Você está na página 1de 19

Inácio Chitsumba

Fontes do Direito

Mestrado em

ISCTAC
Beira
2018
Inácio Chitsumba

Fontes do Direito

Projecto de Dissertaçao entregue no ---

Docente:

ISCTAC
Beira
2018
Índice

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO.......................................................................................................3
1. Problema...................................................................................................................................4
2. Justificativa...............................................................................................................................4
3. Objectivos.................................................................................................................................4
3.1 Objectivo geral.......................................................................................................................4
3.2 Objectivos específicos............................................................................................................4
4. Hipótese....................................................................................................................................4
5. Metodologia..............................................................................................................................4
6. Relevância................................................................................................................................5
CAPITULO II: Quadro Conceptual.................................................................................................6
2.1 O Direito e Sua Conceitualização..............................................................................................6
2.2 Fontes de Direito....................................................................................................................8
2.2.1 Fontes de Direito Técnico-jurídicas..................................................................................10
2.2.1.1 A Lei...........................................................................................................................11
2.2.1.2 O Costume..................................................................................................................11
2.2.1.3 A Jurisprudência.........................................................................................................13
2.2.1.4 A Doutrina..................................................................................................................14
2.3 Hierarquia das fontes normativas.........................................................................................15
Conclusão......................................................................................................................................17
Referencias Bibliográfica..............................................................................................................18
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

O homem não vive isolado como uma ilha no meio do oceano, ele vive junto a outros
indivíduos e assim se comportando, ele vive em sociedade. Com isso, podemos perceber porque
se afirma que “o homem é um ser social”, portanto, a vida em sociedade depende de sua própria
natureza e das suas necessidades e aspirações.

Esta visão é fruto da reflexão em torno do que vindo a ser aflorado na literatura ligada
as Normas Jurídicas onde destacamos a Teoria do Estado Social de J. J. Rousseau segundo a
qual o homem por natureza é bom, mas a sociedade o corrompe e da Teoria Associal de Tomas
Hobbes, ao considerar que o homem é um ser mau por natureza, e que a sociedade lhe torna
bom. Associada a estas duas teorias, encontramos a Teoria Eclética de Jonh Locke, ao referir que
mesmo sendo bom, o homem por natureza pode ser mau na sociedade, e sendo mau por natureza,
a sociedade pode lhe tornar bom.

O homem na sua forma de ser, estar e fazer dentro da sociedade guia-se por regras que
regulam o seu comportamento em vários aspectos ligados a filosofia de vida e as políticas de
uma sociedade. Numa perspectiva didáctica, não podemos pensar numa sociedade, sem antes
pensarmos nos seres humanos que a compõem. De igual modo, não podemos pensar nos homens
em uma sociedade, sem pensar nas normas regem o ser, estar e fazer dentro dela.

Portanto, com vista a materializar esta análise, a estrutura apresentada obedece, para
além desta introdução, que comporta o problema do estudo, a justificativa, os objectivos que se
pretendem alcançar, a hipótese e a metodologia empregue, outros elementos como o quadro
conceptual (onde se apresenta o modelo teórico de análise da hierarquia das fontes do direito); a
caracterização das fontes; análise e interpretação de sua lógica de articulação; conclusões; e por
fim a bibliografia consultada.
1. Problema

As sociedades são de forma geral regidas por várias normas, uma vez que nela, ocorrem
factos jurídicos e factos relevantes que podem criar, modificar ou extinguir o direito. As
sociedades são complexas, e partindo do princípio de que as fontes do direito são o ponto de
partida para a busca da norma, numa sociedade multicultural como a moçambicana, importa
analisar a hierarquia das fontes do Direito a luz das formas de criação, modificação e
extinção, no caso específico de Moçambique.

2. Justificativa

O interesse pela realização deste estudo ancora-se em primeiro lugar ao facto de o autor
ser mestrando em Gestão de Recursos Humanos, afecto na Universidade Pedagógica (UP) como
docente. Segundo, pela necessidade complexidade multicultural vivida em Moçambique onde em
algumas regiões não se leva em consideração a hierarquia das fontes de Direito vigentes.

3. Objectivos
3.1 Objectivo geral

Este trabalho, procura de uma maneira geral, analisar a hierarquia das fontes do Direito
a luz das formas de criação, modificação e extinção.

3.2 Objectivos específicos

 Identificar as fontes do direito vigentes numa determinada sociedade;


 Caracterizar de cada uma das fontes de Direito luz das formas de criação, modificação e
extinção.

