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TXXIV – MED I
Doencas
Tropicais ˜
Edy Williams; Karim Abdo; Levi Almeida; Síssy Melo; Vytor Hugo Staut
INFORMAÇÕES DE USO
Bons estudos!!!
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Sumário
HIGIENIZAÇÃO, ISOLAMENTO E PRECAUÇÕES ................................................................. 01
DIARREIAS AGUDAS ........................................................................................................ 10
MALÁRIA ........................................................................................................................ 20
DENGUE ......................................................................................................................... 27
LEPTOSPIROSE ................................................................................................................ 35
TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO ..................................................................................... 44
RAIVA HUMANA ............................................................................................................. 54
DIFTERIA ........................................................................................................................ 61
TÉTANO .......................................................................................................................... 66
COQUELUCHE ................................................................................................................. 71
RESFRIADOS ................................................................................................................... 76
INFLUENZA ..................................................................................................................... 79
SEPSE E CHOQUE SÉPTICO ............................................................................................... 84
MENINGITES BACTERIANAS ............................................................................................ 93
DOENÇA MENINGOCÓCICA ........................................................................................... 103
HANSENÍASE ................................................................................................................ 107
PARACOCCIDIOIDOMICOSE .......................................................................................... 115
PANORAMA GERAL DAS HEPATITES VIRAIS ................................................................... 119
HEPATITE A ................................................................................................................... 122
HEPATITE B AGUDA ...................................................................................................... 125
HEPATITE B CRÔNICA .................................................................................................... 130
HEPATITE C AGUDA ....................................................................................................... 133
HEPATITE C CRÔNICA .................................................................................................... 137
HEPATITE D ................................................................................................................... 139
HEPATITE E ................................................................................................................... 140
HISTÓRIA, EPIDEMIOLOGIA, IMUNOPATOGENIA E DIAGNÓSTICO DO HIV ..................... 142
SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA ........................................................... 156
ABORDAGEM INICIAL AO ADULTO COM HIV .................................................................. 164
TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL DO HIV E AIDS .......................................................... 171
MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS NA AIDS ................................................................... 181
MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIAS NA AIDS ................................................................... 190
SARCOMA DE KAPOSI ................................................................................................... 198
TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV .................................................................................. 200
FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA ............................................................................. 207
INTRODUÇÃO AOS ACIDENTES PEÇONHETOS E VENENOSOS ......................................... 212
D
INTRODUÇÃO AOS ACIDENTES OFÍDICOS ...................................................................... 213
ACIDENTES BOTRÓPICOS .............................................................................................. 219
ACIDENTES CROTÁLICOS ............................................................................................... 225
ACIDENTES LAQUÉTICOS ............................................................................................... 231
ACIDENTES ELAPÍDICOS ................................................................................................ 234
ACIDENTES POR SERPENTES ÓGLIFAS E OPISTÓGLIFAS .................................................. 239
ESCORPIONISMO .......................................................................................................... 241
INTRODUÇÃO AO ARANEÍSMO ..................................................................................... 246
FONEUTRISMO ............................................................................................................. 249
LOXOSCELISMO ............................................................................................................ 251
LATRODECTISMO .......................................................................................................... 254
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
HISTÓRICO
• Foi o médico húngaro Ignaz Philip Semmelweis (1818-1865), que em 1846, comprovou
a íntima relação da febre puerperal com os cuidados médicos.
• Ele notou que os médicos que iam diretamente da sala de autópsia para a de obstetrícia
tinham odor desagradável nas mãos.
• Ele postulou que a febre puerperal que afetava tantas mulheres parturientes fosse
causada por “partículas cadavéricas” transmitidas na sala de autópsia para a ala
obstétrica por meio das mãos de estudantes e médicos.
• Por volta de maio de 1847, ele insistiu que estudantes e médicos lavassem suas mãos
com solução clorada após as autópsias e antes de examinar as pacientes da clínica
obstétrica.
o Após esta intervenção, a taxa de mortalidade caiu de 12,2 para 1,2%.
• Assim, ele demonstrou claramente que a higienização apropriada das mãos podia prevenir infecções
puerperais e evitar mortes maternas.
INTRODUÇÃO
• A higienização das mãos é reconhecida mundialmente como uma medida primária e altamente eficaz no
controle de infecções relacionadas a assistência à saúde (IRAS).
• O termo “lavagem das mãos” é melhor substituído por “higienização das mãos” devido à maior abrangência
deste procedimento, pois engloba tanto o uso de água e sabonete quanto a aplicação de preparações
alcoólicas (gel ou solução).
o A higienização com água e sabonete líquido é essencial quando as mãos estiverem visivelmente sujas
ou contaminadas com sangue ou outros fluidos corporais.
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MEDPÉDIA 2019.1 Vytor Hugo Staut
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ISOLAMENTO
• Isolamento
o Técnica utilizada para prevenir a transmissão de microrganismos a partir de pacientes infectados ou
colonizados para outros pacientes, profissionais de saúde e visitantes.
o Os tipos de isolamento são baseados no conhecimento da forma de transmissão do microrganismo.
• Por que isolar o paciente?
Paciente Profissional de saúde
- Evitar infecção cruzada; - Hospedeiro saudável;
- Ambiente hospitalar com bactérias multirresistentes; - Risco ocupacional;
- Paciente suscetível; - Vetor de transmissão;
- Controle de IRAS. - Controle das IRAS.
o Um dos grandes riscos do hospital é a transmissão de bactérias e outros microrganismos entre
pacientes colonizados/infectados para pacientes suscetíveis e para os profissionais de saúde.
o As recomendações relativas a isolamento e precauções são dinâmicas, uma vez que novas doenças e
agentes infecciosos são continuamente descobertos.
• Transmissão por contato
o Direto: superfície corporal (transferência física inter-humana).
o Indireto: objetos contaminados (instrumentos, agulhas, curativos, luvas).
• Transmissão por gotículas (perdigotos)
o Ocorre quando perdigotos contaminados são expelidos a uma distância de até 1 metro através do ar
e são depositados na conjuntiva, mucosa nasal, boca ou pele íntegra, produzindo colonização.
o Os perdigotos são gerados através da fala, espirro, tosse e na realização de procedimentos como
aspiração e broncoscopia.
• Transmissão por aerossóis
o Ocorre pela disseminação de pequenas partículas (5 micras ou menos) que contém um agente
infeccioso e que ficam suspensas no ar, podendo ser amplamente dispersas por correntes aéreas e
inaladas pelos indivíduos suscetíveis.
• Transmissão por um veículo em comum
o Ocorre por itens contaminados: comida, água, medicamentos, aparelhos e equipamentos.
• Transmissão por vetor
o Ocorre quando vetores como mosquitos, moscas, ratos ou outros insetos transmitem
microrganismos.
PRECAUÇÕES
• Aplicação de técnicas em qualquer paciente hospitalizado, independente do isolamento físico ou como
complemento deste, visando especificamente bloquear a transmissão de microrganismos.
• Tipos de precauções:
o Precauções padrão;
o Precauções de contato;
o Precauções respiratórias para aerossóis;
o Precauções respiratórias para gotículas.
• A aplicação de qualquer uma dessas precauções não exclui o uso das precauções padrão!!!
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PRECAUÇÃO PADRÃO
• É a mais importante e está designada para o cuidado de todos os pacientes.
• São planejadas para, qualquer que seja o diagnóstico do paciente, reduzir o risco de transmissão de
microrganismos através do sangue e de outros fluídos corpóreos, secreções e excreções, exceto suor,
independentemente de haver sangue visível ou não.
• Objetivos: impedir a contaminação de profissionais de saúde por patógenos que possam estar presentes em
sangue, fluídos corpóreos e secreções, diminuindo assim o risco de infecção tanto para profissionais quanto
para os pacientes.
o Obs: fluidos corpóreos inclui todos tipos de secreções, exceto suor.
PRECAUÇÃO DE CONTATO
• Deve-se usar a precaução padrão + precaução de contato!!!
• São indicadas para pacientes com infecção ou colonização por microrganismos epidemiologicamente
importantes, transmitidos por contato direto ou indireto.
• O transporte do paciente para fora do quarto deve ser reduzido ao mínimo possível.
o As precauções devem ser mantidas quando o paciente for transportado.
• Os itens que o paciente tem contato e as superfícies ambientais devem ser submetidas à limpeza diária.
• Equipamentos de cuidado ao paciente como termômetro, estetoscópio e esfigmomanômetro, sempre que
possível, devem ser de uso exclusivo.
o Quando não for possível, é recomendada a desinfecção após o uso ente um paciente e outro.
• Rubéola congênita: sempre que a criança for internada durante o primeiro ano de vida, exceto se a cultura de
urina e nasofaringe for negativa após os 3 meses de idade.
• Conjuntivite viral hemorrágica: durante internação.
• Celulite/abscessos/úlceras que não podem ser cobertos ou cuja drenagem não pode ser contida: durante a
internação.
• Infecção ou colonização por bactérias multirresistentes em trato GI, respiratório e tegumento: até término
da antibioticoterapia e cultura negativa.
• Furunculose (estafilocócica) em crianças pequenas: durante a internação.
• Diarreias infecciosas (virais ou bacterianas) em pacientes incontinentes ou em uso de fralda: durante a
internação.
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PRECAUÇÃO DE AEROSSÓIS
• Deve-se usar a precaução padrão + precaução para aerossóis!!!
• Impedir a propagação de doenças transmissíveis por secreções aerossolizadas (partículas < 5 μm).
• Varicela (incluindo herpes zoster disseminado): manter o isolamento até todas as lesões estejam em fase de
crosta.
o Indivíduos suscetíveis a varicela não devem entrar no quarto de pacientes com suspeita desta infecção
→ apresentam risco de desenvolver varicela.
§ Também podem desenvolver varciela quando expostos a pacientes com lesões por herpes
zoster.
• Sarampo: durante toda a internação.
o Indivíduos suscetíveis a sarampo não devem entrar no quarto de pacientes com suspeita desta
infecção.
• TBC pulmonar ou laríngea (confirmada ou suspeita): o isolamento pode ser suspenso quando o paciente
estiver recebendo terapêutica adequada, com três baciloscopias consecutivamente negativas, desde que
coletadas em dias diferentes ou se a tuberculose for excluída do diagnóstico.
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PRECAUÇÃO DE GOTÍCULAS
• Deve-se usar a precaução padrão + precaução de gotículas!!!
• Impedir a propagação de doenças transmitidas por gotículas de tamanho maior que 5 μm eliminados durante
a fala, tose, espirros, conversação e realização de diversos procedimentos.
• Difteria: até completar antibioticoterapia e cultura negativa.
• Coqueluche: até 5 dias após o início da terapêutica específica.
• Rubéola: até 7 dias após o início da exantema.
• Caxumba: até 9 dias após início do edema da parótida.
• Infecção por estreptococos do grupo A em crianças pequenas: por 24 horas.
• Sepse, meningite, pneumonia ou epiglotite por Haemophylus influenzae em crianças: até 24 horas após o
início da terapêutica antibiótica específica.
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• Infecções meningocócicas (suspeitas ou confirmadas): até 24 horas após o início da terapêutica específica.
• Adenovirus, influenza e parvovirus B19: durante internação.
RESUMINDO
1. A higienização das mãos é reconhecida, mundialmente, como uma medida primária, mas muito importante no
controle de infecções relacionadas à assistência à saúde. Por esse motivo, tem sido considerado como um dos
pilares da prevenção e controle de infecções dentro do serviço de saúde incluindo aquelas decorrentes da
transmissão cruzada de microrganismos multirresistentes. Qual é a técnica correta para a higienização das
mãos?
a. A higiene das mãos com solução degermante contendo clorexidina é indicada antes e após contato com
qualquer tipo de paciente internado.
b. A higiene das mãos com solução alcoólica em gel está melhor indicada quando há presença de
determinado surto hospitalar por germe multirresistente.
c. A técnica adequada para higiene das mãos com solução alcoólica em gel não dispensa a necessidade de
fricção vigorosa das mãos após a aplicação.
d. Após higiene das mãos com solução alcoólica em gel, é recomendável remover o excesso do produto das
mãos com auxílio de um papel toalha.
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e. Na técnica adequada para higiene das mãos com solução degermante, a solução deve ser aplicada com as
mãos ainda secas, cobrindo toda sua superfície.
2. A higienização das mãos é medida individual mais simples e menos dispendiosa para prevenir a propagação das
infecções relacionadas à assistência à saúde. Recentemente, o termo “lavagem das mãos” foi substituído por
“higienização das mãos”, devido à maior abrangência desse procedimento. O termo engloba a higienização
simples, a higienização antisséptica, a fricção antisséptica e a antissepsia cirúrgica das mãos. Com relação à
higienização das mãos, indique a alternativa correta.
a. A fricção antisséptica com preparações alcoólicas tem o objetivo de reduzir a carga microbiana das mãos
e remoção das sujidades.
b. No processo de higienização antisséptica das mãos, o enxágue deverá ser realizado com água corrente
no sentido das mãos para cotovelos, retirando todo o resíduo do produto.
c. O uso regular de luvas dispensa a higienização das mãos antes e após contatos que envolvam mucosas,
sangue ou outros fluidos corpóreos, secreções ou excreções.
d. A higienização das mãos com o uso de antissépticos deve ser realizada toda vez que entrar em contato
com o paciente.
e. A higienização das mãos com preparações alcoólicas poderá ser utilizada antes e após os procedimentos
cirúrgicos.
1. L.O., 34 anos com o diagnóstico recente de HIV e relata febre e tosse pouco produtiva há 40 dias. Emagrecimento
de 12 Kg. Usuário de drogas intravenosas. A contagem de linfócitos CD4 foi de 280 mm3. O lavado broncoalveolar
revelou pesquisa de BAAR positiva e cultura Micobacterium tuberculosis. Qual a precaução para este paciente?
R: Deverá ser instituída a precaução padrão (higienização das mãos, usar luvas descartáveis em caso de
contato com material biológico, avental, óculos e máscara cirúrgica, materiais pérfurocortantes deverão ser
descartados em caixas próprias e as superfícies ambientais devem ser submetidos à desinfecção) e precaução
de aerossóis (quarto privativo, utilizar máscaras N95 ou PFF2, utilizar máscara tipo cirúrgica para o paciente
durante o transporte).
2. Uma paciente internada na UTI há 30 dias para tratamento de pneumonia hospitalar evoluiu com piora clínica,
e a radiografia de tórax evidência consolidações, o médico suspeita de pneumonia associada a ventilação
mecânica, e solicita cultura de lavado broncoalveolar, o qual sugere crescimento de Pseudomonas aeruginosa
com perfil de multirresistência para carbapenêmicos. Qual a orientação de precaução para esse caso?
3. Um paciente diagnosticado com AIDS em abandono de terapia antirretroviral há 6 meses, é admitido no Hospital
da Unimed com quadro respiratório a esclarecer. É colocado em querto privativo, em precaução de aerossóis e
medicado com Sulfametoxazol + Trimetoprima, em dose para pneumocistose. No quinto dia de internação,
desenvolve um quadro de herpes zoster na região torácica, simultaneamente à liberação do resultado da
pesquisa de BAAR em escarro induzido, que se revelou negativa. Além de iniciar tratamento antiviral específico
para o paciente, o conjunto de condutas imediatas mais adequado, que deve ser implementado pelos
profissionais de saúde, atuando naquele setor, após o diagnóstico do herpes zoster é:
4. No HICD é internada uma criança com suspeita de sarampo. Qual a orientação de precaução deverá ser
instituída para esse caso?
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DOENÇAS TROPICAIS
Diarreias Agudas
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Intestino delgado
o Duodeno + jejuno + íleo.
o Absorção de nutrientes, fluidos e eletrólitos.
o Epitélio cilíndrico simples: enterócitos com vilosidades e microvilos.
§ Superfície absortiva de 300m².
o Criptas/glândulas de Lieberkuhn:
células com função secretora.
• Intestino grosso
o Ceco + apêndice + cólon ascendente,
transverso e descendente + sigmoide +
reto + ânus.
o Principalmente absorção de fluidos.
o Controle da evacuação.
o Epitélio cilíndrico simples: enterócitos
com poucos microvilos e criptas.
o Haustrações: contrações combinadas
de faixas circulares e longitudinais de músculos que fazem com que a porção não estimulada do
intestino grosso se infle em sacos.
o Diarreia baixa.
o 70% são virais; 25% bacterianas e 5% são causadas por protozoários.
• Gastroenterite aguda
o Doença diarreica de início abrupto, acompanhada ou não de outros sintomas como náuseas, vômitos,
dor abdominal e febre.
DIARREIA AGUDA
• Instalação súbita, porém é autolimitada (dura cerca de 14 dias).
• 90% é de causa infecciosa, já as outras podem ser por drogas, alergia alimentar, isquemia etc...
• Tem prevalência de 3-5 bilhões de casos/ano, com mortalidade de 5-10 milhões casos/ano.
• Diarreia secretora ou não inflamatória
o Alta e aquosa.
o Acontece em 90% dos casos.
o Haverá perda de eletrólitos (Na⁺ e Cl⁻) e
água.
o Causas:
§ Medicamentosas;
§ Isquêmicas;
§ Infecciosas.
• 60% é decorrente por vírus.
• Podem ser por bactérias
que produzem enterotoxinas (E. coli, Bacilus cereus, Clostridium difficile e Vibrio
cholerae).
o Manifestações clínicas
§ Dores abdominais periumbilicais;
§ Evacuações aquosas volumosas (muitas vezes autolimitadas).
o Complicações: depende do grau de desidratação e do distúrbio eletrolítico.
• Diarreia invasiva ou inflamatória
o Baixa e sanguinolenta (pode haver leucócitos).
o Acontece em 10% dos casos.
o Ocorre por lesão direta do microrganismo à mucosa intestinal, provocando exsudação de sangue
muco e perda de proteínas.
o Os agentes mais frequentes são parasitas ou bactérias invasivas produtoras de citocinas (Shigella sp,
Salmonella spp, Campylobacter spp, Yersinia spp, E.coli enteroinvasora e Entamoeba histolytica).
o Manifestações clínicas
§ Várias evacuações de pequeno volume com presença de sangue e muco;
§ Febre, dor abdominal e tenesmo.
E. COLI
• Bacilo gram-negativo, não esporulado e anaeróbio facultativo.
• O problema maior da E.coli não é ela em si, mas sim quando ela se junta com a Shigella, trocando os
plasmídeos entre elas → formação de mecanismo de resistência.
• Diarreia secretora ou não inflamatória: é causada pelos subtipos enteropatogênico, enterotoxigênico,
enteroagregativa.
• Diarreia invasiva ou inflamatória: é causada pelos subtipos enterohemorrágico e enteroinvasiva.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Eletrólitos e osmolaridade
o Osmolaridade fecal normal: 290 mOsm/L.
o Cálculo do GAP osmolar: 290 – 2 (Na + K)
o A partir da coleta do sódio e do potássio das fezes o cálculo acima pode ser feito e o tipo de diarreia
definido.
§ Diarreia secretória pura: GAP < 50.
§ Diarreia osmótica: GAP > 125.
§ Diarreia mista: GAP entre 50-125.
• pH fecal
o Se for menor que 5,3 → diarreia por má absorção de carboidratos.
o Se for entre 6 e 7 → diarreia por má absorção (e perda) de aminoácidos e ácidos graxos.
• Teste para enteropatia perdedora de proteínas
o Como é feito: albumina marcada com iodo radioativo parenteral com medição fecal de coleta durante
24 horas.
o A enteropatia perdedora de proteínas leva à desnutrição, principalmente quando há alteração de
microvilosidades intestinais (no caso, diminuição).
o Ex 1: pacientes com AIDS que ficam desnutridos por mais que tentem repor as proteínas.
o Ex 2: paciente com doença hepática em fase terminal (cirrótico) que já está perdendo proteínas e
ainda tem diminuição de suas vilosidades.
• Exame parasitológico das fezes ou coprocultura
o Pesquisa de protozoários, helmintos, bactérias...
o Solicitar quando?
§ Casos que necessitem de internação.
§ Diarreia prolongada, persistente e/ou hemorrágica.
§ História de viagem recente.
§ Pacientes imunossuprimidos.
§ Cuidadores de crianças.
§ Crianças que frequentam creches.
o Metódos de pesquisa
§ Exames a fresco, corado com lugol e preparações com estabilizantes: protozoários.
§ Baermann-Moraes, Faust e Hoffmann: vermes.
§ Método Kato-Katz: esquistossomose e helmintos.
§ Método de tamização: teníase e ascaris.
§ Kyniou a fresco ou Ziehl-Neelsen modificado: coccídeos.
§ Pesquisa de toxina A e B nas fezes: Clostridium difficile.
§ Pesquisa de Antígeno O e H (reação de Widal): Salmonella thyphii.
• Leucócitos ou lactoferrina fecal
o Marcador de leucócitos em colites invasivas.
o Pode ser positiva para Shigella, Salmonella e Campylobacter.
• Gordura fecal
o Qualitativa: Sudan III.
o Quantitativa (esteatócrito): dieta de 100 g/dia de gordura durante coleta das fezes por 3 dias.
§ Esteatorreicas: mais de 7 g/dia de gordura nas fezes (comum na pancreatite).
• Quando o paciente tem hepatite, fica com as fezes brancas sobrenadantes parecendo
massa de vidraceiro.
• Inibidores do peristaltismo
o Ex) Loperamida (não utilizar na presença de febre ou diarreias sanguinolentas).
• Dieta
o De acordo com a aceitação.
o Em caso de náuseas e vômitos ingerir líquido em pequenas quantidades.
o Evitar laticínios por causa da deficiência temporária de lactase.
o Evitar cafeína, pois essa inibe a fosfodiesterase piorando a diarreia.
• Antidiarreicos
o Contraindicados na diarreia invasiva (que tem sangue, disenteria e é bacteriana).
§ Só se usa quando houver CERTEZA que a diarreia NÃO é de causa infecciosa e de que o cólon
NÃO está lesado.
o Loperamida (Imosec) e Difenixilato (Lomotil).
o Diarreia de terapia intensiva ou paciente em uso de antibiótico: usar Floratil (probiótico) para
repopular a flora intestinal.
o Diarreia autolimitada ou diarreia do viajante: NÃO USAR PROBIÓTICO!
§ Como a diarreia é autolimitada em breve ela irá acabar.
§ Basta fazer uma dieta oral para reposição de sódio e potássio.
o Usar Rececadotril (Tiorfan) em alguns casos específicos.
§ É um antissecretor que inibe encefalinase.
• Antibioticoterapia empírica
o Indicações:
§ Febre;
§ Fezes com sangue;
§ Mais de 8 evacuações diárias;
§ Desidratação;
§ Diarreia por mais de 7 dias.
o Os antibióticos indicados são: Norfloxacina, Ofloxacina e Ciprofloxacina (uso por 7 dias).
§ Não usar esses medicamentos em crianças pois há risco de rompimento do tendão aquileu.
• Efeito adverso das quinolonas/fluoroquinolonas.
§ Evitar o uso de Ciprofloxacina em pacientes com AIDS devido ao risco de infecção por
Mycobacterium tuberculosis.
• Optar por outros antimicrobianos, os quais não interferiram no tratamento da TB.
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MEDPÉDIA 2019
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DOENÇAS TROPICAIS
Malária
(Karim Abdo)
INTRODUÇÃO
• É uma doença infecciosa transmitida pelo mosquito Anopheles e provocada pelo protozoários Plasmodium.
• A doença é geralmente transmitida através da picada de uma fêmea infectada, a qual introduz no sistema
circulatório do hospedeiro os microorganismos presentes na sua saliva, os quais se depositam no fígado, onde
maturam e se reproduzem.
• A malária se manifesta através de sintomas como febre e dores de cabeça, que em casos graves podem
progredir para coma ou morte.
EPIDEMIOLOGIA
• No mundo
o A malária é endêmica em 101 países.
o Mais de 300 milhões de casos por ano.
o Mais de 1 milhão de mortes por ano sendo 200
crianças por hora (P. falciparum).
• No Brasil
o Ocorre anualmente 300 a 500 mil casos por ano.
o O P. vivax é a espécie mais prevalente no país,
sendo responsável por cerca de 80% dos casos.
o A grande maioria dos casos ocorrem na Amazônia.
o Os estados com mais casos são o Pará e Amazonas.
O VETOR
• Dípteros da família Culicidae do gênero Anopheles.
• Nomes populares: pernilongo, mosquito, carapanã...
• Hematogafismo das fêmeas.
• Hábitos variados de acordo à espécie.
o Endo ou exofilia.
o Antropofílico ou zoofílico.
o Intra, peri ou extradomiciliar.
o Dispersão.
O AGENTE
• Existem cinco espécies de plasmódios capazes de infectar o
homem:
1. Plasmodium vivax;
2. Plasmodium falciparum;
§ Responsável pelas formas mais graves.
3. Plasmodium malariae;
4. Plasmodium ovale (restrito à África);
5. E Plasmodium knowlesi (restrito ao sudeste asiático).
• O plasmódio é um protozoário da classe dos esporozoários (Sporozoea), que se caracteriza por ser aflagelado.
• Se reproduz de duas formas em seu ciclo evolutivo:
o Forma assexuada (esquizogonia), quando no hospedeiro definitivo (homem);
o Forma sexuada (esporogonia), quando no hospedeiro intermediário (mosquito).
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MEDPÉDIA 2019 Karim Abdo
Assunto: Malária.
CICLO EVOLUTIVO
• Ciclo pré-eritrocitário (hepático)
o O mosquito pica o ser humano e injeta o plasmódio na forma de esporozoíto.
§ A primeira célula a ser infectada é o hepatócito.
o O esporozoíto liga-se à membrana do hepatócito e ao penetrar na célula hepática, ganha a forma
arredondada e passa a ser um criptozoíto.
§ Início do primeiro ciclo de reprodução assexuada → esquizogonia tecidual.
o Na forma de esquizogonia, o núcleo do protozoário se divide várias vezes formando, então, o
esquizonte tecidual hepático.
o Para completar a reprodução esquizogônica, o citoplasma é condensado ao redor de cada núcleo,
originando diversas “células filhas”.
§ A “célula filha”, produto da esquizogonia, é a forma merozoíto do plasmódio.
o Ao se acumularem no interior do hepatócito, os merozoítos rompem a membrana da célula, sendo
liberados nos sinusoides hepáticos, infectando as hemácias que por ali passarem.
o Esse processo todo dura em torno de 6-16 dias, tempo correspondente ao período de incubação da
malária.
• Ciclo eritrocitário
o Uma vez dentro do eritrócito, o merozoíto amadurece e ganha uma nova forma vacuolada, chamada
trofozoíto em anel.
o O trofozoíto anelar cresce, se transformando em trofozoíto ameboide, evoluindo com a divisão de
seus núcleos, formando o esquizonte eritrocitário, que finalmente dá origem a um novo grupo de
merozoítos.
§ O esquizonte eritrocitário maduro é chamado de merócito ou rosácea.
o O processo todo dura cerca de 48-72 horas, dependendo da espécie de plasmódio.
Assunto: Malária.
A TAL DA FEBRE...
• Nas espécies P. vivax e P. falciparum, a esquizogonia eritrocitária dura cerca de 48 horas.
o Portanto, a febre ocorre a cada três dias → dois dias para terminar a esquizogonia e um dia de febre.
§ Febre terçã benigna (P. vivax) e febre terçã maligna (P. falciparum).
• No caso do P. malariae, a esquizogonia eritrocitária dura cerca de 72 horas, justificando a febre a cada quatro
dias → febre quartã.
FORMAS DE TRANSMISSÃO
• Transmissão pelo vetor.
• Hemotransfusão.
• Compartilhamento de agulhas por usuários de drogas intravenosas. A forma transmitida do protozoário em
todos esses casos é o merozoíto
• Transplante de órgão.
• Congênita.
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MEDPÉDIA 2019 Karim Abdo
Assunto: Malária.
A PROTEÇÃO NATURAL
• Traço falcêmico
o Proteção natural contra as formas graves da malária por P. falciparum em indivíduos com traço
falcêmico (heterozigotos para o gene da HbS).
o O indivíduo com traço falcêmico possui 40-50% de HbS em suas hemácias.
o Quando o P. falciparum parasita estas células, sequestrando-as na microvasculatura elas se afoiçam,
inibindo o crescimento e desenvolvimento do plasmódio.
o O resultado é a redução do grau de parasitemia e, portanto, uma forma mais branda de doença.
• Talassemias
o Conferem proteção contra as formas graves de malária.
o Na β-talassemia, o parasita encontra piores condições para o crescimento intraeritrocitário, devido ao
maior percentual de HbF.
o Na α-talassemia, a menor concentração corpuscular de hemoglobina deve ser o fator principal.
RECAÍDAS E RECRUDESCÊNCIA
• Recaídas
o Faz parte do ciclo hepático das espécies P. vivax e P. ovale o surgimento precoce de uma forma
parasitária latente, encontrada no interior de alguns hepatócitos, o chamado hipnozoíto.
§ Ele é o responsável pelos episódios de recidiva da doença, frequentes com essas duas espécies
de plasmódio.
o O hipnozoíto pode ficar muitos anos “adormecido”, para a qualquer momento “acordar” e
desencadear um novo ciclo hepático e eritrocitário.
• Recrudescência
o A parasitemia reaparece, junto com a sintomatologia, após um período de cura aparente, devido a
uma resposta inadequada ao tratamento.
§ Sobrevivência de formas eritocíticas.
o O paciente “trata”, faz o exame e não há detecção do parasita.
§ Resistência do Plasmodium a medicação.
QUADRO CLÍNICO
23
MEDPÉDIA 2019 Karim Abdo
Assunto: Malária.
DIAGNÓSTICO
• Esfregaço do sangue periférico
o Coloração pelos métodos de Giemsa, Wright ou May-Grünwald-Giemsa.
o Este método é suficiente para o diagnóstico na maioria dos casos, quando feito e analisado de forma
cuidadosa.
• Gota espessa
o Método padrão-ouro para diagnóstico!!!
o Coloração pelo método de azul de metileno-Giemsa (método de Walker).
o O exame da gota espessa tem uma sensibilidade superior ao esfregaço e deve ser usado para a
contagem de parasitas.
o Exame de 100 campos microscópicos → método semi-quantitativo (cruzes).
§ + = 1 parasita/campo.
§ ++ = 2-20 parasitas/campo.
§ +++ = 21-200 parasitas/campo.
§ ++++ = mais de 200 parasitas/campo.
24
MEDPÉDIA 2019 Karim Abdo
Assunto: Malária.
• Imunotestes rápidos
o Praticidade e facilidade de realização.
o Útil principalmente em situações onde é complicado processar o exame da gota espessa.
• Testes moleculares
o Detectam o material genético do Plasmodium.
o Ex.: PCR, ou reação em cadeia da polimerase).
TRATAMENTO
• P. vivax + P. ovale
o Cloroquina VO por 3 dias (4-3-3) + Primaquina VO por 7 dias.
§ Cloroquina → para as formas sanguíneas (merozoítos).
§ Primaquina → para as formas teciduais (esquizonte).
o Em gestantes e crianças menores de 6 meses usar apenas Cloroquina!!!
• P. malariae
o Cloroquina VO por 3 dias (4-3-3).
• P. falciparum – forma não grave
o Primeira escolha: Coartem (Artemeter + Lumefantrina) VO por 3 dias + Primaquina dose única no
primeiro dia ou Artesunato + Mefloquina VO por 3 dias.
o Segunda escolha: Quinina VO por 3 dias + Clindamicina VO por 5 dias + Primaquina VO dose única
no primeiro dia.
• P. falciparum – forma grave
o Artesunato IV por 6 dias + Clindamicina IV por 7 dias ou Artemeter IM por 5 dias + Clindamicina IV
por 7 dias.
• Malária mista
o P. falciparum + P. vivax/ovale: tratamento da malária por P. falciparum + Primaquina.
o P. falciparum + P. malariae: o tratamento deve ser dirigido apenas contra o P. falciparum.
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MEDPÉDIA 2019 Karim Abdo
Assunto: Malária.
• Ex 3: J.L.M., sexo masculino, 38 anos, pecuarista, brasileiro, residente no município de Nova Mamoré – RO.
Iniciou quadro de febre, dor de cabeça e mialgia há 12 dias. Ao exame físico, peso de 72 kg e estatura de 173
cm. Após consulta e exames complementares foi fechado o diagnóstico para malária por P. malariae.
1. Acima de 60 kg, você usa o esquema 4-3-3, pois não pode exceder o número de 10 comprimidos!!!
Duração do ciclo 48 48 50 72
eritrocitário (horas)
DOENÇAS TROPICAIS
Dengue
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• É a arbovirose mais importante, sendo transmitida, principalmente, pelo mosquito Aedes aegypti.
o Extremamente frequente e em diversas regiões do globo.
o Grande impacto na produtividade laboral (proeminente quadro de mialgia).
o Apesar de ser uma doença evitável, a sua taxa de mortalidade vem crescendo nos últimos anos.
• O agente é um arbovírus, do gênero Flavivirus, família Flaviviridae (mesma do vírus da febre amarela).
o É um vírus RNA de filamento único, esférico e envelopado com quatro sorotipos (DENV-1, 2, 3 e 4).
PATOGÊNESE
PRINCÍPIOS GERAIS
• Uma vez na circulação, o vírus se replica inicialmente nas células mononucleares dos linfonodos locais ou nas
células musculares esqueléticas, produzindo viremia.
o Tropismo por macrófagos/monócitos e miócitos do músculo esquelético. ATENÇÃO!!!
• No sangue, o vírus penetra nos monócitos, onde sofre a segunda onda de Monócito: leucócito circulante
replicação, e no interior dessas células ou livre no plasma, ele se dissemina por no sangue.
Macrófago: leucócito tissular.
todo o organismo → a replicação passa então a ocorrer nos macrófagos.
• A replicação viral estimula a produção de citocinas pelos macrófagos e, indiretamente, pelos linfócitos TCD4⁺.
o A síndrome febril da dengue depende da liberação de citocinas como o TNF-α e a IL-6.
• A resposta imune surge na primeira semana e tanto a imunidade humoral quanto a celular participam.
o Neutralização viral mediada pelos anticorpos e pela citotoxicidade dos linfócitos TCD8⁺.
§ Citotoxicidade anticorpo-dependente.
• No sexto dia, o IgM surge, atingindo o pico no final da primeira semana e persistindo por alguns meses.
• Os anticorpos IgG surgem na primeira semana e atingem o pico no final da segunda semana, mantendo-se
positivos por vários anos e conferindo imunidade sorotipo-específica, provavelmente por toda a vida.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Dengue.
FORMA GRAVE
• Ocorre quando um paciente já se infectou por algum sorotipo do vírus e, anos depois, se infecta por outro.
o A chance de dengue grave é maior quando a segunda infecção é pelo sorotipo 2.
§ Em termos de virulência, em ordem decrescente temos os sorotipos 2, 3, 4 e 1.
§ Nem sempre o portador de dengue grave terá sido previamente infectado por algum sorotipo.
• Na primeira infecção, o sistema imune do paciente produz anticorpos neutralizantes contra o primeiro
sorotipo, denominados anticorpos homólogos, que provavelmente permanecerão por toda a vida.
• Estes anticorpos também oferecem proteção contra outros sorotipos (imunidade cruzada ou heteróloga),
porém de curta duração (meses a poucos anos).
• Se o mesmo indivíduo for infectado anos mais tarde por um sorotipo diferente (infecção secundária) aqueles
anticorpos não serão mais capazes de neutralizá-lo.
• Para o novo sorotipo, eles serão considerados anticorpos heterólogos, de caráter “subneutralizante”.
TEORIA DE HALSTEAD
• A ligação de anticorpos heterólogos ao novo sorotipo de vírus da dengue (sem neutralizá-lo) facilita a
penetração do vírus nos macrófagos, por mecanismo de opsonização.
• A partir disso uma quantidade muito maior de vírus é capaz de invadir os
fagócitos, se proliferar em larga escala, aumentar a viremia, estimular a
tempestade de citocinas (TNF-α, IL-6) e ativar o complemento.
• Linfócitos TCD4⁺ específicos para o vírus secretam IFN-!, que age sobre os
macrófagos infectados, potencializando a internalização viral e a expressão
de moléculas do HLA classe II em sua membrana que, por sua vez, ativa mais
linfócitos TCD4⁺ específicos (mecanismo de retroalimentação positiva).
TEMPESTADE DE CITOCINAS
• A liberação maciça de fatores pró-inflamatórios contribuem para o quadro
fisiopatológico da dengue grave.
1. Aumento súbito e generalizado da permeabilidade capilar.
2. Transferência de líquido intravascular para o interstício.
3. Hipovolemia relativa e hemoconcentração (queda do volume
plasmático e aumento do hematócrito).
4. Estado de franco choque circulatório e falência orgânica múltipla.
• A trombocitopenia num primeiro momento é causada pela destruição periférica de plaquetas pelos
imunocomplexos e complemento, agravando-se, posteriormente, em função do surgimento da CIVD.
QUADRO CLÍNICO
INTRODUÇÃO
• Atualmente, o Ministério da Saúde preconiza que os antigos termos “dengue clássica”, “dengue hemorrágica”,
“síndrome do choque da dengue” e “dengue com complicações” SEJAM ABANDONADOS
• De acordo com a nova classificação, a dengue deve ser entendida como uma doença sistêmica única e
dinâmica, que pode se manifestar dentro de um amplo espectro clínico.
FASE FEBRIL
• A principal manifestação da dengue é a febre alta (39° a 40°C), de início súbito, com duração de 2-7 dias.
o Concomitantemente há adinamia, cefaleia, dor retrorbitária, mialgia e artralgia.
• Queixas gastrointestinais são frequentes durante essa fase, como anorexia, náuseas, vômitos e diarreia.
o A diarreia é branda, cursando com fezes pastosas 3-4x ao dia.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Dengue.
FASE CRÍTICA
• Para que o indivíduo evolua para essa fase é necessário que ocorra o fenômeno de extravasamento
plasmático (história prévia de infecção por um sorotipo diferente do vírus da dengue).
• A fase crítica se instala durante a defervescência (entre o terceiro e sétimo dia após o início dos sintomas).
• As primerias manifestações dessa fase são os sinais de alarme e devem ser pesquisados minunciosamente!!!
1. Dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua.
2. Vômitos persistentes.
3. Hipotensão ortostática e/ou lipotimia.
4. Hepatomegalia > 2 cm abaixo do rebordo costal.
5. Sangramento de mucosas.
6. Letargia e/ou irritabilidade.
7. Acúmulo de líquido (ascite, derrame pleural e/ou pericárdico).
8. Aumento progressivo do hematócrito.
• Os sinais de alarme são de grande importância prática, pois prenunciam a possibilidade de estado de choque.
• O choque circulatório ocorre quando um volume crítico de plasma sai do espaço intravascular, resultando em
hipovolemia e má perfusão tecidual GENERALIZADA.
• O intervalo de tempo entre o início do extravasamento plasmático e a conflagração do estado de choque varia
de 24 a 48 horas (na maior parte das vezes o choque é evidente entre os dias 4 e 5 após o início da doença).
• Sem tratamento, o choque leva o paciente a óbito em questão de 12 a 24 horas, por falência orgânica múltipla.
• Pacientes com sinais de alarme devem receber reposição volêmica intravenosa IMEDIATA, e devem ser
mantidos em observação para que seu status hemodinâmico seja continuamente reavaliado.
• Pode haver hemorragia digestiva, miocardite (taqui ou bradicardia), alterações da repolarização ventricular,
disfunção contrátil, aumento dos marcadores de necrose miocárdica, aumento, geralmente, leve das
aminotransferases, dinsfuções neurológicas e a IRA costuma ser incomum na ausência de choque.
o Elevação pronunciada de aminotransferses + alargamento do TAP = hepatite grave.
o A presença de IRA indica um pior prognóstico.
• Vale ressaltar que a ausência de extravasamento plasmático não descarta a possibilidade da dengue ser grave.
29
sendo geralmente leve. Elevações pronunciadas nóstico e os sinais de alarme podem passar
(> 10x o LSN), principalmente quando acompa- despercebidos, com o paciente evoluindo para
nhadas de deficit sintético (ex.: alargamento do a forma grave da doença! A valorização do
TAP/INR), indicam hepatite grave. Diversas contexto clinicoepidemiológico é essencial
MEDPÉDIA 2019.1
manifestações neurológicas podem ser vistas a Levi Almeida
para uma correta suspeição diagnóstica.
Assunto: Dengue.
Tab. 2
* Hipotensão = (1) Adultos: PA sistólica < 90 mmHg ou Pressão Arterial Média (PAM) < 70 mmHg ou queda
da PA sistólica > 40 mmHg em relação ao valor basal; (2) Crianças: queda da PA sistólica ≥ 2 desvios-padrão
em relação à média normal da faixa etária.
FASE DE RECUPERAÇÃO
• Pacientes que recebem terapia apropriada durante a fase crítica atingem a fase de recuperação dentro de
poucos dias, e o líquido extravasado para o espaço extravascular começa a ser reabsorvido.
• Neste momento é importante estar atento à possibilidade de complicações relacionadas à hiper-hidratação,
como a hipervolemia (ex.: HAS, edema agudo de pulmão).
• O débito urinário pode ficar aumentado, e muitos pacientes apresentam mudanças no padrão
eletrocardiográfico, desenvolvendo bradicardia.
DIAGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Influenza, Zika, Chikungunya, leptospirose (forma anictérica), sarampo, rubéola, mononucleose,
enteroviroses, hepatites virais e infecções bacterianas aguda.
• A presença de leucocitose significativa, especialmente com desvio à esquerda, afasta o diagnóstico de dengue
e sugere uma doença bacteriana piogênica ou leptospirose.
• Vale lembrar que anemia aplásica e a leucemia aguda também cursam com citopenias graves e febre.
o Para diferenciar essas patologias basta verificar se há a presença de anemia moderada/grave, achado
não esperado na dengue.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Dengue.
• As formas graves de dengue podem ser confundidas com sepse bacteriana, meningococcemia, malária, febre
amarela, febre maculosa brasileira, leptospirose, hantavirose.
o Um macete em relação à meningococcemia é que nesta as petéquias ou equimoses podem aparecer
desde o primeiro dia da síndrome febril, já na dengue só são vistas após o terceiro/quarto dia.
o Um dado que fala bastante contra o diagnóstico de dengue é a icterícia, mais comum na malária,
leptospirose, hepatite viral, sepse e febre amarela.
