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Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol.

38, nº 3, e3312 (2016) Artigos Gerais


www.scielo.br/rbef cbnd
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2016-0056 Licença Creative Commons

Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões


Representations of the Dirac Equation in 1+1 Dimensions

Andrei Smirnov∗, Antonio Jorge Dantas Farias Jr.


Departamento de Fı́sica, Universidade Federal de Sergipe, Sergipe, Brasil.

Recebido em 11 de março de 2016. Revisado em 5 de abril de 2016. Aceito em 11 de abril de 2016

Neste trabalho descrevemos uma classificação geral das representações da equação de Dirac em
1+1 dimensões. Na classificação são incluı́das as representações nas quais cada matriz de Dirac β, α é
associada a uma única matriz de Pauli. Esta classificação inclui 6 representações principais. A inclusão das
representações com sinais modificados das matrizes de Pauli aumenta o número de representações distintas
até 24. Determinamos as transformações unitárias entre todas as representações na forma explı́cita. O
estudo da estrutura do conjunto das transformações leva à conclusão de que todas as representações são
equivalentes, isto é, uma representação pode ser obtida a partir de qualquer outra por uma transformação
unitária. Estabelecemos que o conjunto das transformações forma um grupo não abeliano com respeito ao
produto matricial em classes de equivalência, definidas através da indistinguibilidade das transformações
que diferem por um fator de fase. Este grupo possui um subgrupo não trivial, o qual por sua vez contém
dois subgrupos não triviais. Apresentamos a forma geral das matrizes de Dirac em 1+1 dimensões
determinada por 3 parâmetros arbitrários. Demonstramos a existência de isomorfismo entre o par das
matrizes de Dirac e o par de vetores unitários ortogonais. Apresentamos também aplicações dos resultados
obtidos neste trabalho.
Palavras-chave: equação de Dirac, 1+1 dimensões, transformações unitárias, grupos finitos.

In this paper a general classification of representations of the Dirac equation in 1+1 dimensions is
described. There are considered such representations in which every Dirac matrix β, α is associated with
a unique Pauli matrix. The classification includes 24 representations among which six representations are
main and others are ones with sign modified Pauli matrices. The unitary transformations between all the
representations are determined in the explicit form. The study of structure of the set of transformations
results in conclusions that all the representations are equivalent, so that anyone of the representations
can be obtained from any other by a unitary transformation. It is established that the set of the
transformations forms a non-abelian group in respect of matrix product in equivalence classes, which
are defined through indistinguishability of transformations, which differ by a phase factor. The group
possesses one non-trivial subgroup, which in its turn includes two non-trivial subgroups. The most
general form of the Dirac matrices in 1+1 dimensions determined by three arbitrary parameters is
presented. Isomorphism of the couple of the Dirac matrices to the couple of orthogonal unitary vectors
is demonstrated. Applications of the results obtained in the paper are presented.
Keywords: Dirac equation, 1+1 dimensions, unitary transformations, finite groups.

1. Introdução são mais relevantes ao nosso trabalho. Menciona-


mos que existe vasto material dedicado à equação
Neste artigo discutimos algumas questões da teo- de Dirac, tanto nos livros de texto de Mecânica
ria de Dirac em 1+1 dimensões. Antes de começar Quântica e de Teoria de Campos, como se comprova
esta discussão, relembramos alguns aspectos da teo- nas Refs. [1], [2], [3] e nas Refs. [4], [5], [6], [7], respec-
ria de Dirac no caso usual de 3+1 dimensões, que

Endereço de correspondência: smirnov.globe@gmail.com.

Copyright by Sociedade Brasileira de Fı́sica. Printed in Brazil.


e3312-2 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

tivamente; quanto em livros especializados, também Eq. (4) possibilita descrever a evolução temporal
compovado nas Refs. [8], [9]. da partı́cula. Na construção da equação de onda de
Primeiramente, apresentamos uma dedução for- uma partı́cula relativı́stica é necessário obter uma
mal da equação de Dirac para os leitores não fa- equação de onda em que a derivada em relação ao
miliarizados com esta área. Iniciamos pela lei de tempo é também de primeira ordem.
conservação de energia da mecânica: a energia total Para uma partı́cula relativı́stica, temos a seguinte
de um sistema mecânico conservativo é constante. fórmula da energia relativı́stica E:
Para uma partı́cula temos:  2
E 2 = p~2 c2 + mc2 = p2x c2 + p2y c2 + p2z c2
K + V = E = const, (1)  2
+ mc2 , (5)
onde K é a energia cinética, V é a energia potencial
e E é a energia total da partı́cula. Expressamos a
onde m é a massa da partı́cula, c é a velocidade de
energia cinética em termos do momento da partı́cula
luz e p~ é o momento relativı́stico. Fazendo uma subs-
p~:
tituição das quantidades na Eq. (5) pelos operadores
p~2
K= , da Eq. (3), obtemos a equação:
2m
onde m é a massa da partı́cula. Observamos que ∂2ψ 2 2 2
2 2∂ ψ 2 2∂ ψ 2 2∂ ψ
 2
a energia potencial é uma função das coordenadas −~2 = −c ~ −c ~ −c ~ + mc2
,
∂t2 ∂x2 ∂y 2 ∂z 2
V = V (~r). Escrevemos a Eq. (1) na forma:
dividindo-a por c2 ~2 temos
p~2
E= + V (~r) . (2)
2m 1 ∂2ψ ∂2ψ ∂2ψ ∂2ψ

mc
2
− − − + = 0. (6)
Para construir a equação de onda não relativı́stica, c2 ∂t2 ∂x2 ∂y 2 ∂z 2 ~
a partir da Eq. (2), fazemos uma substituição da
energia total, das coordenadas e dos momentos por Na Eq. (6) a derivada em relação ao tempo é de se-
seus operadores correspondentes que atuam em uma gunda ordem devido ao quadrado da energia na Eq.
função de onda ψ: (5). Aplicando a raiz quadrada na Eq. (5), obtemos:
q
∂ψ E= p~2 c2 + (mc2 )2 =
E → Êψ = i~ , x → x̂ψ = xψ,
∂t q
y → ŷ = yψ, z → ẑ = zψ, (3) p2x c2 + p2y c2 + p2z c2 + (mc2 )2 , (7)
∂ψ ∂ψ
px → p̂x ψ = −i~ , py → p̂y ψ = −i~ , onde o termo da energia é de primeira ordem. En-
∂x ∂y
∂ψ tretanto, a raiz quadrada no lado direito dificulta
pz → p̂z ψ = −i~ . a interpretação deste termo depois da substituição
∂z
das componentes do momento pelos operadores. A
Substituindo os operadores da Eq. (3) na Eq. (2) análise dimensional das quantidades do lado direito
chegamos a equação de onda: da Eq. (7) demonstra que os termos px c, py c, pz c
! e mc2 podem ser escritos na forma de uma com-
∂ψ ~2 ∂2ψ ∂2ψ ∂2ψ
i~ =− + + +V (x, y, z) ψ. binação linear com alguns coeficientes α1 , α2 , α3 e
∂t 2m ∂x2 ∂y 2 ∂z 2 β:
(4)
E = α1 px c + α2 py c + α3 pz c + βmc2 . (8)
A equação (4) é a equação de Schrödinger, que des-
creve uma partı́cula quântica não relativı́stica sujeita Elevando ambos os lados da Eq. (8) ao quadrado e
a um campo potencial V . A derivada em relação mantendo a ordem de multiplicação dos coeficientes,
ao tempo de primeira ordem no lado esquerdo da temos:

 
E 2 = α1 px c + α2 py c + α3 pz c + βmc2
 
× α1 px c + α2 py c + α3 pz c + βmc2

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= (α1 α2 + α2 α1 ) px py c2 + (α2 α3 + α3 α2 ) py pz c2 + (α3 α1 + α1 α3 ) pz px c2 (9)


2 2 2
+ (α1 β + βα1 ) px cmc + (α2 β + βα2 ) py cmc + (α3 β + βα3 ) pz cmc
 2
+α12 p2x c2 + α22 p2y c2 + α32 p2z c2 + β 2 mc2

Comparando a Eq. (9) com a Eq. (5), obtemos as seguintes condições para os coeficientes:

α12 = 1, α22 = 1, α32 = 1, β 2 = 1, (10)


α1 α2 + α2 α1 = 0, α2 α3 + α3 α2 = 0, α3 α1 + α1 α3 = 0,
α1 β + βα1 = 0, α2 β + βα2 = 0, α3 β + βα3 = 0.

Das condições da Eq. (10), conclui-se que os coe- espaciais e de tempo são reunidas em um quadrivetor
ficientes α1 , α2 , α3 e β não podem ser números, xµ , em que o ı́ndice µ recebe os valores 0, 1, 2, 3:
pois os múmeros obedecem à lei de comutação com  
xµ = x0 , x1 , x2 , x3
respeito à multiplicação, isto é, para dois números    
x1 e x2 , diferentes de zero, temos x1 x2 = x2 x1 e = x0 , xi = x0 , ~x , i = 1, 2, 3, (14)
x1 x2 + x2 x1 = 2x1 x2 . Considerando os coeficientes
com componentes
α1 , α2 , α3 e β como matrizes, é possivel encontrar
4 matrizes que obedecem às condições da Eq. (10). x0 = ct, x1 = x, x2 = y, x3 = z.
A dimensão mı́nima destas matrizes é 4 × 4. As O 4-vetor xµ representa os pontos do espaço-tempo.
matrizes α1 , α2 , α3 e β são chamadas de matrizes Para denotar as derivadas pelas coordenadas usamos
de Dirac. o sı́mbolo ∂µ = ∂/∂xµ . Usaremos também as unida-
Efetuando a substituição das quantidades na Eq. des naturais em que é aceita a convenção c = ~ = 1.
(8) pelos operadores da Eq. (3), chegamos a equação: Aplicando as notações e convenções indicadas acima
∂ψ ∂ψ ∂ψ na Eq. (13), temos:
i~ = −α1 ic~ − α2 ic~
∂t ∂x ∂y i∂0 ψ = (−α1 i∂1 − α2 i∂2 − α3 i∂3 + βm) ψ. (15)
∂ψ Na área da teoria relativı́stica é usada também uma
−α3 ic~ + βmc2 ψ, (11)
∂z convenção de somatório por ı́ndices repetidos. Se
que representa a equação de Dirac. A equação de em uma fórmula existe um termo de produto de
Dirac descreve o comportamento quântico de uma quantidades que possuem o mesmo ı́ndice, isto sig-
partı́cula relativı́stica de spin 1/2, como por exem- nifica que por este ı́ndice é efetuado um somatório.
plo o elétron. Como a equação (11) é uma equação Neste caso o sı́mbolo de soma não se escreve. Apli-
matricial, a função de onda ψ é um objeto de 4 com- camos esta convenção para o somatório dos termos
ponentes, chamado de spinor de Dirac, que pode ser semelhantes do lado direito da Eq. (15)
escrito na forma de uma coluna: 3
X
  α1 i∂1 + α2 i∂2 + α3 i∂3 = αi i∂i = αi i∂i
ψ1 i=1
 ψ2 
e chegamos à forma compacta da equação:
ψ= . (12)
 
 ψ3 
i∂0 ψ = (−αi i∂i + βm) ψ. (16)
ψ4
O lado direito da Eq. (16), bem como o da Eq.
Dividindo os lados esquerdo e direito da Eq. (11) (11), representa o hamiltoniano de Dirac para a
por c~, obtemos: partı́cula livre:
1 ∂ψ ∂ψ ∂ψ ∂ψ mc Ĥ = (−αi i∂i + βm) . (17)
i = −α1 i −α2 i −α3 i +β ψ. (13)
c ∂t ∂x ∂y ∂z ~ Sendo o hamiltoniano um operador hermitiano, as
Introduzimos as notações que são usadas na área matrizes β, αi também são hermitianas
da teoria relativı́stica e de campos. As coordenadas β † = β, αi† = αi . (18)

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Multiplicando os termos da Eq. (16) por β a es- Eq. (21) como


querda, temos:
  γ 0 i∂0 + γ i i∂i = γ µ i∂µ . (22)
βi∂0 ψ = −βαi i∂i + β 2 m ψ. (19)
Assim, chegamos ao aspecto usual da equação de
Na Eq. (19) introduzimos para a matriz β e para o
Dirac que é usado comumente na teoria relativı́stica:
produto βαi a notação

β = γ 0 , βαi = γ i (20) (γ µ i∂µ − m) ψ = 0. (23)

e escrevemos todos os termos no lado esquerdo apli- As matrizes γ µ também são chamadas de matrizes
cando a condição β 2 = 1 da Eq. (10): de Dirac.
γ 0 i∂0 ψ + γ i i∂i ψ − mψ = 0. (21) Utilizando a Eq. (20) como definições das matri-
zes γ µ e as condições para as matrizes β, αi da Eq.
Usando a convenção de somatório por ı́ndices repe- (10), podemos obter as condições obedecidas pelas
tidos, podemos reunir os dois primeiros termos na matrizes γ µ :

 2
γ0 = β 2 = 1,
 2
i
γ = βαi βαi = −ββαi αi = −β 2 αi2 = −1,

γ 0 γ i + γ i γ 0 = ββαi + βαi β = β 2 αi − ββαi = β 2 αi − β 2 αi = 0,


i 6= j, γ i γ j + γ j γ i = βαi βαj + βαj βαi = −ββαi αj − ββαj αi = −β 2 (αi αj + αj αi ) = 0.