4. Hipótese

A premissa de partida é de que a hierarquia das fontes do direito varia de sociedade para
sociedade em função de hierarquia adoptada por está.

5. Metodologia

Do ponto de vista dos seus objectivos, trata-se de uma Pesquisa Explicativa que “visa
identificar os factores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos
fenómenos. Aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o
“porquê” das coisas”. Silva (2001:21). Nesta pesquisa o autor procura
identificar as fontes de direito e analisa a realidade que norteia a sua
hierarquização.

Do ponto de procedimentos técnicos, o autor recorreu a Pesquisa


Bibliográfica, que é elaborada a partir de material já publicado, constituído
principalmente por livros, artigos periódicos e actualmente material
disponibilizado na internet” Silva (2001:21). Foram pesquisados livros já
publicados sobre o tema em análise nas bibliotecas existentes na cidade da
Beira.

No processo de análise de dados, usou as técnicas especificamente relacionadas como


tema em estudo visando ter conhecimento real das fontes que norteia a criação do direito.

6. Relevância

A contribuição que se espera deste estudo é, aferir a importância do conhecimento da


hierarquia das fontes do direito de uma determinada sociedade para melhor compreender
aplicação do direito em Moçambique.

Do ponto de vista científico, a contribuição que se espera é fornecer elementos para a


análise da eficácia e efectividade das fontes do direito adoptadas pelo governo moçambicano.
CAPITULO II: Quadro Conceptual

Para melhor compreensão sobre as fontes de Direito, importa iniciar do esclarecimento


do conceito de Direito seguido dos tipos de fontes existentes para posterior descrição da
hierarquia do direito.

2.1 O Direito e Sua Conceitualização

No dia-a-dia a expressão Direito aparece em várias fases e momentos, ao nos


comunicarmos com as demais pessoas, nos mídias e mesmo no exercício das nossas actividades
profissionais.

Vivendo em uma sociedade, o homem deve pautar por comportamento que seja
adequado a sociedade onde ele esta inserido, para tal existem normas e/ou regras que regem o
comportamento do individuo. Segundo Sousa e Galvão (2000: 9) o “Direito anda associado à
ideia de um conjunto de regras de comportamento social ou de cada dessas regras. A lei é
Direito. O regulamento é Direito. Os estatutos são Direito. Todos eles constituem Direito que
preside à nossa vida em sociedade.”

A palavra "direito" vem do latim directus, a, um, "que segue regras pré-determinadas ou
um dado preceito", do particípio passado do verbo dirigere. O termo evoluiu em português da
forma "directo" (1277) a "dereyto" (1292) até chegar à grafia actual (documentada no século
XIII).

A inter-relação estabelecida na sociedade e a própria vida em sociedade exige a


formulação de regras e normas de conduta para disciplinar a interacção entre os seres tendo em
vista o alcance do bem comum e a paz e a organização social.

As regras ou normas éticas ou de conduta, podem ser de natureza moral, religiosa e


jurídica. A norma do direito, chamada "norma jurídica", difere das demais, porém, por dirigir-se
à conduta externa do indivíduo, exigindo-lhe que faça ou deixe de fazer algo, objectivamente, e
atribuindo responsabilidades, direitos e obrigações.

Sousa e Galvão (2000:11) consideram o Direito como “um regulador da existência


humana em sociedade”. O Direito constitui, assim, um conjunto de normas de conduta
estabelecidas para regular as relações sociais e garantidas pela intervenção do poder público. É
pois da natureza da norma de direito a existência de uma ameaça pelo seu não cumprimento
(sanção) e a sua imposição por uma autoridade pública (o Estado) com o objectivo de atender ao
interesse geral (o bem comum, a paz e a organização sociais).

Em relação ao sentido do Direito, Pereira (2001:10) realça três:

 Direito em sentido subjectivo – uma situação jurídica concreta de


vantagem que se traduz na titularidade de poderes ou faculdades de fazer ou não fazer, de
exigir ou de pretender;

 Direito em sentido normativo – o conjunto de princípios e de normas


criadoras ou reveladoras de organizações, funções, faculdades, direitos e deveres.

 Direito em sentido objectivo – que traduz a sua mais ampla expressão,


nesta acepção engloba o complexo normativo e toda a realidade juridicamente relevante,
constituindo um sistema jurídico.