Dengue x Chikungunya
Dengue x Zika Manifestações Dengue Chikungunya
Manifestações Dengue Zika Febre ++ +++
Febre ++ + ou ausente Exantema + ++
Exantema + ++++ Mialgia ++ +
Mialgia ++ + Artralgia +/- +++
Artralgia +/- + Dor retrorbital +++ +
Dor retrorbital +++ ++ Sangramentos ++ +/-
Conjuntivite +/- +++ Choque +/- -
Sangramentos ++ - Trombocitopenia +++ +
Choque +/- - Leucopenia +++ ++
Leucopenia +++ - Linfopenia ++ +++
Trombocitopenia +++ - Neutropenia +++ +
Após a fase aguda Fadiga Artralgia crônica
CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA
• Prova do laço ou de Rumpel-Leede
o Deve ser feita em todos os casos suspeitos que não apresentam sangramentos espontâneos.
o Consiste na insuflação do manguito do esfigmomanômetro até o valor médio da pressão arterial
aferida (sistólica mais diastólica dividido por dois).
o Um quadrado com 2,5 cm² deve ser desenhado no antebraço do paciente, e observaremos o
surgimento de petéquias ou equimoses dentro dele.
o No adulto o teste é realizado por até cinco minutos, mas na criança o tempo máximo é de três minutos.
o O surgimento de 20 ou mais petéquias no adulto, e 10 ou mais petéquias na criança, até o tempo
máximo ou antes dele, define a positividade da “prova do laço”.
• Até o quinto dia
o Somente métodos que identifiquem diretamente o vírus e suas partículas podem ser usados.
o Pesquisa de antígenos virais (dosagem do antígeno NS1 no sangue), isolamento viral, teste de
amplificação gênica (PCR) e imunohistoquímica tecidual.
• Do sexto dia em diante
o O diagnóstico deve ser feito por meio da sorologia ELISA com pesquisa de anticorpos IgM antidengue.
o Os anticorpos IgG antidengue, se positivos neste momento, refletem apenas contato prévio com o
vírus, não sendo úteis para o diagnóstico do quadro de dengue aguda atual.
TRATAMENTO E ESTADIAMENTO
GRUPOS DE RISCO
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Dengue.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
ATUALIZAÇÃO TÉCNICA GUIA PRÁTICO PARA MANEJO CLÍNICO INICIAL
Assunto: Dengue.
ABRIL/2019 DE PACIENTE COM SUSPEITA DE ARBOVIROSE
GRUPO A GRUPO B GRUPO C GRUPO D
PACIENTE SUSPEITO DE ARBOVIROSE UM OU MAIS FATORES DE RISCO UM OU MAIS SINAIS DE ALARME SINAIS DE CHOQUE
PODE SER ACOMPANHADO EM PODE SER ACOMPANHADO EM UNIDADE DE INTERNAÇÃO OU UNIDADE DE INTERNAÇÃO
UNIDADES DE MENOR COMPLEXIDADE UNIDADES DE MENOR COMPLEXIDADE OBSERVAÇÃO
PRINCIPAIS SINTOMAS ASSOCIADOS À FATORES DE RISCO PARA AGRAVAMENTO SINAIS DE ALARME SINAIS DE CHOQUE DA DENGUE*
CADA ARBOVIROSE (além da febre) Dor abdominal intensa (referida ou à Taquicardia.
Sangramento de pele ou prova do laço posi�va. palpação) e con�nua.
DENGUE Extremidades frias.
Gestantes. Vômitos persistentes. Pulso fraco e filiforme.
Mialgia.
Prostração. Maiores de 65 anos. Acúmulo de líquidos (ascite, derrame Enchimento capilar lento (>2 segundos).
Cefaleia e dor retro-orbitária. Menores de 2 anos. pleural, derrame pericárdico). Pressão arterial convergente
Alteração do paladar. Hipotensão postural e/ou lipo�mia. (PAsist - PA diast <20mmHg).
Portadores de patologias crônicas (HAS,DM,
Diminuição do ape�te. Taquipneia.
doenças cardiovasculares, doenças respiratórias Hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo
Exantema (tardio). crônicas...). Oligúria (<1,5 ml/kg/h).
do rebordo costal.
CHIKUNGUNYA Sangramento de mucosa. Hipotensão arterial (fase tardia do choque).
Artralgia Intensa. Ausência de SINAIS DE ALARME. Cianose (fase tardia do choque).
Letargia e/ou irritabilidade.
Edema ar�cular. Ausência de SINAIS DE CHOQUE. * Pacientes com arboviroses podem apresen-
Aumento progressivo do hematócrito.
ZIKA tar choque secundário à disfunção miocárdica
Exantema. Exame inespecífico SEMPRE Ausência de SINAIS DE CHOQUE. ou sepse. Estes casos devem receber
Artralgia. - Hemograma simplificado de urgência (resulta- tratamentos específicos.
Exames inespecíficos obrigatórios
Edema de extremidades. do no próximo turno).
Conjun�vite. - Hemograma completo, RX de tórax, Exames inespecíficos: Idem ao GRUPO C.
CONDUTA coagulograma, bioquímica (U/ C/ Na/ K/ GLI/
Ausência de FATORES DE RISCO e CONDUTA
- Hidratação oral: vide quadro abaixo. AST/ ALT/ Albumina/ Bilirrubinas/ FALC/ GGT);
FENÔMENOS HEMORRÁGICOS (prova do - Hidratação venosa imediata (adultos e
outros a critério médico. crianças).
laço nega�va). - Hemograma normal:
- Reposição volêmica: SF 20 ml/kg em 20
Ausência de SINAIS DE ALARME. - Idem ao GRUPO A com retornos diários CONDUTA minutos.
Ausência de SINAIS DE CHOQUE. para reavaliação clínica completa (incluindo - Hidratação venosa imediata (adultos e - Reavaliar: se melhorar, iniciar fase de
aferição de PA em duas posições) e laboratorial crianças). manutenção (vide Manual).
Avaliação clínica da dengue deve incluir - Se não melhorar: repe�r a reposição
(hemograma) até 48 horas após o final da febre. - Reposição volêmica: SF 20 ml/kg em 2
- Busca por diagnós�cos diferenciais. volêmica até 3 vezes (sempre reavaliando
horas. pressão arterial, ausculta pulmonar e
- Se houver exposição de risco para Febre - Hemograma com hemoconcentração: - Reavaliar: se melhorar, iniciar fase de hematócrito).
Maculosa, ins�tuir tratamento específico. - Vide parâmetro de hemoconcentração no manutenção (vide Manual).
- Busca por sinais de alarme. quadro abaixo. - Se não melhorar: repe�r a reposição - No caso de resposta inadequada,
- Aferição da pressão arterial em duas posições - SINAL DE ALARME: reclassificação para volêmica até 3 vezes (sempre reavaliando (caracterizada pela persistência do choque)
deve-se avaliar:
em toda a consulta. GRUPO C. pressão arterial, ausculta pulmonar e
- Se o hematócrito es�ver em ascensão,
- Prova do laço. hematócrito). após a reposição volêmica adequada - u�lizar
Critério de alta: hematócrito normal e estável, - Se man�ver instabilidade hemodinâmica expansores colóides.
CONDUTA (após as 3 fases rápidas): conduzir como - Se o hematócrito es�ver em queda e
afebril, hemodinamicante estável por 48 horas;
- Hidratação oral: vide quadro abaixo. GRUPO D. houver persistência do choque - inves�gar
e melhora clínica; e plaquetas acima de 50.000 e hemorragias e avaliar a coagulação.
- Hemograma sempre na primeira consulta;
em ascensão. - Na presença de hemorragia, corrigir
demais a critério médico (hemoconcetração Critério de alta: idem ao GRUPO B. coagulopa�a e transfundir concentrado de
muda classificação para GRUPO C). Observação: pacientes idosos, mesmo que hemácias.
Observação: pacientes com sinais de alarme ou
- Preencher Cartão de Acompanhamento de hígidos têm maior risco para agravamento de - Na ausência de hemorragias, pensar em
sinais de choque (GRUPOS C e D) devem disfunção miocárdica e avaliar uso de
Paciente com Suspeita de Arbovirose. qualquer arbovirose. permanecer em leito de observação por, no inotrópicos.
- Orientar sobre Sinais de Alarme para paciente
mínimo, 48 horas após estabilização.
e seus familiares. Critérios de alta hospitalar: idem ao GRUPO B,
- Sintomá�cos (paracetamol ou dipirona), ver detalhes no Manual.
manejo da dor (vide Manual). PARÂMETROS UTILIZADOS NO MANEJO DA DENGUE
- Retorno para reavaliação no primeiro dia sem Alterações hemodinâmicas SINAIS DE GRAVIDADE ASSOCIADOS À
febre, ou no 5º dia se a febre persis�r. Hipotensão postural: PA deitado - PA em pé > 20mmHg LESÃO EM ORGÃOS-ALVO
Pressão arterial convergente: PAsist - PA diast < 20mmHg Sinais de acometimento neurológico: dor de cabeça intensa e
HIDRATAÇÃO ORAL PARA GRUPO A e GRUPO B persistente, sinais meníngeos, crises convulsivas, déficit de força
- Deve ser iniciada ainda na sala de espera. Hipotensão (adulto): PAsist < 90mmHg (crianças: vide Manual). muscular e outros sinais focais.
- Adultos: 60ml/kg/dia. Sinais de comprometimento cardíaco: dor torácica, arritmias ou
Parâmetros de hemoconcentração
- Crianças: até 10kg: 130ml/kg/dia insuficiência cardíaca.
Paciente com hematócrito aumentado em mais de 10% acima do
10 a 20kg: 100ml/kg/dia Sinais de comprometimento cardíaco ou pulmonar: dispneia,
valor basal.
acima de 20kg: 80ml/kg/dia desconforto respiratório ou estertoração.
Na ausência deste, com as seguintes faixas de valores:
- Pelo menos 1/3 com soro de reidratação oral; para 2/3 - crianças maiores de 10 anos > 42% Sinais de comprometimento renal: diminuição da diurese e/ou
restantes, orientar ingestão de outros líquidos. aumento de ureia e creatinina.
- crianças menores de 10 anos (vide anexo D do Manual)
- Manter a hidratação até 24-48 horas após diminuição da - mulheres: > 44% Sinais de descompensação de qualquer doença de base.
febre. - homens: > 50%
- A hidratação deve ser bem orientada e fracionada para - maiores de 65 anos: > 47% CONDUTA
facilitar a adesão.
Internação para tratamento de acordo com cada caso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Hidratação individualizada.
PONTOS CHAVE NO MANEJO CLÍNICO
1. Manual - Dengue: diagnóstico e manejo clínico
Orientação ao paciente e familiares sobre hidratação (adulto e crianças). Secretaria de Vigilância em Saúde, VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
e sinais de alarme. 5ª ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. No�ficação: todo caso com suspeita de arbovirose deve ser
Avaliação clínica bem feita (incluindo em toda consulta Acesse aqui o Manual pelo leitor do QR Code notificado e os casos graves comunicados imediatamente à VISA
do seu celular.
pressão arterial em duas posições e monitoramento de Regional de referência.
sinais de alarme). 2. Guia de Vigilância em Saúde: volume único. Ministério da Saúde, Secretaria Todos os pacientes dos GRUPOS C e D devem colher exames
de Vigilância em Saúde, Coordenação Geral de Desenvolvimento da específicos para diagnóstico etiológico (NS-1, RT-PCR, sorologia).
Hidratação oral sempre, venosa se necessário.
Epidemiologia em Serviços. 2ª Edição. Brasília. Ministério da Saúde, 2017.
Monitoramento clínico e dos sinais vitais mais Exames para diagnóstico específico de acordo com a suspeita
3. Chikungunya: manejo clínico. Secretaria de Vigilância em Saúde, 1ª ed. clínica e situação epidemiológica: consultar manuais específicos
frequentemente em pacientes internados. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. e/ou contatar VISA Regional de referência.
Assunto: Dengue.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Leptospirose
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• A leptospirose é uma antropozoonose febril aguda causada pela espiroqueta Leptospira interrogans
transmitidas pelo contato com urina de animais infectados ou água e lama contaminadas pela bactéria.
o Principais reservatórios: roedores, suínos, bovinos, equinos, ovinos e cães.
• A maioria dos casos tem evolução aguda e é autolimitada → regride depois de 3 a 7 dias sem sequelas.
• Na maioria das vezes, manifesta-se apenas com uma síndrome febril, muito semelhante à dengue clássica.
• Num percentual variável de casos, pode se apresentar com uma forma grave e potencialmente fatal → doença
de Weil.
o Caracterizada pela tríade: icterícia, hemorragias e IRA.
AGENTE ETIOLÓGICO
• Os sorogrupos principais em nosso meio são a L. icterohaemorrhagiae, L. interrogans e L. pomona.
• Aeróbio obrigatório, gram-negativo, helicoidal, flexível e móvel, podendo permanecer viável em solo úmido
ou na água por semanas a meses, mas que precisa de um hospedeiro animal para manter seu ciclo vital.
• Quando o reservatório é afetado ele não desenvolve a doença, porém,
torna-se portador, albergando o germe nos rins, eliminando-o vivo no
meio ambiente e contaminando, dessa forma, água, solo e alimentos.
• A leptospira é capaz de penetrar ativamente por pequenas abrasões
cutâneas, através de membranas mucosas (oral, faríngea e conjuntiva) ou
pela inalação de gotículas microscópicas.
o A infecção se dá pelo contato da pele ou mucosa com a urina
contaminada.
• Como a L. interrogans sobrevive em meio úmido ou aquoso, o contato com solo ou água contaminada passa
a ser uma importante forma de transmissão.
EPIDEMIOLOGIA
• Certos grupos profissionais são mais expostos ao contágio, pelo contato com solo ou água contaminada com
urina de ratos ou outros animais infectados.
• Certas atividades recreacionais também podem se constituir em fontes de
aquisição da doença, especialmente a natação em represas contaminadas
e a pescaria.
• Os animais domésticos, como cão e gato, podem transmitir a doença
através da urina contaminada, geralmente para crianças e donas de casa.
• As enchentes e chuvas fortes constituem, em nosso meio, um grande
favorecedor do contato do ser humano com água contaminada.
o Qualquer indivíduo exposto a águas de enchente pode
desenvolver a doença.
• Os principais surtos de leptospirose ocorrem na estação chuvosa do ano
(verão) → fevereiro a abril.
• Ainda há um segundo aspecto: as chuvas aumentam a concentração de roedores peridomiciliares, facilitando
o contato do ser humano com a urina do rato.
PATOGÊNESE
• Penetração na pele/mucosa → corrente sanguínea → multiplicação + disseminação → leptospiremia
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Leptospirose.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Leptospirose.
FORMA ANICTÉRICA
EXAMES LABORATORIAS
• Leucocitose com desvio à esquerda.
• Leucometria na faixa de 3.000-26.000/mm³.
• Plaquetopenia com valores entre 50.000-100.000/mm³.
o “Consumo” de plaquetas pela ativação endotelial.
• O hematócrito pode estar elevado (hemoconcentração),
normal ou levemente reduzido.
• O VHS geralmente está elevado.
• As enzimas musculares, como a CPK (marcador de miolesão),
estão elevadas em metade dos casos.
SINDROME DE WEIL
CONSIDERAÇÕES GERAIS
• É definida pelo aparecimento de icterícia, disfunção renal aguda e diátese hemorrágica.
• Início do quadro idêntico ao da leptospiremia, mas com evolução fulminante para a síndrome multisistêmica.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Leptospirose.
• Após 4-9 dias as complicações que definem a síndrome de Weil começam a aparecer.
o O comportamento bifásico da febre não é mais a regra.
o Ela simplesmente persiste, podendo diminuir ou até piorar.
• Nesta forma de leptospirose, é comum a hepatomegalia, e a esplenomegalia pode ser detectada.
• O hemograma é semelhante ao da forma anictérica, porém, com uma leucocitose mais acentuada e maior
frequência de plaquetopenia. O VHS pode ultrapassar 90 mm/h (característica marcante desta síndrome).
A ICTERÍCIA...
• Sinal proeminente com uma característica especial → tom alaranjado
(pela vasculite conjuntival associada) → icterícia rubínica.
• Predomínio nítido da fração direta, refletindo um fenômeno de
colestase intrahepática.
• Hiperbilirrubinemia (60-80mg/dl) com pouca elevação das
aminotransferase (< 200 U/L).
o Com exceção da alteração da bilirrubina, não há disfunção
hepatocelular.
FENÔMENOS HEMORRÁGICOS
• Variam desde petéquias e equimoses até hemorragia pulmonar e gastrointestinal (alta ou baixa).
o Hemorragia pulmonar → tosse, hemoptise e dispneia.
• Sangramentos causados por efeito da disfunção endotelial em vasos da pele e mucosas (PLAQUETOPENIA).
• Radiografia de tórax: infiltrado nodular/alveolar heterogêneo predominante em base.
o Os alvéolos estão cheios de sangue e líquido.
o A inflamação do tecido pulmonar está ausente.
MIOCARDITE
• A miocardite da leptospirose costuma se apresentar apenas com alterações eletrocardiográficas.
• Mudanças da repolarização ventricular e arritmias cardíacas (extrassístoles e fibrilação atrial).
• Uma minoria de pacientes pode evoluir com insuficiência cardíaca e choque cardiogênico.
FASE DE COVALESCÊNCIA
• Anemia, astenia e uveíte uni ou bilateral pode ocorrer até 18 meses após a leptospirose.
• A leptospiúria pode durar por semanas a meses após o início dos sintomas.
• Os níveis de anticorpos podem permanecer elevados por meses (a infecção é prolongada).
• Dura de um a dois meses, podendo persistir febre, cefaleia, mialgias e mal-estar.
• A icterícia desaparece lentamente, podendo durar semanas.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Leptospirose.
DIAGNÓSTICO
INTRODUÇÃO
• Método direto
o Tem maior sensibilidade na fase aguda da doença (fase leptospirêmica).
o Visualização direta do leptospira em exame de campo escuro, pelo isolamento em meio de cultura
apropriado ou pela detecção de seu material genético através da técnica de PCR.
• Método indireto
o São mais sensíveis na fase tardia (fase imune).
o Exames sorológicos.
• Confirmação
o Sinais e sintomas da doença associado a um ou mais dos seguintes resultados laboratoriais:
§ Teste ELISA-IgM reagente;
§ Soroconversão na reação de microaglutinação;
§ Aumento de quatro vezes ou mais nos títulos de microaglutinação entre duas amostras
sanguíneas coletadas com um intervalo de 14 a 21 dias (máximo de 60 dias);
§ Isolamento da Leptospira ou detecção de DNA de Leptospira patogênica por PCR;
§ Imuno-histoquímica positiva para leptospirose nos tecidos lesados.
EXAMES INESPECÍFICOS
• Elevação das bilirrubinas totais com predomínio da fração direta, podendo atingir níveis elevados.
• Plaquetopenia, leucocitose, neutrofilia com desvio à esquerda, anemia e VHS elevada.
• Gasometria arterial, mostrando acidose metabólica e hipoxemia.
• Aumento de ureia e creatinina.
• Potássio sérico normal ou diminuído, mesmo na vigência de IRA!!!
• Creatinoquinase (CPK) elevada.
• Transaminases normais ou com aumento de três a cinco vezes o valor da referência (geralmente não
ultrapassam a 500 UI/dl), podendo a TGO (AST) estar mais elevada que a TGP (ALT).
• Fosfatase alcalina (FA) e gama glutamil transferase (Gama GT) normais ou elevadas.
• Atividade de protrombina (AP) diminuída ou tempo de protrombina (TP) aumentado ou normal.
• Baixa densidade urinária, proteinúria, hematúria microscópica e leucocitúria são frequentes no exame
sumário de urina.
• Líquor com pleocitose linfomonocitária ou neutrofílica moderada, pode haver predomínio de neutrófilos,
gerando confusão com meningite bacteriana inespecífica.
• Radiografia de tórax com infiltrado alveolar ou lobar, bilateral ou unilateral, congestão e SARA.
• Eletrocardiograma com fibrilação atrial, bloqueio átrio ventricular e alteração da repolarização ventricular.
EXAMES ESPECÍFICOS
• A reação de soroaglutinaçõa microscópica (MAT) é o padrão ouro!!!
o Usa antígenos vivos de leptospira.
o Altamente sensível e específico.
o Positivo: diluição > 1:800 ou aumento de 4x o valor do título da 2ª amostra em relação à 1ª.
• Reação de soroaglutinação macroscópica (SAT)
o Usa antígenos mortos ou formalizados de leptospira (cepas de cada representante).
o Sensibilidade de moderada a boa.
o Geralmente usada como triagem.
• Ensaio imunoenzimático (ELISA)
o Detecção de IgM.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Leptospirose.
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
• Hepatite A: também tem febre e icterícia, porem as transaminases estão acima de 1000.
o Mesma sintomatologia, porém na leptospirose, as transaminases estão em torno de 500.
• Fase precoce: dengue, influenza (síndrome gripal), malária, riquetsioses (perguntar se o paciente teve contato
com carrapato), doença de Chagas aguda.
• Fase tardia: hepatites virais agudas, dengue hemorrágica, hantavirose, febre amarela, malária grave, febre
tifoide, endocardite, pielonefrite aguda, apendicite aguda, sepse, meningites, colangite, colecistite aguda,
esteatose aguda da gravidez, síndrome hepatorrenal, SHU, vasculites.
• Forma pulmonar grave: pneumonias graves, síndrome respiratória do hantavírus.
TRATAMENTO E PROFILAXIA
TRATAMENTO
• Deve ser iniciada o quanto antes, de preferência nos primeiros cinco dias do início dos sintomas,
aproveitando-se a fase de leptospiremia.
• Casos leves no adulto (forma anictérica)
o Amoxicilina 500 mg VO 8/8h por 5-7 dias.
o Ou Doxiciclina 100 mg VO 12/12h por 5-7 dias.
§ É contraindicada em gestantes, menores de nove anos e IRA ou insuficiência hepática.
• Casos leves em crianças (forma anictérica)
o Amoxicilina 50 mg/kg/dia VO 8/8h por 5-7 dias.
• Casos graves no adulto (síndrome de Weil)
o Penicilina G cristalina 1,5 milhões de UI IV de 6/6h.
o Ou Ceftriaxone 1-2 g IV a cada 24 horas.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Leptospirose.
TRATAMENTO DE SUPORTE
• Hidratação venosa para reposição da volemia, reposição de potássio quando necessária e acompanhamento
da função renal e pulmonar.
• Diálise peritoneal, quando necessário.
• Pacientes que evoluem com hemorragia alveolar e insuficiência respiratória aguda devem ser intubados e
colocados em prótese ventilatória.
PROFILAXIA
• Programas de controle de ratos.
• Campanhas educacionais no intuito de alertar os grupos ocupacionais de risco sobre o modo de contágio.
• Medidas de saneamento básico, como purificação da água e destino adequado dos esgotos.
• Adoção de medidas concretas que evitem enchentes durante os períodos das chuvas.
• Vacinação de animais domésticos (especialmente cães) contra a leptospirose.
• Quimioprofilaxia → Doxiciclina 200 mg VO uma vez por semana.
QUANDO INTERNAR?
ENFERMARIA
• Dispneia, tosse e taquipneia.
• Alterações urinárias, geralmente oligúria.
• Fenômenos hemorrágicos (hemoptise e escarros hemoptoicos).
• Hipotensãoe, icterícia e arritmias.
• Alterações do nível de consciência.
• Vômitos frequentes.
UTI
• Dispneia ou taquipneia (FR > 28 ipm).
• Hipoxemia (PO₂ < 60 mmHg em ar ambiente).
• Escarros hemoptoicos ou hemoptise.
• Tosse seca persistente.
• Infiltrado em radiografia de tórax, com ou sem manifestações de hemorragia pulmonar (hemoptoicos ou
hemoptise).
• Insuficiência renal aguda.
• Distúrbios eletrolíticos e ácido-base que não respondem à reposição intravenosa de volume e/ou eletrólitos.
• Hipotensão refratária a volume arritmias cardíacas agudas.
• Alteração do nível de consciência.
• Hemorragia digestiva.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Leptospirose.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Leptospirose.
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MEDPÉDIA 2019
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Toxoplasmose na Gestação
(Vytor Hugo Staut)
INTRODUÇÃO
• É uma doença sistêmica causada pelo protozoário Toxoplasma gondii.
• Zoonose altamente incidente em todo o mundo.
• Apresenta baixa incidência de manifestações clínicas, com habitual ocorrência no momento da infecção
aguda, de caráter benigno e autolimitado.
• No entanto, em indivíduos imunodeprimidos ou crianças que adquirem a infecção por transmissão materno-
fetal, a doença pode se manifestar de forma grave.
ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO
• O T. gondii é um protozoário coccídeo, intracelular obrigatório que parasita felídeos como hospedeiro
definitivo.
• Pode também causar infecções em humanos, porém o homem exerce o papel de hospedeiro intermediário.
• O T. gondii possui um aparelho apical que possibilita a infecção da célula humana, assim como o Plasmodium
da malária.
• Formas evolutivas mais importantes do parasito
o Oocisto: forma de resistência eliminada no ambiente com as fezes dos felinos, podendo ser ingerido
pelo homem.
o Taquizoítos: forma capaz de se multiplicar rapidamente por reprodução assexuada, presentes na
infecção ativa.
o Bradizoítos: forma que se reproduz lentamente dentro dos cistos teciduais.
§ Servem como fonte de infecção para o homem, quando ingeridos na carne crua ou malcozida
de animais infectados.
§ Podem estar presentes em tecidos humanos que podem dar origem a doença por reativação.
• Meios de transmissão
o Fecal-oral: ingestão de oocistos eliminados nas fezes de felinos.
o Carnivorismo: consumo de carnes e produtos de origem animal contendo cistos teciduais.
o Transplacentária: passagem de taquizoítos (fase aguda) na circulação materno-fetal.
o Outras: transplante de órgãos, transfusões sanguíneas, acidentes de laboratório, etc.
§ Obs: a toxoplasmose pode ser transmitida durante a amamentação, não pelo leite, mas por
fissuras na mama.
• Ciclo evolutivo no homem
o O felino infectado libera, nas fezes, o oocisto que
esporula no ambiente após 1-5 dias se tornando viável
para infectar o ser humano.
o Após ser ingerido, o oocisto chega ao estômago onde,
por ação do HCl, tem sua capa rompida e libera
bradizoítos no local.
o Os bradizoítos não se movem ativamente, então se
replicam até chegarem a forma de taquizoítos, que são
ativos.
o Os taquizoítos invadem a corrente sanguínea e outras
células, até que a resposta imunológica se inicie.
o Em reação à resposta imunológica, o parasito volta
para a forma de bradizoíto e forma o cisto tecidual que fica latente ou pode até sofrer calcificação por
ação do sistema imunológico.
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MEDPÉDIA 2019 Vytor Hugo Staut
o Caso haja uma depressão imunológica muito expressiva esse cisto latente pode reativar, os bradizoítos
viram taquizoítos novamente e iniciam uma nova infecção.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES...
• O período de incubação da doença varia de 10 a 23 dias após a ingestão de carne malcozida ou 5 a 20 dias
após a ingestão de oocistos.
• O parasita causa a destruição das células por sua própria ação ou pela reação de hipersensibilidade
apresentada pelo hospedeiro, resultando em doença para o mesmo.
• As manifestações clínicas no homem estão, geralmente, relacionadas a uma vulnerabilidade tissular, em
especial, associada à regeneração lenta ou ausente.
INDIVÍDUOS IMUNOCOMPETENTES
• No indivíduo imunocompetente a toxoplasmose costuma ter curso benigno e autolimitado, com os sintomas
agudos desaparecendo em algumas semanas.
• Na maior parte dos casos, se manifesta com linfadenopatia cervical sem outros sintomas associados.
• Outros sintomas que podem estar presentes são: febre, mal-estar, sudorese noturna, mialgia, dor de garganta,
exantema maculopapular e hepatoesplenomegalia.
• Raramente, podem ocorrer complicações na fase aguda, como miocardite, pneumonite, hepatite ou
encefalite.
o A coriorretinite é mais frequente na doença de reativação, mas pode ocorrer ainda durante a fase
aguda.
INDIVÍDUOS IMUNODEPRIMIDOS
• A toxoplasmose em imunodeprimidos, por infecção aguda ou doença de reativação, pode gerar quadros
graves e potencialmente fatais.
o A origem mais comum da doença é a reativação de cistos teciduais relacionados com uma infecção
antiga por T. gondii.
• Pode se manifestar de diversos modos, desde febre de origem indeterminada até quadros graves com
envolvimento orgânico → encefalite, pneumonite e a miocardite.
TOXOPLASMOSE CONGÊNITA
• Mulheres grávidas são frequentemente assintomáticas ou só tem sintomas leves → diagnóstico clínico difícil.
o Complementar a clínica com exames laboratoriais. Idades Frequência de
• A linfadenopatia e a febre são as queixas mais frequentes das gestantes e gestacionais transmissão vertical
podem estar acompanhadas de cefaleia, coriza, mialgia e astenia. 1º trimestre 10 a 25%
• A incidência e gravidade da toxoplasmose congênita dependem da idade 2º trimestre 30 a 54%
gestacional em que a mulher adquire a infecção primária. 3º trimestre 60 a 65%
o A chance de transmissão para o bebê é maior quando a mãe adquire a infecção no 3º trimestre.
o Contudo as consequências para o feto são mais graves quando transmissão ocorre no 1º ou 2º
trimestres.
• Formas graves: óbito fetal, coriorretinite, estrabismo, cegueira, epilepsia, atraso do desenvolvimento
neuropsicomotor, anemia, icterícia, púrpura trombocitopênica, encefalite, pneumonite, microcefalia,
calcificações cerebrais difusas, hidrocefalia, entre outros.
o 1º trimestre: pode ocorrer o óbito fetal.
o 2º trimestre: retardo mental, calcificações intracranianas e coriorretinite na maturidade.
o 3º trimestre: hepatoesplenomegalia e hidrocefalia.
• É possível não haver sequelas, mas muitas vezes estas são identificadas vários anos após o nascimento.
METÓDOS DE DIAGNÓSTICO
• Isolamento do Toxoplasma gondii.
• Histopatológico.
• Reação em cadeia da polimerase (PCR).
• Sorologias.
o Teste do corante Sabin Feldman.
o Teste de aglutinação.
o Imunofluorescência indireta (IFI).
o ELISA.
§ Sorologias para IgM, IgG, IgA e IgE.
o Teste de avidez para IgG Toxoplasma.
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Legenda do flugroma: Rx: tratamento; ESP: Espiramicina; SUL: Sulfadiazina; PIR: Pirimetamina; PCR-LA: reação em Cadeia da 49
Polimerase no líquido amniótico.
MEDPÉDIA 2019 Vytor Hugo Staut
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Algoritmo 2 | Interpretação de resultados e condutas para gestantes com mais de 16 semanas de gestação
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Algoritmo 3 | Fluxograma para toxoplasmose confirmada ou suspeita durante a gestação, com PCR em tempo real no líquido amniótico.
PROFILAXIA DA TOXOPLASMOSE_______
• Evitar o consumo de carnes malcozidas.
• Evitar o consumo de vegetais e frutas sem prévia lavagem e de origem duvidosa.
• Lavar as mãos após manipular carne crua, gatos, cães, terra, antes das refeições e antes de tocar o rosto.
• Evitar que gatos de estimação se alimentem de outros animais como ratos e aves.
• Recolher as fezes dos gatos diariamente evitando a esporulação dos oocistos que podem estar presentes.
• Gestantes devem usar luvas caso forem manipular as fezes ou entrar em contato com o local que os felinos
defecam, ou então outra pessoa poderá cuidar do gato.
• As fezes recolhidas podem ser atiradas em vasos sanitários, tratadas com água fervida ou expostas ao calor
seco.
• Deve-se cobrir os tanques de areia das crianças quando não estiverem em uso.
• Manter o controle sobre os gatos de rua.
• Manter o controle sobre moscas e baratas.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Raiva Humana
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Vírus do gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae.
o Seu genoma é constituído por RNA envolvido por duas capas de natureza lipídica.
o Possui dois antígenos principais, um de superfície, composto por uma glicoproteína responsável pela
formação de anticorpos neutralizantes, e outro interno, que é formado por uma nucleoproteína.
• Antropozoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus
presente na saliva e secreções do animal infectado,
principalmente pela mordedura.
o Apenas mamíferos transmitem e adoecem.
o O morcego é o principal responsável pela manutenção da
cadeia silvestre.
§ Outros: raposa, cachorro-do-mato, guaxinim...
o Já na área urbana o principal agente transmissor é o cão.
• O vírus da raiva é neurotrópico e sua ação no SNC causa um quadro clínico característico de encefalomielite
aguda, decorrente da sua replicação viral nos neurônios.
TRANSMISSÃO
• Saliva do animal contaminado → mordedura e/ou lambedura de mucosas e/ou pele lesionada.
• Arranhadura feita pelo animal contaminado.
• Através da via aérea, ou seja, inalação de aerossóis contendo o vírus (ex.: cavernas com morcego).
• Transmissão vertical (incomum).
• Transplante de córnea de um falecido contaminado (apenas oito casos relatados até hoje).
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
BREVE EPIDEMIOLOGIA...
• Quase não há mais casos no Brasil (ex.: em 2009 houveram menos de mil casos).
• Até 2004 todos os casos de pessoas não vacinadas atingiam 100% de letalidade.
• Notificação compulsória imediata, ou seja, deve ser notificada mesmo na suspeita e em até 24 horas.
PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO
• É indicada para pessoas com risco de exposição permanente ao vírus durante atividades ocupacionais.
o Médicos veterinários, biólogos e profissionais de laboratório para raiva.
o Estudantes de medicina veterinária, zootecnia, biologia, agronomia, agrotécnica e áreas afins.
o Pessoas que atuam na captura, contenção, manejo, coleta de amostras, vacinação, pesquisas,
investigações ecopidemiológicas, identificação e classificação de mamíferos.
o Espeleólogos, guias de ecoturismo, pescadores e outros profissionais que trabalham em áreas de risco.
• Vantagens da profilaxia pré-exposição
o Simplifica a terapia pós-exposição, eliminando a necessidade de imunização passiva, e diminui o
número de doses da vacina.
o Desencadeia resposta imune secundária mais rápida (booster), quando iniciada a pós-exposição.
• Esquema pré-exposição
1. Esquema: três doses.
2. Dias de aplicação: dia 0, 7 e 28.
3. Via de administração, dose e local de aplicação:
§ Intramuscular profunda, utilizando dose completa, no músculo deltoide ou vasto lateral da
coxa.
§ Intradérmica, 0,1 mL na inserção do músculo deltoide, utilizando-se seringas de 1 mL e agulhas
hipodérmicas curtas.
• VIA MAIS INDICADA → utiliza volumes menores de vacina → econômica.
4. Controle sorológico (titulação de anticorpos): a partir do 14º dia após a última dose do esquema.
§ São considerados satisfatórios títulos de anticorpos > 0,5 UI/mL.
§ Em caso de título insatisfatório, isto é, < 0,5 UI/mL, aplicar uma dose completa de reforço,
pela via intramuscular, e reavaliar novamente a partir do 14º dia após a aplicação.
§ Obs: os grupos de risco devem repetir o controle sorológico com frequência (períodos de
acordo com a frequência a qual são expostos).
CARACTERÍSTICAS DO FERIMENTO
• Local: regiões próximas ao SNC ou em locais muito inervados (mãos, polpas digitais e planta dos pés) e
lambedura de mucosas são graves.
• Profundidade: superficiais (sem presença de sangramento) ou profundas (atingem a derme e sangram).
• Extensão e número de lesões: tamanhão, extensão e se são únicas ou múltiplas, ou seja, uma porta de
entrada ou várias.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Contato Indireto lavar com água e sabão lavar com água e sabão lavar com água e sabão
não tratar não tratar não tratar
Acidentes Leves lavar com água e sabão lavar com água e sabão lavar com água e sabão
ferimentos observar o animal durante iniciar esquema com iniciar imediatamente o
superficiais, pouco 10 dias após a exposição1 duas doses, uma no dia 0 esquema com cinco doses
extensos, geralmente se o animal permanecer e outra no dia 3 de vacina administradas
únicos, em tronco sadio no período de observar o animal durante nos dias 0, 3, 7, 14 e 28
e membros (exceto observação, encerrar o caso 10 dias após a exposição1
mãos e polpas digitais se o animal morrer, se a suspeita de raiva for
e planta dos pés); desaparecer ou se tornar descartada após o 10o dia
podem acontecer raivoso, administrar cinco de observação, suspender
em decorrência doses de vacina (dias 0, 3, 7, o esquema e encerrar o
de mordeduras 14 e 28) caso
ou arranhaduras se o animal morrer,
causadas por unha desaparecer ou se tornar
ou dente raivoso, completar o
lambedura de pele esquema até cinco doses.
com lesões superficiais Aplicar uma dose entre o
7o e o 10o dia e uma dose
nos dias 14 e 28
Acidentes Graves lavar com água e sabão lavar com água e sabão lavar com água e sabão
ferimentos na cabeça, observar o animal durante 10 iniciar o esquema com iniciar imediatamente
face, pescoço, mão, dias após exposição1,2 soro3 e cinco doses de o esquema com soro3
polpa digital e/ou iniciar esquema com duas vacina nos dias 0, 3, 7, e cinco doses de vacina
planta do pé doses, uma no dia 0 e outra 14 e 28 administradas nos dias 0,
ferimentos profundos, no dia 3 observar o animal 3, 7, 14 e 28
múltiplos ou extensos, se o animal permanecer sadio durante 10 dias após a
em qualquer região no período de observação, exposição
do corpo encerrar o caso se a suspeita de raiva
lambedura de se o animal morrer, desaparecer for descartada após o
mucosas ou se tornar raivoso, dar 10o dia de observação,
lambedura de pele continuidade ao esquema, suspender o esquema e
onde já existe lesão administrando o soro 3,4 e encerrar o caso
grave completando o esquema até
ferimento profundo cinco doses. Aplicar uma dose
causado por unha de entre o 7o e o 10o dia e uma
animal dose nos dias 14 e 28
1. É necessário orientar o paciente para que ele notifique imediatamente a unidade de saúde 56
se o animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso, uma vez que podem ser necessárias
novas intervenções de forma rápida, como a aplicação do soro ou o prosseguimento do
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
SUSPEITA CLÍNICA
• Período de incubação variável, podendo ser de um mês a um ano, mas geralmente é de duas semanas a três
meses após a agressão.
• Sintomatologia inespecífica durante 2-4 dias: cefaleia, náuseas, mal-estar geral, leve aumento da
temperatura, anorexia, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia.
• Pode ocorrer hiperestesia/parestesia no trajeto dos nervos periféricos próximo à mordedura!!!
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
DIAGNÓSTICO
• Deve ser realizado em todo paciente com encefalopatia de causa desconhecida!!!
• Exame histopatológico
o Presença dos corpúsculos de Negri (achado patognomônico).
§ São caracterizados por corpúsculos de inclusão intracitoplasmática,
estruturalmente esférica ou oval, acidófila, limitada por um halo claro.
o Os corpúsculos de Negri localizam-se no corpo neuronal, dendritos, livres nos
tecidos de sustentação, células de Purkinje (cerebelo) e nos neurônios piramidais.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Doenças infecciosas
o Outras encefalites virais, enteroviroses, tétano, pasteureloses por mordedura de cão/gato, infecção
por vírus B por mordedura de macaco, botulismo, febre por mordedura de rato, linforreticulose
benigna de inoculação (arranhadura de gato), tularemia e poliomielite.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
TRATAMENTO
• Coma induzido: Quetamine, Midazolam e Propofol.
• Terapia antiviral: Ribavirina e Amantadina.
• Suplementação metabólica: Biopterina e L-arginina.
• Soroterapia: soro heterólogo/homólogo antirrábico humano (imunidade passiva).
o Deve-se infiltrar na(s) lesão(ões) a maior quantidade possível da dose do soro.
§ Quando as lesões forem muito extensas ou múltiplas, a dose pode ser diluída, o menos
possível, em soro fisiológico, para que todas as lesões sejam infiltradas.
§ Caso a região anatômica não permita a infiltração de toda a dose, a quantidade restante, a
menor possível, deve ser aplicada por via intramuscular, na região glútea.
o Evitar suturar, mas se for necessário, infiltrar soro no local uma hora antes do procedimento.
SORO HETERÓLOGO
• Solução concentrada e purificada de anticorpos, preparada em equídeos imunizados contra o vírus da raiva.
• A dose indicada é de 40 UI/kg de peso do paciente.
• O uso do soro não é necessário quando o paciente recebeu esquema profilático completo.
• Após receber o soro manter o paciente em observação por duas horas.
• Efeitos adversos
o Manifestações locais: dor, edema, hiperemia e, mais raramente, abscesso.
o Manifestações gerais: urticária, tremores, tosse, náuseas, dor abdominal, prurido e rubor facial.
o Manifestações imediatas: choque anafilático (raro e ocorre nas primeiras duas horas).
o Manifestações tardias: Doença do Soro (até a segunda semana pós-aplicação).
PROFILAXIA VACINAL
• Considerações gerais
o Imunidade ativa.
o Produzidas em cultura de células (diploides humanas, células vero, células de embrião de galinha etc.)
o A potência mínima das vacinas é 2,5 UI/dose.
o Não deve ser aplicada no glúteo!!!
• Dose e via de aplicação
o Via intramuscular: são apresentadas nas doses 0,5 mL e 1 mL.
§ Aplicação profunda, na região do deltoide ou vasto lateral da coxa.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Difteria
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Doença causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae e caracterizada
por um quadro agudo grave e toxêmico.
• A toxina produzida pelo microorganismo produz lesões na porta de entrada
e invasão do organismo.
o Orofaringe, mucosa nasal e laringe (mais comum).
o Pele, conjuntiva, vulva e outras mucosas.
• Pode causar manifestações no miocárdio, SNC, suprarrenais, fígado e rins.
• Acomete preferencialmente crianças de até 10 anos e populações em precárias condições de higiene ou sociais
e imunização inadequada.
CORYNEBACTERIUM DIPHTERIAE
• Características gerais
o Bacilo gram-positivo em forma de clava (arranjo em letras chinesas e em paliçada).
o Anaeróbio facultativo, imóvel, não esporulado e não invasivo.
o O homem é o reservatório único e natural do bacilo.
o Período de incubação de 1-6 dias.
o O período de transmissão dura cerca de duas semanas.
§ No doente crônico não tratado pode durar seis meses ou mais.
• Produção da toxina diftérica
o Intimamente relacionada com a presença de um bacteriófago.
o Todas as cepas toxigênicas do C. diphtheriae são lisogênicas (infectadas
com o bacteriófago).
