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TM: Cris Guerra

Tradução: Jessica Markab

Revisão: Ayanami

Revisão Final: Lady Anky

Leitura Final: Nishi

Formatação: Lola

Verificação: Luana
Ela é a força dele e ele é a fraqueza dela. E desta

vez ele não a deixará ir.

Edie Evans é maravilhosa.

Sexy.

Gentil.

Ela também é a definição de fora dos limites.

Mas isso não me impediu de entrar furtivamente

em seu quarto para confortá-la à noite.

Mas caras como eu? Nós destruímos tudo, então não

deveria ser uma surpresa quando nos destruí também.

Na noite em que a fiz fugir, pensei que nunca mais

a veria.

Até que a vi de pé como uma aparição na multidão.

Austin Stone é perigoso.

Atraente.

Tentador.
Ele quebrou meu coração e me recusei a dar-lhe a

chance de fazer isso novamente.

Passaram-se anos desde que o vi, e agora não posso

fazer nada além de olhar para o homem lindo e tatuado

que está tocando no palco. Eu deveria correr. Eu sei que

devo. Mas, como uma tola, corro diretamente para ele.

Nosso desejo é irresistível.

Nossa necessidade implacável.

Ela é minha esperança.

Ele é minha fraqueza.

Nós deveríamos saber, uma paixão tão intensa

assim nos queimaria e nos derrubaria.


— Shh... — Ele sussurrou em meu cabelo enquanto me
puxava para mais perto, afugentando o medo persistente do
pesadelo. A ansiedade remanescente fez minha pele suar e eu
não seguro os soluços que tentei conter.

Silenciosos e escondidos como deviam estar.

No entanto, ele escutou.

O braço envolto em minhas costas me atraiu para o


refúgio ao seu lado, enquanto ele erguia o outro para segurar
um pequeno aro sobre nossas cabeças.

Na escuridão, meus olhos se adaptaram para distinguir


o círculo coberto de camurça marrom onde estavam
penduradas miçangas e penas coloridas, o centro tecido com
uma rede intrincada.

Eu olhava fixamente enquanto balançava, atraída pelo


movimento, pela calma da voz dele enquanto murmurava
perto de meu ouvido.

— Shh... — Ele disse novamente enquanto espalhava


um monte de beijos leves na minha têmpora. — Olhe. Você
não tem que ter medo. Isto... vai filtrar todos os seus sonhos.
Eles não têm poder sobre você. Não podem te machucar.

A dor apertou meu coração, e meus dedos agarraram a


sua camisa, segurando-o firmemente.

Era o que enterrei dentro que detinha todo o poder. Mas


quando estava com ele, de alguma forma, perdia parte da
força.

Ele passou o nariz ao longo da minha orelha,


sussurrando suavemente.

— Pode confiar em mim, Edie. Confie em mim. Seja o


que for, entenderei. Eu entenderei. — A voz dele ficou mais
profunda. — Converse comigo.

Confiar.

Eu confiei.

Eu confiei nesse menino danificado.

Então sussurrei meu segredo.

Mostrei-o a ele.

Para ele segurá-lo.

Protegê-lo.

Até o dia em que ele o esmagou com suas próprias


mãos.
Entediado, olhava para a luz amarela acima da minha
cabeça. Apertando os olhos, lutei contra o pânico que fez meu
coração disparar enquanto lia as palavras do meu irmão mais
velho rabiscadas na carta.

Três anos, Austin. Três anos se passaram. Eu dei a


minha vida para você, então lhe dei o espaço que você pediu.
Agora preciso de você. Está na hora.

Não era como se eu não tivesse memorizado. Li a carta


esfarrapada o que parecia ser mil vezes. Eu simplesmente
não sabia se tinha forças para fazer o necessário.

— Você está pronto?

Assustado com a voz vinda de trás, respirei antes de me


concentrar, dobrei rapidamente a carta e enfiei-a no bolso de
trás.

— Sim — Disse. Virando-me, encontrei Damian parado


na entrada do camarim, que nada mais era do que um
armário de armazenamento embelezado.
Mas ei, e aquele velho ditado que diz que mendigos não
podem escolher?

O sorriso dele era largo.

— Bom. Porque está insano lá fora esta noite.

Uma inquietação passou por mim.

Insano.

Parecia louco, sempre havia uma parte de mim que


desejava. A parte de mim que tinha fome de estar no mesmo
palco que o meu irmão, Sebastian, e sua banda Sunder. De
fazer parte dessa vida. Manter a batida do rock viva na
cabeça dos fãs. Dando-lhes uma saída e uma voz.

Mas sabia que nunca poderia realmente me encaixar


nesse mundo ou superar essas expectativas.

Não foi nada além de tolo... estúpido, até mesmo


imaginar a ideia de ser parte de algo tão grande. De algo tão
importante.

Deus sabia, eu nem estava perto de ser digno.

Ainda assim, não pude me livrar da necessidade que


fazia gelar minha barriga, implorando por essa adrenalina
que nunca era o suficiente.

Era melhor do que qualquer droga ou vício.

A necessidade inata de tocar e a pressa que sentia


quando me dava vontade.
Então me acostumei com esses pequenos locais onde
estava seguro e longe do centro das atenções e da fama do
mundo do meu irmão.

Mas quanto mais eu tocava aqui, a cada semana a


multidão parecia crescer.

— Cara... não fique tão assustado. Uma multidão é uma


coisa boa. Você sabe que isso é o motivo de tudo, não é?

O imbecil teve coragem de jogar os dedos para cima e


fazer uma citação de “isso”.

Eu bufei em resposta.

O sorriso dele se alargou ao colocar as mãos na


estrutura da porta, deixando a madeira apoiá-lo enquanto se
balançava sobre os calcanhares, tão casual quanto poderia
ser.

— Cory está terminando sua última música, então você


entra.

Fazer um show no “O Farol” realmente não era tão ruim.


Fornecia dinheiro suficiente para me manter, já que eu, com
toda certeza não aceitaria mais dinheiro do meu irmão.

Parei de deixá-lo cuidar de mim no momento em que saí


pela porta dele três anos atrás.

Mas mais do que isso era a emoção de pisar naquele


pequeno palco. A liberdade que encontrei na música.

E para ser honesto? Talvez... talvez alguma parte do


nome me lembrasse dela. Um farol lançando sua luz em
águas turvas e perigosas. Chamando os perdidos da
tempestade.

— Tudo bem, então. Deixe-me pegar minhas coisas.

Fui para o antigo violão colocado em seu estojo e


cuidadosamente levantei-o do feltro marrom. A madeira
granulada e desgastada parecia aliviar minhas mãos.

Foi meu presente de aniversário de quinze anos de


Sebastian, ou Baz como todo mundo o chamava. Ele me disse
que a música estava no meu sangue. Que nos unia de
alguma maneira. E não importava o quão longe eu estivesse
correndo disso, sabia que ele estava certo.

Que ele e eu estávamos ligados de algum modo.

Assim como eu estava ligado ao mar.

Damian ergueu o queixo.

— Você vai no sábado?

Eu lhe dei uma carranca como uma resposta.

— Vamos lá, cara. Pare de ser um maldito idiota. Você


poderia pelo menos vir comigo desta vez. Quero dizer, não é o
Havaí, mas as ondas por aqui são assassinas. São frias, mas
você dá conta.

Dei uma risada sem humor sob a minha respiração.

— O que faz você pensar que algo mudou? Já te disse,


não estou interessado.

Ele balançou sua cabeça.


— Isso é o que não faz sentido. Você passeou por toda a
costa, abraçando o oceano todo o maldito tempo porque se
recusa a ir a qualquer outro lugar e aposto que você nem
sequer mergulhou seu dedo do pé na água. Nem uma vez.
Você está com medo ou algo assim? — Ele perguntou com um
sorriso malicioso e uma provocação, como se assim pudesse
me fazer mudar de ideia.

Com medo.

As palavras não chegavam nem perto de descrever o que


o pensamento de entrar no oceano me fazia, a tormenta
confusa que sempre me mantinha atraído e repelido.

Dei de ombros como se não importasse, quando


importava mais do que qualquer coisa. Como se ele não
estivesse apenas tocando em uma ferida tão aberta que
nunca iria curar.

— Eu só não estou interessado.

Mantive-me tão vago quanto possível, recusando-me a


começar uma conversa sentimental com Damian Rodriguez.
Não porque não confiava nele. Mas porque não havia uma
alma no mundo que pudesse realmente entender. Ninguém
que conseguisse entender por que eu era obrigado a ficar aos
pés do oceano, ligado a ele como um prisioneiro.

Do mesmo modo que fui mantido nele como um


náufrago.

A única alma que poderia se foi.


A culpa ameaçava surgir como a mais sombria
tempestade. Enviada para engolir e devorar.

Cerrando meus dentes, deixei isso de lado.

Desde que deixei Los Angeles, fiquei muito bom nisso.

Deixar de lado.

Fingindo que não estava consumido pelas lembranças


do que fiz. Pelo que destruí. Por cada erro fodido que cometi
desde então.

Deus sabia, havia muitos para contar.

Você pensaria que eu aprenderia. Que descobri uma


maneira de parar de arruinar todas as coisas boas que me
foram dadas.

Aquele vazio no meu peito pulsava como uma cadela.

Você tinha que se perguntar em quantos buracos seu


espírito poderia ser despedaçado, quebrando seu coração, até
que não haja mais nenhum pedaço para deixá-lo batendo.

Damian suspirou, mas com zero frustração por trás


disso. Em vez disso, estava cheio de despreocupação.

Nenhuma maldita preocupação na vida.

Se eu não gostasse tanto do cara, isso me faria perder a


cabeça.

— De verdade, cara, é uma coisa boa que a merda de


choradeira pareça tão boa em você, ou eu te chamaria de
desesperado. Maldição, aposto que é apenas atuação. Em
todos os lugares que vamos, as meninas vão rastejando atrás
de você. Pensam que você é perfeito, alto, sombrio e
misterioso. Vou começar a te pedir dicas.

Com um sorriso forçado e provocador, olhei para ele.

— Ei, não posso fazer nada se as moças me amam.

— Totalmente injusto. Você apenas fica na sua, sem


dizer uma palavra, e elas começam a orbitar como se você
fosse o maldito sol ou alguma merda assim. Enquanto estou
aqui tendo o maior trabalho para conseguir que pelo menos
uma olhe para mim.

Eu reprimi uma zombaria.

Mais como um buraco negro.

Mas de qualquer forma.

Só porque eu era um solitário não queria dizer que não


desfrutava de um pouco de companhia de vez em quando.

Expurguei muitos vícios da minha vida. Esse era um


que não desisti.

Aprendi da maneira dura... ligar-se afetivamente a longo


prazo sempre dá errado.

Ou você mesmo acaba destruindo-os.

Você esmaga o brilho da alegria porque não pode confiar


em si mesmo para mantê-los seguros.

Para mantê-la segura.

Porque você foi um fracasso e todas as suas boas


intenções se transformaram em merda.
Então você simplesmente passa pela vida fingindo que
não se machucou e sente falta, querendo poder voltar ao
começo. Fazer a coisa certa. Todo o tempo sabendo que você
provavelmente se desviaria e foderia tudo de novo, mesmo
assim.

Damian bateu os nós dos dedos na parede de fora.

— Faça-me um favor e pense no sábado, pelo menos,


certo? Você vai se transformar em um vampiro ou algo
igualmente assustador se continuar abusando deste
mergulho noite após noite.

Ele começou a ir pelo corredor, depois fez uma pausa e


colocou a cabeça para dentro.

— Ah, cara, quase esqueci de te dizer. O lugar do meu


primo em São Francisco está totalmente livre para você ir e
tocar no próximo mês. Dia 14 de agosto. É bom para caralho.
Grana boa. Você está dentro?

Eu fiz o meu melhor para não me encolher com a


pergunta. Fiz o meu melhor para ignorar a maneira como a
carta dobrada no meu bolso de trás de repente pareceu pesar
uma tonelada.

Três anos.

Três anos desde que eu vi o rosto do meu irmão. Três


anos desde que vi os caras da banda.

Tanta coisa mudou na vida deles desde que eu fui


embora.
E Deus, eu também queria estar diferente, mas era
exatamente o mesmo. Quero dizer, foi por isso que essa
jornada aconteceu.

Encontrar a mim mesmo.

Tornar-me alguém melhor.

Alguém mais forte.

Mas mesmo que o lado de fora mudasse, havia muitos


momentos em que não me sentia diferente do menino de oito
anos aconchegado, escondendo-se na praia.

Esse foi o dia em que rasguei minha alma em duas.

O mesmo dia em que Sebastian mentiu para mim pela


primeira vez.

O dia em que ele se aproximou para cuidar de mim


porque sabia que eu não faria isso de outra maneira.

Não acho que alguém pudesse entender o quão eu


queria estar lá para Sebastian do jeito que ele precisava que
eu estivesse, porra.

Eu só não sabia se tinha alguma coisa para dar sem que


isso nos custasse mais no final.

— Não sei — Respondi.

Damian sacudiu a cabeça.

— Eles precisam saber, cara. Não posso segurar o seu


lugar para sempre.

— Algo pode ter surgido.


— Algo pode ter surgido? — Ele repetiu as palavras
como uma pergunta, em seguida, sério, abaixou a voz. —
Você sabe que não pode continuar fazendo isso para sempre.

— Fazendo o que?

— Fugindo.

Eu fiz uma careta.

— Eu não estou fugindo.

— Tem certeza disso?

— E você? — Respondi. — Você foi quem agiu de veneta


e partiu com um completo estranho. Eu poderia ser um
assassino em série, por tudo o que você sabia.

Desde que tinha deixado L.A. três anos atrás, estava


viajando ao longo da costa do Oceano Pacífico. Quando
estava explorando a costa norte de Washington, toquei
algumas vezes em um pequeno clube na cidade de onde ele
era. Ele e eu nos tornamos amigos, e no momento em que
estava arrumando minhas coisas e indo para o sul, ele
empacotou as dele e insistiu em vir comigo.

Ele sorriu.

— Não... você pode ser um filho da puta mórbido, mas


eu reconheceria um assassino se visse um. — Ele levantou as
sobrancelhas e bateu seus dedos na frente do rosto. —
Sentido de Aranha1.

Mas esse era o problema. Ele não me conhecia


realmente. De modo nenhum.

1 Referência ao Homem Aranha.


— Além disso, — Continuou ele — Posso estar junto no
passeio, mas isso não significa que não saiba exatamente
para onde estou indo.

— E onde exatamente é isso?

Ele levantou as mãos para os lados.

— Em algum lugar bem foda. Um lugar onde eu não


estarei preso em uma cidadezinha sem saída. Vou saber
assim que chegar lá.

Se fosse assim tão fácil.

Aplausos ecoaram pelas paredes. Ele gesticulou com o


queixo.

— Levante seu traseiro antes que Craig comece a se


perguntar se a atração principal dele desapareceu
novamente. Oh, e você deve abandonar totalmente o moletom
com capuz, cara. As meninas querem ver o que está
escondido embaixo.

Eu resisti a revirar os olhos enquanto encolhia os


ombros no material espesso que usava como uma mortalha,
lutando contra a agitação de desconforto que senti ao fazê-lo.
Esconder-me atrás dele era tão mais fácil.

— Sim, sim, eu tiro.

Coloquei a alça do meu violão sobre o ombro e segui


Damian pelo corredor escuro. Um corredor tão escuro quanto
os que passei enquanto crescia, onde vivia nos arredores da
banda do meu irmão, absorto na música, na vibração e na
folia que eram regras no nosso mundo.
Os desastres que causamos.

Os contínuos problemas que encontramos.

Agora, o tipo de música e os lugares que eu tocava eram


um mundo distante, uma distância que não chegava muito
longe, mas sentia-me preso a ela da mesma forma.

Esgotado e rejeitado.

Eu acho que deveria saber que nunca chegaria longe.

A escuridão se manteve firme no salão. O bar de luxo em


Santa Cruz, na Califórnia, foi montado com mesas redondas
no espaço aberto em frente ao palco que ocupava o lado
direito do salão, e a área foi cercada por cabines isoladas com
um longo bar de madeira ocupando o lado esquerdo. Toda a
parede de trás era feita de vidro, os painéis sanfonados
colocados em ambos os lados, abrindo todo o bar até a área
de pátio com vista para o mar durante o dia.

Anoiteceu completamente, e fios de luzes cintilantes


estavam amarrados no pátio coberto de telhas que se
estendiam por todo o interior. As pessoas estavam
amontoadas no espaço, uma onda de silhuetas escuras
sentadas sob as falsas estrelas postas no teto do clube.

O ruído das vozes tornou-se mais calmo quando subi ao


palco e me instalei em um banquinho baixo. Coloquei meu
violão no colo e puxei o microfone para mais perto.

Meu coração acelerou enquanto meu espírito inchava e


fui atingido por uma onda esmagadora de medo,
arrependimento e algum tipo de alegria agonizante.
A confusão daquilo fez minha cabeça girar.

Porque, realmente? Eu não estava lá para nenhuma das


pessoas amontoadas do espaço.

Eu estava lá porque, assim como todas as noites, era


onde sentia aquela peça fragmentada dentro de mim
tentando ficar inteira. Procurando por tudo o que perdi. Por
esse pedaço de mim que nunca poderia recuperar.

Ainda assim, passaria o resto da minha vida


perseguindo-o.

À distância, meu ouvido sintonizava no som das ondas


quebrando na praia.

Deixando meus olhos se fecharem, soltei um acorde


silencioso e subjugado e pressionei minha boca no microfone.
Com um suspiro, deixei as palavras sangrarem e minha voz
encheu os limites do clube silencioso.

Ela se infiltrou na escuridão.

Quando cantava... sempre me senti tão incrivelmente


sozinho.

Como eu merecia.

Porque este tributo noturno não era nada mais nada


menos que uma penitência.

Uma fodida retribuição.

Reparação que eu nunca conseguiria dar.


No entanto, hoje à noite, quando normalmente meu
espírito pareceria como se estivesse em outro lugar, pairando
em algum lugar distante, sentia-me totalmente aqui.

Ferido, mas calmo.

Preso a uma paz violenta.

Arrepios percorriam minha pele, minha garganta ficou


apertada quando fui atingido por onda após onda de uma
intensidade que não conseguia me livrar. Algo profundo e
atraente e da mesma forma fora do alcance.

Tive dificuldade com as letras. Umas que eram


profundamente pessoais, mas inocentes para ouvidos
inocentes.

Acho que havia geralmente algum conforto nisso.

Eu não era mais que um estranho que cantava sua


canção esquecida. Uma que ele pessoalmente nunca
esqueceria.

Nunca poderia esquecer.

Mas hoje à noite eu me sentia exposto.

Preso e em pedaços.

Uma sensação surgiu no meu subconsciente.


Aumentou. Cresceu. Como se estivesse me chocando contra
uma corrente de energia que bateu em meus ouvidos e
trovejou no meu coração.

Não sendo mais capaz de lutar contra isso, meus olhos


se abriram enquanto eu fazia de tudo para continuar tocando
a canção dele.
E não importava que eu olhasse para uma neblina
escura onde as luzes estavam esmaecidas, rostos perdidos
em sombras e corpos obscurecidos em mistério.

Era inconfundível.

O horror e a dor que me observavam de onde ela


tropeçara para ficar ao lado de uma das mesas altas e
redondas.

Ela se abraçou.

Como se pudesse proteger-se do meu ataque.

Da minha presença.

E parecia um tormento e destino.

Minha garganta finalmente se fechou completamente e a


música chegou a um fim de repente.

Ela exalou um suspiro torturado que eu jurava que


podia sentir.

Aqueles olhos azuis pálidos brilharam na luz.

Edie.
Você sabe o que se sente ao estar no precipício da vida?

Oscilando na beira do aqui e agora?

Você sente em seu estômago que está a apenas um


passo desajeitado até que esteja em queda livre.

Caindo, para baixo, para baixo.

Em colisão direta com o seu passado.

Mesmo quando você fez tudo o que esteve ao seu


alcance para deixá-lo para trás.

Então toma o máximo cuidado para não viajar pelas


mesmas estradas cheias de erros, arrependimentos e dor
insuportável.

E lá estavam aquelas estradas.

Vindo à tona novamente.

Deixando você cara a cara com o passado que você daria


qualquer coisa para esquecer.
Forçando você a enfrentar tudo o que sempre quis e a
única coisa que nunca poderia ter.

Bateu como uma onda de vulnerabilidade, minhas


pernas tremeram e estremeceram enquanto eu cambaleava
para longe daquele perigoso, torturante precipício.

Meus pés escorregando e o mundo desmoronando


debaixo de mim.

Minha mão disparou para a parte de trás da cadeira


para me impedir de cair.

Para evitar cair tão rápido e duramente como caí


ingenuamente antes.

Só que desta vez eu sabia em primeira mão o quão seria


ruim atingir o fundo.

O som tenso do violão dele ecoou pelo ar sufocante.

Mas era a voz dele... aquela voz inesquecível que me


arrastava exatamente como antes.

Com conforto e alegria e uma esperança dolorosa.

No entanto, ao mesmo tempo, parecia tão diferente.

Mais profunda.

Mais sombria.

Mais rouca.

Uma voz que tinha o poder de retardar meus


movimentos. Como se todas as coisas fossem pausadas e eu
ficasse presa em um tempo e espaço que não se moviam.
Um espaço em que estávamos apenas ele, eu e a música
dolorosa que tocava.

— Edie. — Jed interrompeu meu transe induzindo pela


voz e a canção dele e o trovejar que ele causava no meu
coração e nos meus ouvidos. Jed tentou entrar na minha
linha de visão se inclinando para frente em seu banquinho.
— Edie, me diga qual é o problema. Parece que você viu um
fantasma. Não está se sentindo bem?

Eu quase ri.

Porque Jed estava certo.

Eu tinha que ficar de pé diante da aparição.

O garoto estava todo iluminado por um halo de luz, suas


palavras melódicas como uma harmonia assombrosa que me
envolveu como tentáculos de um conforto débil.

Do jeito que sempre envolveu.

Tranquilizante, prendendo-me na armadilha dele.

Eu não o vi desde a noite que este menino danificado


esmagou o frágil pedaço de mim que lhe dei.

Só que Austin Stone não era mais um menino.

Um desejo que eu não tinha o direito de sentir queimava


pela minha barriga e tamborilava pelas minhas veias.

Como um fogo de pecado.

Proibido e tolo.

Quando adolescente, Austin era alto e desajeitado.

Como se estivesse começando a florescer.


E Deus, isso parecia quase cruel. Como se ele fosse
enviado com o único propósito de atormentar meu
julgamento e minha determinação.

O garoto esguio mais alto do que eu, cresceu pelo menos


mais dois centímetros. Seu cabelo castanho claro ainda era
curto nos lados e atrás, longo na parte de cima. Como antes,
sugeria que dedos frustrados passaram e os puxaram muitas
vezes ao longo do dia.

Mas era a forma como os ombros ficaram fortes e agora


estavam pressionados sob sua camiseta justa que gritava que
ele era todo homem.

O modo como seu peito largo se expandia com cada


respiração.

A visão sensual de seus lábios volumosos e a curva


acentuada de seu queixo.

O jeito que aquelas mãos grandes e fortes seguravam o


violão.

Sem mencionar a intrincada tinta que agora cobria a


pele exposta de seus braços.

A poderosa presença dele me atingiu como uma


tempestade sombria.

Perigosa. Sinistra. Ameaçadora.

O salão girou novamente. Ou talvez fosse a minha


cabeça.

Quatro anos se passaram.

Quatro anos de mágoa, escondendo-me e lamentando.


E lá estava sentado a poucos metros de distância o
único garoto que já amei.

— Edie... maldição... você está me assustando. Diga-me


o que diabos está acontecendo.

Jed estava subitamente de pé ao meu lado, pronto para


afugentar qualquer ameaça. Para cuidar de mim como cuidou
quando vim rastejando para esta cidade.

Mas não importava.

A única coisa que eu via era ele.

Notei o momento em que ele me sentiu. Era como se eu


tivesse aberto os olhos dele com a mera força da minha
presença. Aqueles olhos terrosos e poéticos que não sabiam
se queriam ser verdes ou cinzas.

Pelo mais breve flash de um segundo, eles se


arregalaram em choque, antes que o momento desaparecesse
e o reconhecimento tomasse conta.

Mesmo do outro lado do espaço escuro, aquele cintilante


cinza gritava mil segredos e ocultava um milhão de
arrependimentos.

Meu peito apertou. Dolorosamente. De necessidade, ódio


e horror.

Como era possível que ele ainda me fizesse sentir assim?

Abraçando a mim mesma, dei um passo atrás.

Para longe dessa beira.


Ao mesmo tempo que a canção dele chegou a um
progressivo final.

— Edie — Eu podia ouvir meu nome escapar como um


sopro dos lábios de Austin, um eco do microfone que
reverberava dos alto-falantes.

Uma onda de confusão rolou pelo bar enquanto o


banquinho chiava ao empurrá-lo para ficar de pé.

Essa foi a minha deixa.

Eu tinha que sair de lá.

Proteger-me da única maneira que sabia.

Virei-me e fugi.

Porque fugir era o que eu fazia melhor.

Atravessei os grupos de pessoas que se aglomeravam


nas altas mesas redondas ao pé do palco e escapei pela
parede sanfonada das janelas para a noite.

O ar fresco atingiu meu rosto enquanto eu chegava nas


tábuas de madeira e consegui dar um suspiro, ignorando os
olhares daqueles que tentavam desfrutar da quietude
relaxando nas mesas isoladas do lado de fora.

Cordas de esferas de luzes estavam amarradas debaixo


do pátio em forma de treliça que dava para o mar agitado.

O mar.

Uma dor que eu só podia sentir por esse garoto me


golpeou com força, tão duro quanto a compreensão.
Aquelas antigas, antigas feridas que trancavam a língua
dele, mas que ainda estavam tão claras.

Deus. Quão intensamente eu queria expurgá-las?


Preencher o buraco que se abriu dentro dele, agir como um
bálsamo da mesma maneira como ele procurou me curar?

Mas isso foi antes que ele desse a volta e jogasse toda a
minha dor de volta na minha cara.

Acima de mim, os fios de luz cintilavam e dançavam,


como se fossem um com as estrelas que cintilavam de cima.

Debaixo deles eu me sentia tão pequena.

Exposta.

— Edie.

O desespero na voz dele me atingiu como dardos


ardentes, suspirei e me afastei ainda mais. Dei a volta no
lado do pátio e acertei a passarela que conduzia ao
estacionamento na frente.

Onde eu estava indo, realmente não sabia.

Longe.

Era isso.

Apenas para longe.

— Espere.

O chamado angustiado me invadiu por trás.

Espere.

Oh Deus.
Engoli, tentando lutar contra a umidade que podia
sentir em meus olhos. A impotência que me atingiu ao lutar
por aquela fuga impossível.

Eu devia saber. Devia saber que um dia tudo me


alcançaria.

— Edie... por favor... apenas... espere.

Segurei a grade como se pudesse me impulsionar para a


frente. Em vez disso, meus passos vacilaram e diminuíram.
Eu fiquei de frente para o nada, minhas costas tremendo
enquanto sua presença consumidora aumentava atrás de
mim.

— Por favor — Desta vez foi um sussurro. Um apelo.

Sincero.

Lentamente, virei-me.

Atraída.

Ele sempre foi minha fraqueza.

Austin estava no final da passarela, fora do alcance das


luzes, seu corpo obscurecido nas sombras.

Ainda maior do que eu imaginara quando o vi pela


primeira vez no palco.

Tão estranho.

Tão familiar.

Meu coração doía. Porque eu estava olhando para o


garoto que foi meu melhor amigo. A única pessoa que pensei
que me compreendia completamente. Aquele que não julgaria
nem o faria doer mais do que já doía.

Ele foi minha segurança.

Meu refúgio.

Até que ele me arrastasse de volta ao inferno.

— Por que você está aqui? — Minhas palavras falharam.


— C-c-como... como você me encontrou?

Ele balançou a cabeça e deu um único passo para


frente, saindo das sombras para o brilho da única lâmpada
presa no alto da parede exterior que iluminava o caminho.

Ela bateu nele como um holofote.

O garoto era tão lindo.

Era um tipo ameaçador de beleza, uma enxurrada de


mistério e dor, traços duros e músculos.

Quase me deixou de joelhos.

Ele colocou as mãos nos lados. A pergunta foi tensa,


dura quando a deixou sair de sua boca.

— Você acredita no destino, Edie?

Um antigo sofrimento que internalizei por tanto tempo


explodiu. Saiu como algum tipo de grito maníaco. Incrédulo.
Uma escaldante descrença.

— Depois de tudo o que aconteceu... isso é o que você


vai me perguntar?

— Edie... eu...
— Você tem alguma ideia do quanto me machucou? —
Eu o cortei, minhas mãos gesticulando enquanto dei um
único passo em frente. — O dano que você causou? Palavras
imprudentes, Austin. Imprudentes para caralho, falando-as
sem pensar nenhuma vez nas repercussões, sem qualquer
consideração de como elas me afetariam. Como elas
mudariam minha vida. Você prometeu. — Meu rosto franziu
com a acusação. — E agora você tem a coragem de ficar aí
parado e me perguntar se acredito no destino?

Engoli com força, balançando a cabeça.

— Você pode ir direto para o inferno, Austin Stone.

Quando eu tinha quatorze anos, prometi a mim mesma


que nunca mais desistiria do controle. Nunca me colocaria
em uma situação em que estivesse desamparada. Impotente.
Nunca novamente me permitiria ficar sem uma escolha.

E Austin Stone me reduziu a renunciar a tudo por ele.

Eu confiei nele.

Ele riu, mas não havia humor nisso.

— Vamos, Edie. Você pode fazer melhor que isso, não


pode? Considerando que você sabe que o inferno é
exatamente onde estive todo o tempo, você e eu sabemos que
mereço muito pior. E sim... aquelas palavras foram
imprudentes, mas você sabe que elas não foram negligentes.
Você não poderia esperar que eu ficasse lá. Não com ele. Não
com o que ele estava dizendo. Implicando. Eu não podia. — A
última enfraqueceu na ênfase.
Senti como se cada célula do meu corpo fosse
esmagada. Tão espremida que não havia nenhuma
possibilidade além de tudo implodir.

— E porque você perdeu isso, eu perdi tudo. Você.


Minha casa. Meu futuro.

As grandes mãos dele estavam apertadas.

— Eu sei. Eu... eu fodi tudo, Edie. Avisei a você, é o que


faço. O que eu faria.

Mas o que ele não disse foi que prometeu que não faria
isso comigo.

Não poderia dizer se fiquei aliviada ou aterrorizada


quando Jed subitamente virou a esquina. Sua irmã, Blaire,
estava logo atrás dele.

Conhecendo-a, ela estava tentando mantê-lo calmo,


para me dar o momento que eu claramente precisava.

— Edie — Disse Jed, aliviado quando me viu. Ele parou


alguns passos atrás de Austin.

Como se acabasse de pisar na intensidade e tropeçou


em seus pés.

Com frieza.

A guerra.

Austin ficou lá parado? Eu sabia exatamente que seria


assim.

— O que diabos está acontecendo aqui? — Jed exigiu.


Sua voz se transformou em uma ameaça. Ele olhou para a
parte de trás da cabeça de Austin, seus olhos preocupados
piscando para mim, endurecendo quando voltaram para
Austin.

Blaire puxou o braço dele.

— Jed... eu disse para você dar um minuto a ela. Às


vezes você precisa deixar as pessoas resolverem seus próprios
problemas.