Assim, este autor considera ainda que “Direito é o sistema normativo de conduta social,
coactivamente protegido porque mobilizado à realização da justiça”.

Pode-se depreender como exposto acima que as normas jurídicas têm por objectivo criar
direitos e obrigações para pessoas, quer sejam pessoas naturais ou jurídicas. E associado a este
aspecto, o direito também disciplina as coisas e os animais, com o objectivo de proteger direitos
ou gerar obrigações para pessoas, ainda que, modernamente, o interesse protegido possa ser o de
toda uma colectividade ou, até mesmo, da humanidade abstractamente.

Sousa e Galvão (2000:10) dividem o direito em dois, sendo o direito subjectivo e direito
objectivo. Segundo estes autores, “ao direito como poder de cada qual agir ou exigir um
comportamento de outrem chama-se direito subjectivo. E, ao contrário do direito objectivo,
normalmente escrito com maiúscula, o direito subjectivo é-o com minúscula”. Acrescentam
ainda que, o Direito objectivo cria, modifica e extingue o direito subjectivo.

Este estudo, esta focalizado o Direito considerado Objectivo na perspectiva de Sousa e


Galvão (2000) ou Direito em sentido Objectivo Pereira (2001) uma vez que engloba o complexo
normativo e toda a realidade juridicamente relevante e se reconduz a regras de comportamento
em sociedade.

2.2 Fontes de Direito

As normas do direito são criadas, modificadas e extintas por meio de certos tipos de
actos, chamados pelos juristas de fontes do direito. A fonte é ao mesmo tempo processo e facto:
processo de criação de normas e facto deste processo (a norma em si). Como já referimos acima,
as fontes do direito são o ponto de partida para a busca da norma. Contem a norma. Assim sendo,
são modos de formação e revelação das normas jurídicas.

Pereira (2001:87) refere que “a expressão “fonte de direito” é passível de diversas


interpretações”, e apresenta os seguintes sentidos:

 Sentido filosófico – significa o fundamento último ou razão da existência do


direito. Assim a fonte mais remota é reconhecida como justiça, a segurança, o poder, o
estado, consoante a corrente filosófico-juridica.

 Sentido histórico e sociológico – aqui, a fonte é o antecedente ou causa jurídica


(sentido histórico estrito) da norma, instituição, ramo ou mesmo sistema jurídico. (…).
E sentido sociológico, fontes de direito são as circunstâncias condicionantes da
produção da norma ou do complexo normativo, condicionantes sociais de diversa
natureza e peso específico.

 Sentido orgânico – são fontes de direito normativo, os órgãos ou entes públicos


com competência normativa: parlamento, governo e ainda diversos órgãos da
Administração Publica com competência normativa.

 Sentido instrumental – a fonte do direito é o local, o meio, a forma material onde


consta positivado o Direito.

 Sentido técnico-jurídico (também dito formal) – no sentido tradicional, fontes de


direito são os modos de formação e revelação do direito normativo.

Em relação a este facto, importa aflorar que, segundo Pereira (2001:88):


“… estamos a considerar fontes do Direito, e não fontes de direitos; caso ampliássemos para este sentido
havia que considerar, tanto, os actos administrativos, como uma classe de factos jurídicos de primeiro
relevo no comércio jurídico (…). O Direito positivo, como é frequente, pode (e deve) apresentar um quadro
hierárquico das fontes legais, mas tal não prejudica o relevo indelével que outras possam ter, pelas suas
próprias natureza e forca jurídica. Sobretudo, porque toda a jurisprudência e a seu modo também a
doutrina, não apenas ‘revelam’ e aplicam o Direito, como o recriam, num ‘continuum constituendo’:
criação acontece, quer na produção legislativa da norma, quer nos recorrentes ciclos das suas diversas
reelaborações, interpretações e aplicações concretas”.

Portanto, são várias as fontes de Direito, e a base para sua criação se encontra na
sociedade, onde este aparece para reger as relações entre os seres humanos. A ênfase para este
estudo vai para o sentido técnico-jurídico numa perspectiva próxima do sentido tradicional pelo
facto de ter maior sedimentação.

