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Cirque Du Soleil – A reinvenção do Circo

Combinando artistas de rua, palhaços, acrobatas e ginastas para criar


teatro e dramas de dança com músicas multiculturais, uma pequena trupe de
artistas liderada pelo músico Guy Laliberté fundou em 1984, numa cidadezinha
perto de Quebec no Canadá, o Cirque Du Soleil.
Era uma época em que o negócio “circo” encontrava-se em declínio,
ameaçado pela competição das diversões eletrônicas e pelos elevados custos de
logística. Logo, aquele circo exótico, criativo e inovador iria explodir como uma
nova forma de entretenimento e ocuparia as casas de espetáculo do Canadá,
dos Estados Unidos e do mundo todo.
Com mais de 5.000 funcionários, sendo 1.300 artistas, com produções
itinerantes em todo o mundo e um público superior a 50 milhões de pessoas, o
Cirque Du Soleil em seus 30 anos de existência foi visto por mais de 100 milhões
de expectadores em cerca de 300 cidades no mundo e ultrapassa o faturamento
de US$400 milhões em 2013.
Segundo a teoria de Chan Kim e Renée Maubogne, professores da escola
de Administração francesa INSEAD e autores do livro “A Estratégia do Oceano
Azul”, através de uma estratégia inovadora, distantes das convencionais
praticadas no seu setor, o Cirque Du Soleil se destacou da concorrência e achou
o seu Oceano Azul, espaço reservado às empresas que através da diferenciação
e movimentos estratégicos denominados Inovação de Valor, acham um
mercado (Oceano) inexplorado e escapam do Oceano vermelho - mercado onde
as estratégias convencionais prevalecem e as empresas concorrentes se
aglomeram atacando ferozmente umas às outras.
A receita mágica do sucesso começou a dar certo quando seus
fundadores reconheceram que criar um espetáculo era tão importante quanto
gerar recursos para produzir outros e promovê-los. A empresa, ao contrário das
demais companhias artísticas, propôs-se desde o início a ter uma empresa na
qual a arte pudesse conviver com os negócios. O fundamental é não perder o
equilíbrio entre o comercial e o artístico: “Se os aspectos comerciais ganhassem
muita importância, perderíamos a nossa essência; se o artístico crescesse além
do comercial, perderíamos dinheiro. Definitivamente, trata-se de preservar o
equilíbrio”, explica Guy Liberte, que também é titular do departamento de
criação.
Ainda que os espetáculos conservem alguns elementos típicos (tenda,
palhaços e os acrobatas), ele deixara de lado outros (notadamente números
com animais e a presença de astros circenses), dando ênfase à música, ao
figurino e à cenografia. O fato de não trabalhar com animais lhe permitiu
reduzir os elevados custos com cuidados, escapar das críticas dos defensores de
seus direitos e destinar os recursos que sobram para valorização do produto
perante os clientes.
A companhia eliminou atributos que antes eram considerados
indispensáveis em apresentações circenses e que não agregavam o valor
esperado, como o homem que ficava domando o leão dentro de uma jaula ou
os elefantes que entravam e saiam do palco em apenas duas pernas. Também
dispensou os famosos astros circenses, celebridades dos circos que faziam
aparições pequenas e que custavam uma fortuna em termo de cachê.
Por outro lado, ampliaram outros elementos como a vibração e o perigo
dos trapezistas, a diversão e o humor. E criaram novos elementos como
ambiente refinado com efeitos pirotécnicos e visuais de alta qualidade, músicas
e danças artísticas sofisticadas.
O modelo de negócios do Cirque Du Soleil é único e singular, bem
diferente do circo tradicional. O preço de entrada não é barato, o espetáculo
não é um conjunto de pequenos esquetes e vários picadeiros, mas uma história
com início, meio e fim e um picadeiro único. O público são os adultos e não mais
as crianças. E o espetáculo é uma mistura de musical, show, teatro, enfim, algo
difícil de enquadrar em uma única categoria convencional. A empresa tem
várias produções que circulam simultaneamente em países diferentes, com
equipes diferentes, mas mantendo o mesmo padrão de qualidade e a mesma
experiência diferenciada.
Com o resultado, a empresa vem atraindo milhões de pessoas de um
público que antes não era usualmente espectador de circo. Os espetáculos são
temáticos, cada um organizado em torno de uma narrativa em cada turnê. E é
difícil para a plateia definir a sua experiência no show: as pessoas não sabem
classificar o que assistiram – se foi uma ópera, um balé, uma peça teatral ou um
musical da Broadway. Mas ao final, todos concordam em uma coisa: o
espetáculo é uma experiência inesquecível.

Fonte: Case Cirque Du Solei, HBR 2002, 2011; Case Cirque Du Soleil: an innovative culture of
entertainment, Ghazzawi, Issam A. et al, University of La Verne, 2014

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