Jed apenas grunhiu e afastou-se do braço dela.

Recusando-se a se mover.

Austin balançou a cabeça para olhar para trás. Quando


olhou, seu rosto se moveu para o lado, todas aquelas linhas
duras e bonitas expostas em perfil. Sua expressão se
transformou em um amargo desdém.

— Nada, cara. Tudo bem aqui. Apenas dando um oi a


uma velha amiga. Não é mesmo, Edie?

Agressão estava clara entre eles.

Viva e furiosa.

Jed era um homem corpulento, musculoso, muito


grande. Uma barba cheia cobria a maior parte de seu rosto,
seu cabelo castanho cortado curto nos lados e grande em
cima.

Se eu já tivesse imaginado que ele e Austin brigariam,


apostaria todo o meu dinheiro em Jed.

Agora eu não tinha tanta certeza.


Jed ergueu o queixo, como se por enquanto estivesse
controlado, virando-se para mim enquanto seu tom
suavizava.

— Você está bem, Edie?

Eu assenti.

— Sim, estou bem.

Mentira. Mentira. Mentira.

Estava abalada até a alma.

— Eu só quero ir para casa — Falei isso de um jeito


meio desesperado.

Desesperada para fugir.

Desesperada para me esconder.

Porque eu não sabia como enfrentar isso.

Todas as memórias do que fizemos. A dor que ele me


infligiu. A esperança que ele esmagou.

O amor que nunca diminuiu.

Tudo se voltou para mim agora, presa nas profundezas


daqueles olhos tumultuosos que sempre viam demais.

Jed empurrou Austin e seguiu em direção a mim.

— Tudo bem, vamos sair daqui.

Enquanto passava por Austin, Blaire lançou um olhar


penetrante na direção dele, antes que a atenção dela se
voltasse para mim, uma tonelada de perguntas preocupadas
em sua expressão.
Perguntas que eu não sabia se tinha a força para
responder.

Com um braço enrolado ao redor do meu ombro, Jed me


girou, quebrando o feitiço no qual Austin me prendeu e me
colocou em seu lado.

Protegendo e blindando.

Ele começou a me afastar, descendo pelas tábuas para


seu carro no estacionamento na frente.

A cada passo que dávamos, podia sentir o calor do olhar


de Austin. Essa intensidade ardente eu não tinha certeza se
poderia escapar.

A dor e o ódio.

Simplesmente não sabia para onde o ódio era


direcionado.

Se era direcionado a ele ou a mim ou ao resto do mundo


que ameaçou estragar a vida que nós tínhamos.

O mundo que devíamos enfrentar juntos.

Assim que começamos a virar a esquina, parei porque


não conseguia me deter, virei-me para olhar para o homem
que estava ali parado, encarando-me.

A emoção em seu rosto mostrava tanto quanto seus


punhos cerrados.

Intenso e torturado.

Como se eu fosse a única a infligir a dor.


Engasguei a tristeza que surgia como um ciclone, dando
voltas e voltas, trazendo o antigo carinho que ansiava que
aquele garoto calmo e compreensivo me pegasse nos braços e
cantasse no meu ouvido.

Perigoso.

Procurei dentro de mim o abrigo que segurava meu


coração. A frágil capa que usava apenas me manter inteira.
Forcei-me a falar as palavras que sabia que iriam afastá-lo,
por mais mentira que fossem.

— E para constar... não, Austin, eu definitivamente não


acredito no destino.
Filho da puta.

Meus punhos golpearam o saco. Golpe após golpe. O


suor escorria pela minha pele e meu coração batia forte em
meu peito.

Do outro lado, Damian segurava o saco, empurrando


para trás.

Direcionei-me a ele o mais forte que pude. Batendo e


batendo. Como se tivesse a chance de derrotar toda a
frustração, toda a confusão que inundava minhas entranhas.

— Uau, cara, não sei o que diabos está acontecendo com


você, mas apenas para sua informação... você está prestes a
chutar meu traseiro por esse saco aqui, o que totalmente não
está perto de ser o objetivo deste exercício. Este é um esporte
sem contato, o que significa que eu deveria ter um lugar
seguro e confortável aqui. Se eu não fosse mais esperto,
pensaria que você está chateado comigo. Mas considerando
que sou sua pessoa favorita no mundo, ambos sabemos que
não é o caso.

Eu apenas resmunguei.

Smack. Smack. Smack.

Meus punhos fechados batiam contra o vinil.

Então, sim.

Talvez toda vez eu estava imaginando que era aquele


rosto grande e corpulento filho da puta.

Processe-me.

Bati mais ainda forte.

Damian empurrou para trás. Forte.

— Já acabou?

Dei-lhe um último bom golpe, antes de tropeçar para


trás, ofegando como um cão maldito. Puxei a fita em torno de
meus pulsos.

— Bom.

Comecei a andar no chão da garagem que foi


transformada em uma academia improvisada, aspirando
profundas respirações em meus pulmões muito sufocados.

Damian passou pelo meio do cômodo, usando aquele


sorriso que alegava saber demais.

— Vou sair sem um membro aqui e acho que esse


humor azedo que você tem estado nos últimos dois dias tem
algo a ver com aquela garota que você viu e arruinou o show
no “O Farol” na terça-feira. E a propósito, Craig não está tão
impressionado. Você está totalmente em liberdade
condicional. Ele disse que mais uma coisa dessas e você está
fora.

Como se eu desse importância.

Dei-lhe uma careta de resposta.

— Coisas destruídas parecem ser o meu forte, não é?

— Seja como for, cara. Use isso como uma desculpa


boba. Você simplesmente não consegue se controlar. Isso
parece certo?

— Claro que sim.

Ele balançou sua cabeça.

— Deus, você pode ser um idiota. Percebe que descontar


isso em mim não vai mudar nada?

Deixando cair minha cabeça, coloco as mãos na minha


cintura, tentando suprimir algumas das emoções idiotas que
tentam fazer o seu melhor para escapar.

Porque ele estava certo.

Nada disso tinha a ver com ele.

Eu consegui foder tudo por conta própria.

A voz dele se acalmou com cautela.

— Você está pronto para me dizer quem é ela?

Engoli sobre o nó que de repente apareceu na minha


garganta. Como aquele arrependimento foi agravando.
Crescendo. Pressionando. Eu me perguntava quanto tempo
levaria até que ele explodisse.
— Uma velha amiga.

Rotular ela apenas assim? Parecia outra maldita traição.

Porque ela era tudo.

Mas trair?

Isso foi o que eu fiz melhor.

— Uma amiga? — Seu tom era totalmente incrédulo. —


Claro que não pareceu isso para mim. — Ele falou como uma
acusação, suas palavras como dardos lançando-me contra a
parede.

Eu girei em sua direção. Em sinal de rendição jogando


meus braços para o lado.

— Bem. Você quer saber quem é ela? Ela é alguém


importante. Alguém que eu machuquei. Duas noites atrás foi
a primeira vez que a vi em anos.

Não desde que ela arrumou suas coisas e fugiu. Foi a


noite que peguei o segredo que ela me ofereceu como um
presente e atirei-o ao vento como uma notícia velha.

Eu deveria protegê-lo.

Protegê-la.

Em vez disso não fiz nada, mas sim a deixei para ser
pisada. Revelei o que ele nunca deveria saber.

Foi minha culpa.

Eu sabia. Perder a porra da minha cabeça do jeito que


perdi.
E não havia nada que eu pudesse dizer durante o
momento de pânico dela para fazê-la ficar.

Eu não posso acreditar que você fez isso comigo. Depois


de tudo o que confiei a você. Só... fique fora disso. Fique fora
da minha vida e dos meus assuntos, porque não posso confiar
em você. Não deixe isso pior do que já deixou.

Isso é o que ela deixou comigo, as palavras forçadas a


sair entre os soluços, o horror em seus olhos brilhando
através das lágrimas manchando seu rosto.

Então ela desapareceu na noite. Dias se transformaram


em semanas e semanas se transformaram em meses.

Foram os anos que se passaram que me garantiram que


a perdi para sempre. Fui tão descuidado, porra. Pegando a
fragilidade e brincando com ela. Estúpido o suficiente para
pensar que quando caísse, não quebraria.

As palavras de despedida dela giravam na minha


cabeça.

Fique fora disso.

Um desconforto surgiu. Um súbito ataque de náusea.

Talvez eu deva me arrepender. Lamentar o fato de que


ignorei seu apelo final. Enfiando meu nariz mais
profundamente nos negócios dela do que jamais permitiria
que ela soubesse.

Mas eu não podia.


Não consegui sentir nenhum remorso por fazer aquele
filho da puta pagar.

É claro que ela não tinha ideia que fui eu.

Que eu era o responsável.

Isso era algo que só iria machucá-la mais. A garota era


muito gentil e boa demais para entender que às vezes a coisa
certa a fazer, a maioria das pessoas consideraria errado.

Você sabe o velho ditado.

Olho por olho e dente por dente.

A única coisa que lamentava era que eu desejava ter


tirado mais dele.

Deus sabia que ele simplesmente a arruinou.

Desconfortável, Damian se moveu, hesitante enquanto


se esquivava do assunto. Como se tentasse chegar ao coração
de tudo sem dizer em voz alta. Imaginando que faria me
fechar.

Garoto esperto.

Deus sabia que eu estava a um passo de perder a


cabeça.

— Ela é muito bonita, né?

Uma risada desorientada retumbou no meu peito.

Bonita.

Nem mesmo perto.

Ela era insanamente linda.


Era como se a garota fosse criada apenas para mim.
Uma réplica de cada fantasia minha.

Mas foi o interior que me deixou uma bagunça confusa.

A graciosidade e a bondade.

A garota foi a única que conseguiu lançar uma luz forte


o suficiente para tirar-me da escuridão. Aquela que tinha o
poder de me chamar das águas enegrecidas que meus
pulmões estavam cheios. À beira de sucumbir.

Bem onde eu pertencia.

Mas aquela garota... aquela garota me deu o ar.

A suspensão da tempestade sem fim.

Passei a mão agitada pelo meu cabelo. Porra. Apenas a


lembrança da presença dela lá duas noites atrás já ameaçou
endurecer meu pau e isso deveria ser aviso suficiente.

Aqui estava eu novamente. Desejando que pudesse


cruzar todas as linhas que estava proibido de atravessar.

Coçando-me para provar. Tocar. Pegar.

Meu estômago torceu, pensar sobre o modo como ela


parecia quando a vi na noite de terça.

Como ela ainda conseguiu me afetar.

Meu pau ficou duro enquanto todos os endurecidos,


frágeis e danificados lugares dentro de mim queriam ficar
moles.

Derreter sob o doce e o puro.


Meus dedos se contraíram com apenas a ideia de
mergulhar naquelas ondas, agora mais longas que antes,
aquela bela confusão de cabelo tão loiro que era quase
branco.

Minha boca ficando molhada apenas com o pensamento


de conseguir mais um gostinho daqueles lábios macios que
sempre descansavam em um biquinho sedutor.

Acho que eu não deveria ficar surpreso quando aquele


idiota entrou como uma espécie de libertador glorificado.
Marcando sua reivindicação. Pegando o que deveria ter sido
meu.

Mas fui eu o único idiota. O único ignorante o suficiente


para deixá-la ir.

Foi o ciúme que me fez perder a cabeça pela primeira


vez. Eu não estava disposto a deixá-lo ganhar duas vezes.

Isso não queria dizer que ver ele afastando-a de mim


para confortá-la não doeu para caralho.

Será que ele tomou ela da maneira que a tomei?

Ela o deixou entrar?

Ele sabia?

Pensar nisso me deixou impaciente, dedos se contraindo


com a vontade de arrancar todos os meus cabelos, minha
mente masoquista martelando sobre a ideia de que outro
homem a tocasse.

Deus, eu era um idiota egoísta.

Fui por toda a minha maldita vida.


Pegando o bom e esmagando-o nas minhas mãos.

Merda.

Eu não quero ser.

Eu não quero continuar a ser um fracasso.

Mas parecia impossível corrigir todos esses erros.

Por causa deste desastre que causei?

Agitou muitas coisas, com um efeito devastador.

Arruinando vidas.

Eu sempre me arrependeria de arruinar a dela e destruir


a última coisa boa na minha.

— Vamos lá, cara. Apenas... vá... fale com ela. —


Damian deu de ombros como se a solução fosse simples.

Eu bufei.

— Falar com ela? Ela deixou claro para caralho que não
queria me ver e muito menos falar comigo. E não é como se
eu tivesse seu número de telefone e pudesse simplesmente
ligar.

Com o dedo indicador, Damian arranhou atrás da orelha


e desviou o olhar para o chão. Como ele sempre fazia quando
estava se sentindo culpado. Finalmente, olhou para cima.

— Você sabe que Deak a conhece, certo?

Eu congelei. Uma carranca atravessou meu rosto


quando compreendi suas palavras.

— O que quer dizer com Deak a conhece?


Deak era o proprietário deste clube. Há três meses,
Damian e eu viemos para Santa Cruz com a expectativa de
ser de passagem, não ficar por mais de uma semana ou duas,
do jeito que sempre fizemos. Mas na noite que toquei no “O
Farol” pela primeira vez, ele e Deak iniciaram uma conversa.
Não demorou muito tempo para perceber que ambos eram
viciados no mar e no surfe, Deak cresceu nas grandes ondas
da Austrália, enquanto Damian enfrentara as águas geladas
da costa de Washington.

Naquela noite, Deak ofereceu a sua casa. Disse que


procurou deixar alguns quartos na casa que Herdou de seus
avós. Ele morava sozinho aqui durante os últimos dois anos,
desde que se mudou para os Estados Unidos.

Eu disse a ele que não podia prometer quanto tempo ia


ficar por aqui, porque não estava prestes a me amarrar a um
único lugar.

Não quando não fazia ideia de onde pertencia ou para


onde ia.

Ainda assim, andamos por aqui nos últimos três meses.

A casa estava situada em um penhasco, com vista para


o oceano. Noite após noite, o som das ondas enchia meus
ouvidos, chamando-me da mesma forma que me afastava, a
presença dele forte e profunda. Da mesma maneira que
sempre era quando estava perto do mar.

Precisamente a razão pela qual nunca cheguei muito


longe.
Pensei que era por isso que me senti incrivelmente
ligado a este lugar.

Mas acho que estava ligado a ele de uma forma que não
entendia.

Não até agora.

Não até ela.

E, porra, se não parecia ser o destino.

Com as sobrancelhas arqueadas, Damian inclinou a


cabeça quando começou a explicar.

— Aquele cara? O que parecia que você estava cerca de


dois segundos de brigar?

Eu dei um aceno rápido.

Como poderia esquecer.

— Ele é dono da loja de surfe onde Deak ajuda às vezes.


O nome dele é Jed. Acontece que a sua garota trabalha lá
também, trabalha no caixa da loja. Mora com ele e a irmã
dele em um pequeno lugar a alguns quilômetros daqui.
Aparentemente Jed disse algo para Deak sobre ela pirando
sobre um cara tocando no “O Farol”. Deak somou dois mais
dois. Perguntou-me esta manhã se eu sabia se você conhecia
Edie Evans. Disse algo sobre ela ser uma menina doce que
não precisa de mais nenhum problema.

Raiva queimou em minhas veias.

Moram juntos.

Ela estava compartilhando a cama dele?


Afastando-me, coloquei a mão na minha nunca,
esfreguei os músculos tensos, não tenho certeza se eu podia
processar o que esse fato significava.

Talvez, o destino também estivesse atrasado.

— Nunca te vi agir assim, homem. Ela é diferente do


resto? — Perguntou Damian.

Eu sabia o que ele queria dizer. Querendo saber se isto


era apenas sobre eu querendo molhar meu pau. Se ela era
como as garotas que eu pegava cidade após cidade.

Desejando que alguém ou algo preenchesse o vazio.

Sabendo que era impossível.

Mas, pelo menos por alguns momentos movidos a sexo


eu podia esquecer.

Nunca foi sobre isso com Edie. Mesmo que isso seja o
que fodeu tudo no final.

Minha necessidade por ela chegou a um ponto no qual


eu já não enxergava com clareza. Não conseguia pensar
direito. Por causa disso, joguei tudo que tínhamos fora.

— Sim cara. Ela é diferente.

Muito diferente.

Tão diferente, perfeita e certa.

Perfeita demais para mim.

Mas isso não quer dizer que eu não senti a dor pela
perda dela com cada parte de mim.

Ele soltou um suspiro.


— Parece-me que você tem algumas reparações a fazer.

Culpa pulsava em minha consciência, pesada, dura e


sufocante. Olhei para o teto, com palavras cruas quando
forcei a confissão.

— Eu cometi mais erros do que poderia compensar.

Há alguns erros que você não pode reparar.

Damian poderia pensar que eu era um bom rapaz.

Ele estava errado.

— Então é melhor você ficar ocupado, meu amigo,


porque circulando aqui agindo como um idiota não vai te
fazer marcar nenhum ponto.

A frágil voz dela ecoou pela minha mente. Tocando-me


como costumava fazer no escuro, as mãos segurando em
minha camisa como uma súplica.

Quando estou com você, não dói tanto.

Esperança despertou naquele lugar escuro e sombrio.

Aquele lugar que apenas a luz dela podia alcançar.

Haviam tantos erros que cometi e nunca poderia


remediar.

Mas talvez... apenas talvez... isso poderia reivindicar.


Eu rolava e me virava. Chutado as cobertas do meu
corpo. Olhando para o teto escurecido do meu quarto.

Tudo parecia muito perto e muito apertado, minha pele


lisa de suor, meu coração batendo maldosamente forte.

Um medo assustador afundou na boca do estômago


enquanto meu ouvido estava atento aos soluços silenciosos
que atravessavam a parede do quarto ao lado.

Medo e tristeza.

Eu senti. Reconheci isso.

Mesmo quando o som foi abafado pelo travesseiro dela.

Pelas paredes e a distância.

Eu reconhecia isso.
Saí da minha cama e agarrei um punhado de cabelo
enquanto andava de um lado para outro e ouvia um pouco
mais.

O que diabos eu deveria fazer?

Esta era a garota que era tão tímida que nem sequer
olhou para mim mais cedo quando estava na porta da frente,
enquanto seu irmão sorria como um tolo ao seu lado, muito
ansioso para anunciar que sua irmãzinha estaria hospedada
para o verão, enquanto a banda estava em pausa.

Deus. Mesmo com a cabeça baixa, ela foi a melhor coisa


que eu já tinha visto.

Meninas iam e vinham nesta casa.

Todo o tempo maldito.

Sexo e pecado.

Foda fácil.

Ninguém parecia se importar quando cheguei e peguei


minha parte como se eu fosse algum tipo de parceiro da
banda imprestável.

Aquelas gurias sempre estavam disponíveis.

Estava bom ter qualquer gostinho que pudessem.

Mesmo que fosse só eu.

Um estranho que desejava ser bom o suficiente para


entrar no ringue.
Mas essa? Ela praticamente me ignorou quando parecia
que pela primeira vez na minha vida, meus olhos estavam
abertos e pude finalmente ver.

Porque eu as senti. Porra. Senti-as. As olhadas rápidas.


Os vislumbres roubados alimentados pela estranha
curiosidade que nenhum de nós parecia ser capaz de evitar.

Certo. Eu encontrei ela algumas vezes ao longo dos


anos, quando não passávamos de criancinhas.

Então?

Não parecia ser nada.

Agora?

Parecia tudo.

Agora sabia que algo profundo me cutucava.


Chamando-me para aquele quarto.

Um quarto que estava claramente fora dos limites.

Outro sufocado soluço me atingiu como um punhal no


coração, e isso era tudo que poderia suportar. Nem sequer
pensei sobre isso, a decisão precipitada foi tomada em algum
lugar no meu subconsciente quando fiquei de joelhos para
cavar na parte de trás do meu guarda-roupa.

Apoiei-me no que mantive escondido no pequeno baú e


segurei-o com a mão, dando boas-vindas ao alívio. Por um
instante, deixei a voz da minha avó me acariciar como uma
canção, do mesmo jeito que aconteceu quando ela me deu
quando eu tinha oito anos.

Fingindo que eu possivelmente merecia.


Mantenha-o perto, querido menino. Sempre que você
estiver com medo ou se os sonhos vierem, agarre-se a isso, e
ele os afastará de você. Isso lhe dará paz e segurança.
Sempre que você precisar, pense em mim e lembre-se do que
eu lhe disse.

Eu sabia com cada parte de mim que essa menina


precisava dele.

Que ela merecia.

Abri a porta, esgueirando-me lentamente com as costas


pressionadas contra a parede do corredor, escondido nas
sombras.

Como uma espécie de doente, um pervertido se


esgueirando.

Uma parte de mim estava gritando que eu estava


fazendo algo errado.

Cruzando uma linha traçada de forma invisível na frente


da porta dela.

O resto de mim simplesmente não se importava e


lentamente, silenciosamente, girei a maçaneta e me infiltrei
na escuridão do quarto de hóspedes.

A luz do luar entrava, iluminando o cabelo branco dela


com um brilho suave e turvo, a pele de um branco quase
alabastro.

Dane-se tudo, se a minha respiração não engatou. Meu


estômago estava torcido em mil nós.
Dei um passo cauteloso para a frente.

O chão rangia e meu espírito se debatia.

Seu pequeno corpo congelou, sem dúvida sentindo a


minha aproximação, de costas para mim onde ela tremia e
agarrava mais apertado ao cobertor cobrindo o rosto.

Ela emanava tanto maldito medo, que quebrou um


pouco mais meu coração frágil, danificado.

Parecia impossível.

Que esta estranha virtual pudesse fazer me importar.

Mas não conseguia parar a necessidade intrínseca de


aliviar sua dor. De fazê-la parar.

Todo o resto desapareceu e minha visão se estreitou em


um único objetivo.

Eu não pude fazer com que meus dedos parassem de


tremer quando tentei passá-los pelo seu cabelo, não podia
ignorar a onda de energia que brilhou através das minhas
veias.

— Shh... estou com você.

Ela engasgou com o meu toque. E talvez nós dois


estivéssemos chocados com isso, mas não deixei de notar a
forma como seu corpo tenso relaxou, do jeito que estremeceu
um suspiro de alívio.

Como talvez ela viu que eu estava lá para segurá-la.

Nunca a machucar.
Isso foi o suficiente para eu ir rastejando para atrás
dela.

Puxando-a em meus braços.

Com o contato, suguei uma rajada de ar. Como se


tomasse a primeira respiração real desde o dia em que roubei
o dele.

Luz.

Brilhando contra a escuridão que esmaga meu coração.

Deus. Quem era essa garota?

Hesitante, ela virou-se em meus braços.

Olhos azuis, selvagens e confusos, encaravam-me


através da luz suave.

Ainda assim, eles brilhavam como o corte acentuado de


diamantes.

Tudo se abalou e tremeu.

Meu coração, meu espírito e minha mente.

Medo e admiração.

Refletiam entre nós, como dois espelhos que refletiam


para sempre.

Eternamente.

Minha garganta estava apertada e a puxei para mais


perto, minha boca pressionando um monte de beijos em todo
o seu cabelo selvagem, na pele macia de sua testa. Levantei o
aro com o emaranhado sobre nossas cabeças. Minhas
palavras eram um sussurro tenso.
— Olha. Você não tem que ter medo. Isto... vai filtrar
todos os seus sonhos. Eles não têm nenhum poder sobre
você. Eles não podem te machucar. Mantenha-o sempre com
você, e lhe dará paz e segurança.

Não pude deixar de esperar que ela permitisse que eu


lhe desse um pouco disso também.
As ondas rolavam contra a areia. Vieram como um
trovão tranquilo quando a maré subia e baixava. O ritmo
familiar do mar infiltrava pela minha janela aberta e as
cortinas balançavam com a brisa suave.

Paz.

É a única coisa pela qual todos nós temos fome. A


necessidade inata de nos sentir seguros e protegidos contra
as violentas tempestades que nos rodeiam.

No entanto, senti-me mais longe do que sentira em um


longo, longo tempo.

Abraçando meu cobertor um pouco mais apertado no


meu peito, enrolei meu corpo trêmulo em uma bola apertada.

Ainda uma prisioneira da noite.

Dos sonhos que sempre me mantinham sob seu


domínio.
Eles estavam sempre lá. Mas, de alguma forma, eles
mudaram desde que Austin fez sua reaparição inesperada na
minha vida. Como se os pesadelos me provocassem com os
momentos de paz que ele providenciara. Com a compaixão e
ternura que só ele podia proporcionar.

Como se os tentáculos de seu conforto estendessem


seus dedos magros, enrolando e saindo do alcance.

Quando acordei?

Nunca me senti tão sozinha.

Engasguei com o soluço que segurava na minha


garganta, mantendo o meu tormento secreto enquanto a
perda me atingia como uma chuva de granizo silenciosa.

Meu coração batia violentamente.

Rasgado em todas as direções.

Desesperado pela conexão.

Pela única pessoa que já me entendeu verdadeiramente.

Eu sabia que não deveria pensar nisso, não deveria me


torturar desta maneira, mas me vi retirando meu corpo dos
lençóis enrolados. Com os olhos turvos, inclinei-me para
minha mesa de cabeceira e abri a gaveta, vasculhei a parte de
trás, sabendo exatamente onde estava considerando que me
agarrava a ele quase todas as noites. No segundo que o
segurei na minha mão, lágrimas escorreram.

Descontroladas, mas contidas por todas as paredes tive


que forçar a ficar no lugar a fim de proteger a única coisa que
sempre me importaria mais.
Dando um suspiro trêmulo, rolei de costas e levantei-o
acima de mim.

Deixei-o balançar no ar como uma promessa silenciosa.

As penas dançavam na brisa e as miçangas coloridas e


brilhantes penduradas nas cordas de couro brilhavam sob os
raios de sol que entravam pela janela.

O aro pesava tão pouco. No entanto, não senti nada


leve.

Memórias giraram, assim como o filtro que deveria reter


meus sonhos.

Você está segura. Você está segura. Nada pode te


machucar. Eu não vou permitir.

Quantas vezes ele proferiu essa promessa?

Uma antiga dor torceu na minha barriga. Eu sempre


soube que nunca poderia esquecer. Que me assombraria
como um fantasma. Eu apenas nunca acreditei que aqueles
fantasmas teriam a chance de me alcançar.

Duas batidas soaram na porta do meu quarto. Por dois


segundos, agarrei-me à tristeza, às lembranças, à esperança
de que não passava de um sonho, antes de enfiar o filtro de
sonhos debaixo do meu travesseiro.

Fiz o meu melhor para empurrar a dor, fingir que estava


tudo bem, do jeito que sempre fiz, limpando as lágrimas que
fingi não existirem.

Por muito tempo, parecia ser a coisa certa a fazer.


Colocar um rosto corajoso e um sorriso falso. Empurrar tudo
para o passado e esquecer, tal como a minha mãe me
prometeu que um dia eu faria.

Esquecer.

Mas eu estava começando a me perguntar se esse


esforço para manter a distância me fez nada menos do que
uma tola. Porque essa distância era insuperável.
Intransponível. Apenas uma garota olhando para uma vasta
cadeia de montanhas que nunca poderia ser cruzada.

A porta se abriu.

Blaire enfiou a cabeça dentro, dando-me um sorriso


largo, inocente que era todo tipo de desonesto quando ela
entrou.

Sem um convite.

Não que eu estivesse surpresa ou algo do tipo.

Intrometer-se era uma espécie de marca dela.

Engraçado, isso só me fazia amá-la ainda mais.

Coloquei um sorriso brilhante que nunca era forçado


quando estava perto da minha melhor amiga. Ela tinha
algum um jeito de ser, que provocava sorrisos e gargalhadas
em mim com facilidade.

Seu volumoso cabelo castanho foi preso com um coque


bagunçado no topo da sua cabeça e ela usava uma camiseta
velha e esfarrapada com o pescoço rasgado que mergulhava
em um ombro, seu short tão curto que parecia não estar
usando.
— Oi — Disse. Limpei a garganta quando a palavra saiu
estranha. Dando tudo de mim para mantê-la calma e até
mesmo, esperando que não revelasse nada. Porque a última
coisa que eu queria era que ela se preocupasse. Que cavasse
e insinuasse lugares que não podia permitir que ela fosse.

Sentei-me e cruzei as pernas.

Uma onda de desconforto se agitou. Eu reconheci


totalmente o olhar no rosto dela.

Blaire pulou para o final da minha cama, de frente para


mim enquanto ela refletia minha posição.

— Diga — Ela ordenou.

Cruzei os braços sobre o peito. Eu esperava que


parecesse desafiador, quando na realidade tentava me
impedir de desmoronar.

— Não faço nenhuma ideia do que você está falando.

Os olhos dela se estreitaram.

— Que nada. Você está me enrolando, Edie Evans. E


você sabe o quanto eu realmente odeio ser deixada para fora.

Sutilmente, eu ri, balançando a cabeça. Eu estava


esperando por um longo, longo tempo.

— Simplesmente não há nada a dizer.

Ela franziu as sobrancelhas.

— Sabia que você é provavelmente a pior mentirosa na


história de todos os mentirosos?
Ela inclinou a cabeça, aproximou-se um pouquinho de
mim para me estudar como se tentasse decifrar algum tipo de
enigma.

— Não estou mentindo — Murmurei.

O canto da minha boca tremia. Só um pouco.

— Olha. — Ela apontou o dedo indicador duas vezes em


direção à minha boca. — Está. Bem. Aí. — Balançou a mão
na frente do meu rosto como se estivesse oferecendo como
prova. — Você faz essa pequena coisa tremendo toda vez que
tudo o que está saindo de sua boca não é a verdade completa.
É realmente adorável.

— Não é verdade.

Outro tremor.

— Rá! — Ela apontou novamente, muito feliz por me


pegar em flagrante.

Mordi o lábio inferior.

Forte.

Deus. Quando ela começou a me ler?

Ela bufou, pegando isso também.

— Eu duvido seriamente que vá ajudar. Basta desistir e


falar. Conheço-a melhor do que você pensa que conheço. E o
que sei é que você fica por aqui com um sorriso pintado em
seu rosto, fingindo que é a pessoa mais feliz do mundo
quando é tão óbvio que está sentindo falta de alguma coisa.
Você tem um ótimo trabalho. Vive na praia. Sem mencionar
que tem uma incrível e maravilhosa melhor amiga.
Certo. Então, talvez a humildade não fosse exatamente o
forte dela.

Continuou falando.

— E não vamos esquecer do Jed. Sabe, meu irmão mais


velho, que amou você desde o segundo a viu e, você não dá
nenhuma esperança ao pobre rapaz? E, considerando apenas
que todas as garotas dentro do raio de cem quilômetros
provavelmente se matariam para conseguir uma chance com
meu irmão e você faz o seu melhor para evitá-lo... — Ela
circulou seu dedo indicador ao redor do meu rosto. — Sei que
há algo acontecendo nessa sua linda cabecinha.

— Eu gosto do meu trabalho.

O lábio não tremeu. Vamos agradecer as pequenas


vitórias.

A verdade era que eu amava o meu trabalho.

Então, o que se eu basicamente ignorasse todas as


outras insinuações evidentes de Blaire? Sobre o irmão dela e
minha felicidade?

Esse não era um assunto que eu apreciava abordar.

Quatro anos atrás eu cheguei a Santa Cruz.

Perdida.

De coração partido.

Assustada, sozinha e vulnerável.

De volta à onde prometi a mim mesma que nunca


estaria novamente.
Mas pelo menos tive a escolha de partir. A escolha de
proteger o pouco que ainda podia.

Nunca permitiria que alguém roubasse minha escolha


novamente.