Numa perspectiva histórica, Gilissen (1979:25) considera que a expressão “fonte de


direito” pode ser entendida pelo menos em três sentidos diferentes: fontes históricas do direito,
fontes reais do direito, fontes formais do direito:

a) Fontes históricas do direito – são todos os elementos que contribuíram, ao


longo dos séculos, para a formação do direito positivo actualmente em vigor num país
dado;

b) Fontes reais do direito – são os factores que contribuem para a formação


do direito (…) variam segundo a concepção religiosa ou filosófica dos homens (…) e
também o direito dos períodos anteriores e dos direitos estrangeiros;

c) Fontes formais do direito – são os instrumentos de elaboração do direito


num grupo sociopolítico dado numa época dada; são também os modos ou formas através
das quais as normas do direito positivo se exprimem.

Em termos de local de criacao, as fontes de direito podem ser:

 Nacionais – quando o direito a ser criado, modificado ou extinguido é


nacional;

 Internacional – quando o direito a ser criado, modificado ou extinguido é


internacional;
 Interestadual – quando o direito a ser criado, modificado ou extinguido é
das autarquias locais.

Em relação a classificação das fontes de Direito, Pereira (2001:89) subdivide-as em:

- Segundo classificação doutrinal:

 Fontes voluntarias ou intencionais (onde constam a lei, jurisprudencia e


doutrina) e fontes não voluntarias (constam os princípios fundamentais e o costume),

- Segundo classificação legal

 Fontes Imediatas (constam os princípios e as leis) e Mediatas (constam os


usos e equidade)

2.2.1 Fontes de Direito Técnico-jurídicas

Importa recordar que as fontes de direito técnico-juridicas estão relacionadas com as


fontes formais do Direito, isto é, podem se considerar o mesmo tipo de fontes de direito.

A história do direito, que é muito complexa, dita que nos séculos XIX e XX e nos países
europeus afirmou-se que apenas havia uma fonte formal do direito, a lei; e que não haveria outro
direito senão o que fosse criado e formulado pelo legislador, o mesmo acontecia, nos sistemas
jurídicos dos países socialistas de tendência comunista (Gilissen 1979:26).

Segundo Gilissen (1979:26) dentre as diversas fontes formais de direito, a lei e o


costume são as mais importantes na evolução e na formação dos sistemas jurídicos europeus e
também, muitas vezes, nos restantes. O costume é a fonte formal que domina nos direitos menos
desenvolvidos; e a lei domina nos sistemas jurídicos mais desenvolvidos. Refere ainda que outras
fontes de direito desempenham um papel, ora secundário, ora capital. A jurisprudência
desempenhou um papel capital na formação e desenvolvimento do common law inglês; um papel
menos importante, mas não de desprazer, nos outros direitos europeus. A doutrina, sobretudo a
que foi elaborada na base do direito romano renascido na baixa Idade Media e na época
moderna, é um importante instrumento de elaboração e de expressão do direito durante estes
períodos.
Historicamente, a primeira manifestação do direito é encontrada no costume,
consubstanciado no hábito de os indivíduos se submeterem à observância reiterada de certos
usos, convertidos em regras de conduta. Com o tempo, os grupos sociais passaram a incumbir
um chefe ou órgão colectivo de ditar e impor as regras de conduta, o que fez com que o direito
passasse a ser um comando, uma lei imposta coactivamente e, a partir de certo momento, fixada
por escrito. Em maior ou menor grau, ambas as fontes - o costume e a lei - convivem no direito
moderno, juntamente com outras importantes formas de produção das normas jurídicas, como a
jurisprudência. Neste estudo, faremos a análise das fontes do direito na actualidade.

2.2.1.1 A Lei

A lei é tida também como acto legislativo, que segundo Sousa e Galvão (2000:46) é um
acto do poder político do Estado que provem do órgão constitucionalmente competente, obedece
a um procedimento constitucionalmente definido e reveste a forma constitucionalmente
qualificada de lei.

Para este autor, associa-se a definição da lei, o facto de ter conteúdo político uma vez
que contem opções ou escolhas colectivas com uma liberdade só limitada pela constituição.
Assim, a lei visa reger as relações entre cidadãos ou entre estes e o poder político.

Para Gilissen (1979:27), “a lei é uma norma ou um conjunto de normas de direito,


relativamente gerais e permanentes, na maior parte dos casos escritas, impostas por aqueles que
exercem o poder num grupo sociopolítico mais ou menos autónomo”.

Assim a lei, pode ser entendida como o conjunto de textos editados pela autoridade
superior (em geral, o poder Legislativo ou a Administração pública), formulados por escrito e
segundo procedimentos específicos. E pode-se incluir neste grupo os regulamentos
administrativos.