§ Cepas não lisogênicas não produzem toxina e, portanto, causam
sintomas banais sem maiores consequências.
o O bacteriófago contem genes que estimulam a produção da toxina.
§ Toxina diftérica = fragmentos A e B.
• Fragmentos A e B
o O fragmento A é o componente da toxina enzimaticamente ativo.
o O fragmento B não é tóxico, mas sua presença é indispensável para a penetração do fragmento A no
citoplasma das células suscetíveis.
§ É por meio dele que a toxina diftérica se liga aos receptores específicos da membrana celular.
o Após essa etapa o fragmento A entra livremente no citoplasma, depois de ter ocorrido, ao mesmo
tempo, a clivagem do laço dissulfeto que o mantém unido ao fragmento B.
EPIDEMIOLOGIA
• Doença de notificação compulsória (em até 24 horas) e de investigação imediata e obrigatória de casos
suspeitos/confirmados.
• Ocorre durante o ano todo e pode afetar pessoas não imunizadas, parcialmente imunizadas ou imunizadas de
qualquer idade, raça ou sexo.
• Incidência aumentada nos meses com baixa temperatura → maior ocorrência de infecções respiratórias +
aglomeração em ambientes fechados.
• Com a utilização da vacina DTP (difteria, tétano e pertússis) o número de casos de difteria notificados no Brasil
vem decrescendo progressivamente → incidência rara em países com cobertura vacinal > 80%.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Difteria.
TRANSMISSÃO
• A principal forma de transmissão ocorre por contato direto de pessoa acometida, ou portadores com pessoa
suscetível, através de gotículas de secreções oronasais eliminadas por tosse, espirro ou ao falar.
• A transmissão indireta por fômites é pouco frequente, mas pode ocorrer.
• O consumo de leite cru também pode servir como meio de transmissão.
• Fatores predisponentes como desnutrição, imunodepressão, precárias condições de higiene e sociais e
imunização inadequada aumentam o risco de infecção.
PATOGÊNESE
• Doença toxêmica, com produção de lesões na porta de entrada e invasão do organismo pela toxina.
• A toxina é continuamente produzida no foco da infecção e, através das correntes linfática e sanguínea, atinge
órgãos e sistemas a distância (miocárdio, SNC, suprarrenais, fígado e rins).
• As implantações mais frequentes da difteria ocorrem na faringe, nariz e laringe.
o Mais raramente, pode se localizar na traqueia, ouvido, conjuntiva, pele e vulva.
• Atingindo o epitélio das mucosas, o germe produz inflamação exsudativa fibrinopurulenta.
• Multiplicação maciça dos bacilos diftéricos → necrose epitelial produzida pelas toxinas → invasão da
submucosa → ação sobre linfáticos e capilares sanguíneos → exsudação de fibrina e
aparecimento de leucócitos morfonucleares e hemácias em maior/menor número.
• Formação de uma placa pseudomembranosa espessa branco-amarelada ou
branco-acinzentada composta de fibrina, bactérias e células inflamatórias.
• Gravidade da doença
o Segundo a extensão das lesões e sua localização.
o Maior ou menor vascularização das regiões atingidas.
§ Maior ou menor absorção de toxina no local.
o Presença da angina diftérica (forma grave da difteria).
o Virulência do bacilo diftérico (poder invasor e toxigênico).
ANGINA DIFTÉRICA
• É a forma clínica mais comum da doença e também conhecida como faringoamigdaliana ou faringotonsilar.
• Após o período de incubação do agente, os sinais e sintomas mais comuns são queda do estado geral,
prostração, adinamia, palidez, anorexia, febre (37,5-38°C), taquicardia e dor de garganta.
• Exame de oroscopia
o Início: nota-se apenas tumefação das tonsilas e hiperemia de toda a faringe.
o Algumas horas: pontos branco-amarelados nas tonsilas, seguidos por exsudato esbranquiçado que,
como um véu, envolve parte de uma ou de ambas.
o Em seguida: o exsudato se torna mais espesso, pseudomembranoso, branco-amarelado/acinzentado.
§ Pode se estender pelas tonsilas, pilares anteriores, úvula, palato mole e retrofaringe.
• Placa pseudomomembranosa
o Se for possível desprendê-las, deixam à mostra uma superfície sangrante.
o Quanto maior a placa, maior a quantidade de toxina produzida e piora do estado geral.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Difteria.
LARINGITE DIFTÉRICA
• Forma clínica que se julga ser sempre secundária à angina diftérica.
• Inicialmente, surge tosse seca e rouca seguida de voz velada e hipofônica, que vai se intensificando.
• Em seguida, nota-se dispneia inspiratória, acompanhada de tiragem e uso de musculatura acessória.
o A tiragem é tanto mais intensa quanto maior for a estenose da laringe e menor a idade do paciente.
• Primeira fase da laringite diftérica
o Tiragem discreta e oxigenação respiratória suficiente ou às vezes exagerada (fase de compensação).
o Nessas condições, a criança ainda pode conciliar o sono.
• Segunda fase da laringite diftérica
o A dispneia inspiratória já não consegue proporcionar hematose suficiente.
o O doente permanece em vigília, instintivamente procurando poupar-se ao máximo, requisitando com
cuidado todos os músculos acessórios de respiração.
o Prostração, palidez, com sudorese, e cianose dos lábios e extremidades
(fase de descompensação).
o Após algum tempo, as forças se esgotam, a tiragem diminui pela estafa
e o enfermo fica semi-inconsciente, extremamente pálido e cianótico,
o que prenuncia morte próxima por asfixia.
• Durante a evolução clínica da laringite diftérica, podem surgir crises de asfixia,
provocadas, quase sempre, pelo aumento súbito da estenose, ao se
desprenderem pseudomembranas na luz da laringe, obstruindo-a.
o A traqueostomia deve ser feita precocemente em um paciente com suspeita de difteria e NUNCA
deve ser submetido à intubação orotraqueal (possibilidade do deslocamento das placas).
DIFTERIA CUTÂNEA
• Em geral, secundária à angina ou à rinite diftérica.
• Pode surgir por contaminação de ferimentos cutâneos ou de várias dermatites (ex.: eczemas e piodermites).
• Tem também o aspecto de exsudato fibrinopurulento, com formação de pseudomembranas.
• Obs: fazer diagnóstico diferencial com leishmaniose cutânea!!!
COMPLICAÇÕES
• Podem ocorrer desde o início até a sexta/oitava semana, quando os sintomas iniciais já desapareceram.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Difteria.
• Seu estabelecimento pode estar relacionado com a localização e a extensão da membrana, quantidade de
toxina absorvida, estado imunitário do paciente, demora no diagnóstico e início do tratamento.
• As principais complicações da difteria são: miocardite, neurite e insuficiência renal.
o Também são descritas insuficiência respiratória, derrame pleural, pneumotórax, pneumopericárdio e
alterações metabólicas.
COMPLICAÇÕES CARDÍACAS
• A miocardite diftérica (degeneração dos miócitos) é de manifestação mais tardia, surgindo seus primeiros
sinais a partir da segunda semana em pleno o período de convalescença.
• Manifestações discretas e médias
o Podem inexistir, constituindo as modificações do ECG a única exteriorização desse quadro.
• Manifestações graves
o Modificações do ritmo cardíaco: taquicardia relativamente acentuada, bradicardia mais rara (quando
muito intensa pode significar bloqueio), extrassístoles, fibrilação auricular e bloqueio AV.
o Alterações das bulhas: hipofonese, desdobramento de B1, ruído de galope.
o Cardiomegalia: mudança do ictus, variação radiográfica e ocorrência de sopros funcionais.
o Insuficiência cardíaca: insuficiência anterógrada, simulando as do choque.
§ Palidez, náuseas, vômitos, taquicardia mais ou menos acentuada, queda da pressão arterial,
sinais de estase pulmonar.
o Morte súbita: embolia de um grande vaso, pela mobilização de trombo intracavitário.
• Eletrocardiograma
o Alterações de repolarização, extrassístoles, taquicardia/bradicardia e distúrbios de condução AV.
COMPLICAÇÕES RENAIS
• Nos casos leves, em geral, encontra-se albuminuria discreta.
• Nos casos graves (difteria maligna), pode surgir nefropatia tóxica (degeneração de células tubulares), com
intensa albuminuria, oliguria, cilindruria e, raramente, IRA e hematuria.
COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS
• São geralmente tardias, sobrevindo quando a doença já está aparentemente curada.
o Surgem quase sempre a partir da terceira semana do início da difteria, até cerca de 40 dias depois.
• Apresentam-se como neurites periféricas tóxicas → nervos vago, motores ocular comum e externo,
glossofaríngeo, frênico e plexo cervical superior.
• Em consequência, pode-se encontrar paresia ou paralisia do véu palatino, traduzida por voz anasalada,
engasgo com regurgitamento de alimentos pelo nariz e imobilização da úvula e do véu durante a fonação.
• Paresia ou paralisia da acomodação e a do reto externo → diplopia e estrabismo → paralisia dos músculos do
pescoço, dos músculos acessórios da respiração e do diafragma → morte.
• Raramente, podem sobrevir paresias ou paralisias dos membros inferiores. Excepcionalmente, nos casos mais
graves, podem aparecer alterações da sensibilidade, com parestesias e alterações da sensibilidade profunda.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Angina diftérica: angina de Plaut-Vincent, angina estreptocócica, mononucleose infecciosa e candidíase.
• Difteria cutânea: impetigo, eczema, ectima e úlceras.
• Rinite diftérica: rinite estreptocócica, rinite sifilítica e corpo estranho nasal.
• Difteria laríngea: crupe viral, epiglotite aguda, laringite estridulosa e inalação de corpo estranho.
DIAGNÓSTICO
• Exame clínico.
• Exame bacterioscópico, cultura, PCR e hemograma.
• Método de Elek (determina se o bacilo é toxigênico ou não).
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Difteria.
TRATAMENTO
• Soro antidiftérico (SAD)
o Soro de origem heteróloga (produzido a partir da inoculação no cavalo).
o Realizar teste de hipersensibilidade antes da inoculação.
o Deve ser feito por via endovenosa, dose única e diluído em 100 mL de soro fisiológico.
o Formas leves (nasal, cutânea e amigdaliana): 40 mil UI, EV.
o Laringoamigdaliana ou mista: 60 a 80 mil UI, EV.
o Graves ou tardias (> 4 dias de doença): 80 a 120 mil UI, EV.
• Antibioticoterapia
o Eritromicina, VO ou EV, 40 mg/kg/dia (no máximo 2 g/dia) de 6/6 horas durante 14 dias.
o Penicilina G Cristalina/Procaína, EV, 100 a 150 mil UI/kg/dia em frações iguais de 6/6 horas durante
14 dias.
• Comprometimento respiratório alto seguido de laringite e edema
o Doxemetasona, EV, em dose inicial de 0,6 mg/kg/dia e em seguida por 0,4 mg/kg/dia em frações iguais
de 6/6 horas.
• Insuficiência respiratória
o A traqueostomia deve ser feita precocemente e um paciente com suspeita de difteria.
o Em casos de paralisia do diafragma iniciar a ventilação assistida.
• Terapia complementar
o Repouso no leito e isolamento até duas culturas negativas.
o Manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico.
o Dieta leve (tomar cuidado com a odinofagia).
§ Não havendo aceitação dos alimentos/líquidos por VO, administrar por sonda enteral.
o Nebulização ou vaporização.
o Proceder a aspiração das secreções com frequência.
o Carnitina, VO, 100 mg/kg/dia (no máximo 3 g/dia) em duas ou três frações iguais de 8/8 ou 12/12
horas durante quatro dias.
§ Tem efeito protetor no miocárdio.
§ Uso pouco frequente.
PROGNÓSTICO
• Depende do estado imunitário do paciente e da precocidade do diagnóstico.
• Tempo da doença sem instituição do tratamento (piora quando acima de três dias).
• Presença de edema periganglionar, manifestações hemorrágicas, placas extensas na orofaringe. Pior prognóstico
PREVENÇÃO E PROFILAXIA
• Vacina
o Inoculação intramuscular do toxoide diftérico.
o DTP (difteria, tétano e pertússis), DTP + Hib (Haemophilus influenzae do tipo B), DT (dupla infantil),
DTPa (tríplice acelular) ou dT (dupla adulta).
o A vacina é administrada em três doses iniciais em intervalos de dois meses e a primeira dose é dada
no segundo mês de vida.
o A imunização inicial será seguida de doses de reforço aos 15 meses e aos 5 anos, com DTP ou DTPa.
• Outros...
o Os pacientes devem ser isolados em hospital e continuarem com o calendário vacinal.
§ Isolamento respiratório padrão + gotículas.
o A doença deve ser notificada imediatamente (em até 24 horas).
o Os contatos devem ficar sob vigilância, coletando material de orofaringe e fossas nasais para teste e,
em caso positivo, devem receber Penicilina/Eritromicina e vacina.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Tétano
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• O tetáno é uma doença infecciosa, não contagiosa e grave, causada pela
ação de um dos componentes da exotoxina do Clostridium tetani (a
tetanospasmina) sobre as células do sistema nervoso central.
• Caracteriza-se por contratura e espasmos musculares, de forma
localizada ou generalizada, que se manifestam enquanto o paciente
mantém a consciência.
• Em casos mais graves, o paciente se apresenta em posição de opistótono,
mantendo o peso de seu corpo sobre o cotovelo, calcanhares e cabeça.
CLOSTRIDIUM TETANI
• Trata-se de um bacilo gram-positivo, anaeróbio, esporulado, com cerca de 4 a 10 μm de diâmetro.
• Encontra-se na natureza sob a forma de esporos, que podem ser armazenados nos seguintes locais:
o Terra ou areia contaminada;
o Espinhos de arbustos e pequenos galhos de árvores;
o Pregos ou latas enferrujadas e sujas de terra ou areia contaminada;
o Instrumentos de lavoura;
o Agulhas de injeção e fios de categute inconvenientemente esterilizados;
o Fezes de animais ou humanos.
• Os bacilos são resistentes a temperatura, sendo destruídos somente quando submetidos a um calor de 120ᵒC,
por 15-20 minutos.
• Como dito, o C. tetani é encontrado na natureza sob a forma de esporo, todavia, em condições de anaerobiose,
transformam-se na sua forma vegetativa e passam a liberar suas exotoxinas (tetanolisina e tetanospasmina).
FISIOPATOLOGIA
• Uma vez criada uma porta de entrada (solução de continuidade)
predispondo à contaminação por esporos do C. tetani, estes podem
encontrar condições de anaerobiose e assumirem a forma vegetativa.
• No momento em que os esporos assumem sua forma vegetativa,
tornam-se capazes de produzir tetanospasmina, toxina que migra em
direção ao sistema nervoso central.
• A tetanospasmina causa a inativação do interneurônio inibidor da
medula espinha, provocando hipertonia mantida e espasmos.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Tétano.
QUADRO CLÍNICO
• Hiperreflexia e espasmos ou contraturas paroxísticas espontâneas ou ocasionados por vários estímulos.
o Sons, luminosidade, injeções, toque ou manuseio.
• Opistótono, na qual o corpo, deitado, passa a ser apoiar sobre os calcanhares (membro inferior em
hiperextensão), cotovelos (membro superior em flexão) e sobre a nuca.
• Hipertonia muscular mantida, podendo ser localizadas ou generalizadas.
• A febre é baixa ou pode ser ausente.
• Preservação da lucidez (paciente consciente e orientado durante as crises).
• Trismo (oclusão epasmódica da boca) e fácies tetânica (riso sardônico, diminuição da rima palpebral).
o O trismo pode provocar fraturas de dentes.
• Rigidez de nuca, musculatura paravertebral, tórax, músculos intercostais, abdominais e de membros.
o A rigidez é tão potente que os músculos paravertebrais podem realizar fratura de vértebras.
• Disfunções do sistema nervoso autônomo, como sudorese, oscilações de PA, instabilidade da frequência
cardíaca, íleo paralítico, oscilações do nível glicêmico.
CLASSIFICACÃO
• De acordo com o quadro clínico, as formas clínicas podem ser classificadas quanto o tipo de foco, localização
da hipertonia e gravidade.
Tipo de foco Localização da hipertonia Gravidade
- Leve;
- Acidental; - Generalizado;
- Grave ou moderada gravidade;
- Umbilical (neonatal). - Localizado (ex.: tétano cefálico).
- Gravíssimo ou muito grave.
* A gravidade e o prognóstico são definidos pelo tempo de incubação, ou seja, quanto menor o período, maior a gravidade e pior o prognóstico.
FORMAS CLÍNICAS
• Tétano generalizado
o É aquele que acomete globalmente todo o corpo e musculatura do paciente (sem predileção).
o O indivíduo apresentará todos aqueles sinais clássicos e famosos do tétano [citados anteriormente].
• Tétano localizado
o É a forma em que a hipertonia se inicia em determinado grupo muscular e aí permanece, delimitada,
sem generalização ou apenas se propagando discretamente a grupos musculares vizinhos.
• Tétano cefálico ou de Rose
o É um subtipo de tétano localizado, mas que se restringe apenas ao segmento cefálico.
o É consequente a um ferimento nessa região, em geral na zona temporonasorbitária.
o Paralisia facial, trismo, rigidez de nuca, disfagia e hipertonia da musculatura da mímica.
o Os espasmos paroxísticos podem levar o indivíduo à asfixia (espasmo de glote e de faringe) e à morte.
§ “Tétano hidrofóbico”, por se assemelhar, neste ponto, à raiva.
• Tétano neonatal/umbilical
o Tem início entre 5 e 13 dias após a contaminação da superfície de corte do cordão umbilical, daí a
denominação popular de “mal de sete dias”.
§ Instrumentação cirúrgica mal esterilizada.
o O primeiro sinal é a dificuldade do bebê em pegar o seio ou bico da mamadeira.
o Dentro de algumas horas, essa dificuldade se acentua, surgindo trismo e disfagia.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Tétano.
COMPLICAÇÕES
• Pneumonias, episódios de apneia, depressão respiratória, acúmulo de secreções traqueobrônquicas, embolias
pulmonares, fraturas vertebrais, hemorragias (gastrointestinais e traqueais), infecções de trato urinário,
insuficiência renal aguda, paralisia periférica, sepse.
PROGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO
• Anamnese: busca por possíveis informações epidemiológicas, como a existência de uma porta de entrada.
• Quadro clínico: associar os eventos sintomatológicos listados anteriormente.
• Exames complementares: cultura em anaerobiose do material do foco, hemograma, eletrólitos, CPK, ureia,
creatinina, radiografia do tórax e coluna torácica.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Envenenamento por estricnina, tetania (nos casos de hipocalcemia), meningoencefalite, raiva (investigar
histórico de mordedura de animal e realizar testes de tolerância à água e ao vento), histeria, intoxicação por
metoclopramida e neurolépticos, processos inflamatórios da boca e faringe acompanhados de trismo.
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• Desbridamento do foco
o Deve ser amplo com retirada de corpos estranhos e tecido necrosado.
§ Deixar a ferida aberta e realizar lavagem e curativos com substâncias oxidantes.
o Uso prévio de soro antitetânico sistêmico (30 minutos antes).
• Soroterapia com soro antitetânico (SAT) e imunoglobulina humana antitetânica (IgHAT)
o As doses de SAT são de 20.000 UI, por via EV, e 1.000 UI, por via raquidiana (dose única).
§ Faz-se 4 ampolas de SAT (cada ampola tem 5.000 UI) diluído em soro glicosado via EV.
o Se o paciente for alérgico, devemos utilizar a IgHAT numa dose única de 1.000 a 3.000 UI, via IM.
§ Faz-se 12 ampolas de IgHAT (cada ampola tem 250 UI).
• Antibioticoterapia
1. Metronidazol, EV, 15-30 mg/kg/dia de 8/8 horas durante 7-10 dias.
2. Penicilina G Cristalina, EV, 200.000 UI/kg/dia de 4/4 horas durante 7-10 dias.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Tétano.
CUIDADOS GERAIS
• Vigilância permanente e cuidados médicos contínuos, não alimentar por via oral, manter o equilíbrio
hidroeletrolítico, suporte calórico e vitamínico parenteral, uso profilático de heparina (TEV e TVP), protetor
gástrico (úlceras de estresse), prevenção de úlceras de decúbito.
IMUNIZACÃO
• DTP (difteria, tétano e pertússis), DTP + Hib, DT (dupla infantil), DTPa (tríplice acelular) ou dT (dupla adulta).
• A vacina é administrada em três doses iniciais em intervalos de dois meses e a primeira dose é dada no
segundo mês de vida.
• A imunização inicial será seguida de doses de reforço aos 15 meses e aos 5 anos, com DTP ou DTPa.
SOROTERAPIA PROFILÁTICA
• Risco do ferimento
o Mínimo: superficial, limpo, sem corpos estranhos ou tecidos desvitalizados.
o Alto: profundo ou superficial sujo, extenso, com corpos estranhos ou tecido desvitalizados,
queimadura, fraturas múltiplas, fraturas expostas, mordeduras.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Tétano.
• Conduta adequada
o Se o paciente tem uma história vacinal incerta com dose a menos de três meses, devemos observar o
risco de infecção daquele ferimento.
§ Ferimento de risco mínimo: fazer uso apenas da vacina.
§ Ferimento de alto risco: fazer uso da vacina e utilizar SAT/IgHAT.
o Se o paciente tem três ou mais doses da vacina (e a última dose foi a menos de 5 anos), não devemos
proceder com o uso da vacina ou do SAT/IgHAT, independente do risco imposto pela ferida.
o Se o paciente tem três ou mais doses da vacina (última há mais de 5 anos, mas menos que 10) e temos:
§ Ferimento de risco mínimo: não devemos fazer uso da vacina.
§ Ferimento de alto risco: devemos fazer o reforço da vacina, mas não utilizar SAT/IgHAT.
o Se o paciente tem 3 ou mais doses (e a última foi feita há mais de 10 anos), e temos:
§ Ferimento de risco mínimo: fazer reforço da vacina.
§ Ferimento de alto risco: fazer reforço da vacina e, em situações especiais, utilizar SAT/IgHAT.
• Posologias e administração
o SAT, IM, uma ampola de 5.000 UI ou IgHAT, IM, uma ampola de 250 UI.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Coqueluche
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Doença infecciosa altamente contagiosa e aguda do trato respiratório causada pelas bactérias Bordetella
pertussis e Bordetella parapertussis.
• Cursa com tosse paroxística de intensidade variável e com duração de várias semanas.
• Possui elevada letalidade em crianças menores de 1 ano, particularmente menores de 6 meses.
BORDETELLA
• Características gerais
o Cocobacilo gram-negativo pleomórfico e aeróbio fastidioso.
o Microorganismos exclusivos de seres humanos.
o Período de incubação de 7-15 dias.
• Adesinas (adesão e invasão)
o Hemaglutinina filamentosa, pertactina e aglutinogênio.
• Toxinas (adesão, invasão, toxicidade e cilostasia)
o Toxina pertússis: aderência ao epitélio respiratório,
sensibilização para histamina, promove linfocitose, secreção
de insulina, metagênese do linfócito T e produção de IL-4 e IgE e inibe a função fagocítica.
o Adenil-ciclase invasiva: inibe a função fagocítica dos leucócitos, induz apoptose em macrófagos,
catalisa produção suprafisiológica do AMPc e causa hemólise in vitro.
o Citotoxina traqueal: promove IL-1 e óxido nítrico sintetase, estase ciliar e citopatia na mucosa.
EPIDEMIOLOGIA
• Doença de notificação compulsória (em até 24 horas) e de investigação imediata e obrigatória de casos
suspeitos/confirmados.
• A infecção e imunização não conferem imunidade permanente → necessidade de doses de reforço.
• O ser humano é o único reservatório natural de B. pertussis, não tendo sido demonstrado a existência de
portadores assintomáticos crônicos.
• É uma das mais contagiosas moléstias infecciosas da infância, tendo elevada taxa de transmissibilidade entre
lactentes (altíssima contagiosidade familiar, cerca de 80-90%).
o A transmissão é maior na fase inicial da doença (fase catarral e paroxística precoce).
• 30 a 50 milhões de casos/ano e cerca de 300 mil mortes/ano.
TRANSMISSÃO
• Acontece predominantemente através da eliminação de gotículas de secreção respiratória.
• Pode acontecer, em menor escala, por meio de objetos recentemente contaminados por portadores.
• O período de transmissibilidade de uma pessoa infectada estende-se por volta de 21 dias, sendo 7 dias
correspondentes ao período catarral e 14 dias ao período inicial de tosse paroxística.
• Embora não haja portador crônico, nos lactentes, o período de eliminação pode ser mais prolongado.
• A transmissão para lactentes e crianças pode ocorrer, também, a partir de pessoas infectadas, mesmo
assintomáticas, ou que apresentam quadro clínico inexpressivo.
FISIOPATOGENIA
• Tudo se inicia com a inalação das gotículas infectadas, que se aderem ao epitélio ciliado da nasofaringe.
• Ocorre então uma proliferação bacteriana com disseminação em toda camada ciliar das vias aéreas inferiores.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Coqueluche.
o A bactéria não invade além do epitélio respiratório e raramente ocorre disseminação hematogênica.
• A bactéria produz uma série de substâncias biologicamente ativas e fatores de virulência que afetam a camada
celular, causando dano tecidual local ou doença sistêmica, interferindo os mecanismos de defesa.
o Processo necrosante das camadas média e basal do epitélio brônquico.
• Há congestão e infiltração da mucosa (linfócitos e polimorfonucleares) com hiperplasia linfoide peribronquial.
• Além disso, as toxinas colaboram na produção da tosse e paralisa ciliar, com aumento da secreção de muco,
em geral de viscosidade aumentada.
• Posteriormente há o desprendimento epitelial e acúmulo de tampões mucocelulares no lúmen dos brônquios
que podem evoluir com obstrução, atelectasias, multiplicação bacteriana secundária e broncopneomonias.
• Todos esses fenômenos colaboram para os paroxismos de tosse, anoxia e a cianose.
FASE CATARRAL
• Estende-se por cerca de 7 a 14 dias, com sintomas inespecíficos.
• Anorexia, espirros, lacrimejamento, coriza, mal-estar, irritabilidade, febrícula e tosse seca discreta que
aumenta progressivamente em frequência e intensidade, principalmente à noite.
• O diagnóstico nessa fase é importante, pois o tratamento precoce reduz a gravidade da doença.
• Uma leucocitose relativa ou absoluta já se inicia nesse período.
FASE PAROXÍSTICA
• Dura aproximadamente quatro semanas e se inicia quando a tosse
explode em surtos, sendo mais severa à noite, e rebelde ao tratamento.
• A tosse é, inicialmente, curta e seca, intermitente, irritadiça, e evolui
para os paroxismos inexoráveis que são a marca registrada da
coqueluche.
o Inúmeros paroxismos de tosse com intensa sensação de asfixia.
• Os paroxismos caracterizam-se por cinco ou mais expirações curtas e
rápidas, seguindo-se uma parada respiratória e uma inspiração forçada, súbita e prolongada, acompanhada
pelo “guincho”. Além disso, vômitos podem surgir no fim dos acessos.
• A febre não aparece nesse período, a não ser que surjam complicações secundárias.
PERÍODO DE CONVALESCÊNCIA
• À medida que este período progride, o número, a gravidade e a
duração dos episódios diminuem, cessando em 3 ou 4 semanas.
o Os paroxismos de tosse somem e dão lugar a tosse comum.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
• Crianças imunizadas apresentam encurtamento de todos os estágios de pertússis.
• Adultos e adolescentes não têm fases distintas e o exame físico pode se apresentar sem alterações.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Coqueluche.
o Os achados mais comuns são vômitos pós-tosse, intermitência de paroxismos e tosse com duração
maior que 21 dias. Pode haver também petéquias em MMSS e hemorragias conjuntivais.
• Sinais de alarme para quadros graves
o Taquipneia com FR > 60 irpm.
o Bradicardia com FC < 50 bpm.
o Leucocitose > 50 mil células/mm³.
§ Realizar exsanguineotransfusão o mais breve!!!
o Hipóxia persistente após os paroxismos.
• Paroxismos que não conferem risco de morte
o Quando menores que 45 segundos.
o Rubor com ausência de cianose.
o Taquicardia ou bradicardia (quando não menor que 45 bpm).
o Dessaturação de oxigênio que se resolve espontaneamente ao final do paroxismo.
o Guincho ou esforço para auto-recuperação.
o Rolha de muco espontaneamente expectorada.
o Exaustão pós-tosse, mas com ausência da perda de consciência.
COMPLICACÕES
• Respiratórias
o Pneumonia intersticial, broncopneumonia, atelectasia, enfisema pulmonar, bronquite espástica, otite
média aguda, ativação de formas latentes de tuberculose e pneumonia bacteriana secundária.
• Neurológicas
o São relativamente raras, porém sérias, e quase sempre fatais, principalmente em crianças menores.
o LCR com linfocitose ou, em 50% dos casos, acelular, convulsões focais/generalizadas, coma,
meningoencefalite, sonolência, paralisias e degeneração cortical.
• Hemorrágicas
o Epistaxes, petéquias difusas (+ em mucosas) e hemorragia subconjuntival, subdural e subaracnóidea.
• Complicações secundárias ao aumento de pressão intra-abdominal e intratorácica
o Hérnias umbilical e inguinal, prolapso de reto, enfisema de mediastino e subcutâneo e pneumotórax.
• Digestivas
o Queda de peso, desnutrição proteico calórica, distúrbios hidreletrolíticos e erosão do frio lingual.
DIAGNÓSTICO
• O hemograma pode apresentar leucocitose, em geral maior que 20.000 células/mm³.
o Aumento relativo de polimorfonucleares e aumento relativo e absoluto de linfócitos típicos.
• A radiografia de tórax é discretamente alterada na maioria dos lactentes hospitalizados, revelando infiltrado
peri-hilar ou edema (às vezes, com uma aparência de borboleta) e atelectasias variáveis.
o Na doença leve há diminuição da transparência dos campos pulmonares e aumento da trama
broncopulmonar.
o O pneumotórax, pneumomediastino e ar em partes moles podem ser
encontrados ocasionalmente.
o A consolidação do parênquima sugere infecção bacteriana
secundária (pneumonia).
§ “Coração felpudo” ou “coração em árvore de natal”: áreas
irregulares de infiltrado e atalectasia adjacente a silhueta
cardíaca e mediastinal.
• A cultura de secreções para isolamento da bactéria é o método padrão-ouro para diagnóstico.
• Pesquisa pelos anticorpos fluorescentes (imunofluorescência direta).
• Reação em cadeia da polimerase (PCR) para a detecção em amostras nasofaríngea.
• Sorologia por ELISA para detecção de IgM, IgG e IgA em secreções nasofaríngeas.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Coqueluche.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Adenovírus, parainfluenza e vírus sincicial respiratório, infecção por Haemophilus influenzae, síndrome
pertússis, pneumonias, bronquiolites, bronquites, fibrose cística, tuberculose e aspiração de corpos estranhos.
TRATAMENTO
• Antibioticoterapia
o Primeira escolha: Azitromicina.
o Segunda escolha: Claritromicina (não recomendada para < 1 mês).
o Terceira escolha: Eritromicina (não recomendada para < 1 mês).
o Em caso de intolerância aos macrolídeos: Sulfametoxazol + Trimetropim.
• Hospitalização
o Pacientes que apresentarem sinais de alarme para quadros graves.
o Lactentes jovens (0 a 6 meses) com quadro de apneia ou tosse paroxística ou complicações.
o Pacientes em qualquer idade que apresentarem indicação de internação hospitalar por complicações.
• Isolamento respiratório
o Precaução padrão + gotículas.
o Por cinco dias a partir do início da antibioticoterapia.
o Até três semanas após o início da tosse sem uso do antibiótico.
QUIMIOPROFILAXIA
• Antibioticoterapia: o mesmo esquema usado no tratamento.
• < 7 anos com menos de quatro doses de vacina: iniciar/completar a imunização.
• < 7 anos que receberam a terceira dose mais de seis meses antes da exposição ou uma quarta dose mais de
três anos antes do contato: vacinação de reforço.
• > 9 anos: dose de reforço, se não vacinados ou mais de dois anos da última dose.
• Neonatos: filho de mãe que não fez ou não completou o tratamento adequado deve receber quimioprofilaxia.
• Gestantes: em qualquer fase da gestação a mulher, se atender a definição de caso suspeito em situação de
endemia ou se atender os critérios de quimiprofilaxia.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Coqueluche.
IMUNIZACÃO ATIVA
• Vacinas contra a coqueluche
o Pentavalente (difteria, tétano, pertússis hepatite B e Haemophilus influenzae do tipo B), DTP (difteria,
tétano e pertússis), DTP + Hib (Haemophilus influenzae do tipo B) e DTPa (tríplice acelular).
o A vacina é administrada em três doses iniciais em intervalos de dois meses e a primeira dose é dada
no segundo mês de vida.
o A imunização inicial será seguida de doses de reforço aos 15 meses e aos 5 anos, com DTP ou DTPa.
• Vacina materna e profilaxia casulo
o A profilaxia casulo se constitui na imunização, além da mãe no puerpério, de toda a família no
momento do nascimento de uma criança em uma casa.
o A principal abordagem, no momento atual, é a inclusão da vacina tríplice acelular adulto na gestante.
§ Passagem transplacentária de anticorpos maternos assegurando uma proteção a criança.
§ Uma dose a cada gestação após a 20ª semana.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Resfriados
(Karim Abdo)
INTRODUÇÃO
• As infecções agudas de vias aéreas superiores (IVAS) são as doenças mais comuns que acometem a
humanidade independentemente de idade ou sexo.
• Com frequência são quadros leves a moderados e autolimitados, mas responsáveis por ausências ao trabalho
e às escolas e por uso inadequado de antimicrobianos.
o DALY = marcador de doença que indica os dias de vida perdidos devido a algum adoecimento.
• Os principais agentes causadores dos resfriados são o parainfluenza, rinovírus, adenovírus, vírus respiratório
sincicial e coronavírus.
o Podem ser transmitidos diretamente (gotículas) ou indiretamente (contato com utensílios ou mãos).
• Os resfriados costumam ser autolimitados e, portanto, mormalmente são tratados apenas com sintomáticos
e suporte (antipiréticos, analgésicos, umidificadores, hidratação, repouso).
o Os anti-inflamatórios diminuem a resposta inflamatória normal do sistema imune e facilita a
replicação viral, ou seja, a viremia pode duplicar.
o O uso de xaropes também não é indicado → “o melhor xarope é a água”.
PARAINFLUENZA
• Características
o Os vírus da parainfluenza são paramixovírus e pode ser dos tipos 1, 2, 3 ou 4.
o Podem causar infecções repetidas, porém a reinfecção ocorre de forma mais branda.
o Causam 5-15% de todas as IVAS em crianças.
• Sintomas
o Tosse seca no início, evoluindo com expectoração mucoide em quantidade variável.
o Febre, astenia, cefaleia, mal-estar e dor torácica.
o Dispneia em pacientes com doença pulmonar.
o Crupe (laringotraqueobronquite), sendo mais comum em crianças.
§ Presença de cornagem.
• Diagnóstico
o Principalmente clínico (anamnese + exame físico).
o Isolamento viral, sorologia por ELISA e detecção do antígeno por PCR.
• Tratamento
o Não há tratamento específico antiviral e nem vacina.
o O tratamento é, principalmente, sintomático e de suporte.
o Casos graves: hospitalização + oxigenação.
§ Se necessário, fazer adrenalina para diminuir o edema de mucosa.
RINOVÍRUS
• Características
o É o agente mais comum de resfriados.
o Pouca imunidade cruzada.
o O número de resfriados decresce com idade.
§ Média de 50 resfriados na vida.
• Sintomas
o Rinorreia, congestão nasal, espirros, dor de garganta, mialgia, tosse seca,
hiporexia, raramente febre e quando existente é baixa.
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MEDPÉDIA 2019.1 Karim Abdo
Assunto: Resfriados.
• Diagnóstico
o Principalmente clínico (anamnese + exame físico).
o Isolamento viral, sorologia por ELISA e detecção do antígeno por PCR.
• Tratamento
o Não há tratamento específico antiviral e nem vacina.
§ A vacina da gripe é ineficaz para resfriados!!!
o O tratamento é, principalmente, sintomático e de suporte.
ADENOVÍRUS
• Características
o Infecção respiratória aguda responsável por causar cerca de 5-15% de todas as IVAS em crianças
incluindo faringite, amigdalite, febre faringo-conjuntival, bronquite e pneumonia.
o É a causa mais frequente de IVAS grave podendo causar morte ou evoluir com sequelas pulmonares
(bronquiectasia, bronquiolite obliterante e pulmão hiperlucente).
• O adenovírus pode causar...
o Pneumonia, febre conjuntival, meningoencefalite, conjuntivite, faringite, adenite mesentérica,
infecção respiratória aguda, cistite hemorrágica.
• Diagnóstico
o Principalmente clínico (anamnese + exame físico).
o Isolamento viral.
o Sorologia por ELISA.
o Detecção do antígeno por PCR.
o Tipagem/subtipagem (somente em laboratório de referência).
• Tratamento
o O tratamento é, principalmente, sintomático e de suporte.
CORONAVÍRUS
• Características
o Pode causar IVAS de leve a moderada.
o É um causador comum de resfriados e tem um período de incubação de 12-14 dias.
o Pode causar síndrome respiratória aguda grave (SRAG).
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MEDPÉDIA 2019.1 Karim Abdo
Assunto: Resfriados.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Influenza
(Karim Abdo)
INTRODUÇÃO
• Trata-se de uma zoonose de aves, suínos, cavalos e humanos.
• É causada pelo Orthomyxovirus pertencente à família Orthomyxoviridae,
classificados como influenza A, B e C.
o O vírus da influenza do tipo A é o principal vírus associado a
epidemias e pandemias (ex.: H1N1).
• São vírus respiratórios compostos por RNA de cadeia simples, recobertos
por glicoproteínas denominadas hemaglutininas (H) e neuraminidases (N).
o Hemaglutininas: adesão ao epitélio respiratório.
o Neuraminidases: formam espículas agregadas na superfície celular e participam na liberação do vírus.
Influenza A Influenza B Influenza C
- Infecta humanos, suínos, equinos e aves; - Infecta humanos e tem algumas variantes; - Infecta humanos (crianças) e suínos;
- Possui os antígenos shift e drift; - Possui apenas o antígeno drift; - Possui apenas o antígeno drift;
- Está associado a epidemias e pandemias. - Causa quadros clínicos semelhantes ao A. - Possui muitas variantes circulantes.
* Período de incubação, geralmente de 1 a 4 dias, em média 3 dias.
VARIAÇÕES ANTIGÊNICAS
• Antígeno shift
o Age como uma variante anterior de impulso antigênico que aparece em período epidêmicos.
o Resulta do acúmulo de mutação, que alteram as cadeias de aminoácidos dos epítopos, tanto das
hemaglutininas quanto das neuraminidases, resultando numa alteração gradual do vírus.
o Tais modificações antigênicas permitem que o vírus “fuja” das respostas imunes do hospedeiro.
• Antígeno drift
o Variante com troca de genes entre diferentes subtipos (deslocamento antigênico).
o Faz com que haja a produção de uma nova cepa viral, ocorrendo, portanto, em pandemias.
o Resulta de uma alteração drástica das proteínas de superfície (H e N), substituindo-se todo o segmento
genético viral por um segmento novo da mesma proteína.
TRANSMISSÃO
• Transmissão direta
o Pode ser de pessoa para pessoa por intermédio de gotículas
depositadas diretamente na conjuntiva ou nas mucosas nasal ou oral
de uma pessoa suscetível.
• Transmissão indireta
o Através do contato com um ambiente ou objeto contaminado com o
vírus e, após isso, inoculação na conjuntiva ou mucosas nasal ou oral.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• A transmissibilidade em adultos ocorre 24 horas antes do início dos sintomas e principalmente até três dias
após o fim da febre, em crianças dura, em média, 10 dias e em imunossuprimidos o tempo pode se estender.
• Os sinais e sintomas podem ser súbitos (calafrios, mal-estar, cafaleia, mialgia, dor de garganta, artralgia,
prostração, rinorreia, vômitos, fadiga, rouquidão, hiperemia conjuntival).
• Trata-se de uma infecção aguda febril (> 37,8 ᵒ) das vias aéreas, com a curva térmica usualmente declinando
após período de dois a três dias e normalizando em torno do sexto dia de evolução.
o O aumento da temperatura corpórea é geralmente mais acentuado em crianças do que em adultos
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MEDPÉDIA 2019.1 Karim Abdo
Assunto: Influenza.
• As queixas respiratórias tornam-se mais evidentes com a progressão da doença e se mantém, em geral, por
três a quatro dias após o desaparecimento da febre.
o A rouquidão e a linfadenopatia cervical são mais comuns em crianças.
• A evolução usual da gripe e a resolução espontânea se dá em sete dias, todavia, a tosse, o mal-estar e a fadiga
podem permanecer por algumas semanas (doença autolimitada).
Influenza não complicada Influenza complicada
Febre, cefaleia, mialgia, artralgia, calafrios, prostração, tosse seca, Sinusite, otite, desidratação, pneumonia viral e/ou bacteriana,
dor de garganta, rinorreia, hiperemia conjuntival. manifestações extrapulmonares, piora de doenças crônicas.
DEFINIÇÕES DIAGNÓSTICAS
• Resfriado comum (CID-10: J.00 + B.97)
o Infecção aguda causada por diversos tipos de vírus e que cursa com sintomas respiratórios com ou
sem febre e sintomas sistêmicos.
• Influenza/gripe (CID-10: J.09 a J.11).
o Infecção febril aguda causada pelo vírus influenza e que cursa com sintomas respiratórios e sistêmicos.
• Síndrome gripal
o Diagnóstico sindrômico (conjunto de sinais e sintomas).
o Sintomas respiratórios + sintomas gerais + febre.
• Síndrome respiratória aguda grave (SRAG)
o Trata-se também de um diagnóstico sindrômico que deve ser NOTIFICADO.
o Síndrome gripal + dispneia e/ou desconforto respiratório e/ou SpO₂ < 95% e/ou exacerbação de
comorbidade pré-existente.
SÍNDROME GRIPAL
• Indivíduos que apresentam febre de início súbito, mesmo que referida, acompanhada de tosse ou dor de
garganta e pelo menos cefaleia, mialgia ou artralgia, na ausência de outro diagnóstico específico.
o < 2 anos: febre de início súbito e sintomas respiratórios, na ausência de outro diagnóstico específico.
o < 6 meses: febre de início súbito mesmo que referida e sintomas respiratórios.
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MEDPÉDIA 2019.1 Karim Abdo
Assunto: Influenza.