De forma compacta podemos escrever as expressões uma partı́cula também podem ser escritos na forma
acima, como: de um 4-vetor de energia-momento:
 2  2
i
γ0 = −1, γ µ γ ν + γ ν γ µ
   
= 1, γ pµ = p0 , p1 , p2 , p3 = p0 , pi
= {γ µ , γ ν } = 0, µ 6= ν, (24)  
= p0 , p~ , i = 1, 2, 3, (27)
onde, as chaves {, } designam o anticomutador.
Na Eq. (14) para as coordenadas xµ é usada uma onde p0 denota energia relativı́stica, p0 = p0 =
notação de 4-vetores em que a posição do ı́ndice 1/2
p~2 + m2 , e p~ é o momento relativı́stico. Para o
é significativa: um 4-vetor com o ı́ndice em cima somatório pµ pµ temos
xµ é chamado contravariante e um 4-vetor com o
ı́ndice em baixo xµ é chamado covariante. A relação  2  2  2  2
pµ pµ = p0 − p1 − p2 − p3
entre as componentes do 4-vetor contravariante e
2
covariante é a seguinte:

= p0 − p~2 = m2 , (28)
 
0 i
(x0 , xi ) = x , −x . (25)
que representa uma expressão da energia de uma
Escrevendo o somatório xµ xµ , explicitamente, te- partı́cula relativı́stica, a Eq. (5). Escrevemos na
mos: forma explı́cita mais um somatório que será usado
 2  2  2  2 no artigo
xµ xµ = x0 − x1 − x2 − x3
pµ xµ = p0 x0 + pi xi = p0 x0 − p~~x.
2
(29)

= x0 − ~x2 , (26)

vemos que ele representa um intervalo entre dois Com o uso da função de onda ψ e das matrizes de
pontos do espaço-tempo. A energia e o momento de Dirac γ µ , constrói-se uma quantidade j µ chamada

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de 4-vetor da corrente de probabilidade: não relativı́stico da equação de Dirac. O uso da repre-


    sentação de Weyl facilita o estudo de fenômenos de
j µ = ψγ µ ψ = j 0 , j 1 , j 2 , j 3 = j 0 , j i
quiralidade de férmions. Na representação de Majo-
rana todas as componentes das matrizes de Dirac γ µ
 
= j 0 , ~j , i = 1, 2, 3, (30)
são imaginárias. Uma vantagem desta representação
onde ~j representa o 3-vetor da corrente de probabi- é que os spinores na equação são reais.
lidade e j 0 é a densidade de probabilidade. Na Eq. Além disso, as matrizes de Dirac e spinores nas
(30) o sı́mbolo ψ denota a conjugação de Dirac de representações diferentes são relacionados por uma
ψ definida como: transformação unitária, isso pode ser demonstrado
da seguinte maneira: supomos que o spinor em uma
ψ = ψ†γ 0, (31)
representação ψ e o spinor em outra representação
onde o sı́mbolo † é a conjugação hermitiana, que ψ,
e são relacionados por uma transformação não sin-
implica conjugação complexa ∗ das componentes de gular (inversı́vel) U :
ψ e a sua transposição > :
ψe = U ψ. (38)
† ∗ >
ψ = (ψ ) = (ψ1∗ , ψ2∗ , ψ3∗ , ψ4∗ ) . (32)
A transformação U é considerada como uma matriz
Particularmente, para a densidade de probabilidade complexa 4 × 4. As propriedades fı́sicas da partı́cula
j 0 temos: não devem depender da representação usada. Par-
ticularmente a densidade de probabilidade, que é
j 0 = ψγ 0 ψ = ψ † γ 0 γ 0 ψ = ψ † ψ
representada pela componente zero do 4-vetor da
= |ψ1 |2 + |ψ2 |2 + |ψ3 |2 + |ψ4 |2 . (33) corrente de probabilidade, deve satisfazer: ej 0 = j 0 .
As matrizes de Dirac não são definidas de forma Das Eqs. (33) e (38), temos:
única, são utilizadas várias representações. As re- j 0 = ψ † ψ, ej 0 = ψe† ψe = ψ † U † U ψ
presentações mais usadas são: a representação de
⇒ ψ † ψ = ψ † U † U ψ, (39)
Dirac
! ! portanto,
0 12 02 i 02 σ i
γ = , γ = , (34) U † U = 1, (40)
02 −12 −σ i 02
isto é, a matriz U é unitária. A equação de Dirac
a representação de Weyl ou representação quiral na representação til tem a forma
! !
0 02 12 i 02 σ i (γe µ i∂µ − m) ψe = 0, (41)
γ = , γ = , (35)
12 02 −σ i 02
onde γe µ são as matrizes de Dirac nesta representação.
e a representação de Majorana Demostraremos qual é a relação entre as matrizes
de Dirac nas representações diferentes. Com o uso
! !
02 σ 2 iσ 3 02
γ0 = , γ1 = , das Eqs. (38), (40) escrevemos ψ como ψ = U † ψe e
σ 2 02 02 iσ 3
! ! substituimos na Eq. (23):
2 02 −σ 2 3 −iσ 1 02
γ =
σ 2 02
, γ =
02 −iσ 1
.
(36) γ µ U † i∂µ ψe − mU † ψe = 0. (42)
Muiltiplicamos os termos da Eq. (42) por U a es-
Nas Eqs. (34), (35) e (36) são usadas as notações: 12
querda. Chegamos ao resultado:
é a matriz unidade 2 × 2, 02 é uma matriz 2 × 2 com
todas as componentes nulas e σ i são as matrizes de U γ µ U † i∂µ ψe − mU U † ψe = 0.
Pauli: Sendo U unitária, isto é, U † U = U U † = 1, temos
! !
0 1 0 −i  
σ1 = , σ2 = , U γ µ U † i∂µ − m ψe = 0. (43)
1 0 i 0
Comparando a Eq. (43) com a Eq. (41) vemos que
!
3 1 0
σ = . (37)
0 −1 γe µ = U γ µ U † . (44)
Determinadas representações são úteis para tipos di- As matrizes de Dirac γe µ possuem as mesmas propri-
ferentes de estudos. Por exemplo, a representação de edades das matrizes γ µ da Eq. (24). Os quadrados
Dirac é mais conveniente para a discussão do limite das matrizes γe µ são

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e3312-6 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

 2  2
γe 0 = U γ0U †U γ0U † = U γ0γ0U † = U γ0 U † = U U † = 1, (45)
 2  2
γe i = U γiU †U γiU † = U γiγiU † = U γi U † = −U U † = −1

e elas anticomutam, se µ 6= ν,

{γe µ , γe ν } = γe µ γe ν + γe ν γe µ = U γ µ U † U γ ν U † + U γ µ U † U γ ν U † (46)
µ ν † µ ν † µ ν µ ν † µ ν †
= U γ γ U + U γ γ U = U (γ γ + γ γ ) U = U {γ , γ } U = 0.

Para demonstrar como as matrizes β, αi são rela- a teoria quântica relativı́stica exibe especificidades
cionadas em representações diferentes, usamos a Eq. estruturais que são ausentes em dimensões 3+1 de
(44) para as matrizes γ µ : espaço-tempo. Acontece que estas especificidades
não são somente curiosidades não fı́sicas de “toy mo-
βe = γe 0 = U γ 0 U † = U βU † , (47) dels”, mas são de grande interesse em aplicações na
área de fı́sica da matéria condensada e podem ter um
α
ei = γ e i = U γ 0 U † U γ i U † = U γ 0 γ i U † = U αi U † .
e0 γ
impacto na área de fı́sica de partı́culas, fornecendo
(48)
idéias novas para a construção de modelos.”
Escrevemos ainda a equação de Dirac na forma
Nas baixas dimensões, com uma dimensão espa-
hamiltoniana, para uma partı́cula livre, usando o
cial (1 + 1) ou com duas dimensões espaciais (2 + 1),
hamiltoniano da Eq. (17):
as matrizes de Dirac são representadas por matrizes
Ĥψ = (−αi i∂i + βm) ψ = εψ, ε = const, (49) complexas 2 × 2. Particularmente, as matrizes β,
αi podem ser definidas por matrizes de Pauli da
onde ε denota a energia que é positiva no caso Eq.(37), porque as matrizes de Pauli obedecem às
de partı́cula ε = ε+ = p0 > 0 e negativa no condições necessárias para matrizes de Dirac da Eq.
caso de antipartı́cula ε = ε− = −p0 < 0, onde (10). Uma certa escolha das matrizes de Pauli deter-
1/2
p0 = p2i + m2 . Para a função de onda da mina uma representação das matrizes de Dirac e a
partı́cula livre da Eq. (16) temos: correspondente representação do spinor. Nas baixas
  dimensões é fácil estimar o número total de repre-
0
i∂0 ψ = εψ ⇒ ψ (xµ ) = e−iεx ψ xi . (50) sentações distintas das matrizes de Dirac. No caso de
1+1 dimensões a equação de Dirac possui somente
Escrevemos separadamente a função de onda para duas matrizes: β e α. O número de opções da escolha
partı́culas de dois elementos do conjunto de três elementos é
0
  3. Se a ordem dos dois elementos determina opções
ψ+ (xµ ) = e−ip0 x ψ+ xi (51) diferentes, o número das opções é dobrado: 2 · 3 = 6.
Além disso, uma matriz de Pauli associada à matriz
e para antipartı́culas
de Dirac pode ter sinal positivo ou negativo, o que
multiplica o número das opções por quatro. Então, o
0
 
ψ− (xµ ) = eip0 x ψ− xi . (52)
número total das representações em 1+1 dimensões
é determinado como 6 · 4 = 24. No caso de 2+1
2. A equação de Dirac em Baixas dimensões a equação de Dirac possui três matrizes:
Dimensões β, α1 e α2 . O número de opções de escolha de três
elementos do conjunto de três elementos, levando
Em livros e artigos são indicadas várias motivações
em conta a ordem dos elementos, é 6. Além disso,
para os estudos da teoria quântica relativı́stica em
uma matriz de Pauli associada à matriz de Dirac
baixas dimensões. Na nossa opinião, a motivação
pode ter sinal positivo ou negativo, multiplicando o
mais condensada e elegante é formulada na Ref. [10].
número das opções por 8. Então, o número total das
Citamos diretamente um parágrafo da Ref. [10].
representações em 2+1 dimensões é determinado
“Em baixas dimensões de espaço-tempo, 1+1 e 2+1,