Jed me contratou no local quando vi a placa de “Precisa-


se de Ajuda” colada na porta de sua loja. Blaire e eu nos
tornamos amigas rápido, e não demorou muito até que eu
alugasse o terceiro quarto do apartamento à beira-mar que
Blaire e Jed compartilhavam.

Blaire zombou.

— Eu não disse que você não gosta do seu trabalho.


Mas você passou os últimos dois dias lastimando como se
fosse um tipo de garota emo. E, sério, não parece legal em
você. Quero dizer, vamos lá, nem sequer tem cabelo preto.

Ah, o sarcasmo.

Ela tossiu.

— Parece-me que aquele cara cantor super gostoso


deixa a sua calcinha retorcida.

Eu lutei para manter minha respiração diante da


flagrante insinuação.

Ela ficou séria com a minha reação, a voz suavizando.

— Você não tem sido você mesma, Edie. — Levantou


uma sobrancelha. Eu não sabia se era em reconhecimento ou
acusação. — Ou talvez você esteja realmente apenas agindo
como si mesma, porque encontrou a peça que faltava.

Desta vez, minha respiração engatou.


Às vezes, ela era um pouco perspicaz.

Mas esse era o problema. Havia tantas peças que


faltavam que eu era uma concha esvaziada.

— E eu totalmente gostei das tatuagens, por falar nisso.


Isso o torna tão... perigoso.

Ela não fazia ideia.

— E aqueles lábios... você viu aqueles lábios? — Ela deu


um gemido exagerado e se abanou, como se estivesse
superaquecida. — Nenhum homem deveria ter lábios como
aqueles. Isso é uma injustiça.

Sim. Eu vi aqueles lábios. Sentia-os roçarem no meu


rosto enquanto eles calmamente cantavam para eu dormir à
noite. Senti sua exploração suave, hesitante na minha pele.

Lentamente balancei a cabeça.

— Eu te disse... ele era apenas alguém que conheci em


LA. Não estava esperando vê-lo. Nós não nos separamos
exatamente da maneira mais tranquila.

— Namorado? — Ela realmente teve a coragem de


parecer esperançosa.

Suspirei.

— Não.

Foi muito mais complicado do que isso.

— Amigo? — Ela incitou.


Resignada, olhei para ela, engoli o enorme nó que eu
tinha certeza de que estava cortando o fluxo de ar dos meus
pulmões. Deus sabia que admitir isso me deixava atordoada.

— Ele era meu melhor amigo.

Ela balançou as sobrancelhas.

— Então parece que vocês dois precisam de beijos e


fazer as pazes.

Nossa.

Só Blaire mesmo.

Balancei a cabeça.

— Você não deveria estar ao lado do seu irmão?

Indiferente, ela subiu um único ombro.

— Ah, vamos lá, Edie. Meu irmão pode seguí-la como


um tolo apaixonado, mas nenhuma de nós precisa fingir que
ele tem qualquer direito sobre quando todos sabemos que não
tem.

Culpa latejava e pisquei rapidamente.

— Eu sempre fui honesta com Jed.

Brutalmente honesta.

Apesar de ainda guardar todos os meus segredos.

Fiz o meu melhor para manter Jed na zona dos amigos.


Ainda assim, ele empurrou e empurrou com pressão zero.
Pensando que um dia me venceria pelo cansaço.

Ele simplesmente nunca aceitou o fato de que esse dia


nunca chegaria.
Ela apontou para minha porta.

— Noite após noite, meu irmão dorme do outro lado do


corredor. Nem sequer uma vez que eu peguei qualquer um de
vocês esgueirando para fora do quarto do outro. Aposto que
você nem fez o trabalho sujo com ele, não é?

Desconfortável, olhei para longe, pela janela para o mar


quebrando mais além, sabendo que ela estava me
provocando. Tentando me fazer me abrir. Contar-lhe tudo.

Porque ela não era boba e, mesmo que tenha se tornado


minha melhor amiga, estava bem consciente de que não a
deixei entrar completamente.

Minha testa franziu em algo próximo a ofensa.

— Você sabe que nós não temos nada.

Sua cabeça inclinou enquanto soltou a acusação.

— E por que isso?

Indo mais fundo.

Balançando a cabeça, olhei para ela.

— Eu já te disse. Não me envolvo com amigos — Só que


eu me envolvi.

Uma vez.

E essa aventura foi minha ruína.

Então, quando procurei refúgio na casa da Sunder anos


mais tarde, estando ausente e agindo como tola. Arrisquei a
amar. Abri-me e dei a Austin os pedaços que restaram e
confiei nele para cuidar deles.
Infelizmente, a única coisa conseguiu foi transformar os
escombros em poeira.

Ela levantou as mãos.

— Ah, vamos lá, Edie — A expressão dela se tornou


séria. — Eu sei que você não está fechada para meu irmão
com base na virtude. Caso contrário, você teria uma aliança
em seu dedo e já estaria andando em direção ao felizes para
sempre, porque sabe que meu irmão estaria totalmente de
acordo com algo mais do que apenas uma aventura. Então,
pode ceder e me dizer a verdade, porque sei que o garoto
ridiculamente delicioso com um violão não era apenas um
cara aleatório que teve um casinho e se separou.

Torci minhas mãos, sem dizer nada.

Desapontada, ela balançou a cabeça.

— Você é minha melhor amiga e nem sequer te


conheço. Não sei quem você é, de onde é, ou porque ver um
cara te deixou meio maluca. Mas o que eu sei? Sei que você
está se escondendo e tem estado desde o segundo que veio
aqui. E, apesar de todas essas coisas, realmente me importo
com você. E não posso te ajudar se não souber o que estamos
enfrentando.

Confiança.

Era algo que eu não dava facilmente.

Algo que não concedia realmente desde o que parecia


uma eternidade.

Não desde Austin.


O medo me deixou presa como uma mortalha. Arrepios
surgiram na minha espinha. Lutei contra, forcei as palavras a
se formarem na minha língua seca, porque talvez Blaire
estivesse certa. Talvez fosse hora de dar-lhe mais do que
apenas pequenas pistas do meu passado. Deus sabia que eu
não tinha ideia de como dar conta deste desastre sozinha.

— O nome dele é Austin. Austin Stone.

O garoto danificado que se tornou minha vida. Minha


segurança.

Mas eu deveria saber que às vezes os destroços não


podem ser recuperados.

Era um garoto destroçado que estava no meio de um


tipo de problema que mantinha você preso como um cão, em
seguida, a leva por um caminho de destruição. Um garoto
que enchia suas veias para encobrir a dor que ele usava como
uma segunda pele, tudo em um esforço para fingir seus
próprios demônios não existiam.

Sombrios, sombrios demônios.

No momento que o conheci? Eu já criara minha própria


ruína.

Eu deveria saber que a combinação dos dois iria


devastar e destruir os pequenos pedaços restantes que
tínhamos.

A admissão continuou com um sussurro.

— Ele é irmão mais novo do Sebastian Stone.


A confusão girava ao redor dela enquanto ela tentava
entender minha confissão, antes seu queixo caísse.

— Espera. Quer dizer que o Sebastian Stone. Vocalista


da Sunder?

Cautelosamente, eu assenti.

Ela bateu a palma da mão contra a testa.

— Meu Deus. Como não o reconheci? Achei que ele


parecia familiar. Quero dizer, ele é igualzinho o Sebastian. E
aquela voz e a maneira como ele toca violão? Oh. Meu. Deus.

Era a verdade.

Fiquei um pouco surpresa, espantada pelo fato de


Austin ter mudado tanto e agora estar tão parecido com seu
irmão mais velho. Apesar de que de alguma forma eu não
estivesse surpresa pelo meu menino lindamente danificado
ter se transformado em um homem devastadoramente lindo.

Meu.

Uma dor me atingiu em todas as partes.

Era o que ele deveria ser.

E aqui estava eu.

Sozinha quando não tinha que estar.

Blaire estava sorrindo, seu entusiasmo mal contido.


Como se ela momentaneamente se tornasse completamente
alheia à minha agitação.

— Puta merda. Isto é tão legal. Tão da hora. Como


diabos você conheceu Austin Stone? Quero dizer... você
conheceu o irmão dele? — Ela saltou sobre o colchão como
uma fã enlouquecida. — Oh meu Deus, diga-me que
conheceu o resto da banda.

Uma agonia me atingiu com força, minha garganta seca


enquanto eu tentava me fazer falar.

Enquanto criava coragem de deixá-la entrar nos lugares


que eu nunca deixar ninguém entrar.

Eu sofri tantas perdas.

Todas as coisas que eu amava.

Todas as pessoas.

Família, esperanças e sonhos.

Tudo isso desencadeado por um erro.

Um erro que cometi aos quatorze anos de idade.

Apenas uma ingênua, estúpida, menina tola.

Ash acabara por ser mais uma vítima daquela noite


fatídica.

Um que me seguiu como um deslizamento de terra,


devorando tudo que é importante para mim.

A confissão saiu agitada.

— Blaire... Ash Evans é meu irmão.

Os olhos de Blaire se arregalaram. Chocados e


magoados.

— O quê?
Minha boca se abriu, com uma explicação na ponta da
minha língua, quando um toque suave soou na minha porta.
Jed olhou para dentro. Ele tinha um sorriso gentil e hesitante
no rosto.

— Posso entrar?

Respirei fundo, esperando que as palavras saíssem


quebradas quando forcei um sorriso no meu rosto e disse:

— Claro.

Ele entrou. Cruzando direto para mim, deu um beijo


inocente na minha testa, demorando um pouco mais do que o
necessário, seu polegar roçando minha bochecha. O tipo de
carinho que sempre deu. Casto, mas sempre esperando por
mais.

— Como estão as minhas meninas esta manhã? —


Perguntou.

Tristeza tomou conta de mim.

Qualquer garota seria sortuda por ser chamada de


menina de Jed.

Mas acho que eu sabia no segundo que vi Austin


sentado no palco.

Imperceptivelmente, balancei a cabeça, refutando a


minha própria mentira.

Porque soube disso desde o momento em que ele se


arrastou até a minha cama e sussurrou sua tranquilidade.
Desde o momento em que seu espírito se afundou em minha
alma.
Mesmo que eu nunca pudesse tê-
lo, sempre pertenceria a Austin Stone.

Chamas saltaram para o céu escurecendo. A fogueira


que estalava e faiscava. O crepúsculo se agarrava ao céu
como um manto de fogo vermelho, roxo e azul, o sol
mergulhou fora da vista no limite do oceano prata. Ondas
dominavam e sossegavam. Como se abrissem caminho para a
paz da noite.

Fechando os olhos, respirei e deixei a sensação me


envolver completamente, abraçando-me. Meu espírito
estremeceu e se debateu. Como se este momento fosse
compartilhado com ele. Como se essa conexão não tivesse
sido cortada para sempre.

Tudo por minha causa.

Eu quase podia ouvir a risada dele surfar sobre as


ondas.

Era diferente da minha.


Leve. Bondosa. Inocente.

Boa.

Meu peito apertou e aquele espaço vazio gemeu em


agonia.

Desculpe-me, Julian. Eu sinto tanto.

Meu telefone zumbindo no meu bolso me tirou do meu


transe. De repente, percebi as vozes despreocupadas me
cercam quando voltei para o aqui e agora.

Ao meu lado, Damian sentou-se em um pedaço de


madeira caiada, rindo com Deak enquanto tomavam cervejas.

Meu telefone tocou novamente.

Então de novo.

Suspirando, eu o peguei.

Acho que já sabia quem seria. Durante anos, ele me deu


espaço. Tempo para crescer e descobrir meu caminho.
Parecia que sua paciência estava se esgotando.

Hesitante, entrei nas mensagens em espera.

Saiba que você não é mais um garotinho. Merda.... Eu


não o vi em três anos. Provavelmente, nem te reconheceria.
Mas eu conheço você, Austin.

E sei que você está por aí se punindo, responsabilizando-


se quando a culpa é minha. Sempre foi minha. Você já
entendeu isso? Porque preciso de você.

Isso é importante para mim, Austin. Venha para casa.


Volte para L.A. onde é o seu lugar.
Mas isso é o que meu irmão mais velho nunca seria
capaz de entender.

Foi minha culpa.

Baz não apagou o último suspiro dele.

Aquele peso insuportável desabou. O peso que eu tão


estupidamente pensei que colocando espaço entre os caras,
meu irmão e eu, de alguma forma sumiria.

Como se a distância pudesse preencher o abismo.

Mas eu deveria saber que um abismo era sem fundo.

Hesitei sobre o que dizer. Porque queria dar uma


resposta sólida. Deixar de ser um maricas e ser dono de mim
mesmo.

Como de costume, peguei o caminho covarde. Eu joguei


uma resposta.

Tentando descobrir coisas. Eu estou bem, Baz. Prometo


que estou.

Engraçado, porque as coisas pareciam mais


complicadas agora do que nunca.

Coloquei meu telefone de volta no bolso, quando tocou


novamente.

Achei que era meu irmão com uma resposta.

Mas não.

Meu coração gelou.

Nervosismo estremeceu minha carne.


Ash.

Baixista da Sunder.

Irmão mais velho da Edie.

A culpa tentou me pegar.

Sempre tentava ao pensar nele.

Sabendo os segredos que mantive.

O fato de ser o responsável por Edie fugir do jeito que


fugiu.

Mentindo através de meus malditos dentes quando ele


exigiu informações, o cara rapidamente se apegou ao palpite
de que eu estava mais envolvido mais do que deixava
transparecer.

Ele sabia que ela estava aqui? Ele queria saber e se


preocupava? Dormia mal à noite, sem saber se ela estava
bem?

A banda está sofrendo, homem. Seu irmão precisa de


você. Acho que é hora de você devolver o favor, não é?

Culpa cega.

Eu respirei fundo.

— Quem é? — Perguntou Damian.

— Ninguém — Disse, rapidamente colocando o telefone


no meu bolso. Era melhor agora não entrar nessa com Ash.
Não tinha certeza de como lidar com ele agora.

Não com Edie aqui, invadindo cada pensamento na


minha mente.
Por um fugaz segundo Damian franziu a testa, antes de
encolher os ombros, deixou o assunto de lado e cedeu ao
humor leve flutuando no ar fresco.

— Então, qual é a sensação de estar subindo aquela


colina? Vai bater no maldito topo em breve — Damian sorriu,
provocando Deak do outro lado do fogo.

Empurrando apenas um pouquinho mais.

Como o cara, vinte e sete anos hoje o tornaram velho.

— Sim, companheiro — Disse Deak com o sotaque


australiano grosso que ele nunca poderia perder, o que
aparentemente era nada mais nada menos do que isca. Em
qualquer lugar que íamos, no segundo que abria a boca, as
mulheres se aproximavam.

A morena pendurada ao seu lado que conheceu cinco


minutos atrás parecia prova o suficiente.

Ele afastou os cachos desgrenhados de seu cabelo loiro


areia que usava nos ombros atrás das orelhas. O cara era
surfista por completo, seu corpo magro do tempo gasto nas
ondas, pele escura do sol. Ele usava uma camisa de manga
curta de botões, calções e pés descalços.

Deak sorriu para Damian por cima da cerveja.

— Você deveria saber mais que isso até agora. Este


menino aqui só fica melhor e melhor e as senhoras o amam
cada vez mais. Algumas coisas melhoram com a idade.

Sentei-me no outro grande pedaço de madeira que fora


arrastado até esta seção da praia isolada que algumas casas
negligenciavam, incluindo a de Deak. A amiga da morena
sentou perto de mim.

Ela me deu um sorriso tímido.

Um mês atrás, teria rolado.

Mas agora não.

Não com Edie.

Mesmo que não pudesse tê-la, aquela devoção era


profunda.

Estava me preparando para descobrir uma maneira de


me livrar da garota quando congelei.

A tensão aumentou.

Imediata, imensa e sufocante.

Como um chute no intestino.

Uma rajada de vento passou.

Atiçando as chamas. Calor pulsava. Fogo contra a


minha pele.

Respirei profundamente em uma tentativa de me


equilibrar. Buscando o controle quando ela sempre me fez
querer perdê-lo.

Lentamente, virei-me para olhar por cima do ombro, já


sabendo quem encontraria.

— Ah ... você viu isso, companheiro? — A voz de Deak


mal chamou minha atenção.

— Sim cara. Você deveria saber que não deixaria de


notar isso.
O amigo de Deak chutou a areia, rapidamente
caminhando em direção a nós, sorrindo como um tolo que
não tinha ideia de que estava causando minha morte
completa e absoluta.

Ele apontou o polegar para o lado.

— Pensei em trazer mais alguns amigos para vir e curtir.


É seu aniversário, afinal.

Avançando ao lado de Clay estava a garota que fiquei


sabendo que se chama Blaire.

A irmã do imbecil.

E o imbecil estava logo atrás dos dois.

Mas foi quem estava ao lado dele que me fez perder a


capacidade de respirar.

Todo aquele cabelo pairou ao redor dela como chamas


brancas.

Luz. Luz. Luz.

Ela sabia?

Ela tem alguma ideia do que faz comigo?

Como ela chegava como ondas furiosas. Derrubando-


me. Arrastando-me para as profundezas mais obscuras que
eram iluminadas com a sua presença.

Como raios de sol que penetravam o abismo.

Onde ela confortou e crucificou.

A garota era o meu próprio tormento perfeito.


Sombras dançavam e brincavam em seu rosto que era
ao mesmo tempo fino e delicado. Maçãs do rosto altas nas
bochechas que afinavam dando lugar a sua doce boca
carnuda.

Aquela doce, doce boca que eu não queria nada mais do


que devorar.

Meu pau se contraiu e minhas mãos ficaram em


punhos.

Cada parte racional de mim fazia de tudo para encontrar


algum tipo de restrição, quando todas as outras partes só
queriam ir para ela.

Passar as minhas mãos no exuberante cabelo macio


dela.

Beijá-la demais.

Pegar de volta o que sempre deveria ter sido meu.

Porra. Ela me deixou louco. Louco de tesão e delirante


com devoção.

Tão insanamente linda.

Mas o que me retorceu por dentro foi o terror que ela


tentou conter em sua expressão.

Como se talvez ela se forçou a vir comemorar o


aniversário de Deak, esforçando-se a se convencer de que não
tinha nada e tudo a provar.

Um milhão de emoções diferentes brilharam em seus


olhos. Antigas, antigas feridas abertas e expostas, e doce,
doce carinho que ela daria qualquer coisa para não sentir.
Como cacos de vidro quebrados que se iluminam nas
chamas do fogo.

Diamantes.

Transparentes.

Por eles? Eu jurei que podia ver diretamente em sua


alma.

Parecia que seu olhar faminto não tinha outro lugar


para estar, porque ela não conseguia desviar o olhar.

Justamente como eu.

Porque, Deus. Esta garota era a única coisa que eu


podia ver.

Jed colocou a mão na parte inferior das costas dela.

Possessivamente.

Agressividade correu nas minhas veias. Levou todo meu


autocontrole me forçar a ficar sentado quieto. Para não ficar
de pé e voar pelo lugar para que eu pudesse afastá-lo do
corpo dela. Todos aqueles lugares irracionais e tolos exigiram
ser ouvidos.

Talvez fosse errado. Mas não pude evitar o brilho de


satisfação que senti pelo fato de que ela se encolheu se
afastando.

Foi quase imperceptível.

Mas acredite em mim.

Eu notei, porra.

Eu estava apostando que Jed notou, também.


O ciúme era uma besta feia e desagradável.

E aquele monstro estava se levantando, agitando


minhas entranhas. Estimulando-me a ir para frente.

Meu joelho saltou como um filho da puta quando eles se


aproximaram. Jed apertou a mão de Deak e desejou-lhe um
feliz aniversário.

Clay e Blaire fizeram o mesmo.

Então Edie deu um passo à frente e abraçou Deak, sua


voz a pior e a melhor coisa que já ouvi. Era uma melodia
suave que me tocou em todos os lugares que ao mesmo
tempo acalmava e machucava. Aquela voz tão amável. Gentil
e bondosa.

Ela instigou e cutucou todos os lugares que ficaram


escurecidos quando saiu da minha vida.

Os lugares que só ela podia iluminar.

Era uma espécie de doença o tanto que eu queria essa


voz sussurrando em meu ouvido.

Quanto queria que gritasse meu nome.

Damian me cutucou, deu-me um olhar de quem viu


tudo, um aviso silencioso quando me passou uma cerveja
gelada.

Controle-se.

Eu torci a tampa e tomei um longo gole. O líquido frio


passou pela minha garganta e chegou ao meu estômago, uma
contradição conflitante com o fogo me queimando por dentro.
Tão quente quanto o fogo que crepitava, dançava e
provocava na nossa frente.

Edie sentou-se o mais longe que pôde. Diretamente no


lado oposto das chamas crepitantes.

Ela realmente achava que podia se esconder?

Eu a estudei através delas. A maneira como elas


brilhavam e cintilavam contra sua pele de neve.

Inferno.

Era exatamente onde eu tinha que estar.

Não sendo capaz de tocá-la.

O silêncio forçado.

Sabendo que ela me odiava e tinha todo o direito.

Sabendo que me queria com a mesma intensidade.

Era maldosamente doloroso.

Como se fosse minha amiga de longa data perdida,


Blaire se sentou ao meu lado, no lado oposto da garota loira
que sequer cheguei a saber o nome.

O sorriso de Blaire brilhava. Seus olhos castanhos


dançavam enquanto me olhava de cima abaixo.

Sem dúvida, ela conseguiu alguma dica sobre o meu


passado com Edie e estava pronta para cavar.

Eu teria pensado que ela também me odiaria por isso,


especialmente considerando que ela era irmã de Jed.

— Então você deve ser o infame Austin Stone.


Inclinando meus antebraços em meus joelhos, apertei
minhas mãos e mergulhei a cabeça, inclinando-a na direção
dela.

— Infame, é?

— Talvez eu tenha ouvido algumas histórias sobre você.

— Todas ruins, presumo.

A cabeça dela inclinou em questão. Como se procurasse


uma resposta em minha expressão.

— Não estou tão certa sobre isso.

Conspirativa, ela se inclinou sussurrando.

— Tenho que dizer, é muito bom conhecê-lo. Qualquer


amigo de Deak é meu amigo. Ele é um pouco genial, certo?

Confusão me deixou e me fez dar uma risada intrigada.


Esta menina era meio louca. Porque claramente não estava
realmente falando sobre Deak e olhe lá se eu honestamente
fiquei surpreso por ela me dar uma piscadela rebelde.

Balancei a cabeça, dando meu melhor para entrar na


onda.

— Nosso rapaz aqui é muito bom de se ter por perto.


Você sabe... oferece a casa dele, que tem vista para o oceano
e tal.

— Só em Santa Cruz — Disse ela. — Você deve estar


feliz por ter vindo — Sarcasticamente arregalou os olhos. — É
cheia de todos os tipos de ótimas surpresas, certo?

Eu ri.
— Toneladas de surpresas. Realmente inesperadas,
surpresas incríveis.

Minha atenção se voltou para Edie, em seguida, de volta


para sua amiga, dando um leve sorriso revelador.

Tornando minhas intenções claras.

Eu tinha toda a intenção de pegar de volta a minha


garota.

Respirei fundo quando aquela intensidade surgiu de


repente.

O sentimento brotou firme.

Vivo.

Ricocheteou entre nós. Um jogo de pingue-pongue sem


tabus.

Jogando essa necessidade para frente e para trás.

Determinado a lutar.

Desesperado para ir em frente.

Atraído e repelido.

E eu estava totalmente dando uma chance para o lado


atraído.

Virando a cabeça, a minha atenção se fechou de volta


em Edie.

Tão rápido quanto olhei, ela baixou seu olhar poderoso,


rapidamente levantando sobre seus pés instáveis. Como se
segurasse um peso.
Suas palavras eram um murmúrio baixinho,
pronunciadas para Deak como se fossem algum tipo de
escuro segredo sujo.

— Eu preciso usar o banheiro.

Fugindo.

Porque é isso que minha garota faz.

Deak apontou para nossa casa pairando no topo da


colina situada logo atrás de mim.

— É tudo seu, linda. A porta de trás está aberta. Sinta-


se em casa — Disse-lhe.

Casa.

A palavra me surpreendeu.

Era precisamente a maneira que Edie parecia.

Como casa.

Olhando para ela de onde estava sentado, Jed tocou seu


antebraço.

— Quer que eu vá com você?

Ela balançou a cabeça. Quase enfática.

— Não, estou bem. Volto já.

Ela contornou o fogo. Eu sabia que a cada passo que


dava, lutava para não olhar para mim.

Eu senti.

A turbulência.

A pressão e a atração.
Atraída e repelida.

Nós dois com um medo tão grande que poderia nos


derrubar.

Sempre foi assim.

Não poderia negar a mim mesmo o quão evidente era


para todos que eu estava olhando quando ela foi. Nem sequer
tentei esconder o jeito óbvio que me virei para olhar para trás,
olhos atentos naquele doce corpo que passava pela areia,
enquanto cada centímetro meu endurecia e enrolava de
necessidade. Meus músculos flexionaram e se contraíram,
como já soubessem que estávamos dando a eles o que tanto
ansiavam e pediam, meu olhar faminto a seguindo enquanto
ela caminhava até a parte de trás da casa.

Porra.

Eu queria tocar.

Provar cada centímetro. Explorar cada curva. Mergulhar


no êxtase que eu sabia, sem sombra de dúvida que se
escondia sob a desconfiança e o medo.

Ela usava jeans skinny escuro que iam até os


tornozelos, acentuando as longas pernas definidas,
abraçando o alargamento dos seus quadris e traseiro, uma
camisa branca solta que deveria ser modesta, mas ainda se
agarrava àquelas mamas redondas perfeitas.

Sempre houve algo sobre ela que parecia estoicamente


elegante e impenetravelmente vulnerável.

Uma fortaleza frágil.


Mas estava mais forte agora.

A idade afugentou um pouco de sua vulnerabilidade.

Expondo uma força subjacente antes invisível.

Como se ela não pudesse se conter, olhou para trás.

Virando-se para mim.

Em mim.

Parecia que com apenas aquele olhar poderia alcançar e


tocar todos os lugares que só pertenceram a ela.

Dela.

Fui dela por um longo maldito tempo.

Ela entende isso? Sabe que sempre pertenceria a mim?

Eu em uma louca certeza de que usaria tudo ao meu


alcance para fazê-la se lembrar disso.

Rapidamente ela piscou, a menina fazendo seu melhor


para me bloquear. Atrapalhou-se em uma raiz exposta. Sendo
tirada de seu transe, rapidamente se afastou e andou mais
rápido. Fugiu para a colina.

Abriu a porta do pátio, seu corpo apenas uma silhueta


na distância antes que desaparecesse.

A conversa aumentou ao redor da fogueira. Vozes se


levantado e totalmente à vontade. Comemorando o dia de
Deak.

Uma agitação tomou conta de mim. Forte, feroz e


implacável.

Uma tempestade se formando.


Minutos se passando como uma punição.

Jed me encarou. Seu queixo levantou-se. Desafiador.


Cheio de advertência.

Porra.

Fiquei de pé.

Indo atrás do que nunca deveria ter deixado ir em


primeiro lugar.

Movi-me pela escuridão.

Chamado pela luz.

Um alvo em minha mente.

Um desfecho em meu coração.

Eu não fazia ideia se Jed me seguiria ou não.

Se ele fosse esperto?

Ele seguiria.

Ou talvez já aceitasse essa inevitabilidade.

Andei pela passagem desgastada e entrei no silêncio da


casa. Uma luz brilhante estava acesa na cozinha, fazendo
com que o resto da casa parecesse escura e sombria.
Virando-me à direita, fui pelo corredor escuro que levava aos
quartos, passei pelo meu que se localizava à direita enquanto
me dirigia ao meu destino.

No lado esquerdo estava o banheiro de hóspedes. A


porta estava fechada. Um fino feixe de luz sangrando saia de
debaixo da porta.
Meu coração batia fora de controle. Um milhão de
quilômetros por hora. Desesperado por uma chance de
corrigir isso.

Para tirar a dor que tão descuidadamente infligi.

Para voltar ao modo que era.

Quando era tão fácil e tão complicado.

Nós dois estávamos quebrados.

Pedaços espalhados.

Mas era o nosso vínculo instável que de alguma forma


mantinha esses pedaços juntos.

Andei pelo corredor do lado de fora da porta.

Esperando.

O metal guinchou quando a fechadura girou.

No mesmo momento que meu coração ficou preso na


minha garganta.

A lembrança simples de como caí por essa garota.

Um adolescente doente de amor com borboletas no


estômago e esperança em seu coração pela primeira vez em
sua vida desde o dia em que ele foi destruído.

Dezessete anos.

Até então, eu já acumulava uma vida inteira de erros.


Enquanto estava dolorosamente consciente de que ainda
tinha o resto da minha vida para viver com a culpa deles.

Mas, de alguma forma... de alguma forma Edie


conseguiu aliviá-los.
Exatamente da mesma forma que ela me deixou aliviar
os dela.

A porta se abriu bem devagar. Um grito veio dela


quando me encontrou lá nas sombras. Ela recuou, surpresa.
Muito rápido, tentou passar e afastar-se.

Escapar.

Com muito medo de enfrentar o que estava bem na


nossa frente.

— Edie, espere — Minha voz estava primal. Baixa e


desesperada.

Ela sufocou um som estrangulado, hesitando por um


instante, antes que avançasse.

Estendi a mão e agarrei-a pelo pulso.

Com apenas esse toque, o fogo se espalhou pelo meu


braço, sacudindo-me inteiro.

Maldição.

Eu quase esqueci. Quase esqueci que ela tinha o poder


de me fazer sentir desse jeito. Como quando nos conectamos,
aquelas partes mortas do meu espírito despertaram para a
vida.

Ela ofegou e tentou parar. Seu corpo ainda estava virado


na direção oposta, sua cabeça inclinada para o chão. Suas
costas eretas se expandido com cada respiração profunda.

Sem dúvida, ela não estava imune.

— Espere — Disse de novo, desta vez mais suave.


Eu dei um aperto suave em seu pulso.

Espere.

Eu podia sentir a rendição dela. Seu corpo tenso cedeu,


e um alívio me atingiu quando ela cautelosamente virou-se
para olhar para mim. Enquanto se virava, nossas mãos se
tocaram por um breve segundo, essa conexão se perdeu
quando deu um passo cambaleante para trás.

Ela ficou ali.

Tão claramente confusa.

Dividida.

Uma centena de emoções diferentes transparecendo em


seu inesquecível rosto como uma ventania furiosa.

Chicoteando, flagelando e incitando.

Eu queria alcançá-la e acalmá-la.

— Espere — Sussurrei novamente. Abaixei-me para nos


deixar no mesmo nível. Chegando mais perto. Porque não
havia nada na Terra que pudesse me manter longe.

Seus olhos se fecharam, sua voz grossa.

— Não.

— Não o quê? — Perguntei, aproximando-me ainda


mais, direcionando-a contra a parede. Inclinando-me, deixei-
me ficar perdido na sugestão de sol e calor. Do laranja e da
luz e de algo doce e intoxicante para caralho que eu desejei
enterrar meu nariz em seu cabelo.

Em sua pele.
Afundar-me e desaparecer.

Para sempre.

Lágrimas surgiram em seus olhos. Ela piscou evitando-


as.

— Não faça isso.

— Não sei do que você está falando — As palavras


saíram um murmúrio áspero.

Ela conseguiu zombar e balançar ligeiramente a cabeça.

— Sim, sabe. Você sempre soube a maneira como me


afeta. O controle que tem. Não brinque comigo, Austin.