2.2.1.2 O Costume

Vamos tratar do costume e do uso de forma separada para melhor compreensão. O


costume definida por Gilissen (1979:27) como um “conjunto de usos de natureza jurídica que
adquiriram forca obrigatória num grupo sociopolítico dado, pela repetição de actos públicos e
pacíficos durante um lapso de tempo relativamente longo”, já foi a principal fonte de Direito (até
meados do Século XVIII), no entanto, a sua adesão ao liberalismo voluntarista-positivista
impulsionou o seu afastamento.

Segundo Pereira (2001:91), o costume íntegra necessariamente dois elementos:

 Um objectivo (material, ou corpus) que consiste na prática


duradouramente reiterada duma conduta social consubstanciando uma regra

 Outro, subjectivo (animus): a convicção da opinião comum, que aquela


conduta obedece a uma norma obrigatória segundo a consciência jurídica da comunidade.

Por outro lado, Sousa e Galvão (2000:150), consideram que o costume supõe dos
elementos essenciais. O uso, ou um a pratica social reiterada – o usus. E a convicção da
obrigatoriedade da conduta que é objecto de repetição ao longo do tempo – a opinião júris vel
necessitatis.

Os usos, consideradas por Pereira (2001:92) como fonte diversa do costume, que
consistem na conduta social repetida duradouramente. Estes são acolhidos como fonte de direito
quando a lei expressamente os admita, por isso são fonte apenas mediata.

O autor refere ainda que, “o mero uso, só por si, não é suficiente para definir o costume.
Pode existir uso, sem que esse uso se juridifique e crie Direito”.

Podemos assim entender que costume é a regra não escrita que se forma pela repetição
reiterada de um comportamento e pela convicção geral de que tal comportamento é obrigatório
(isto é, constitui uma norma do direito) e necessário. O costume é fruto da dinâmica da sociedade
civil.

Isto revela que, além do direito escrito, a lei, existe um outro direito, não escrito,
costumeiro ou consuetudinário, que é fruto das pulsões diárias do grupo e da sociedade, sem
necessidade de intervenção do poder político do Estado. (Sousa e Galvão 2000:149).

Em relação as duas fontes já mencionadas, a lei e o costume, Sousa e Galvão


(2000:152) consideram que dois pressupostos são essenciais:
 A relevância do costume na depende do reconhecimento da lei;

 A relevância do costume não depende de uma efectiva aplicação coactiva.

E nesta relação, segundo estes autores, temos:

1. Costume secundum legem – o costume com o mesmo conteúdo que a lei,


onde a conduta devida é adoptada não em função da lei que a impõe, mas do costume de
conteúdo idêntico a essa lei, havendo a convicção da obrigatoriedade do cumprimento do
costume.

2. Costume praeter legem – costume que regula a matéria não prevista pela
lei, isto é, vai para além da lei;

3. Costume contra legem – costume de conteúdo oposto a lei, ou, que se


opõe a lei.

Os casos mais frequentes os dois últimos, isto é, o praeter e o contra legem. No entanto
é importante frisar que, em qualquer dos casos, a relevância jurídica não depende do facto de ser
acolhido, consagrado ou, sequer, tolerado pela lei.

2.2.1.3 A Jurisprudência

Gilissen (1979:27) considera a Jurisprudência como “um conjunto de normas jurídicas


extraídas das decisões judiciárias. As decisões judiciárias não valem senão entre as pessoas que
são partes no processo; não enunciam normas jurídicas gerais e, mesmo que o façam na sua
motivação, estas normas não tem forca vinculativa erga omnes.”.

É uma decisão dada por um órgão jurisdicional como é o caso do tribunal, isto é,
conjunto de interpretações das normas do direito proferidas pelo poder Judiciário.

Esta ideia é defendida Pereira (2001:92) que considera a jurisprudência como uma
“decisão jurisdicional, e, complexivamente, o conjunto das orientacoes seguidas pelos tribunais
no julgamento de casos concretos”. Refere que, esta, é uma fonte constitucional mas não legal de
normas jurídicas positivas.
Em Moçambique temos a jurisprudência do tribunal, do conselho constitucional e do
tribunal regional. Encontramos:

 Tribunal supremo

 Tribunal regional

 Conselho constitucional

Em termos de hierarquia de baixo para cima temos

1. Tribunal distrital

2. Tribunal provincial

3. Tribunal regional

4. Tribunal supremo

Há também hierarquia de competências em que os processos julgados na cidade e o


recurso vai directo para o supremo e não só. Recentemente em Moçambique foram introduzidos
os tribunais regionais que vão contribuir na redução do tempo de recurso.