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como 6 · 8 = 48. Como vemos, o número de repre- equação de Dirac com potencial confinante e indi-
sentações distintas da equação de Dirac nas baixas cado que a representação β = σ 1 , α = σ 2 é mais con-
dimensões não é grande, permitindo fazer uma des- veniente para discussão de aspectos supersimétricos,
crição completa das representações com o uso de mas a representação β = σ 3 , α = σ 2 é mais útil
ferramentas matemáticas bastante simples. Acha- para observação de relações entre os casos de 1 + 1,
mos que este tipo de investigação é compreensı́vel 2 + 1 e 3 + 1 dimensões. No artigo [15] são discuti-
a alunos de graduação que possuem conhecimento das as condições de contorno para uma partı́cula de
acerca de conceitos básicos de relatividade especial Dirac em uma caixa unidimensional. No trabalho
e da mecânica quântica e com intenção de especia- são usadas a representação β = σ 3 , α = σ 1 , cha-
lização na área de fı́sica teórica. mada de representação de Dirac e a representação
Neste trabalho consideraremos a equação de Di- β = σ 1 , α = σ 3 chamada de representação de Weyl.
rac em 1+1 dimensões. Propomos uma classificação No trabalho é indicado também que para discussão
unificada das representações e determinaremos to- do limite não relativı́stico é mais conveniente a uti-
das as transformações unitárias entre elas na forma lização da representação de Dirac.
explı́cita. A estrutura algébrica do conjunto das Outra motivação do nosso trabalho é o interesse
transformações será estudada. Apresentaremos a atual no tema da equação de Dirac em 1+1 di-
forma mais geral das matrizes de Dirac em 1+1 mensões. Recentemente a equação de Dirac, ou a
dimensões e discutiremos isomorfismos destas ma- equação do tipo Dirac em 1+1 dimensões, são ativa-
trizes. Apresentaremos também algumas aplicações mente utilizadas em estudos nas áreas de matéria
dos resultados obtidos neste trabalho. condensada e fı́sica atômica e molecular, para a
Foi observado que, em trabalhos envolvendo a descrição de sistemas em baixas dimensões que de-
equação de Dirac em 1+1 dimensões, são usadas monstram comportamento relativı́stico de partı́culas
várias representações e em alguns casos surge uma ou quasi-partı́culas. Mencionamos alguns trabalhos
necessidade de transição entre representações. Ve- recentes desta linha de pesquisa. No trabalho [16]
mos que uma descrição completa das representações são consideradas as partı́culas de Dirac em uma
pode ser usada como um ponto de referência para dimensão com massa e velocidade dependentes da
estudos nesse tema. Mencionamos alguns traba- posição. É demonstrado que as soluções do tipo esta-
lhos onde são usadas diferentes representações. Por dos ligados no contı́nuo são possı́veis apenas quando
exemplo, no trabalho [11] é discutida a equação uma relação especial entre massa e velocidade das
de Dirac em 1+1 dimensões com potencial elétrico partı́culas é satisfeita. No trabalho [17], é estudado
V0 = −q |x|. Para a busca de soluções da equação, um hamiltoniano unidimensional do tipo Dirac, com
é usada a representação das matrizes de Dirac massa e velocidade na forma de degrau. São de-
β = σ 1 , α = σ 3 , mas para a discussão do limite não terminadas as extensões auto-adjuntas fı́sicas desse
relativı́stico é usada a representação β = σ 3 , α = σ 1 , hamiltoniano e são apresentados os seus espectros.
chamada de representação “padrão”porque β tem É discutida uma transição através de heteroestrutu-
forma diagonal nesta representação. Uma trans- ras unidimensionais descritas pela equação de Dirac.
formação entre as duas representações é indicada de No artigo [18], é demonstrado que o limite de con-
forma implı́cita no trabalho [11]. No trabalho [12] é finamento da partı́cula de Dirac de uma dimensão
considerada a equação de Dirac em 1+1 dimensões espacial
√ sujeita ao potencial vetorial e escalar é
com potencial escalar Vs = g |x|. Para a busca λC / 2, onde λC é comprimento de onda Compton
de soluções da equação, é usada a representação da partı́cula. A validade do limite de confinamento
das matrizes de Dirac β = σ 1 , α = σ 2 , chamada é estendida para os potenciais não simétricos. No
por alguns autores, como o da Ref. [13], por exem- artigo [19], é construı́do o operador de “time of
plo, de representação de Jackiw-Rebbi. Para a dis- arrival”conjugado ao hamiltoniano que descreve a
cussão do limite não relativı́stico é usada a re- partı́cula relativı́stica de spin 1/2 de uma dimensão
presentação β = σ 3 , α = σ 2 . No trabalho [12] é espacial. No artigo é demostrado que o operador
apresentada também uma transformação unitária construı́do consiste de um termo Tb cuja ação é a
entre as duas representações
! na forma explı́cita mesma do caso de spin-0 e outro termo Tb0 que
1 1 comuta com o hamiltoniano. Impondo a condição
U = √i2 . No artigo [14] é discutida a
−1 1 de invariância relativa a inversão da paridade no

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e3312-8 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

operador de “time of arrival”, o operador contém Para partı́culas e antipartı́culas temos as relações
somente o termo Tb. No trabalho [20], é considerada entre as representações distintas:
a equação de Dirac em 1+1 dimensões com potenci-
ais mistos vetorial-escalar-pseudoescalar da forma ψe+ = U ψ+ = e−ipx U up = e−ipx u
ep , u
ep = U up ,
quadrada, que representam a mais geral estrutura de (58)
ipx ipx
Lorentz do potencial matricial. É demonstrado que ψ− = U ψ− = e U vp = e vp , vp = U vp . (59)
e e e
a existência de estados ligados é condicionada pela
As matrizes de Dirac β, α são hermitianas
magnitude do potencial pseudoescalar que possui
um valor crı́tico. β † = β, α† = α (60)

3. A Equação de Dirac em 1+1 e obedecem as relações


Dimensões
β 2 = α2 = 1, {α, β} = αβ + βα = 0 . (61)
Apresentamos a equação de Dirac em 1+1 dimensões
As condições (60), (61) são obedecidas particular-
na forma hamiltoniana
mente pelas matrizes de Pauli1 da Eq. (37). As duas
Ĥψ = [−iα∂1 + βm] ψ = εψ , (53) matrizes de Dirac β, α podem ser escolhidas arbi-
trariamente entre as três matrizes de Pauli. Uma
onde são usadas as unidades naturais, α, β são as certa escolha das matrizes determina uma repre-
matrizes de Dirac e ∂1 = ∂/∂x1 . A Eq. (53) descreve sentação de matrizes de Dirac e a correspondente
tanto partı́culas quanto antipartı́culas. A solução da representação do spinor.
Eq. (53) para partı́culas pode ser escrita como:
q 4. Notação e Classificação de
ψ+ = e −ipx
up , ε+ = p0 = m2 + p21 Representações

e para antipartı́culas como: Apresentamos todas as representações das matrizes


de Dirac na forma explı́cita como:
q
ψ− = eipx vp , ε− = −p0 = − m2 + p21 , β = sσ i , α = tσ j ; s = ±1, t = ±1,
i, j = 1, 2, 3; i 6= j . (62)
onde px = pµ xµ = p0 x0 + p1 x1 e up , vp são spinores
constantes que obedecem às equações:
As representações definidas por β = σ i e α = σ j
com εijk = +1, denominaremos de representações
[−αp1 + βm] up = ε+ up , [αp1 + βm] vp = ε− vp .
cı́clicas, e com εijk = −1, denominaremos de re-
(54)
presentações anticı́clicas, sendo εijk o sı́mbolo de
As matrizes de Dirac β, α não são definidas de forma
Levi-Civita, ε123 = +1. As representações com valo-
única. Uma das escolhas das matrizes de Dirac de-
res s = +1 e t = +1 da Eq. (62), denominaremos
termina uma certa representação. Os spinores de
de representações principais. As representações com
Dirac nas representações distintas são relacionados
s = −1 e/ou t = −1 chamaremos de representações
por uma transformação unitária U :
não principais. Para as matrizes de Dirac β, α e
spinores ψ em uma certa representação usaremos a
ψe = U ψ, U † U = 1 . (55)
notação:
Se ψ obedece a equação de Dirac (53), então ψe β [iq ] , α[iq ] ; u[ip q ] , vp[iq ] ,
obedece a equação onde o ı́ndice i representa um quarteto de repre-
h i sentações em que β, α são associadas às mesmas
−iα∂
e 1 + βm
e ψe = εψe , (56) matrizes de Pauli. Para as representações cı́clicas
utilizaremos i = 1, 2, 3 e para as representações
onde anticı́clicas utilizaremos i = 4, 5, 6, conforme a Ta-
βe = U βU † , α
e = U αU † . (57) bela (1). O subı́ndice q indica as representações
1
O caso mais geral da forma das matrizes de Dirac é discutida separadamente no Apêndice.

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Smirnov e Farias Jr. e3312-9

Tabela 1: Representações principais: cı́clicas e anticı́clicas.


Representações Representações
β α γ0 = β γ 1 = βα β α γ0 = β γ 1 = βα
cı́clicas anticı́clicas
1 σ1 σ2 σ1 iσ 3 4 σ1 σ3 σ1 −iσ 2
2 σ2 σ3 σ2 iσ 1 5 σ2 σ1 σ2 −iσ 3
3 σ3 σ1 σ3 iσ 2 6 σ3 σ2 σ3 −iσ 1

não principais, com q = 1, 2, 3, o valor q = 0 é re- Para a conjugação hermitiana das matrizes das
servado para representações principais, conforme a transformações temos:
Tabela (2). Para as manipulações com objetos das
u[b] [a]
p = Uba up ,
representações principais utilizaremos uma notação
[i] [i] portanto
simplificada sem o subı́ndice “0”: β [i] , α[i] ; up , vp .
† [b]
Uba up = u[a]
p .
Tabela 2: Representações não principais.
q s t De outro modo
0 +1 +1 u[a] [b]
p = Uab up ,
1 +1 −1
portanto
2 −1 +1 †
Uab = Uba . (64)
3 −1 −1
Com o uso da regra de composição das trans-
formações (63) podemos escrever no caso geral:
5. Transformações Unitárias entre
Representações Ujr iq = Ujr j0 Uj0 i0 Ui0 iq . (65)
Então, para determinar as transformações entre duas
Nesta seção determinaremos as transformações
representações no caso geral, é suficiente determinar
unitárias entre as várias representações da forma
[i ] [j ] separadamente as transformações entre todas as re-
(62). Para uma transformação de up q para up r
[i ] [j ] presentações principais, as transformações do tipo
usaremos a notação Ujr ,iq : up q → up r , tal que: Uj0 i0 , e as transformações entre uma representação
principal e as representações não principais dentro
u[j r] [iq ]
p = Ujr ,iq up . de um quarteto, isto é, as transformações do tipo
Indicaremos algumas propriedades das trans- Ui0 iq e Ujr j0 .
formações. Para uma escrita compacta das fórmulas, Para encontrar as transformações na forma
utilizaremos uma notação condensada do sı́mbolo explı́cita, decompomos U na base σ 0 , σ i , onde
das representações: [iq ] = [a] , [jr ] = [b] , ... . Es- σ i são as matrizes de Pauli e σ 0 é a matriz unidade
crevemos uma regra de composição de duas trans- 2 × 2:
formações. Sendo U = aµ σ µ = a0 σ 0 + ai σ i
!
u[c] [b] [b] [a] a0 + a3 a1 − ia2
p = Ucb up , up = Uba up , = , aµ ∈ C . (66)
a1 + ia2 a0 − a3
obtem-se Nesta decomposição a matriz U é definida por 4
u[c] [a]
p = Ucb Uba up . coeficientes aµ . Juntando os coeficientes aµ em um
Por outro lado, ao utilizarmos a expressão objeto de 4 componentes, escreveremos também U
na forma:
u[c] [a]
p = Uca up ,
U = (aµ ) = (a0 , a1 , a2 , a3 ) = (a0 , ai ) = (a0 , ~a) .
chegamos a (67)
Uca = Ucb Uba . (63) Sendo U unitária, U † U = 1, os coeficientes aµ devem
satisfazer as condições:
Indicamos que a transformação do tipo Uaa repre-
senta uma transformação identidade que é represen- |a0 |2 + ~a∗ · ~a = |a0 |2 + |a1 |2
tada por uma matriz unidade. + |a2 |2 + |a3 |2 = 1 , (68)