— Parece-me, que isso é a única coisa que já fizemos.


Você foi quem fugiu, Edie, e levou o que restava do meu
coração com você quando fez isso.

— Não diga isso.

Não. Não. Não.

Isso foi como a porra de nosso mantra.

Não fique muito perto.

Não diga isso em voz alta.

Não toque.

— Você causou isso — A acusação sussurrada dela


pairou entre nós, um tiro violento no ar frio.

A culpa subiu pela minha garganta, minha língua


ficando seca.
— Você não ficou tempo suficiente para deixar-me dizer
que estava arrependido.

Ela virou o rosto, o queixo tremendo, antes que


parecesse reunir forças, coragem de olhar para mim.

— Você sabe que não teria importado de qualquer


maneira. Eu tinha que ir. Você sabia que não podia ficar. Não
quando ele soube.

A raiva pulsava e cerrei os dentes, forçando-me a deixar


de lado a minha raiva por aquele bastardo.

Focado no que importava e não no que eu não podia


controlar.

Nela.

E me aproximei e ela recuou. Eddie se colocou contra a


parede como se esperasse que pudesse se abrir e a engolir
inteira.

Meus dedos roçaram sua bochecha, tão macia, meu


corpo muito próximo ao dela. Uma doce tensão pulsava no ar,
tão densa que jurei que retardou nossos movimentos.

— Nunca quis te machucar.

Ela prendeu o lábio inferior entre os dentes. Uma


desordem de emoções girava em torno de nós.

— Mas você machucou — A dor ecoou através de sua


confissão chorosa. — Você me magoou muito.

— Edie.

Arrependimento.
Saudade.

Tristeza.

Saíram com o nome dela como o turbilhão que ela


incitou.

Ela balançou a cabeça.

— Por que você está aqui, Austin? Na minha cidade.


Você estava à minha procura? — Desgosto apareceu com a
última.

Quase desejei poder dizer que sim.

Com toda certeza seria a resposta correta.

Deus sabia que meu coração estava.

Limpei a garganta.

— Não, Edie. Deixei LA há três anos. Estive viajando ao


longo da costa desde então.

Cautelosa, seu olhar vagou, analisando-se. Procurando.


Levou apenas um segundo para eu perceber o que ela estava
procurando. Como se estivesse fazendo o seu melhor para ver
debaixo da minha pele o que estava poluindo minhas veias.
Descobrir meus demônios.

Não era um assunto que eu gostava de lembrar.

Mas era uma parte de mim.

Quem eu era.

Um pedaço que sempre iria lutar contra.

As palavras saíram tensas.


— Estou limpo por mais de três anos, Edie.

Emoção tomou conta de suas feições. Rápida surpresa e


alívio arrebatador.

E então eu vi. Vislumbrando as centelhas do amor que


essa linda garota uma vez sentiu por mim.

Sua língua saiu e passou ao longo de seu macio lábio


inferior.

Porra.

Eu queria beijá-la.

— Eu me preocupava tanto com você — Suas palavras


eram suaves e baixas. Como se a admissão fosse o seu maior
segredo. Sua maior armadilha.

Preciso controlar meus sentimentos. Estava lutando


desesperadamente para não me aproximar e tomá-la.
Lutando para não ceder e puxar seu corpo contra o meu.

Envolvê-la e tomá-la inteira.

Ela soltou um suspiro gutural, sua respiração me


aquecendo.

Uma luz implacável.

Minha voz saiu rouca, e cheguei mais perto, minha boca


a uma respiração da dela.

— Eu também me preocupava com você. Demais. Todo


dia. Toda noite. Eu senti tanto a sua falta que quase me
matou, perguntando-me o que aconteceu com você. Onde
você foi. Se estava bem.
Angústia enrugou os cantos dos olhos dela.

Nós nadamos nela. Águas negras perigosas lambiam


nossos queixos. Ameaçando nos afogar. Sua luz lutou contra
a minha escuridão. Aquela sombria, sombria tempestade
estava ganhando velocidade.

Ela parecia sacudir-se das garras da tempestade, ao


mesmo tempo aliviada e aflita para redirecionar nossa
conversa. Sua voz assumiu uma nova aresta de desespero.

— Você... você conversa com o meu irmão?

Com um suspiro pesado, dei um aceno relutante.

Merda. Ela acha que este tema seria mais fácil?

— Sim.

— Como ele está?

— Acho que ele está bem, Edie. Mas honestamente? Eu


realmente não sei. Disse-lhe que saí de casa há três anos.
Apenas converso através de mensagens de textos e cartas,
principalmente com meu irmão. Mas sei que muito mudou.
As coisas com a banda ficaram... loucas demais.

Seu aceno foi triste.

— Ele deve me odiar.

Minha testa franziu, as palavras foram nada menos do


que um grunhido.

— Ele não te odeia, Edie. Como você pode dizer isso?

Um som amargo saiu daquela boca bonita, o som era


uma contradição com a suavidade de seu rosto.
— Como não poderia? Eu só... fui embora.

Desta vez a agarrei, as duas mãos no rosto dela,


forçando-a a olhar para mim.

Seu calor não era nada menos do que um choque


diretamente no meu coração.

Energia e luz.

Sibilei.

A expressão dela congelou, surpresa.

Eu forcei as palavras entre os dentes.

— Ninguém te odeia, Edie. Certo. Ele ficou apavorado


para caralho quando você partiu, sem saber o que aconteceu.

— Você...disse a ele?

Eu balancei a cabeça, exasperado. Tentando não me


sentir ofendido. Não era como se eu não merecesse sua
desconfiança.

— Claro que não contei a ele, Edie. Fingi que não sabia
de nada quando ele exigiu respostas. É evidente que sabia
que algo ruim aconteceu para você fugir assim, mas não a
culpou.

Talvez, Ash não soubesse, mas fui eu o culpado.

A mãe dela, também, por agir como bem entendeu


quando ela não tinha ideia.

Mas a verdadeira culpa?

Esse troféu foi para Paul.

Maldito filho da puta.


A raiva brilhou.

Deveria ter acabado com ele.

Sacrificado tudo para limpar essa mancha de Edie.

Para finalmente livrá-la do medo persistente.

Agora, a única coisa que eu podia fazer era esperar que


o idiota ainda estivesse apodrecendo na prisão como a escória
que era.

Sua boca tremia no canto.

— Eu odeio tê-lo deixado com tantas perguntas. Não


consigo sequer imaginar o que Ash pensa.

Ela riu, mas foi em sua própria descrença.

— Escrevi-lhe uma carta. Dei a ele um monte de


desculpas esfarrapadas por sair sem deixar vestígios, disse
que estava tentando me encontrar.

— Você, Edie? Encontrou a si mesma?

Ela respirou fundo, a boca se abriu enquanto olhava


para mim através da névoa, aquela doce e boa honestidade
escorria livremente.

— Eu só fiquei mais perdida.

Esta. Garota.

Eu queria rastejar dentro de sua segurança. Enchê-la


com a minha.

O silêncio se estendeu entre nós, o silêncio cheio de


tudo o que não foi dito.

Com tudo o que deixamos de fazer.


Energia ascendeu e aumentou. Tremendo através do ar
caótico. Arrastando, puxando e empurrando-nos por todos os
lados.

Consumindo.

Essa conexão que só senti com ela.

O medo serpenteava em suas feições. Eu tinha certeza


que foi então que ela percebeu nada mudou.

Nós ainda estávamos ligados.

Amarrados de uma maneira inexplicável.

— Você fugiu — Foi um murmúrio áspero, meus dedos


se movendo para flutuar ao longo do ângulo agudo de seu
queixo.

Porque Deus. Eu só precisava tocar.

Sua testa vincou com a incerteza, palavras suaves e


tristes.

— Parece-me que você também fugiu.

— Sim. Estive fugindo — Apertei-lhe um pouco mais


forte. — E não acredito nem por um minuto que seja uma
coincidência que tenha encontrado você, também.

Ela estremeceu.

— Você sabe que é tarde demais para nós.

Fechei a distância. Recusando-me a desistir. Aproximei-


me da minha menina até que estava enjaulada, seu doce,
doce corpo grudado à parede, enquanto estava morrendo de
vontade de grudar-me a ela.
Para tomar uma verdadeira respiração em meus
pulmões encharcados. Uma verdadeira que não tomei desde
que ela desapareceu da minha vida.

Uma verdadeira respiração de algo bom. Algo puro.

E desta vez faria o meu melhor para não a sujar, porra.

Pressionando ambas as mãos acima de sua cabeça,


cerquei-a. Apenas precisando saber se eu tinha uma luta que
valeria a pena lutar. Porque não estava a ponto de prejudicar
essa garota mais do que já prejudiquei. Não estragaria o que
ela encontrou se isso colocasse um sorriso em seu rosto e
facilidade em seu coração.

— Você o ama?

Seu rosto ficou confuso e olhou para mim.

Empurrei minha cabeça na direção da porta.

Meu significado mudando sua expressão. A sacudida de


cabeça foi rápida.

— Jed? Somos apenas amigos — Disse ela.

— Não parece assim para mim.

Talvez por isso, deparei-me soando todo irritado e


grosseiro.

Não pude evitar. Possessividade expandiu contra


minhas costelas, fazendo-as parecer como se pudessem
arrebentar e abrir. Pressionando com a necessidade louca de
reclamá-la.
— Você não tem o direito de exigir respostas de mim,
Austin.

O salão pareceu tão maldosamente pequeno. Como se as


paredes e o teto estivessem se aproximando.

E Edie e eu?

Nós só estávamos cada vez mais e mais perto.

Não importa o quão duro ela tentou me afastar.

Era agudo.

Algo feroz e vivo.

Algo que obrigava, impulsionava e impelia.

— Você está certa, Edie. Eu não tenho, porra. Mas


preciso saber... preciso saber o que ele significa para você.

Hesitação a desacelerou, antes que ela desviasse o olhar


dizendo.

— Nós somos amigos, Austin. Nada mais.

Necessidade derrubou meus sentidos. Um ataque de


dardos frenéticos me perfurando em toda parte, cada
bombardeio me enchendo de necessidade e desejo irresistível.

Minha boca encheu de água. Minha língua saiu para


passar em meu lábio inferior.

Eu queria beijá-la.

Reclamá-la.

Mas de alguma forma entendi que agora não era o


momento de empurrar. Essas fronteiras nunca foram tão
grandes, as paredes que se escondeu atrás, construídas com
os tijolos da minha traição.

Como eu poderia ser bom o suficiente?

Corajoso o suficiente?

Sábio o suficiente para encarar essa garota?

Eu queria ser. Eu queria tanto ser, que podia até sentir


o gostinho.

Não queria nada mais do que ser o homem que saí da


casa de meu irmão para me tornar.

Disse-lhe que algum dia queria que uma menina me


olhasse da maneira que Shea olhava para ele.

Mas eu não falava sobre qualquer garota.

Falava sobre essa garota.

Eu poderia ser esse homem?

Uma espiral de dúvida serpenteava por mim, e um nó


grosso de incerteza cresceu na base da minha garganta.

A verdade era que eu não sabia.

Respirando fundo, tomei uma decisão.

Resolvi.

Assim como sempre fiz antes.

Assim como sempre faço.

Porque qualquer parte de Edie Evans era melhor do que


nenhuma.

— Eu poderia aceitar uma amiga — Disse.


Nós dois sabíamos que não era perto do que eu
realmente quis dizer.

Nem perto do que algum de nós queria.

Mas nós erámos especialistas em pegar o que


pudéssemos pegar.

Enrugou sua testa, a voz dura.

— Parece-me que você tem muitas delas. A loira


pendurado em você perto da fogueira era especialmente fofa.

Ciúmes.

Estava lá.

Flagrante e audaz.

E eu gostava, porra. Alimentava-me e não havia nada no


mundo que pudesse fazer para me parar. Meu dedo estava
subitamente girando em uma mecha das ondas suaves que
emolduravam seu rosto deslumbrante, os fios sedosos
incitando uma guerra de luxúria e ganância e uma devoção
secular dentro de mim.

— Sempre gostei de loiras — Falei baixinho.

— Austin... — Ela advertiu.

Ela não precisava dizer isso.

Já ouvi.

Não.

— Amigos — Reiterei, forçando-me a mantê-la satisfeita.


Dando-lhe tempo quando o que eu queria era exigir que ela
me desse tudo de si.
Piscando, ela respirou fundo.

— Como você sempre consegue fazer isso comigo?

— Fazer o que?

— Fazer-me sentir como se eu estivesse onde deveria


estar.

— Porque você está.

Seus olhos corriam pelo corredor, como se não confiasse


em si mesma para estar lá comigo.

Minha boca pressionou contra o topo de sua cabeça e eu


implorei respirando as palavras em seu cabelo.

— Não fuja, Edie. Você sempre foi minha melhor amiga.


O tempo e distância não mudaram isso. Nada nunca vai
mudar.

Sua relutância pairou entre nós, sua hesitação palpável,


suas respirações. Um suspiro, preenchendo o ar, o espaço e
meu coração. Ela apertou a boca nele, no trovejar e o rugir
ricocheteou em meu peito. Suas palavras eram um murmúrio
de esperança e temor.

— Como você pode sempre esperar que confie em você


de novo?

Eu a abracei. Balançando-a lentamente. Confortando-a.

Foi tão natural.

Tão maldosamente certo.

Como se segurá-la fosse o que fui criado para fazer.


— Eu não espero, Edie. Não. Mas estou pedindo para
você tentar.

— Não sei se alguma coisa mudou, Austin. Se sou


diferente daquela menina no quarto escuro.

Ela disse isso como uma advertência suplicante.

Mas aquela menina no quarto foi por quem me


apaixonei.

— Eu conheço você, Edie. Acho que já percebi isso por


agora. Você não me assusta.

Isso foi uma mentira deslavada.

Esta garota me aterrorizava.

As coisas que ela me fez querer.

Quem ela me fez querer ser.

O medo de perder tudo de novo se eu fodesse do jeito


que sempre fiz.

Nós ficamos assim por algum tempo. Balançando suave


e lentamente.

Segurei-me para não protestar quando ela finalmente


desembaraçou-se dos meus braços.

— Preciso voltar lá para fora.

Por agora, eu sabia que tinha que deixá-la ir.

— Tudo bem.

Lentamente, ela se moveu pelo corredor. As pontas dos


seus dedos levemente tocando a parede enquanto passava,
como se isso a mantivesse em seus pés vacilantes.
— Edie — Chamei.

Ela fez uma pausa no final, deslocou-se para olhar para


mim com aquele olhar por cima do ombro.

— Eu vou esperar. Estive esperando por você desde


sempre — Disse a ela.

Olhos dar cor do mar olharam para mim. A


profundidade deles era impressionante.

Nadando em tristeza.

Cheio de esperança.

Ela sorriu. Lenta e cautelosamente. Então se virou e


saiu pela porta.

Com a respiração instável levantei meu rosto para o


teto, como se talvez na superfície esburacada pudesse
encontrar algo que mantivesse o frio fora de alcance.
Buscando pela paciência que parecia fugaz e falsa.

Mas lhe disse a verdade.

Eu esperaria.

Pelo tempo que levasse.

Voltei pelo corredor em direção à cozinha, abrindo a


geladeira e tirando uma cerveja. Eu não tinha mais certeza de
que poderia lidar com a pequena e acolhedora festa na praia.

Não tinha certeza se poderia fazer a minha cabeça parar


de girar ou o meu coração de martelar com as possibilidades
que não poderia deixar de esperar.
Girei de volta e respirei surpreso, pego de surpresa pela
sombra de uma figura solitária em pé no meio da cozinha
escura. O ar voltou quando percebi que era Deak, olhando
para minhas costas.

Passei minha mão nervosa pelo cabelo.

— Merda. Cara. Você me assustou para caralho.

— Sim? Melhor eu do que o Jed.

Tanto zombei quanto suspirei.

— O que isso deveria significar?

— Você sabe exatamente o que isso significa. Você é


novo por aqui, e Jed tem estado por aqui por um longo, longo
tempo. Ele é gente boa, e pelo que eu vi, ela é uma boa
garota. Doce. Nenhum deles precisa de alguém como você
mergulhando aqui e bagunçando a vida deles. Vi você em
ação, companheiro. Ela merece mais do que isso.

— Nós somos apenas amigos, cara.

Uma mentira filha da puta.

Mas o que diabos mais eu ia dizer? Que já questionei


Edie e ela me jurou que não havia nada rolando lá?

Bufando, ele levantou uma sobrancelha conhecida.

— Eu posso estar ficando velho, mas estou longe de


estar ficando cego.

Dei um suspiro, olhei para o chão, reunindo a coragem


de olhar para ele.
— Há muita história aqui que você não conhece, Deak.
E você está certo. Ela é uma boa menina. E não tenho
nenhuma intenção de machucá-la.

Nunca mais.

Mas o que eu tinha a intenção era de reconquistá-la.

Minha.
— Você é maluco? Vamos ser pegos — Mas seu sorriso
proclamou que este era o único lugar que ela queria que eu
estivesse. Na ponta dos pés ando pelo resto do quarto dela,
silenciosamente tranquei a porta atrás de mim.

Uma onda de algo bom impulsionou-me para a frente


enquanto subia em sua cama.

Respirei aliviado quando ela colocou as minúsculas


mãos em mim.

Porque essa menina... ela causa algo bom. Algo que


parecia tão certo.

Não importava que eu estava esgueirando-me aqui a


maior parte das últimas três semanas, nós dois fazendo o
nosso melhor durante o dia para despistar, fingir que isso
não acontecia noite após noite.
Não era como se alguma coisa obscena estivesse
acontecendo entre nós, de qualquer maneira, mas eu
duvidava que Ash aceitasse gentilmente que eu dormisse na
cama dela.

Ela aninhou a cabeça no meu ombro, seu suspiro muito


suave quando colocou sua mão na minha camisa.

— Cante para mim.

Um sorriso autoconsciente cambaleou em minha boca,


minhas palavras perdidas nas mechas de seu cabelo.

— O que você quer que eu cante?

— Algo suave e doce.

Assim como ela.

Dei um beijo em sua testa, seu coração batia, batia,


batia onde estava contra o meu peito.

— Eu não sei nada doce.

Caóticas, batidas pesadas eram o que eu sabia. O som e


a vibração da Sunder eram uma parte da minha alma, as
músicas corriam pelas minhas veias como se fossem
essenciais para sustentar essa meia-vida.

Nas sombras, ela olhou para mim, confiança brilhando


de volta.

— Eu acho que você é todo doce, Austin Stone.

Desta vez era carinho correndo pelas minhas veias. Algo


estranho e certo. Um elo perdido.
Empurrando para fora um suspiro, envolvi meu braço
em volta da cabeça dela, puxando-a para mais perto, essa
menina que de alguma forma conseguiu fazer-me sentir
inteiro, quando eu estava tão maldosamente quebrado.

Limpei a garganta. Comecei a cantar Broken by


Lifehouse. Suavemente. Minha voz era um mero arranhão na
parte de trás da minha garganta. As letras me atingiram com
força enquanto segurava essa menina em meus braços.
Desejando que ela pudesse realmente pertencer a esse lugar.

Por mais tranquilas que fossem, as palavras pareciam


empalar o ar. O significado deles era denso. Intenso e
absoluto.

Estou caindo aos pedaços, eu mal respiro

Com um coração partido que ainda está batendo

As palavras eram tão verdadeiras para nós dois.

E me surpreendeu que ao cantar a música para trazer-


lhe conforto, seu toque trouxe o mesmo para mim.

Nós mal nos segurando.

E no nome dela... no nome dela ... eu encontrei


significado.

Parei quando a canção chegou ao fim, minha garganta


quase fechando com a emoção que me bloqueava.

Edie se agarrou a mim, o rosto enterrado no material da


minha camiseta, antes que avançasse e me olhasse como se
fosse ela a pessoa que estava olhando para a luz. Umidade
surgiu em seus olhos.
— Você tem uma voz linda.

Tudo ficou apertado, aquelas esperanças estúpidas


inflamadas pela crença dela.

— Não tenho.

Não estava nem perto de ser tão talentoso como meu


irmão. Como o resto dos caras.

Nem sequer era digno de estar no espaço deles.

Eu fodi tudo. Arruinei tudo.

Ela balançou a cabeça em desacordo, exasperação e


adoração totalmente claros.

— Você não percebe, Austin? Como você é incrível?


Talentoso? Tem alguma ideia do que sua voz faz comigo?

De alguma forma consegui trazê-la para mais perto.


Deus, isso me fez sentir tão insano que queria puxar meu
capuz condenado sobre a minha cabeça para que pudesse me
enrolar, esconder-me e me deitar. Assim essa menina poderia
me desnudar completamente.

— Quando você está aqui, não dói tanto — Ela


sussurrou. Delicados, delicados dedos tocaram meu pescoço
e roçaram meus lábios.

Eu suprimi um gemido, minha voz ficando mais rouca


quando nós dois íamos mais fundo um com o outro, mais do
que jamais fomos. Como se cada camada única que nos
separava estivesse lentamente sendo exposta.

— O que não dói tanto?


Ela finalmente me contaria? Confiaria em mim o
suficiente para me deixar entrar?

Reserva e medo seguraram a língua dela. Eu podia


sentí-lo ali, preso na base da sua garganta, implorando para
ser expulso.

— Tudo — Ela sussurrou no silêncio do quarto. — Eu...


eu não me sinto tão sozinha. E os sonhos, eles não vêm,
sabendo que você virá em breve.

Limpei a garganta, falando palavras cruas.

— Eu também.

Talvez essa tenha sido a parte mais assustadora. O fato


de ela ter preenchido todos aqueles lugares ocos e vazios
dentro de mim. Acalmando-os com seu toque. Quando ela
estava perto, a necessidade irritante de encher minhas veias,
distorcer a dor, cobrir a perda, parar a voz dele, era
silenciada.

Subjugada.

Como ela estava fazendo toda a cobertura em si mesma.

— Com o que você sonha? — A pergunta dela foi quase


como um apelo.

Aqueles lugares vazios latejavam.

— Com ele. A risada dele, — Eu pisquei para o teto,


visões tão claras — Principalmente os olhos. Todas as noites,
é como se ele estivesse olhando para mim.
O sorriso dela era gentil. Cheio de compreensão quando
se apoiou em um cotovelo, seu olhar intenso. Ela tocou meu
rosto.

— Talvez ele esteja... olhando para você. Isso seria tão


ruim?

Tristeza arrastou pela minha boca, o ódio que senti


firmemente preso, condenado para o bem do meu espírito
sofredor. Porque ela não sabia. Não tinha ideia de que era
minha culpa.

— Parece que... quando eu acordo, percebo que não é


real. Que ele realmente se foi.

Simpatia apareceu na testa dela.

— Você estava lá?

Um fantasma de uma lembrança tomou conta de mim, a


sensação do corpo dele se contorcendo em minhas mãos.

— Sim. Eu estava lá.

Ela escondeu o rosto no meu pescoço.

— Eu sinto muito.

Depois de alguns momentos, ela se afastou para olhar


para mim, olhos azuis da cor do mar eram sinceros e muito
doces.

Diamantes.

Luz. Luz. Luz.

Essa menina que de alguma forma conseguiu me tirar


das ondas avassaladoras que me seguravam.
O desejo me pegou com a força de um caminhão de
duas toneladas.

Falhando quando desencadeou.

Eu a desejava.

Eu queria beijá-la e tocá-la.

Enterrar-me dentro dela.

Perder-me em seu corpo, seu coração e sua mente.

Segurá-la.

Amá-la.

Essa louca energia borbulhando, que se agitava cada


vez que essa menina aparecia.

Mas esta noite se transformou em algo diferente.

Algo mais.

Porra. Eu queria mais.

Minha boca molhou e minha mão estava em seu rosto.


Seus lábios se separaram e avancei.

Aqueles olhos se arregalaram de medo.

Ela virou o rosto.

Quebrando a ligação.

Rejeição me bateu. Duramente. Com tanta força que


quase me enviou dois anos para trás. Quando eu estava em
espiral.

Até as profundidades mais sombrias.

Veias cheias de veneno.


Cerrei meus dentes, precisando escapar. Mas ela estava
agarrando minha mão que esteve em seu rosto, empurrando-
a de volta para sua pele aquecida, segurando-a apertado. Ela
sussurrou.

— Não me deixe, não me deixe — Uma e outra vez.

Umidade brilhava nos olhos dela, piscinas cintilantes de


mar, sua expressão tão crua, porra. Real e honesta.

— Eu só... não posso fazer isso, Austin. De novo não.


Dói demais. Mas se eu pudesse, seria você. Eu prometo, seria
você.
Eu pousei a meiga garotinha na mureta que separava a
praia da estrada, dando-lhe um sorriso gentil enquanto eu
tentava domar sua juba selvagem de cabelo castanho escuro.
Colocando-o em um lado, dividi em três partes e fiz uma
trança folgada.

Uma brisa passou em torno de nós, conduzida pelas


ondas, o sol rompendo o ar fresco para beijar nossa pele.

Bati no seu nariz.

— Aí está você, raio de sol. Tudo terminado.

Ela ergueu o rosto para mim e me ofereceu um sorriso


tão grande que me tocou em algum lugar profundo. Naquele
lugar dolorido que tentei tão desesperadamente fingir que não
existia. Dois de seus dentes permanentes estavam crescendo
e dois de leite faltavam na parte de trás.

— Estou bonita? Meu pai me disse que sou a garota


mais bonita do mundo inteiro.
Dei uma risada carinhosa e a peguei por debaixo de
seus braços, colocando-a no chão.

— Você certamente é.

— Billy não acha isso. Ele disse que sou nojenta.

— Quem é Billy? — Perguntei.

— Da escola. Papai diz que Billy é um valentão. Billy


Valentão. Assim que eu o chamo. Ele é tão, tão malvado o
tempo todo. Sempre me chateando e puxando meu cabelo.

Com uma careta, peguei a mão dela e comecei a passear


pela pista em direção à faixa de pedestres.

— Bem, isso não parece legal.

Ela pulou ao meu lado.

— Não. Não é legal. Mas a Sra. Montez diz que nós tem2
que nos comportar, por isso sempre me comporto mesmo
quando ele não se comporta.

— Isso é bom. Só me avise se ele incomodar muito, ok?

Eu sabia muito bem que havia uma linha tênue entre


provocação e abuso.

— Sim..., mas tenho que dizer ao meu pai primeiro. Ele


prometeu que faria uma visitinha à minha classe se Billy
continuasse me irrita3. E eu realmente gosto quando meu pai
visita minha classe!

Sufoquei uma risada.

Aposto que ele visitaria.


2 Fala infantil da personagem com erros de pronúncia.
3 Fala infantil da personagem com erros de pronúncia.
Heidi era filha de Kane, o principal instrutor de surfe da
loja. A mãe dela desapareceu com nada mais do que um
bilhete rabiscado em um pedaço de papel deixado sob um
ímã de coração na geladeira, dizendo que não conseguia lidar
com ser uma mãe por nem mais um segundo. Duas semanas
antes de Heidi fazer dois anos.

Deixou Kane, um pai solteiro com um enorme peso


sobre os ombros e um intenso amor por uma garotinha que o
cara nem sempre sabia como lidar.

O antigo sofrimento surgiu na minha alma.

Era algo que simplesmente não conseguia entender.

Não conseguia entender ou compreender.

O pensamento de voluntariamente abandonar essa


preciosa menina.

Talvez seja isso nos que conecte com tanta força.

A partir do momento que comecei a trabalhar na loja, a


qualquer hora que ela estivesse lá, Heidi constantemente me
seguia, conversando sem parar enquanto corria ao redor em
meus calcanhares e puxava a minha camisa, desesperada
pela atenção de uma mulher.

Havia algo em seu sorriso inocente que preenchia o


vazio infinito dentro de mim. Ao mesmo tempo, expandia-se e
pulsava dentro dos limites da caverna oca esculpida no meu
espírito. A criança tinha seis anos, indo para sete, cheia de
vida, entusiasmo e esperança inocente.
Não demorou muito para Kane me convencer a ficar com
ela nas tardes de sábado. Ele tinha várias turmas para
ensinar e Blaire trabalhava na loja aos sábados para que eu
pudesse ter um dia de folga.

Engraçado, já que eram gastos normalmente assim.

— Então o que você quer fazer hoje? — Perguntei


enquanto esperávamos o semáforo mudar na faixa de
pedestres.

Heidi dançava na ponta dos pés.

— Eu quero ir ao parque e ao restaurante que tem


aquelas batatas fritas engraçadas com os rostos e quero
tomar um sorvete. Oh, e quero ir à loja porque meu pai me
deu dez dólares. Vamos lá primeiro!

Hum, uau.

Ela era um pequeno furação.

Mas é claro que sorri, porque amava cada segundo dela.

Após o caos que me arrancou do meu porto seguro,


derrubando todas as paredes, eu precisava de um dia como
este.

Uma distração.

Um propósito.

— Tudo bem então. Vamos ver o que podemos fazer


antes de seu pai sair do trabalho.

De mãos dadas, nós passeamos pela rua com palmeiras


intercaladas com árvores de sombras largas, as lojas
turísticas e restaurantes pitorescos formavam um arco-íris de
cores, grandes janelas de vidro emolduradas em branco.

Aquela mesma brisa calmante veio com a maré,


perseguindo-nos.

— Aqui? — Parei na frente de uma lojinha de


brinquedos.

Heidi soltou minha mão e moveu-se para a frente,


pressionou as palmas das mãos e a testa no vidro, olhando
para dentro.

Deixando sua pequena marca de criança.

Algumas impressões digitais não machucam ninguém.

Ela olhou para mim com aquele sorriso, excitação


brilhando em seu olhar.

— Oh sim, oh sim! Aqui têm bonecas, Edie! Aqui têm


bonecas!

Sorrindo para ela, toquei-lhe o queixo.

— Bem, então é melhor entrarmos.

Abri a porta e Heidi correu na minha frente, abaixando


diretamente nas bonecas em destaque em uma prateleira.

Eu me encolhi. Com apenas uma olhada, soube que não


havia chance de que ela pudesse pagar uma.

— Edie... olha! Olha! Esta se parece comigo — Heidi


pulou ao meu lado e puxou minha mão, apontando para uma
boneca ridiculamente cara com o mesmo cabelo e cor dos
olhos dela que apostaria que qualquer menina de seis anos
de idade babaria.

— Hum....sinto muito querida, mas você definitivamente


não tem dinheiro suficiente para ela.

E eu totalmente compraria para ela.

Claro, se o pai dela não me matasse por eu ter


comprado.

Ela fez beicinho, mas mesmo isso tinha algo de delicado.

— Oh, cara. Para que eu tenho dinheiro?

Uma onda de carinho nadou pelo meu coração. Um


sentimento que sempre esteve à sombra de tristeza. Eu
apertei sua mão.

— Bem. E se você economizar e na próxima vez ter mais


dinheiro para gastar?

Você sabe... nada de errado com dar algumas lições de


vida sempre que você tiver a chance.

— Mas meu pai disse que era para eu comprar um


presente.

Está bem então.

— Bem... talvez você possa comprar um lindo vestido


para a boneca que você já tem?

Aqui vamos nós.

Uma distração.

Compromisso.
Ela saltou sobre seus bonitos e pintados de rosa
dedinhos dos pés.

— Então podemos ir tomar um sorvete?

— Depois do almoço — Dei um pequeno puxão em sua


trança. — Parece um bom plano?

— Sim!

Isso foi bastante fácil.