• Em crianças, além dos itens anteriores, analisar se há cianose, desidratação, uso de musculatura acessória
(ex.: batimento de asa de nariz), tiragem, inapetência.
CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO
• Instabilidade hemodinâmica persistente, indicado o uso de droga vasoativa (30 mL/kg nas primeiras 3 horas).
• Sinais e sintomas de insuficiência respiratória, incluindo hipoxemia (PaCO₂ < 60 mmHg), com necessidade de
suplementação de oxigênio para manter a SaO₂ > que 90%.
• Evolução para outras disfunções orgânicas, como insuficiência renal aguda e disfunção neurológica.
PRECAUÇÕES
• Em pacientes ambulatoriais fazemos precaução/isolamento respiratório padrão + gotículas. Já em situações
de internação devemos realizar precaução/isolamento respiratório padrão + aerossóis.
• Higienização das mãos adequadamente + uso apropriado dos equipamentos de proteção individual (EPI).
DIAGNÓSTICO
• É principalmente clínico, mas também podemos solicitar isolamento viral, imunoflorescência direta, pesquisa
de anticorpos pelo método ELISA, PCR e radiografia de tórax.
Assunto: Influenza.
o A terapêutica precoce proporciona, tanto a redução da duração dos sintomas como a ocorrência de
complicações da infecção pelo vírus da influenza.
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MEDPÉDIA 2019.1 Karim Abdo
Assunto: Influenza.
USO DE OSELTAMIVIR
• Deve ser administrado preferencialmente nas primeiras 48 horas a partir do início dos sintomas.
• Em pacientes com efeitos colaterais gastrointestinais graves podem ter a absorção oral reduzida.
o Em caso de vômito em até uma hora após a ingestão, deve ser administrada uma dose adicional.
• A dose deve ser ajustada no caso de insuficiência renal:
o Se clearence de creatinina < 30 mL/minuto utilizar 75 mg de 24/24 horas;
o Em caso de hemodiálise deve-se iniciar 30 mg após cada sessão;
o Já no caso de diálise peritoneal deve-se iniciar 30 mg/semana;
• De acordo com o caso, orientar o afastamento temporário das atividades de rotina do paciente, SEMPRE
levando em consideração o período de transmissibilidade da doença.
• Orientar o retorno imediato ao serviço de saúde caso persistam ou se agravem algumas de suas queixas nas
próximas 24-48 horas consecutivas ao exame clínico.
USO DE ZANAMIVIR
• Utiliza quando há impossibilidade clínica da manutenção do uso do Oseltamivir.
• É contraindicado em menores de 7 anos para tratamento, em menores de 5 anos para quimioprofilaxia e
em todo paciente com pneumopatia crônica pelo risco de broncoespasmos severos.
• Não pode ser administrado para pacientes em ventilação mecânica → obstrução dos circuitos ventilatórios.
IMUNIZAÇÃO
• Consiste na imunização ativa através da vacina contra influenza numa dose única anualmente.
• Principal medida utilizada para se prevenir doença e pode ser administrada antes da exposição ao vírus.
• É recomendada vacinação anual contra influenza para os grupos-alvos, mesmo que já tenham recebido vacina
na temporada anterior, pois nessa população há uma queda progressiva no número de anticorpos protetores.
• Os grupos alvos consistem naquelas populações mais suscetíveis a doença.
o Indivíduo com 60 anos ou mais e crianças na faixa etária de 6 meses a menores de 5 anos.
o Gestantes e puérperas (até 45 dias após o parto).
o Trabalhadores da área da saúde.
o Povos indígenas.
o Grupos portadores de doenças crônicas não transmissíveis e
outras condições especiais.
o Adolescentes e jovens de 12 a 21 anos de idade sob medidas
socioeducativas.
o População privada de liberdade e funcionários do sistema
prisional.
o Professores das escolas públicas e privadas.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• Sepse é um quadro que ameaça a vida desencadeado da resposta inflamatória sistêmica (desregulada) à
infecção grave decorrente de qualquer tipo de microrganismo (bactérias, vírus ou fungos).
o A utilização dos termos septicemia, bacteremia, viremia, parasitemia ou fungemia, não seria o mais
adequado a se fazer pois:
§ Septicemia não descreve a gravidade do quadro, restringindo o processo patológico somente
à circulação sanguínea, enquanto outros órgãos e tecidos também podem estar envolvidos.
§ Bacteremia descreve a presença de bactérias na corrente sanguínea o que pode levar a um
quadro de sepse, mas, não necessariamente, será suficiente para desencadear, além do mais
a presença apenas das toxinas pode desencadear quadros similares à sepse.
• O mesmo serve para viremia, parasitemia ou fungemia.
• Choque séptico é um subtipo especial de sepse caracterizado por profundas alterações circulatórias, celulares
e metabólicas, acarretando risco de óbito superior ao da sepse (≥ 10% versus ≥ 40%).
EPIDEMIOLOGIA
• A sepse é uma doença com: alta prevalência, alta taxa de mortalidade e de elevados custos.
• Atualmente, pacientes com sepse ocupam cerca de 10-15% dos leitos das UTIs brasileiras.
• Cerca de 400 mil casos/ano no Brasil, com taxa de mortalidade de 60%.
• Custos de cerca de R$ 40.000 por paciente, totalizando cerca de 17 bilhões de reais por ano.
• Nos Estados Unidos há uma estimativa de 751.000 casos/ano.
o 51% dos casos receberam cuidados de UTI.
o 6,2% foram ventilados fora do ambiente de UTI.
o A incidência aumenta com a idade em cerca de 100x (de cerca de 0,2/1000 em crianças para 26,2/1000
em idosos com mais de 85 anos).
o Mortalidade média de 28% (10% em crianças e 38,4% em idosos com mais de 85 anos).
FATORES DE RISCO
• Os principais fatores de risco para sepse são: internação em CTI, infecção nosocomial, bacteremia, idade
avançada, imunodepressão, história de hospitalização prévia, principalmente se a causa da internação foi uma
infecção, pneumonia.
PATOGENIA
• O estabelecimento de um processo infeccioso depende da capacidade bacteriana de produzir resposta
inflamatória e de se evadir das defesas orgânicas.
o São vários os mecanismos de aderência e também mecanismos que aumentam a virulência.
§ Gram-negativas resistentes à lise do complemento.
§ Microrganismos capsulados que fogem do mecanismo de fagocitose.
§ Microorganismos que mimetizam tecidos humanos, não sendo reconhecidos como antígenos.
§ Produção de toxinas como a endotoxina e o ácido teicóico.
• Assim que invadem o organismo, os patógenos são reconhecidos pelo sistema imune inato como agentes
potencialmente perigosos e determinam uma resposta inflamatória complexa e multifatorial visando
restabelecimento do equilíbrio imunológico com a erradicação do processo infeccioso.
• Os produtos do agente infeccioso são reconhecidos por receptores tipo Toll existentes na superfície de células
do sistema imune inato como, os macrófagos.
• Os receptores Toll sinalizam as células a produzirem citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-1, IL-12, IL-6 e IL-8),
que por sua vez estimulam a resposta e o sistema imune adaptativo.
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MEDPÉDIA 2019.1 Vytor Hugo Staut
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MEDPÉDIA 2019.1 Vytor Hugo Staut
FISIOPATOLOGIA
• Todos os mediadores envolvidos na geração de resposta inflamatória acabam por levar a três fenômenos:
1. Lesão do endotélio capilar com extravasamento de líquidos;
2. Vasodilatação, com queda da resistência vascular sistêmica (RVS);
3. Microtromboses por ativação da coagulação e fenômenos de adesão de leucócitos ao endotélio.
• Isso acarreta em má distribuição do fluxo sanguíneo aos tecidos, resultando em choque com débito cardíaco
elevado e baixa RVS.
• Essas alterações do endotélio vascular se manifestarão em todos os órgãos e a maior perfusão determinará
maior gravidade das lesões.
o Órgãos bem perfundidos (pulmões, rins, fígado e cérebro), sofrerão lesões mais intensas.
• Pulmões
o Ocorre edema, congestão, focos de hemorragia, infiltrados inflamatórios com PMN e mononucleares,
formando um exsudato que se acompanha de fibrose e proliferação de células alveolares.
o Os órgãos podem apresentar vasos sanguíneos com microtromboses, êmbolos gordurosos, com ou
sem sinais de diátese hemorrágica.
• Rins
o Os rins ficam edemaciados e congestos, podendo apresentar microtromboses, hemorragias
glomerulares, exsudato inflamatório e necrose tubular, e raramente ocorre necrose glomerular.
• Fígado
o O fígado fica congesto, com alterações degenerativas de hepatócitos, que podem chegar à necrose
zonal ou centrolobular → essa hepatite inespecífica ou reacional se acompanha de estase biliar.
• Cérebro
o Congestão e hemorragias petequiais, trombos de fibrina, alterações degenerativas de neurônios
podendo chegar até a necrose.
• Outros órgãos
o As principais alterações são congestão, edema e hemorragias, com evolução para necrose
dependendo da gravidade das lesões.
o Essas alterações patológicas suportam o conceito de lesões endoteliais causadas por substâncias
tóxicas como endotoxina e mediadores humorais do hospedeiro.
CHOQUE SÉPTICO
• É um subtipo especial de sepse caracterizado por profundas alterações circulatórias, celulares e metabólicas,
acarretando risco de óbito superior ao da sepse.
o Choque quente/hiperdinâmico: hipotensão, taquicardia e vasodilatação periférica.
o Choque frio/hipodinâmico: palidez, vasoconstrição e anúria
• Para caracterizarmos um choque séptico é necessário que seja feita a ressuscitação volêmica do paciente.
o A necessidade de ressuscitação volêmica é necessária quando PAS < 90 mmHg ou PAM < 65 mmHg.
• A ressuscitação volêmica adequada é feita com soro cristaloide/fisiológico na quantidade de 30 mL/kg.
o Caso a ressuscitação volêmica não funcione, o uso de vasopressores pode ser necessário.
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MEDPÉDIA 2019.1 Vytor Hugo Staut
• Outro fator a ser considerado antes de se iniciar um segundo ciclo de ressuscitação volêmica é a pressão
venosa central (PVC).
o A PVC indica se o paciente está com uma volemia baixa (indicando a necessidade de mais soro) ou se
a volemia está dentro da normalidade e é necessário o uso de vasopressores para restaurar a pressão.
o O valor de referência para a PVC é de 8-12 mmHg, caso for menor que isso indica a necessidade de
volume, se estiver dentro da normalidade indica a necessidade de vasopressor.
• A caracterização final do choque séptico é feita quando:
o Há necessidade de vasopressor para estabilizar a PAM (≥ 65 mmHg);
§ Dizemos choque séptico refratário quando não há resposta diante o uso de vasopressores.
o E o lactato sérico for > 2 mmol/L (> 18 mg/dL) mesmo quando é feito a ressuscitação volêmica.
Sintomas que podem estar presentes no choque séptico de acordo com os sistemas
Taquicardia, débito cardíaco elevado, vasodilatação periférica, hipotensão arterial, hipovolemia intravascular, disfunção
Cardiovasculares
miocárdica.
Pulmonares Taquipneia, hipoxemia, shunt intrapulmonar, diminuição da complacência.
Renais Oligúria, queda da taxa de filtração glomerular, aumento de escórias nitrogenadas, necrose tubular aguda.
Neurológicos Alterações do nível de consciência, encefalopatia séptica, polineuropatia de doença crítica.
Diminuição da motilidade, úlceras de estresse, íleo hipodinâmico, hemorragias digestivas, translocação bacteriana,
Digestivos
colestase, insuficiência hepática.
Hematológicos Leucocitose/leucopenia, anemia, trombocitopenia, distúrbios de coagulação.
Insuficiência suprarrenal, hiperglicemia, hipertrigliceridemia, catabolismo proteico, hipoalbuminemia, acidose
Metabólicos
metabólica
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MEDPÉDIA 2019.1 Vytor Hugo Staut
TRATAMENTO DA SEPSE
• É feito a partir de “pacotes” (grupo de medidas que tomadas em conjunto apresentam melhor resultado que
quando adotadas individualmente).
o Atualmente deve-se adotar as medidas do pacote de uma hora para o manejo dos casos de sepse.
• Além da aplicação do pacote de uma hora é necessário que esse paciente seja periodicamente reavaliado,
assim temos a reavaliação de 6/6 horas.
• Há ainda outras recomendações que podem ser feitas de acordo com as necessidades de cada paciente, como
por exemplo, o uso de corticoides, controle glicêmico, ventilação mecânica...
o Caso não seja possível a coleta destes exames antes da primeira dose, a administração de
antimicrobianos não deverá ser postergada devendo ser iniciada na primeira hora!!!
• Antibioticoterapia
o Prescrição e administração de antimicrobianos de amplo espectro, por via endovenosa, visando o foco
suspeito, dentro da primeira hora da identificação da sepse.
o A utilização de antimicrobianos deve seguir a orientação do Guia de Antibioticoterapia Empírica para
a Sepse e Choque Séptico.
o Remoção urgente do foco infeccioso em no máximo 12 horas e se houver suspeita de infecção de
cateter, retirá-lo imediatamente.
• Farmacocinética e farmacodinâmica
o Os princípios de farmacocinética e farmacodinâmica devem ser seguidos por todas as instituições.
o Todas as recomendações visando otimização da terapia antimicrobiana devem ser feitas com auxílio
do farmacêutico e da enfermagem e estarem amplamente disponíveis para todos os profissionais.
o As principais recomendações estão listadas abaixo:
§ Utilizar dose máxima para o foco suspeito ou confirmado, com dose de ataque nos casos
pertinentes, sem ajustes para a função renal ou hepática;
§ Atentar para a diluição adequada de forma a evitar incompatibilidade e concentração
excessiva;
§ Utilizar terapia combinada, com duas ou três drogas, quando existir suspeita de infecção por
agentes multidrogas resistentes;
§ Restringir o espectro antimicrobiano quando o patógeno for identificado e a sensibilidade
conhecida.
• Ressuscitação volêmica
o Utilizar em pacientes hipotensos ou com sinais de hipoperfusão (hiperlactatemia inicial).
§ Sinais de hipoperfusão podem incluir oligúria, presença de livedo, tempo de enchimento
capilar lentificado e alteração do nível de consciência.
o Infusão imediata de 30 mL/kg de cristaloides dentro da primeira hora do diagnóstico da detecção dos
sinais de hipoperfusão.
§ Soro fisiológico a 0,9% (mais utilizado) ou ringer lactato.
§ Coloides proteicos, albumina ou soro albuminado, podem fazer parte dessa reposição inicial.
o Esse volume deve ser infundido o mais rápido possível, considerando-se as condições clínicas.
o Se persistir a hipotensão, a cada 30 minutos, fazer desafio de fluido com observação das variáveis
dinâmicas, repetir o procedimento até a PVC ficar entre 8-12 mmHg ou 12-15 mmHg (ventilação).
• Vasopressores
o Utilizar em pacientes que permaneçam com PAM < 65 mmHg após a infusão de volume inicial.
o A noradrenalina é a droga de primeira escolha e deve ser iniciada dentro da primeira hora.
§ Obs: na aula foi dito que a dopamina era a droga de primeira escolha.
o Não se deve tolerar pressões abaixo de 65 mmHg por períodos superiores a 30-40 minutos.
o Quando a hipotensão ameaça a vida, o vasopressor pode ser iniciado durante/antes da reposição.
o A dobutamina pode ser utilizada quando exista evidência de baixo débito cardíaco ou sinais clínicos
de hipoperfusão tecidual, como livedo, oligúria, tempo de enchimento capilar lentificado, baixa
saturação venosa central ou lactato aumentado.
o É fundamental garantir pressão de perfusão enquanto se continua a reposição volêmica. Assim, o
vasopressor pode ser iniciado em veia periférica, enquanto se providencia o acesso venoso central.
• Lactato alterado
o Nos pacientes com lactato alterado (> 2x o valor normal), a meta terapêutica é o clareamento.
o Assim, como um complemento ao pacote de uma hora, dentro de duas a quatro horas após o início
da ressuscitação volêmica, novas dosagens devem ser solicitadas.
§ O lactato deve diminuir usando apenas a reposição volêmica, vasopressores e os antibióticos.
o Nem sempre se obtêm a normalização do lactato, haja vista existirem outras causas para a
hiperlactatemia que não a hipoperfusão tecidual.
90
MEDPÉDIA 2019.1 Vytor Hugo Staut
o A busca pela normalização deve ser feita cuidadosamente, sob risco de intervenções terapêuticas
desnecessárias, e potencialmente deletérias.
o A hiperlactatemia residual isolada, sem outros sinais clínicos de hipoperfusão ou má evolução, não
necessariamente precisa ser tratada.
o A fração inspirada de oxigênio deve ser suficiente para manter uma PaO₂ de 70-90 mmHg e a cabeceira
do leito pode ser elevada a 45ᵒ.
o Para pacientes com diagnóstico de SDRA há menos de 48 horas, com relação PaO₂/FiO2₂menor que
150 e FiO₂ de 60% ou mais, a utilização de posição de prona é recomendada, para unidades que
tenham equipe com treinamento na técnica.
• Uso de bicarbonato
o Não está indicado o uso de bicarbonato nos casos de acidose lática em pacientes com pH > 7,15, pois
o tratamento dessa acidose é o restabelecimento da adequada perfusão.
o Nos pacientes com pH abaixo desse valor esta terapia pode ser avaliada como medida de salvamento.
• Profilaxia para trombose venosa profunda
o Heparina de baixo peso molecular.
o Compressor pneumático ou meias elásticas.
• Profilaxia da úlcera de estresse
o Bloqueadores de receptores H₂ ou IBP, porém deve se levar em conta o risco de elevação do pH
gástrico e predisposição a pneumonia associada a ventilação mecânica.
• Sedação contínua
o Promover a tentativa de despertar diário.
FLUXOGRAMA DE RESUMO
SEPSE
≥2 critérios no qSOFA?
PAS ≤ 100mmHg Não Não
Mantém suspeita? Monitorar
Alteração do estado mental
Taquipneia ≥ 22 ipm
Sim
Sim
Monitorizar e iniciar tratamento
1-2 acessos venosos periféricos calibrosos
Exames gerais, gasometria arterial, lactato, sumário de
urina e procalcitonina SOFA ≤ 2
SOFA ≥ 2
92
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Meningites Bacterianas
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• As meningites bacterianas caracterizam-se por um processo inflamatório do espaço subaracnóideo e das
membranas leptomeníngeas (aracnoide e pia-máter) que envolvem o encéfalo e a medula espinhal.
o Trata-se de uma emergência médica (pode matar em 24 horas).
o HIC, convulsões, rebaixamento do nível de consciência, eventos isquêmicos e outros...
MENINGES
• Todo o sistema nervoso central é envolvido por
membranas fibrosas denominadas meninges.
• Paquimeninge: composta pela meninge mais espessa.
o Dura-máter: meninge mais externa, espessa e
resistente.
• Leptomeninge: composta pela aracnoide e pia-máter.
o Aracnoide: se dispõe entre a dura e a pia-máter.
o Pia-máter: meninge mais delicada e mais interna.
ETIOEPIDEMIOLOGIA
• Doença de notificação compulsória (em até 24 horas) e de investigação imediata e obrigatória de casos
suspeitos/confirmados.
• Qualquer patógeno (vírus, bactéria, fungo, protozoário) pode produzir meningite num indivíduo suscetível.
o Independente da etiologia a síndrome clínica será semelhante, ou seja, com sintomas inespecíficos e
sinais de infecção do SNC.
Bactérias RNA vírus Fungos
- N. meningitidis; - Enterovírus; - Cryptococcus neoformans;
- S. pneumoniae; - Arbovírus; - C. albicans;
- H. influenzae; - Vírus do sarampo; - C. tropicalis.
- M. tuberculosis; - Vírus da caxumba; Protozoários
- S. aureus; - Arenavírus; - T. gondii;
- P. aeruginosa; - HIV 1. - T. cruzi;
- E. coli; DNA vírus - Plasmodium sp.
- Klebsiella sp.; Helmintos
- Enterobacter sp.; - Adenovírus;
- Salmonella sp.; - Herpes virus;
- Proteus sp.; - Varicela zoster; - T. solium;
- L. monocytogenes; - Epstein Barr; - Cysticercus cellulosae.
- Leptospira sp. - Citomegalovírus.
HAEMOPHILUS INFLUENZAE
• Cocobacilo gram-negativo pequeno, pleomórfico e com sorotipos capsulados (A-F) e não capsulados.
o Antes da vacina Hib, os sorotipos do tipo B eram responsáveis por
95% das doenças invasivas.
o As cepas não capsulares estão habitualmente envolvidas na
etiologia de infecções respiratórias.
• A infecção pelo H. influenzae é mais frequente em crianças de três meses
a três anos (rara após os cinco anos).
o Quando em adultos, pode estar relacionado a doenças de base
(otite/sinusite), HIV e/ou alcoolismo.
95
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Se aloja no trato respiratório superior e é transmitido por contato direto com gotículas respiratórias.
o Precaução/isolamento respiratório com padrão + gotículas.
§ Nas primeiras 24 horas de antibioticoterapia → após isso pode ser suspenso.
• Contactantes íntimos adquirem a bactéria e se tornam portadores assintomáticos.
• Fatores de risco
o Crianças em creches ou vivendo em situações de aglomerados humanos.
o Anemia falciforme e outras asplenias.
o Infecção pelo HIV e outra situações de imunodeficiência.
LISTERIA MONOCYTOGENES
• Bacilo gram-positivo associado com as maiores taxas de mortalidade (geralmente em imunossuprimidos).
• É adquirida a partir da ingesta de alimentos contaminados (ex.: salsicha) → bactéria resistente a refrigeração.
o Em pacientes imunocompetentes causa diarreia autolimitada.
• Fatores de risco
o Idosos.
o Gestantes.
o Lactentes.
o Pacientes com alterações de imunidade.
o Alcoolismo.
o Insuficiência renal crônica.
o Hepatopatias crônica.
STAPHYLOCOCCUS
• Cocos gram-positivos que fazem parte da microbiota normal (ex.: pele).
• S. aureus e S. epidermidis → envolvidos em procedimentos neurocirúrgicos.
FISIOPATOGENIA
• Tem início com a colonização da mucosa da nasofaringe → estado transitório de portador assintomático.
• No processo de invasão da mucosa, as bactérias inicialmente secretam enzimas específicas (IgA proteases),
que clivam e inativam a molécula de IgA local.
• Após isso, agridem as células epiteliais do aparelho respiratório, determinando a perda da atividade ciliar.
• Em seguida, ligam-se seletivamente as células epiteliais não ciliadas (depende das fímbrias e dos receptores).
• Após a invasão da mucosa da nasofaringe, as bactérias entram no espaço intravascular e, no sague, precisam
vencer a atividade bactericida da via clássica do sistema complemento e a atividade fagocitária dos neutrófilos.
• Todavia, a cápsula de polissacarídeo dessas bactérias possui propriedades antifagocitárias capazes de evitar
os elementos de defesa do hospedeiro e, dessa forma, conseguem penetrar no SNC (via plexo coróide).
• Dentro do espaço subaracnóideo começa a replicação bacteriana seguida da liberação de componentes
subcapsulares ativos.
o Gram-negativas → lipopolissacarídeo (endotoxina).
o Gram-positivas → componentes da parede celular (peptideoglicano e ácido teicóico).
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Essas substâncias, uma vez liberadas, estimulam os astrócitos, células da microglia e o endotélio capilar
cerebral a produzirem TNF e IL-1 → desencadeiam a resposta inflamatória meníngea.
o Essas duas substâncias estimulam a adesão dos neutrófilos às células endoteliais e sua consequente
passagem para o espaço subaracnóideo.
• Na evolução da resposta inflamatória, outros mediadores são em seguida liberados (IL-6, IL-8, fator ativador
de plaquetas, metabólitos do ácido araquidônico e proteínas derivadas dos macrófagos).
• A resposta inflamatória induzida pelas bactérias determina lesão do endotélio com alteração da
permeabilidade da barreira hematoencefálica.
• Esse fato permite a passagem de proteínas séricas para o espaço subaracnóideo e o consequente
aparecimento do edema vasogênico pelo aumento da pressão oncótica.
• Há também a formação do edema citotóxico, pela liberação de substâncias tóxicas dos neutrófilos e bactérias,
e do edema intersticial, pela produção de exsudato inflamatório, que altera a dinâmica do LCR.
• As diferentes formas de edema são responsáveis pelo aumento da pressão intracraniana (PIC), que resulta em
diminuição da pressão de perfusão cerebral, com consequente hipoxemia e metabolismo anaeróbio.
• Este último, por sua vez, determina aumento da concentração de lactato e consumo de glicose
(hipoglicorraquia).
• À medida que a infecção progride, a autorregulação vascular do SNC é perdida, tornando o fluxo sanguíneo
cerebral (FSC) diretamente dependente da pressão arterial sistêmica, de maneira que, a hipotensão sistêmica
ocasione redução do FSC e isquemia tecidual.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• O quadro clínico apresenta um espectro variado, dependendo da idade e duração da doença.
• A meningite bacteriana pode ser precedida por 3-4 dias de sintomas do trato respiratório superior e/ou
gastrointestinal, seguidos por sinais inespecíficos de infecção do SNC.
• Petéquias, púrpuras ou sufusões hemorrágicas sugerem diagnóstico etiológico de menigococo ou hemófilo.
• Pode ter início súbito, com rápida progressão para choque, CIVD, redução do nível de consciência e morte.
• Neonatos (até 28 dias) e menores de um ano
o Ausência de sinais clássicos de meningite.
o Hipotermia ou hipertermia.
o Choro fraco ou gemidos.
o Irritabilidade e recusa alimentar.
o Abaulamento de fontanela.
o Vômitos e/ou diarreias.
o Estado comatoso.
• Crianças maiores e adultos sadios
o Síndrome infecciosa: febre, anorexia, mal-estar geral, prostração, mialgias, estado toxêmico, CIVD,
distúrbios metabólicos.
o Síndrome de hipertensão intracraniana: cefaleia
holocraniana, vômitos em jato, alterações do nível de
consciência, papiledema, sinais de estimulação
simpática, convulsões, sinais neurológicos focais.
o Síndrome do comprometimento meníngeo: rigidez
nucal, opistótono, Kerning, Lasègue e Brudzinski.
PUNÇÃO LOMBAR
• A punção lombar tem como finalidade coletar o líquor para análise.
o Inserir a agulha entre a L4 e L5.
• Contraindicações da punção lombar:
o Hipertensão intracraniana → pode causar herniação;
o Infecção de pele no local → pode causar piora da infecção;
o Insuficiência respiratória → a posição do procedimento piora o
quadro.
• A TC de crânio pré-punção deve ser SEMPRE solicitada em casos de coma,
hemiparesia, sinais focais e papildema.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
ANTIBIOTICOTERAPIA EMPÍRICA
• A escolha inicial dos antimicrobianos deve ser baseada em fatores que auxiliam no diagnóstico etiológico,
como por exemplo: idade, focos sépticos primários, estado imune do paciente, TCE prévio e doenças prévias.
Idade 1ª escolha 2ª escolha Circunstância clínica Antibiótico
Cefalosporinas de 3ª Ampicilina + Adultos sem Cefalosporinas de 3ª
Menor que 3 meses
geração + Ampicilina aminoglicosídeos. fatores de risco geração
Vancomicina +
Cefalosporinas de 3ª Trauma ou
3 meses a 4 anos Cloranfenicol. cefalosporinas de 3ª/4ª
geração neurocirurgia
geração ou Meropenem
Cefalosporinas de 3ª Penicilina ou Cefalosporinas de 3ª
Maior que 5 anos Fístula liquórica*
geração Cloranfenicol. geração
Cefalosporinas de 3ª Gestantes e portadores Cefalosporinas de 3ª
Maiores de 50 anos –––––––––
geração + Ampicilina de HIV geração + Ampicilina
* O principal agente na fístula liquórica é o pneumococo.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
CORTICOTERAPIA
• Dexametasona, EV, 0,15 mg/kg de 6/6 horas durante os 2-4 primeiros dias.
o Não há indicação do uso em RN e menores de 2 meses.
o Em lactentes e crianças pode causar diminuição da acuidade auditiva nas meningites por Haemophilus.
o Indicado em adultos com meningite por pneumococo.
o Piora a penetração liquórica da Vancomicina, pois precisa da BHE inflamada para penetrar.
• A corticoterapia age diminuindo a inflamação meníngea.
o Porém diminui a penetração do antibiótico no líquor.
§ Nem todo antibiótico é capaz de atravessar a BHE de maneira eficiente.
MEDIDAS DE SUPORTE
• Hidratação com solução isosmolar.
• Elevação da cabeceira.
• Benzodiazepínicos (Midazolam).
• Ventilação mecânica.
COMPLICAÇÕES
100
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
RESUMO
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Doença Meningocócica
(Síssy Melo)
INTRODUÇÃO
• A doença meningocócica, por definição de caso, compreende: infecção da orofaringe, meningite,
meningococcemia (sepse meningocócica) e, excepcionalmente, infecção em outros órgãos.
o Bacteremia sem sepse, meningite, meningococcemia, meningite com meningococcemia.
• Os grupos etários mais suscetíveis são as crianças, adolescentes e adultos jovens.
• Doença de notificação compulsória e de investigação imediata e obrigatória de casos suspeitos/confirmados.
FISIOPATOLOGIA
• Tem início com a colonização da mucosa da nasofaringe → estado transitório de portador assintomático.
• A N. meningitidis utiliza os seus pili para se aderir aos receptores específicos das células do hospedeiro.
• No processo de invasão da mucosa, a bactéria inicialmente secreta enzimas específicas (IgA proteases), que
clivam e inativam a molécula de IgA local.
• Após isso, agride as células epiteliais do aparelho respiratório, determinando a perda da atividade ciliar.
• Em seguida, liga-se seletivamente as células epiteliais não ciliadas (depende das fímbrias e dos receptores).
• Após a invasão da mucosa da nasofaringe, a bactéria entra no espaço intravascular e, no sague, precisa vencer
a atividade bactericida da via clássica do sistema complemento e a atividade fagocitária dos neutrófilos.
• Todavia, a cápsula de polissacarídeo da N. meningitidis possui propriedades antifagocitárias capazes de evitar
os elementos de defesa do hospedeiro e, dessa forma, consegue penetrar no SNC (via plexo coróide).
• Os passos seguintes são os mesmos da meningite bacteriana [checar resumo de meningites bacterianas].
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MEDPÉDIA 2019.1 Síssy Melo
QUADRO CLÍNICO
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MEDPÉDIA 2019.1 Síssy Melo
• 1-4 horas: dor de cabeça, dor de garganta e sede (semelhante a um quadro de síndrome gripal)
• 5-8 horas: dores generalizadas e febre.
• 9-12 horas: perda de apetite, dor nas pernas, náuseas, vômitos e irritabilidade.
• 13-16 horas: sonolência, dispneia, diarreia, mãos e pés frios, rigidez de nuca e palidez.
• 17-20 horas: fotofobia, rash cutâneo, início das formações petequiais.
• 21-24 horas: confusão, delírio, perda de consciência e óbito.
DIAGNÓSTICO
• Isolamento e cultura: sangue, líquor, mucosa, lesão cutânea, líquidos sinovial, pleural e pericárdico.
o Realizar o método de gram para ter noção da morfologia da bactéria!!!
• Pesquisa de antígeno: contraimunoeletroforese, fixação do látex, ELISA, radioimunoensaio, PCR.
• Exame de sangue: leucocitose e neutrofilia com desvio a esquerda, VHS baixa, plaquetopenia, alterações no
coagulograma (consumo dos fatores de coagulação), proteína C-reativa aumentada, hiperglicemia.
• Gasometria e eletrólitos: acidose, hipóxia, hipopotassemia, hipocalcemia, hipomagnesemia.
• Avaliacão do líquor: turvo/purulento, pleiocitose (centenas a milhares de células/mm³) com predomínio de
polimorfonucleares neutrófilos, hiperproteinorraquia (superior a 100 mg/dL).
TRATAMENTO
• Não aguardar o resultado dos exames e iniciar IMEDIATAMENTE a antibioticorapia empírica com Ceftriaxona,
EV, 2 gramas de 24/24 horas.
• Após a confirmação etiológica do meningococo alterar a medicação para Penicilina G Cristalina, EV, 300.000
UI/kg de 4/4 horas durante 10 dias.
• Corrigir o choque e os distúrbio hidroeletrolíticos e metabólicos, realizar suporte inotrópico para pacientes
que não respondem ao volume, ventilação mecânica quando necessário, correção dos distúrbios de
coagulação com plasma fresco e concentrado de hemácia quando a hemoglobina do paciente estiver < 7.
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MEDPÉDIA 2019.1 Síssy Melo
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Hanseníase
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• A hanseníase á uma infecção crônica, granulomatosa, curável, que tem como agente etiológico o
Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen (BH).
o Microorganismo de elevada infectividade, porém com baixa patogenicidade.
• Também é conhecida como mal de Hansen, lepra, morfáia, mal de Lazaro, mal da pele e mal do sangue.
• Trata-se de uma doença de notificação compulsória e é de investigação obrigatória de todos os casos.
MYCOBACTERIUM LEPRAE
• É um BAAR, intracelular obrigatório com predileção pelas células do sistema reticuloendotelial, especialmente
os histiócitos do sistema nervoso periférico (célula de Schwann), células da pele e mucosa nasal.
• Uma importante diferença morfológica com o bacilo da tuberculose
(BK) é que o BH, quando em grande quantidade nas lesões, forma
aglomerados bacilares, denominados globias.
• Devido sua multiplicação extremamente lenta (11-16 dias), o BH não
pode ser cultivado in vitro.
o Apresentação insidiosa com período de incubação de anos.
• Possui predileção por ambientes com temperaturas inferiores a 36,5ᵒC.
• O homem é considerado o único reservatório natural do bacilo.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
• O acometimento cutâneo caracteriza-se por máculas hipocrômicas, hipo ou anestésicas.
• Na forma clínica pode haver placas, nódulos, tubérculos e mesmo infiltração sem lesões de pele aparentes.
• O bacilo, quando identificado à histopatologia, localiza-se nas partes profundas da derme.
• No Brasil, a definição de caso de suspeita de hanseníase se dá na presença de qualquer lesão de pele com
alteração de sensibilidade, até que o contrário seja provado.
o Acometimento de nervos com espessamento neural e baciloscopia positiva firmam o diagnóstico.
TRANSMISSÃO
• As vias aéreas superiores constituem a principal via de inoculação e eliminação do bacilo.
o Soluções de continuidade na pele eventualmente podem ser porta de entrada da infecção.
• Secreções orgânicas como leite, esperma, suor e secreção vaginal podem eliminar bacilos.
• Atinge pessoas de todas as idades, ambos os sexos, mas raramente ocorre em crianças abaixo de cinco anos.
• O contato esporádico com um portador de hanseníase dificilmente dissemina a doença.
o É necessário um contato íntimo e duradouro para que ocorra a contaminação.
• O período de incubação da doença é longo (2-7 anos, em média 5 anos).
• Como dito anteriormente, o BH apresenta alta infectividade, mas baixa patogenicidade, ou seja, o convívio
com um portador pode fazer o indivíduo contrair a doença, mas não desenvolver sintomas.
PATOGÊNESE
• Uma vez no organismo, e não ocorrendo a sua destruição, o BH irá se localizar na célula de Schwann e na pele.
• Sua disseminação para outros tecidos pode ocorrer nas formas mais graves da doença, nas quais o agente
infectante não encontra resistência contra a sua multiplicação.
• A imunidade humoral é ineficaz contra o M. leprae, logo, a defesa é efetuada pela imunidade celular, capaz
de fagocitar e destruir os bacilos, mediada por citocinas (TNF-alfa, IFN-gama) e mediadores da oxidação.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Hanseníase.
• Na forma paucibacilar (lesões tuberculoides), há predomínio de linfócitos Th1, produzindo IL-2 e IFN-gama.
o A resposta imune impede a proliferação, mas pode ser lesiva ao organismo (lesão cutânea e neurais).
• Já na forma multibacilar (lesões virchowianas ou lepromatosas), o predomínio é de linfócitos T supressores e
Th2, produzindo IL-4, IL- 5 e IL-10.
o A produção de substâncias pelo bacilo, no interior do macrófago, favorece seu escape à oxidação.
• A evolução da doença promove a formação de lesões que se tornam infiltradas, com relevo da pele e eritema,
espessamento do nervo periférico podendo ocasionar dor e seguido de hipoestesia e hipotonia.
CLASSIFICAÇÃO
Assunto: Hanseníase.
Assunto: Hanseníase.
• Há infiltração assimétrica da face e dos pavilhões auriculares, bem como lesões na região cervical.
• As lesões neurais são precoces, assimétricas e, com frequência, levam a incapacidades físicas!!!
Borderline tuberculoide (BT) Borderline borderline (BB) Borderline virchowiana (BV)
- Lesões bizarras (“queijo suíço”);
- Placas ou manchas eritematosas;
- Limite interno nítido;
- Por vezes anulares; - Múltiplas lesões elevadas;
- Limites externos imprecisos;
- De maior extensão; - Lesões eritematoinfiltradas;
- Bordos de cor ferruginosa;
- Distribuição assimétrica; - Algumas de aspecto anular;
- As lesões são mais numerosas que a BT;
- Pouco numerosas ou com lesões satélite. - Baciloscopia francamente positiva.
- Distribuição assimétrica;
- Baciloscopia negativa/positiva (discreta).
- Baciloscopia moderadamente positiva.
• Borderline borderline
o Pode evoluir com neurite, orquite, epididimite, irite, iridociclite, artralgia ou artrite, linfadenopatia
generalizada, proteinúria, dano hepático, edema de membros inferiores, pré-tibialgia e febre.
o Leucocitose com desvio para esquerda, anemia normocítica normocrômica, VHS bastante elevada e
proteína C-reativa aumentada são achados frequentes.
HANSENÍASE REACIONAL
• Os surtos reacionais são definidos como episódios inflamatórios que se intercalam no curso crônico.
• Podem chamar mais atenção do que as lesões primárias da hanseníase, pela riqueza de sinais e sintomas.
• Ao contrário da apresentação esperada para uma hanseníase, possuem evolução aguda.
• Há a reação reversa ou reação do tipo 1 e a reação do tipo 2 ou eritema nodoso da hanseníase (ENH).
• As reações seguem-se a fatores desencadeantes, tais como: infecções intercorrentes, vacinação, gravidez e
puerpério, medicamentos iodados, estresse físico e emocional.
• Os quadros reacionais podem anteceder o diagnóstico, surgir durante o tratamento ou após a alta.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Hanseníase.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Hanseníase.
FENÔMENO DE LÚCIO
• Ocorre antes do tratamento em poucos pacientes com hanseníase
virchowiana (“lepra bonita”).
• Lesões maculares equimóticas (necróticas) que se ulceram podem ocorrer
em pequeno número ou por uma área extensa da pele, sendo observada
mais comumente em extremidades inferiores.
• No caso de lesões generalizadas, o paciente pode comportar-se como um
grande queimado, e a infecção secundária das lesões por Pseudomonas
aeruginosa é uma complicação temida.
• A histopatologia demonstra necrose isquêmica da epiderme e derme superficial, parasitismo intenso de
células endoteliais, proliferação de células endoteliais e formação de trombos em grandes vasos das porções
profundas da derme.
• O tratamento consiste na poliquimioterapia, medidas de suporte, antibioticoterapia e transfusões de troca.
DIAGNÓSTICO
INTRODUÇÃO
• O diagnóstico é essencialmente clínico e epidemiológico somado a baciloscopia e histopatologia.
• A OMS define um caso de hanseníase como uma pessoa que apresenta uma ou mais das seguintes
características listadas a seguir e que requer tratamento quimioterápico específico:
o Lesões de pele com alterações de sensibilidade;
o Espessamento de nervos periféricos;
o Baciloscopia positiva para Mycobacterium leprae.
§ Vale lembrar que o paciente pode ser portador, mas ter a baciloscopia negativa!!!
• Em caso de dúvidas, deve-se realizar provas complementares que são o teste da histamina e da pilocarpina.
112
doente:
Se o paciente apresenta um teste Mitsuda-positivo, significa dizer que ele tem uma boa imunidade e que
dificilmente evoluirÇ para a forma virchowiana da doenÄa.
Se o paciente apresenta um teste Mitusuda-negativo, significa dizer que ele tem uma imunidade baixa e que
poderÇ evoluir para a forma virchowiana e mais grave da doenÄa.
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Hanseníase.
BACILOSCOPIA
A baciloscopia á um exame complementar muito ãtil no diagnÖstico, de fÇcil execuÄÅo e baixo custo, embora nÅo
seja um exame de rotina e sÖ realizado em grandes centros de referäncia. Colhe-se o raspado de tecido dármico
BACILOSCOPIA
(incisÅo de 3mm na pele isquemiada) nos lÖbulos das orelhas direita e esquerda, cotovelos direito e esquerdo e em
• suspeita.
lesÅo É o exame complementar mais útil no diagnóstico, é de fácil execução e baixo custo.
• Deve ser feitoá com
A coloraÄÅo a linfa
feita pelo obtidadeem
mátodo pelo menosequatro
Ziehl-Neelsen locais (lóbulos
apresenta-se resultadodas
soborelhas
e formaDdee índice
E e cotovelos D e E).
baciloscópico
(IB), numa escala que vai de 0 – 6+. A baciloscopia mostra-se negativa (IB=0) nas formas
• A coloração é feita pelo método de Ziehl-Neelsen e apresenta-se o resultado sob a forma tuberculÖide e indeterminada,
de índice
fortemente positiva na forma virchowiana e revela resultado variÇvel na forma dimorfa.
baciloscópico (IB), numa escala que vai de 0 a 6+.
Características gerais das formas clínicas da Hanseníase
Classificação
Clínicas Bacterioscópicas Formas Clínicas Operacional
ñreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas
hipocråmicas e/ou eritemato-hipocråmicas, com ou sem Negativa Indetermianda (HI) Paucibaciliar (PB)
diminuiÄÅo da sudorese e rarefaÄÅo dos pälos. (≤ 5 lesâes de
Placas eritematosas, eritämato-hipocråmicas, bem pele e/ou apenas
delimitadas, hipo ou anestásicas, comprometimento de Negativa TuberculÖide (HT) 1 tronco nervoso
nervos. acometido)
Lesâes prá-faveolares (eritematosas planas com o
centro claro); LesÅo faveolares eritematopigmentares Positiva (bacilos e globias Dimorfa (HD)
(de tonalidade ferruginosas ou pardacenta); com raros bacilos) ou Multibacilar (MB)
apresentando alteraÄâes de sensibilidade. Negativa (> 5 lesâes de
Eritema ou infiltraÄÅo difusos, placas eritematosas pele e/ou mais de
infiltradas e de bordas mal definidas, tubárculos e Positiva Virchowiana (HV) um tronco nervoso
nÖdulos, madarose, lesâes das mucosas, com alteraÄÅo (Bacilos abundantes e acometido)
da sensibilidade. globias)
TESTE DA HISTAMINA
• É feito colocando-se uma gota de solução de cloridrato de histamina a 1:1.000 sob a pele.