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e3312-10 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

Apresentaremos também as seguintes relações úteis


a∗0 aj + a∗j a0 + a∗n ak iεnkj para cálculos:
= a∗0~a + ~a∗ a0 + i~a∗ × ~a = 0. (69)

U σ 1 = a0 σ 1 + a1 − ia2 σ 3 + ia3 σ 2 = (a1 , a0 , ia3 , −ia2 ) , (70)


2 2 3 1
Uσ = a0 σ + ia1 σ + a2 − ia3 σ = (a2 , −ia3 , a0 , ia1 ) ,
3
Uσ = a0 σ 3 − ia1 σ 2 + ia2 σ 1 + a3 = (a3 , ia2 , −ia1 , a0 ) ,
σ1U = a0 σ 1 + a1 + ia2 σ 3 − ia3 σ 2 = (a1 , a0 , −ia3 , ia2 ) ,
σ2U = a0 σ 2 − ia1 σ 3 + a2 + ia3 σ 1 = (a2 , ia3 , a0 , −ia1 ) ,
σ3U = a0 σ 3 + ia1 σ 2 − ia2 σ 1 + a3 = (a3 , −ia2 , ia1 , a0 ) ,
h i h i h i
σ 1 , U = 2ia2 σ 3 − 2ia3 σ 2 , σ 2 , U = −2ia1 σ 3 + 2ia3 σ 1 , σ 3 , U = 2ia1 σ 2 − 2ia2 σ 1 , (71)
n o n o n o
σ 1 , U = 2a0 σ 1 + 2a1 , σ 2 , U = 2a0 σ 2 + 2a2 , σ 3 , U = 2a0 σ 3 + 2a3 , (72)
onde, os colchetes [, ] designam o comutador, definido por [A, B] = AB+BA.

5.1. Transformações entre Representações Com o uso das Eqs. (70) obtemos:
Principais
(a2 , ia3 , a0 , −ia1 ) = (a1 , a0 , ia3 , −ia2 ) ,
Primeiramente consideraremos as transformações en-
tre as representações principais. Para a determinação (a3 , −ia2 , ia1 , a0 ) = (a2 , −ia3 , a0 , ia1 ) ,
da forma explı́cita das transformações, usaremos as
Eqs. (57) escritas como: que resulta em
β [j] Uji = Uji β [i] , α[j] Uji = Uji α[i] . (73)
a0 = ia3 , a1 = a2 e a0 = ia1 , a3 = a2 ,
Dividimos este problema em duas etapas. Na pri-
meira etapa determinaremos as transformações entre portanto
as representações dentro do setor cı́clico e anticı́clico,
na segunda etapa determinaremos as transformações a1 = a2 = a3 = −ia0 . (75)
entre as representações cı́clicas e anticı́clicas.
Para satisfazer a Eq. (68) temos:
5.1.1. Transformações do Setor Cı́clico 1
(Anticı́clico) 4 |a0 |2 = 1 ⇒ a0 = eiϕ , (76)
2
Iniciamos com a determinação das transformações
entre as representações do setor cı́clico. As trans- onde eiϕ é um fator de fase arbitrário, portanto
formações entre as representações do setor anticı́clico
1
serão obtidas como consequência dos cálculos. Para U21 = eiϕ (1, −i, −i, −i) .
[1]
a determinação da transformação U21 : up → up
[2] 2
da Eq. (73) e da Tabela (1) temos: Substituindo os coeficientes das Eqs. (75), (76) na
U21 : σ 2 U = U σ 1 , σ 3 U = U σ 2 . (74) Eq. (66), obtemos:

! √ −iπ/4 √ iπ/4 !
1 1 − i −i − 1 1 −
√ −iπ/4 √ 2eiπ/4
2e
U21 = eiϕ = eiϕ
2 −i + 1 1 + i 2 2e 2e
! !
1 √ 1 −eiπ/2 1 1 −i
= eiϕ 2e−iπ/4 = √ eiϕ e−iπ/4 .
2 1 eiπ/2 2 1 i

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Impondo ϕ = π/4, temos Notamos que as transformações são determinadas


! a menos de um fator de fase arbitrário. Para refletir
1 1 1 −i este fato, em vez do sinal de igualdade usaremos
U21 = eiπ/4 (1, −i, −i, −i) = √ = U0 .
2 2 1 i o sı́mbolo ' que significará igualdade a menos de
(77) um fator de fase arbitrário. Unimos os resultados
Na Eq. (77) é introduzida também a notação U0 dos cálculos das transformações do setor cı́clico e
para esta matriz, a qual será usada nos cálculos anticı́clico em expressões compactas:
futuros.
A matriz inversa é determinada pela Eq. (64): U21 ' U32 ' U13 ' U54 ' U65 ' U46 ' U0
!
1 1 −i 1
1
! =√ ' (1, −i, −i, −i) , (84)
† 1 1 2 1 i 2
U12 = U21 =√
2 i −i
1 −iπ/4 U12 ' U23 ' U31 ' U45 ' U56 ' U64 ' U0†
= e (1, i, i, i) = U0† . (78)
2 !
1 1 1 1
Notamos que a Eq. (74) escrita na forma =√ ' (1, i, i, i) . (85)
2 i −i 2
σ3U = U σ2, σ2U = U σ1 , Notamos que, a partir da regra de composição da
Eq. (63), temos
pode ser interpretada como a transformação U65 :
[5] [6] U21 U13 = U23 , U12 U23 = U13 ,
up → up do setor anticı́clico, portanto
† portanto, das Eqs. (84) e (85), obtemos
U65 = U21 = U0 , U56 = U65 = U0† . (79)
U02 ' U0† , U0†2 ' U0 . (86)
Para a determinação da transformação U32 :
[2] [3]
up → up da Eq. (73) e da Tabela (1) temos:
5.1.2. Transformações entre Representações
3 2 1
U32 : σ U = U σ , σ U = U σ . 3
(80) Cı́clicas e Anticı́clicas
Determinaremos as transformações entre as repre-
A Eq. (80) escrita na forma
sentações cı́clicas e anticı́clicas. Iniciamos com a
[6] [2]
σ1U = U σ3, σ3U = U σ2 , transformação U26 : up → up . Da Eq. (73) e da
Tabela (1) temos:
pode ser interpretada também como a transformação
[6] [4] U26 : σ 2 U = U σ 3 , σ 3 U = U σ 2 . (87)
U46 : up → up do setor anticı́clico.
Para a determinação da transformação U13 : Usando as Eqs. (70), temos
[3] [1]
up → up da Eq. (73) e da Tabela (1) temos:
(a2 , ia3 , a0 , −ia1 ) = (a3 , ia2 , −ia1 , a0 ) ,
1 3 2 1
U13 : σ U = U σ , σ U = U σ . (81) (a3 , −ia2 , ia1 , a0 ) = (a2 , −ia3 , a0 , ia1 ) ,

A Eq. (81) escrita na forma que resulta em

σ2U = U σ1, σ1U = U σ3 , a0 = −ia1 , a2 = a3 e a0 = ia1 , ia2 = ia3 ,

pode ser interpretada como a transformação U54 : portanto


[4] [5] a0 = a1 = 0, a2 = a3 .
up → up do setor anticı́clico.
Realizando cálculos semelhantes aos anteriores, Para satisfazer a Eq. (68) temos
chegamos à mesma condição da Eq. (75) para os
eiϕ
coeficientes aµ , portanto 2 |a2 |2 = 1 ⇒ a2 = a3 = √ .
2
U32 = U13 = U0 , U23 = U31 = U0† . (82) Impondo ϕ = 0, obtemos
!
e 1 1 1 −i
U26 = √ (0, 0, 1, 1) = √ . (88)
U46 = U54 = U0 , U64 = U45 = U0† . (83) 2 2 i −1

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e3312-12 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

Notamos que Impondo ϕ = 0, obtemos



!
U26 = U26 = U62 . (89) 1 1 0 1−i
U15 = √ (0, 1, 1, 0) = √ .
2 2 1+i 0
Para a determinação da transformação U34 : (94)
[4] [3]
up → up da Eq. (73) e da Tabela (1) temos: Notamos que
U34 : σ 3 U = U σ 1 , σ 1 U = U σ 3 . (90) †
U15 = U15 = U51 . (95)

Com o uso das Eqs. (70), temos: [4]


Agora determinamos a transformação U24 : up →
[2]
up . Da Eq. (73) e da Tabela (1) temos:
(a3 , −ia2 , ia1 , a0 ) = (a1 , a0 , ia3 , −ia2 ) ,
(a1 , a0 , −ia3 , ia2 ) = (a3 , ia2 , −ia1 , a0 ) , U24 : σ 2 U = U σ 1 , σ 3 U = U σ 3 (96)

que resulta em Com o uso das Eqs. (70), temos

a0 = −ia2 , a1 = a3 e a0 = ia2 , a1 = a3 , (a2 , ia3 , a0 , −ia1 ) = (a1 , a0 , ia3 , −ia2 ) ,


(a3 , −ia2 , ia1 , a0 ) = (a3 , ia2 , −ia1 , a0 ) ,
portanto
a0 = a2 = 0, a1 = a3 . que resulta em
Para satisfazer a Eq. (68) temos a2 = a1 , ia3 = a0 e a1 = 0, a2 = 0 ,
eiϕ
2 |a1 |2 = 1 ⇒ a1 = a3 = √ . portanto
2
a1 = a2 = 0, a3 = −ia0 .
Impondo ϕ = 0, obtemos
! Para satisfazer a Eq. (68) temos
1 1 1 1
U34 = √ (0, 1, 0, 1) = √ . (91)
2 2 1 −1 eiϕ eiϕ
2 |a0 |2 = 1 ⇒ a0 = √ ⇒ a3 = −i √ ,
2 2
Notamos que
portanto

U34 = U34 = U43 . (92) !
eiϕ eiϕ 1−i 0
[5]
U24 = √ (1, 0, 0, −i) = √ .
Para determinação da transformação U15 : up → 2 2 0 1+i
[1]
up da Eq. (73) e da Tabela (1) temos: Impondo ϕ = 0, temos:
1 2 2 1
U15 : σ U = U σ , σ U = U σ . (93)
!
1 1−i 0 1
U24 =√ = √ (1, 0, 0, −i) .
2 0 1+i 2
Com o uso das Eqs. (70), temos
(97)
(a1 , a0 , −ia3 , ia2 ) = (a2 , −ia3 , a0 , ia1 ) , A transformação inversa é determinada de acordo
(a2 , ia3 , a0 , −ia1 ) = (a1 , a0 , ia3 , −ia2 ) , com a Eq. (64):

que resulta em U42 = U24 .

a0 = −ia3 , a1 = a2 e a0 = ia3 , a1 = a2 , Observamos que as equações (96) escritas como

σ3U = U σ3, σ2U = U σ1,


portanto
a0 = a3 = 0, a1 = a2 . podem ser interpretadas como as relações para a
[3] [6]
Para satisfazer a Eq. (68) temos determinação da transformação U63 : up → up ,
portanto
eiϕ
2 |a1 |2 = 1 ⇒ a1 = a2 = √ , †
U63 = U36 †
= U24 , U36 = U63 †
= U24 = U42 . (98)
2

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Para a determinação da transformação U16 : portanto