Nós viramos o corredor em busca dos acessórios da


boneca. Durante o caminho fiz uma oração silenciosa para
que eles não sejam tão caros como as bonecas exibidas na
frente, porque o pai dela teria apenas que aceitar eu a
mimando um pouco, porque não tenho coração para dizer-lhe
não duas vezes.

E eu congelei.

O mundo caiu sob meus pés.

Eu tropecei e parei. Foi instantâneo. A maneira que fui


cativada pelo belo rapaz que estava na outra extremidade do
corredor. Aquele homem sinistro, ameaçador que abalou
minha base rapidamente desmoronando. Como se a postura
dele disparasse uma onda de choque de energia ao longo do
chão, abrindo rachaduras e fissuras.

Isso me atingiu.

Roubando minha respiração, minha mente e minha


sanidade.

Meus dedos se contraíram, ansiosos para tecer através


daquela confusão de cabelo castanho que estava bagunçado
em sua cabeça, o rosto de perfil, o ângulo de seu queixo tão
forte, sombreado pela barba que ele obviamente não teve
tempo de fazer esta manhã. Sua camiseta cinza apertada
expôs a grande tela de tinta que rodeava e envolvia seus
braços abaixo. Tatuagens que eu não queria nada mais do
que explorar.

Um pedaço deste garoto que não reconheci.

Um mistério.

Um enigma.

Fiquei cambaleante.

Então despedaçada.

Vou esperar por você para sempre.

Ele era o único que eu desejava que fosse verdade.

Heidi puxou minha mão, sua voz cheia de impaciência.

— Vamos, Edie. Temos que nos apressar ou meu pai vai


chegar em casa e fazer tudo, tudo sozinho e depois não
teremos tempo para ir ao parque.

Com a tilintante e doce voz dela, Austin olhou para nós.

Seu próprio choque vívido, aquele olhar cinza selvagem


e inquieto focado em mim.

Eu podia sentir isso, a forma como todo o corpo dele


inclinava na minha direção.

Atraído.

Ele piscou, aqueles olhos terrosos tão escuros e


profundos.
Heidi me arrastou para a frente. A menina estava
completamente alheia à forma como meu eixo havia mudado.
Toda direção alterada e centrado sobre um homem.

Nós éramos ímãs. Ligados. Agitados. Atraídos e


repelidos.

Austin moveu-se, cada passo calculado. Sua própria


surpresa, que esteve evidente em seu rosto, desapareceu e
aqueles deliciosos lábios formaram um ainda mais delicioso
sorriso.

Satisfação e desejo.

Um arrepio se formou em minha espinha.

Frio como gelo e afiado como uma adaga.

Deus, eu tive que me concentrar. Manter o controle.

Ele passou a mão casualmente por seu cabelo e se


aproximou, com a cabeça inclinada para o lado e um brilho
nos olhos.

Gostaria de acusá-lo de me seguir. Exceto que aninhado


sob um braço dele estava um enorme urso de pelúcia marrom
com dourado e um conjunto de design de moda de menina
estava encaixado ao lado dele.

Confusão rodou.

O que no mundo ele estava fazendo?

— Edie — Ele chamou. Os olhos ardentes me traçaram


como se me ver fosse um alívio, da cabeça aos pés e de volta
para cima novamente.
Eu me mexi, meus dedos vibrando até arrumar o fio de
cabelo que se soltou da minha própria trança.

— Oi — Sussurrei.

Depois do que aconteceu duas noites atrás, eu não


tinha certeza de como lidar com a sua presença. Minha
fraqueza por ele era tão clara.

Confiar.

Não era segredo que eu não confiava muitas vezes.

Mas naquele momento, quem eu não confiava era em


mim.

Ele olhou para a garotinha sorrindo ao meu lado. Uma


careta curiosa surgiu em sua testa e um pequeno sorriso em
sua boca.

— Quem é essa? — Ele lançou sua atenção para ela.

Ela balançou ao meu lado, inclinando a cabeça para o


lado como se fosse subitamente atingida por uma onda de
percepção, claramente não imune ao charme que era esse
garoto.

Pobre menina.

Eu não podia culpá-la.

— Eu sou Heidi.

Ele olhou para mim por esclarecimento.

— O pai de Heidi... Kane... ele trabalha na loja de surfe.


Eu o ajudo com ela aos sábados já que a escola está de férias
e o programa de verão não funciona nos fins de semana.
O sorriso que ele deu foi lento e cauteloso. Procurando.
Como se esse garoto soubesse e estivesse silenciosamente me
perguntando se estava tudo bem.

Se eu estava bem.

Desejei com tudo de mim que o lugar que eu nutria por


ele, o lugar, que mantive como um refúgio seguro, não desse
uma pulsação de carinho saudoso.

Desejei não querer ir em frente e enterrar meu nariz em


sua pele, respirá-lo da maneira que costumava fazer e
confessar-lhe que às vezes ainda doía tanto que eu queria
cair de joelhos.

Eu queria mais, mas não sabia se ele me tomaria e me


daria um pouco dele quando me puxasse para a fortaleza de
seus braços.

Em vez disso, forcei um sorriso frágil e apertei a mão de


Heidi.

Não sei exatamente quem eu tentava tranquilizar.

Ele dirigiu o poder de sua presença para ela e ficou de


joelhos.

— Olá, linda. Prazer em conhecê-la. Sou Austin.

Minhas entranhas tremeram. O lado descontraído e


confiante desse lindo e misterioso garoto era completamente
irreconhecível. Aqui estava um homem que não tinha nada de
tímido e cauteloso

Heidi riu e balançou um pouco mais, toda tímida e fofa.


— Prazer em conhecê-lo, também. — Ela disse, olhando
para mim como se buscando aprovação.

Quando não a afastei, Heidi estendeu a mão e passou os


dedos pequenos pela pele do urso de pelúcia.

— Para quem é isso? — Ela perguntou. — É muito


grande. É para o aniversário de alguém? Eu gosto de
aniversários.

Um sorriso suave dançava em seus lábios cheios.


Embora algo sobre ele parecesse triste, insinuando tristeza.

— Isso aqui?

O aceno dela foi enfático.

— Este urso é para a minha sobrinha. Kallie é o nome


dela. Você realmente me lembra um pouco ela, quando tinha
a sua idade. Eu não a tenho visto por um longo tempo, então
eu queria enviar-lhe algo para que saiba que estou pensando
nela.

Sobrinha?

Meu cérebro tentou processar o fato do que ele estava


dizendo, e a pergunta apenas saiu, tornando-se conhecida
antes que eu pudesse pará-la, as palavras cruas.

— Você tem uma sobrinha?

Minha cabeça gritou mil perguntas. Como? Quando?


Era mesmo possível?

Austin se endireitou. O desconforto surgiu nele quando


reconheceu a confusão que estava tão claramente escrita no
meu rosto, como se entendesse que estava abordando um
tema tão incrivelmente difícil para mim.

Como se soubesse o quão difícil era para mim estar aqui


e enfrentar meu passado que tentei afastar para longe, fraca
demais para ficar parada ou permanecer. Agora eu estava no
escuro, uma estranha para a minha família e amigos que se
tornaram nada mais do que um sonho distante e nebuloso.

Melancolicamente, ele sacudiu a cabeça.

— Quanto tempo faz que você esteve em casa, Edie?

Minha risada foi frágil.

— Você sabe que não voltei.

Depois que saí, enviei uma patética desculpa em uma


carta para Ash. Propositadamente deixando de fora um
endereço de retorno com esperanças de que iria cortar a
última ligação com o passado, já não podia lidar com isso.

Com efeito, eu cortaria o meu irmão.

Meus pais.

Minha casa.

Meu Austin.

Mas tive que cortar, porque cortando a minha ligação


com eles significava que estava cortando o último laço com
ele. Estar na mesma cidade foi algo que eu já não podia
suportar. Ódio golpeou na minha barriga e o empurrei, deixei
de lado, porque a última coisa que queria era lhe dar mais
tempo no em meus pensamentos.
Ele já roubou tanto.

Por causa dele, eu deixei completamente para trás


aqueles que amava.

Não ousei manter contato. Machucaria demais olhar


para trás e saber que eu não era mais uma parte do mundo
deles, que cresceu a alturas insondáveis.

O sucesso da Sunder explodiu enquanto eu me escondia


nesta tranquila cidade segura, isolada no norte da Califórnia.

Foi mais fácil simplesmente deixar tudo no passado e


fingir que não senti falta daquilo. Deles. Como se não
houvesse este buraco na minha alma me lembrando de tudo
que perdi.

O lamento mexeu em apenas um lado da boca de


Austin, carregando sua própria perda. Mas de alguma forma
ele ainda estava maravilhoso e cheio de amor. Apenas a
saudade em sua expressão foi suficiente para enfraquecer
meus joelhos e minha determinação e a fortaleza que eu
tentei desesperadamente manter erguida em volta do meu
coração.

Deus.

Este sentimento instável me pegou. Eu queria correr e


ficar. Queria esquecer a dor e a traição que Austin marcou
em meu espírito e cair de joelhos para lhe oferecer todos os
fragmentos que permaneceram estilhaçados dentro.

Eles sempre pertenceram a ele de qualquer maneira.

Ele balançou a cabeça.


— Baz está casado.

— Você está brincando comigo — Saiu em uma


respiração que tentei tanto falar de forma casual. Não como
se houvesse lágrimas surgindo em meus olhos. Tentei ficar ali
na frente do garoto que melhor me conhecia e fingir que não
importava que essas pessoas que foram uma grande parte da
minha vida tivessem avançado, amadurecido e mudado.

Enquanto eu era a mesma.

Presa.

Estagnada.

Obsoleta.

O olhar potente dele absorveu tudo e não deixei de notar


sua própria tristeza ou a maneira como ele fez o seu melhor
para dizer, também.

— Você acredita nisso? Foi logo antes de eu sair de LA.


Conheceu uma ex estrela country que já tinha uma
menininha.

A descrença reverente o fez balançar sutilmente a


cabeça.

— Os dois foram mais rápidos do que qualquer um de


nós pôde notar. Eles têm um garotinho agora, também.
Connor. Quase fazendo dois anos.

Minha garganta de repente pareceu apertada, o peso


pressionando meu peito quase demais para suportar. Apertei
a mão de Heidi e forcei um sorriso brilhante.

— Isso é maravilhoso. Estou muito feliz por ele.


— Sim. Eu também. Merece mais do que qualquer um
que conheço.

Meus próprios olhos o rastrearam e analisaram, vendo a


forma como o pomo de Adão dele balançou fortemente contra
sua garganta grossa.

— Ainda não o conheci — Austin admitiu calmamente.

Eu tentei evitar que minha voz de tremesse quando


afundei na inquietação de Austin. Sabendo que estava
curiosa. Mergulho em águas profundas onde eu não tinha
certeza de que poderia nadar.

— Por que você não o conheceu, Austin?

Ele me disse que foi embora há três anos. Eu acho que


realmente não tinha calculado o que isso significava ou o que
poderia custar.

Seus próprios demônios cintilaram em seu rosto, uma


máscara de fúria e vergonha, aquele menino lindo e
brilhante, afundando nas profundezas de sua miséria, tinha
certeza de que o havia expulsado daquele mundo, também.

Onde Austin se afogaria.

Este garoto que me permitiu mergulhar meus dedos dos


pés nas águas geladas do seu tormento. Nunca me
permitindo entrar completamente.

Seus próprios segredos e vergonha muito profundos.

— Não sei, Edie. É difícil.

Minha boca se curvou, um puxão melancólico no canto


do meu lábio inferior.
— Entendo. Você não tem que explicar.

Tempo dançou ao nosso redor. Ameaçando puxar-nos


para o passado ou empurrar-nos para o futuro.

Porque no final, Austin e eu sempre fomos muito iguais.

Eu me sacudi, pisquei as lágrimas.

— Conte-me sobre todos os outros.

Um riso incrédulo rolou dele, e ele arregalou os olhos,


claramente se preparando para derramar o melhor tipo de
fofoca, como se talvez este tema fosse um alívio.

— Então, segura essa... Lyrik? O cara casou. Tem um


bebê chegando.

Meu queixo caiu.

— De jeito nenhum.

Lyrik West era o maior, pior namorador que eu


conhecia. Com a exceção de talvez meu irmão.

Austin assentiu.

— Sim, desse jeito. Dá para acreditar nisso?

— Não. Eu realmente não acredito — Forcei um sorriso


brincalhão em minha boca, fingindo que estava apenas
entrando na brincadeira, como se ele me dissesse o contrário
não seria apenas a gota d'água da minha ruína. — Não me
diga que Ash está casado também.

Olhos cinzentos brilharam. Conscientes, gentis e


diretamente em mim.

Como se eu jamais pudesse guardar um segredo dele.


— Nada... até onde sei, o seu irmão ainda está solto no
campo, cercando cada cidade que visita. As pobres meninas
nem notam o que as atingiu. O cara adora espalhar o amor
ao redor, não é?

Brincando, pressionei minha mão sobre o meu coração.

— Algumas coisas nunca mudam.

Aqueles olhos me beberam. Suaves, sedutores e doces.


Deus. Ele seria minha ruína.

— Sim, você está certa, Edie. Algumas coisas nunca


mudam.

Heidi riu, arrastando-me do feitiço que Austin Stone me


prendeu.

— Eu preciso encontrar um vestido para minha


boneca... lembra?

Eu apertei a mão dela, minha voz um sussurro rouco.

— Sim, querida, eu me lembro — Olhei de volta para


Austin. — Então... nós... ah ... melhor irmos. Nós vamos
encontrar algo divertido para Heidi e depois almoçar e tomar
sorvete... talvez, até mesmo ir ao parque se tivermos tempo,
não é Heidi?

Lutei para injetar um pouco de emoção em meu tom.

— Sim, sim! Sorvete é o meu favorito, e chocolate é o


meu favorito, favorito. Eu posso pegar chocolate, certo?

— Claro que você pode — Sussurrei.


A expressão de Austin mudou. Pensando sobre o que
dizer. Eu podia ver, a forma como seu queixo trabalhava e ele
olhava para o chão.

A tensão aumentou. Preenchendo o espaço.

Este garoto magnético me vendou os olhos com toda a


sua escuridão.

Ele deu um passo lento para a frente.

— Jante comigo, Edie.

Apreensão atravessou minhas veias, e minha língua


saiu para molhar meus lábios secos.

— Essa é uma péssima ideia.

Apenas uma semana atrás, estava fugindo dele como se


tivesse visto um fantasma. Uma sombria, sombria obsessão.

E aqui estava ele... dando um passo mais perto.


Invadindo e cercando.

E eu estava deixando.

Droga. Droga. Droga. Como ele pôde fazer isso comigo?

— E por que é? — Ele respondeu.

Eu quase zombei.

Poderia dar-lhe mil razões, mas ele já conhecia cada


uma delas.

— Você sabe por que, Austin. Eu não estou…

Pronta o suficiente.

Suficientemente forte.
Corajosa o suficiente.

Eu quero confiar em você. Só não sei se posso.

Aqueles olhos escureceram, e sua voz se aprofundou.

— Eu só quero saber de você novamente. Sinto sua


falta.

— Eu sinto sua falta, também — As palavras saíram


com um tremor.

Deus. Acabei simplesmente de admitir isso em voz alta?


Mas eu estava realmente surpresa, que este homem
enigmático pudesse arrancar a verdade de mim sem minha
permissão?

— Vamos, Edie. É apenas um jantar entre amigos.

Certo.

Algo malicioso apareceu em sua expressão, o lado


confiante deste garoto que eu não conhecia e ele voltou sua
atenção para Heidi, que estava pulando de um pé para outro
ao meu lado.

— Heidi, diga a Edie que ela tem que ir jantar comigo.


Diga-lhe que irá magoar meu coração se não aceitar. Meu ego
frágil não pode lidar com isso.

Heidi olhou para mim com olhos arregalados e


horrorizados.

— Não machuque o coração dele, Edie. Isso não é muito


legal. Sempre devemos se4 legais. Lembra?

4 Fala infantil da personagem com erros de pronúncia.


Eu pressionei a palma da minha mão na testa, sentindo
o calor, essa queimadura constante em minhas veias,
puxando, puxando e puxando.

Puxando-me em direção ao garoto que foi a minha maior


queda.

Austin lançou seu olhar para mim, todo o peso do


momento anterior se foi. Desapareceu. Em seu lugar havia
uma expressão que era algo de manipulador e a combinação
mais perigosa de arrogante e bonito.

— Ela está certa, Edie. Sempre devemos ser legais.

Por que ele faz isso comigo?

Deixa-me tonta, esperançosa e animada.

E completamente, profundamente aterrorizada.

O mesmo conflito que ele sempre incitou em mim rugiu.

— Eu não deveria.

Ele deu mais um passo para a frente, tão perto que eu o


respirei.

Algo masculino.

Picante e um pouco doce.

Intoxicante.

Tive o desejo de enterrar meu nariz em seu pescoço. Ou


talvez na gola de sua camisa.

Memórias me assaltaram.

O cheiro de roupa fresca esticado em seu corpo forte.


Calor.

Segurança.

Uma onda de tontura girou pela minha cabeça.

Sua voz áspera cobriu-me inteira.

— Você definitivamente deveria.

Eu balancei a cabeça novamente. Mas desta vez foi em


sinal de rendição.

Austin também sabia disso.

Ajoelhou-se ao nível de Heidi e empurrou o punho na


direção dela.

— Ponto. Nós fazemos uma ótima equipe, pequenina.

Ela bateu de volta, fazendo um pouco de barulho de


explosão enquanto ele fazia o mesmo.

— Ponto! — Ela gritou.

Oh, Deus.

Com o que concordei?

E porquê?

Austin ficou de pé.

Dominantemente confortável.

— Vou buscá-la às sete — Disse ele.

— Austin.

Foi um apelo final.

Um que ele ignorou totalmente com o arrogante sorriso


autoconfiante que iluminou seu rosto.
— Sete.

Ele andou de costas, o grande urso encaixado ao lado


dele, seu sorriso muito largo, enquanto meu coração
completamente trovejava fora de controle.

O que eu estava fazendo? O que eu estava fazendo?

Isto tinha de ser uma das coisas mais imprudentes que


já fiz.

Isto, e confiar nele em primeiro lugar.

Ele deu a Heidi uma pequena saudação, antes de girar


sobre os calcanhares e começar a se afastar contornando o
final do corredor e parando pouco antes de desaparecer de
vista. Inclinou-se para pegar o meu olhar.

— Ah, e Edie?

— Sim?

— Vou me certificar de que você não se arrependa disso.


De novo não. Não dessa vez.

Engoli o nó na minha garganta. Eu só podia rezar para


que ele estivesse certo.
— Caminha comigo? — Perguntei.

Nervosa, ela passou os dentes sobre o lábio inferior,


contemplando, antes que olhasse para mim e me desse um
aceno tímido.

— Gostaria disso.

Nós dois viramos e caminhando até o calçadão do


restaurante onde compartilhamos o jantar. Nós comemos
neste estranho, esquisito conforto. Como se estivéssemos
dando tempo para nos recompor do fato de que estávamos
aqui.

Juntos.

Nossa conversa parecia fácil e segura. Nossas únicas


risadas eram das histórias seguras que contamos. As que não
eram duras e não apontaram nossas falhas ou medos.

Agora caminhamos em silêncio, ambos apanhados


naquela estranha intensidade.
Nenhum de nós tendo certeza de onde estávamos.

Sem dúvida, nós dois estávamos atravessando um


terreno irregular.

Não significava que todo o meu corpo não comichou com


o dela estando ao meu lado, seu braço apenas roçando no
meu.

Meus dedos se contraíram.

Porra.

Estendi a mão e peguei a mão de Edie.

Surpresa, ela saltou, antes que olhasse para mim


novamente, em seguida, olhou para baixo para observar como
se estivesse um pouco admirada enquanto enfiava os dedos
trêmulos nos meus.

Arrepios rolaram através dela. Da cabeça aos pés.

A respiração que eu estava segurando me deixou com


um jorro de alívio e meu coração revirou com uma batida
irregular.

Uma maldita debandada no meu peito.

Eu não tinha ideia de qual seria sua reação a mim,


tocando-a. Se ela me afastaria. Ou talvez correria.

Porque a garota tinha todo o direito de me mandar


direto para o inferno. Bem onde eu pertencia.

Em vez disso, ela parecia contemplar, mastigando


aquele lábio antes de ceder e se aninhar no meu lado.

Deus, senti-a tão bem.


Nós passeamos ao longo do calçadão como se fossemos
apenas outro casal perdido na mistura. Fios de luzes
cintilantes estavam amarrados ao nosso redor. Hoje à noite,
as velhas tábuas de madeira desgastadas estavam repletas de
pessoas, o ar noturno continuamente fresco enquanto
entrava nas ondas, insinuando uma tempestade se formando
à distância.

Edie se aconchegou ainda mais perto e deu um


profundo, profundo suspiro. Como talvez ela estivesse
segurando-o desde sempre. Girou ao meu redor, preenchendo
meus sentidos com todo aquela delicadeza e calor.

Incapaz de resistir, soltei sua mão e enrolei o braço em


volta dos ombros dela. Puxando-a forte contra o meu corpo,
que estava a cerca de cinco segundos de ficar completamente
desequilibrado.

E Edie... Edie apenas se enrolou em mim, sua outra


mão vindo descansar no meu abdômen.

— Isso é tão bom — Sua confissão foi hesitante. Talvez,


insegura.

Pressionei meus lábios no topo de sua cabeça.

— Parece ser a melhor coisa do mundo.

— Parece louco. Impossível — Ela sussurrou, quase


como se para si mesma, como se não pudesse acreditar que
estava aqui.

— Perfeito — Disse em troca.


E então aqueles braços estavam enrolando em volta da
minha cintura. Abraçando-me apertado do lado. Agarrando,
segurando e puxando tudo dentro de mim.

Em silêncio, vagamos pelo calçadão, percorrendo e


contornando a praia.

Como se estivéssemos ambos completamente


sincronizados.

Atraídos.

E eu pedi a cada maldita estrela no céu por uma


segunda chance.

Por algo que eu poderia realmente fazer direito já que


sempre fiz tudo errado.

Para ser bom o suficiente para uma garota que foi,


obviamente, criada para mim.

Inalando, ela levantou aquele rosto deslumbrante para o


céu ao qual acabei de fazer uma prece.

Fiz um grande esforço para não enterrar meu rosto no


seu esbelto e delicioso pescoço, sentir a batida e ritmo do
pulso que eu sabia que corria debaixo de toda aquela pele de
neve.

O desejo torceu minha barriga, a luxúria me atingiu


forte e rápido.

Eu a queria tanto, porra.

E esse era o problema.

Eu sempre quis.
Esperar.

Parecia que a paciência nem sempre foi meu forte.

Quando chegamos à praia, nossos pés afundaram na


areia macia. Nós dois tiramos os sapatos, segurando-os
enquanto caminhávamos pela costa. Mais e mais longe até
que estávamos sozinhos em uma enseada isolada, escuridão
nos rodeando desde o chão até o céu onde ela continuava
sem limites.

Ondas quebravam e batiam, uma calma incitante, uma


louca sensação de solidão vindo com a brisa.

Um tremor por sua presença me atingiu.

Da forma como sempre rolava quando eu chegava tão


perto.

Perigosas, águas turvas me chamando para as mesmas


profundidades que o condenei.

Edie desenrolou-se de mim, virou-se para olhar para o


mar, cruzou os braços sobre o peito. Sua camiseta folgada
envolta em torno de seu pequeno corpo perfeito, acariciando
cada curva, um ombro delicado exposto e aquelas pernas
longas e esbeltas estavam em exibição no curto short jeans
desgastado que usava.

Eu afundei na areia úmida, dedos enterrados


profundamente, braços envolvidos em meus joelhos enquanto
observava minha menina por trás.

— É lindo aqui. — Edie disse reverentemente, aquele


rosto impressionante levantado para o céu.
Ao longe, um lampejo de relâmpagos brilhou nas nuvens
se formando, e uma rajada de vento soprou pela bacia, uma
neblina baixando.

— Às vezes, eu não consigo acreditar o quão pacífico é


aqui. Faz com que você se sinta tão pequeno.

Paz e tormenta.

Paz e tormenta.

Eu lutei contra o aperto do meu peito.

Ela avançou alguns passos até que seus pés foram


cobertos pelo lento rastejar da maré.

Dando um passo mais, ela se virou para olhar para mim


por cima do ombro.

— Quer andar comigo?

Havia cautela na pergunta, sua cabeça inclinada me


observava.

Eu mal podia grunhir, um nó na garganta e a boca seca.

— Não, Edie. Não quero.

Dor atravessou suas feições. Brancos, cabelos brancos


chicoteavam ao seu redor, chamativo na luz brilhante da lua
cheia.

Luz do fogo.

Ela desviou o olhar, controlando-se, antes que olhasse


para mim com compaixão, com aquele esmagador carinho.
Foi quando se inclinou e deixou as pontas dos dedos viajarem
por toda a crista de uma pequena onda que subiu para tocar
o meio de suas pernas.

— É aqui que você se sente mais próximo a ele?

Olhei para o chão, para as pedrinhas brilhantes de areia


branca, forçando as palavras.

— Sim. O mar sempre me faz sentir perto dele.

Ela não disse nada, solene, esperando que eu


continuasse.

Passei a mão agitada pelo meu cabelo despenteado pelo


vento.

— É como se eu não pudesse chegar muito perto..., mas


ele nunca me deixa ficar muito longe.

Compreensão cintilou através de sua expressão.

— É por isso que você está viajando pela costa.

Não era uma pergunta.

Ela estava apenas me lendo.

Conhecendo-me novamente depois dos anos que se


passaram entre nós.

A garota se perguntava se mudei. Se eu estava curado


ou ainda estava perdido na dor que iria assombrar todos os
meus dias.

Abracei meus joelhos um pouco mais apertado.

— Louco... porque não importa qual oceano eu enfrente.


Ele está sempre lá. Senti-me tão ligado a ele no Atlântico
quando estava hospedado em Savannah, onde Sebastian
conheceu sua esposa. Mas se eu fico sem o litoral? Sinto que
rastejarei para fora da minha pele se não voltar para o mar.

Um riso baixo saiu de mim. Completamente sem humor


ou diversão.

— Então, apenas fico congelado na margem dele. Nunca


capaz de tocar porque nunca posso realmente tocar o que
sempre vai faltar.

Naquele momento, queria confessar tudo. Colocar tudo


para fora. Deixá-la manter o meu segredo do modo que ela
permitiu-me manter o dela.

Sabia que Edie não iria jogá-lo fora.

Não o jogaria fora, como se não significasse nada do


jeito que eu fiz.

Em vez disso, balancei a cabeça com desgosto.

— Não tenho certeza de que estou diferente do menino


daquele quarto em LA.

Eu repeti a afirmação dela.

Um aviso.

Um apelo.

Meus olhos traçaram a longa extensão de suas pernas.


Magras e tonificadas. Ombros firmes.

Seu exterior amadureceu tanto. Um pouco como o meu.


Juventude vencida pelos anos.

No entanto, sabia que o interior ainda abrigava todos


aqueles pedaços quebrados.
Meu espelho.

Edie começou a se afastar da água.

Ela me observava atentamente enquanto caminhava


lentamente pela praia na minha direção.

O cabelo um maravilhoso halo de chamas.

Como uma bruxa branca que lançou seu feitiço.

Hipnotizante.

Arrebatadora.

Respirei fundo o peso do cerco que ela mantinha sobre


mim. Meu coração foi à loucura com a necessidade de me
enterrar em todo o conforto que ela me dava.

Ela parou a meio metro de distância.

Olhando para baixo como se pudesse ver dentro de mim,


do jeito que eu jurava poder ver dentro dela.

E eu estava novamente regredindo para aquela criança


indefesa.

Desejando meu capuz maldito para que eu pudesse


balançar nas sombras.

Eu sabia que ela percebia isso.

Sabia que ela sentia isso.

Edie nem sequer conhecia todos os detalhes e ainda


assim era a única que realmente entendia.

Ela caiu de joelhos na minha frente. Aquela boca doce e


cheia torceu-se com dolorosa compaixão, sua própria
confusão vívida.
— Como você machuca meu coração e o cura ao mesmo
tempo?

Estendi a mão e segurei seu rosto.

— Eu não quero machucar você.

Ela piscou para mim com enevoados olhos azuis, as


palavras roucas de emoção.

— Você me danificou há muito tempo.

— Estou tão arrependido, Edie. Sei que acabei com


tudo. Que nos destruí. Nos últimos quatro anos, acordo todos
os dias lamentando por isso. Dormi desejando que pudesse
voltar no tempo. Mas aqui... comigo... é onde você deveria
estar. Onde você sempre pertenceu.

Destino.

Senti-nos girar em torno disso, como se fosse o sol e nós


estivéssemos em órbita.

Tristeza surgiu em sua expressão.

— Eu costumava pensar que... desde a primeira noite


que você se arrastou para a minha cama, acreditava onde
quer que fosse, era onde eu deveria estar. Algo que apenas
senti... certo. Você me fez sentir como se ninguém no mundo
pudesse me entender do jeito que você entendia. Como você
me via.

Os olhos dela encheram de lágrimas. Um lampejo de


diamante no meio da noite. Inestimável e precioso. Sua voz
mergulhou na tristeza.
— Eu acreditei que era certo até a noite que você me
jogou para os lobos.

E aqueles lobos haviam pulado diretamente com a


intenção de destruir.

Pesar brilhou na minha consciência. Sufocante. Se


esforçando para espremer os vislumbres de esperança.

— E agora? — Perguntei, porque eu era um masoquista


assim.

Eu assisti o tremor de sua garganta quando ela engoliu.

— E agora... eu me sinto mais confusa... mais


conflituosa... do que já me senti em toda a minha vida.

Ela desviou o olhar, antes de fazer sua admissão para


mim.

— Quando o vi pela primeira vez naquele palco, sabia


que precisava fugir. Chegar o mais longe possível de você.

Sua língua saiu para molhar os lábios e uma rajada


dura de vento bateu sobre nós.

Chicoteando.

Agitando.

Incitando.

— E aqui estou eu, apenas me virei e corri de volta para


você.

Suas palavras me atingiram como uma flecha no peito.


Uma daquelas de amor. O tipo que fez meu pulso bater pelo
meu corpo como a vibração de um tambor e eu não pensava
em nada, exceto fazê-la minha.

Era inevitável.

Totalmente inevitável.

Porque Edie e eu? Sempre estaríamos juntos.

Passei meus dedos ao longo de seus cabelos.

Tão macios.

Puxei-a para mais perto.

Sua boca se abriu em um suspiro.

Eu inalei.

O toque sutil de laranja.

Luz do sol, inocência e algo tão deliciosamente doce.

Luz. Luz. Luz.

Intoxicante.

Ela piscou como se tentasse entender tudo isso.

— Como é possível que você tenha esse poder sobre


mim? — Ela murmurou baixinho.

— Nós nunca nem mesmo... — Ela parou, deixando a


ideia pairando no ar como uma provocação.

Mas Edie entendeu tudo errado.

Era ela quem me encantou.

Enfeitiçado pelo melhor tipo de feitiço.

Mergulhei minha boca perto de sua orelha.


— Só porque nunca fizemos sexo não significa que não
somos amantes.

Ela ofegou e se afastou um pouco, seu olhar agitado e


ardente.

Deus. Eu não podia me segurar nenhum segundo mais


e me inclinei para mais perto.

Mais perto.

Edie fez o mesmo.

Meu coração martelava no meu peito.

No último segundo, o medo a tomou e seus olhos se


arregalaram. Ela inclinou o queixo enquanto ainda caia para
frente.

Meus lábios pousaram em sua testa.

