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CARROS ELÉTRICOS

Nos últimos anos temos presenciado uma nova escalada de novidades no mercado
automobilístico, lideradas pela oferta cada vez maior de carros 100% elétricos e híbridos. Só
para lembrar, carros híbridos são os que possuem dupla motorização, sendo que a segunda se
aproveita da energia acumulada em freadas para dar apoio às acelerações e aos deslocamentos
em cruzeiro. A imprensa especializada e o mercado consumidor têm recebido esses novos
veículos, principalmente os elétricos, com enorme entusiasmo. Muitos consideram esses
veículos como o principal meio de transporte para as próximas décadas.

Consequência desse entusiasmo é a ênfase que passamos a dar aos pontos positivos e a pouca
atenção aos pontos negativos dessa nova tendência. Afinal, qual foi a motivação que induziu as
empresas do ramo a proporem o carro elétrico como solução?

Bom, parece que a crescente preocupação com a elevação dos teores de CO2 na atmosfera foi
um grande vetor para a procura de novos meios de propulsão. Um segundo vetor foi o temor do
esgotamento das reservas de petróleo, já há tanto tempo alardeado e esperado.

Olhemos para o primeiro motivo. Sob o ponto de vista de redução de emissão de gases de efeito
estufa, o carro elétrico na verdade não é entusiasmante. Afinal, as baterias precisam ser
recarregadas com energia elétrica da rede. Como a matriz energética da maioria dos países
ainda se apoia em grande parte em fontes fósseis de energia, notadamente o carvão,
deixaremos de consumir combustíveis fósseis no tanque para consumi-los nas usinas
termoelétricas. Ainda temos o problema da fabricação e da reciclagem das baterias de alto
desempenho que equipam esses veículos. Ambos são processos complexos que demandam
muita energia, sem contar com o potencial enorme dessas baterias gerarem passivos
ambientais pelo seu descarte inapropriado. Estudos acadêmicos estimam que para se
disponibilizar uma unidade de energia para o veículo elétrico (considerando consumo, fabricação
da bateria, reciclagem etc.), pelo menos 65% dessa energia será suprida por fontes não
renováveis. Para efeito de comparação, no caso do etanol de cana, para se disponibilizar uma
unidade de energia para o veículo apenas uns 20% dela demandará consumo de fósseis
(considerando consumo de transporte, tratores, fertilizantes etc.). É uma brutal diferença.

Quanto ao segundo motivo, o temor de uma explosão de custos dos combustíveis pelo
estreitamento da oferta hoje se mostra sem fundamento. Lembro que nos anos 80 ouvia-se
muito falar que lá pelos anos 2020 a oferta seria menor do que o consumo, por mais que se
buscassem novas jazidas, pois as reservas mundiais de petróleo estariam começando a se
esgotar. Aqui chegamos e o que vemos é o petróleo negociado quase ao preço de água de
torneira. No poço, não na bomba, aí é outra história. Isso acontece mesmo após um constante e
consistente aumento do seu consumo ao longo dos anos, mesmo com todas as substituições
por fontes alternativas de energia e efetivas melhorias de eficiências de consumo. Por isso,
pensar que o transporte elétrico será mais acessível que o movido a combustível é um exercício
de otimismo. A gasolina, sem a carga de impostos aplicada no mundo todo, proporciona um
transporte muito barato.

Bom, então podemos admitir que os motivos racionais para o entusiasmo por carros elétricos
não são sólidos? Certamente, se avaliarmos os custos, com um parêntese para o carro híbrido.
Como ele recupera parcialmente a energia das frenagens para devolvê-la na aceleração, acaba
sendo mais econômico e a recarga de suas baterias na rede é apenas opcional. Seu maior custo
de aquisição poderá ser compensado pelo menor custo de rodagem, se o preço da gasolina não
continuar caindo, claro. É um meio termo interessante para quem roda muito.
No Brasil, o carro elétrico não faz muito sentido. Afinal nosso velho etanol é uma solução bem
mais eficaz para a redução da emissão de gases de estufa. E seu custo não é ruim. Quer uma
opção de baixíssimo impacto ambiental? Híbrido a etanol de cana, um carro que ainda não
existe.

No fim das contas, parece que o cheiro de novidade e a busca por notoriedade são os maiores
fatores para gerar entusiasmo pelo carro elétrico puro. Deverá ser muito agradável para muitos
desfilar pelas ruas com possantes e estilosos Teslas, ou outros modelos que virão, passando
ainda a mensagem de que contribuem para a preservação do meio ambiente. É, contribuem um
pouquinho, mas contribuem.

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