[6] [1]
up → up da Eq. (73) e da Tabela (1) temos: a2 = a3 = 0, a1 = ia0 .
Para satisfazer a Eq. (68) temos
U16 : σ 1 U = U σ 3 , σ 2 U = U σ 2 . (99)
eiϕ eiϕ
Com o uso das Eqs. (70), temos 2 |a0 |2 = 1 ⇒ a0 = √ , a1 = i √ .
2 2
(a1 , a0 , −ia3 , ia2 ) = (a3 , ia2 , −ia1 , a0 ) , Impondo ϕ = 0, obtemos
(a2 , ia3 , a0 , −ia1 ) = (a2 , −ia3 , a0 , ia1 ) , !
1 1 1 i
U14 = √ (1, i, 0, 0) = √ . (103)
que resulta em 2 2 i 1

a1 = a3 , a0 = ia2 e a1 = 0, a3 = 0 , A transformação inversa é determinada de acordo


com a Eq. (64):
portanto

U41 = U14 .
a1 = a3 = 0, a2 = −ia0 .
Observamos que as equações (99) escritas como
Para satisfazer a Eq. (68) temos
σ2U = U σ3, σ1U = U σ1
eiϕ eiϕ
2 |a0 |2 = 1 ⇒ a0 = √ ⇒ a2 = −i √ . podem ser interpretadas como as relações para a
2 2 [3] [5]
determinação da transformação U53 : up → up ,
Impondo ϕ = 0, obtemos portanto
† † †
!
1 1 1 −1 U53 = U14 = U35 , U35 = U53 = U14 = U41 . (104)
U16 = √ (1, 0, −i, 0) = √ . (100)
2 2 1 1
Todas as transformações entre representações
A transformação inversa é determinada de acordo cı́clicas e anticı́clicas são apresentadas nas Tabe-
com a Eq. (64): las (3) e (4) na forma matricial, e na Tabela (5) na
forma de componentes. Apresentamos também as

U61 = U16 . propriedades das transformações:

Observamos que as equações (99) escritas como U34 = U43 , U26 = U62 , U15 = U51 , (105)
† † †
σ2U = U σ2, σ1U = U σ3, U16 = U25 , U24 = U36 , U14 = U35 . (106)

podem ser interpretadas como as relações para a 5.2. Transformações entre Representações
[2] [5]
determinação da transformação U52 : up → up , dos Quartetos
portanto
Nesta seção consideraremos as transformações entre
† † †
U52 = U16 = U25 , U25 = U52 = U16 = U61 . (101) uma representação principal e as representações não
principais dentro de um quarteto, as transformações
Para a determinação da transformação U14 : do tipo Ui0 iq . Usaremos as Eqs. (57) na forma:
[4] [1]
up → up da Eq. (73) e da Tabela (1) temos:
β [i0 ] Ui0 iq = Ui0 iq β [iq ] , α[i0 ] Ui0 iq = Ui0 iq α[iq ] .
1 1 2 3
U14 : σ U = U σ , σ U = U σ (102) (107)
Determinaremos as transformações com i = 1, isto
Usando as Eqs. (70), temos
é, U10 1q . Para q = 1, da Eq. (107) e da Tabela (1)
(a1 , a0 , −ia3 , ia2 ) = (a1 , a0 , ia3 , −ia2 ) , temos:
(a2 , ia3 , a0 , −ia1 ) = (a3 , ia2 , −ia1 , a0 ) , q = 1 : σ 1 U = U σ 1 , −σ 2 U = U σ 2 (108)

que resulta em ou
h i n o
a2 = a3 = 0 e a2 = a3 , ia3 = ia2 , σ 1 , U = σ 1 U −U σ 1 = 0, σ 2 , U = σ 2 U +U σ 2 = 0 .

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2016-0056 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 38, nº 3, e3312, 2016
e3312-14 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

Tabela 3: As transformações Uij das representações anticı́clicas para as representações cı́clicas na forma matricial.
Uij j = 4  j=5
  j = 6 
1 1 i 0 1−i 1 −1
i=1 √ √1 √1
i 1 1+i 0
 1 1 
2 2 2
   
1 1−i 0 1 1 1 1 1 −i
i=2 √ √ √
0 1+i
 −1 1  i −1
2 2 2
  
1 1 1 1 1 −i 1 1+i 0
i=3 √ √ √
2 1 −1 2 −i 1 2 0 1−i

Tabela 4: As transformações Uji das representações cı́clicas para as representações anticı́clicas na forma matricial.
Uji  i=1   i=2  i = 3 
1 −i 1+i 0 1 1
j=4 √1 √1 1

−i 1 1−i 1 −1
0
2 2 2
    
0 1−i 1 −1 1 i
j=5 √1 1
√ √1
1+i 0 i 1
 1 1 
2 2 2
   
1 1 1 −i 1−i 0
j=6 √1 1
√ √1
2 −1 1 2 i −1 2 0 1+i

Tabela 5: As transformações entre representações cı́clicas e anticı́clicas Uij , Uji na forma de componentes.
Uij j=4 j=5 j=6
i=1 √1 (1, i, 0, 0) √1 (0, 1, 1, 0) √1 (1, 0, −i, 0)
2 2 2
1
√ (1, 0, 0, −i) √1 (1, 0, i, 0) √1 (0, 0, 1, 1)
i=2 2 2 2
i=3 √1 (0, 1, 0, 1) √1 (1, −i, 0, 0) √1 (1, 0, 0, i)
2 2 2

Uji i=1 i=2 i=3


j=4 √1 (1, −i, 0, 0) √1 (1, 0, 0, i) √1 (0, 1, 0, 1)
2 2 2
j=5 √1 (0, 1, 1, 0) √1 (1, 0, −i, 0) √1 (1, i, 0, 0)
2 2 2
j=6 √1 (1, 0, i, 0) √1 (0, 0, 1, 1) √1 (1, 0, 0, −i)
2 2 2

Com o uso das Eqs. (71) e (72) obtemos que dá


a0 = a1 = a3 = 0 .
a2 = a3 = 0; a0 = a2 = 0 ,
Para satisfazer a Eq. (68) temos:
que dá |a2 | = 1 ⇒ a2 = eiϕ .
a0 = a2 = a3 = 0 .
Escolhendo ϕ = 0, obtemos
Para satisfazer a Eq. (68) temos:
U10 12 = (0, 0, 1, 0) = σ 2 . (111)

|a1 | = 1 ⇒ a1 = e .
Para q = 3, da Eq. (107) e da Tabela (1) temos:
Escolhendo ϕ = 0, obtemos
q = 3 : −σ 1 U = U σ 1 , −σ 2 U = U σ 2 (112)
1
U10 11 = (0, 1, 0, 0) = σ . (109) ou n o n o
σ 1 , U = 0, σ2, U = 0 .
Para q = 2, da Eq. (107) e da Tabela (1) temos:
Usando as Eqs. (71) e (72) obtemos
q = 2 : −σ 1 U = U σ 1 , σ 2 U = U σ 2 (110)
a0 = a1 = 0; a0 = a2 = 0 ,
ou n o h i que dá
σ 1 , U = 0, σ 2 , U = 0 .
a0 = a1 = a2 = 0 .
Com o uso das Eqs. (71) e (72) obtemos Para satisfazer a Eq. (68) temos
a0 = a1 = 0; a1 = a3 = 0 , |a3 | = 1 ⇒ a3 = eiϕ .

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Smirnov e Farias Jr. e3312-15

Escolhendo ϕ = 0, obtemos 6. Estrutura Algébrica do Conjunto das


Transformações Unitárias
U10 13 = (0, 0, 0, 1) = σ 3 . (113)
As Eqs. (108) escritas como Nesta seção estudaremos a estrutura algébrica do
conjunto das transformações unitárias entre as várias
−σ 2 U = U σ 2 , σ 1 U = U σ 1 : q = 2 representações. Antes disso, daremos uma noção de
podem ser interpretadas como as relações para deter- grupos como entidade matemática para os leitores
minação da transformação U50 52 do setor anticı́clico, que não tem conhecimento neste campo. Textos
portanto introdutórios sobre este assunto podem ser encon-
U50 52 = U10 11 = σ 1 . (114) trados, por exemplo, nas Refs. [21] e [22].

As Eqs. (110) escritas como


6.1. Definições Básicas da Teoria de Grupos
σ 2 U = U σ 2 , −σ 1 U = U σ 1 : q = 1
Um conjunto de elementos G em que é definida uma
podem ser interpretadas como as relações para deter-
operação (×), entre dois elementos, forma um grupo,
minação da transformação U50 51 do setor anticı́clico,
se, para seus elementos é satisfeito o seguinte sis-
portanto
tema de axiomas:
U50 51 = U10 12 = σ 2 . (115)
1. Sejam g1 e g2 elementos de G, então o elemento
As Eqs. (112) escritas como g1 × g2 também pertence a G:
−σ 2 U = U σ 2 , −σ 1 U = U σ 1 : q = 3
∀g1 , g2 ∈ G, g1 × g2 ∈ G. (120)
podem ser interpretadas como as relações para deter-
minação da transformação U50 53 do setor anticı́clico, 2. Para todos os elementos pertencentes a G, é satis-
portanto feita a lei de associatividade, isto é, para quaisquer
U50 53 = U10 13 = σ 3 . (116) três elementos g1 , g2 e g3 pertencentes a G, é satis-
Para determinar as transformações com i = 2, 3 feita a relação:
do setor cı́clico e as correspondentes transformações
com i = 6, 4 do setor anticı́clico procedemos de ∀g1 , g2 , g3 ∈ G, (g1 × g2 ) × g3 = g1 × (g2 × g3 ) .
forma semelhante e obtemos os resultados: (121)
3. Existe o elemento neutro e em G:
U20 21 = U60 62 = σ 2 , U20 22 = U60 61 = σ 3 ,
U20 23 = U60 63 = σ 1 . (117) ∃e ∈ G : ∀g ∈ G, e × g = g × e = g. (122)

U30 31 = U40 42 = σ 3 , U30 32 = U40 41 = σ 1 , O elemento neutro e é único.


U30 33 = U40 43 = σ 2 . (118) 4. Para cada elemento g em G existe um elemento
inverso g −1 que também pertence a G:
Os resultados dos cálculos das transformações do
tipo Ui0 iq são apresentados na Tabela (6).
∀g ∈ G, ∃g −1 : g × g −1 = g −1 × g = e. (123)
Observamos que
Ui0 ,iq = Uiq ,i0 . (119) O elemento inverso g −1 é único.