Demorei-me lá.

Respirando a garota.

A doçura e a pureza.

Recusando-me a considerar isso uma decepção.

Ela desabou contra mim e deixou-me envolvê-la em


meus braços.

Ficamos assim pelo que poderia ser minutos ou horas.

Finalmente, sussurrei em seu cabelo:

— Você sente isso, Edie Evans?

— O quê? — Ela murmurou, seu rosto enfiado no meu


peito, como se estivesse falando diretamente ao meu coração.
— Eu.
Nós lutamos. A menina murmurou um riso, como um
leve tilintar no ar.

Cócegas no meu ouvido.

Eu a prendi, seus pulsos acima da cabeça, um doce,


doce sorriso tão livre.

— Solte-me — Ela exigiu em voz baixa.

Brincalhona.

Meu coração se debateu e o quarto girou.

Luz me tocou em todos os lugares.

Aquecendo todos aqueles frios lugares mortos.

Vida.

Estava lá.

Pela primeira vez desde meus oito anos.


Eu me senti vivo.

Como se pudesse, finalmente, tomar uma respiração


completa.

— Nunca.
Deixá-la em casa quase me matou. Mas ela me disse que
precisava de espaço. Tempo para pensar. Nós havíamos
conversado pouco durante o resto do caminho para casa.
Nenhum de nós parecia exatamente certo de onde estávamos.

Parecia que estávamos nos apressando, o tempo todo


sabendo que tínhamos dado mil passos para trás. Sem
dúvida, nós estaríamos em um lugar totalmente diferente
agora, se não fosse por uma fodida noite.

Foi a noite que me enviou em espiral, de volta àquele


terreno escorregadio.

A noite que a roubou de sua família. De seu irmão. De


sua casa.

Agora ela estava voltando para aquele conforto


improvisado. Encontrando-o em pessoas que conheceu ao
longo do caminho.

Eu não a culpo ou a eles.

Toda a culpa caiu sobre mim.


Mas isso não significa que não me doeu muito, como se
a ponta de uma faca cega afundasse no meu peito, vê-la abrir
a porta da frente da casa que agora chamava de lar.

Fazendo uma pausa, ela se permitiu um único segundo


para olhar para mim da varanda, seu corpo todo uma sombra
perfeita no meio da noite, antes que abrisse o resto da porta e
desaparecesse lá dentro.

Com um suspiro, forcei-me a entrar no carro que Deak


me emprestou para dirigir e fazer exatamente isso.

Afastar-me.

Casa.

Direto para os confins do meu próprio conforto


improvisado onde eu ainda permanecia completamente
sozinho.

Mas hoje à noite?

Hoje à noite me senti compelido.

Os remanescentes do mar ainda chamando por mim.

Achados e perdidos.

Corri rapidamente pelo meu quarto e vasculhei a gaveta


do criado mudo, desacelerei ao chegar na parte de trás da
casa e desci pelo caminho desgastado. Na margem, chutei os
meus sapatos e deixei meus pés afundarem na areia macia,
fria e molhada.

Ao longe, a tempestade se formava. Invadindo. Uma


agitação de nuvens cintilava com flashes de luz.
Vento soprava.

Baixo e profundo.

Um uivo.

Eu me empurrei em direção ao oceano, em seguida,


deixei-me cair na areia a cerca dois metros de distância.

Assim como disse a Edie.

Não perto o suficiente para tocar.

Nunca muito longe para que pudesse fugir.

Luzes brilhavam na casa atrás de mim na colina,


escuridão engolindo-me inteiro, as espumosas cristas
brancas das ondas do mar rolavam para a praia mal visíveis.

Segurei no meu peito o esfarrapado macaco verde gasto.


Pressionado o bicho de pelúcia sujo no meu nariz.

Passei a mão nas partes mais longas do meu cabelo que


voava na minha cabeça, tão forte que o meu coração se
debatia no meu peito.

Apenas o som do mar e o maldito macaco estavam lá


para me fazer companhia, cada parte de mim completa e
totalmente sozinha.

Tudo, exceto ele.

— Você sabia que ela ia voltar para mim? — Eu


sussurrei contra o vento.

Tristeza me agarrou pela garganta.

— É errado, cara, amar alguém quando você nunca vai


ter a chance? Quando fui eu quem roubou aquela chance?
O mar trovejou de volta. Um grito triste, e meu espírito
latejava, doía e rodava.

Estendi a mão para ele.

— Não posso estragar tudo novamente, Julian. Não


posso. Não conseguiria se eu arruinasse tudo novamente.
Diga-me que vai ficar bem.

Fechei os olhos. Por trás de minhas pálpebras, eu o vi


correndo ao longo da margem do mar como uma corda
bamba. A luz do sol caindo, batendo contra o branco de seu
cabelo, exatamente igual ao meu quando éramos crianças,
marcado para sempre um menino de oito anos de idade que
nunca teve a oportunidade de envelhecer. Crescer, escurecer
e cicatrizar.

Eu também tenho todas as cicatrizes.

Eu quase podia vê-lo virar e sorrir para mim.

Tão livre.

Dor me agarrou e puxou, de alguma forma, consolou-


me.

Como uma tábua de salvação para a vida futura.

Isso... isso era onde eu estava preso.

Talvez, isso tenha me deixado um pouco doente.

Mal da cabeça.

Talvez, seja por isso que tenha injetado tudo e qualquer


coisa em minhas veias para cobrir.

Meu telefone tocou. Entrei na mensagem.


Sebastian.

Venha para casa, homem. É onde você pertence.

Minha respiração tornou-se instável quando li as


palavras de meu irmão mais velho.

Olhei para o céu sem fim.

Porra. Não tinha certeza se pertencia a algum lugar. Se


algum dia seria digno o suficiente para voltar e tornar-me
uma parte de suas vidas sem torná-las pior.

Será que tenho algo mais a oferecer do que a minha


besteira constante que só serviu para derrubá-los?

Baz sempre se preocupou comigo finalmente chegando


ao limite. Prejudicando a mim mesmo, porque de alguma
forma estava faltando esta parte de mim.

Uma peça que eu não conseguiria de volta.

Um sentimento desconhecido tomou conta de mim. Tão


leve quanto pesado.

Talvez, eu sempre soubesse que havia uma razão. Uma


razão pela qual eu estava aqui.

Amarrado e ligado de uma maneira totalmente diferente.

E eu sabia... eu sabia.

A razão era ela.


Afastar-me sempre foi o mais difícil.

Parei na porta de casa e olhei de volta para o garoto que


estava sentado no carro, seu grande corpo um mero esboço
no escuro. Mas eu sabia. A maneira como suas mãos estavam
em punhos no volante enquanto ele olhava para mim à
distância.

Contendo-se.

Eu podia sentir isso como uma força enquanto ele se


sentava e observava.

Contendo-se para não sair de seu carro e vir atrás de


mim.

Uma emoção que não conseguia parar se infiltrou


lentamente abaixo da superfície da minha pele, minhas
respirações curtas e irregulares.

Eu pedi-lhe para não me seguir.

Eu precisava de tempo.
Espaço.

Clareza.

Minhas entranhas pareciam uma bagunça confusa,


minhas emoções uma avalanche de desordem.

Então, pedi-lhe para parar.

Esperar.

Dar-me um momento para que a minha cabeça


recuperasse a direção que meu coração rebelde estava
seguindo.

Eu só precisava ter certeza de que esse órgão rebelde


sabia onde estava se metendo.

Que estaria forte o suficiente para enfrentar a


tempestade que era Austin Stone.

Que a minha casca rachada e frágil era robusta o


suficiente para entrar na água e não afundar.

Porque quando eram sobre ele, minhas decisões sempre


foram distorcidas.

Um arrepio me tomou quando aqueles olhos potentes


brilhavam como várias luzes.

Fixos em mim como se eu fosse o alvo.

O objetivo.

Talvez até mesmo o propósito.

Uma corrente superaquecida corria entre nós. Um


curto-circuito a um grau de distância da combustão.
Ele estava ancorado a mim tão profundamente que
podia senti-lo puxando-me por todos os ângulos.

Erámos ímãs em oposição.

Iscas trêmulas.

Um puxão feroz da guerra travada em torno de nós,


invisível, mas profundo. Como se a corda que nos unia fosse
muito esticada. Puxando, puxando e puxando. Era apenas
uma questão de tempo antes que ela arrebentasse e nós
colidíssemos. Então, emaranhados, não poderíamos dizer
onde o espírito de um terminava e o do outro começava.

Esse era um lugar perigoso para estar.

Sua próxima respiração sustentada por outro.

Sua próxima pulsação dependendo daquele que


segurava suas mãos.

Tão difícil de consertar ainda assim tão facilmente


esmagado.

Obriguei-me a quebrar a conexão e adentrar no silêncio


da casa escura, a hora passando devagar enquanto andava
pelo corredor para o meu quarto, que estava suavemente
iluminado pela luz do banheiro anexo.

Um sorriso brincou em meu rosto e uma nova sensação


de alegria provocou à margem da minha consciência.

Eu coloquei o meu telefone e minha pequena bolsa na


mesa de cabeceira, tirei o suéter, então fiquei usando apenas
um top e me arrastei para a cama.
Eu estava muito empolgada para dormir. Muito dividida
para tomar qualquer decisão.

Então, em invés disso, olhei pela janela para a


tempestade emergente.

Acenando.

Dando boas-vindas.

O caos, o tumulto e a desordem.

Um relâmpago iluminou o céu. Energia arrepiou toda a


minha pele como um choque de medo e desejo.

Deus, eu sabia que estava muito perigosamente perto de


cair sobre a beirada. Meu corpo inclinado para que pudesse
olhar para as profundezas desconhecidas.

A pior parte era saber que a escuridão abaixo me


receberia. Pegaria-me em seus braços.

Fiquei assim por mais algum tempo antes do meu


telefone tocar.

O sorriso confuso que eu tinha aumentou.

Austin.

Animada, movi-me para pegá-lo da mesa de cabeceira.

Ficando de pé, passei meu polegar em toda a tela.

Remetente desconhecido.

Não era Austin.

Uma pontada de desconforto me cutucou, mas


empurrei-a e cliquei na mensagem.
Meus olhos passaram pelas palavras.

Processando o que lia.

Confusão.

Medo.

Horror.

Levei um segundo inteiro para processar essas etapas.

Em seguida, uma onda de náusea me atingiu com tanta


força que caí de joelhos no chão.

As lágrimas nublaram meus olhos enquanto eu lia a


mensagem repetidas vezes.

Balançando a cabeça.

Não.

Como ele me encontrou?

Não.

Finalmente descobri. Você fez isso. Você realmente achou


que fugiria disso? Que eu nunca descobriria? Que eu não te
encontraria?

Apertei meu telefone no meu peito, como se pudesse


evitar que o meu coração se libertasse de seus limites e caísse
sangrando no chão. Medo misturado com um ódio tão
intensamente que fervia por dentro. Borbulhando e
transbordando. Saturando cada célula.

Não.

Como ele me encontrou?


Era loucura que essa pergunta parecia mais importante
do que a outra que girava ao meu redor.

Do que ele estava falando?

Eu fiz isso?

O que ele descobriu?

Oh, Deus.

O que ele queria? Ele não tinha feito o suficiente?

Eu tentei detê-las. Mas eu não pude. As lembranças


eram tão vivas enquanto empalavam minha mente, outra
estaca no meu espírito.

Excruciante.

Eu fechei bem meus olhos. Tentando bloqueá-las. Elas


só surgiram em uma intensidade maior.

Heavy metal explodiu do outro lado da porta, vozes


gritando e risos atravessando as paredes finas da casa que
ela nunca esteve antes.

Ela implorou ao seu irmão mais velho Ash para trazê-la


com ele. Deu-lhe seu sorriso mais suplicante ao lhe dizer o
quanto sentiria falta dele quando ela e o resto de sua família
se mudassem para Ohio no próximo mês. Disse-lhe que não o
via o suficiente. Oito anos e dois irmãos os separavam, e Ash
já tinha saído a muito tempo de casa, enquanto ela se
preparava para começar o ensino médio naquele ano. Agora,
estariam separados quase pelo país inteiro já que o seu pai
havia aceitado um emprego em Cleveland.

Quando Ash recusou de primeira, ela implorou,


insistindo que mal o conhecia então.

Era a verdade.

Mas agora ela se perguntou se ainda conhecia a si


mesma.

Medo nublou nos cantos dos olhos dela, e ela se apertou


mais contra a parede, desejando que pudesse de alguma
forma desaparecer à medida que se enrolava em uma bola
mais apertada.

Nua.

Cabelo emaranhado e bagunçado, mechas grossas


presas ao seu rosto manchado de lágrimas.

Uma dor maçante, latejante entre suas coxas e bile


queimava na garganta, subindo e picando sua língua.

— O que você acha de manter esta festinha entre nós,


sim? — Ele disse casualmente, saltando um pouco para
puxar a calça jeans rasgada sobre seus quadris, o zíper
aberto enquanto puxou uma antiga camiseta da banda sobre
a cabeça.

— Não tenho tanta certeza de que seu irmão aceitaria


muito gentilmente nós dois nos ligando — Ele riu como se
não tivesse acabado de rasgar a inocência dela. — Claro, o
idiota está provavelmente com as bolas enfiadas
profundamente naquela garota Casey enquanto falamos. Mas
você sabe como é, faça o que eu digo, mas não faça o que eu
faço.

Ele passou a mão pelo cabelo castanho sujo e no queixo


coberto com uma barba curta, seus olhos castanhos
maçantes de alguma forma brilhando quando sorriu para ela
que procurava um buraco para se enterrar.

Sentia-se tão suja.

Usada.

Vergonha a consumiu e sufocou um soluço quando


rapidamente balançou a cabeça.

— Certo.

O resmungo dele era mal-humorado.

— Você vai se sentar aí e agir como se tudo fosse assim


tão ruim? Vinte minutos atrás você estava implorando por
minha atenção, agora está aí choramingando como se fosse
terrível ou algo assim. Que maneira de inflar o ego de um
cara. Foder com ele, em seguida, chorar.

Era verdade.

Ela tinha estado implorando por atenção.

Flertando.

Querendo se encaixar entre todas as meninas que eram


claramente muito mais velhas que ela. Os caras bebendo
cervejas e tocando música na casa eram realmente já
homens.

Mas ela queria sentir o que era ser desejada.


Bonita.

Madura.

Nunca teve a intenção de ir tão longe. Muito estúpida e


ingênua para reconhecer quando ele a levou para seu quarto,
onde isso chegaria. O que ele pretendia. Muito ignorante e
assustada para forçar a sair a palavra que permaneceu
trancado em sua garganta.

Não.

Ela poderia ter dito isso.

Mas, em vez disso, ela ficou ali tremendo, tremendo e


tremendo enquanto ele a despia, em seguida, atrapalhou-se
descuidadamente saindo de suas roupas. Ela sequer
percebeu o que estava acontecendo quando ele rapidamente
virou-a para sua barriga e agarrou-a pelos quadris,
arrastando-a para cima de suas mãos e joelhos.

Ele empurrou dentro dela por trás.

Ela gritou, e foi aí que as lágrimas vieram.

Poderia culpá-lo? Ela tinha pedido por isso, afinal.


Colocou-se nesta posição. Concedeu-lhe o controle.

Sua mãe a tinha avisado. Disse-lhe para ter cuidado e


não se dar tão facilmente.

Porque havia sempre consequências para cada ação.

Causa e efeito.

E hoje à noite as consequências foram maiores do que


sua mente de quatorze anos de idade poderia esperar.
Insensata.

Quando ela não respondeu, ele balançou a cabeça, deu


um sorriso por cima do ombro quando a deixou no quarto
sujo. Ela cambaleou ficando de pé. Estremeceu quando vestiu
suas roupas. Saiu tão silenciosamente quanto pôde.

Encontrou-se sozinha em uma escura, desolada, rua do


bairro degradado, seus dedos tremendo tanto que ela mal
conseguiu digitar uma mensagem de texto para o irmão.

Dirigindo para casa. Não se preocupe comigo.

Porque Edie não podia mais suportar a preocupação de


seu irmão.

Não depois do que ela fez.

Uma noite.

Um erro.

Causa e efeito.

Eu simplesmente não sabia o quão duras seriam as


consequências.

E eu odiava. Odiava. Odiava. Só não sabia se o odiava


ou a mim mesma.

Senti-me desorientada.

Perdida.

Assustada.
Respirei fundo tentando inalar o ar que não conseguia
encontrar.

A dor apertou meus pulmões.

Afogando.

Era o que eu tinha que ser.

Como se eu fosse fisicamente puxada sob uma


superfície de vidro preto.

Onde estava sozinha e assustada.

Nadando em um remorso que nunca conseguiria


compensar.

Lágrimas molharam meus olhos e a chuva começou a


bater na minha janela. Rajadas de vento sacudindo as
vidraças.

Cegamente, cheguei até a minha mesa de cabeceira e


busquei o filtro de sonhos.

Meus dedos se enroscaram ao redor dele.

Desesperada enquanto a tristeza vinha.

Agarrei-o no meu peito enquanto me abalava.

Palavras mal coerentes se atrapalharam em minha boca.

— Eu te amo. Eu te amo. Eu sinto muito.

E doeu.

Oh, Deus. Isso machuca. Feroz, brutal e implacável.

Eu não tinha certeza de que eu inteiramente processei


ficar de pé, com lágrimas escorrendo rápidas e livres.
Frenética, vesti um moletom, empurrei meias e sapatos em
meus pés.

Lá fora, a chuva começou a cair. O nevoeiro envolveu o


terreno com grossas camadas.

Corri para o meu carro, clicando na chave enquanto ia,


tremendo enquanto me afundava no assento do motorista.
Meu pequeno Fiat vermelho rugiu à vida enquanto eu virava
a chave. Os para-brisas deixavam listras de clareza no vidro
quando tudo que via era a neblina consumindo ao meu redor.

Os faróis cortaram na escuridão que me cercava por


todos os lados. Apenas somando-se a sufocação.

Tudo o que eu queria era respirar.

Vida.

Sentir aquela paz, conforto e compreensão.

Ele era o único que poderia dar.

Eu limpei meus olhos e me esforcei a me concentrar na


escuridão enquanto os limpadores varriam para trás e para
frente. Meu pé pousou no pedal.

Entrei na noite, viajando pela estrada ao lado do


penhasco.

A tempestade se desenrolava ao redor de mim.


Explosões brilhantes de relâmpagos iluminavam a terra.

Uma fração de segundo de branco.

Eu olhava, sufocando os meus soluços quando eles


eclodiram na base da minha garganta.
E então eu estava lá, estacionada em frente à casa
dormindo.

Cinco minutos.

Todos esses anos, e meu consolo estava a cinco minutos


de distância. Minha solução para a crise que eu nunca
escaparia.

Eu deveria saber que seria sempre ele.

Desliguei o motor e abri a porta. Tropecei para a


tempestade que atirava rajadas pesadas de chuva gelada.

Meu coração martelava no meu peito.

Um constante tum, tum, tum, que me levava para a


frente.

E mais uma vez, senti-me em pé no precipício.


Oscilando na beira. A única coisa que eu queria era saltar.

Relâmpagos brilharam.

Descontrolada, minha mão tremia quando a levantei até


a porta. Meu punho bateu duas vezes.

Eu sabia que apenas alguns segundos poderiam ter


passado quando a luz do teto da varanda da frente brilhou
para a vida.

Iluminando-me em uma mancha borrada.

Metal raspou e a trava de pressão clicou e desengatou.

Então, a porta se abriu para aquele garoto


devastadoramente bonito.

Meu salvador.
Meus joelhos ficaram fracos.

O homem lindo olhou para mim em estado de choque,


sono perdido apareceu nas profundezas obscuras de seu
olhar cinza, sombrio, tão profundo, escuro e consciente. Os
pés dele estavam descalços, as pernas grossas cobertas com
jeans macio e desbotado, a camiseta agarrada ao seu peito
musculoso, enrugada e esticada, o cabelo em uma completa
desordem no topo de sua cabeça.

Tumulto e paz.

Conflito e conforto.

Ele prendeu a respiração e falou meu nome em um


sussurro.

— Edie.
Um aperto comprimiu meu peito.

Edie.

Na minha entrada no meio da noite.

No meio de uma tempestade furiosa.

Tão quebrada.

Assombrada.

Perdida.

Minha garganta se estreitou.

No meio de tudo isso, ela veio para mim.

— Edie — Seu nome veio da minha boca como um elogio


torturado.

A garota estava encharcada. Moletom encharcado. Tufos


de cabelos brancos presos naquele rosto inesquecível.

Abri rapidamente a porta e minha voz tremeu com a


preocupação esmagadora.
— Edie, baby, o que está fazendo aí fora? Você está
encharcada. Saia da chuva.

Ela estremeceu, mas não se moveu, seus ombros caídos


e arfando.

— Eu... eu... eu sinto muito. Eu só... eu não posso... não


posso fazer isso sozinha. Não quero fazer isso sozinha.

O ataque de devoção e alívio quase me deixou de


joelhos, cheguei até a minha garota, puxando-a para dentro e
para os meus braços.

— Edie.

Meu nariz estava em seu cabelo, tomando uma daquelas


respirações completas que eu só poderia tomar quando ela
estava perto.

Tudo apertado em vários nós.

Empatia, dor e remorso.

— Shh... — Murmurei. Dei um beijo suave no topo de


sua cabeça. — Shh... não se desculpe. Prometi que sempre
estaria aqui. Aqui é onde você pertence.

Um soluço apertado irrompeu de sua garganta. Ela


apertou a boca no meu pescoço. Como se estivesse fazendo
de tudo para enterrar o som.

Para esconder o que quer que fosse que a enviou


correndo até aqui.

Aflição apertou cada célula do meu corpo e as palavras


foram saindo livremente enquanto a tirava de seus pés para
os meus braços.
— Porra, Edie. baby. Não chore. Mata-se vê-la chorar.

Um suspiro de seu próprio alívio saiu de sua boca, e ela


envolveu aqueles longos braços delgados no meu pescoço, o
rosto ainda enterrado em minha pele, minha boca ainda em
seu cabelo e sussurrei palavras tranquilizadoras.

— Vai ficar tudo bem. Peguei você. Peguei você.

Eu peguei você.

A garota estava completamente rendida à minha espera.

Seu corpo, seu espírito e o tormento que não a


deixavam.

Naquele momento, tudo sobre esta fortaleza frágil


pareceu tão delicado.

Vulnerável.

Necessitada.

Precisando de mim.

Recusei-me a deixá-la cair.

Nunca mais.

Levei-a pelo corredor até o meu quarto. Apenas a luz


fraca vinda do banheiro iluminava o quarto.

Ela choramingou quando a coloquei de lado no meio da


minha cama. Lágrimas continuaram a correr pelo seu doce
rosto inocente.

Talvez, tenha sido porque eu não queria perder o


contato.

Eu queria fazer durar.


Eu sabia que ela estava a salvo, bem ali na minha cama.
Ainda assim, coloquei a mão do lado de sua cintura enquanto
guardava o caderno que estava anotando letras e apoiei o
meu violão no chão contra a parede.

Voltei-me para ela, meu corpo inclinado e então eu


estava pairando sobre ela.

Perto demais.

— Estou molhada — Ela murmurou. Envergonhada.

— Eu sei.

Inclinei-me para trás e tirei os sapatos encharcados de


seus pés.

— O que você está fazendo? — Sua voz levemente


assustada.

— Cuidando de você.

Tremores rolaram por seu pequeno corpo rígido.

Tentador demais.

Ela fechou os olhos como se estivesse preparando-se,


permitindo-se ser corajosa o suficiente para este momento.

O momento em que ela me deu de volta um pouco mais


de sua confiança.

Quando me deixou zelar por dela.

Cuidar dela.

Como eu costumava fazer.

Como eu sempre deveria fazer.


Minha pura, garota corajosa.

Eu tirei suas meias.

— Não se mova — Avisei.

Corri para o banheiro e peguei uma grande toalha


macia. Ao sair, eu parei no meu armário e peguei uma camisa
bem grande.

Quando voltei, ela estava deitada lá.

No meio da minha cama.

Peito arfando e olhos muito selvagens.

Meu pulso aumentou, sangue bombeou rapidamente


pelas minhas veias, o tamborilar correndo livre.

Coloquei um único joelho na cama.

— Venha aqui — Sussurrei.

Tensão construída nos limites silenciosos do meu


quarto.

Intensa, profunda e severa.

Peguei a mão dela para ajudá-la a se sentar bem no


meio.

Fiz o meu melhor para não tremer com o contato.

Fogo e gelo.

Ofuscante.

Porra.
Um pequeno gemido incerto abriu seus lábios cheios,
sabia que não havia nenhuma possibilidade desta menina
não sentir isso também.

Subi para a cama.

De joelhos olhando para a minha luz.

Observei-a de perto enquanto eu envolvia a toalha em


seus ombros, aqueles olhos azuis tão cautelosamente me
observando.

— Está tudo bem, — Murmurei — Estou com você —


Juntei as pontas expostas, usando-as para atraí-la um pouco
mais perto. Eu passei o tecido com ternura em seu rosto.
Enxugando aquele queixo marcante e passando suavemente
sobre aqueles lábios cheios e trêmulos.

Eles se separaram quando eu fiz, e uma respiração


ofegante escoou para fora para penetrar nossa atmosfera.

Deus.

Meu pau pulsava.

Cerrando os dentes, deixei de lado a crescente


necessidade.

Eu podia lidar com isso.

Era de Edie que estávamos falando.

Levantei-me uma pouco, subindo, massageei a toalha


por seu cabelo. Sua cabeça inclinou para trás quando fiz isso,
dentes mordendo o lábio enquanto dava um gemido incerto,
essa menina olhando para mim como se tivesse encontrado
seu sentido.
Era o que eu queria.

Ser seu sentido.

Jogando a toalha ao chão, juntei a bainha de seu


moletom em minhas mãos, hesitei, certificando-me de que ela
entendia.

Que eu nunca a machucaria.

Nunca mais.

As palavras saíram roucas.

— Estou com você, certo?

Piscando, ela olhou, antes que timidamente levantasse


os braços com um leve aceno de cabeça.

Tive que segurar minha maldita respiração enquanto


lentamente tirei o material, revelando-a centímetro por
centímetro. Um golpe feroz daquela energia rolava pelo quarto
enquanto a puxava sobre a cabeça dela.

Uma torrente de cabelos brancos caiu ao seu redor,


beijando seus ombros magros e escorrendo sobre seu sutiã de
renda branca e pura.

Algo como um terremoto abalou meu corpo.

Linda demais, caralho.

Completamente um anjo.

Foi errado dizer isso?

Errado ela saber a maneira como eu a via?

Lentamente, vesti a minha grande camiseta sobre sua


cabeça, minha voz nada mais do que um grunhido.
— Impressionante, Edie. A coisa mais linda que eu já vi.

Pensei assim na primeira vez que a vi.

Agora eu tinha certeza.

Com as minhas palavras, uma forte ingestão sibilou em


seus pulmões.

Cuidadosamente, eu ajustei a camisa, cobrindo-a.

— Deite-se — Disse com a voz grossa.

Seu olhar azul brilhou com medo autêntico e confiança


tímida quando fez o que eu pedi. O peito dela se projetava
para cima e para baixo quando empurrei minhas mãos sob a
camisa.

Ela tremia e estremecia.

Abri o botão do seu jeans e abaixei o zíper.

Tempo o todo, meu coração estava batendo totalmente


selvagem.

E senti o dela também.

Batendo forte. Um caos trovejando no silêncio do meu


quarto escuro.

Puxei seu jeans úmido para baixo, revelando


quilômetros de pernas esbeltas e tonificadas. Uma extensão
infinita de pele macia de alabastro.

Cerrei meus dentes condenados e desviei o olhar.

Morrendo de vontade de tocar.

Provar.
Explorar.

Reivindicá-la de maneiras que sabia que não deveria.

Não podia.

Suas lágrimas tinham diminuído.

Elas foram substituídas por uma intensidade sufocante.

Que subiu pelas paredes e pressionava o teto.

Desejo ansioso. Necessidade descontrolada.

Seu jeans se juntou a pilha no chão. Desci da cama e


arrastei as cobertas para baixo. Parei onde elas estavam
presas por seu corpo.

— Entre.

Edie ficou de mãos e joelhos e arrastou-se, sem sequer


questionar o que eu estava pedindo.

Respirei fundo em torno da magnitude.

Confiança.

Isso era o que ela estava me dando.

Subi ao lado dela.

Ela procurou meu rosto.

— Você vai ficar vestido?

Eu quase ri.

Quase.

— Acho que é melhor se eu deixar minhas roupas agora,


sim?
Uma autoconsciente de vermelhidão corou suas
bochechas.

— Ah, certo... sim — Ela divagava como se não tivesse


ideia do que faz comigo, afastando o olhar.

Tímida. Doce. Encantadora.

— Raios, Edie. — Eu puxei as cobertas sobre nós e guiei


a cabeça dela para o meu peito.

Assim como eu costumava fazer.

Meu braço envolveu seus ombros e a abracei perto,


inclinando-me para que pudesse espalhar um monte de
beijos em sua têmpora. Soltei um estrondo de palavras na
pele delicada que tamborilou com a batida irregular de seu
pulso.

— Você acha mesmo que não me afeta? Que eu não olho


para você e apenas me desfaço? Entendo seus limites, Edie.
Respeito. Mas você tem que saber que eu nunca quis nada...
ninguém... do jeito que quero você.

Esperava que o que eu disse não a tenha assustado.

Ela enrolou seu pequeno punho na minha camisa como


se sua vida dependesse disso. Como se eu pudesse ter a força
para apoiá-la. Protegê-la.

Silêncio aumentou em torno de nós, e todos aqueles


feios espaços vagos, doíam e gemiam com a necessidade de
serem preenchidos.

Porque essa garota me tocou de uma maneira que


ninguém jamais conseguiu.
— O que aconteceu? — Eu finalmente perguntei, mais
baixo. Só porque agradecia a todas aquelas estrelas por
desejar que ela viesse correndo para mim, não negaria a sua
dor. A respiração dela ficou presa com a pergunta.

— Paul me mandou uma mensagem.

Raiva.

Foi instantâneo.

A escuridão ameaçou a minha própria morte. O desejo


de destruir.

Eliminar.

Eu apertei ela. Provavelmente muito forte. Tão forte


quanto as palavras que disse entre dentes.

— O quê? — Medo nauseante estava em uma guerra


aberta com o ódio queimando dentro de mim. — Aquele
desgraçado... ele deveria estar apodrecendo na prisão.

Edie se afastou, os olhos azuis atormentados e


confusos.

— Prisão?

Filho da puta.

Ela nem sequer sabia disso.

Forcei as palavras ao redor da bile.

— Ele esteve na prisão por alguns anos.

Quatro anos.

Sua mão apertou na minha camisa.


— Por quê?

— Ele foi pego pela merda habitual que derruba caras


como nós.

Aquele vagabundo aspirante a roqueiro, sempre


tentando fazer parte da cena. Meu irmão tinha mais talento
na ponta do seu dedo mindinho do que todo o ser daquele
imbecil. Mas isso não significa que ele não estava sempre lá.
À espreita. Pensando que conseguiria uma mordida da fama.

Claro que ele e Ash eram amigos, embora eu não


chamasse exatamente de amigos. Perguntava-me o que Ash
faria se soubesse.

A voz dela tremeu enquanto ela piscava, tentando


entender o que não sabia.

— Drogas?

— Sim.

A culpa me agarrou pela garganta. Omissão era nada


menos que uma mentira.

Mas o que eu deveria fazer?