2.2.1.4 A Doutrina

Trata-se da opinião dos juristas sobre uma matéria concreta do direito. O conjunto de
ideias, o que já se pensou e foi registado ou escrito por académicos que podem influenciar de
forma directa ou indirecta a tomada de decisões.

Para Gilissen (1979:28), a doutrina é o conjunto de normas jurídicas formuladas por


grandes juristas nas suas obras”. Os juristas podem constatar o direito que existe, mesmo que não
formulado, descobrem um direito que se supõe preexistir às suas constatações.

Pereira (2001:93) considera que a doutrina consiste em estudos, pareceres, manuais,


monografias, anotações, dos professores e investigadores especialistas em Direito. Este autor,
considera que actualmente, a doutrina não é fonte formal de Direito.
Pode contribuir para que um direito estrangeiro passe ser um direito nacional e a
doutrina se encontra na base da ciência do direito, pelo esforço de classificação, de
sistematização, de análise e de síntese. Assim o direito é uma ciência que contribui com
subsídios ao qual a jurisprudência recorre para melhor aplicação do Direito constituído.

2.3 Hierarquia das fontes normativas

Pereira (2001:94) considera que as fontes estruturam-se segundo níveis hierárquicos


bem definidos de modo a implementar a regra geral segundo a qual as normas de hierarquia
inferior se terão de conformar às normas a elas supra-ordenadas; em memória da unidade e
coerência do sistema positivista.

Assim, na visão deste autor, temos:

1) Direito internacional público

Que pode estar acima ou ao mesmo nível da constituição e é manifestado em princípios


fundamentais do Direito comuns à cultura internacional da qual participamos.

2) Constituição

Compreende princípios e regras elaborados e revistos por um processo solene mais


exigente do que o usado para elaborar uma lei. Falar da constituição material … a constituição
formal é sempre escrita. (Sousa e Galvão 2000:40).

Pereira (2001:95), refere que cabe a este nível, as normas constitucionais originárias e
textos de valor constitucional. E acrescenta que “quando reconhecidos, os costumes
constitucionais, neste nível devem ser tambem acolhidos, assim como o direito internacional
quando reconhecido constitucionalmente e as leis de revisão constitucional quando juridicamente
validas e eficazes.

Direito internacional ou o Acto Politico em sentido restrito ou proprio – que não se


compreenda nos escalões anteriores. Encontramos por exemplo os decretos de dissolução da
Assembleia da Republica pelo Presidente da Republica …. Sousa e Galvão (2000:44).
3) As leis ordinárias

Têm todo o mesmo valor, contudo, existem procedimentos de formação distintos e/ou
com articulações de precedência, por isso algumas leis tem valor reforçado. (Pereira 2001:95).

Sousa e Galvão (2000:45), referem que esta corresponde a prática de actos de conteúdo
político proveniente dos órgãos constitucionalmente competentes e que revestem a forma externa
da lei. Considera a lei um acto do poder politico do Estado, e visa a regulação de relações
sociais, só excepcionalmente cuidando da organização do poder politico do Estado.

4) Decretos Legislativos Regionais

Segundo Pereira (2001:97) este tipo legislativo só prevalece sobre os tipos de actos do
6o nível reportados ao território da respectiva região autónoma.
Conclusão

O direito vigente nos países da Europa influenciou a regência das normas nos países
africanos durante o processo de colonização.

O costume é uma prática normativa aceite por uma determinada sociedade e pode ser
passada de geração por geração, de carácter obrigatório associado a uma convicção desta
obrigatoriedade. Assim podemos considerar o costume como uma forma de ser estar e fazer
dentro de uma sociedade com convicção de sua obrigatoriedade.

A doutrina desempenha um papel preponderante através dos seus reflexos nas funções
legislativas, jurisdicional e administrativa do estado.
Referencias Bibliográfica

SILVA, Edna da Lucia, Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 3. ed. rev. atual.
Florianópolis, 2001.

PEREIRA, Potyara Amazoneida Pereira. Estado, regulação social e controle democrático. In:
BRAVO; PEREIRA (org.). Política social e democracia. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro:
UERJ, 2001.

GILISSEN, John, Introdução histórica ao direito, Lisboa, Fundação Gulbenkian, 1988 (ed. orig. :
Bruxelles, Bruylant,. 1979).

Você também pode gostar