Tabela 6: As transformações Ui0 ,iq entre uma representação principal e as representações não principais para os quartetos
indicados por i.
Ui0 ,iq q = 1 (+−) q = 2 (−+) q = 3 (−−)
i=1 σ 1 = (0, 1, 0, 0) σ 2 = (0, 0, 1, 0) σ 3 = (0, 0, 0, 1)
i=2 σ2 σ3 σ1
i=3 σ3 σ1 σ2
i=4 σ1 σ3 σ2
i=5 σ2 σ1 σ3
i=6 σ3 σ2 σ1

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e3312-16 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

O axioma 1 é denominado de axioma de fecha- é, o resultado não depende da ordem dos números
mento, o 2 de associatividade, o 3 de elemento neu- multiplicados. Portanto o grupo (R+ , ·) é abeliano.
tro e o 4 de elemento inverso. Agora apresentamos alguns exemplos de subgru-
Se para os quatro axiomas acima é adicionado um pos.
axioma de comutatividade: 1. Nos exemplos 1 e 2 acima mostramos que os
5. Para quaisquer elementos g1 e g2 pertencentes a conjuntos Z e R com a operação de soma formam
G, é satisfeita a relação: grupos. Z é o subconjunto de R, portanto Z é um
subgrupo de R.
∀g1 , g2 ∈ G, g1 × g2 = g2 × g1 , (124) 2. Consideremos o conjunto de todos os números
ı́mpares com a operação de soma que é um subcon-
o grupo é denominado de grupo comutativo ou abeli-
junto de números inteiros. Este conjunto não forma
ano. Se um grupo não obedece o axioma de comuta-
um grupo, pois a soma de dois números ı́mpares é
tividade, ele é denominado de grupo não comutativo
um número par. Portanto, o axioma de fechamento
ou não abeliano.
não é obedecido. Entretanto, a situação é outra com
Se um subconjunto G0 de G é fechado sob a
o conjunto de todos os números pares, que também
operação (×), isto é, para todos elementos g10 e
é um subconjunto dos números inteiros. Ele obedece
g20 de G0 temos que g10 × g20 também pertence a G0 :
os axiomas de grupo: a soma de dois números pares
∀g10 , g20 ∈ G0 , g10 × g20 ∈ G0 , (125) é um número par, a operação de soma de números
pares é associativa, o elemento neutro é o zero, o ele-
então, G0 forma um grupo e é denominado subgrupo mento inverso para um dado número par é o número
de G. com o sinal oposto. Portanto, o conjunto de todos
Apresentamos alguns exemplos simples de grupos. números pares é um subgrupo de números inteiros.
1. O conjunto de números inteiros Z com a
operação de soma, que designamos por (Z, +). É
simples verificar os axiomas acima. A soma de quais- 6.2. Estrutura Algébrica do Conjunto das
quer dois números inteiros é um número inteiro. A Transformações
operação de soma para números inteiros é associ-
ativa. O elemento neutro em Z é o zero, 0. Para O conjunto que consideraremos nesta seção é o con-
qualquer número inteiro n o elemento inverso é −n. junto das transformações unitárias entre as várias
Então, (Z, +) é um grupo. A soma de dois números representações das matrizes de Dirac que foi ob-
inteiros é comutativa, isto é, o resultado não de- tido nas seções anteriores. Cada transformação é
pende da ordem dos números somados. Portanto, o representada por uma matriz unitária. Uma ação
grupo (Z, +) é abeliano. consecutiva das transformações, que introduz uma
2. O conjunto de números reais R com a operação composição de transformações, é definida como o
de soma, que designamos por (R, +). A soma de produto usual de matrizes. Nosso objeto de estudo
quaisquer dois números reais é um número real. A é o conjunto de matrizes unitárias indicado na Eq.
operação de soma para números reais é associativa. (65):
O elemento neutro em (R, +) é o zero, 0. Para qual- Ujr iq = Ujr j0 Uj0 i0 Ui0 iq . (126)
quer número real x o elemento inverso em (R, +)
é −x. Então, (R, +) forma um grupo. Por razões Entre os elementos do conjunto é definida uma
similares ao exemplo 1, podemos concluir que (R, +) operação de multiplicação: o produto matricial. O
é um grupo abeliano. produto de matrizes é uma operação associativa.
3. O conjunto de números reais positivos R+ com Sendo U transformações unitárias, as transformações
a operação de multiplicação, que designamos por inversas são definidas por U −1 = U † . Ressaltamos
(R+ , ·). O produto de quaisquer dois números reais que entre as matrizes na Eq. (126) está presente
positivos é um número real positivo. A operação de também a matriz unidade.
multiplicação para números reais positivos é associ- Na investigação da estrutura do conjunto não dis-
ativa. O elemento neutro em (R+ , ·) é a unidade, 1. tinguiremos as transformações que diferem por um
Para qualquer número real x o elemento inverso em fator de fase. Em outras palavras, diremos que as
(R+ , ·) é 1/x. Então, (R+ , ·) forma um grupo. O pro- transformações que diferem por um fator de fase
duto de números reais positivos é comutativo, isto pertencem a uma mesma classe de equivalência, que

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Smirnov e Farias Jr. e3312-17

denotamos pelo sı́mbolo ' Usando a Eq. (127), temos:

U ' eiϕ U . ∀c1 , c2 ∈ C, c1 c2 = σ µ σ ν ' σ λ ∈ C , (134)

Primeiramente, observamos que o conjunto que


∀c ∈ C, ∀a ∈ A, ca = σ λ σ µ U0 σ ν
inclui as matrizes de Pauli σ i e a matriz unidade σ 0 , 0
µ
 0 i
representado por σ = σ , σ , forma um grupo ' σ µ U0 σ ν ∈ A; (135)
µ ν λ µ ν0
em classes de equivalência, porque ac = σ U0 σ σ ' σ U0 σ ∈A,

σµσν ' σλ . (127)


∀c ∈ C, ∀b ∈ B, cb = σ λ σ µ U0† σ ν
n o 0
O conjunto de três transformações σ 0 , U0 , U0† ' σ µ U0† σ ν ∈ B; (136)
0
também forma um grupo em classes de equivalência, bc = σ µ
U0† σ ν σ λ 'σ µ
U0† σ ν ∈B .
porque
U02 ' U0† , U0†2 ' U0 , (128) Usando as Eqs. (127), (130) e (131), temos:
que foi indicado na Eq. (86). ∀a ∈ A, ∀b ∈ B, ab = σ µ U0 σ ν σ α U0† σ β
0 0 0 0
' σ µ σ ν U0 U0† σ α σ β ' σ µ σ β ' σ λ ∈ C ;
6.2.1. Estrutura do Setor Cı́clico 0 0
(Anticı́clico) das Transformações ba = σ α U0† σ β σ µ U0 σ ν ' σ α σ β U0† U0 σ µ σ ν
0 0
' σα σν ' σλ ∈ C .
Na primeira etapa discutiremos as transformações
entre as representações do setor cı́clico (anticı́clico). Usando as Eqs. (127), (130), (131) e a Eq. (128),
Qualquer transformação, inclusive as transformações temos:
inversas, no setor cı́clico (anticı́clico) pode ser apre-
sentada em uma das formas: ∀a1 , a2 ∈ A, a1 a2 = σ µ U0 σ ν σ α U0 σ β
0 0 0 0
' σ µ σ ν U02 σ α σ β ' σ µ U0† σ β ∈ B ;
µ 0 ν
σ σ σ , σ U0 σ , σ µ ν µ
U0† σ ν .
∀b1 , b2 ∈ B, b1 b2 = σ µ U0† σ ν σ α U0† σ β
0 0 0 0
Levando em conta a Eq. (127), temos: ' σ µ σ ν U0†2 σ α σ β ' σ µ U0 σ β ∈ A .
σµσ0σν ' σµσν ' σλ . Então, o conjunto X contém o elemento neutro e
possui as propriedades:
Portanto, o conjunto das transformações do setor
cı́clico (anticı́clico), que denotamos por X, tem a ∀x ∈ X, x−1 ∈ X; ∀x1 , x2 ∈ X, x1 x2 ∈ X , (137)
forma:
n o que significa que o conjunto X forma um grupo. O
X = σ λ , σ µ U0 σ ν , σ α U0† σ β . (129) grupo X possui a seguinte subestrutura:

Além disso, por cálculos diretos pode ser demons- ∀a1 , a2 ∈ A, a1 a2 ∈ B;


trado que ∀b1 , b2 ∈ B, b1 b2 ∈ A;
σ 1 U0 ' U0 σ 3 , σ 2 U0 ' U0 σ 1 , σ 3 U0 ' U0 σ 2 (130) ∀c1 , c2 ∈ C, c1 c2 ∈ C ; (138)
∀a ∈ A, ∀b ∈ B, ab ∈ C, ba ∈ C ;
e ∀a ∈ A, ∀c ∈ C, ac ∈ A, ca ∈ A ;
U0† σ 1 'σ 3
U0† , U0† σ 2 'σ 1
U0† , U0† σ 3 'σ 2
U0† , ∀b ∈ B, ∀c ∈ C, bc ∈ B, cb ∈ B .
(131)
As propriedades de multiplicação dos elementos dos
que expressamos de forma simbólica como:
subconjuntos do grupo X são apresentadas também
σ µ U0 ' U0 σ ν , σ µ U0† ' U0† σ ν . (132) na Tabela (7) e na Fig. (1). Das propriedades (130)
e (131), concluı́mos que o grupo X é não abeliano.
Denotaremos os subconjuntos do conjunto X por: Além disso, de acordo com as Eqs. (127) e (128), o
n o n o grupo X contém dois subgrupos não triviais:
C = σ λ , A = {σ µ U0 σ ν } , B = σ α U0† σ β . n o
(133) GU = σ 0 , U0 , U0† , GC = {σ µ } . (139)

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2016-0056 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 38, nº 3, e3312, 2016
e3312-18 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

6.2.2. Estrutura do Conjunto Total das


Tabela 7: Tabela de efeito de multiplicação dos elementos Transformações
dos subconjuntos A, B, C do grupo X. Agora discutiremos o conjunto total das trans-
X C A B
formações. O conjunto total inclui o conjunto das
C C A B
A A B C transformações entre as representações do setor
B B C A cı́clico (anticı́clico) X, estudado na seção ante-
rior, e um conjunto das transformações entre re-
presentações cı́clicas e anticı́clicas, que denotaremos
por Y. Notamos que as transformações entre as re-
presentações cı́clicas e anticı́clicas principais, que
são apresentadas nas Tabelas (3), (4), podem ser
escritas na forma:

Ut , Ut U0 , U0 Ut , Ut U0† , U0† Ut , (140)


U0 Ut U0 , U0 Ut U0† , U0† Ut U0 , U0† Ut U0† ,

onde U0 , U0† são definidas nas Eqs. (84) e (85), e


Ut é uma transformação de transição entre as re-
presentações cı́clicas e anticı́clicas. Para Ut é con-
veniente escolher a transformação U26 , pois U26 =

U26 = U62 :

Ut = U26 , Ut = Ut† ⇒ Ut2 = 1 . (141)

Escrevemos cada uma das transformações da Ta-


bela (3) na forma de composição das transformações
Figura 1: Esquema da estrutura do grupo X. apropriadas utilizando as Eqs. (84), (85) e (141):

U14 = U12 U26 U64 ' U0† Ut U0† , U15 = U12 U26 U65 ' U0† Ut U0 , U16 = U12 U26 ' U0† Ut ,
U24 = U26 U64 ' Ut U0† , U25 = U26 U65 ' Ut U0 , U26 ' Ut ,
U34 = U32 U26 U64 ' U0 Ut U0† , U35 = U32 U26 U65 ' U0 Ut U0 , U36 = U32 U26 ' U0 Ut .

Denotamos
n o os elementos do grupo GU = entre as representações cı́clicas e anticı́clicas na
0 †
σ , U0 , U0 por Vi : forma:
Y = {σ µ Vi Ut Vj σ ν } . (144)
Vi ∈ GU , i = 0, ±1 : V0 = σ 0 ,
Por cálculo direto, pode ser demonstrado que
V+1 = U0 , V−1 = U0† . (142)
Para Vi temos: Ut U0 Ut ' U0† σ 3 , Ut U0† Ut ' U0 σ 2 (145)

∀Vi , Vj ∈ GU , Vi Vj ' Vk ∈ GU ; Vi† ' Vj . (143) ou


As transformações do conjunto (140) podem ser U0 Ut ' Ut U0† σ 3 , U0† Ut ' Ut U0 σ 2 ,
escritas na forma simbólica como:
U0 Ut σ 3 ' Ut U0† , U0† Ut σ 2 ' Ut U0 ,
Vi Ut Vj .
que expressamos simbolicamente como:
Adicionando ainda as transformações não principais,
podemos escrever o conjunto Y das transformações V i Ut ' Ut V j σ µ . (146)

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Smirnov e Farias Jr. e3312-19

Por cálculo direto, pode ser demonstrado também Além disso, escreveremos a Eq. (132) na notação
que usada nesta seção, como

1 1 2 3 3 2
σ µ Vi ' Vi σ ν (149)
σ Ut = −Ut σ , σ Ut = Ut σ , σ Ut = Ut σ ,
(147) e o conjunto X da Eq. (129):
que, por sua vez, pode ser simbolicamente expres-
sada como X = {σ µ Vi σ ν } . (150)

σ µ Ut ' Ut σ ν . (148)

O conjunto total das transformações denotamos por:


n o
Ω = {X, Y} = σ α Vk σ β , σ µ Vi Ut Vj σ ν ; i, j, k = 0, ±1; α, β, µ, ν = 0, 1, 2, 3 (151)

Usando as Eqs. (146), (148) e (149), temos:


0
∀y1 , y2 ∈ Y, y1 y2 = σ µ Vi Ut Vj σ ν σ α Vk Ut Vl σ β ' σ µ Vi Ut Vj σ ν Vk Ut Vl σ β (152)
µ α0 β µ α0 β µ λ
' σ Vi Ut σ Vj Vk Ut Vl σ ' σ Vi Ut σ Vk0 Ut Vl σ ' σ Vi σ Ut2 Vj σ ν Vl σ β
0 0 0 0 0 0
' σ µ Vi σ λ Vj σ ν Vl σ β ' σ µ σ λ Vi Vj Vl σ ν σ β ' σ µ Vj 0 Vl σ β ' σ µ Vl 0 σ β ∈ X .

