assim o produto é recuperado. Após estas etapas, o produto líquido segue para

fases de recuperação com uma etapa de adsorção e subsequente filtração. Após

esta nova filtração é necessário precipitar o antibiótico existente no líquido, e


isto se faz reagindo o composto com uma substância específica, permitindo que

ocorra a precipitação. Depois de precipitada, deve haver nova filtração para

separar o antibiótico do líquido, a purificação do antibiótico se finda com a

cristalização, usando isopropanol, e centrifugação e secagem, obtendo assim o

produto.

Testes de susceptibilidade microbiana

Cada espécie ou cepa de bactéria apresenta diferentes graus de susceptibilidade a

diferente agente quimioterápicos. Além do que a susceptibilidade de um microrganismo

pode se alterar com o tempo, mesmo durante o tratamento com uma droga específica.

Diversos testes podem ser utilizados para indicar qual é o melhor agente para combater

um patógeno específico.

Método de difusão

O teste de disco-difusão é um dos testes mais utilizados, embora não seja um dos

melhores. O teste consiste em colocar discos de filtro de papel impregnados com

agentes quimioterápicos na superfície do meio de cultura. Durante a incubação, os

agentes quimioterápicos se difundem dos discos para o ágar da placa de cultura. Se o

agente quimioterápico for efetivo contra o organismo testado, uma zona de inibição se

formará ao redor do disco após o período de incubação.

O diâmetro da zona de inibição é medido e comparado com valores de uma tabela

padronizada para droga e concentração, e o então o organismo pode ser classificado em

sensível, intermediário ou resistente.

Existe um método de difusão mais avançado onde o técnico consegue determinar a

concentração inibitória mínima (CIM), ou seja, concentração mínima do antibiótico que

consegue prevenir o crescimento bacteriano. Esse teste é chamado Teste E.


Teste de diluição em meio líquido

Uma desvantagem dos testes de difusão é que eles não determinam se a droga é

bactericida ou bacteriostática. O teste de diluição em meio líquido serve para medir a

CIM e a concentração bactericida mínima (CBM) de uma droga. Para determinar a

CIM, uma preparação de concentrações decrescentes da droga em meio líquido é

preparada seguida da inoculação com a bateria a ser testada. As amostras que não

apresentam crescimento podem ser cultivadas em outro caldo livre da droga. Se o

crescimento ocorrer quer dizer que a droga testada não era bactericida e a CBM então

não poderá ser medida.

Outros testes podem ser uteis para o técnico determinar se a bactéria possui β-

lactamases. O método popular e rápido usa uma cefalosporinaque muda de cor quando

seu anel β-lactâmico é quebrado.

Drogas Antivirais

Muitas das drogas antivirais recentemente desenvolvidas são direcionadas contra o

HIV. Devido ao fato dos vírus se replicarem dentro das células do hospedeiro, é

relativamente difícil atingi-los sem danificar a maquinaria celular. Atualmente, existem

moléculas que são análogas ao DNA ou RNA viral e são utilizadas para tratamento de

doenças virais.

Análogos de nucleosídeos e nucleotídeos

Essas drogas se assemelham aos ligantes naturais que constroem a cadeia de:

análogos purínicos de adenosina (A) e guanidina (G) e os análogos pirimidínicos de

timina (T) e citosina (C). Essas drogas atuam, por exemplo, acelerando a taxa de

mutação do vírus até que o acúmulo de erros atinja um ponto crítico, matando o vírus.
Exemplos: Aciclovir (herpes genital), lamivudina (hepatite B), cidofovir

(citomegalovírus).

Outros inibidores de enzimas

Inibidores da enzima neuraminidase são utilizados para tratamento da gripe causada

pelo vírus influenza. Exemplo: Tamiflu- oseltamivir

Interferons

Células infectadas por vírus produzem interferons que inibe a expansão da infecção

no organismo. O interferon α é uma droga para tratamento de hepatites virais. A

produção de interferon é estimulada por um antiviral chamado Imiquimod e é

frequentemente prescrito para tratamento de verrugas genitais.