• Com uma agulha fina faz-se uma escoriação embaixo do líquido, de modo que não haja sangramento. 365
• O esperado normalmente é que ocorra a tríplice reação de Lewis:
o Eritema inicial no local da picada, no máximo com 10 mm, 20 a 40 segundos após a picada;
o Eritema pseudopódico (vasodilatação reflexa) com 30 a 50 mm após aproximadamente um minuto;
o E seropápula, dois a três minutos após a escarificação.
• Em manchas hipocrômicas hansenianas iniciais não o eritema pseudopódico.
TESTE DA PILOCARPINA
• Nesse teste utilizamos uma injeção intradérmica de cloridrato de pilocarpina a 1%.
• Normalmente dois minutos após após a picada ocorre sudorese na área, já nas lesões hansênicas há anidrose.
REAÇÃO DE MITSUDA
• É um teste de aplicação intradérmica cuja leitura é tardia (28 dias) e é utilizada na classificação e prognóstico.
o Não possui valor para o diagnóstico, pois é encontrado de forma positiva na população sã, que já teve
contato com o bacilo, porém não desenvolveu a doença por apresentar boa imunidade.
• Aplicação intradérmica, na superfície extensora do antebraço direito, de 0,1 ml de um preparado que contém
40 a 60 milhões de bacilos mortos por mililitro.
• Após cerca de 48 a 72 horas da injeção, observa-se uma reação localizada (semelhante à reação tuberculínica),
denominada reação de Fernandez, de significado incerto.
• Depois de 28 a 30 dias pode ocorrer uma segunda reação tardia (reação de Mitsuda), que consiste na presença
de uma pápula ou nódulo, que pode ou não ulcerar.
• Reações até 5 mm chamamos de Mitsuda negativo, e acima de 5 mm chamamos de Mitsuda positivo.
o Mitsuda-positivo: boa imunidade e dificilmente evolução para a forma virchowiana.
o Mitusuda-negativo: imunidade baixa e que provável evolução para a forma virchowiana.
As drogas usadas nos esquemas padronizados pela OMS e MS sÅo a rifampicina (ãnica bactericida dos
TRATAMENTO
O tratamentodapsona
esquemas-padrÅo), da hansenÑase se baseiaOs
e clofazimina. TRATAMENTO
emesquemas
uma poliquimioterapia padrÅo da
poliquimioterÇpicos tämOMScomoe que pode ser
princÑpio realizada em
a associaÄÅo de
casa com
drogas. O consultas mensais
fornecimento ao mádico
da mediÄÅo (para erealizaÄÅo
á gratuito da dose
padronizado supervisionada),
em todo fazendo
paÑs, como mostra uso dea medicaÄâes
a tabela cedidas
seguir (o tratamento
pelo SUS e infantil
do paciente que se apresenta
baseia naalgumas
classificação operacional
alteraÄâes, da haseníase.
principalmente Paracom
relacionadas o Ministário
a idade).da Saãde (2001) o äxito do
tratamento estÇ diretamente ligado ç compressÅo e assimilaÄÅo do paciente sobre a sua importÜncia, tarefa que muitas
vezes sÖ á conseguida apÖs exaustiva
Esquema padrão orientaÄÅo
de tratamento quanto ç segundo
da hanseníase tomada o correta do medicamento,
Ministério da Saúde e OMS alám á claro do
acolhimento
Droga durante as Paucibacilar
consultas, principalmente
(PB) no primeiro atendimento.Multibacilar (MB)
Portanto, no Brasil,
600mg o Ministário
uma vezdapor Saãde
mäs,sugere que se utilize
supervisionada a classificaÄÅo
600mg uma vez operacional da doenÄa compelo
por mäs, supervisionada os
Rifampicina
seguintes (RFM)
critários: pelo serviÄo de enfermagem serviÄo de enfermagem
Paciente
Dapsona (DDS) paucibacilar
100mg(PB):
uma casos
vez aocomdia, até 5 lesões de pele e/ou
auto-administradas apenas
100mg umaumvez
tronco nervoso
ao dia, comprometido.
auto-administradas
Paciente multibacilar (MB): casos com mais de 5 lesões de pele e/ou mais
300mg uma devez
um ao
tronco nervoso
mäs, acometido. A+
supervisionada
baciloscopia
Clofazimina (CFZ) positiva classifica o caso -como MB, independente do nãmero de lesâes.
100mg em dias alternados ou 50mg diÇrias auto-
administradas
Comparecimentos mensais para medicaÄÅo Comparecimentos mensais para medicaÄÅo
Seguimento supervisionada, no perÑodo de tratamento de supervisionada, no perÑodo de tratamento de366
12
6 doses mensais em atá 9 meses. doses mensais, em atá 18 meses.
DOENÇAS TROPICAIS
Paracoccidioidomicose
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Micose sistêmica causada pelo fungo termodimórfico Paracoccidioides brasiliensis.
o Em Rondônia o principal agente é o Paracoccidioides lutz.
o Termodimórfico: características de crescimento diferente de acordo com a
temperatura do meio.
§ A 37ᵒC (temperatura corporal) → cresce em forma de levedura.
§ A 25ᵒC → cresce em forma de micélio.
o Tem predileção por solo quente e úmido.
• Trata-se de uma doença longa, incapacitante e sequelante.
• Pode apresentar um grande período de latência e passar despercebida.
EPIDEMIOLOGIA
• O conídio é a forma infectante → demora para ser convertido em levedura e a ser eliminado.
• Mais comum em homens devido a exposição ocupacional.
• Na mulher, o estrogênio atrasa a conversão do conídio na forma de levedura e, portanto, a infecção pode
permanecer latente por anos em mulheres.
o A apresentação clínica costuma ocorrer durante a menopausa, que é quando os hormônios sexuais
femininos decaem.
• No estado de Rondônia a doença é endêmica e tem altos índices de casos.
CONTAMINAÇÃO
• Ocorre a partir da inalação de propágulos do fungo (geralmente ao mexer na terra).
o A maioria que inala não fica doente e quando fica apresenta um quadro semelhante a pneumonia.
• Não há transmissão de humanos para humanos.
• Inalação do fungo → resposta inflamatória → apresentação clínica ou não → latência (anos) → manifestações.
FISIOPATOGENIA
• Propágulos infectantes → vias aéreas → formação de um
complexo primário → disseminação linfática e
hematogênica → acometimento sistêmico.
• Na grande maioria dos casos, o complexo primário involui
espontaneamente, embora possa haver fungemia, em
algum momento da evolução, com estabelecimento de
focos metastáticos em qualquer órgão.
• As cicatrizes decorrentes das lesões iniciais podem se
tornar estéreis, com destruição dos fungos, mas em muitas
delas ocorre persistência desses microrganismos, com
formação de um foco latente ou quiescente.
• Excepcionalmente, pode haver progressão das lesões primárias, com desenvolvimento de sinais e sintomas
que caracterizarão a forma aguda ou a subaguda (juvenil) da paracoccidioidomicose.
• A infecção primária pode ser assintomática ou oligossintomática.
o Os sinais e sintomas, quando ocorrem, podem ser transitórios, inespecíficos e indistinguíveis de
infecções virais pulmonares.
115
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Paracoccidioidomicose.
APRESENTAÇÕES CLÍNICAS
• Forma aguda ou subaguda (tipo juvenil)
o Equivale de 3 a 5% dos casos e pode ser de moderada a grave.
o É mais comum em crianças e no adulto jovem.
• Forma crônica (tipo adulta)
o Equivale de 95 a 97% dos casos e pode ser classificada em unifocal e multifocal.
§ Pode ser leve, moderada ou grave.
o Mais comum em adultos em idade reprodutiva.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• Pulmões
o Dispneia progressiva, tosse (principalmente com expectoração de aspecto mucoso e raramente
hemóptica), lesões pulmonares radiológicas, hipoxemia e sequelas fibróticas e bolhosas.
§ A dor torácica raramente é referida.
116
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Paracoccidioidomicose.
• Linfonodos
o Atinge principalmente as cadeias ganglionares do segmento
cefálico, supraclavicular e axilar.
o Adenomegalia inflamatória não supurativa (diâmetro menor
que 2 cm), tumoral (maior ou igual a 2 cm de diâmetro) ou
supurativa (presença de fístula ou flutuação).
o Os linfonodos aumentados podem ser indolores ou com
presença de todos os sinais flogísticos.
• Mucosas
o Acomete principalmente a mucosa oral, provocando
estomatite moriforme, edema, hiperemia, perfuração de
palato, ulcerações e lesões vegetantes e infiltrativas.
o Rouquidão, odinofagia, disfagia, ardor na garganta, dispneia,
amolecimento dos dentes.
• Pele
o As lesões cutâneas podem estar localizadas em qualquer parte
do corpo, porém são mais frequentes na face.
o Elas podem ser únicas ou múltiplas e, neste último caso, apresentam-se esparsas ou agrupadas.
o O polimorfismo é uma característica desse tipo de lesão, que variam em cor, tamanho e aspecto.
o Elas podem se apresentar como pápulas ou nódulos, que por vezes se ulceram e se tornam crostosas,
ou como abscessos, vegetações ou lesões verruciformes.
• Vísceras
o Lesões focais que causam aumento de fígado, baço e linfonodos abdominais, algumas vezes com dor
abdominal concomitante.
• Ossos
o Predominam em tórax, cintura escapular e membros superiores.
o O exame radiológico revela lesões geralmente múltiplas, líticas, sem reação perifocal, com reação
periostal discreta ou ausente e com bordas nítidas.
o A cortical se encontra destruída em pouco mais da metade dos casos.
DIAGNÓSTICO
• Exame microscópico direto (“roda de leme” ou “mickey mouse”) e cultura com crescimento dos fungos.
• Exame histopatológico.
• Imunodifusão em duplo gel de ágar.
• Radiografia de tórax.
o Infiltrado reticulonodular difuso mais evidente nos lobos superiores com comprometimento bilateral,
mais ou menos simétrico, poupando ápices e bases (padrão em “asa de borboleta”).
§ Fazer diagnóstico diferencial com tuberculose miliar, carcinomatose, SARA.
• TC de crânio com lesões nodulares hipodensas (fazer diagnóstico diferencial com neurotoxoplasmose).
117
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Paracoccidioidomicose.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Tuberculose pulmonar, micobactérias atípicas, sarcoidose, histoplasmose, neurocisticercose,
neurotoxoplasmose, pneumonite intersticial difusa idiopática, silicose crônica, coccidioidomicose,
cromoblastomicose, neurocriptococose, leishmaniose cutânea e visceral, hanseníase, neoplasias, brucelose
(quando relacionado à zona rural).
TRATAMENTO
• Medidas gerais
o Dieta hiperproteica e hipercalórica.
o Suplementação vitamínica.
o Restrição de álcool e tabaco.
• Tratamento medicamentoso
o Primeira escolha: Itraconazol, VO, 200 mg/dia durante 6-18 meses.
o Segunda escolha: Sulfametoxazol (800 mg) + Trimetropim (160 mg), VO ou EV, de 8/8 horas ou de
12/12 horas durante 18-24 meses.
o Casos graves: Anfotericina B, EV, 1,5 a 2 g da dose total por 30-90 dias.
§ Associar com Itraconazol ou Sulfametoxazol + Trimetropim.
• Tempo de tratamento
o Começo da doença com diagnóstico rápido, pequenas lesões na mucosa, apenas acometimento
ganglionar ou ausência de comprometimento pulmonar importante → 6 meses.
o Acometimento de dois ou mais órgãos → 1 ano.
o Comprometimento do SNC, ossos ou vários órgãos → 1,5 ano.
118
aguda com características clinicolaboratoriais hepatomegalia dolorosa, que pode se associar
de uma hepatite viral nos quais não se consegue à discreta esplenomegalia (10%).
evidenciar o agente causador. Estes casos são
denominados “hepatite não A... E” (não A, não Vale ressaltar que a febre alta é um achado in-
MEDPÉDIA 2019.1
B, não C, não D, não E), ou, simplesmente, “he- comum nas hepatites virais agudas, devendo
TXXIV
patite– aguda
MED I de origem desconhecida”.
levar à consideração de outros diagnósticos
(ex.: virose respiratória, dengue, leptospirose,
DOENÇAS
Todas as TROPICAIS
hepatites virais (agudas e crônicas) colangite bacteriana, etc.). A febre alta pode,
são doenças de NOTIFICAÇÃO COMPULSÓ- no entanto, acompanhar uma hepatite viral de
RIA no Brasil, devendo a notificação
Panorama feita das curso
serGeral “fulminante”
Hepatites Virais – ver adiante.
em até sete dias. (Levi Almeida)
18 AGUDAS
HEPATITES VIRAIS
QUADRO CLÍNICO
• Fase podrômica
o Sintomas inespecíficos e predominantemente sistêmicos e gastrointestinais.
o Mal-estar, astenia, anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, perda ou perversão do paladar e olfato,
artralgias, mialgias, tosse, coriza, cefaleia e fotofobia → “quadro gripal”.
§ A febre, quando presente, costuma ser leve (38 a 38,5°C).
o Desconforto abdominal → hepatoesplenomegalia.
o Deposição de imunocomplexos pode gerar artrite e/ou glomerulonefrite.
o Em crianças, essa fase pode passar despercebida.
119
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Fase ictérica
o Essa fase pode acontecer ou não em alguns pacientes!!!
o Icterícia, associada ou não com colúria, hipocolia fecal e prurido (síndrome colestática).
o Os achados sistêmicos iniciados na fase prodrômica geralmente regridem ou abrandam.
§ Exceto os sintomas gastrointestinais.
• Fase de convalescência
o Melhora geral dos sintomas com volta gradual da sensação de bem-estar.
o Costuma durar algumas semanas, e seu término marca o fim do quadro agudo de hepatite.
o A partir de então, ou o paciente está curado, ou evoluirá para cronicidade.
ETIOLOGIA
• Lesão hepática necroinflamatória por mais de seis meses.
• Hepatites virais B/D e C e esteato-hepatite alcoólica são as causas mais comuns.
• Hepatite autoimune, lesões tóxicas e medicamentosas, doença de Wilson, hemocromatose e deficiência de
alfa-1-antitripsina também podem desencadear uma hepatite crônica.
QUADRO CLÍNICO
• Pode ser uma doença essencialmente oligoassintomática ou mesmo assintomática (fases iniciais).
• A suspeição do diagnóstico de hepatite crônica depende basicamente de exames complementares.
o A biopsia é o padrão-ouro.
ACHADOS LABORATORIAIS
• Aminotransferases em níveis pouco acima do limite normal (1,5 a 5 vezes → 70 a 300 UI/L).
• Podem exibir um padrão flutuantes, com períodos de normalização intercalados com níveis elevados ou muito
elevados (mais de 5-10 vezes), ou podem manter-se persistentemente na faixa normal.
• Níveis maiores de AST do que ALT podem sugerir doença avançada (cirrose) ou lesão hepática pelo álcool.
• A fosfatase alcalina e a gama-GT apresentam níveis normais ou discreta elevação.
• A albumina e a TAP se mantêm dentro dos limites da normalidade, exceto na cirrose descompensada.
CLASSIFICAÇÃO
• Etiologia + estágio de fibrose + grau de processo inflamatório.
o Escore de Knodell-Ishak ou de Metavir.
120
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
121
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Hepatite A
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• “Icterícia catarral epidêmica”.
• Apresenta curta duração, alta infectividade e evolução benigna.
O VÍRUS
• Vírus de RNA, com capsídeo icosaédrico, desprovido de envelope.
• Pertencente à família Picornaviridae, gênero Hepatovirus.
EPIDEMIOLOGIA
• Acomete principalmente crianças abaixo de dez anos (5-6 anos).
o Não tem predileção por sexo.
• As regiões mais acometidas são o Norte e o Nordeste.
• A principal via de contágio é a fecal-oral → forma interpessoal ou através de água ou alimentos contaminados.
• A transmissão parenteral é rara, mas pode ocorrer quando a viremia está elevada.
• Tem um período de incubação de 15 a 45 dias (28 dias em média).
PATOGENIA
• O HAV resiste ao pH ácido do trato digestivo alto e, assim, após ingerido, penetra na mucosa intestinal
chegando ao fígado através da circulação porta.
• As partículas virais se proliferam e se concentram no citoplasma dos hepatócitos, sendo posteriormente
excretadas na bile, o que explica os elevados títulos virais nas fezes.
o A replicação viral ocorre apenas nos hepatócitos!!!
• O HAV não é diretamente citopático, logo, a lesão ocorre em função da resposta imune do hospedeiro (CD8⁺).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
- Faz a soroconversão e não apresenta nenhum sinal ou sintoma;
Assintomática - Mais comum em crianças.
- 1 a 2 anos: 85%; 1 a 4 anos: 50%; maiores de 5: 20%; adolescentes, adultos e jovens: 3-20%.
- Podrômica + ictérica + convalescência;
Sintomática - Clássica e autolimitada (dura cerca de oito semanas).
- Quanto mais velho o paciente, mais sintomático ele se torna.
- Icterícia com padrão colestático;
- Prurido, colúria e hipcolia fecal.
Colestática
- Pode durar até três meses.
- Aumento de fosfatase alcalina, gama-GT e bilirrubina direta.
- Dois ou mais “ataques” de hepatite aguda num período de 6-10 semanas;
Recidivante ou
- Aparecimento dos sintomas → melhora → apresentação dos sinais e sintomas novamente;
polifásica
- Não costuma ser grave.
- Rara e com alta mortalidade.
Fulminante - Idosos e portadores de hepatopatias crônicas;
- Causa insuficiência hepática grave → indicação de transplante.
- Anemia aplástica, artralgia, trombocitopenia, púrpura de Henoch-Schönlein, síndrome de Guillain-Barré, mononeurite,
Extra-hepática
pancreatite, artrite, meningoecefalite, crioglobulinemia, vasculites, exantemas.
122
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Hepatite A.
Assunto: Hepatite A.
TRATAMENTO
• Repouso relativo (limitação das atividades físicas conforme a tolerância do paciente).
• Aumento da ingesta calórica, associando-se, quando necessário, medicamentos sintomáticos.
• A administração parenteral de vitamina K (por 1-3 dias) pode ser tentada em casos que cursam com queda na
atividade de protrombina.
• Na insuficiência hepática aguda por hepatite fulminante o transplante hepático pode ser realizado.
PROGNÓSTICO
• O prognóstico é excelente, e a recuperação é usualmente total, sem sequelas.
• A hepatite A não se cronifica!!!
FORMAS DE PREVENÇÃO
• A eliminação fecal de partículas virais ocorre entre duas semanas antes do início dos sintomas e uma semana
após o surgimento destes, diminuindo com o aparecimento da icterícia.
• Como a fase de maior eliminação viral ocorre antes do surgimento de sintomas, não há justificativa para
colocar um paciente sintomático em isolamento de contato!!!
• Afastamento do paciente de suas atividades (principalmente crianças que frequentam creche ou escola)
durante as primeiras duas semanas da doença, e não mais que um mês após o início da icterícia.
• Saneamento básico, higienização adequada, evitar compartilhar talheres e comidas, etc.
IMUNIZAÇÃO
• A imunização contra a hepatite A atualmente é feita com uma vacina de vírus inativado.
• Sua administração é intramuscular, sendo os efeitos colaterais incomuns.
• A soroconversão geralmente ocorre dentro de quatro semanas.
• A vacinação contra o HAV faz parte do calendário vacinal básico do Brasil, indicado para todas as crianças.
o Dose única aos 15 meses de vida (podendo a vacina ser ministrada até os 23 meses).
PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO
• É feita em indivíduos anti-HAV IgG negativo num prazo máximo de duas semanas (quanto antes melhor).
o Para pessoas saudáveis com idade entre 12 meses e 40 anos, a estratégia de escolha consiste na
aplicação de dose única da vacina anti-HAV inativada.
• Por outro lado, pacientes com idade < 12 meses ou > 40 anos, bem como portadores de imunodepressão,
hepatopatias crônicas ou que possuam qualquer contraindicação à vacina, devem receber imunoglobulina
humana (0,02 ml/kg, IM) em no máximo até 72 horas.
124
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Hepatite B Aguda
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• O HBV é o mais frequente causador de formas fulminantes,
especialmente em regiões de alta prevalência.
• Tem início insidioso, geralmente afebril, com pródromos mais
prolongados que o HAV.
o Não raro, o HBV apresenta manifestações extra-hepáticas nos
pródromos.
• A icterícia pode ser prolongada, com valores de bilirrubinas mais
elevados do que nas demais hepatites.
• Pode desencadear insuficiência hepática no curso de hepatite aguda ou
em um portador crônico.
O VÍRUS
• Vírus de DNA pertencente à família Hepadnaviridae, sendo bastante diferente do vírus da hepatite A.
• Estruturalmente, possui um envoltório lipoproteico e um núcleo central denso (core).
• Possui um período de incubação de 30 a 180 dias (média de 60 a 90 dias) e tem capacidade oncogênica.
TRANSMISSÃO
• Transmissão vertical (intrauterina ou perinatal) e horizontal.
o Na transmissão vertical a chance de cronificação é inversamente proporcional à idade.
• Sexual e percutânea.
• Hemotransfusão e transplante de órgãos.
PATOGÊNESE
• Se inicia por uma resposta imune celular dirigida contra antígenos virais expressos pelos hepatócitos,
resultando em dano a estas células.
o Assim como o HAV, o HBV também não é diretamente citopático.
• Estão implicados nessa resposta linfócitos T citotóxicos (CD8⁺) e citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-α.
• Uma resposta imune acentuada, apesar de poder causar lesão hepática potencialmente mais grave, em geral
se associa a uma maior chance de clareamento viral e cura.
• Por outro lado, uma resposta imune “insuficiente” parece ser o principal fator predisponente à cronificação.
126
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• Evolução aguda benigna: assintomática, anictérica, ictérica, recorrente/recrudescente e colestática.
• Evolução aguda grave: hepatite fulminante e hepatite subaguda.
• Manifestações extra-hepáticas: poliarterite nodosa, glomerulonefrite e acrodermite papular.
MUTAÇÕES
• Mutações na região pré-core
o Falha na expressão do HBeAg associada à ocorrência de hepatite aguda fulminante e exacerbações de
quadros de hepatites crônicas.
§ Maiores graus de morbidade e mortalidade que os observados nas infecções.
o Os vírus que carreiam esta mutação se replicam intensamente sem aumentar os níveis de HBeAg.
§ Replicação viral elevada mesmo na presença do anti-HBe.
o Deve ser suspeitada na vigência de HBsAg positivo (por mais de seis meses), HBeAg negativo, anti-
HBe positivo e aminotransferases elevadas.
§ A pesquisa quantitativa do DNA-HBV poderá detectar altos níveis de carga viral.
• Mutações por escape
o Vírus que sofreram alteração no HBsAg, impedindo a atividade neutralizante do anti-HBs.
o Pode haver altos títulos de anti-HBs na presença do HBsAg, ou mesmo nem positivar o HBsAg.
128
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
IMUNIZAÇÃO ATIVA
• Vacinação na criança
o 1ª dose: ao nascimento (até 12 horas) – vacina monovalente.
o 2ª dose: segundo mês de vida – vacina pentavalente.
o 3ª dose: quarto mês de vida – vacina pentavalente.
o 2ª dose: sexto mês de vida – vacina pentavalente.
• Vacinação do adulto e idoso que não foram previamente imunizados
o Três doses de vacina de monovalante.
o Um e seis meses após a primeira aplicação.
PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO
• Aplicação de imunoglobulina para HBV + esquema de vacinação em três doses.
o Vítimas de acidentes com material biológico positivo ou fortemente suspeito de infecção pelo HBV,
sem vacinação ou sem resposta após duas séries completas de vacinação (anti-HBs < 10 mUI/ml).
o Comunicantes sexuais de casos agudos de hepatite B.
o Vítimas de abuso sexual.
o Imunodeprimido após exposição de risco, mes- mo que previamente vacinado.
• A imunoglobulina deve ser administrada em no máximo 72 horas!!!
129
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Hepatite B Crônica
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Vírus de DNA pertencente à família Hepadnaviridae, sendo bastante diferente do vírus da hepatite A.
• Possui um período de incubação de 30 a 180 dias (média de 60 a 90 dias) e tem capacidade oncogênica.
• A cronificação da infecção pelo vírus B é definida por um HBsAg positivo por mais de seis meses, que se
associa ao anti-HBc IgG positivo.
• A taxa de cronificação após a primoinfecção varia em função
da faixa etária: 90% em recém-nascidos, 25-50% em crianças
e 5-10% nos adultos.
• A chance de cronificação tende a ser menor quando o
paciente faz um quadro de hepatite aguda ictérica.
• A chance de evolução para cirrose hepática ao longo de 20
anos, no portador de hepatite B crônica, beira os 50% e dos pacientes com cirrose, 5-15% evolui com
hepatocarcinoma.
FATORES DE RISCO PARA CRONIFICAÇÃO E EVOLUÇÃO PARA CIRROSE HEPÁTICA OU HEPATOCARCINOMA
Que fatores aumentam a
Idade (quanto menor, maior o risco), sexo masculino, imunodepressão, DRC (principalmente se em programa
chance de cronificação do
de hemodiálise ou transplante renal), infecção pelo HIV, síndrome de Down e doenças linfoproliferativas.
vírus B?
Que fatores aumentam a
chance de cirrose hepática Álcool, fumo, sexo masculino, extremos de idade, história familiar de hepatocarcinoma, aflatoxinas (presentes
e hepatocarcinoma no na dieta), replicação viral persistente, genótipos C e F, mutante pré-core, coinfecção pelo HIV, HDV, HCV e
portador de hepatite B outras hepatopatias crônicas.
crônica?
130
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
FASE DE IMUNOTOLERÂNCIA
• Deve-se ao fato de a replicação viral ser tolerada pelo sistema imunológico do hospedeiro, ou seja, o sistema
imunológico ainda não “reconheceu” os hepatócitos infectados.
o Duração no adulto: 4-24 semanas.
o Duração na criança (transmissão perinatal): 10-30 anos.
• Nesta fase, há intensa replicação viral (HBeAg positivo, anti-HBe negativo, DNA viral > 20.000 cópias/ml).
• As aminotransferases estão normais, não há lesão hepática apreciável na biópsia e a transmissibilidade é
máxima neste período.
FASE DE REATIVAÇÃO
• Fase que pode surgir após o período inativo e é caracterizada por episódios de nova replicação viral devido:
1. Imunodepressão do hospedeiro (ex.: quimioterapia, uso de imunossupressores);
§ Situação em que se observa reversão do HBeAg (que volta a ser positivo).
2. Ou por desenvolvimento de mutações no vírus (ex.: pré-core).
§ HBeAg negativo, anti-HBe positivo, aumento do DNA viral e nova elevação das
aminotransferases, associada a nova agressão hepatocitária.
• A atividade necroinflamatória e de fibrose no fígado persistem nessa fase.
• Devido à possibilidade de reativação, todo paciente que evoluiu para a fase de soroconversão deve ser
monitorizado com dosagens seriadas da carga viral (HBV-DNA) a cada seis meses por pelo menos dois anos.
Anti-HBc Anti-HBc
Formas HBsAg Anti-HBs HBeAg Anti-HBe DNA-HBV ALT e AST
IgM IgG
Imunotolerância + - - + + - > 20.000 Normais
Imunoeleminação + - - + + - Variável Flutuantes
Soroconversão + - - + - + Indetectável Normais
Reativação + - - + - + Aumentado Aumentadas
Oculta - + - + -/+ -/+ Aumentado Aumentadas
QUADRO CLÍNICO
• Pode ser assintomática ou oligossintomática, tendo como manifestações mais comuns a fadiga, náuseas,
vômitos, anorexia, dor leve, desconforto em hipocôndrio direito.
o Podem estar presentes apenas dificuldades de concentração e distúrbios do sono, associados à fadiga.
• Durante as exacerbações agudas, o quadro é idêntico ao da hepatite B aguda, com icterícia e elevação
significativa das aminotransferases.
• As principais manifestações extra-hepáticas são a síndrome nefrótica pela glomerulopatia por
imunocomplexos e a poliarterite nodosa.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Hepatite C Aguda
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Vírus identificado em 1989, e despontou como o responsável por grande parte dos casos não A, não B...
• Doença de evolução “silenciosa”, ou oligosintomática, na qual mais de 95% dos casos são anictéricos, com
pico de ALT menor que 300 UI/L.
• Outras características são as flutuações dos níveis de transaminases séricas e a grande chance de cronificação.
O VÍRUS
• O HCV pertence à família Flaviviridae, gênero Hepacivirus, e é composto por RNA de cadeia simples envolto
por um capsídeo proteico contido dentro de um envelope lipídico.
• Possui diversos genótipos, o que tem extrema relevância prática
(diferentes respostas ao tratamento).
o Já foram descritos 7 genótipos e mais de 100 cepas diferentes.
o O mais frequente em nosso meio é o genótipo 1 (64,9% dos casos).
• Além das diferenças sorotípicas, o vírus C, tal como o HIV, é extremamente
mutagênico.
o Dificuldade de fazer uma vacina e enorme capacidade viral de
“escapar” do sistema imune do hospedeiro.
EPIDEMIOLOGIA
• No Brasil, a média de idade ao diagnóstico de hepatite C é de 46,3 anos.
• Predomina no sexo masculino, porém, sendo que os mesmos tendem a se infectar numa idade mais precoce.
• A cirrose hepática afeta cerca de 1/3 dos portadores crônicos do HCV, manifestando décadas após o contágio.
TRANSMISSÃO
• Uso de drogas, principalmente aquelas de administração endovenosa.
o Principal forma identificável!!!
• História de hemotransfusão (incomum atualmente) antes de 1993.
• Transmissão vertical e horizontal.
• Hemodiálise, exposição percutânea e através da via sexual.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• Surgem no período entre 6 a 12 semanas após a exposição, sendo que uma baixa porcentagem (< 20%) de
pacientes se tornam sintomático na fase aguda.
o Vale lembrar que uma grande parcela dos portadores (∼80%) evoluem para a forma crônica da
doença.
• Os sintomas da hepatite C aguda em nada diferem das demais formas de hepatite viral aguda.
o A evolução para falência hepática fulminante é raríssima.
§ Acredita-se que o HCV não seja capaz de lesar diretamente o parênquima hepático.
§ A lesão hepatocelular é pela agressão do próprio sistema imune do hospedeiro.
• As manifestações extra-hepáticas da infecção pelo vírus C são mais esperadas na fase crônica da doença.
133
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
DIAGNÓSTICO
• Pesquisa do anti-HCV no soro pelo método ELISA ou Teste Rápido
o Os anticorpos anti-HCV levam de 8 a 12 semanas para se tornarem positivos.
o Se positivo, não diferenciam entre infecção atual ou contato prévio “curado”.
• Pesquisa do HCV-RNA pela técnica de PCR (qualitativa + quantitativa)
o O HCV-RNA costuma ser detectado no sangue a partir da segunda semana após a exposição.
o Esse método deve sempre ser utilizado para confirmar que o anti-HCV significa infecção ativa.
• Genotipagem
o Sempre deve ser feita após confirmação do diagnóstico (anti-HCV e HCV-RNA positivos).
o Serve para definir a melhor estratégia terapêutica.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
EXAMES COMPLEMENTARES
• Aminotransferases
o Se elevam entre 2 a 8 semanas após a exposição (antes do surgimento de sintomas).
o A ALT pode atingir valores 25-100x acima do limite superior da normalidade, mas na maioria dos casos
este valor não ultrapassa 10x o LSN e tem caráter flutuante.
• Bilirrubinas
o Pode haver aumento tanto da fração não conjugada (indireta), quanto da fração conjugada (direta),
sendo que predominante esta última.
• Proteínas séricas, TAP e alfafetoproteína
o Normalmente não se alteram nas formas agudas.
• Fosfatase alcalina e gama-GT
o Pouco se alteram, exceto nas formas colestáticas, que se apresentam em níveis elevados.
PREVENÇÃO
• As medidas de prevenção da hepatite C são tão somente aquelas que visam reduzir a ocorrência das condições
de transmissão do vírus.
• O fato de o HCV circular no sangue envolto por lipoproteínas plasmáticas dificulta a ação dos anticorpos sobre
as formas extracelulares.
o Tal fenômeno, aliado à alta frequência de mutações em seu material genético, inviabiliza a produção
de uma vacina eficaz.
• Em relação à transmissão vertical, não existe nenhuma forma de imunoprofilaxia ou profilaxia medicamentosa
(as drogas para tratamento do vírus C são contraindicadas na gestação).
o Também não se indica uma via de parto preferencial, devendo a mesma ser definida por indicações
puramente obstétricas.
• Todavia, alguns fatores que aumentam o risco de transmissão vertical devem ser evitados ou contornados:
procedimentos invasivos, parto laborioso e tempo de rotura de membranas superior a 6 horas.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Hepatite C Crônica
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Por ser comumente assintomática na fase aguda, a hepatite C costuma ser descoberta já em fase crônica.
• A maioria desses pacientes também é assintomática, sendo o diagnóstico feito por exames rotineiros.
• Atualmente, no Brasil, a hepatite C crônica é a principal causa de óbito por hepatite viral.
CARACTERÍSTICAS
• Os casos sintomáticos se apresentam com fadiga crônica associada ou não a náuseas, vômitos e anorexia.
• As aminotransferases costumam ter níveis “flutuantes”, isto é, variáveis ao longo do tempo.
o De um modo geral, os valores das aminotransferases são mais baixos do que na hepatite B crônica.
• A infecção crônica pelo HCV está associada ao desenvolvimento de complicações metabólicas sistêmicas.
o Estes pacientes desenvolvem mais síndrome metabólica e diabetes mellitus tipo 2
• A manifestação extra-hepática mais frequente é a crioglobulinemia mista (tipo II).
• Possíveis manifestações dermatológicas da hepatite C incluem a porfiria cutânea tarda e o líquen plano.
• A síndrome de Sjögren também é descrita em associação ao HCV, assim como a fibrose pulmonar intersticial.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Hepatite D (Delta)
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• O HDV (ou antígeno delta), descrito em 1977 pela primeira vez na Itália.
• Em humanos, é incapaz de causar infecção por si próprio por ser um vírus
defectivo, isto é, necessita de uma estrutura do HBV para exercer sua função; tal
estrutura é o envoltário externo do HBsAg do HBV.
• Portanto, a hepatite D ocorre apenas em pacientes com Hepatite B pré-
existente, acometendo pacientes do mesmo grupo de risco da Hepatite B.
• Está ligado à forma fulminante ou a rápida progressão para hepatite B crônica.
O VÍRUS
• Vírus de RNA pertencente à família Deltaviridae, gênero Deltavirus.
• O HDV é um vírus defectivo que necessita da função do HBV para a sua
sobrevivência e disseminação.
o Necessidade do envelope sintetizado pelo HBV para a sua
formação completa.
• O envoltório do HDV é indistinguível do HBsAg.
• Este vírus possui um core antigenicamente diferente do core do HBV.
• Único vírus (entre o HAV, HBV, HCV e HEV) que é diretamente citopático.
• A presença do HDV inibe a replicação do HBV, porém, isso, por algum motivo, não ocorre em pacientes HIV+.
TRANSMISSÃO
• Via sexual, exposição percutânea, hemotransfusão e vertical sempre associado a uma infecção por HBV.
• A dependência do HDV em relação ao HBV é tão grande que a duração da infecção do primeiro nunca
ultrapassa a duração da infecção deste último.
Coinfeccção Superinfecção
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
DIAGNÓSTICO
• É feito por meio da sorologia, com a pesquisa do anti-HD.
o Esse anticorpo só aparece após 30-40 dias da infecção aguda.
• Em muitos lugares, infelizmente, só é possível dosar o anti-HD total.
• É possível também estabelecer o diagnóstico através da detecção de antígenos do HDV (HDV/Ag) ou mesmo
de sua carga viral (HDV-RNA).
Interpretação sorológica da hepatite D com maior parte dos marcadores
Formas HBsAg Anti-HBs Anti-HBc IgM Anti-HBc IgG Anti-HD IgM Anti-HD IgG
Coinfecção + - + - + -
Superinfecção
+ - - + + +
recente
Superinfecção
+ - - + - +
antiga
Imunização
- + - - - -
prévia
Cicatriz
imunológica
- + - + - +
PREVENÇÃO
• Coinfecção: profilaxia ou pós-exposicão para prevenir a infecção por HBV.
• Superinfecção: educação para reduzir comportamentos de risco entre portadores de HBV.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Hepatite E
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Doença autolimitada causada por vírus entérico do tipo E com elevada mortalidade em gestantes.
o Potencialmente GRAVE EM GESTANTES!!!
• Não cronifica e é predominante em adolescentes e adultos jovens.
• Possui ampla circulação mundial e acomete esporadicamente em formas de epidemias.
O VÍRUS
• Vírus de RNA pertencente à família Hepeviridae, gênero Hepevirus.
o Há dois subgrupos: genótipos 1 e 2, que infectam primariamente
humanos, e o 3 e 4, que infectam primariamente suínos.
• O genótipo do tipo 1 é o predominante no Brasil.
TRANSMISSÃO
• Esta forma da doença é transmissível pela via fecal-oral, cursando com período prodrômico breve seguido por
lesão hepatocelular intensa e, posteriormente, uma fase de convalescência.
PATOGÊNESE
• Como as demais hepatites, se inicia com um período de incubação assintomática (28 a 40 dias), porém o vírus
se replica de forma exponencial (fase de viremia).
• Quando o sistema imunológico reconhece a presença do invasor e monta uma resposta imune específica
contra ele (surgimento de anticorpos anti-HEV IgM e IgG), a sintomatologia tem início.
o O anti-HEV IgM permanece positivo apenas por 3 a 12 meses.
o O anti-HEV IgG continua positivo a longo prazo, representando uma “cicatriz sorológica”.
• Pode cursar com lesão hepatocelular, causando, assim alteração estrutural hepática.
o Hepatite aguda, colestática e/ou fulminante.
o As alterações enzimáticas normalizam em até 6 semanas, mas as alterações histológicas em 6 meses.
• Passadas algumas semanas, a circulação viral consegue ser contida, dando início à fase de convalescência.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Hepatite E.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• Sintomas gerais
o Flue-like (manifestação semelhante a uma síndrome gripal), fadiga, rash, mal-estar, anorexia, náuseas,
vômitos, digeusia, febre (38-39ᵒC), colúria, icterícia, dor abdominal, diarreia, esplenomegalia.
• Gestante
o Alterações próprias da gravidez na secreção de citocinas e/ou no estado nutricional.
o Maior chances de evolução para hepatite fulminante.
DIAGNÓSTICO
• Sorologia pelo método ELISA para anti-HEV IgM e IgG
o Anti-HEV IgM+ e IgG-: hepatite E aguda.
o Anti-HEV IgM+ e IgG+: hepatite E aguda em soroconversão.
o Anti-HEV IgM- e IgG+: cicatriz imunológica.
o Anti-HEV IgM- e IgG-: nunca houve contato com o vírus.
• Pesquisa do HEV-RNA por PCR (no sangue e nas fezes) para quantificação de carga viral.
• Exames laboratoriais para hepatograma (AST, ALT, albumina, TAP, bilirrubinas e outros).
o Aminotransferases > 10x o limite superior normal.
FORMAS DE PREVENÇÃO
• A eliminação fecal de partículas virais ocorre entre duas a seis semanas após o início da doença.
• Afastamento do paciente de suas atividades (principalmente crianças que frequentam creche ou escola)
durante esse intervalo de tempo.
• Saneamento básico, higienização adequada, evitar compartilhar talheres e comidas, etc.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• Por definição geral, a AIDS é uma doença do sistema imunológico humano causada pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV).
• Esta condição reduz progressivamente a eficácia do sistema imunológico e deixa os pacientes suscetíveis a
infecções oportunistas e tumores.
• É um espectro de distúrbios que vão desde a infecção primária com ou sem a síndrome aguda, passando pelo
estágio infectado assintomático, até a doença avançada.
HISTÓRICO E EPIDEMIOLOGIA
• 1926/1946: o HIV espalhou-se de macacos para os humanos.
• 1959: relato do caso de um homem no Congo cuja morte foi atribuída
por alguns pesquisadores como sendo o primeiro caso comprovado de
morte por AIDS.
• 1981: começou oficialmente nesse ano quando foi publicado no
boletim dos Centers Diseases Control (CDC) o relato de cinco homens
jovens homossexuais com pneumonia por Pneumocysti jirovenci.
o Esse tipo de pneumonia era muito rara até então, e nos meses
e anos subsequentes, centenas de casos foram
diagnosticados. Sarcoma de Kaposi.
o Doença dos “5 Hs”, dentre eles: homossexualismo, hemofílicos e harlot (prostituta, em inglês).
• 1982:
o O termo AIDS foi usado pela primeira vez, recebendo a definição do CDC.
o Centenas de casos semelhantes em usuários de drogas injetáveis, hemofílicos, pacientes de
transfusão, heterossexuais caribenhos/africanos, filhos de mães infectadas e parceiros bissexuais.
o Grande incidência do sarcoma de Kaposi.
§ Epidemiologia: agente infeccioso.
§ Patologia: agente linfotrópico (T CD4⁺)
§ Agente relacionado ao HTLV-I (LAV) na França.
§ Agente semelhante (HIV) isolado nos EUA.
§ LAV = HIV na verdade.
• 1983/1984: cientistas americanos e franceses reivindicam a descoberta do vírus, que mais tarde seria
chamado de HIV.
• 1985: o FDA (Food and Drug Administration) aprova o
primeiro teste anti-HIV para doadores.
• 1987: a AZT (zidovudina), um inibidor de transcripitase
reversa do HIV-1 e primeira droga anti-HIV, é aprovada
pelo FDA.
o É utilizada até os dias de hoje, porém associada
a outras drogas.
o Atualmente há mais de 20 drogas em uso.
§ Inibidores da transcriptase reversa
análogos e não análagos de nucleosídeos/nucleotídeos, inibidores de protease, inibidores de
fusão, inibidores de integrasse e inibidores de correceptor CCR5.