0
∀x ∈ X, ∀y ∈ Y, xy = σ µ Vi σ ν σ α Vk Ut Vl σ β ' σ µ Vi σ α Ut Vk0 σ λ Vl σ β (153)
µ α0 λ0 β µ0 β0
' σ σ Vi Ut Vk0 Vl σ σ ' σ Vi Ut Vm σ ∈Y;
α β µ ν α µ0 ν
yx = σ Vk Ut Vl σ σ Vi σ ' σ Vk Ut Vl σ Vi σ
0
' σ α V k Ut V l V i σ β σ ν ' σ α V k Ut V m σ λ ∈ Y ;

0
∀x1 , x2 ∈ X, x1 x2 = σ µ Vi σ ν σ α Vj σ β ' σ µ Vi σ ν Vj σ β (154)
µ α0 β µ0 β
' σ σ Vi Vj σ ' σ Vk σ ∈ X .

Então, o conjunto Ω contém um elemento neutro e que, por sua vez, contém os dois subgrupos não
possui as propriedades: triviais:

∀ω ∈ Ω, ω −1 ∈ Ω; ∀ω1 , ω2 ∈ Ω, ω1 ω2 ∈ Ω , (155)

que significa que o conjunto Ω forma um grupo. O


grupo Ω possui a subestrutura:
GU = {Vi } , GC = {σ µ } . (158)
∀x ∈ X, ∀y ∈ Y, xy ∈ Y, yx ∈ Y, (156)
∀y1 , y2 ∈ Y, y1 y2 ∈ X; ∀x1 , x2 ∈ X, x1 x2 ∈ X .

As propriedades de multiplicação dos elementos dos


subconjuntos do grupo Ω são apresentadas também
na Tabela (8) e na Fig. (2). Das propriedades (145),
(147), (130) e (131), concluı́mos que o grupo Ω é não
abeliano. Além disso, de acordo com a Eq. (156) e Tabela 8: Tabela de efeito de multiplicação dos elementos
dos subconjuntos X, Y do grupo Ω.
as Eqs. (127), (128) o grupo Ω contém um subgrupo
Ω X Y
não trivial: X X Y
GX = {σ µ Vi σ ν } , (157) Y Y X

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e3312-20 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

Exigindo a normalização do spinor na forma


u†p up = 1 ,
obtemos
!
2 p21
|ξ| 1+
(ε + m)2
ε2 + 2εm + m2 + p21 2ε2 + 2εm
= |ξ|2 2 = |ξ|2
(ε + m) (ε + m)2
2ε (ε + m)
= |ξ|2
(ε + m)2
r
2ε ε + m iϕ
= |ξ|2 =1⇒ξ= e ,
(ε + m) 2ε
onde ϕ é um fator de fase arbitrário. Portanto,
Figura 2: Esquema da estrutura do conjunto total Ω. !r
1 ε + m iϕ
up = −p1 e
(ε+m) 2ε
7. Forma Explı́cita de Spinores de !
Partı́cula e Antipartı́cula eiϕ ε+m
=p .
2ε (ε + m) −p1
O estudo da estrutura algébrica do conjunto de
Impondo ϕ = 0, obtemos:
transformações nos leva à conclusão de que todas
!
as representações são equivalentes, isto é, uma re- ε+m 1
presentação pode ser obtida a partir de qualquer u[3]
p = nf , nf = p . (159)
−p1 2ε (ε + m)
outra por uma transformação unitária. Usaremos
este fato para a determinação da forma explı́cita Os spinores em outras representações são obtidos a
[3]
de spinores constantes em qualquer representação partir de up com o uso das transformações deter-
a partir de um spinor de uma certa representação. minadas na Seção 5:
Por exemplo, determinaremos a forma explı́cita do
[3] u[ip q ] = Uiq 30 u[3] [3]
p = Uiq i0 Ui0 30 up , (160)
spinor up de partı́cula na representação principal
[3]: β = σ 3 , α = σ 1 . Resolvemos a Eq. (54) para up . onde as transformações Uiq i0 foram apresentadas na
Escrevemos a equação na forma matricial Tabela (6), e Ui0 30 foram escritas na Eq. (84) e na
! ! ! Tabela (3).
m−ε −p1 ξ ξ Escrevendo a equação para spinores de anti-
= 0, up = ,
−p1 −m − ε η η partı́cula da Eq. (54) na forma:

que corresponde ao par das equações com respeito [−αp1 − βm] vp = −ε− vp = ε+ vp ,
às componentes: observamos que esta equação difere da equação para
spinores de partı́cula pelo sinal oposto do termo
− (ε − m) ξ − p1 η = 0 , com β. Portanto, se é usada uma representação
−p1 ξ − (ε + m) η = 0 . com β = sσ i , o spinor de antipartı́cula obedece à
equação para o spinor de partı́cula na representação
Podemos expressar a componente η como: com β = −sσ i . De acordo com a Tabela (2) pode-
mos estabelecer as relações entre spinores de anti-
−p1
η= ξ, partı́cula e spinores de partı́cula nas representações
(ε + m)
correspondentes:
portanto, vp[i0 ] = u[ip 2 ] , vp[i2 ] = u[ip 0 ] ; vp[i1 ] = u[ip 3 ] , vp[i3 ] = u[ip 1 ] .
! !
ξ 1 Com o uso das transformações Uiq i0 da Tabela (6)
up = = −p1 ξ.
η (ε+m) escrevemos os spinores de antipartı́cula a partir do

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Smirnov e Farias Jr. e3312-21

spinor de partı́cula da representação principal cor- Em processo de aplicação do método de transforma-


respondente: das de Darboux são gerados o hamiltoniano novo
Hb D1 e suas autofunções {χD } na representação [11 ]
vp[i0 ] = u[ip 2 ] = Ui2 ,i0 u[ip 0 ] , vp[i2 ] = u[ip 0 ] , (161) (ou [61 ]). Se necessário, é facil voltar à representação
vp[i1 ] = u[ip 3 ] = Ui3 ,i0 u[ip 0 ] , vp[i3 ] = u[ip 1 ] inicial, aplicando a transformação inversa Uiq 11 (ou
= Ui1 ,i0 u[ip 0 ] . Uiq 61 ). Expressamos as etapas de cálculos simboli-
camente como:
No caso particular da representação [3], obtemos,
como um exemplo, a forma explı́cita do spinor de ψ → U ψ → ψD → T DψD → χD → U −1 χD → χ .
antipartı́cula:
Para as transformações diretas temos:
vp[3] = vp[30 ] = up[32 ] = U32 ,30 u[3
p
0]
= σ 1 u[3]
p
U11 iq = U11 10 U10 i0 Ui0 iq = σ 1 U10 i0 Ui0 iq ;
! !
1 ε+m −p1
= nf σ = nf . (162) U61 iq = U61 60 U60 i0 Ui0 iq = σ 3 U60 i0 Ui0 iq
−p1 ε+m

Notamos que o caso de 2+1 dimensões já não exibe e, para as transformações inversas,
a propriedade de equivalência de todas as repre-
sentações e a possibilidade de obtenção de spinores Uiq 11 = Uiq i0 Ui0 10 σ 1 ; Uiq 61 = Uiq i0 Ui0 60 σ 3 .
de antipartı́cula a partir de spinores de partı́cula
por uma transformação unitária. 2. Discutiremos resumidamente também a
existência de férmions de Majorana em 1+1 di-
8. Discussão mensões e sua forma explı́cita. Segundo as Refs. [25]
e [26], os férmions de Majorana podem ser defini-
Nesta seção discutiremos algumas aplicações dos dos como as soluções da equação de Dirac, em que
resultados obtidos no trabalho. é usada a representação em que as componentes
1. Nos trabalhos [23] e [24] é elaborado o método das matrizes γ são imaginárias. No caso de 1+1
de transformadas de Darboux para a equação de dimensões estas representações são [2q ] e [5q ]. Um
Dirac em 1+1 dimensões. O método permite gerar spinor de Majorana obedece a condição
um hamiltoniano novo, junto com suas autofunções
{χD }, a partir de um hamiltoniano iniciante, cujo ψ = γ 0 Cψ ∗ ,
espectro e autofunções {ψD } são conhecidos. Simbo-
licamente escrevemos a aplicação do método como: onde o simbolo ∗ é a conjugação complexa, C é uma
matriz unitária que obedece a condição:
χD = T DψD .
C > = −C , (164)
O método é elaborado para o hamiltoniano que na
nossa notação é escrito como: o simbolo > indica a matriz transposta. Os spino-
ĤD0 = iσ 2 ∂1 + v0 , ĤD0 ψ = εψ , (163) res constantes de partı́cula e antipartı́cula de um
férmion de Majorana obedecem às condições:
onde v0 é um potencial de interação de forma ma-
tricial. Na Eq. (163) é usada a representação de vp = γ 0 Cu∗p , up = γ 0 Cvp∗ . (165)
α = −σ 2 e β = σ 1 ou β = σ 3 . De acordo com a clas-
sificação proposta neste artigo, estas representações Determinaremos a forma explı́cita da matriz C.
Escrevendo a matriz C na base σ 0 , σ i

são [11 ] ou [61 ].
Para utilizar o método de transformadas de Dar-
boux para um hamiltoniano H b 0 , em qualquer ou- C = cµ σ µ = c0 σ 0 + c1 σ 1 + c2 σ 2 + c3 σ 3
tra representação [iq ], é suficiente aplicar a trans-
formação U11 iq (ou U61 iq ) no hamiltoniano e nas e usando as relações das matrizes de Pauli
suas autofunções {ψ} para levá-los à representação  >  >
usada no método: σ0 = σ0, σ1 = σ1,
 >  >
ĤD0 = U Ĥ0 U † , ψD = U ψ . σ2 = −σ 2 , σ3 = σ3,

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e3312-22 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

temos: Portanto
C > = c0 σ 0 + c1 σ 1 − c2 σ 2 + c3 σ 3 . C = eiϕ σ 2 ,
A condição (164) leva à relação
c0 σ 0 + c1 σ 1 − c2 σ 2 + c3 σ 3 onde ϕ é um fator de fase arbitrário.
0 1
= −c0 σ − c1 σ − c2 σ − c3 σ , 2 3 Determinaremos a forma explı́cita de spinores
constantes de partı́cula e antipartı́cula de férmions
que dá de Majorana para as representações principais [2]
c0 = c1 = c3 = 0 ⇒ |c2 |2 = 1 ⇒ c2 = eiϕ . e [5]. Na representação [2] eles são:

! ! !
nf 1 1 ε+m nf ε + m − p1
u[2]
p = U23 u[3]
p =√ =√ ,
2 i −i −p1 2 i (ε + m + p1 )
! !
nf ε + m − p1 nf ε + m − p1
vp[2] = u[2
p
2]
= U22 ,20 u[2
p
0]
= √ σ3 =√ .
2 i (ε + m + p1 ) 2 −i (ε + m + p1 )
Na representação [5] eles são:
! ! !
nf 1 i ε+m nf ε + m − ip1
u[5]
p = U53 u[3]
p =√ =√ ,
2 i 1 −p1 2 i (ε + m) − p1
! !
nf ε + m − ip1 nf i (ε + m) − p1
vp[5] = u[5
p
2]
= U52 ,50 u[5
p
0]
= √ σ1 =√ .
2 i (ε + m) − p1 2 ε + m − ip1