Porque lhe dizer com certeza não me renderia quaisquer


pontos. Não a ajudaria. Só iria prejudicá-la. E eu não podia
protegê-la se ela me afastasse.

Meu estômago mexeu, mas deixei de lado.

— O que ele disse?

Desconcertada, a testa dela franziu e ela mordeu o lábio.


— Que ele sabe o que eu fiz. Perguntou-me se eu achava
que não descobriria. — Tudo começou a sair dela em uma
corrida desesperada. — Eu não sei do que ele estava falando.
Como me encontrou.

Seu rosto de repente estava de volta no meu pescoço, as


palavras murmuradas na minha pele.

— Mas estou com medo do que ele possa fazer.

Sabe o que ela fez?

Esse pensamento girou em torno de mim antes de


afundar como resíduos tóxicos.

Ele pensou que foi ela.

Merda.

Ele pensou que Edie era responsável.

Como eu sempre conseguia foder tudo?

Toda a boa intenção foi mal.

Eu não permitiria.

De novo não.

Minha boca estava em sua orelha, meu próprio


desespero caindo dos meus lábios enquanto eu fiz um milhão
de promessas silenciosas.

Não vou deixar ele te machucar.

Eu a protegerei.

Te manterei segura.

— O que você disse a ele, baby?


A cabeça dela balançou contra meu peito.

— Nada. Eu não respondi. — Eu queria gritar. Arrancar


meus cabelos.

Em vez disso deixei a amargura livre.

— Eu vou matá-lo, Edie. Eu vou matá-lo antes de deixá-


lo te tocar novamente.

Eu a senti tremer sob a minha promessa. E rapidamente


reprimi a fúria. Ela estava aqui para que a apoiasse, não me
ver perder a cabeça.

O mesmo que eu fiz naquela noite.

— Eu só quero que isso acabe. Que ele me deixe em paz.


Não entendo o que ele quer de mim.

Todas as besteiras que marcaram nossas vidas


pareciam amontoadas ao nosso redor. Prometendo extinguir a
vida e a luz.

— Não vou deixar ninguém te machucar, Edie. Eu não


vou.

Ela virou a cabeça, a boca pressionada ao meu lado.

— Eu acredito em você.

O silêncio se estendeu entre nós. Canalizando todas as


perguntas deixadas sem resposta.

— Você ainda sonha? — Ela finalmente sussurrou.

Abrindo.

Levando-nos de volta para onde tudo começou.


Passei a mão sobre a parte superior da cabeça dela,
segurando seu pescoço.

Como era possível que, após aquele idiota ter entrado


em contato com ela hoje à noite, voltasse sua preocupação
para mim?

— Acho que eles vão sempre me perseguir, — Admiti —


E os seus?

Eu já sabia a resposta. Mas queria entrar naquele


coração frágil. A força que unia tudo.

As pontas de seus dedos bateram no meu peito como


uma tentativa de sintonia.

— Quase todas as noites. Eu acordo e me sinto tão


sozinha. Vazia.

Abaixei-me para que pudesse ler seu rosto. Ela chupou


o lábio inferior em sua boca, lutando contra a umidade
brilhando em seus olhos. Eu rocei meu polegar ao longo do
seu rosto, incentivando-a a continuar.

Sua admissão acalmou como um segredo.

— Eu acordei flutuando. Perdida. Sentindo-me tão


desesperada para preencher o vazio. Para cobrir a dor. E
absolutamente aterrorizada para aproveitar a oportunidade
novamente.

Ela engoliu em torno da emoção apertada.

— Dizem que é melhor ter amado e perder do que nunca


ter amado. Quero concordar, Austin. Quero acreditar. Apenas
não estou certa de que sei como.
As velhas inseguranças me machucaram com um
punhal.

— Você…

Deus. Parecia que perdi a capacidade de sequer falar.


Voltando aquele tempo. Dezessete. Estúpido e ingênuo. Ainda
sabendo com todo o meu ser que eu finalmente encontrei o
que estava faltando. A questão era crua.

— Você ainda o tem?

Um sorriso triste enfeitou sua doce boca, e ela me deu o


mais suave aceno.

Engoli com dificuldade.

— Você pensou em mim?

Sua resposta foi tão silenciosa, tão tímida, eu senti em


vez de ouvi-la.

— Sempre. Como poderia esquecer?

O afeto pressionou minhas costelas, e eu a segurei um


pouco mais quando ofereci a minha própria confissão.

— Nunca esquecerei o dia que Ash a trouxe para casa...


dizendo que você ficaria com a gente no verão enquanto a
Sunder estava em pausa da turnê.

A Sunder tinha acabado de explodir, e meu irmão e os


meninos compraram uma mansão em Hollywood Hills,
mudamos-nos daquela casa de merda para um luxo que
nenhum de nós estava acostumado.
Meus dedos enredavam os fios de seu cabelo enquanto
eu meditava.

— Lembrei-me de vê-la ainda uma criança..., mas você


tinha ido embora há muito tempo. E lá estava você, a garota
mais linda que já vi. Parecendo tão tímida e insegura.

Um riso melancólico retumbou em meu peito.

— E eu? Mal podia olhar para você, estava tão perdido.


Mas, então, naquela noite, ouvi você chorar. Eu estava
apavorado, na verdade. Olhando ao redor do meu quarto
escuro e me perguntando o que diabos fazer. Não tinha ideia
de como lidar com o que você estava passando. Mas ainda
assim, sabia que deveria estar lá. Que precisava de mim.

Pisquei para a escuridão sombria do meu quarto, o


coração da garota batendo com o meu. Por alguns momentos
me acalmou neste frenesi sem fim.

— Louco... peguei aquele filtro, sem realmente pensar a


respeito. Mas foi como instinto. A primeira coisa que surgiu
na minha cabeça.

Edie acariciou com os dedos suaves até o oco da minha


garganta.Fazendo-me tremer. Calmante e provocadora.

Eu apertei-a com mais força.

— A minha avó deu-me ele, Edie. Quando eu tinha oito


anos. Dois meses depois que nós perdemos Julian.

Perdemos.

Que besteira.

Uma angustia enrolou no meu peito.


— Além de Baz, ela era a única que reconhecia que eu
estava morrendo por dentro.

Exatamente como eu merecia.

— Ela ficou conosco por um tempo, e no dia anterior ao


que teve que ir para casa, veio para mim no meio da noite.
Ouviu-me chorar. Pressionou a palma da minha mão,
sussurrando como se fosse o maior segredo, dizendo-me para
sempre mantê-lo perto. Disse-me que traria paz e segurança.

Meus lábios pressionaram em seu cabelo, rezando para


ela entender.

— E isso é o que eu queria que ele fosse para você.

Claro, a verdade é que isso é o que eu queria ser para


ela.

Paz e segurança.

Não que ela os perdesse.

Sua língua saiu para lamber os lábios secos, olhando


para baixo, onde ela brincava com a gola da minha camiseta,
como se precisasse de uma distração.

— Essa é a maneira que sempre me fez sentir, Austin.


Toda vez que o seguro. Quando estou com saudades,
sofrendo e sozinha. Eu o seguro e penso em você. No conforto
que me deu. A esperança.

Porra. Eu tive o impulso de chorar.

Fui o responsável por arrancar isso dela.

Peguei essa coisa boa e esmaguei-a em minhas mãos.


— Eu deveria ter estado lá o tempo todo, Edie. Fazendo
você se sentir segura. Mas nunca esqueci. Nunca deixei de
sentir falta do que tínhamos.

— Eu senti tanto a sua falta. — Ela abafou um soluço


na minha camisa.

Abracei-a mais perto, fazendo promessas que eu


realmente esperava ter forças para cumprir.

— Vai ficar tudo bem. Eu lhe prometo, vai ficar bem.

— Como? — Ela sussurrou.

— Juntos. Ficaremos bem se fizermos isso juntos.

— Quando eu cheguei aqui... você estava ainda


acordado?

Eu dei de ombros.

— Não consegui dormir.

Ela passou os dedos em meu peito. Ternamente.

— Por quê?

Uma risada tranquila me deixou. Sem humor.

— Porque senti um monte de coisas esta noite, Edie.


Estando com você. Pensando no meu irmão. Eu... — Hesitei,
odiando essa parte de mim mesmo, a parte que não sabia se
eu poderia me livrar.

O inútil.

O babaca.

Aquele que destruiu cada coisa boa que lhe foi dada.
— Eu... estava tendo impulsos.

Edie ficou imóvel, em seguida, colocou a palma da mão


no meio do meu peito. Preenchendo-me com aquela crença
sem fim.

Você é bom. Você é bom. Sinto isso aqui.

Isso é o que ela me dizia naquelas noites anos atrás,


quando pensei que sucumbiria à escuridão, a menina que
respirava sua luz em minha alma negra, com a mão sempre
tão firme onde estava pressionada sobre o meu coração
errático.

Esse lugar sempre pertenceria a ela.

Eu exalei uma respiração instável.

— Eu não cedi, Edie. Não posso. Não vou. Mas acabou


que tocar música no meu violão foi a melhor maneira de
extravasar essa energia que qualquer outra coisa.

Um pequeno sorriso que era quase reverente puxou um


lado de sua boca.

— Eu sempre me perguntei se você começaria a tocar. —


Ela voltou a traçar seus dedos em meu peito. Acendendo-me.
Do jeito que fazia.

— Deus, fiquei tão chocada quando o vi pela primeira


vez no palco do “O Farol”. Mas não posso dizer que fiquei
surpresa. Apenas parecia... certo.

— É estranho... tocar. O tipo de música que escrevo e


onde faço isso. Costumava ter essa fantasia louca que um dia
estaria em um palco ao lado de meu irmão. Tocando com ele.
Mas isso não era nada diferente de uma ideia tola.

— Talvez, seja onde você deveria estar. Você acha que


você vai voltar?

— Voltar a LA? Talvez. Fazer as coisas direito com meu


irmão. Deixá-lo saber que estou bem para que possa parar de
se preocupar comigo de uma vez por todas. De outra forma?
Não. Você sabe tão bem quanto eu que não pertenço àquele
lugar.

Aquele tipo de mundo não era para mim. O dinheiro, a


fama e o estilo de vida. Pessoas olhando para você como se
fosse algo quando você sabe que com tudo o que tinha, que
você não era nada.

Com certeza, a única coisa que eu faria era derrubar


Baz mais uma vez.

Não estava disposto a deixar isso acontecer.

Nunca.

— Mas não posso escapar a música também. Por muito


tempo me sentia como um estranho no mundo da Sunder.
Lutei contra a necessidade de tocar por um maldito tempo.
Mas a música... acho que é uma parte da minha alma.

— Então, você toca em lugares pequenos e tranquilos —


Ela disse isso como uma declaração. Com entendimento. Sem
julgamento.

— Às vezes a gente se ajeita, Edie.

Tristeza teceu em seu tom.

— Sim, às vezes se ajeita.


Minha confissão parecia misturar uma nova marca a
toda a confusão em nossa bagunça.

— E você, Edie? Nunca vai voltar?

A sacudida de cabeça foi veemente.

— Não. Nunca. LA é o último lugar onde quero estar.


Não com Paul lá. Especialmente agora.

Remanescentes de sua perda queimaram como uma


tempestade de fogo no meio do meu quarto escuro.

Ela se aproximou, sua admissão murmurada


perigosamente baixo.

Com vergonha antiga.

Carregada com essa vergonha.

— Eu sinto saudade do meu irmão. Muita. Ele... fala


sobre mim?

Senti um deslizamento de pedras irregulares se


formarem na base da minha garganta. Engoli a dor, como se
elas tivessem pontas afiadas.

— Eu disse a você que não estive em casa em um longo,


longo tempo. E quando eu estava lá, uma tonelada de coisas
estava acontecendo, então não era exatamente fácil de se
conversar. Penso que você ir embora do jeito que fez,
machucou-o. Confundiu-o. As poucas vezes que você foi
mencionada, foram quando ele se perguntava como pôde
apenas fugir.

Não mentiria para ela.


Não o tinha ouvido mencionar o nome dela tanto assim.
E era sempre rápido e mudando de assunto.

Ou ele era o maior idiota egocêntrico do mundo, o que


eu tenho certeza que cada garota que já cruzou com ele
atesta, ou pensar nela apenas o machucava demais.

Minha participação estava no passado.

— Eu não queria machucá-lo — Ela sussurrou


derrotada.

Pisquei forte.

— Se ele soubesse, Edie... ele entenderia. Juro que


entenderia.

Mas isso era o maior obstáculo de todos.

Edie não queria que ninguém soubesse.

Ela estava envergonhada e convencida a pensar que era


melhor assim.

Então, ao invés disso, ela fugiu, porque era impossível


impedir que o seu passado viesse à tona.

Sua voz vibrou me aquecendo.

— Obrigada, Austin. Você deixa tudo melhor. Você


sempre deixa.

Suave e verdadeiro.

Sem culpa e puro.

Esta menina anjo cujo único crime foi entregar-se a uma


noite ruim.

Eu só não sabia como livrá-la da vergonha.


Convencê-la de que não passava de uma vítima.

Ela se enterrou em mim. Cada respiração que senti


contra o meu coração e cada toque inocente queimava minha
pele desejosa.

Deus, eu a queria.

Mas por agora…

Por agora…

Eu simplesmente a manteria onde ela sabia que estaria


segura.

— Durma, menina bonita, durma.


Soluços silenciosos ecoavam através das paredes.

Mas esta noite... esta noite eles eram diferentes.

Medo apertou meu espírito, todo o meu ser consumido


com a necessidade compulsiva de ir até ela e limpar o que
quer que a machucasse dessa maneira. O que assombrasse
aqueles olhos azuis.

Rapidamente esgueirando-me fui para os confins de seu


quarto.

Lá estava ela, de frente para mim, deitada enrolada em


torno de um travesseiro no meio da cama, com lágrimas
escorrendo livres.

Mas desta vez eu sabia que ela não acordara de um


sonho.
Subi atrás dela, envolvi-a em meus braços, desejando
desesperadamente que pudesse fazer algo para tirar sua dor.

Apagá-la de seu espírito e aliviar sua alma.

Mas essa tristeza?

Era um osso profundo. Escrita em sua medula.

Eu sabia em primeira mão que esse tipo de dor não


podia ser tão facilmente afastado.

Meu nariz aninhou sob os cabelos, minha boca em seu


ouvido, sussurrando calmamente.

— Pode confiar em mim, Edie. Confie em mim. Seja o


que for, eu entendo. Eu entenderei. — Minha voz mergulhou
mais fundo quando a puxei para mais perto. — Converse
comigo.

A hesitação esticou seu corpo, antes que ela se


agarrasse a mim com mais força, sua voz era silenciosa.

— Prometa-me, Austin... prometa que se eu te contar,


você vai manter o meu segredo seguro. Porque preciso que
saiba.

— Eu nunca vou contar. — O juramento saiu sem


hesitação.

O que eu não esperava era que aquele segredo me


rasgaria em um milhão de pedaços enquanto a ouvia confiar
em mim.

Raiva.

Eu não tinha certeza se já senti realmente isso antes.


Não antes disso.

Protecionismo surgiu em mim como a tempestade mais


escura.

Uma destruição consumidora que surgia e se construía.

Ódio.

Aquele imbecil do Paul.

Eu não o via há um ano ou algo assim. Não desde que


nos mudamos para a nova casa nas colinas. Mas eu o
conhecia. O filho da puta viscoso que estava sempre por perto
nos bastidores como se pertencesse ao lugar. Tentando tomar
o que não lhe pertencia. Querendo ser uma parte do mundo
da Sunder, não tendo absolutamente nada a oferecer.

Mas desta vez?

Desta vez, ele tomou muito.

Abracei uma Edie tremendo tão perto quanto pude,


sussurrando calmamente.

— Eu entendi você. Estou com você.

No meio de todas aquelas palavras fiz uma promessa


silenciosa na minha cabeça. Paul Nagle pagaria.
Meus olhos se abriram na escuridão que desaparecia. O
amanhecer não era nada além de uma sugestão se
preparando adentrar.

Meu coração disparou como um cavalo puro-sangue e


cada músculo do meu corpo estava duro.

Rígido e tenso.

Um grunhido de necessidade lutou para explodir


quando percebi o que me atrapalhou o sono. Enrijecido,
cerrei os dentes me contendo.

Problema?

Eu estava deitado de costas, e seu doce corpo, delicado


estava dobrado ao meu lado, a garota muito confortavelmente
perto. Ela tinha uma perna enganchada na minha cintura e
um punho enrolado na minha camisa.

Calor ardente me queimou, com a roupa de baixo


acetinada que ela usava que não fez nada para esconder o
fato de que sua boceta estava praticamente moendo contra
meu quadril.

Sim.

Perfeito. Problema.

Gemi, odiando-me um pouco. Deixei meus pensamentos


irem direto para o depravado e corrupto.

Mas a verdade da questão era que o meu pau estava


mais duro que a porra de uma pedra.

Eu desejava intensamente bater a cabeça contra a


parede.

Em vez disso, bati-a contra meu travesseiro.

Merda. Merda. Merda.

Porra.

Quando isso não funcionou, esmaguei a base da minha


mão no meu olho. Esperando que a pressão pudesse acabar
com o desejo avassalador. A necessidade consumidora de me
enterrar em toda aquela doçura e suavidade.

Perder-me no calor dobrado a meu lado.

Um minúsculo, gemido ofegante.

Isso daquela boca carnuda.

E tive certeza que eu apenas poderia morrer.

Não há hipótese de que eu apenas pudesse ficar lá como


uma espécie de santo.

Porque eu não era nada mais do que um homem.


Implorando por algum tipo de misericórdia e para que
não a perturbasse, desenrolei seu lindo corpo do meu e saí de
debaixo das cobertas, suguei uma respiração limpa que
esperava controlar e fui na ponta dos pés até o banheiro,
onde calmamente tranquei a porta atrás de mim.

Precisando de espaço.

Distância.

Ou talvez da porra de uma parede de tijolos com


cadeados e correntes.

Esfreguei as duas mãos pelo meu rosto, antes de


empurrar um pouco da tensão fora com um suspiro pesado.

O que diabos eu deveria fazer?

Deus, essa menina me deixou em nós.

Queria ela tanto. Mas eu era mais esperto do que


empurrá-la. Sabia que merecia tempo e respeito.

Meu olhar viajou a direita.

Chuveiro.

Sim.

Chuveiro.

Escondido neste pequeno cômodo com ela do outro lado,


o frio poderia ser a única solução.

Girei a torneira no alto, muito rápido tirei as minhas


roupas. Dei um passo em direção ao frio.

— Merda — Assobiei, segurando-me contra o spray de


fragmentos de gelo que caíam do chuveiro.
Respirei fundo, soltei o ar entre os dentes cerrados, e me
forcei totalmente sob o chuveiro.

Minha cabeça caiu e meu peito arfou quando rios de


água gelada desciam pelos meus ombros e costas.

Mas isso não fez nada para diminuir a necessidade. Não


me deu nenhuma sanidade ou pacificação.

Porque tudo que conseguia pensar era na garota do


outro lado da porta.

A minha garota.

Na minha cama.

Vestindo apenas sua calcinha e minha camisa.

Um anjo que eu queria sujar.

Eu sempre quis.

O amor era confuso assim.

Toda a minha contenção se dispersou. Segurei meu pau.


Espremendo a base. Minha boca abriu com a pressão da
minha mão contra o meu comprimento rígido.

Eu era um tolo de pensar que poderia ser suficiente.

Porra.

Deus, eu era um bastardo, mas não havia nada que


pudesse fazer antes de desistir, inclinando-me para a frente
cruzei meu antebraço acima da minha cabeça para manter o
meu peso.

A água bateu na minha cabeça e nas costas, enquanto


eu batia meu punho contra o meu pau.
Tentando ficar em silêncio quando tudo que eu queria
era gemer, dentes cavando no meu lábio inferior enquanto
imaginava-a espalhar-se para mim.

Minha respiração ficou curta.

Ofegante e dura.

Tentei imaginar os sons que ela faria quando eu


finalmente conseguisse me enterrar em seu corpo.

Um suave, suave suspiro.

Desacelerei, tentando me convencer de que o som


gutural estava todo na minha mente.

Apenas uma outra parte dessa fantasia.

Até que ouvi a pequena pancada contra a parede.

Merda. Merda. Merda.

Apertei meus olhos fechados, como se isso pudesse me


esconder.

Esconder a depravação de minhas ações depois que


acabei de confortá-la horas antes.

Coração batendo forte, virei-me e me movi o suficiente


para espiar a pequena seção onde a cortina do chuveiro não
estava totalmente fechada.

Apenas uma pequena abertura que me deixou exposto.

Mas foi o suficiente. Quando olhei para fora, estava


olhando diretamente para minha garota pressionada contra a
parede.

Ela olhou de volta para mim.


E eu queria estar horrorizado, minha mente lutando
para evocar cada pedido de desculpas fraco que poderia lhe
dar. Pronto para tentar impedi-la de se virar e fugir mais uma
vez.

Porque isso era exatamente o que eu esperava que ela


fizesse.

Mas a expressão dela... a expressão dela me agarrou no


centro do peito e mandou a pouca função cerebral que eu
tinha diretamente para baixo.

Vermelhos, exuberantes lábios estavam entreabertos,


sua mão pressionada contra a cavidade de sua garganta,
pupilas dilatadas tão grandes que seus olhos azul-celeste
pareciam pretos. As respirações necessitadas vinham para
mim daquela doce boca como um maldito trem de carga.

O desejo inchou nos confins do banheiro muito


apertado.

Vivo.

Ela pressionou mais profundamente na parede como se


pudesse apoiar os joelhos enfraquecidos. Cabeça jogada para
trás. Coxas apertando juntas.

Filho da puta.

Minha mão foi para a parede do chuveiro para me


equilibrar.

— Avisando, Edie, você precisa sair daqui. Agora


mesmo.
— Eu... eu... — As palavras engataram, e um tremor
passou sob sua expiração. — Eu te ouvi.

— Edie. — Outro alerta entre os dentes cerrados.

— Austin... eu... — Foi uma súplica.

Se eu fosse um homem sábio, fecharia bem a cortina.


Gritaria para ela sair antes que ambos fizessem algo tão
estúpido que acabaria cavando um abismo tão profundo
entre nós que nunca seríamos capazes de atravessar.

Mas não.

Como um tolo, deixei isso de lado. Os anéis metálicos


gritaram contra a haste. A parte de mim que queria esta
garota pelo que pareceu uma eternidade me convenceu de
que estava tudo bem voltar a bombear meu pau.

Corpo encharcado, água molhando meus ombros e peito


em jatos fracos.

Palavras brutas. Rudes.

— Foi isso o que você ouviu?

Ela não me deu nenhuma resposta.

Em vez disso, aqueles olhos vagavam sobre mim.

Com fome.

Desesperados.

Rastreando as partes de mim que ela nunca vira antes.

— Edie — Gemi, não desviando o olhar quando estendi a


mão para fechar a torneira, voltando-me para encará-la na
luz emergente.
— Você é tão lindo. — Ela sussurrou como se isso
causasse dor.

— Não... Edie... você é. Você que faz isso comigo. Você


sempre fez isso comigo.

Um suspiro carente e ela estava pressionando cada vez


mais contra a parede.

Implorando.

Saí do chuveiro.

Fechando a distância.

Senti o segundo que ela viu, quando o desenho gravado


na minha pele ficou claro nos raios fracos de luz da manhã.

Um tremor a atravessou como um trovão e tudo passou


de intenso a grave.

Desenfreado.

A energia que nos ligava surgiu.

Ampliada.

Dei mais um passo para perto, completamente exposto


até que eu estava bem na frente dela.

De pé na tempestade.

Luz do fogo.

Com a mão trêmula, ela estendeu o braço e traçou a


ponta dos dedos sobre o que foi marcado em cima do meu
coração. Reverente e impressionada, tocou o local que sempre
vai lhe pertencer.

Foi a primeira tatuagem que fiz.


Meu peito estava coberto de tinta. Como se os demônios
dentro de mim fossem capturados na minha pele.

Escondido no meio de tudo isso estava um filtro de


sonhos.

Soprou no vento, as penas brilhantes balançando e


selvagens enquanto golpeavam, em voo onde estavam fixas
em meu abdômen. A coisa toda foi ameaçada ser arrancada
pela tempestade que governava nossas vidas, os fios de couro
agarravam-se à base que mantinham tudo isso junto.

Esse anel interminável carimbado sobre o meu coração.

Um diamante encontrava-se bem no meio.

Minha para sempre.

Minha mão agarrou o lado de seu pescoço, o polegar


roçando ao longo de seu queixo.

— Você entende agora, meu bem? O que você significa


para mim?

As palavras saíram grossas quando foram expulsas, eu


parado lá, nu na frente dela.

Fisicamente.

Emocionalmente.

— Eu nunca deveria significar nada.

Eu apertei sua mão sobre o filtro.

— Não importa. Você estava aqui o tempo todo.

Seu queixo tremia quando ela o levantou, seu olhar


capturando o meu.
— Você me faz querer coisas que não posso ter.

Queria dizer a ela que eu poderia dar tudo.

Que todos os seus limites estavam a salvo comigo. Que


eu os protegeria. Não os atravessaria até que ela estivesse
pronta.

Até que ela tivesse certeza.

Em vez disso, inclinei-me e mal rocei meus lábios no


canto dos dela.

A promessa mais suave.

Eu entendo você.

Ela balançou com um tremor de corpo inteiro.

Desta vez proferi em voz alta, voz suave.

— Eu entendo você. Não vou te machucar.

Aquela tempestade se alastrou e guerreou.

— Austin.

Nós fomos retidos por todos aquelas reservas,


empurrados para a frente pela necessidade e o desejo.

— Eu te conheço — Disse a ela baixinho, colocando


beijos suaves ao longo da curva de seu queixo. Provocando
arrepios.

E sabia que ela entendia o que eu queria dizer.

Ela reconheceu que eu ainda via claramente as


limitações.
Eu não pressionaria. Não a perseguiria até que se
sentisse presa.

Ela sempre manteria o controle até que estivesse pronta


para entregá-lo para mim.

Ela ergueu o queixo e choramingou:

— Não.

— Não o quê? — Saiu um rosnado.

— Não me machuque. Não me deixe.

Não.

Não.

Não.

Desta vez foi a rendição.

A palavra enviou tensão através do pequeno cômodo.

Enrolando-nos juntos.

Mais apertado.

Até que nenhum de nós tinha uma escolha a não ser


nos encaixar.

Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço e minha


boca abaixou.

Tomando aquela boca que eu estava morrendo de


vontade de tomar. Tão macia e doce para caralho. E
certamente me encontrei perdido em algum lugar daquela
fantasia quando eu chupei a suavidade de seu lábio inferior,
roçando-o entre os meus.
Virei-me e fiz o mesmo com o de cima.

Saboreando.

Degustando.

Tomando.

Ela inclinou a cabeça para trás e sua língua espreitou.

Hesitante.

Isso foi até a segunda vez que os meus roçaram os dela.

Fogo.

Nós estávamos perdidos.

Ausentes, a não ser para nós.

Mãos quentes pressionaram contra o meu peito e ela


ficou na ponta dos pés, a garota me chocando por ser quem
aprofundou o beijo.

Exigindo mais.

Um grunhido baixo retumbou profundamente em minha


garganta e enterrei minhas mãos nas longas mechas de seu
cabelo.

Tão macio, porra.

Puxei um pouco para me dar melhor acesso.

E eu a beijei e a beijei.

Dançando com línguas e beliscando com os dentes e


elevando espíritos.

Meu pau nu pressionou em sua barriga.


Ela choramingou, a menina caindo no meu aperto
quando seus joelhos ficaram fracos.

Coloquei-a contra a parede, impedindo-a de cair. Seu


corpo parecia tão frágil sob o meu.

— Peguei você — Murmurei enquanto a levantei em


meus braços e a levei de volta para o santuário do meu
quarto.

A luz fraca avançou e lavou as paredes brancas com


calor.

Banhou a cama com luz cintilante.

Deitei-a no centro dela. Olhei para a pessoa que mudou


tudo. Meu coração, meu foco e todos os pensamentos fodidos
que governavam minha cabeça.

De pé, com as minhas mãos em punhos ao meu lado e


seus olhos confiantes observando cada centímetro meu, eu
ansiava ser alguém melhor.

Saí da casa de meu irmão na esperança de encontrar


esse homem. Encontrar a força dentro de mim para ser a
pessoa que eu queria ser.

Sabia com cada parte de mim que eu tinha alguém lá


fora que precisava da minha força. Uma garota que precisava
de alguém para defendê-la.

Da mesma forma que ela me defendeu.

Respirando crença.

Transmitindo fé.
Eu poderia me tornar ele agora?

Poderia lidar com algo tão delicado sem esmagá-lo


novamente em minhas mãos?

Edie se contorcia.

— Austin... por favor.

Eu com toda certeza tentaria.

Meus movimentos foram cautelosos e controlados


quando subi na cama. Seus pés estavam plantados no
colchão, e me arrastei entre suas pernas.

Pairei e olhei.

Tão bonita.

Espalmei sua bochecha.

— Você rouba minha respiração.

— E você me deixa fraca — Ela voltou.

Caí para meus cotovelos e ela arqueou.

Nossos corpos se encontraram no meio.

Aquela energia pulsou.

Ela ofegou uma expiração enquanto eu caía sobre seu


corpo, com cuidado para não a esmagar.

Nunca.

Enredei meus dedos pelos seus cabelos.

— Não... Edie. Eu serei a sua força. Sua coragem. Te


apoiarei quando você precisar do apoio. Te segurarei quando
você estiver fraca. E quando você estiver subindo, serei quem
a verá voar. Nunca vou derrubá-la ou prendê-la. Diga-me que
confia em mim.

Lágrimas reuniram-se nos cantos de seus olhos, e sua


língua passeou ao longo de seus lábios. Seu olhar aquecido
se dirigiu para os meus lábios antes que ela piscasse de volta
para os meus olhos. Transparente e clara.

— Você sabe que não estaria aqui se não confiasse.

Alívio roubou minha respiração, e aquela esperança já


não era apenas um lampejo. Agora era uma luz ofuscante.
Ardendo, queimando e consumindo. Meu peito pareceu
apertado para caralho, e me inclinei para beijar a minha
garota.

Lentamente no início.

Saboreando como era estar ao sol.

Ela se agarrou aos meus ombros nus e envolveu suas


coxas esbeltas em torno de meus quadris.

Eu balancei contra ela.

Toda a minha dureza contra a suavidade macia.

Ela choramingou um suspiro.

E eu fiz isso de novo.

E de novo.

E foi demais.

E nem perto de ser suficiente.


Edie começou a ofegar enquanto eu aumentava o ritmo.
Aumentava a pressão. Beijei-a mais, com mais força e mais
profundidade.

Perdendo seu controle.

Ela olhou para mim como se estivesse me implorando


para salvá-la.

— Estou sentindo você — Parecia desesperada.

Meu espírito acendeu em um frenesi.

Mudei o meu peso para os joelhos e coloquei uma única


mão ao lado de sua cabeça. As pontas dos meus dedos
arrastaram o material da minha camisa, minha frequência
cardíaca chutando uma batida extra quando passei sobre a
elevação de seus seios, mamilos tensos e lutando contra o
tecido, antes de descer a mão.

Um arrepio a atravessou quando me movi sobre sua


barriga.

Acariciei o cetim de sua calcinha.

Ela ofegou.

Afastei o cetim, acariciando suavemente. Ela gemeu,


encorajando-me, e empurrei dois dedos profundamente em
seu corpo quente.