• 1989: Cazuza, cantor brasileiro, declarou ser soropositivo e sucumbiu a doença em 1990, no Rio de Janeiro.
• 1999: estima-se que há 650 mil a 900 mil americanos vivendo com HIV/AIDS.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
POPULAÇÕES-CHAVE
• Populações-chave e seus parceiros sexuais representam:
o 47% das novas infecções pelo HIV em todo o mundo;
o 95% das novas infecções pelo HIV no Leste Europeu, Ásia Central, Oriente Médio e Norte da África;
o 16% das novas infecções pelo HIV na África Oriental e Austral.
• O risco de infecção é:
o 27 vezes maior entre homens que fazem sexo com homens;
o 23 vezes maior entre pessoas que usam drogas injetáveis;
o 13 vezes maior entre profissionais do sexo;
o 13 vezes maior entre mulheres trans.
VIROLOGIA
• O HIV é um retrovírus, ou seja, é um vírus de RNA que para infectar o ser
humano necessita ter seu material genético transcrito de forma
“reversa” em DNA.
o É o único que pode se integrar ao genoma e ditar a síntese das
proteínas virais utilizando a maquinaria enzimática do
hospedeiro.
• Possui a enzima transcriptase reversa (uma DNA-polimerase), que é essencial para a replicação do HIV, pois
traduz o RNA viral em DNA dupla-fita.
• Partícula icosaédrica cuja superfície despontam espículas formadas por glicoproteínas (gp120 e gp41).
• O HIV contém ainda um capsídeo (envelope interno) composto pelo antígeno p24.
o O material genético do vírus é constituído, portanto, de duas fitas de RNA, associado com as enzimas
transcriptase reversa, integrase e proteases.
• Repetições terminais longas (LTRs) em cada extremidade do genoma regulam a expressão genética viral.
• Nas LTRs encontram-se os genes estruturais e enzimáticos mais importantes (gag, pol e env).
• Genoma do HIV
o Gag: origina uma proteína precursora (p53) que, clivada, dá origem às proteínas da matriz e do
capsídeo viral (p24, p17 e p15).
o Pol: origina a proteína precursora (p160) das
enzimas envolvidas na replicação e integração
viral: transcriptase reversa (p66/p55), integrase
(p32) e protease (p10).
o Env: origina a proteína precursora (gp160) que é
clivada pela protease viral nas glicoproteínas do
envelope: gp120 e gp41.
• Há dois tipos principais do vírus: HIV-1 e HIV- 2.
o Cada tipo é dividido em grupos: M, N, P e O para
o HIV-1; e de A a G para o HIV-2.
o Cada grupo, por sua vez, é subdividido em “clades”, em função de pequenas diferenças genéticas.
§ As clades podem se recombinar entre si se o paciente for infectado por dois ou mais vírus
diferentes, originando as Formas Recombinantes Circulantes ou CRF’s.
• O grande responsável pela maioria dos casos de Aids no mundo é o HIV-1 do grupo M (“M” de Major), sendo
o HIV-2 encontrado quase que exclusivamente no oeste da África.
• O HIV infecta linfócitos T CD4⁺/helper, macrófagos/monócitos e células dendríticas.
• O vírus está presente principalmente no sangue, leite, sêmen e mucosa vaginal e retal.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
(CCR5 ou CXCR4)
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
• A doença causada pelo HIV é essencialmente caracterizada por uma queda progressiva na contagem de
linfócitos T CD4⁺ (linfócitos T helper).
• A perda dessas células resulta no aparecimento de
infecções e neoplasias oportunistas, culminando num
estado de profunda imunodeficiência.
• Diversos são os modos pelos quais o HIV compromete os
linfócitos T CD4⁺.
História natural
o Destruição direta pela replicação viral (efeito citopático).
o Destruição indireta mediada pelo próprio sistema imune do hospedeiro, que reconhece e agride as
células infectadas.
§ Ex) citotoxicidade de linfócitos T CD8⁺, células natural killer e anticorpos anti-HIV.
o Fenômenos de “exaustão celular” ou anergia (disfunção qualitativa) e apoptose ambos
desencadeados pela ativação imune exagerada.
DOENÇA AVANÇADA
• Na maioria das vezes quando o indivíduo não recebe terapia
antirretroviral (TARV) ou há falha no tratamento ele termina
evoluindo para um estado de imunodepressão profunda.
o Linfócitos T CD4⁺ < 350 células/mm³.
§ Pode chegar a zero!
o Aparecimento de infecções e neoplasias oportunistas.
• TARV efetiva + quimioprofilaxia de doenças oportunistas =
aumento da sobrevida do paciente (mesmo quando em estado
avançado).
o Acabam evoluindo com queda do CD4 e doenças oportunistas após alguns anos.
• Não progressores de elite (1%): permanecem assintomático, com CD4 normal ao longo do tempo e possuem
um excelente controle espontâneo da replicação viral na ausência de TARV.
o Presença de uma resposta imune adaptativa muito eficaz contra o HIV.
FENÔMENOS AUTOIMUNES
• A estimulação generalizada de linfócitos T e B que acompanha a infecção pelo HIV produz
hipergamaglobulinemia policlonal e, com frequência, síntese de autoanticorpos.
• Apesar de na maioria das vezes isso não resultar no surgimento de uma doença autoimune propriamente dita
alguns indivíduos apresentam manifestações clínicas variadas.
o Ex) Plaquetopenia, artrite, neurite etc.
• Em outras ocasiões, o paciente portador de uma doença autoimune prévia, tem a mesma exacerbada.
o Ex) Psoríase, púrpura trombocitopênica idiopática, doença de Graves, síndrome do anticorpo
antifosfolipídeo, cirrose biliar primária.
• A síntese de autoanticorpos, em algumas instâncias, também pode ser explicada pelo fenômeno de
mimetismo molecular, quer dizer: anticorpos direcionados contra o HIV acabam reagindo de maneira
“cruzada” com antígenos do próprio hospedeiro, provocando lesão tecidual.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
PAPEL DA GENÉTICA
• Polimorfismos no gene que codifica o CCR5, o principal correceptor do HIV na superfície dos linfócitos T CD4⁺.
• Raros indivíduos repetidamente expostos ao HIV pela via sexual (ex.: profissionais do sexo) nunca adquiriram
a infecção
• Presença de um CCR5 defeituoso que bloqueia a fusão viral nessas pessoas.
• 1% da população caucasiana é homozigota para esta mutação
o São naturalmente protegidos contra as “cepas R5” (mais coum) do HIV (aquelas que utilizam única e
exclusivamente o CCR5 como correceptor).
• 20% dessa mesma população é heterozigota para tal defeito
o Proteção “parcial” contra a infecção/progressão mais lenta da doença estabelecida.
• Todavia, existem cepas do HIV que utilizam apenas o CXCR4 como correceptor (“cepas X4”).
o Neste caso, a mutação no gene do CCR5 não exerce qualquer efeito protetor.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
• Viremia plasmática, contagem de células T CD4⁺ no sangue e estágios clínicos da doença (A)
o Cerca de 12 semanas após a infecção, a concentração de vírus no sangue (viremia plasmática) é
reduzida para níveis muito baixos (detectável apenas por ensaios sensíveis de reação em cadeia da
polimerase) e a assim permanecem por muitos anos.
o Contudo, a contagem de células T CD4⁺ continua a declinar durante este período de latência clínica
porque há replicação viral ativa e infecção de células T nos linfonodos.
o Quando a contagem de células T CD4⁺ está abaixo de um determinadonível crítico, o risco de infecção
e outras características clínicas da AIDS é alto.
• Resposta imune a infecção pelo HIV (B e C)
o A resposta de linfócitos T citotóxicos (CTLs) contra o HIV é detectável em duas a três semanas após a
infecção inicial e atinge seu pico entre nove e doze semanas.
o Uma expansão expressiva de células T CD8⁺ especificas para o vírus ocorre durante este período e até
10% dos CTLs do paciente podem ser específicos para o HIV em doze semanas.
o O pico da resposta imune humoral ao HIV ocorre aproximadamente 12 semanas após a infecção inicial.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
FORMAS DE TRANSMISSÃO
CONTATO SEXUAL
• Coito vaginal
o A principal via de disseminação do HIV no mundo é o sexo heterossexual.
§ Todavia, curiosamente, o sexo heterossexual é pouco eficiente em transmitir o HIV.
o Casais sorodiscordantes (isto é, apenas um indivíduo infectado) de países pobres tem o risco de
transmissão em torno de 0,12% por coito vaginal desprotegido.
o Já em países desenvolvidos o risco parece um pouco menor (0,04%, considerando a transmissão da
mulher para o homem, e 0,08% no sentido inverso).
o O HIV pode ser encontrado tanto no sêmen quanto no fluido
vaginal.
• Sexo oral
o Menos eficiente, porém não isento de risco.
o Ocorre tanto no sexo oral masculino quanto no feminino.
o Pode ser transmitido tanto para pessoas que recebem sexo oral
de alguém contaminado, bem como para pessoas que realizam em portadores do vírus.
• Coito anal
o Forma mais eficiente de transmissão sexual (~1,4% por coito desprotegido).
o Quem recebe o sexo anal, seja homem ou mulher, apresenta maior risco.
o A mucosa retal é muito mais frágil do que a vaginal, sendo, portanto, mais suscetível ao trauma e ao
sangramento (o que leva à inoculação direta do vírus no sangue).
o A mucosa retal é mais fina do que a vaginal, encurtando a distância entre o sêmen depositado e as
células CD4⁺ da submucosa → maior probabilidade de infecção, mesmo na ausência de sangramento.
o Certas práticas localmente traumáticas potencializam o risco, por exemplo: ducha anal, introdução de
objetos ou mesmo o punho do parceiro...
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
ACIDENTES OCUPACIONAIS
• Profissionais que lidam com pacientes HIV+ e/ou materiais potencialmente contaminados estão sob risco de
adquirir a infecção por meio de acidentes ocupacionais.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
TRANSMISSÃO VERTICAL
• O HIV pode ser transmitido da mãe para o filho durante a gestação
(23-30% dos casos), durante o parto (50-65%) ou durante o
aleitamento (12-20%).
• Na ausência de qualquer intervenção profilática cerca de 15-45% das mães infectadas, em média, transmitem
o HIV para as suas crianças.
DIAGNÓSTICO
IMUNOENSAIOS (IE)
• IE de 4ª geração
o Detectam anticorpos anti-HIV de todas as classes (IgM, IgG, IgA e IgE) e antígenos circulantes
produzidos diretamente pelo vírus (o p24 do capsídeo viral).
o IE de 4ª geração como triagem + TM como teste confirmatório → estabelece diagnóstico após os 15
primeiros dias de infecção.
• IE de 3ª geração
o Sua utilização é aceita quando o IE de 4ª geração não estiver disponível.
o A principal diferença é que o IE de 3ª geração não detecta antígenos virais (não há anticorpos anti-p24
implantados na fase sólida).
o Logo, o IE de 3ª geração possui maior janela diagnóstica, tornando-se positivo somente após 22 a 25
dias do início da infecção.
• IE de 2ª geração
o São mais sensíveis que o de 1ª geração por conter uma maior concentração de proteínas (epítopos
imunodominates) relevantes, porém detectam penas IgG também.
o Em média, a janela de soroconversão é de 28 a 30 dias.
• IE de 1ª geração
o Detectam apenas IgG.
o Em média, a janela de soroconversão é de 6 a 8 semanas.
TESTES COMPLEMENTARES
• Western blot
o Apesar de ter deixado de ser o teste confirmatório de escolha, ele ainda pode ser indicado quando o
TM não estiver disponível, ou então quando este último for negativo num paciente com imunoensaio
positivo.
• Imunoblot
o Difere do western blot por um mero detalhe: neste último se utilizam proteínas virais nativas, ao passo
que no primeiro são empregadas proteínas virais recombinantes, obtidas por engenharia genética, ou
então peptídeos sintéticos.
TESTES RÁPIDOS
• Esses testes podem ser feitos em qualquer local, com ou sem infraestrutura Embora os testes
laboratorial, sendo seu resultado definido em até trinta minutos. rápidos e IEs
sejam específicos
• Em alguns kits a amostra pode ser uma gota de sangue capilar, obtida da polpa
e sensíveis ainda
digital. há risco de haver
• O teste rápido salivar detecta anticorpos anti-HIV presentes na saliva, e tem falso-positivos
como vantagem o fato de não expor os profissionais ao risco de acidente
biológico, já que a saliva não transmite o HIV. Repetir o teste
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
QUANTIFICAÇÕES
• Linfócitos CD4
o CD4 > 500 – 29% → bom nível imunitário.
o CD4 200-499 – 14-28% → moderada imunodeficiência.
o CD4 < 200 – <14% → importante imunodeficiência.
• Carga viral (CV) pela PCR
o Quanto maior a CV, maiores as chances de progressão e velocidade de adoecimento.
o Objetivo da TARV: deixar a CV indetectável.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• A infecção pelo HIV pode ser dividida em quatro fases clínicas:
o Infecção aguda;
§ Síndrome retroviral aguda (SRA).
o Fase assintomática, também conhecida como latência clínica;
o Fase sintomática inicial ou precoce;
o Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).
INFECÇÃO AGUDA
• A infecção aguda é o intervalo entre o contágio e o surgimento de anticorpos anti-HIV (soroconversão).
• A infecção aguda pelo HIV ocorre nas primeiras semanas da infecção pelo HIV, quando o vírus está sendo
replicado intensamente nos tecidos linfoides.
• Durante essa fase, tem-se a carga viral do HIV elevada e níveis decrescentes de linfócitos, em especial os LT-
CD4⁺, uma vez que estes são recrutados para a reprodução viral.
• O indivíduo, nesse período, torna-se altamente infectante.
• A soroconversão ocorre, em média, quatro semanas após o contágio, sendo que, a SRA surge nesse período.
157
MEDPÉDIA 2019.1 Síssy Melo
• A presença de linfadenopatia generalizada persistente (LGP) é frequente e seu diagnóstico diferencial inclui
doenças linfoproliferativas e tuberculose ganglionar.
o Presença de linfadenomegalia (> 1 cm) em duas ou mais cadeias extrainguinais por período > 3 meses,
na ausência de uma causa óbvia.
• Achados laboratoriais
o Nessa fase a pesquisa de anticorpos anti-HIV pelo método ELISA é positiva.
o Plaquetopenia, leucopenia e anemia (normocrômica e normocítica).
• LT-CD4⁺ maior que 350 células/mm³
o Os episódios bacterianos são os mais frequentes.
o Infecções respiratórias ou até mesmo TB.
• Progressão da doença
o Apresentações atípicas das infecções, resposta tardia à antibioticoterapia e/ou reativação de
infecções antigas.
o Sintomas constitucionais, diarreia crônica, alterações neurológicas, infecções bacterianas, lesões orais
(leucoplasia pilosa) e herpes zoster se tornam mais frequentes.
§ Marcadores de imudopressão grave e evolução para a fase de AIDS.
o LT-CD4 de 200-300 células/mm³.
• Vírus não detectado no sangue?
o Não progressores de elite: mantém o CD4 estável a longo prazo.
o Progressores rápidos: CD4 diminui de forma acelerada.
§ Possuem, em média, 50 células/ano.
IMUNODEFICIÊNCIA PROGRESSIVA
• LT-CD4 de 200-300 células/mm³.
• São comumente encontrados nessa fase:
o Candidíase oral;
o Leucoplasia pilosa oral (causada pelo EBV, um herpes vírus 4);
o Herpes zoster (> 2 episódios);
o Carcinoma in situ de colo uterino.
• Com a imunodepressão do paciente doenças típicas de pessoas imunodeprimidas começam a surgir com mais
frequência e gravidade.
o Candidíase orofaríngea é um indicativo que a AIDS está quase iminente.
o Febre persistente, diarreia crônica e leucoplasia pilosa oral também indicam que a AIDS está
chegando.
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MEDPÉDIA 2019.1 Síssy Melo
• As neoplasias mais comuns são sarcoma de Kaposi, linfoma não Hodgkin e câncer de colo uterino, em
mulheres jovens.
• Nessas situações, a contagem de LT-CD4⁺ situa-se abaixo de 200 células/mm³, na maioria das vezes.
• Além das infecções e das manifestações não infecciosas, o HIV pode causar doenças por dano direto a certos
órgãos ou por processos inflamatórios, tais como miocardiopatia, nefropatia e neuropatias.
CLASSIFICAÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV
A
Assintomático
B C
Linfadenopatia generalizada
Fase sintomática precoce Doenças definidoras de AIDS
persistente
Síndrome retroviral aguda
1 – CD4 > 500 A1 B1 C1
2 – CD4 200 – 500 A2 B2 C2
3 – CD4 < 200 A3 B3 C3
= Fase de AIDS.i
Progressão rápida
Progressão intermediária
Progressão lenta
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• A primeira consulta com o paciente HIV⁺ deve visar, antes de tudo, o estabelecimento de uma boa relação
médico-paciente.
• A arte na criação desse vínculo requer o uso de uma linguagem acessível a pessoas das mais variadas condições
socioeconômicas, culturais e intelectuais.
• Deve-se explicar ao paciente os aspectos básicos relativos à doença (como formas de transmis-
são/prevenção), seu tratamento (enfatizando a importância da adesão) e prognóstico na atualidade.
• Vale ressaltar que essa tarefa nunca se esgota na primeira consulta.
• Na prática, é importante rever e reforçar conceitos nos encontros posteriores, de acordo com as necessidades
individuais de cada paciente.
• Conforme preconizado para qualquer doença crônica, no início do acompanhamento é imprescindível a
realização de anamnese e exame físico completos, com registro detalhado em prontuário.
• O portador do HIV pode apresentar comorbidades prévias que aumentam a complexidade de seu manejo
terapêutico, as quais precisam ser corretamente identificadas.
• No âmbito do SUS, recomenda-se que os pacientes assintomáticos e estáveis sejam acompanhados nas
Unidades Básicas de Saúde (UBS).
• Os Serviços de Atendimento Especializado (SAE) devem priorizar o atendimento de crianças, gestantes,
pacientes coinfectados (TB, hepatites virais etc.), indivíduos sintomáticos e situações de manejo mais
complexo da terapia antirretroviral.
ANAMNESE
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
EXAME FÍSICO
• A infecção pelo HIV tem um acometimento sistêmico.
• É necessário, portanto, atentar para sinais clínicos comumente associados à doença.
• O exame físico deve ser completo e incluir a aferição da pressão arterial, peso, altura, cálculo do índice de
massa corpórea e medida da circunferência abdominal.
• O exame físico completo deve ser realizado regularmente, porque leva a achados importantes.
• O exame da pele e oroscopia são também relevantes, uma vez que diversos sinais e sintomas presentes podem
estar associados à infecção pelo HIV.
• Quanto mais baixa a contagem de LT-CD4+, mais frequentemente os pacientes devem ser examinados.
165
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
• A infecção pelo HIV eleva o risco de desenvolvimento de TB ativa em indivíduos com TB latente, sendo o mais
importante fator de risco para TB.
• A prova tuberculínea (PT) é importante para o diagnóstico da infecção latente da tuberculose (ILTB) e constitui
um marcador de risco para o desenvolvimento de TB ativa, devendo ser realizada em todos os soropositivos,
mesmo que assintomáticas para TB.
• Caso a PT seja inferior a 5 mm, recomenda-se sua repetição anual e também após a reconstituição
imunológica com o uso da TARV.
• Para indicar o tratamento da infecção latente, deve-se excluir TB ativa utilizando critérios clínicos, exame de
escarro e radiografia de tórax.
• O tratamento da infecção latente com isoniazida (INH) é recomendado para todas as PVHIV com PT maior ou
igual a 5 mm, desde que excluída TB ativa.
• O tratamento da ILTB com isoniazida reduz significativamente o risco de desenvolvimento de TB em
soropositivos com PT reagente nos anos seguintes, constituindo, portanto, estratégia importante e duradoura
de proteção contra a TB.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida e Síssy Melo
IMUNIZAÇÕES
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• A carga viral (CV) é inversamente proporcional a contagem de células CD4⁺.
• Quanto maior a CV, menor será a quantidade de células CD4⁺ no organismo e, consequentemente, maiores as
chances de o paciente ir à óbito.
• Objetivos da TARV
o Redução da mortalidade.
o Redução da morbidade.
o Redução dos nº de internações.
o Redução dos gastos públicos.
o Melhora na qualidade de vida do paciente.
§ Porém pode haver efeitos adversos
a longo prazo.
• Os antirretrovirais agem em etapas do ciclo de
replicação viral.
1. Inibidores de adsorção/fusão.
2. Inibidores de integrase.
3. Inibidores da transcriptase reversa.
4. Inibidores de protease.
AGENTES ANTIRRETROVIRAIS
Antirretrovirais
Zidovudina
Raltegravir (RAL) Efavirenz (EFZ) Atazanavir (ATV)
(AZT)
Nevirapina
Tenofovir (TDF) Darunavir (DRV)
(NVP)
Didanosina
(ddl)
Lamivudina
(3TC)
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
INIBIDORES DE ADSORÇÃO/FUSÃO
• Se ligam as proteínas de fusão do vírus.
• Impedem a alteração conformacional das proteínas.
• Não há a aproximação da membrana da célula do hospedeiro com a do envelope viral.
• O vírus fica incapaz de invadir as células CD4⁺.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
SITUAÇÕES DE PRIORIZAÇÃO
PVHIV SINTOMÁTICAS
• PVHIV sintomáticas = pacientes com imunodeficiência avançada (doenças definidoras de AIDS) ou moderada.
• A TARV é indicada indepentemente da contagem de LT-CD4⁺, uma vez que a presença de sintomas já
demonstra fragilidade imunológica e incapacidade de controle viral.
GESTANTES
• Está indicada para toda gestante infectada pelo HIV, independentemente de critérios clínicos e imunológicos,
e não deverá ser suspensa após o parto, independentemente do nível de LT-CD4⁺.
• A TARV poderá ser iniciada na gestante a partir da 14ª semana de gestação, ou seja, no primeiro trimestre.
• A supressão viral é um fator determinante na redução da transmissão vertical.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
TUBERCULOSE ATIVA
• Recomenda-se que pacientes com contagem de LT-CD4⁺ abaixo de 50 céls/mm³ ou com sinais de
imunodeficiência avançada iniciem com rapidez o tratamento anti-TB e comecem a TARV dentro de duas
semanas do início do tratamento para TB.
• Nos demais pacientes, o tratamento para TB deve ser iniciado também o mais brevemente possível, e a TARV
deve ser iniciada na 8ª semana de tratamento anti-TB.
• Não se recomenda o início concomitante do tratamento para ambos os agravos.
o Reduzir ou evitar a ocorrência de eventos adversos cumulativos das medicações.
• Em casos de TB meníngea a TARV deve ser postergada para após a 8ª semana de tratamento da TB,
independentemente da contagem de LT-CD4⁺.
HEPATITE B
• Todas as pessoas recentemente diagnosticadas com HIV devem ser rastreadas quanto à infecção pelo HBV e
vacinadas se susceptíveis.
• A coinfecção pelo HIV tem um profundo impacto no curso da infecção pelo HBV.
• Há uma progressão mais rápida para cirrose e carcinoma hepatocelular, maior mortalidade relacionada à
doença hepática e pior resposta ao tratamento em comparação com pessoas portadoras de HBV não
infectadas pelo HIV.
• Pacientes coinfectados com hepatite B e HIV devem iniciar a TARV com esquema contendo tenofovir
independentemente da contagem de LT-CD4⁺.
HEPATITE C
• A evolução clínica da doença hepática relacionada ao HCV progride mais rapidamente em pessoas
coinfectadas com HIV.
• Estabilização clínica da doença pelo HIV mediante a TARV antes de iniciar o tratamento para HCV.
o Especialmente em pessoas com imunossupressão avançada (contagem de LT-CD4⁺ abaixo de 200
céls/mm³).
• Para a maioria das pessoas coinfectadas com HIV-HCV, incluindo aquelas com cirrose, os benefícios da TARV
superam as preocupações com hepatoxicidade induzida por fármacos.
• Recomenda-se o início da TARV, independentemente da contagem de LT-CD4⁺, para todos os pacientes
coinfectados com HIV-HCV.
OS ITRN
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
OS ITRNN
EFAVIRENZ (EFV)
• Posologia confortável (um comprimido ao dia).
• Promove supressão da replicação viral por longo prazo e possui perfil de toxicidade favorável.
• As principais desvantagens do EFV e de outros ITRNN são a prevalência de resistência primária em pacientes
virgens de tratamento e a baixa barreira genética para o desenvolvimento de resistência.
• Seus efeitos adversos mais comuns (tonturas, alterações do sono, sonhos vívidos e alucinações) costumam
desaparecer após as primeiras duas a quatro semanas de uso.
OS INI
DOLUTEGRAVIR (DTG)
• Vantagens
1. Alta potência.
2. Alta barreira genética.
3. Administração em dose única diária.
4. Poucos eventos adversos.
• Apresenta risco de má formação congênita → substituir por Raltegravir.
• Não deve ser administrado na coinfecção HIV-TB!
o O esquema varia conforme a presença de alguns critérios.
§ CD4 < 100.
§ Presença de outra infecção oportunista.
§ Necessidade de internação hospitalar/doença grave.
§ TB disseminada.
o Nenhum dos critérios → 2 ITRN + 1 ITRNN (de preferência o Efavirenz).
o Presença de pelo menos um critério → 2 ITRN + Raltegravir.
• Não é recomendado em PVHIV em uso de Fenitoína, Fenobarbital, Oxicarbamazepina, Carbamazepina,
Dofetilida e Pilsicainida.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• O DTG aumenta os níveis séricos de Metformina, aumentando, portanto, o risco de paraefeitos desta última.
o Para diabéticos em uso de ambas as medicações, recomenda-se manter a dose do DTG e ajustar a
dose da Metformina (máx. 1 g/dia).
o O controle glicêmico deverá ser rigorosamente monitorado nesses casos.
• Ele pode inibir a secreção tubular de creatinina, promovendo discreto aumento de seu nível sérico sem que
haja queda verdadeira da taxa de filtração glomerular.
o NÃO É NEFROTÓXICO!
RALTEGRAVIR (RAL)
• Deve ser administrado duas vezes ao dia.
• Apresenta excelente tolerabilidade, alta potência, poucas interações medicamentosas, eventos adversos
pouco frequentes e segurança para o uso em coinfecções como hepatites e tuberculose.
• Droga de escolha durante a gestação.
• Apresenta barreira genética superior quando comparado aos ITRNN, mas não aos IP e ao DTG.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
OS IP/r
INTRODUÇÃO
• Drogas “de resgate” → deverão compor o esquema somente após falha ao esquema inicial.
• Perfil de toxicidade maior que o das demais drogas.
• Intolerância gastrointestinal e descompensação metabólica (dislipidemia, resistência à insulina).
• Uma das explicações para essa maior toxicidade é a necessidade de doses relativamente altas de IP, associadas
ao Ritonavir (r) como “potencializador”.
• Por que os IP devem sempre ser associados ao ritonavir?
o Apesar de causar efeitos adversos ele age inibindo o citocromo
P450 hepático, aumentando o nível sérico de diversas
medicações metabolizadas por essa via.
o Em baixas doses melhora muito a farmacocinética dos IP,
permitindo uma posologia mais confortável.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
180
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• O HIV pode causar complicações neurológicas por quatro fatores.
Infecções provocadas pelo HIV Doenças oportunistas Neoplasias Efeitos do ARV
Neuropatias periféricas
Meningite asséptica Meningite por Criptococcus Linfoma primário de SNC. associadas aos ARV (ddl, ddC e
d4T).
Demência relacionada ao HIV Neurotoxoplasmose Miopatia pelo AZT.
Mielopatias (vacuolar, ataxia Leucoencefalopatia multifocal
sensorial e parestesias) progressiva
Neuropatias periféricas Encefalite por citomegalovírus
Miopatias pelo HIV Meningoencefalite por TB
Vírus linfotrópico de células T
Infecção pelo T. cruzi
Neurosífilis
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
NEUROTOXOPLASMOSE
• Epidemiologia
o Causada pelo protozoário T. gondii.
o Causa mais comum de lesão expansiva no cérebro de pacientes com AIDS.
o Infecção oportunista mais comum de SNC.
o CD4⁺ < 100 células/mm³.
o Prevalente em todo o mundo.
o Reativação de infecção latente, causada pela perda de imunidade celular.
§ Portadores de infecção latente (IgG anti-Toxoplasma positivo).
§ Desenvolvimento de abscessos necrosantes no parênquima cerebral pela recrudescência de
cistos teciduais de T. gondii em face à imunodepressão progressiva.
o Boa parte da população mundial já teve contato com a toxoplasmose, e o parasita pode permanecer
viável nos tecidos durante anos, em estado latente (hipometabólico).
• Sinais e sintomas
o Curso subagudo.
o Dor de cabeça e confusão mental.
o Febre e letargia.
o Convulsões (primeiros sintomas) e sinais de hipertensão craniana.
o Déficit neurológico focal subagudo (50 a 60% dos casos de AIDS).
o Hemiparesia ou alterações de campo visual.
o Manifestações de doenças disseminadas (pneumonites, retinite etc) são pouco comuns.
• Considerações sobre sorologia
o IgM: é o anticorpo da infecção aguda, positivo nos primeiros dias ou semanas após iniciada a infecção
e costuma ficar elevado por alguns meses.
o IgG: é o anticorpo que surge para imunizar a pessoa (proteger de futuras infecções da toxoplasmose),
costuma dar positivo nas primeiras semanas após a infecção e assim pode permanecer por toda a vida.
• Sorologias
o IgM- e IgG-: paciente sem imunidade e, portanto, suscetível.
§ Conduta: repetir sorologia de 3 em 3 meses e orientar quanto às formas de prevenção
primária.
§ Ausência de anticorpos não excluem toxoplasmose.
o IgM- e IgG+: paciente com imunidade (já foi infectado – cicatriz imunológica).
o IgM+ e IgG-: infecção aguda ou falso-positivo.
§ Pode se repetir após 2 semanas para confirmar.
o IgM+ e IgG+: toxoplasmose aguda em soroconversão.
• TC ou RNM
o Lesões focais com centro hipodenso e captação “anelar” (periférica) de contraste.
o Edema associado, predominando nos núcleos da base.
o A RNM é mais sensível que a TC.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Dentro dos
cistos há
bradizoitos
• Análise do líquor
o Pouco útil.
o A punção lombar pode ser danosa devido ao risco de herniação.
o O líquor pode estar normal ou com pleocitose (aumento do número de leucócitos).
o Pode apresentar proteinorraquia e/ou hipoglicorraquia.
• Biópsia
o Padrão-ouro para confirmar diagnóstico.
o Indicações:
§ Paciente com lesão ou lesões expansivas e ausência de melhora clínica e radiológica 10-14
dias depois de tratamento empírico;
§ Elevado índice de suspeita de diagnóstico alternativo;
§ Lesões atípicas para toxoplasmose no exame de imagem;
§ Títulos negativos de anticorpos.
o Principais diagnósticos diferenciais: linfoma, TB, fungos e abscessos bacterianos.
• Tratamento
o Primeira escolha: Sulfadiazina + Pirimetamina + Leucovorin (ácido foliníco), por um mínimo de seis
semanas.
§ Sulfadiazina 1.000 mg (peso < 60 kg) a 1.500 mg (peso ≥ 60 kg) VO, a cada seis horas.
§ Pirimetamina 200 mg VO no primeiro dia, seguida de 50 mg/dia (peso < 60k g) a 75 mg/dia
(peso ≥ 60kg) VO.
§ Ácido folínico 10 mg/dia VO.
o Intolerantes a sulfas: Clindamicina + Pirimetamina + Leucovorin por seis semanas.
§ Clindamicina 600 mg VO ou EV, a cada seis horas.
o Terapias de manutenção: continuação da terapia de indução ou regimes alternativos.
§ Pirimetamina + Sulfadoxina.
§ Apenas Pirimetamina.
§ Pirimetamina + Atavaquone.
§ Apena Atavaquone.
§ Claritromicina, Azitromicina ou Dapsona.
o A terapia de manutenção pode ser descontinuada após seis com o CD4⁺ > 200 células/mm³.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
o Glicocorticoides devem ser associados nos pacientes com edema cerebral importante.
o Portadores de neurotoxoplasmose virgens de TARV devem iniciar este tratamento dentro das
primeiras duas semanas de tratamento antiparasitário.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
MENINGOENCEFALITE POR TB
• Epidemiologia
o 30% dos pacientes morrem mesmo com tuberculostáticos.
o O risco de formas extrapulmonares é aumentado em pacientes soropositivos.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• A ativação policlonal aberrante associada à presença do HIV no organismo seria a “força motriz” responsável
pela aceleração do processo de transformação neoplásica linfocitária.
• O tratamento é feito com radio e/ou poliquimioterapia.
• A sobrevida média após o surgimento de um LNH na AIDS não costuma ultrapassar dois anos.
• Quadro clínico: cefaleia, sinais focais e alterações congnitivas e do estado mental.
• Diagnóstico: LCR pouco expressivo, achado de DNA do EBV por PCR (altamente sugestivo) e biópsia cerebral.
• Ataxia sensorial
o As colunas dorsais da medula encontram-se predominantemente lesadas, o que acarreta um quadro
clínico de dificuldade de marcha por ataxia sensorial “pura”.
o Esses pacientes apresentam perda da propriocepção e da sensibilidade vibratória.
NEUROPATIA PERIFÉRICA
• Forma mais comum: polineuropatia sensitiva distal (PNSD) ou
neuropatia sensitiva dolorosa.
• Ela pode ser decorrente da própria infecção pelo HIV ou surgir como
paraefeito de certas medicações (ddI, metronidazol, dapsona).
• O carro-chefe das queixas clínicas é a dor em queimação nas
extremidades.
• Ao exame, observa-se hipoestesia distal simétrica com distribuição do
tipo “luvas” e “botas”.
• Alterações motoras são discretas, geralmente limitando-se à ocorrência
de fraqueza da musculatura intrínseca das mãos e dos pés.
• O tratamento consiste na retirada do fármaco implicado, associado a medicamentos para alívio sintomático
como os anticonvulsivantes (Gabapentina, Carbamazepina) e os antidepressivos tricíclicos (Amitriptilina).
• Alguns pacientes podem melhorar em resposta à TARV.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• As doenças do trato respiratório representam a maior causa de morbimortalidade na infecção pelo HIV.
• Das dez doenças definidoras de AIDS mais frequentes, três acometem os pulmões: pneumonia bacteriana
recorrente, tuberculose e infecção pelo P. jiroveci.
• Estima-se que cerca de 65% dos pacientes infectados pelo HIV tenham comprometimento pulmonar como
primeira manifestação clínica da AIDS e que 80% tenham alguma manifestação pulmonar no curso da doença.
• As manifestações desse tipo podem ser encontradas em qualquer estágio da doença e englobam causas
infecciosas e não infecciosas.
• Genericamente, a forma mais comum de apresentação é a pneumonia (infiltrado pulmonar nos exames de
imagem), e a principal causa de óbito, em nosso meio, é a tuberculose.
• A etiologia das infecções respiratórias no paciente HIV⁺ varia em função de diversos fatores, a saber:
o Nível de CD4;
o Região de moradia/visitação;
o Condições socioeconômicas;
o Uso de quimioprofilaxia.
INFECÇÕES PULMONARES EM PACIENTES COM AIDS CONTAGEM DE CÉLULAS CD4⁺ DOENÇAS PULMONARES
- Pneumocistose;
- Criptococose;
- Streptococcus pneumoniae; - Pneumonia bacteriana
Bactérias < 200 células/µ
- Haemophilus influenzae. com bacteremia;
- TB extrapulmonar ou
disseminada.
- Pneumonia por P.
- M. tuberculosis;
Micobactérias < 100 células/µ aeruginosa;
- M. avium.
- Pneumonia por T. gondii.
- Pneumocystis jiroveci;
Fungos - Criptococcus neoformans; - M. avium;
- Histoplasma capsulatum. < 50 células/µ - Citomegalovirose;
Vírus - Citomegalovírus. - Histoplasmose.
Protozoários - Toxoplasma gondii.
PNEUMOCISTOSE (PCP)
• Causa mais comum de doença pulmonar oportunista em pacientes com AIDS.
• Ocorre em pacientes com LT-CD4⁺ abaixo de 200 células/mm³.
• É causada pelo Pneumocystis jiroveci (carinii), que é um fungo transmitido de pessoa para pessoa por via
respiratória.
• Patogenia
o Inalação de cistos e trofozoítos.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Diagnóstico
o Anamnese + exame físico + clínica dos sintomas + RX/tomografia + gasometria + contagem de CD4⁺.
o Hemograma completo + bioquímica + eletrólitos + DHL.
§ Coleta de no mínimo três amostras de hemocultura (bactérias, fungos e micobactérias).
o O diagnóstico definitivo é realizado pela identificação do agente por meio das colorações de azul de
toluidina, Grocott, Giemsa ou técnica de imunofluorescência a partir de espécimes respiratórios.
o A pesquisa direta do agente oportunista em amostras de escarro espontâneo ou induzido geralmente
é POUCO SENSÍVEL para PCP!!!
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
o Amostras biológicas obtidas por broncoscopia com LBA e biópsia pulmonar transbrônquica ELEVAM
A PRECISÃO do diagnóstico etiológico!!!
TUBERCULOSE (TB)
• Doença infecciosa de maior mortalidade entre os pacientes com HIV.
o M. tuberculosis ocorre 18x mais nesses pacientes.
o Responsável por 11% dos óbitos.
• Realizar teste de HIV em todos os pacientes com diagnóstico de TB.
• Indivíduos com LT-CD4⁺ maior que 350 células/mm³ tem manifestações iguais a de um imunocompetente.
o Mesmas manifestações clínicas.
o Prevalência de cavitações e/ou infiltrações em ápice pulmonar.
o Pode haver manifestações extrapulmonares.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• CD4 menor que 200 tem manifestações similares a TB primária ou da infância (ganglionar, meníngea e miliar).
• Conforme a progressão da imunodeficiência pode haver formas atípicas no RX (TB difusa nos pulmões) e
manifestações extrapulmonares se tornam frequentes.
• Um LT-CD4⁺ menor que 50 células/mm³ pode provocar acometimento sistêmico importante.
o SNC, pericárdio, fígado, baço, medula óssea, TGI e linfáticos.
• Quadro clínico
o Febre e sudorese noturna.
o Falta de apetite e emagrecimento.
o Dor torácica/abdominal e astenia.
o Icterícia e hepatoesplenomegalia.
o Derrame pleural/pericárdico e ascite.
o Tosse (independente da duração).
• Diagnóstico
o Solicitar RX/tomografia de tórax para avaliação.
o Baciloscopia e cultura para Mycobacterium.
o Análise de amostras biológicas.
o Teste rápido molecular para TB (um tipo de PCR).
o Teste de sensibilidade.
o Escarro induzido ou exame de broncoscopia para coleta de lavado broncoalveolar.
o Solicitar exame direto e cultura para fungos e outras micobactérias.
o Exame histopatológico de amostras de tecido.
• Tratamento
o A TARV deve ser iniciada mais precocemente nos coinfectados TB-HIV.
o Deve-se iniciar a TARV duas semanas após o início do tratamento para TB nos pacientes com LT CD4⁺
menor que 50 células/mm³ ou com sinais de imunodeficiência avançada.
o Já pacientes com LT CD4⁺ maior que 200 células/mm³ deve iniciar a TARV oito semanas após o início
do tratamento para TB.
o O tratamento da TB em pacientes com HIV é semelhante ao recomendado para a população geral.
§ A taxa de falha terapêutica, resistência aos fármacos e recorrência da TB são maiores nessas
pessoas.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Diagnóstico
o Hemoculturas, cultura de escarro, aspirado de medula para bacterioscopia e cultura para
micobactéria.
• Tratamento
o Doença disseminada: Claritromicina 500 mg duas vezes ao dia ou Azitromicina (500-600 mg) +
Etambutol 15 mg/kg dose única.
o Terapia de manutenção: mesmo tratamento.
o Descontinuar terapia: após um ano de tratamento; não sustentar sinais/sintomas de infecção; LT-
CD4⁺ maior que 100 células/mm³ nos últimos seis meses.
• Tratamento
o Primeira escolha: administração endovenosa de Ganciclovir 5mg/kg a cada doze horas, por 14 a 21
dias.
o Segunda escolha: Foscarnet 60mg/kg a cada oito horas ou 90mg/kg a cada 12 horas, por 14 a 21 dias.
o O emprego de terapia intraocular depende da topografia da lesão e deve ser indicada e necessitada
mediante a avaliação de um oftalmologista.
o Terapia de manutenção: Ganciclovir 5mg/kg/dia ou, alternativamente, Foscarnet 90mg/kg/dia.
o Interrupção da profilaxia secundária: pacientes com elevação sustentada da contagem de LT-CD4⁺
acima de 100 células/mm³ durante pelo menos três a seis meses, em uso regular de TARV.
HISTOPLASMOSE
• É causa pelo fungo Histoplasma capsulatum.
• A infecção se dá por inalação de esporos presentes no solo (ambientes ricos em fezes de aves e morcegos).
• A doença pode ocorrer por infecção primária ou por reativação endógena e sua apresentação clínica varia de
acordo com o grau de comprometimento imunológico.
• Pacientes com LT-CD4⁺ acima de 300 células/mm³ geralmente apresentam manifestações limitadas ao
aparelho respiratório.
o Pneumonia é a principal forma de apresentação.
o O infiltrado pulmonar retículo-nodular difuso é a apresentação radiológica mais característica.
• A contagem de LT-CD4⁺ abaixo de 150 células/mm³ aumenta o risco de doença por histoplasmose na forma
disseminada.
• Achados clínicos
o Febre, perda de peso, hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia, alterações pulmonares e lesões
mucocutâneas numerosas, que se iniciam como pápulas, progredindo para pequenos nódulos
umbilicados e úlceras.
o O achado de pancitopenia é frequente, sendo menos comum o comprometimento osteoarticular,
gastrintestinal e do SNC.
• Diagnóstico
o Cultivo micológico e/ou exame histopatológico de espécimes obtidos por raspado ou biópsia de
lesões.
§ Pele, mucosas, pulmão, medula óssea, fígado, linfonodos e intestinos.
o Coloração de Gomori/Grocott e o isolamento em cultura apresentam boa precisão diagnóstica.
o Padrão-ouro: cultura de sangue e amostras respiratórias e de outros tecidos, especialmente medula
óssea.
o O antígeno polissacarídeo do fungo tem sido detectado no sangue em 85% e na urina em 95% dos
indivíduos infectados.