Justificaremos as relações (165) para as representações [2] e [5]. Para a representação [2] usamos C = σ 2 ,
que dá γ 0 C = σ 2 σ 2 = 1, portanto
!
0 nf ε + m − p1
γ Cu[2]∗
p =√ = vp[2] .
2 −i (ε + m + p1 )

Para representação [5] usamos C = iσ 2 , que dá γ 0 C = σ 2 iσ 2 = i, portanto


! !
0 inf ε + m + ip1 nf i (ε + m) − p1
γ Cu[5]∗
p = √ =√ = vp[5] .
2 −i (ε + m) − p1 2 (ε + m) − ip1

9. Conclusão número das transformações é 552, mas grande parte


delas é expressa na mesma forma. As transformações
Neste trabalho consideramos as representações da entre as representações cı́clicas (anticı́clicas) princi-
equação de Dirac em 1+1 dimensões. Introduzi- pais são expressas por duas transformações diferen-
mos uma classificação unificada de todas as repre- tes. As transformações entre representações cı́clicas
sentações nas quais cada matriz de Dirac é associ- e anticı́clicas são expressas por 9 transformações
ada a uma única matriz de Pauli. Esta classificação diferentes. Entre elas, 3 são hermitiano conjugadas
inclui 6 representações principais: 3 cı́clicas e 3 an- e outras 6 compõem 3 pares em que um membro
ticı́clicas. A inclusão das representações com sinais do par é o resultado da conjugação hermitiana do
modificados das matrizes de Pauli faz com que cada outro. As transformações entre os membros de to-
representação principal torne-se um membro de um dos os quartetos das representações são expressas
quarteto das representações. O número total das por três matrizes de Pauli. Estudamos a estrutura
representações distintas portanto é 24. Determina- algébrica do conjunto das transformações. Estabele-
mos todas as transformações unitárias entre as re- cemos que o conjunto das transformações forma um
presentações na forma explı́cita. Formalmente, o grupo não abeliano com respeito ao produto matri-

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Smirnov e Farias Jr. e3312-23

cial em classes de equivalência, definidas através da unitários ortogonais, ou por outro ponto de vista,
indistinguibilidade das transformações que diferem isomorfismo entre o par das matrizes de Dirac e
por um fator de fase constante. Este grupo possui um intervalo geodésico direcionado de comprimento
um subgrupo não trivial, o qual por sua vez, contém π/2 na variedade S 2 . Em virtude disto, indicamos
os dois subgrupos não triviais. O estudo de estrutura que a tarefa de classificação de representações e a
do conjunto leva à conclusão de que todas as repre- busca de transformações unitárias entre elas pode
sentações são equivalentes, isto é, uma representação ser convertida numa formulação geométrica.
pode ser obtida a partir de qualquer outra por uma Como uma continuação deste trabalho vemos uma
transformação unitária. A forma explı́cita de spino- consideração de aspectos análogos da equação de
res constantes em qualquer representação pode ser Dirac em 2+1 dimensões.
determinada a partir de um spinor de uma certa re-
presentação por uma transformação unitária. Além Apêndice
disso, spinores constantes de antipartı́cula podem
ser determinados, a partir de spinores de partı́cula, No caso geral, as matrizes de Dirac β, α são ma-
por uma transformação unitária apropriada no caso trizes complexas 2 × 2 que obedecem às seguintes
livre. Notamos que o caso de 2+1 dimensões já não condições. Elas são hermitianas
exibe estas propriedades.
Como aplicação dos resultados obtidos no traba- β † = β, α† = α,
lho, apresentamos uma adição útil ao método de
transformadas de Darboux para a equação de Di- com traço nulo
rac em 1+1 dimensões. Discutimos resumidamente
Tr (β) = Tr (α) = 0,
a existência de férmions de Majorana em 1+1 di-
mensões e apresentamos exemplos da sua forma seu quadrado é igual à unidade
explı́cita. Apresentamos também a forma geral das
matrizes de Dirac em 1+1 dimensões determinada α2 = β 2 = 1
por 3 parâmetros arbitrários. A forma geral pode
ser útil em discussões de problemas em dimensões e elas anticomutam
mais altas que 1+1, por exemplo, no caso de uso
de coordenadas especiais ou para interpretações de {α, β} = αβ + βα = 0.
resultados. Demonstramos que há um isomorfismo
Escrevemos β, α na base de matrizes de Pauli σ i e
entre o par das matrizes de Dirac e o par de vetores
a matriz unidade σ 0 :

!
µ 0 i b0 + b3 b1 − ib2
β = bµ σ = b0 σ + bi σ = , bµ ∈ C,
b1 + ib2 b0 − b3
!
a0 + a3 a1 − ia2
α = aµ σ µ = a0 σ 0 + ai σ i = , aµ ∈ C.
a1 + ia2 a0 − a3

As matrizes são definidas por coeficientes bµ , aµ os quais agrupamos do seguinte modo:


 
β = (b0 , bi ) = b0 , ~b , α = (a0 , ai ) = (a0 , ~a) , bµ , aµ ∈ C.

Com o uso desta notação podemos escrever o resultado do produto das matrizes como:
 
αβ = (a0 b0 + ai bi , a0 bi + b0 ai + iεijk aj bk ) = a0 b0 + ~a~b, a0~b + b0~a + i~a × ~b

e o quadrado das matrizes como:


   
α2 = a20 + ~a2 , 2a0~a + i~a × ~a = a20 + ~a2 , 2a0~a ,

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e3312-24 Representações da Equação de Dirac em 1+1 Dimensões

 
β 2 = b20 + ~b2 , 2b0~b .
As matrizes hermitiano-conjugadas são dadas por:
β † = b∗µ σ µ , α† = a∗µ σ µ ,
onde o sı́mbolo ∗ denota conjugação complexa.
A condição de hermiticidade de β, α leva às relações:

b∗µ σ µ = bµ σ µ , a∗µ σ µ = aµ σ µ ⇒ b∗µ = bµ , a∗µ = aµ ⇒ bµ , aµ ∈ R.


A condição de traço nulo implica:
Tr (β) = 2b0 = 0, Tr (α) = 2a0 = 0 ⇒ b0 = 0, a0 = 0.
Com o uso das últimas relações para o quadrado das matrizes temos:
   
β 2 = ~b2 , 0 = 1, α2 = ~a2 , 0 = 1 ⇒ ~b2 = 1, ~a2 = 1.
Finalmente, a condição de anticomutação das matrizes implica em:
     
{α, β} = αβ + βα = ~a~b, i~a × ~b + ~b~a, i~b × ~a = 2~a~b, 0 = 0 ⇒ ~a~b = 0.
Portanto, podemos concluir que as matrizes de Dirac β, α são isomorfas ao par de vetores unitários
ortogonais com seu inı́cio na origem:

β ∼ ~b, α ∼ ~a; ~b = |~a| = 1, ~a~b = 0. (166)

As componentes dos vetores ~b, ~a definem os coeficientes das matrizes β, α na decomposição pela base
 0 i
σ ,σ :
!
i b3 b1 − ib2
β = bi σ = , bi ∈ R,
b1 + ib2 −b3
!
i a3 a1 − ia2
α = ai σ = , ai ∈ R.
a1 + ia2 −a3

Por exemplo, os componentes do vetor ~b podem ser escolhidos na forma:


bi = sin θ cos ϕ, bj = sin θ sin ϕ, bk = cos θ
com os dois parâmetros arbitrários θ, ϕ. As componentes do vetor ~a que é localizado no plano perpendicular
ao vetor ~b são dadas por:
ai = cos θ cos ϕ cos χ − sin ϕ sin χ, aj = cos θ sin ϕ cos χ + cos ϕ sin χ, ak = − sin θ cos χ
com um parâmetro arbitrário χ. Para as matrizes β, α temos:
!
1 2 3 cos θ e−iϕ sin θ
β = σ sin θ cos ϕ + σ sin θ sin ϕ + σ cos θ =
eiϕ sin θ − cos θ

α = σ 1 (cos θ cos ϕ cos χ − sin ϕ sin χ) + σ 2 (cos θ sin ϕ cos χ + cos ϕ sin χ) + σ 3 (− sin θ cos χ)
!
− sin θ cos χ e−iϕ (cos θ cos χ − i sin χ)
= iϕ .
e (cos θ cos χ + i sin χ) sin θ cos χ
No caso particular χ = 0 temos:
ai = cos θ cos ϕ, aj = cos θ sin ϕ, ak = − sin θ
e !
1 2 3 − sin θ e−iϕ cos θ
α = σ cos θ cos ϕ + σ cos θ sin ϕ + σ (− sin θ) = .
eiϕ cos θ sin θ

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A Eq. (166) pode ser interpretada de outra ma- [6] C. Itzykson and J.-B. Zuber, Quantum Field Theory
neira. As matrizes de Dirac β, α são isomorfas aos (McGraw-Hill, New York, 1980).
pontos na superfı́cie de uma esfera. Os pontos in- [7] M.E. Peskin and D.V. Schroeder, An introduction
dicam o inı́cio e o fim de um intervalo curvado de to Quantum Field Theory (Addison-Wesley, Boston,
1995).
comprimento π/2 na superfı́cie de uma esfera de raio
[8] B. Thaller, The Dirac Equation (Springer-Verlag,
igual a unidade. O par das matrizes de Dirac β, α
Berlin, 1992).
é isomorfo a um intervalo geodésico direcionado de [9] V.G. Bagrov and D.M. Gitman, The Dirac Equation
comprimento π/2 na variedade S2 . Então, a tarefa and its Solutions (Walter de Gruyter, Berlin, 2014).
de classificação das representações e a busca de trans- [10] K. Fredenhagen, in: Fields and Particles (Springer-
formações unitárias entre elas, pode ser reformulada Verlag, Berlin, 1990), p. 53-87.
geometricamente. [11] H. Galic, Am. J. Phys. 56, 312 (1988).
[12] J.R. Hiller, Am. J. Phys. 70, 522 (2002).
Agradecimentos [13] R.S. Bhalerao and B. Ram, Am. J. Phys. 69, 817
(2001).
Agradecemos à Fundação de Apoio à Pesquisa [14] Y. Nogami, F.M. Toyama and W. van Dijk, Am. J.
Phys. 71, 950 (2003).
e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe
[15] V. Alonsoy and S. De Vincenzoz, J. Phys. A 30,
(FAPITEC-SE) pelo apoio financeiro parcial deste
8573 (1997).
trabalho. Gostariamos também de agaredecer ao [16] O. Mustafa, Cent. Eur. J. Phys. 11, 480 (2013).
Prof. Osmar de Souza e Silva Júnior, ao Prof. Ger- [17] L.A. González-Dı́az, A.A. Dı́az, S. Dı́az-Solórzano
son Cortês Duarte Filho e Thainá Aragão Sabino and J.R. Darias, J. Phys. A 48, 045207 (2015).
do Departamento de Fı́sica da Universidade Federal [18] Jian-Yuan Cheng, Found. Phys. 44, 953 (2014).
de Sergipe por suas contribuições na revisão final [19] J. Bunao and Eric A. Galapon, Ann. Phys. 356, 369
do texo do artigo. (2015).
[20] Luiz P. de Oliveira and Luis B. Castro, Ann. Phys.
365, 99 (2016).
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York, 1968). (Campus Elsevier, São Paulo, 2005).
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ger, Berlin, 2000). (SBM, Rio de Janeiro, 2012).
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Mechanics (McGraw-Hill, New York, 1964). B. Van den Bossche, J. Phys. A 35, 3279 (2002).
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DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2016-0056 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 38, nº 3, e3312, 2016

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