Antirretrovirais

Antirretrovirais é o nome dado aos fármacos utilizados contra o HIV. Drogas que

inibem a transcriptase reversa (grande maioria análogas de nucleotídeos e nucleosídeos)

são amplamente utilizadas no tratamento do HIV. Para minimizar o surgimento de

amostras virais resistentes usa-se uma combinação de medicamentos (coquetel) no

tratamento. Atualmente a droga mais utilizada é o 3 em 1 composto por: tenofovir

(análogo de nucleotídeo), lamivudina (inibidor de síntese de ácidos nucleicos) e

efavirenz (inibidor de transcriptase reversa não nucleosídeo). Além disso, inibidores de

proteases tem se mostrado eficazes quando combinados com inibidores de transcriptase

reversa. Os inibidores de proteases são: atazanavir, indinovir e saquinavir. Um outro

medicamente que também pode ser utilizado é um inibidor de fusão do vírus com a

célula, entretanto é um medicamento de alto custo que deve ser injetado duas vezes ao

dia, devido a isso seu uso não é o mais frequente.


Mecanismos de resistência aos agente antimicrobianos

A resistência aos fármacos consiste na capacidade adquirida por um organismo de

resistir aos efeitos de um fármaco ao qual ele normalmente é suscetível. O

desenvlvimento de resistência ao quimioterápico é uma preocpação crescente, pois as

mutações que conferem resistência, uma vez que são adquirirdas, podem ser

transmitidas para os descendentes por mecanismos normais de reprodução.

Existem apenas alguns mecanismos pelos quais as bacterias se tornam resistentes:

o Destruição ou inativação enzimática da droga;

o Prevenção da entrada no sítio alvo do micróbio;

o Alterações no sítio da droga;

o Ejeção do antibiótico.

Destruição ou inativação da droga

Afeta principalmente antibióticos naturais. Antibióticos do tipo penicilina/

cefalosporinas possuem o anel β-lactâmico que é alvo de enzimas β-lactamases que

hidrolisam essa estrutura. Cerca de 200 variações dessa enzima são conhecidas, sendo

que cada uma é eficiente contra pequenos variantes estruturais do anel β-lactâmico.

Prevenção da entrada no sítio alvo

Gram-negativas tendem a ser mais resistentes devido à natureza das suas paredes

que restringem a absorção de moléculas e seu movimento por porinas. Alguns mutantes

modificaram a abertura das porinas de forma que os antibióticos não entram no espaço

periplasmático. Além disso as β-lactamases podem estar presentes o espaço

periplasmático.

Alteração no sítio alvo da droga


Alguns antibióticos possuem modo de ação inibindo a síntese proteica em um

sítio específico. Pequenas modificações nesse sítio podem neutralizar os efeitos dos

antibióticos sem que ocorram alterações nas funções celulares.

Ejeção do antibiótico

Algumas proteínas presentes na membrana plasmática de bactérias gram-

negativas agem como bomba expelindo os antibióticos, impedindo assim, que eles

alcancem uma concentração efetiva.

O que provoca a resistência?

O principal motivo foi e é o uso inadequado dos antibióticos. Em regiões menos

desenvolvidas o uso de antibióticos de forma indiscriminada é frequente. Em muitos

locais é possível comprar antibióticos sem prescrição o que leva ao uso inapropriado. Se

a pessoa apresenta sintomas de uma gripe comum, logo ela recorre a um antibiótico, o

que não é indicado, afinal gripe é uma doença viral. Quando a pessoa não se automedica

com antibiótico, muitas vezes o médico prescreve de forma inadequada.

Além disso, um outro problema é o uso inadequado mesmo quando prescrito de

forma correta. As doses em geral são mais curtas do que o necessário para acabar com a

infecção, isso estimula sobrevivência de cepas resistentes. O paciente muitas vezes para

de tomar o medicamento antes do indicado porque já não apresenta mais os sintomas,

isso também contribui para o crescimento de cepas resistentes. Os países e regiões mais

desenvolvidas também apresentam sua parcela de culpa, uma vez que existe muitas

prescrições de antibióticos inadequadas e/ou desnecessárias.

Tudo isso gera um alto custo, pois desenvolver novas drogas para substituir as

que perderam eficácia é extremamente caro, em países mais pobres o acesso a essas

drogas pode ser até mesmo impraticável devido ao custo elevado.


Como prevenir o desenvolvimento de resistência?

o Fazendo uso correto e seguro dos fármacos;

o Usar antibióticos específicos;

o Não utilizar sobras de antibióticos para tratar outras doenças nem

compartilhar a medicação;

o Completar toda prescrição médica, mesmo que se sinta melhor;

o Prescrições adequadas e necessárias;

o Regular e promover o uso adequado de medicamentos.

o Evitar prescrições de medicamentos de amplo espectro.

Bibliografia:

MADIGAN, Michael T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: ArtMed,

2016.

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TAVARES, Walter. Antibióticos e quimioterápicos para o clínico/Walter Tavares. –

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