§ O teste também pode ser aplicado no líquor e secreções respiratórias.
§ Radioimunoensaio.
196
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
ADICIONAL
197
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Sarcoma de Kaposi
(Síssy Melo)
INTRODUÇÃO
• O sarcoma de Kaposi é uma das neoplasias/doenças definidoras da AIDS.
• Sua presença em pacientes imunodeprimidos é sinônimo de alta gravidade.
• Doença essencialmente angioproliferativa que, pelo menos em suas fases iniciais, não apresenta
transformação sarcomatosa verdadeira.
ETIOPATOGÊNESE
• A etiopatogênese é complexa e necessita da interação entre diversos fatores.
1. O próprio HIV;
2. O herpes vírus humano tipo 8 (HHV-8), também conhecido como herpes vírus associado ao sarcoma
de Kaposi (KSHV);
3. Ativação aberrante do sistema imunoinflamatório.
• Altos títulos de citocinas pró-inflamatórias estimulam a proliferação de células vasculares imaturas
previamente “transformadas” pelo HHV-8.
• São as chamadas células fusiformes (spindle cells) cuja identificação é obrigatória para o diagnóstico
histopatológico da doença.
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
• Antes do surgimento da AIDS e do sucesso dos transplantes de órgãos, o sarcoma de Kaposi era um tumor
raro que ocorria em 0,02-0,06 a cada mil pacientes.
• Após o surgimento da AIDS 20 a 30% dos pacientes soropositivos foram diagnosticados com esse sarcoma.
• O sarcoma de Kaposi é um tumor de vasos sanguíneos caracterizado pela neoformação vascular com
proliferação de células endoteliais, fibroblastos, leucócitos e das próprias células tumorais fusiformes.
• Pode se manifestar na forma cutânea e visceral.
o Na pele, pode-se observar manchas avermelhadas ou nódulos vermelho-purpuráceos ou azul-
acastanhados.
o As lesões podem ser firmes e passiveis de compressão, únicas ou numerosas, e pode acometer vários
órgãos como pulmões, intestinos, cérebro, etc.
• CD4⁺ < 50 células/mm³.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• Doença multicêntrica, caracterizada pelo surgimento de nódulos vasculares em pele, membranas mucosas e
vísceras.
• Seu curso pode ser indolente ou fulminante e, ainda que tipicamente associado à imunodepressão profunda,
pode aparecer em qualquer faixa de CD4.
• As lesões tendem a surgir primeiro em regiões expostas ao sol (ex.: ponta
do nariz) ou após traumas locais (o clássico fenômeno de Koebner).
• Os sítios mais acometidos são: pele, linfonodos, trato gastrointestinal e
pulmões.
o Todavia, o Kaposi pode se manifestar em qualquer órgão ou
tecido!
• Ao contrário do que se observa em outros tumores, a invasão linfonodal
pode ser precoce e não necessariamente indica um pior prognóstico. Fenômeno de Koebner
198
MEDPÉDIA 2019.1 Síssy Melo
• O envolvimento dos pulmões costuma provocar dispneia, e os sinais radiológicos mais frequentes são o
infiltrado bibasal com derrame pleural bilateral (70% dos casos).
• No tubo digestivo, podem ocorrer sangramentos (lesões mucosas superficiais), obstrução intestinal (massas
intraluminais) e colestase/colangite (obstrução da árvore biliar).
• O diagnóstico é feito por meio de biópsia das lesões (anatomopatológico).
TRATAMENTO
• Não existem recomendações consensuais para o tratamento do sarcoma de Kaposi.
• Na maioria dos casos, a TARV efetiva consegue algum resultado (ex.: regressão parcial ou completa das lesões).
• Diante da persistência tumoral, a despeito da TARV efetiva, duas
linhas de conduta podem ser adotadas:
1. Tratamento local com radioterapia, injeção intralesional de
vinblastina ou crioterapia.
§ Indicado para lesões únicas ou múltiplas restritas a um segmento corporal.
2. Tratamento sistêmico com IFN-alfa ou quimioterapia citotóxica.
§ Indicado na presença de lesões cutâneo-mucosas disseminadas ou doença visceral.
§ A resposta ao IFN-alfa tende a ser diretamente proporcional ao nível de CD4.
• Devem-se evitar esquemas quimioterápicos que comprometam ainda mais a imunidade, como as
poliquimioterapias.
199
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• O HIV pode ser transmitido da mãe para o filho durante a gestação (23-30%), durante o parto (50-65%) ou
durante o aleitamento (12-20%).
• Na ausência de qualquer intervenção profilática cerca de 15-45% das mães infectadas, em média, transmitem
o HIV para as suas crianças.
NECESSIDADES
E INFORMAÇÕES ASPECTOS A SEREM ABORDADOS NO ATENDIMENTO INICIAL
PARA O MANEJO
› Nível de conhecimento sobre HIV/aids, explicando as dúvidas de forma
objetiva
Diagnóstico
› Avaliação da rede de apoio familiar e social, assegurando confidencialidade
e sigilo
› Documentação do teste
› Tempo provável de soropositividade
› Situações de risco para a infecção
› Presença ou história de IO relacionadas ao HIV
› Contagem de LT-CD4+ e CV-HIV, genotipagem e início de TARV
Informações › História de uso anterior de ARV: tempo de uso e de interrupção, adesão,
específicas sobre a eventos adversos prévios etc.
infecção pelo HIV
› Cartão de Imunizações
› Compreensão sobre a doença: explicação sobre TV e horizontal, história
natural, significado da contagem LT-CD4+, CV-HIV, TARV e genotipagem
› Utilização de preservativo masculino e feminino e outras formas de
prevenção combinada
› História de sífilis e outras IST
› Investigação de comportamentos abusivos, em um ambiente livre de
julgamento, para que a gestante e suas parcerias sexuais se sintam à
Abordagem do vontade para relatá-los
comportamento de
risco › Uso de tabaco, álcool e outras drogas lícitas e ilícitas
› Interesse em reduzir os danos à saúde
› Rotinas diárias
› Hábitos nutricionais
Hábitos de vida
› Atividade física
› Atividade laboral e possíveis exposições de risco
› Alergias
› História de doença mental
› História de tuberculose: PPD(a), doença e tratamento, contato íntimo com
pessoa com diagnóstico atual de tuberculose
História clínica atual
› Dislipidemias, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, doenças autoimunes,
e passada distúrbios da tireoide
› Câncer de mama e câncer de colo uterino
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
› Hospitalizações prévias
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS PARA
UsoVirais
Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e›das Hepatites de práticas integrativas
PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DE HIV, SÍFILIS E HEPATITES VIRAIS
NECESSIDADES
E INFORMAÇÕES
› UsoASPECTOS de métodos anticonceptivos
A SEREM ABORDADOS NO ATENDIMENTO INICIAL
PARA O MANEJO › Gestações, partos e interrupções de gestações
Continua
› Rede de apoio social (família, amigos, ONG)
› Condições de domicílio
História social › Condições de alimentação
› Emprego/profissão
81
› Aspectos legais
› Doenças cardiovasculares
› Dislipidemias 201
História familiar
› Diabetes mellitus
› Doenças autoimunes
Conclusão
NECESSIDADES
MINISTÉRIO DA SAÚDE
E INFORMAÇÕES
Secretaria de Vigilância em Saúde ASPECTOS A SEREM
PROTOCOLO ABORDADOS
CLÍNICO E DIRETRIZESNO ATENDIMENTO
TERAPÊUTICAS PARA INICIAL
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções
PARA O MANEJO
MEDPÉDIA 2019.1 Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DE HIV, SÍFILIS E HEPATITES VIRAIS
Levi Almeida
› Rede de apoio social (família, amigos, ONG)
Assunto: Transmissão Vertical do HIV.› Condições de domicílio
História social
Conclusão › Condições de alimentação
NECESSIDADES › Emprego/profissão
E INFORMAÇÕES ASPECTOS A SEREM ABORDADOS NO ATENDIMENTO INICIAL
PARA O MANEJO › Aspectos legais
Doenças
› Rede cardiovasculares
de apoio social (família, amigos, ONG)
Dislipidemias
› Condições de domicílio
História familiar
História social Diabetes mellitus
› Condições de alimentação
Doenças autoimunes
› Emprego/profissão
Fonte: DIAHV/SVS/MS. › Aspectos legais
EXAME FÍSICO Para mais informações sobre
(a)
› Doenças cardiovasculares
a indisponibilidade de PPD, consultar a Nota Informativa nº 08/2014/CGPNCT/DEVEP/
SVS/MS e o Ofício Circular nº 02/2015/CGPNCT/DEVIT/SVS/MS.
› Dislipidemias
História familiar
› Diabetes mellitus
Doenças autoimunes
› pelo
Como a infecção HIV é de caráter sistêmico, torna-se necessário, além do
Fonte: DIAHV/SVS/MS.
exame físico geral, observar atentamente os sinais clínicos sugestivos de manifesta-
Para mais informações sobre a indisponibilidade de PPD, consultar a Nota Informativa nº 08/2014/CGPNCT/DEVEP/
(a)
ções da doença. O quadro seguinte lista os sistemas que frequentemente expressam
SVS/MS e o Ofício Circular nº 02/2015/CGPNCT/DEVIT/SVS/MS.
alguma manifestação clínica associada à infecção pelo HIV.
CV-HIV
treponêmico X X pelo menos 1 Log de CV-HIV
Realizar testagem no diagnóstico da gestação (ou na
(ex.: TR) e/ primeira consulta)
Nas gestantes e no
em uso de3º trimestre,
TARV além da
com CV-HIV admissão
detectável, para
avaliar
84 X X
ou teste não para o parto
adesão ou aborto.
e realizar Oferecer
genotipagem nova >500
(CV-HIV testagem em caso
cópias/mL)
treponêmico de história
Todas de exposição
as gestantes sexual
deverão ter de risco/violência
coleta de CV-HIV asexual
partir
(ex.: VDRL) da 34ª semana, para auxiliar definição da via de parto e do
uso de profilaxias
Solicitar na primeira consulta. Imunizar em caso de
Anti-HAV X
resultado não do
Coletar antes reagente
início da TARV para todas as gestantes
Na primeira
Iniciar TARVconsulta e no parto
em gestantes (caso
que não o esquema
estavam em vacinal
não tenha sido
tratamento, completado)
sem aguardar resultado de genotipagem
HBsAg X
Imunizar
Gestantes caso
em não
TARVhaja histórico
antes de vacinação
da gestação, completa e
que apresentem
Genotipagem X se HBsAg não reagente
CV-HIV detectável
Anti-HCV X Na primeira
Avaliar consulta
adesão e necessidade de modificação de esquema
de TARV em gestantes
Sorologia trimestral parajáIgG
emno
usocaso
de TARV e CV-HIV
de resultado inicial
Sorologia para detectável
não reagente(guiada por resultado de genotipagem).
toxoplasmose X X X X Continua
(IgM, IgG) Realizar orientações quanto à prevenção da exposição a
Toxoplasma gondii
84 Na primeira consulta, solicitar dois métodos distintos para
detecção de IgG conforme grupos de risco: 1) pessoas
residentes ou procedentes de áreas de transmissão
ativa (vetorial ou oral) atualmente ou no passado; 2)
Sorologia para pessoas que habitam (ou tenham habitado) em áreas com
doença de X presença de triatomíneo; 3) pessoas que tenham recebido
Chagas transfusão de sangue (hemocomponentes) antes de 1992;
4) filhos(as) de mães com doença de Chagas em quaisquer
fases ou formas clínicas; 5) pessoas com familiares (outros
que não a “mãe biológica”) ou pessoas do convívio social
que tenham diagnóstico da doença de Chagas
203
Semestral no primeiro ano e, se normal, manter
seguimento anual
Citopatológico Se contagem de LT-CD4+ <200 céls/mm³, priorizar
(IgM, IgG) Realizar orientações quanto à prevenção da exposição a
O Quadro 8 apresenta os examesToxoplasma
sugeridosgondii
para estruturar a abordagem laborato-
Na primeira consulta, solicitarde
rial inicial e sua frequência de realização durante as consultas dois métodos distintos para
pré-natal.
detecção de IgG conforme grupos de risco: 1) pessoas
residentes ou procedentes de áreas de transmissão
MEDPÉDIA 2019.1Sorologia para
ativa (vetorial ou oral) atualmente ou no passado; 2)
pessoas que habitam (ou tenham habitado) em áreas com
Levi Almeida
Quadro
doença 8
de– Periodicidade
X de realização de examesdedurante
presença a gestação
triatomíneo; 3) pessoas que tenham recebido
Assunto: Transmissão
ChagasVertical do HIV. transfusão de sangue (hemocomponentes) antes de 1992;
4) filhos(as) de mães com doença de Chagas em quaisquer
fases ou formas clínicas; 5) pessoas com familiares (outros
TRIMESTRE que não a “mãe biológica”) ou pessoas do convívio social
EXAME COMENTÁRIO
INICIAL 1º 2º 3º que tenham diagnóstico da doença de Chagas
Hemograma X X X X Semestral no primeiro ano e, se normal, manter
seguimento anual
Tipagem
Citopatológico X Se contagem de LT-CD4+ <200 céls/mm³, priorizar
sanguínea X
do colo do útero correção dos níveis de LT-CD4+ e realizar rastreamento
Se a gestante
citológico for6Rh
a cada negativo
meses, até recuperação imunológica
Coombs indireto X X Se o resultado for negativo, administrar
Realizar colposcopia na presença imunoglobulina
de alterações patológicas
anti-RhS na 28ª semana de gestação
Swab vaginal
Glicemia em
e anal para Entre a 35ª e a 37ª semana. Se a cultura for positiva, indicar
X X X X
jejum
pesquisa de X profilaxia com penicilina G cristalina endovenosa durante o
estreptococo
Teste de do trabalho de parto
grupo B à
tolerância X Entre a 24ª e a 28ª semana
glicose
Exame com 75g
especular
Exame com
sumário
realização
de urina e de X X X X
teste de pH
urocultura Sempre que houver sinais e sintomas de vaginose
X
e teste das bacteriana
aminas (teste Em caso de uso de nevirapina, deve-se realizar o controle
do cheiro ou de de rotina durante toda a gestação
Provas
Whiff) de X Em caso de uso de raltegravir, realizar controle na
função hepática
introdução
Realizar na do ARV econsulta
primeira de rotinaem
durante todaassintomática
gestante a gestação, e
especialmente no 3ºde
sem história prévia trimestre
TB.
PPD(a) (Reação Sempre
PPD ≥ 5 calcular o clearance
mm: realizar de creatina
a investigação de TBantes doCaso
ativa. uso de
Prova de função X
de Mantoux) TDF, e rotineiramente
a investigação após introdução.
seja negativa, Solicitar com
indicar a profilaxia após o 1º
renal (ureia e X X
mês e, peloassociada
isoniazida menos, trimestralmente, enquantode
à piridoxina. Na ausência osPPD
níveis
(a)
,
creatinina)
estiverem dentro da normalidade
iniciar isoniazida em casos específicos
Fonte: DIAHV/SVS/MS. Solicitar trimestralmente durante gestação para gestantes
Contagem de
X X X em início de tratamento. Para gestantes em uso de TARV, com
QUANDO INICIAR A TARV?
(a)LT-CD4+
Para mais informações sobre a indisponibilidade de PPD, consultar
CV-HIV a Nota
indetectável, Informativa
solicitar no 1ºnº 08/2014/CGPNCT/DEVEP/
trimestre e na 34ª semana
• A TARV SVS/MS e o Ofício Circular nº 02/2015/CGPNCT/DEVIT/SVS/MS.
está indicada para toda gestante Ainfectada
solicitaçãopelo HIV, deverá
de CV-HIV independentemente de critérios clínicos e
ser realizada na primeira
imunológicos, e não deverá ser suspensa após o parto, independentemente do nível de LT-CD4⁺.
consulta
• Durante o primeiro trimestre de gestação, aPara mulher assintomática,
gestantes sem infecção
em início ou modificação oportunista
de TARV, uma e com LT-CD4⁺
85
acima de 350 céls/mm³, deverá ser abordadasegunda quantoamostra deverá ser
à importância dasolicitada
adesão após 2 a 4asemanas
e sobre possibilidade de iniciar
após introdução/modificação da TARV. Avaliar queda de
TARV apenas
CV-HIV
após o término X
do primeiroX trimestre.
pelo menos 1 Log de CV-HIV
o Para qualquer ARV, não há completaNas segurança quanto
gestantes em uso deàTARV
exposição
com CV-HIVfetal no primeiro
detectável, avaliar trimestre.
adesão e realizar genotipagem (CV-HIV >500 cópias/mL)
Todas as gestantes deverão ter coleta de CV-HIV a partir
da 34ª semana, para auxiliar definição da via de parto e do
uso de profilaxias
Coletar antes do início da TARV para todas as gestantes
Iniciar TARV em gestantes que não estavam em
tratamento, sem aguardar resultado de genotipagem
Genotipagem X Gestantes em TARV antes da gestação, que apresentem
CV-HIV detectável
Avaliar adesão e necessidade de modificação de esquema
de TARV em gestantes já em uso de TARV e CV-HIV
detectável (guiada por resultado de genotipagem).
Continua
84
204
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
VIAS DE PARTO
• Existem dois tipos de via de parto: o parto cirúrgico (a cesárea/cesariana) e o parto vaginal (ou natural).
• Carga viral desconhecida ou maior que 1.000 cópias/mL após 34 semanas de gestação
o A cesárea eletiva a partir da 38ª semana de gestação diminui o risco de transmissão vertical do HIV.
• Carga viral detectável, porém, menor que 1.000 cópias/mL após 34 semanas de gestação
o O parto vaginal pode ser realizado, se não houver contraindicação obstétrica.
o No entanto, o serviço deve estar ciente de que essa mulher tem indicação de receber AZT intravenoso.
• Uso de ARV e carga viral indetectável após 34 semanas de gestação
o Para gestantes em uso de ARV e com supressão da CV-HIV sustentada, caso não haja indicação de
cesárea por outro motivo, a via de parto vaginal é indicada.
MEDPÉDIA 9.2019.1
A ligadura do cordão umbilical deve ser imediata à expulsão do feto, não devendo ser executada,
sob nenhuma hipótese, a ordenha do cordão.
Levi Almeida
AMAMENTAÇÃO 135
• É contraindicada, pois o risco de transmissão do HIV continua por meio da amamentação.
o O fato de a mãe utilizar ARV não controla a eliminação do HIV pelo leite, e não garante proteção.
• Recomenda-se que toda puérpera vivendo com HIV/AIDS seja orientada a não amamentar e informada sobre
o direito a receber fórmula láctea infantil.
o O aleitamento cruzado (amamentação da criança por outra nutriz), a alimentação mista (leite humano
e fórmula infantil) e o uso de leite humano com pasteurização domiciliar são contraindicados.
• Se a criança for exposta à amamentação, deve-se orientar a interrupção imediata da amamentação e avaliação
quanto à necessidade de realização de PEP, simultaneamente à investigação diagnóstica.
206
MEDPÉDIA 2019
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• A febre de origem indeterminada clássica é definida pela presença de temperatura axilar maior do que 37,8ᵒC,
em várias ocasiões, pelo tempo mínimo de três semanas e que se mantém sem causa aparente após uma
semana de investigação hospitalar.
o Três dias de investigação hospitalar ou três consultas em ambulatório.
• Os os casos de febre de origem indeterminada são atualmente classificados em quatro síndromes: clássica,
nosocomial, no neutropênico e no paciente infectado pelo HIV.
TIPOS DE FOI
• Clássica
o Febre ≥ 37,8ᵒC em várias ocasiões com duração ≥ 3 semanas.
o Ausência de diagnóstico após três dias de investigação hospitalar ou três consultas ambulatoriais.
• Nosocomial
o Pacientes internados.
o Febre ≥ 37,8ᵒC em várias ocasiões.
o Ausência de infecção ou doença incubada à admissão.
o Ausência de diagnóstico após três dias apesar de investigação adequada.
§ Incluindo pelo menos 48 horas de cultura microbiológica.
• No neutropênico
o Neutrófilos < 500 mm³.
o Febre ≥ 37,8ᵒC em várias ocasiões.
o Ausência de diagnóstico após três dias apesar de investigação adequada.
§ Incluindo pelo menos 48 horas de cultura microbiológica.
• Associada ao HIV
o Infecção pelo HIV confirmada.
o Febre ≥ 37,8ᵒC em várias ocasiões.
o Duração ≥ 4 semanas (regime ambulatorial), ou ≥ 3 dias em pacientes internados.
o Ausência de diagnóstico após três dias apesar de investigação adequada.
§ Incluindo pelo menos 48 horas de cultura microbiológica.
ETIOLOGIA
ABORDAGEM/FLUXOGROMA DA FOI
1. Certifique-se de que o paciente tem febre.
2. O exame clínico (anamnese + exame físico) deve ser sistematizado, minucioso
e repetido.
3. Exclua doenças potencialmente graves e tratáveis, febre provocada por
medicamento e imunodepressão subjacente.
4. Procure trabalhar com exames complementares de qualidade.
5. Pense sempre em associação de doenças.
6. Defina critérios para a indicação de terapêutica de prova e laparotomia
exploradora.
7. Esteja presente quando outros colegas forem chamados a opinar.
8. Manter boa relação médico-paciente e ser seguro frente a situação.
208
MEDPÉDIA 2019 Levi Almeida
ANAMNESE DIRIGIDA
• Viagens (duração, destino, doenças ocorridas, residências anterior e atual) e descrição do local.
• Contato com portadores de doenças contagiosas.
• Atividade e hábitos sexuais.
• Contato com animais (gatos, cabras, bois) e picadas de insetos (mosquito, barbeiro).
• Hábitos alimentares (ingestão de carnes e outros alimentos crus, leite não-pasteurizado).
• Exposições profissionais (açougueiros, veterinários, trabalhadores em esgoto, profissionais do setor de saúde).
• Abuso de drogas injetáveis e álcool.
• Medicamentos (antibióticos, imunossupressores, antiinflamatórios, analgésicos, hormônios, tranquilizantes,
anticonvulsivantes).
• Doenças pregressas (cirurgias anteriores, valvulopatias cardíacas, doença dentária, icterícia, transfusões,
acupuntura, tuberculose, neoplasias, doenças dos diversos aparelhos).
• Doenças familiares (exposição à tuberculose e outras doenças infecto-contagiosas, doenças hereditárias,
colagenoses).
EXAME FÍSICO
• O exame físico deve ser repetido diariamente até o diagnóstico ser obtido.
• Pesquisa de lesões cutâneas (exantemas, petéquias, nódulos) e lesões na orofaringe.
• Avaliação de seios paranasais, dentes e coração (pesquisa de sopro).
• Pesquisar presença de visceromegalias, linfadenomegalias e massas abdominais/pélvicas.
• Realizar fundoscopia, oroscopia e exame do ânus/reto.
• A curva térmica deve ser pesquisada e comparada com os padrões clássicos.
• É importante anotar o dia de inicio da moléstia atual e o dia no qual o paciente está sendo examinado, pois
em várias moléstias os sintomas e exames complementares variam com o tempo, obtendo-se resultados
diferentes conforme a evolução da doença.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Alguns exames laboratoriais são frequentemente inespecíficos, mas podem trazer subsídios para o diagnóstico
de algumas doenças.
• A velocidade de eritrossedimentação é outro destes exames de baixa especificidade, mas que em algumas
situações pode ser muito útil, como, por exemplo, na arterite de células gigantes.
• A dosagem da fosfatase alcalina é muito útil na propedêutica da FOI.
o Sua elevação habitualmente aponta o acometimento hepático e a necessidade de investigação deste
órgão.
§ Investigar a fosfatase alcalina óssea também.
209
MEDPÉDIA 2019 Levi Almeida
EXAMES LABORATORIAS
TERAPÊUTICA DE PROVA
• Teste terapêutico feito através da introdução de uma droga específica para o tratamento de uma doença e, a
partir disso, esperar uma resposta.
o Se não houver resposta, fazer a prova com outra droga.
o Definir um tempo de observação e se não houver resposta, suspender a droga e fazer a prova com
uma droga diferente.
• É indicado apenas quando há risco eminente de morte.
210
MEDPÉDIA 2019 Levi Almeida
FOI NA AIDS
• É muito comum, tendo estas pessoas inúmeras causas para sua ocorrência, tais como: infecções oportunistas,
febre pelo próprio HIV, neoplasias, reações a drogas.
• Na fase aguda da doença, a febre pelo HIV juntamente com outros sintomas (mialgia, erupção cutânea,
cefaléia, linfadenopatia) constitui uma síndrome semelhante ao quadro de mononucleose infecciosa.
• As reações às drogas são mais comuns nos pacientes HIV positivos do que na população em geral, podendo
ocorrer isoladamente, sem erupção cutânea ou eosinofilia.
• O diagnóstico de febre pelo HIV constitui diagnóstico de exclusão, somente devendo ser feito após
investigação completa das outras causas de febre.
Principais causas de FOI na AIDS
Tuberculose MAC Neurocriptococose Citomegalovírus Toxoplasmose
Histoplasmose Sífilis Medicamentos Linfoma Próprio HIV
NEUTROPENIA FEBRIL
• Em 40-50% dos casos há evidências de infecção (o restante é FOI).
• A infecção pode ser “microbiologicamente” documentada (ex.: hemocultura positiva) ou “clinicamente”
documentada (ex.: pneumonia sem diagnóstico microbiológico).
o A maioria das infecções “microbiologicamente” documentada são de origem bacteriana, vindo em
seguida as fúngicas.
• A infecção bacteriana pode ser rapidamente fatal nessa população (24-48 horas) → URGÊNCIA MÉDICA!!!
• Principais causas: FOI, linfoma, leucemia e tumores sólidos.
• Sítios: corrente sanguínea, trato respiratório superior, pele, trato gastrointestinal e geniturinário.
o Ocorre mais por gram-negativo com produção de β-lactamases e de espectro estendido.
• O consenso de primeira conduta nesse caso é iniciar antibioticoterapia para Pseudomonas sp. (caso seja gram-
negativo) ou Staphylococcus sp (em caso de gram-positivo).
211
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
ANIMAIS PEÇONHENTOS
• Animais que possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes, ou ferrões, ou aguilhões, por onde
o veneno passa ativamente.
• Animais que possuem um mecanismo qualquer que os permite injetar seu veneno no organismo de outro
animal.
• Exemplos:
o Algumas serpentes que possuem os dentes ocos ligados a glândulas de veneno e estes são usados
para inocular veneno (ou peçonha) que algumas vezes podem até matar;
o Escorpiões que injetam o veneno produzido na glândula de do aguilhão;
o As abelhas que usam o ferrão para picar e injetar o veneno no “inimigo”;
o Aranhas, arraias, etc.
ANIMAIS VENENOSOS
• São aqueles que produzem as substâncias tóxicas (veneno), mas não possuem um aparelho inoculador
(dentes, ferrões, aguilhões, esporões), e por isso, dependem da situação para usá-las.
• O envenenamento pode ser passivo por contato como a lagarta taturana que possui pelos por onde secretam
veneno com um simples contato.
• Pode ser também por compressão, como o sapo que necessita de apertar as glândulas localizadas no dorso
perto da cabeça.
• Ou por ingestão como o peixe baiacu que possui toxinas em vários tecidos do corpo como fígado, brânquias,
intestinos e podem causar envenenamento caso seja ingerido.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• As serpentes são as principais causadoras de acidentes por animais peçonhentos no Brasil.
• No mundo, existem cerca de 3 mil espécies de serpentes, sendo 410 consideradas venenosas.
• No Brasil, estão catalogadas 256 espécies, sendo 69 peçonhentas e 187 não peçonhentas.
• A distribuição das 69 espécies peçonhentas encontradas no Brasil é a seguinte: 32 do gênero Bothrops
(jararaca), 6 do gênero Crotalus (cascavel), 2 do gênero Lachesis (surucucu) e 29 do gênero Micrurus (coral).
FAMÍLIA BOIDAE
• Serpentes que, ao se alimentar, matam a presa por constrição.
o Verdadeiras serpentes não peçonhentas.
• Ex) Jiboia (Boa constrictor), sucuri (Eunectus murinus) e cobra-
papagaio (Corallus caninus).
• Dentição áglifa
o a = ausência, gliphé = sulco.
o Dentes pequenos, todos iguais, e sem a presença de presas
inoculadoras.
FAMÍLIA COLUBRIDAE
• Podem apresentar dentição do tipo áglifa ou opistóglifa.
• Dentição opistóglifa
o ophistos = atrás, gliphé = sulco.
o Dois ou mais dentes posteriores, com um sulco anterior ou
lateral por onde sai o veneno.
o A posição das presas dificulta a inoculação.
• Ex) falsas-corais (Liophis frenatus), muçuranas (Clelia clelia), cobra-
verde (Philodryas olfersii), cobra-d’água (Liophis miliaris),
dormideiras (Dipsas albifrons e Sibynomorphus mikanii).
• A jararacuçu-do-brejo (Mastigodryas bifossatus), a caninana
(Spilotes pullatus) e a boipeva (Waglerophis merremii) apresentam dentição do tipo áglifa.
• Há falsas-corais com dentição áglifa (não peçonhentas) e opistóglifa (peçonhentas).
FAMÍLIA ELAPIDAE
• Representada principalmente pelas cobras-corais-verdadeiras.
o Serpentes do gênero Micrurus.
• Habitam em geral buracos e sombras de árvores.
• Todas gostam de lugares quentes e úmidos, são consideradas
dóceis e encontradas em todo o território nacional.
• Dentição proteróglifa
o protero = anterior, gliphé = sulco.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
o Um par de dentes anteriores, bem desenvolvidos, com um canal central, por onde é inoculado o
veneno.
• Principais características
o Cabeça arredondada recoberta por escamas grandes e placas.
o Olhos pequenos e arredondados.
o Dentição proteróglifa.
o Corpo com escamas lisas e anéis pretos, vermelhos e brancos.
o Ausência de fosseta loreal.
o A forma mais eficiente é através da dentição.
• Verdade x Falsa (não é 100% eficiente)
o Verdadeira:
§ Tamanho maior que a falsa;
§ Cabeça e o resto do corpo têm escamas lisas.
§ Cauda mais curta e que se afina bruscamente;
§ Os anéis dão a volta completa no corpo.
o Falsa:
§ Tamanho menor;
§ Tem placas na cabeça ao invés da presença de escamas;
§ A cauda é longa e se afina gradativamente;
§ Os anéis não dão a volta completa no corpo;
§ Os olhos são grandes com pupilas circulares.
• Diferenciação pelo padrão de cores
o Não é muito eficiente.
o Inúmeras quantidades de espécies (tanto da verdadeira quanto da falsa).
o Há serpentes não peçonhentas com o mesmo padrão de coloração de uma peçonhenta.
• Ex) Micrurus paraensis, Spixii obscurus, Hemprichii ortoni, scutiventris, ornatissimus, lemniscatus, filiformis,
Surinamensis surinamensis e coralinus.
FAMÍLIA VIPERIDAE
• Incluem os gêneros Bothrops, Crotalus, Lachesis, Porthidium e Bothriopsis.
• Dentição solenóglifa
o soleno = canal, gliphé = sulco.
o Um par de dentes ou presas anteriores bem
desenvolvidos, com canal central e maxilar.
o É o tipo mais perfeito de aparelho venenífero que se
conhece.
o As presas possuem uma extremidade afilada para facilitar
a penetração e são trocadas ao longo da vida.
• Fosseta loreal (imagem ao lado)
o Órgão sensorial termorreceptor localizada entre o olho e
a narina.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Outras características
o Cabeça triangular.
o Olhos com pupila em fenda.
o Corpo grosso e não muito longo.
o São lentas e possuem hábitos noturnos.
• Gênero Bothrops
o Responsáveis pela maioria (entre 80 e 90%) dos acidentes
ofídicos no Brasil.
o Habitam ambientes úmidos, como matas, áreas cultivadas e
locais onde há roedores.
o Hábitos noturnos, são consideradas as mais agressivas e
encontradas em todo o território nacional.
o Principais características:
§ Cabeça triangular com olhos pequenos e pupila em fenda;
§ Presença de fosseta loreal e escamas na cabeça;
§ Dentição solenóglifa;
§ Cauda sem guizo;
§ Pele com desenhos semelhantes ao da letra V invertida.
o Ex) jararacas.
• Gênero Crotalus
o Responsáveis por 10 a 20% dos acidentes ofídicos no Brasil.
o Habitam ambientes secos e pedregosos e locais onde há
roedores.
o Hábitos noturnos e são consideradas pouco agressivas.
o Principais características:
§ Cabeça triangular com olhos pequenos e pupila em
fenda.
§ Presença de fosseta loreal e escamas na cabeça;
§ Dentição solenóglifa;
§ Cauda com guizo ou chocalho.
o Ex) cascavéis, boicininga ou maracaboia.
• Gênero Lachesis
o Responsáveis por cerca de 3% dos acidentes ofídicos no
Brasil.
o Habitam as grandes florestas tropicais, entre elas a
Amazônica e a Mata Atlântica, e são consideradas dóceis.
o Principais características:
§ Cabeça triangular com olhos pequenos e pupila em
fenda;
§ Presença de fosseta loreal e escamas na cabeça;
§ Dentição solenóglifa;
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Analisar bem as
condições do
paciente e
procurar
identificar o tipo
de acidente
FOTOS
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Acidentes Botrópicos
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Família Viparidae; gênero Bothrops.
• Nomes populares: jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, malha-de-sapo,
patrona, surucucurana, comboia, caiçara, e outras denominações.
ASPECTOS FÍSICO
• Escamas supraoculares salientes.
• Ponta da cauda lisa (e geralmente esbranquiçada).
o Geralmente possui escamas em um único sentido.
• Coloração cinza ou esverdeada.
• Cabeça com formato triangular.
CARACTERÍSTICAS
• Presença de fosseta loreal.
• Dentição solenóglifa.
• Muito agressivas.
• Pode atingir até 1,40 m.
• Representa o maior número de ocorrência de acidentes ofídicos.
• Tem baixa letalidade.
• Ambientes diversos: beiras de rios e igarapés, áreas litorâneas e úmidas, agrícolas e periurbanas, cerrados, e
áreas abertas.
• Após a inoculação, o veneno começa a se disseminar em cerca de 30 segundos e após 1 minuto e 30 segundos
ele já se disseminou.
AÇÕES DO VENENO
• Ação coagulante
o Propriedade de transformar o fibrinogênio diretamente em fibrina.
§ “Ação coagulante do tipo trombina”.
o Capacidade de ativar o fator X e a protrombina da
cascata de coagulação.
o Não é neutralizado pela heparina.
o Distúrbios da coagulação, caracterizados por
consumo dos seus fatores, geração de produtos de
degradação de fibrina e fibrinogênio, podendo
ocasionar incoagulabilidade sanguínea.
§ Quadro semelhante a coagulação
intravascular disseminada (CIVD).
§ Contribui para insuficiência renal aguda (IRA).
o Os venenos botrópicos podem também levar a
alterações da função plaquetária bem como
plaquetopenia.
• Ação necrosante/proteolítica
o Ação citotóxica direta nos tecidos por frações proteolíticas do veneno.
o Pode haver liponecrose, mionecrose e lise das paredes vasculares.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
O ACIDENTE
• Evitar torniquete (aumenta a ação do veneno no local), sucção, incisão e substâncias sobre o local da picada.
• Quanto mais rápido chegar ao hospital para realizar o diagnóstico e administrar o soro, maior a chance de
salvar a pessoa.
QUADRO CLÍNICO
SINTOMAS LOCAIS
• Após 30 minutos da picada → reação inflamatória = dor, edema, eritema e calor local.
o A dor é imediata, de intensidade variável, podendo ser o único sintoma.
o O edema indurado, acompanhado de calor e rubor,
pode estar ausente no início, mas se instala nas
primeiras seis horas.
• Existe relação direta entre os sintomas locais e a quantidade
de veneno inoculado.
• Bolhas, equimoses e necroses geralmente se instalam depois
de 12 horas do acidente.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS
• Hemorragias à distância: gengivorragias, epistaxes, hematêmese e hematúria.
• Náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial e, mais raramente, choque.
• Acidente leve
o Forma mais comum do envenenamento.
o Caracterizada por dor e edema local pouco intenso ou ausente.
o Manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do tempo de coagulação
(TC).
o Os acidentes causados por filhotes de Bothrops (< 40 cm de comprimento) podem apresentar como
único elemento de diagnóstico alteração do TC.
• Acidente moderado
o Caracterizado por dor e edema evidente que
ultrapassa o segmento anatômico picado.
o Acompanhado ou não de alterações
hemorrágicas locais ou sistêmicas como
gengivorragia, epistaxe e hematúria.
• Acidente grave
o Caracterizado por edema local endurado
intenso e extenso, podendo atingir todo o
membro picado. Soro antibotrópico
6 ampolas
o Geralmente acompanhado de dor intensa.
o Presença de bolhas. Soro antibotrópico
3 ampolas
Soro antibotrópico
12 ampolas
o Em decorrência do edema, podem aparecer
sinais de isquemia local devido à compressão dos feixes vásculo-nervosos.
o Manifestações sistêmicas como hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas
definem o caso como grave, independentemente do quadro local.
COMPLICAÇÕES
COMPLICAÇÕES LOCAIS
• Síndrome compartimental
o Rara, caracteriza casos graves, e de difícil manejo.
o Decorre da compressão do feixe vásculo-nervoso consequente ao grande edema que se desenvolve
no membro atingido, produzindo isquemia de extremidades.
o As manifestações mais importantes são a dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do
segmento distal, cianose e déficit motor.
o Avaliar o pulso do segmento afetado para descartar essa síndrome.
• Abcesso
o A ação proteolítica do veneno botrópico favorece o aparecimento de infecções locais.
o Os germes patogênicos podem provir da boca do animal, da pele do acidentado ou do uso de
contaminantes sobre o ferimento.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
o As bactérias isoladas desses abscessos são bacilos gram-negativos, anaeróbios e, mais raramente,
cocos gram-positivos.
• Necrose
o Ação proteolítica do veneno + isquemia local + infecção + trombose arterial + síndrome de
compartimento + uso indevido de torniquetes.
o O risco é maior em extremidades (ex.: dedos) podendo evoluir para gangrena.
COMPLICAÇÕES SISTÊMICAS
• Choque
o É raro e aparece nos casos graves.
o Sua patogênese é multifatorial, podendo decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do
sequestro de líquido na área do edema e de perdas por hemorragias.
• IRA
o Também é de patogênese multifatorial.
o Pode decorrer da ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de
microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque.
DIAGNÓSTICO E EXAMES
DIAGNÓSTICO
• Identificação da serpente.
• Clínica dos sintomas.
• Solicitação de exames complementares.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eritrograma e leucograma
o Neutrofilia com desvio a esquerda.
o Hemossedimentação diminuída antes e aumentada depois do tratamento.
• Plaquetograma
o Pode haver ou não plaquetopenia.
o Agregação plaquetária comprometida.
o Fatores de coagulação diminuídos.
• Tempo de coagulação
o TC alterado.
§ É para o TC normalizar em até 12 horas, caso contrário administrar soro novamente.
o Tempo de protrombina (via extrínseca) e de tromboplastina parcialmente ativados (via intrínseca)
estão alterados.
• Exame de urina tipo I
o Proteinúria.
o Glicosúria.
o Leuconúria.
o Hematúria.
• Avaliação de eletrólitos
o Sódio, potássio e cálcio.
o A calemia pode estar normal ou aumentada nos casos de insuficiência renal aguda.
• Creatinina quinase e aspartato aminotransferase
o Os níveis séricos de creatina quinase (CK) e aspartato aminotransferase (AST) podem sofrer discretos
aumentos, decorrentes de lesões musculares causadas pelos venenos.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
TRATAMENTO
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• Administração, o mais precocemente possível, do soro antibotrópico (SAB) por via intravenosa e, na falta
deste, das associações antibotrópico-crotálica (SABC) ou antibotrópico-laquética (SABL).
o Acidente leve (2 horas após o acidente) → 3 ampolas.
o Acidente moderado (2-6 horas após o acidente) → 6 ampolas.
o Acidente grave (> 6 horas após o acidente) → 12 ampolas.
• Se o TC permanecer alterado 24 horas após a soroterapia, está indicada dose adicional de duas ampolas de
antiveneno.
3 6 12
TRATAMENTO INESPECÍFICO
• Internar o paciente e nunca dar alta antes de 24 horas de soroterapia.
• Garantir um bom acesso venoso.
• Elevar (45º) e estender o membro acidentado.
• Não garrotear, não fazer cortes e nem sugar o local da picada.
• Limpeza do local com antisséptico.
• Não romper as bolhas.
• Aferir a pressão.
• Controle do volume urinário.
• Analgesia para o alívio dar dor.
• Usar sintomáticos (antieméticos e outros, se necessário).
• Não há indicação do uso de anti-inflamatórios.
• Realizar profilaxia do tétano.
• A antibioticoterapia deverá ser indicada quando houver evidência de infecção.
o Infeccão secundária → Sulfametoxazol + Trimetoprim (Bactrim F).
§ Um comprimido a cada 12 horas, VO.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
PROGNÓSTICO
• Geralmente é bom.
• A letalidade nos casos tratados é baixa (0,3%).
• Há possibilidade de ocorrer sequelas locais anatômicas ou funcionais.
OBSERVAÇÕES
• A jiboia-verde (do tipo periquitamboia) pode ser confundida com a jararaca.
• Ambas possuem a cabeça com formato triangular.
• A cauda da jiboia se enrola que nem a do macaco (cauda prensil).
• A jiboia possui fosseta labial (ao redor dos lábios).
o Não tem fosseta loreal e nem escama supraocular.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Acidentes Crotálicos
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Família Viparidae; gênero Crotalus.
• Nomes populares: cascavel, boicininga ou maracamboia.
• As serpentes do gênero Crotalus possuem veneno com ações miotóxica, neurotóxica, coagulante e
hepatotóxica.
AÇÕES DO VENENO
• Ação miotóxica
o Fosfolipase A₂ + crotapotina = crotoxina.
§ 4 a 6 horas depois da inoculação da crotoxina: alterações anatomopatológicas e lesões
subsarcolêmicas com edema intramitocondrial.
§ Após 24 a 48 horas: as mitocôndrias apresentam depósitos densos, com elevada
concentração de cálcio
o Produz lesões de fibras musculares esqueléticas (rabdomiólise) com liberação de enzimas e
mioglobina para o soro e que são posteriormente excretadas pela urina.
§ A rabdomiólise eleva os níveis séricos de creatina quinase, DHL e aspartato aminotransferase.
o Além da crotoxina, há também a crotamina.
§ É capaz de induzir a despolarização do potencial de membrana das células musculares.
• Ação neurotóxica
o Efeitos tanto no SNC quanto no SNP.
o Ação produzida principalmente pela crotoxina.
§ Ação pré-sináptica que atua nas terminações nervosas inibindo a liberação de acetilcolina
o Esta inibição é o principal fator responsável pelo bloqueio neuromuscular do qual decorrem as
paralisias motoras apresentadas pelos pacientes.
§ Parada respiratória devido a paralisia do músculo diafragma!!!
• Ação coagulante
o Decorre da atividade do tipo trombina que converte o fibrinogênio diretamente em fibrina.
o O consumo do fibrinogênio pode levar à incoagulabilidade sanguínea.
o Geralmente não há redução do número de plaquetas.
o As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Ação nefrotóxica
o Além de agir indiretamente sobre os rins, o veneno apresenta uma possível ação direta na produção
das lesões.
o A ação indireta sobre as células renais é causada pela mioglobinúria, decorrente da rabdomiólise.
o Rabdomiólise + insuficiência renal aguda.
o Obstrução tubular por cilindros de mioglobina e lesão tóxica direta dos túbulos pelo miopigmento.
o Outros fatores, como desidratação, hipotensão arterial, acidose metabólica e choque, podem estar
associados à rabdomiólise e contribuem para a instalação da lesão renal.
• Ação hepatotóxica
o Necrose hepática.
o Aumento da retenção de bromossulfaleína (BSP).
o Aumento dos níveis séricos de aspartato (AST) e alanina (ALT) aminotransferase.
o Lesões mitocondriais por edema, desaparecimento completo das cristas, rarefação da matriz e, em
alguns casos, perda do conteúdo mitocondrial.
§ Lesões irreversíveis.
QUADRO CLÍNICO
MANIFESTAÇÕES LOCAIS
• O paciente chega horas depois da picada e pode não apresentar sintomas.
• A dor pode estar ausente (ação analgésica do veneno), mas quando positiva geralmente se concentra apenas
no lugar da mordida.
• A hemorragia é rara.
• Há parestesia local ou regional, que pode persistir por tempo variável, podendo ser acompanhada de edema
discreto ou eritema no ponto da mordida.
MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS
• Gerais
o Mal-estar, prostração, sudorese, náuseas, vômitos, sonolência ou inquietação e secura da boca.
• Neurológicos
o Decorrem da ação neurotóxica do veneno.
o Surgem nas primeiras horas após a mordida.
o Fácies miastênica (fácies neurotóxica de Rosenfeld).
§ Comprometimento dos II, III, IV e VI pares cranianos.
§ Borramento de papila e ingurgitamento venoso bilateral na
fundoscopia.
§ Ptose palpebral uni ou bilateral, diplopia, plegia de músculos da
pálpebra, midríase bilateral semiparalítica e diminuição de reflexos
fotomotores.
§ Nistagmo, plegia dos movimentos do olhar conjugado, tontura,
alterações da gustação e hiposmia e/ou anosmia.
• Musculares
o Dores musculares generalizadas (mialgias) que podem aparecer
precocemente.
o A fibra muscular esquelética lesada libera quantidades variáveis de mioglobina que é excretada pela
urina (mioglobinúria), conferindo-lhe uma cor avermelhada ou de tonalidade mais escura, até o
marrom.
§ NÃO É HEMATÚRIA!!!
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
COMPLICAÇÕES
• Locais: raros pacientes evoluem com parestesias locais duradouras, porém reversíveis após algumas semanas.
• Sistêmicas: IRA com necrose tubular geralmente de instalação nas primeiras 48 horas.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
DIAGNÓSTICO E EXAMES
DIAGNÓSTICO
• Exame + reconhecimento do gênero da serpente.
• Quando o doente desconhece o animal agressor, lança-se mão do quadro clínico, pois este é de instalação
precoce, facilitando o diagnóstico.
• A diferenciação mais importante é com o acidente elapídico.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Hemograma
o Aumento do hematócrito e do número total de leucócitos às custas de segmentados, com desvio para
a esquerda escalonado.
o Velocidade de hemossidementação diminuída antes do tratamento e aumentada posteriormente.
o As plaquetas podem estar normais ou diminuídas, mas a agregação está comprometida.
o Fatores de coagulação diminuídos e os tempos de protrombina (via extrínseca) e de tromboplastina
parcialmente ativados (via intrínseca) estão aumentados.
§ É para o TC normalizar em até 12 horas, caso contrário administrar soro novamente.
• Exame de urina tipo I
o Proteinúria.
o Glicosúria.
o Presença de pigmento heme (mioglobina).
§ Decorrente da rabdomiólise.
§ Dá a coloração vermelha e/ou marrom à urina.
• Avaliação dos eletrólitos
o Sódio
§ A hiponatremia acompanha os estados de desidratação inicial, quando, em geral, o doente
chega ao hospital.
o Potássio
§ A calemia pode estar normal ou aumentada nos casos de insuficiência renal aguda.
o Cálcio
§ A calcemia está diminuída quando o acidente é grave e acompanhado de intensas alterações
musculares.
• Creatinina quinase, aspartato aminotransferase, DHL e alanino aminotransferase
o Aumento dos níveis séricos de creatina quinase (CK) nas 4-8 horas após o acidente.
o Aspartato aminotransferse elevada nas primeiras 24 horas.
o Aumento da DHL depois de 48 a 72 horas.
o A alanino aminotransferase sobe, em geral, 24 a 48 horas após o acidente e denota agressão hepática.
• Função renal
o Alterações da ureia e creatinina, em geral, a partir do segundo dia após o início do tratamento.
• Avaliação do líquor
o Na maioria dos doentes, é normal.
o Em alguns deles, pode ser observado hiperproteinorraquia, com glicorraquia e celularidade normais.
• Eletroencefalograma
o Lentificação e desorganização em regiões temporais de intensidade variável.
• Tomografia axial computadorizada
o Em alguns casos, edema cerebral discreto em regiões talâmicas e hipotalâmicas.
o Aspecto de compressão do terceiro ventrículo e dos ventrículos laterais.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
QUADRO CLÍNICO
TRATAMENTO ESPECIFÍCO
• Administração endovenosa de soro anticrotálico (SAC) ou soro antibotrópico-crotálico (SABC).
o Acidente leve → 5 ampolas.
o Acidente moderado → 10 ampolas.
o Acidente grave → 20 ampolas.
• A dose varia de acordo com a gravidade do caso, devendo-se ressaltar que a quantidade a ser ministrada à
criança é a mesma do adulto.
TRATAMENTO INESPECIFÍCO
• Internar o paciente e nunca dar alta antes de 24 horas de soroterapia.
• Garantir um bom acesso venoso.
• Limpeza do local com antisséptico.
• Verificar a pressão arterial.
• Controlar o volume urinário.
• Usar sintomáticos (antieméticos e outros, se necessário).
• Realizar profilaxia do tétano.
• Hidratação adequada para prevenir a IRA e controlar o fluxo urinário.
o Na criança: 1-2 mL/kg/hora.
o No adulto: 30-40 mL/hora.
• O pH urinário deve ser mantido acima de 6,5.
o Administrar bicarbonato de sódio e monitorar por gasometria.
• Uso de diuréticos:
o Manitol a 20% → 5 mL/kg, na criança, e 100 mL no adulto;
o Caso persista a oligúria, administrar furosemida → 1 mg/kg/dose, na criança, e 40 mg/dose, no adulto.
• Diálise peritoneal quando as medidas acima não houver resposta.
• Manter um profissional de saúde ao lado do paciente, durante a administração da soroterapia, para detectar
reações de hipersensibilidade e prestar atendimento imediato, se necessário.
• Pré-medicação realizada 20 minutos antes da soroterapia (minimizar os efeitos de hipersensibilidade):
o Prometazina (Fenergan) → dose 0,5 mg/kg, no máximo 25 mg, IM;
o Cimetidina (Tagamet) → dose 10 mg/kg, máximo 300 mg (1 ampola), IV;
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
PROGNÓSTICO E IMAGENS
PROGNÓSTICO
• É bom nos acidentes leves e moderados e nos pacientes atendidos nas primeiras seis horas após a picada,
onde se observa a regressão total de sintomas e sinais após alguns dias.
• Nos acidentes graves, o prognóstico está vinculado à existência de IRA.
• É mais reservado quando há necrose tubular aguda de natureza hipercatabólica pois a evolução do quadro
está relacionada com a possibilidade de instalação de processo dialítico eficiente, em tempo hábil.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Acidentes Laquéticos
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Família Viparidae; gênero Lachesis.
• Nomes populares: surucucu, surucucu-pico-de-jaca ou surucutinga.
AÇÕES DO VENENO
• Ação proteolítica, coagulante e hemorrágica
o Semelhante a ação do veneno botrópico.
• Ação neurotóxica
o Capaz de ocasionar síndrome de excitação vagal, que se manifesta por bradicardia, diarreia,
hipotensão arterial e choque.
QUADRO CLÍNICO
MANIFESTAÇÕES LOCAIS
• São semelhantes às descritas no acidente botrópico, predominando a dor e edema, que podem progredir para
todo o membro.
• Podem surgir vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou
sero-hemorrágico nas primeiras horas após o acidente.
• As manifestações hemorrágicas limitam-se ao local da
picada na maioria dos casos.
MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS
• São relatados hipotensão arterial, tonturas,
escurecimento da visão, bradicardia, cólicas abdominais
e diarréia (síndrome vagal).
• O tempo de coagulação pode alterar-se, contribuindo
para as hemorragias sistêmicas muitas vezes observadas.
• Os acidentes laquéticos são classificados como
moderados e graves.
• Por serem serpentes de grande porte, considera-se que
a quantidade de veneno por elas injetada é
potencialmente muito grande.
• A gravidade é avaliada segundo os sinais locais e pela intensidade das manifestações sistêmicas.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
COMPLICAÇÕES
• As complicações locais descritas no acidente botrópico (síndrome compartimental, necrose, infecção
secundária, abscesso, déficit funcional) também podem estar presentes no acidente laquético.
DIAGNÓSTICO E EXAMES
DIAGNÓSTICO
• Identificação da serpente.
• Clínica dos sintomas.
• Solicitação de exames complementares.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Eritrograma e leucograma
o Neutrofilia com desvio a esquerda.
o Hemossedimentação diminuída antes e aumentada depois do tratamento.
• Plaquetograma
o Pode haver ou não plaquetopenia.
o Agregação plaquetária comprometida.
o Fatores de coagulação diminuídos.
• Tempo de coagulação
o TC alterado.
§ É para o TC normalizar em até 12 horas, caso contrário administrar soro novamente.
o Tempo de protrombina (via extrínseca) e de tromboplastina parcialmente ativados (via intrínseca)
estão alterados.
• Exame de urina tipo I
o Proteinúria.
o Glicosúria.
o Leuconúria.
o Hematúria.
• Avaliação de eletrólitos
o Sódio, potássio e cálcio.
o A calemia pode estar normal ou aumentada nos casos de insuficiência renal aguda.
• Creatinina quinase e aspartato aminotransferase
o Os níveis séricos de creatina quinase (CK) e aspartato aminotransferase (AST) podem sofrer discretos
aumentos, decorrentes de lesões musculares causadas pelos venenos.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• As manifestações da “síndrome vagal” é a principal forma de distinguir o acidente botrópico do laquético.
TRATAMENTO
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• Essas serpentes inoculam grande quantidade de veneno; por isso, preconiza-se o uso de 10 a 20 ampolas de
soro antilaquético (SAL) ou antibotrópico-laquético (SABL), pela via endovenosa.
o Acidente moderado → 10 ampolas.
o Acidente grave → 20 ampolas.
232
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
• Nos casos de acidente laquético comprovado e na falta dos soros específicos, o tratamento deve ser realizado
com soro antibotrópico, apesar deste não neutralizar de maneira eficaz a ação coagulante do veneno
laquético.
TRATAMENTO INESPECÍFICO
• Internar o paciente e nunca dar alta antes de 24 horas de soroterapia.
• Garantir um bom acesso venoso.
• Elevar (45º) e estender o membro acidentado.
• Não garrotear, não fazer cortes e nem sugar o local da picada.
• Limpeza do local com antisséptico.
• Não romper as bolhas.
• Aferir a pressão.
• Controle do volume urinário.
• Analgesia para o alívio dar dor.
• Usar sintomáticos (antieméticos e outros, se necessário).
• Não há indicação do uso de antiinflamatórios.
• Realizar profilaxia do tétano.
• A antibioticoterapia deverá ser indicada quando houver evidência de infecção.
o Infeccão secundária → Sulfametoxazol + Trimetoprim (Bactrim F).
§ Um comprimido a cada 12 horas, VO.
o Infecção por germes aneróbios → Clindamicina (Dalacin C) e/ou Cloranfenicol (Quemicetina).
§ Clindamicina: 20 a 30 mg/kg por dia, VO.
§ Cloranfenicol: 50 a 100 mg/kg por dia, VO.
o Falha terapêutica → cefalosporinas e/ou aminoglicosídeos.
§ Cefalexina (Keflex): 40 a 50 mg/kg por dia, VO.
o As bactérias isoladas de material proveniente de lesões são principalmente Morganella morganii,
Escherichia coli, Providentia sp e Streptococcus do grupo D, geralmente sensíveis ao Cloranfenicol.
• Hidratação adequada para prevenir a IRA e controlar o fluxo urinário.
o Na criança: 1-2 mL/kg/hora.
o No adulto: 30-40 mL/hora.
• Manter um profissional de saúde ao lado do paciente, durante a administração da soroterapia, para detectar
reações de hipersensibilidade e prestar atendimento imediato, se necessário.
• Pré-medicação realizada 20 minutos antes da soroterapia (minimizar os efeitos de hipersensibilidade):
o Prometazina (Fenergan) → dose 0,5 mg/kg, no máximo 25 mg, IM;
o Cimetidina (Tagamet) → dose 10 mg/kg, máximo 300 mg (1 ampola), IV;
§ Ou Ranitidina (Antak) → dose 3 mg/kg, máximo 100 mg (1 ampola), IV.
o Hidrocortisona (Solu-Cortef) → dose 10 mg/kg, no máximo 1 g, IV.
233
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Acidentes Elapídicos
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Família Elapidae; gênero Micrurus.
• Nomes populares: corais-verdadeiras, cobras-corais, boicorá,
ibiboboca ou ibiboca.
234
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
QUADRO CLÍNICO
SINTOMAS LOCAIS
• Há discreta dor local, geralmente acompanhada de parestesia com
tendência a progressão proximal.
• Geralmente não há edema, mas quando há é devido à entrada de
substância exógena (veneno) e de bactérias da dentição da cobra.
MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS
• Inicialmente, o paciente pode apresentar vômitos.
• Posteriormente, pode surgir um quadro de fraqueza muscular
progressiva, ocorrendo ptose palpebral, oftalmoplegia e a presença
de fácies miastênica ou neurotóxica.
• Associadas a estas manifestações, podem surgir dificuldades para
manutenção da posição ereta, mialgia localizada ou generalizada e
dificuldade para deglutir em virtude da paralisia do véu palatino.
• A paralisia flácida da musculatura respiratória compromete a
ventilação, podendo haver evolução para insuficiência respiratória
aguda e apnéia.
DIAGNÓSTICO E EXAMES
DIAGNÓSTICO
• Apenas pela clínica dos sintomas e identificação do gênero da serpente.
EXAMES
• Não há exames específicos para o diagnóstico.
TRATAMENTO
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• O soro antielapídico (SAE) deve ser administrado na dose de 10 ampolas, pela via intravenosa.
• Todos os casos de acidente por coral com manifestações clínicas devem ser considerados como
potencialmente graves.
235
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
TRATAMENTO INESPECÍFICO
• Internar o paciente de preferência na UTI e nunca dar alta antes de 24 horas de soroterapia.
• Garantir um bom acesso venoso.
• Limpeza local com antisséptico.
• Verificar a pressão arterial.
• Usar sintomático (antieméticos e outros, se necessário).
• Realizar prevenção contra o tétano.
• Nos casos com manifestações clínicas de insuficiência respiratória, é fundamental manter o paciente
adequadamente ventilado, seja por máscara e AMBU, intubação traqueal e AMBU ou até mesmo por
ventilação mecânica.
• Manter um profissional de saúde ao lado do paciente, durante a administração da soroterapia, para detectar
reações de hipersensibilidade e prestar atendimento imediato, se necessário.
• Pré-medicação realizada 20 minutos antes da soroterapia (minimizar os efeitos de hipersensibilidade):
o Prometazina (Fenergan) → dose 0,5 mg/kg, no máximo 25 mg, IM;
o Cimetidina (Tagamet) → dose 10 mg/kg, máximo 300 mg (1 ampola), IV;
§ Ou Ranitidina (Antak) → dose 3 mg/kg, máximo 100 mg (1 ampola), IV.
o Hidrocortisona (Solu-Cortef) → dose 10 mg/kg, no máximo 1 g, IV.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
238
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
INTRODUÇÃO
• Dentição áglifa
o a = ausência, gliphé = sulco.
o Dentes pequenos, todos iguais, e sem a presença de presas inoculadoras.
• Dentição opistóglifa
o ophistos = atrás, gliphé = sulco.
o Dois ou mais dentes posteriores, com um sulco anterior ou lateral por onde sai o veneno.
o A posição das presas dificulta a inoculação.
• As serpentes consideradas “não peçonhentas” pertencem a duas famílias: Boídeos e Colubrídeos.
BOÍDEOS
• Não possuem veneno e alimentam-se matando a presa por constrição.
• As principais espécies são a jiboia (Boa constrictor), a sucuri (Eunectus murinus) e a cobra-papagaio (Corallus
caninus).
• Essas serpentes possuem dentição do tipo áglifa e sua mordida deixa múltiplos sinais com trajeto em arco.
INTRODUÇÃO
• A maioria dos acidentes por Colubrídeos são destituídos de importância por causarem apenas ferimentos
superficiais da pele, não havendo inoculação de peçonha.
• Os Colubrídeos de importância médica pertencem aos gêneros Philodryas (cobra-verde, cobra-cipó) e Cleia
(muçurana, cobra-preta), havendo referência de acidente com manifestações locais também por
Erythrolamprus aesculapii.
• A posição posterior das presas inoculadoras (dentição opistóglifa) desses animais pode explicar a raridade de
acidentes com alterações clínicas.
AÇÕES DO VENENO
• A maioria dos acidentes por Colubrídeos são destituídos de importância por causarem apenas ferimentos
superficiais da pele, não havendo inoculação de peçonha.
• Muito pouco se conhece das ações dos venenos dos Colubrídeos.
• Ao que se conhece, o veneno dessas serpentes possui atividades hemorrágica, proteolítica e fibrinogenolítica,
podendo ocasionar edema local importante, equimose e dor.
QUADRO CLÍNICO
• Acidentes por Philodryas olfersii e Clelia clelia plumbea podem ocasionar edema local importante, equimose
e dor, semelhantes aos observados nos acidentes botrópicos, porém sem alteração da coagulação.
EXAMES COMPLEMENTARES
• A determinação do TC pode ser útil no diagnóstico diferencial com os envenenamentos botrópicos e
laquéticos, uma vez que este parâmetro não deve se mostrar alterado nos acidentes por colubrídeos.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
TRATAMENTO
• O tratamento nos casos de acidentes por P. olfersii é sintomático.
• Tem sido relatada experimentalmente a neutralização da ação hemorrágica do veneno de Philodryas pelo soro
antibotrópico.
o Este fato sugere a presença de antígenos comuns aos venenos dessas serpentes e algumas espécies
de Bothrops.
Cobra-verde/cobra-cipó Jiboia
240
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Escorpionismo
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Apesar da evolução benigna da grande maioria dos acidentes, a precocidade no início dos sintomas e o
potencial de gravidade em crianças tornam o agravo de especial importância.
EPIDEMIOLOGIA
• Os principais agentes de importância médica são: T. serrulatus, responsável por acidentes de maior gravidade,
T. bahiensis e T. stigmurus.
• As picadas atingem predominantemente os membros superiores, acometendo principalmente mão e
antebraço.
• Os óbitos têm sido associados, com maior frequência, a acidentes causados por T. serrulatus, ocorrendo mais
comumente em crianças menores de 14 anos.
o Em adultos, a maioria dos casos tem curso benigno.
241
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Escorpionismo.
Tityus cambridgei
PATOGENIA DO VENENO
• O veneno escorpiônico constitui-se em uma mistura complexa de proteínas básicas de baixo peso molecular,
com atividade sobre canais iônicos.
• Sua ação sobre canais de sódio voltagem-dependente leva à despolarização de membranas de músculos e
nervos (sensitivos, motores e do sistema nervoso autônomo).
• A liberação maciça de neurotransmissores (adrenalina e acetilcolina) determina o quadro clínico sistêmico
(principalmente em quadros graves por T. serrulatus), dependente da predominância dos efeitos adrenérgicos
e/ou colinérgicos.
• A gravidade dos acidentes, associada a miocardiopatia e edema agudo pulmonar, tem sido atribuída a, pelo
menos, três mecanismos:
o Hiperestimulação simpática causada por efeitos tóxicos diretos sobre a musculatura cardíaca ou por
alterações hemodinâmicas;
242
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Escorpionismo.
ALTERAÇÕES LOCAIS
• A dor no local da picada está presente na quase totalidade dos casos, com intensidade variável, podendo ser
referida como sensação de ardor, queimação ou agulhada.
• Frequentemente, há irradiação para a raiz do membro acometido, podendo este quadro permanecer por
horas após o acidente.
• Outras manifestações locais podem estar presentes, como hiperestesia, parestesia, hiperemia, edema,
sudorese e piloereção.
ALTERAÇÕES SISTÊMICAS
• O quadro sistêmico decorrente de distúrbios autonômicos, mais comum em
crianças picadas por T. serrulatus, ocorre após intervalo de minutos até as
primeiras horas após o acidente.
• Gerais: mal-estar, sudorese, alteração de temperatura corporal.
• Gastrointestinais: náuseas e vômitos, dor abdominal, que pode ser
acompanhada de distensão, cólicas, diarreia, e alterações pancreáticas,
podendo evoluir para pancreatite aguda.
• Cardiovasculares: hipertensão ou hipotensão arterial, arritmias cardíacas,
insuficiência cardíaca congestiva, taquicardia ou bradicardia e choque.
• Respiratórias: taquipneia, dispneia, edema agudo de pulmão.
• Neurológicas: agitação psicomotora, sonolência, tremores, confusão
mental, contrações musculares, convulsões, hemiplegia, priapismo,
lacrimejamento e sialorreia.
o T. paraensis pode causar com mioclonias, dismetria, disartria e ataxia de marcha.
CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE
• A gravidade depende de fatores, como a espécie
e tamanho do escorpião, a quantidade de
veneno inoculado, a massa corporal do
acidentado e a sensibilidade do paciente ao
veneno.
• Influem na evolução o diagnóstico precoce, o
tempo decorrido entre a picada e a administração
do soro e a manutenção das funções vitais.
• Leves: apresentam apenas dor no local da picada
e, às vezes, parestesias.
• Moderados: caracterizam-se por dor intensa no
local da picada e manifestações sistêmicas do tipo
sudorese discreta, náuseas, vômitos ocasionais,
taquicardia, taquipnéia e hipertensão leve.
• Graves: além dos sinais e sintomas já
mencionados, apresentam uma ou mais
manifestações como sudorese profusa, vômitos incoercíveis, salivação excessiva, alternância de agitação com
prostração, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema pulmonar, choque, convulsões e coma.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Hemograma: leucocitose com neutrofilia.
• Bioquímica: hiperglicemia, hiperamilasemia, acidose metabólica, elevação de CK-MB e troponina I.
243
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Escorpionismo.
FATORES PROGNÓSTICOS
• Tipo de escorpião: acidentes por T. serrulatus são mais graves.
• Tempo decorrido entre o acidente e o atendimento.
• Superfície corpórea do paciente.
• Idade: acidentes em crianças/idosos tendem a apresentar mais gravidade do que em adultos.
TRATAMENTO SINTOMÁTICO
• Consiste no alívio da dor.
• Infiltração de lidocaína a 2% sem adrenalina → 1-2 mL para crianças e 3-4 mL para adultos no local da picada.
o Repetir até três vezes, com intervalo de 90 minutos.
• Uso de dipirona na dose de 10 mg/kg de peso a cada seis horas.
• Os distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos devem ser tratados de acordo com as medidas apropriadas a
cada caso.
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• Consiste na administração de soro antiescorpiônico (SAEEs) ou antiaracnídico (SAAr) aos pacientes com
formas moderadas e graves.
o Moderado → 2-4 ampolas.
o Grave → 4-8 ampolas.
• Deve ser realizada, o mais precocemente possível, por via intravenosa e em dose adequada, de acordo com a
gravidade estimada do acidente.
o A administração IV ser feita com ou sem diluição em solução fisiológica ou glicosada, com cautela para
não promover sobrecarga hídrica.
2-4 ampolas*
4-8 ampolas*
244
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Escorpionismo.
OUTROS ESCORPIÕES...
• Tityus stigmurus → escorpião-do-nordeste
o Tronco amarelo-escuro, apresentando um triângulo negro no cefalotórax, uma faixa escura
longitudinal mediana e manchas laterais escuras nos tergitos.
o Comprimento de 6-7 cm.
• Tityus metuendus
o Tronco vermelho-escuro, quase negro com manchas confluentes amarelo-avermelhadas.
o Patas com manchas amareladas.
o Cauda da mesma cor do tronco apresentando um espessamento dos últimos dois artículos.
o Comprimento de 6-7 cm.
245
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Introdução ao Araneísmo
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• No Brasil, existem três gêneros de aranhas de importância médica: Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus.
• Os acidentes causados por Lycosa (aranha-de-grama), bastante frequentes e pelas caranguejeiras, muito
temidas, são destituídos de maior importância.
PHONEUTRIA
• Nomes populares: aranha-armadeira ou aranha-da-banana.
• Coberto por pequenos pelos acinzentados ou marrons.
• O corpo chega a 3-4 cm de comprimento, e a largura entre as patas pode
atingir até 15 cm.
• A fêmea costuma ser mais agressiva e, quando ameaçada, assume posição característica de “defesa armada”.
• Animal errático, não constrói teia e vive próximo aos domicílios, onde encontra proteção e alimento (baratas,
grilos, outros insetos, aranhas).
• Tem hábitos noturnos, sendo encontrado em cachos de banana, palmeiras, debaixo de troncos caídos, pilhas
de madeira e entulho.
LOXOSCELES
• Nome popular: aranha-marrom, devido a sua coloração característica.
• Dimensões reduzidas → 1 cm de corpo e 3 cm de distância entre as patas.
• Hábitos noturnos e sedentários.
• Constrói teia irregular e algodonosa.
• Não é considerada agressiva.
• Na natureza, vive sob cascas desprendidas de troncos, entre raízes e folhagens caídas e em outros ambientes
sombreados.
• Adaptada ao ambiente humano, refugia-se sob telhas, tijolos, madeiras e no interior de domicílios, sendo
encontrada em porões, atrás de móveis e em cantos escuros.
o É encontrada no interior dos domicílios e comumente se refugia dentro de vestuário ou roupas de
cama, provocando, respectivamente, acidentes relacionados ao ato de vestir ou no leito.
LATRODECTUS
• Nomes populares: viúva-negra ou flamenguinha.
• Caracteriza-se pelo abdome globoso, de coloração negra, com manchas vermelhas/alaranjadas.
• A fêmea adulta atinge de 8 a 13 mm de corpo e 3 cm de envergadura de pernas.
o O macho tem apenas cerca de 3 mm e não causa acidentes.
• É sedentária e constrói teia irregular, não sendo considerada agressiva.
246
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
CARANGUEJEIRAS
• Apresentam uma grande variedade de colorido e de tamanho.
• Variam desde alguns milímetros até 20 cm de envergadura de pernas.
• Algumas são muito pilosas.
• Os acidentes são destituídos de importância médica, sendo conhecida a irritação ocasionada na pele e
mucosas por causa dos pêlos urticantes que algumas espécies liberam como forma de defesa.
GUIA ILUSTRADO
Phoneutria
Loxosceles Latrodectus
Caranguejeiras
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
248
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Foneutrismo
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• As aranhas do gênero Phoneutria são popularmente conhecidas como aranhas-
armadeiras.
• Embora provoquem acidentes com frequência, estes raramente levam a um quadro
grave.
• Os acidentes ocorrem em áreas urbanas, no intra e peridomicílio, atingindo
principalmente os adultos de ambos os sexos.
• As picadas ocorrem preferencialmente em mãos e pés.
AÇÕES DO VENENO
• Atua sobre os canais de sódio, levando à despolarização de fibras musculares esqueléticas e de terminações
nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo.
• Essas observações justificam os sintomas de dor no local da picada, além das raras manifestações sistêmicas
decorrentes da liberação de neurotransmissores, principalmente catecolaminas e acetilcolina.
• A phoneutriatoxina 2 (PhTx2) é considerada a principal fração tóxica do veneno de P. nigriventer e é
provavelmente responsável pelas alterações observadas nos acidentes.
QUADRO CLÍNICO
• Predominam as manifestações locais, sendo a dor imediata encontrada na quase totalidade dos casos.
• Sua intensidade é variável, podendo se irradiar até a raiz do membro afetado.
• Edema, eritema, sudorese e discreta fasciculação também ocorrem no local da picada.
• Cessada a dor mais intensa, os pacientes referem parestesia na região.
• Manifestações sistêmicas, como sudorese e vômitos, são sinais de maior gravidade.
• Pode haver priapismo, bradicardia, hipotensão arterial, arritmias, convulsões, coma e/ou edema agudo de
pulmão, mais frequentemente observados em crianças.
CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE
• Leves: os pacientes apresentam predominantemente
sintomatologia local. A taquicardia e agitação,
eventualmente presentes, podem ser secundárias à dor.
• Moderados: associadas às manifestações locais,
aparecem alterações sistêmicas, como taquicardia,
hipertensão arterial, sudorese discreta, agitação
psicomotora, visão “turva” e vômitos ocasionais.
• Graves: sudorese profusa, sialorreia, vômitos
frequentes, diarréia, priapismo, hipertonia muscular,
hipotensão arterial, choque e edema pulmonar agudo.
o Raros → praticamente restrito às crianças.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Hemograma, bioquímica, gasometria e ECG.
• Em acidentes graves envolvendo crianças, verificaram-se leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia, acidose
metabólica e taquicardia sinusal.
• É aconselhável a monitorização das condições cardiorrespiratórias nos acidentes graves.
249
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Foneutrismo.
TRATAMENTO SINTOMÁTICO
• Visa ao alívio da dor, sendo, na maioria dos casos, a única medida terapêutica.
• Infiltração de lidocaína a 2% sem adrenalina → 1-2 mL para crianças e 3-4 mL para adultos no local da picada.
o Repetir até três vezes, com intervalo de 90 minutos.
• Caso sejam necessárias mais de duas infiltrações, e desde que não existam sintomas de depressão do sistema
nervoso central, recomenda-se o uso cuidadoso da meperidina (Dolantina).
o Crianças → 1,0 mg/kg IM.
o Adultos → 50-100 mg IM.
• Analgésicos sistêmicos e compressas quentes no local podem ser úteis no tratamento coadjuvante.
o Uso de dipirona na dose de 10 mg/kg de peso a cada seis horas.
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• Consiste na administração de antiaracnídico (SAAr) aos pacientes com formas moderadas, graves e
principalmente em crianças.
o Moderado → 2-4 ampolas.
o Grave → 5-10 ampolas.
TRATAMENTO INESPECÍFICO
• Internar o paciente e nunca dar alta antes de 24 horas de soroterapia.
• Garantir um bom acesso venoso.
• Verificar a pressão arterial.
• Controlar o volume urinário.
• Usar sintomáticos (antieméticos e outros, se necessário).
• Manter um profissional de saúde ao lado do paciente, durante a administração da soroterapia, para detectar
reações de hipersensibilidade e prestar atendimento imediato, se necessário.
• Pré-medicação realizada 20 minutos antes da soroterapia (minimizar os efeitos de hipersensibilidade):
o Prometazina (Fenergan) → dose 0,5 mg/kg, no máximo 25 mg, IM;
o Cimetidina (Tagamet) → dose 10 mg/kg, máximo 300 mg (1 ampola), IV;
§ Ou Ranitidina (Antak) → dose 3 mg/kg, máximo 100 mg (1 ampola), IV.
o Hidrocortisona (Solu-Cortef) → dose 10 mg/kg, no máximo 1 g, IV.
250
MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Loxoscelismo
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Forma mais grave de araneísmo no Brasil.
• O acidente atinge mais comumente adultos, com discreto
predomínio em mulheres, ocorrendo no intradomicílio.
• Nos acidentes com aranha-marrom observa-se uma distribuição
centrípeta das picadas, acometendo coxa, tronco ou braço.
AÇÕES DO VENENO
• Ativação do sistema complemento, células endotelial/epitelial e plaquetas → obstrução de pequenos vasos e
liberação de mediadores inflamatórios → infiltração de polimorfonucleares no local da inoculação do veneno.
• Também induz a expressão de metaloprotenases de matriz, em associação à morte celular por apoptose.
• O veneno contém ainda enzimas hidrolíticas que degradam moléculas constituintes da membrana basal.
• Em decorrência dessas ações, o loxoscelismo pode evoluir com lesão cutâneo-necrótica na região da picada.
• Além disso, atua sobre metaloproteinases endógenas que, uma vez ativadas, agem sobre proteínas da
membrana de hemácias (glicoforinas), tornado-as suscetíveis à ação do complemento, levando a hemólise.
o Atividade esfingomielinase-D.
QUADRO CLÍNICO
• Forma cutânea
o Dor, edema endurado e eritema no local da picada → pouco valorizado pelos pacientes.
o Cerca de 4 a 8 horas após o acidente e ao longo das primeiras 12 a 36 horas surgem áreas de equimose
mescladas com palidez (placa marmórea).
o Lesão incaracterística: bolha de conteúdo seroso, edema, calor e rubor, com ou sem dor em
queimação.
o Lesão sugestiva: enduração, bolha, equimoses e dor em queimação.
o Lesão característica: dor em queimação, lesões hemorrágicas focais, mescladas com áreas pálidas de
isquemia (placa marmórea) e necrose.
§ A lesão cutânea evolui, no decorrer da primeira semana, para necrose seca, onde pode ser
formada úlcera com bordas elevadas.
o Manifestações gerais inespecíficas, como febre, cefaleia,
náuseas, mal-estar e exantema, podem aparecer, com variável
frequência, na fase aguda do envenenamento.
• Forma cutâneo-hemolítica
o Manifestações devido a hemólise intravascular → ocorre nas
primeiras 72 horas após o acidente.
§ Anemia, icterícia e hemoglobinúria.
o Pode haver evolução para insuficiência renal aguda e, com
menor frequência, coagulação intravascular disseminada.
CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE
• Leve: lesão incaracterística sem alterações clínicas ou laboratoriais e com a identificação da aranha causadora
do acidente.
o O paciente deve ser acompanhado durante pelo menos 72 horas, uma vez que mudanças nas
características da lesão ou presença de manifestações sistêmicas exige reclassificação de gravidade.
251
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Loxoscelismo.
• Moderado: lesão sugestiva ou característica, mesmo sem a identificação do agente causal, podendo ou não
haver alterações sistêmicas do tipo rash cutâneo, cefaléia e mal-estar.
• Grave: caracteriza-se pela presença de lesão característica e alterações clínico-laboratoriais de hemólise
intravascular.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Forma cutânea: hemograma com leucocitose e neutrofilia.
• Forma cutâneo-visceral: anemia aguda, plaquetopenia, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, queda dos
níveis séricos de haptoglobina, elevação dos séricos de potássio, creatinina e
uréia e coagulograma alterado.
• Exame anatomopatológico: intensa vasculite no local da picada, obstrução de
pequenos vasos, infiltração de polimorfonucleares e agregação plaquetária com
o desencadeamento de edema, hemorragia e necrose focal.
• Lesão muscular: aumento de CK, DHL e AST.
• Hemólise: lesão de membranas eritrocitárias por ativação do sistema
complemento e provavelmente por ação direta do veneno, não sendo afastada
a interferência de fatores genéticos do paciente (déficit de G6PD).
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• Consiste na administração de soro antiloxoscélico (SALox) e antiaracnídico (SAAr) aos pacientes com formas
moderadas, graves e principalmente em crianças.
o Moderado → 5 ampolas.
o Grave → 10 ampolas.
TERAPIA DE SUPORTE
• Manifestações locais
o Analgésicos, como dipirona (7-10 mg/kg/dose).
o Aplicação de compressas frias auxiliam no alívio da dor local.
o Antisséptico local e limpeza periódica da ferida são fundamentais para que haja uma rápida
cicatrização.
o Uso de corticosteroides (prednisona 1 mg/kg/dia até 40 mg/dia, VO, durante 5 a 7 dias).
252
MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Loxoscelismo.
o Antibiótico sistêmico (visando à cobertura para patógenos de pele), havendo infecção secundária.
o Remoção da escara deverá ser realizada após estar delimitada a área de necrose, que ocorre, em geral,
após uma semana do acidente.
o Compressa de permanganato de potássio 1/40000 (1 comprimido/4 litros de água), por 10 minutos.
o Tratamento cirúrgico pode ser necessário no manejo das úlceras e correção de cicatrizes.
• Manifestações sistêmicas
o Transfusão de sangue ou concentrado de hemácias nos casos de anemia intensa.
o Manter a hidratação adequada.
o Manejo da insuficiência renal aguda.
TRATAMENTO INESPECÍFICO
• Internar o paciente e nunca dar alta antes de 24 horas de soroterapia.
• Garantir um bom acesso venoso.
• Verificar a pressão arterial.
• Controlar o volume urinário.
• Usar sintomáticos (antieméticos e outros, se necessário).
• Manter um profissional de saúde ao lado do paciente, durante a administração da soroterapia, para detectar
reações de hipersensibilidade e prestar atendimento imediato, se necessário.
• Pré-medicação realizada 20 minutos antes da soroterapia (minimizar os efeitos de hipersensibilidade):
o Prometazina (Fenergan) → dose 0,5 mg/kg, no máximo 25 mg, IM;
o Cimetidina (Tagamet) → dose 10 mg/kg, máximo 300 mg (1 ampola), IV;
§ Ou Ranitidina (Antak) → dose 3 mg/kg, máximo 100 mg (1 ampola), IV.
o Hidrocortisona (Solu-Cortef) → dose 10 mg/kg, no máximo 1 g, IV.
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MEDPÉDIA 2019.1
TXXIV – MED I
DOENÇAS TROPICAIS
Latrodectismo
(Levi Almeida)
INTRODUÇÃO
• Os acidentes com víuva-negra têm sido relatados na região Nordeste
(Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe), causados principalmente pela
espécie L. curacaviensis.
• Ocorrem principalmente em pacientes do sexo masculino na faixa etária de
10 a 30 anos.
AÇÕES DO VENENO
• Neurotoxina com atividade pré-sináptica, conhecida como alfa-latrotoxina.
• Ao se ligar a seu receptor pré-sináptico, forma poros na membrana celular, permitindo influxo de cálcio.
• Esse aumento de cálcio intracelular promove a liberação maciça de neurotransmissores adrenérgicos,
colinérgicos e ácido gama-aminobutírico (GABA).
MANIFESTAÇÕES LOCAIS
• Geralmente, o quadro se inicia com dor local, de pequena intensidade, evoluindo para sensação de
queimadura 15 a 60 minutos após a picada.
• Podem haver pápula eritematosa, sudorese localizada e lesões puntiformes, distando de 1-2 mm entre si.
• Na área da picada há referência de hiperestesia e pode ser observada a presença de placa urticariforme
acompanhada de infartamento ganglionar regional.
MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS
• Gerais: tremores, ansiedade, excitabilidade, insônia, cefaléia, prurido, eritema de face e pescoço.
o Há relatos de distúrbios de comportamento e choque nos casos graves.
• Motoras: dor irradiada para os membros inferiores, acompanhada de contraturas musculares periódicas,
movimentação incessante, atitude de flexão no leito, hiperreflexia ósteo-músculo-tendinosa constante.
o É frequente o aparecimento de tremores e contrações espasmódicas dos membros.
o Dor abdominal intensa, acompanhada de rigidez e desaparecimento do reflexo cutâneo-abdominal,
pode simular um quadro de abdome agudo.
o Contratura facial, trismo dos masseteres caracteriza o fácies
latrodectísmica.
• Cardiovasculares: opressão precordial, com sensação de morte iminente,
taquicardia inicial e hipertensão seguidas de bradicardia.
• Digestivas: náuseas e vômitos, sialorréia, anorexia e obstipação.
• Geniturinárias: retenção urinária, dor testicular, priapismo e ejaculação.
• Oculares: ptose e edema bipalpebral, hiperemia conjuntival, midríase.
EXAMES COMPLEMENTARES
• As alterações laboratoriais são inespecíficas → podem persistir até por dez dias.
• Hemograma: leucocitose, linfopenia, eosinopenia.
• Bioquímica: hiperglicemia, hiperfosfatemia.
• Sedimento urinário: albuminúria, hematúria, leucocitúria e cilindrúria.
• ECG: arritmias cardíacas como fibrilação atrial e bloqueios, diminuição de amplitude do QRS e da onda T,
inversão da onda T, alterações do segmento ST e prolongamento do intervalo QT.
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MEDPÉDIA 2019.1 Levi Almeida
Assunto: Latrodectismo.
TRATAMENTO ESPECÍFICO
• Administração de soro antilatrodéctico (SALatr) nos acidentes moderados, graves e em crianças.
o Moderado → 1 ampolas IM.
o Grave → 1-2 ampolas IM.
TRATAMENTO INESPECÍFICO
• Internar o paciente e nunca dar alta antes de 24 horas de soroterapia, garantir um bom acesso venoso,
verificar os sinais vitais e fornecer suporte cardiorrespiratório quando necessário.
• Manter um profissional de saúde ao lado do paciente, durante a administração da soroterapia, para detectar
reações de hipersensibilidade e prestar atendimento imediato, se necessário.
o Prometazina (Fenergan) → dose 0,5 mg/kg, no máximo 25 mg, IM;
o Cimetidina (Tagamet) → dose 10 mg/kg, máximo 300 mg (1 ampola), IV;
§ Ou Ranitidina (Antak) → dose 3 mg/kg, máximo 100 mg (1 ampola), IV.
o Hidrocortisona (Solu-Cortef) → dose 10 mg/kg, no máximo 1 g, IV.
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