Oh, porra. Tão quente e apertada.

Edie ofegou e suas costas se curvaram.

— Por favor.

Deus.
Ela era tão doce, porra.

Quente e úmida.

Rocei meu polegar em seu clitóris.

Tanta luz, caralho.

Indo e vindo lentamente comecei a fodê-la com os dedos.

Ainda assim, foi tudo o que levou para ela gritar, meu
nome em seus lábios enquanto suas paredes apertavam,
montando o pico de seu orgasmo.

Meu peito se apertou com sua expressão, seu doce, doce


rosto absorto com a felicidade que eu estava lhe trazendo.

Levantou seus quadris da cama enquanto ofegava.


Dedos afundando nos meus ombros. Agarrando quando ela
irrompeu.

Lindo.

Lindo para caralho, observá-la se desfazer, meu espírito


ficando selvagem com a necessidade de me aproximar dela.

A garota gemeu e se contorceu com arrepios que


enviaram tremores por seu corpo.

Minha mão que estava explorando o corpo dela estava


de volta no meu pau. Segurei firmemente com hesitação,
perguntando o quanto essa garota poderia tomar antes de se
assustar, então desisti porque ela estava olhando para mim
como se eu pudesse ser a luz em sua escuridão, também.
Eu me afundei com movimentos selvagens e brutais.
Nossos rostos estavam tão perto, meu nariz estava tocando o
dela.

Olhando para a eternidade.

Para aquelas imensas profundidades que levavam


diretamente à alma dela.

Minha boca abriu e todos os meus músculos se


enrolaram, esta garota, minha ruína completa.

Traços de êxtase rasgaram através do meu corpo,


tremores se distanciando, meu corpo estava rígido acima do
dela quando eu gozei.

Suas mãos voaram para o meu rosto, agarrando-se


rapidamente ao meu rosto, suas emoções desnudadas
quando ela falou repetidas vezes, estou com você, estou com
você, estou com você.

O prazer agarrou-me em todos os lugares, e cai para


frente enquanto lutava para respirar, meu braço enrolado em
volta da cabeça dela enquanto eu pressionava seu rosto no
meu pescoço.

Porque Edie Evans foi a minha primeira.

A primeira garota que conseguiu tocar algo dentro de


mim quando eu estava completamente morto por dentro.

Um golpe de luz na escuridão.

A única a evocar. A única a inspirar. A única a incutir


essa esperança ardente que plantou uma centelha e inflamou
meu interior.
Estimulando-me a aguentar.

Desde o dia escuro que eu o matei, ela foi a primeira a


me fazer sentir.
Ela me beijou. Sua boca tímida. Sua língua lenta.

Eu a deixei levar.

Deixei as pontas dos seus dedos explorarem


tentativamente meu rosto.

Deixei sua respiração se tornar uma com o meu espírito.

Deixei-a estremecer suavemente.

Deixei-a suspirar.

Deixei-a gemer.

Deixei-a lentamente, mas seguramente, afundar-se em


mim.
— Bom dia. — A voz profunda e grave me despertou do
sono.

Meus olhos se abriram.

Minha frequência cardíaca disparou.

Meu lindo garoto pairava alguns centímetros acima de


mim. Quando encontrei seu olhar intenso, seus lábios
sensuais torceram em um sorriso que de alguma forma
beirava a adoração.

Como um truque rápido. Impossível. No entanto,


completamente, totalmente cativante.

Raios de luz dourada entravam em seu quarto. O calor


da manhã estendia a mão para tocar tudo em seu caminho.
Beijando o rosto dele e iluminando a escuridão sem limites
que me rodeava.

Eu queria me afogar nele.


Olhos poéticos traçaram meu rosto, o cinza feroz de
alguma forma suavizado e nadando com canções e mistérios.
Inteiramente intrigados.

Minhas entranhas tremiam e meu coração


sobrecarregado tentava uma batida irregular.

— Bom dia — Sussurrei de volta.

Oh, como nós caímos.

Mas deveria saber que quanto mais eu lutasse contra


ele, mais rápido chegaria a queda.

Assim como areia movediça.

Quanto mais eu lutava, mais profundamente afundava.

E eu não quis sair.

Soltei o que tinha que ser o sorriso mais bobo quando


um tremulava de seus lábios cheios e vermelhos.

Deus.

Ele me fazia feliz.

— Como você dormiu? — Perguntou.

Escapou-me uma risadinha idiota que não podia conter.

Melhor do que dormi em anos. Ele precisa saber isso?

— Será que Edie Evans acabou de rir? — Ele se inclinou


mais perto, lavando-me com uma onda de energia que vivia
em torno de nós. Seu sorriso era um pouco mais para o lado,
predatório. — Agora, esse é um som que não ouvi em um
longo maldito tempo. Onde posso me inscrever para ouvi-lo
todos os dias para o resto da minha vida?
Meu sorriso estava fora de controle.

Esperança.

Alegria.

Este garoto mais uma vez despertou isso em mim.

Arqueei uma sobrancelha provocando.

— O resto de sua vida, é? Você está colocando a carroça


na frente dos bois, Stone.

Maliciosamente, ele balançou a cabeça. Colocou suas


mãos e joelhos em ambos os meus lados.

Prendendo-me como se não tivesse nenhuma intenção


de me deixar ir.

E Deus.

Eu gostei.

Estar cercada por ele por todos os lados.

Ele abaixou mais a cabeça. Chegando mais perto.

— Coloquei a carroça na frente o tempo todo. Eu só


estava esperando você finalmente compreender.

Uma vermelhidão me corou. Um raio de calor consumiu


minha pele. Assim como chamas consumindo papel.

Contorci-me e meu corpo se iluminou em memória da


noite passada.

A noite passada.

Arrepiei-me e mordi meu lábio inferior, tentando conter


a reação.
Austin percebeu.

Evidentemente, ele sabia exatamente em que direção os


meus pensamentos viajaram.

O calor aumentou.

Amplificou.

Dez vezes.

Talvezm mil.

Deus, eu queimava.

Aqui estava eu, presa sob este lindo homem. Sedento de


coisas que não tinha certeza que sabia como dar. Minhas
mãos entraram no poço dessas águas turvas e me
refrescaram com um gole.

Essa era a coisa sobre Austin. Tanto o meu espírito


quanto o meu coração reconheciam que sempre foi ele. Foram
os antigos traumas que me impediram de estender a mão e
pegar o que eu queria.

Um lampejo de desconforto passou por mim, e meus


pensamentos viajaram para a mensagem de texto que recebi
ontem à noite.

O que ele poderia querer?

O que ele poderia fazer?

Engoli o vislumbre de ansiedade. A última coisa que eu


queria era obscurecer este momento. Permitir que Paul
roubasse mais de mim, mais de nós, do que ele já tinha.
Mais que isso? Eu não conseguia afastar a gravidade da
reação de Austin ao mencionar o nome de Paul na noite
passada. Não tinha certeza se poderia lidar com a
preocupação desnecessária com um homem do qual ele em
última análise, só queria me proteger.

As pontas de seus dedos tocaram suavemente em toda a


minha clavícula, ainda mais lento à medida que se
arrastavam ao longo da cavidade do meu pescoço. Meu
queixo levantou com a sua exploração. Tudo tremeu sob seu
toque suave.

Com um suspiro, minha boca se separou.

O apelo mais silencioso por mais.

— Linda — Ele murmurou. Subiu mais os dedos,


arrepios me percorrendo enquanto traçava a linha do meu
queixo. — Tão linda. Não consigo ver direito quando olho
para você. Ou talvez finalmente estou vendo tudo certo.

Um pequeno gemido se soltou quando ele passou as


pontas dos dedos em meus lábios.

Testando, sua atenção se desviava entre os meus olhos e


minha boca, a ação comedida enquanto ele mergulhou-os um
pouco dentro.

Minha língua lambeu o melhor gosto.

Este garoto me quebrava pedaço por pedaço.

Sua cabeça inclinou enquanto ele olhava para mim.

— Você tem alguma ideia de como é bom acordar ao


seu lado?
Reverência encheu o meu tom.

— Não pode ser melhor do que acordar ao seu lado.

— É aí que você está errada, Edie, porque não há lugar


no mundo que eu preferiria estar do que aqui com você.
Então, diria que se classifica como algum lugar acima de
mágico e milagroso.

Minha garganta inchou com carinho.

— O que está acima de milagroso? — Eu questionei,


olhos flutuando, procurando aquele rosto marcante.

Lentamente, ele sacudiu a cabeça.

— Não existe tal coisa.

Oh, Deus.

Aquele olhar potente brilhou com algo significativo.

Ousado e forte.

Tudo se agitou e aumentou.

Antecipação.

Necessidade.

Esperança.

Não houve hesitação quando ele pressionou seus lábios


contra os meus.

Esta…

Esta foi uma carícia que senti bem no centro da minha


alma.
Ele permaneceu ali, antes de se aprofundar, o beijo doce
assumindo uma vantagem de fome enquanto se movia contra
a minha boca.

Comigo.

Para mim.

Sua língua estava molhada. Tanto quente e doce.

Rápido, com firmes golpes.

Lentos, com suaves investidas.

Possessivo e reivindicando.

Hipnotizante.

O mundo girou, e me senti tonta.

Livrando-me da agonia da garota que não queria ser.

Voando para a mulher que queria ser para ele.

Para mim.

Minhas mãos pressionaram contra o seu coração.


Apenas precisando sentir a trovejante batida, batida, batida.
A forte batida que bombeava vida de volta para o diamante no
centro.

Austin estava cem por cento certo.

Acordar ao lado dele beirava em algum lugar entre


mágico e milagroso.

Impossível e perfeito.
Ele fez um som crescente contra a minha boca, tanto
frustrado quanto brincalhão, antes de se forçar de volta para
o peso de suas mãos.

— Para registro, nós podemos deixar anotado que eu


não posso acreditar que você está aqui. Na minha cama.
Nunca ousaria imaginar isso há uma semana. E para registro
também saiba que gosto. Muito.

Estendi a mão, os dedos trêmulos acariciando os


contornos de seu rosto arrojado e impressionante.

— Eu não tenho certeza que já optei por sair.

Seus lábios vermelhos subiam no lado como se ele


quisesse brincar, um sorriso tomando conta.

— Então não saia.

Não.

Meu próprio sorriso flertou na minha boca.

— Acredito que esse pode ser o uso adequado dessa


palavra.

Ele mordiscou meus dedos enquanto os passava em


seus lábios perfeitos.

— Acredito que você está no caminho certo, Edie Evans.

Outra risadinha escapou, antes que meu sorriso


diminuísse para um sorriso mais suave, carinho surgindo.

— Você não sabe o quão incrível isso soa. Mas tenho


que ir. Tenho trabalho.

Sua testa puxou com uma careta.


— Quando vou te ver de novo?

— Quando você quer me ver?

Ele riu, leve e despreocupado, enquanto


descuidadamente brincava com uma mecha do meu cabelo.

— Bem... considerando que não quero parar de vê-la, eu


diria assim que for humanamente possível. O que você acha
de ir no “O Farol” hoje à noite? Ver-me tocar?

Algo em sua expressão tornou-se esperançoso. Como se


ele não conseguisse impedir suas próprias vulnerabilidades
de surgirem. Parecia um lembrete austero do menino
danificado que eu conhecia.

Meu olhar acariciou a esperança incerta em sua


expressão.

O homem estava tão diferente mais ainda o mesmo.

Hesitei, procurando as palavras certas.

— Nós somos…

Ele pegou minha mão e enfiou os grandes dedos nos


meus, segurou-os contra o filtro de sonhos gravado em seu
peito.

Uma marca permanente que de alguma forma me


marcou.

— Nós somos nós, Edie? É isso que você está querendo


saber?

Timidez escoou, carregando todas as promessas que fiz


de permanecer sozinha.
Mas eu não quero estar.

Não quando o que quero está bem na minha frente.

Incerta e de alguma forma corajosa, mordi meu lábio.

— Nós somos…?

Gravidade roubou sua expressão. Era algo tão genuíno e


sincero. Inexoravelmente feroz.

— Nós sempre fomos nós, Edie. Agora nós só temos que


descobrir como nos manter juntos.

— Juntos?

— Sim. O que você disse?

Talvez, eu devesse estar sendo conduzida pelo antigo


medo. Agarrando-me ao passado que nunca me deixaria ir.

Em vez disso, fui banhada com fé.

Fé nesse garoto.

Ele me entendia. As linhas, os limites e os medos.

Respeitava-me.

Engoli com dificuldade.

— Apenas... tenha cuidado comigo.

Eu gritei de surpresa quando ele rapidamente nos


capotou, a ação tão rápida que não pude entender até que de
repente estava montando sua cintura.

Então eu estava olhando para o garoto de tirar o fôlego,


que segurava meu coração.

Ele sorriu, tão bonito e ousado.


Tremores me atravessaram, levantando uma onda de
arrepios na minha pele.

Coloquei minhas mãos em seu forte, forte peito.


Tentando me manter firme.

Em terreno irregular e sabendo, sem a menor sombra de


dúvida, que não havia realmente nenhuma terra abaixo.

Eu caí.

Agora eu estava nadando nas ondas da escuridão mais


negra.

A escuridão esperando abaixo me levou toda.

Deveria ser frio.

Aterrorizante.

Em vez disso, senti-me a salvo na segurança de seus


braços. Na garantia de seu coração e suas intenções.

Meus cabelos caíram em volta dos meus ombros. Ele


levantou as duas mãos, passando seus dedos através dos
longos fios e os espalhou, segurando minha cabeça.

—Eu acho que é você quem vai ter que ter cuidado
comigo.

Segurei seus pulsos. Sentindo-me tão liberta.

Liberta em seu toque.

Liberta em sua crença.

— Austin.

Olhos vagavam, fazendo-me sentir adorada enquanto ele


olhava para mim.
— Edie.

Sua expressão mudou para algo relaxado. Alegre.


Inclinando um pouco sobre o lado brincalhão. Ele me puxou
para mais perto e sussurrou perto de minha boca.

— Beije-me antes de ir.

— Isso é engraçado... porque estava esperando você me


beijar.

Ele sorriu, e minha língua saiu, molhando meus lábios.


Mergulhei, ansiosa por seu beijo.

Ele passou seus braços em volta da minha cabeça.


Envolvendo-me. Fazendo-me sentir segura.

Adorada.

Seu beijo foi longo, lento e beirava o desespero.

Era o mesmo que sempre senti quando estava com ele.

Como me sentia por ele.

Desesperada.

Quase me matou quando soltei.

Quando o soltei.

Outro pedaço arrancado.

Um pequeno arrepio de medo rolou através de mim. O


pensamento de perdê-lo novamente era quase demais para
suportar.

Eu não era tão idiota para não perceber que nós dois
estávamos confusos. Nada além de uma confusão de
destroçadas peças quebradas, que estavam espalhadas e
misturadas.

Eu só podia rezar para que de alguma maneira, desta


vez, nós pudéssemos fazê-las se encaixarem.

Relutantemente, afastei-me. Meus lábios estavam


inchados e vermelhos, meu cabelo uma bagunça de seus
dedos.

Eu não me importava.

Não senti nenhuma vergonha ou remorso pelo que


estava dando a esse garoto.

Esta parte de mim que sempre lhe pertenceu.

— Eu realmente preciso ir.

Seu aceno foi relutante.

— Tudo bem.

Afundei-me debaixo dele.

Depois da noite passada, pareceu bobo ter o desejo de


puxar a bainha de sua camisa para baixo sobre as minhas
coxas quando me levantei, para me cobrir com modéstia.

Aparentemente, os velhos hábitos realmente morrem


jovens, porque puxei, e olhei para ele, sentindo a onda de
vermelhidão quando sorriu para mim. A mente dele tão
claramente retrocedendo, para aqueles momentos que
compartilhamos tão cedo nesta manhã.
Corri para o banheiro, meu corpo ainda corado quando
voltei para o que tinha incitado o fogo que rugiu entre nós na
noite passada.

Rapidamente, refresquei-me e saí, dando-lhe um tímido


e consciente sorriso, quando olhei para ele que sorriu para
mim de onde estava deitado de costas no meio de sua cama
com o lençol afastado.

Seu corpo bonito em exposição.

Muito bonito.

Eu estava fazendo um esforço enorme para não olhar.

Bom Deus, ele me deixava tonta.

Retorcida e amarrada.

Puxei meu jeans que estava um pouco rígido pois secou


em uma pilha no chão.

— Estou definitivamente ficando com esta camisa, a


propósito — Disse a ele enquanto calçava meus sapatos.

Ele riu lento e alto. Estava vestindo apenas cueca boxer,


e mais uma vez tentava não olhar quando Austin parecia tão
ridiculamente gostoso.

Tentou domar seu cabelo passando a mão sobre eles.

— Acredite em mim, Edie, essa camisa pertence a você.

Outra onda de vermelhidão veio queimando, abaixei


minha cabeça e coloquei meu cabelo atrás das orelhas,
encontrando minhas chaves que foram descartadas no chão.

Austin me seguiu pelo corredor, sala de estar e cozinha.


Ele me beijou mais uma vez na porta.

— Vou te ver esta noite, linda.

E percebi que estava com tantos problemas.

Porque mal podia esperar.


Os dedos suaves roçaram o comprimento da minha
espinha.

Vacilando, enrolei-me em uma bola apertada e continuei


a balançar.

Eu precisava bloquear.

Fazer com que a dor excruciante fosse embora.

Parar com isso.

Caralho, eu precisava de algo. Um trago. Uma carreira


ou uma pílula. Qualquer coisa funcionaria.

— Austin... o que está acontecendo? — Sua voz era tão


hesitante. Insegura. Assustada.

Puxei punhados do meu cabelo, balançando mais e


enterrando minha cabeça entre os joelhos.

— Vá embora, Edie.
Como diabos mesmo ela sabia que eu estava aqui?
Escondido no telhado, iluminado apenas pela fraca lua
crescente. Meu corpo estava inclinado em direção ao mar que
quase podia ouvir, quase podia provar, mesmo que estivesse
a vinte quilômetros de distância.

— Austin... por favor. Deixe-me entrar.

Isso parecia tão confuso. De cabeça para baixo. A


maneira que entrei nela. Em seu coração, sua mente e seus
segredos.

E não sabia como deixá-la entrar em mim. Eles eram


muito intensos. Muito privados. Muito fodidos.

Eu estava muito fodido.

Esse era o problema.

Não podia suportar que ela visse a depravação.

— Por favor — Falou ela novamente.

Tentei lutar contra isso, então me dei. Só um pouco.

— É o aniversário dele.

Meu aniversário.

Só que não celebramos, eu e Sebastian. O dia foi muito


maldosamente brutal para qualquer um de nós reconhecer.

E aqui fiz isso.

Disse em voz alta.

Porque essa menina... essa menina. Ela continuou se


aproximando. Indo mais fundo.

Eu deveria estar lá por ela.


Não o contrário. E aqui estava ela, olhando para mim.
Meu espelho. Fazendo-me enfrentar todas as coisas que não
queria ver.

— Oh. — O entendimento filtrou-se na respiração dela.


Ela pressionou seu doce, doce rosto na parte de trás do meu
pescoço, envolvendo-me nos seus braços ternos por trás.

— Diga-me o que posso fazer. Qualquer coisa. — A


menina estava muito ansiosa para me oferecer o conforto que
eu não merecia.

Só que ela realmente não entendia. Realmente não


sabia.

Ela não estaria aqui se soubesse.

Se soubesse o quão nojento eu era.

Você pensaria que aprendi até agora. Que descobri como


deixar de ser um idiota egoísta.

Mas aqui estava eu, tomando um pouco mais do que


não tinha o direito de tomar.

— Só... por favor. Não me deixe. — Eu segurei as


palavras. A necessidade. O desespero.

Não me deixe.

Nunca.

Porque foi nela que encontrei todas as minhas forças.


Observei-a pegar a estrada.

Sorrindo como um maldito idiota.

Pressão cardíaca cheia e batimento bombeando


selvagem.

Quando ela desapareceu de vista, passei a mão pelo


meu rosto como se isso pudesse me livrar da névoa de
luxúria e necessidade, aquele doce, doce feitiço que ela me
lançou, e fechei a porta atrás de mim entrando na casa.

Susto tirou o ar dos meus pulmões, e eu congelei, antes


de balançar duramente a cabeça.

— Raios, Deak. Qual diabos é o seu problema? Sempre


esgueirando por aí como algum tipo de voyeur. Quase me
matou de susto.

Ele estava sentado na pequena mesa redonda apenas do


outro lado do balcão que separava a sala da cozinha, o
tornozelo cruzado sobre o joelho, balançando-se na cadeira
com uma xícara de café levantada a meio caminho de sua
boca. Peito nu e a bagunça de seu ondulado cabelo loiro
escuro caindo da cabeça.

— O que? Um homem não tem permissão de desfrutar


de seu café no início da manhã? Em sua própria maldita
casa?

Ele disse isso como se estivesse apenas aproveitando a


manhã. Relaxando. Mas o jeito que ele estava olhando para
mim estava longe de ser casual. O susto que me deu
rapidamente se transformou em um sussurro de inquietação.

Uma sobrancelha arqueou enquanto ele inclinava a


cabeça.

— Embora parece-me que você estava desfrutando de


uma amostra de um tipo diferente de menu hoje de manhã.

Sim.

Acho que eu deveria ter esperado isso. Não significa que


não me irritou para caralho.

— Não é da sua conta, cara.

— Não? Porque podia jurar que você e eu tivemos uma


conversa nesta mesma sala apenas algumas noites atrás.
Lembro-me de algo sobre você prometendo não ter a intenção
de mexer com aquela garota.

— Foi exatamente o que disse e é exatamente o que quis


dizer.

— Então, o que é que ela estava fazendo esgueirando-se


pela porta ao nascer do sol?
Exalei, esperando que isso pudesse suavizar um pouco
do aborrecimento agitando meu estômago.

Deak não tem nenhuma ideia sobre minhas intenções.


Pelo que imagina, ela era apenas outra garota saindo de
madrugada, nunca cogitando algo mais.

Passei a mão sobre a minha cabeça, atravessando o


chão em direção à cozinha.

— Eu também lhe disse que havia todos os tipos de


história entre nós que você não conhece.

— Sim, companheiro. E que tipo de história é essa?

Senti uma vida inteira de história.

Para sempre.

Peguei uma caneca do armário, enchi de café, fiz um


movimento de encolher de ombros, indiferente.

— Ela é minha garota.

Simples assim.

É tão complicado, porra, minha cabeça girou.

Ele não precisa saber nada disso.

Uma risada de descrença caiu dele e ele sentou-se para


a frente.

— Então é só isso?

— Sim, cara, é só isso.

Damian, de repente, atravessou o corredor, esfregando


uma mão sobre o rosto, parecendo tão irritado quanto eu me
sentia.
— Que diabos, idiotas? Algum de vocês já ouviu falar de
uma coisa chamada „respeitar seu companheiro de quarto‟?
Porque lá estava eu, tendo o melhor maldito sonho, quase
entrando de cabeça, e de repente somos interrompidos por
duas vozes que não fizeram nada além de matar meu humor.
Portanto, não é legal. Não é nada legal.

Eu coloquei um pouco de creme no meu café, sorrindo


na direção dele.

— Fico feliz por você estar pelo menos tendo algo em


seus sonhos, meu amigo.

— Ei.... Eu vou pegar o que posso dar conta. E acredite


em mim, é um monte de coisa.

Ele segurou as duas mãos para cima, com as palmas


para fora e esticadas como se fossem luvas.

Patas sujas, sem dúvida.

Tomando um gole, abafei uma risada.

— Você não tem jeito, Dam.

— Nada, cara. Este menino aqui não tem nada além de


jeito. Só estou praticando.

Você pensaria que ele tinha doze anos e não vinte e


quatro. Mas não havia um pingo de vergonha na sua
admissão, com seu sorriso largo. Tão rápido quanto veio,
aquele desagrado resmungado desapareceu, e ele estava
derramando seu próprio café e batendo nas minhas costas.

— Qual a boa de hoje?

Deak apontou para mim.


— Nosso garoto aqui estava me contando sobre sua
garota, não estava, Austin?

Damian franziu a testa, fechando um olho.

— Qual garota?

O idiota sabia qual garota.

A única que me deixava louco de desejo. Aquela que me


bateu tão forte que não podia ver direito. Na noite passada,
ela finalmente me deixou aprofundar.

— Edie.

— Então, a menina.

Veja, Damian entendia tudo.

Deak?

Não muito.

Porque ele estava olhando para mim como se estivesse


imaginando nós dois em um ringue, lutando algumas
rodadas.

— Trabalhei com ela durante os últimos dois anos,


companheiro — Disse ele. — Eu te disse antes, ela é uma boa
garota. Não precisa de você para sujá-la do jeito que você
gosta de fazer. E tenho certeza que o Jed-boy está investindo
ali há muito tempo. Ele está esperando por ela a um longo
maldito tempo.

Bem, estive esperando por mais tempo.

Deak continuou:
— De onde estou sentado, parece-me que você está
pedindo para ter problemas.

Problemas.

Sim.

Essa menina era desordem e o tipo perfeito do caos.

Doce como pecado.

Suave como a neve.

Luz do fogo.

Suspirando, forcei-me a manter a calma e não descontar


no meu amigo.

— Certamente, que Jed não deveria investir. Ela é uma


mulher, não a porra de um brinquedo.

Deak abriu um sorriso.

— Bem, bem, bem... alguém está ficando todo irritado


sobre uma garota. Nunca pensei que chegaria esse dia.— Ele
recostou-se como se estivesse resolvido. — Entendi, cara.
Melhor em você do que em mim. Apenas preste atenção no
que faz, porque eu a considero uma amiga, e não hesitarei em
chutar o seu traseiro se você fizer algo errado. Jed também
não se importará em fazer isso.

— Não será necessário.

Essa era uma promessa que gostaria muito de cumprir.


Hoje à noite, o “O Farol” estava lotado. Ruídos de vozes
disputavam atenção acima da música que bombeava dos
alto-falantes, tocando no espaço entre a banda que havia
tocado antes, uma que perdemos e Austin, que deve tocar
dentro de quinze minutos.

Eu culpei Blaire por nos atrasar.

Excitação ansiosa me apertou com força.

Eu mal podia esperar para vê-lo com seu violão


novamente.

Sob à luz.

Onde ele pertencia.

Blaire caminhou na ponta dos pés e esticou a cabeça


para olhar as pessoas se reuniram no bar.

— Ugh, — Ela gemeu — acho que não vamos encontrar


um lugar para sentar.
Eu me movia ao redor, a procura de um tiro certeiro no
que, ou melhor, quem, eu queria ver.

— Vamos... chegar o mais perto possível do palco.

— Bem. Mas vamos pegar bebidas primeiro.

Ela pegou minha mão e me arrastou atrás dela.


Empurrou através de grupos amontoados, sem remorso
quando se agarrou à minha mão e foi em direção ao bar.

Eu gritei quando uma mão de repente apertou meu


cotovelo.

Firme o suficiente para me puxar para trás.

Minha cabeça voou ao redor. Eu ainda estava no limite


pela mensagem de texto que recebi ontem à noite, e estava
lutando com tudo de mim para não permitir que Paul
voltasse a dominar.

A respiração profunda que fiz aliviou com o que eu tinha


certeza que foi nada menos que um patético, suspiro
sonhador. Como uma colegial com uma quedinha
incondicional, ela simplesmente não conseguia parar de
tremer.

Quem poderia me culpar?

Olhos poéticos brilhavam sob o brilho das luzes


amarradas no teto. Parecia que estávamos preparados para
fazer uma pausa, nós dois olhando um para o outro enquanto
o bar zumbia em volta de nós.

Deus. Seu rosto estava tão hipnotizante que me torceu


ao meio.
Sempre tão suavemente, a mão que tinha apertado meu
cotovelo se arrastou até que ele estava tecendo seus dedos
nos meus. Puxando-me para mais perto. Roçando sua boca
contra meus dedos.

Oh, Deus.

Meu coração.

Tudo era mole e macio, e apenas... demais.

Era tão estranho, ser esta garota. Animada e leve.

Mas foi assim que esse garoto sempre me fez sentir.

Um pouco necessitada e muito mais forte.

Torcendo-me de dentro para fora.

Revelando o que estava à espera de ser exposto dentro.

Lembrando-me de que, apesar de meus erros, havia


esperança.

Eu acho que o problema era que eu nunca descobri


onde essa esperança me deixou. O que poderia oferecer e o
que isso significava, antes de Austin e eu nos afastarmos.

Isso me deixou com dúvidas se conseguiria encontrar


essa esperança sozinha.

A verdade era que sempre fui consciente de que estava


lá. Atrás das sombras que me deixavam com medo do escuro.
Agora, sentia como se estivesse na frente disso. Abrindo meus
braços e possibilitando o acolhimento. Todo o tempo estava
de joelhos rezando, não era uma tola para ceder tão
facilmente.
Gostaria de saber se cada uma dessas emoções
apareceu em minha expressão, porque Austin deu um sorriso
suave, quase sombrio e me arrastou contra aquele delicioso
corpo que era tão grande e quente.

— Não — Ele murmurou baixo, a boca inclinada perto


do meu ouvido.

E eu teria rido se não estivesse enterrando meu rosto


em seu pescoço, onde seu pulso estava firme e forte.

— Não o quê? — Eu deveria ter me surpreendido


quando a minha resposta murmurada saiu como uma
provocação?

— Não surte — Ele falou. Eu podia sentir o toque de seu


sorriso emergente no topo da minha cabeça.

— Ah-hum.

Nós dois viramos para encontrar Blaire parada com as


mãos nos quadris.

— Olá. — Ela acenou com a mão em um floreio ao redor


do rosto. — Melhor amiga? Soa familiar. Não me troque por
um menino, Edie.

Austin enfiou-me sob seu ombro, virando-se para que


ambos estivéssemos de frente para ela.

— Desculpe, Blaire, mas você vai ter que compartilhar.


Edie e eu? Somos melhores amigos há muito, muito tempo.

Blaire balançou a cabeça.

— Rá. Isso é totalmente diferente, certo?


A cabeça dele inclinou para o lado.

— Bem, eu certamente espero que sim.

Cílios esvoaçantes, seus lábios se curvaram como se


fosse para matar.

— Você tem certeza sobre isso, músico? Porque a


maioria dos meninos que conheço poderia pensar que é um
bônus. Estou totalmente se você estiver preparado para isso.

Choque fez cair meu queixo.

— Blaire. — Eu bati nela. — Você é tão bruta. Qual é o


seu problema?

Ela encolheu os ombros.

— O que? Apenas testando. Esse é o meu trabalho como


melhor amiga. Você sabe, certificar-me de que o novo
namorado gostoso não é apenas mais um babaca.

Austin riu e passou a mão pelo cabelo, o olhar enviesado


para mim.

— Lembre-me de tomar cuidado com ela — Disse ele.


Austin olhou entre nós, com os olhos cheios de uma
provocação. — Certeza que esta vai criar todos os tipos de
armadilhas.

Então, talvez eu estivesse surpreendendo a mim mesma


de novo, porque fiquei na ponta dos pés e dei um beijo rápido
naquela boca macia.

Pareceu-me que era a primeira vez que iniciei um beijo.


Estendi a mão e peguei o que eu queria, confiante nessa
decisão.
Mudança.

A mudança foi boa.

— Apenas não caia em uma e você ficará bem.

Ele passou os dedos da minha até o meu queixo,


levantando-o lentamente.

— Não sonharia com isso.

— Tudo bem, vocês dois. Parem com isso. Haverá tempo


de sobra para isso mais tarde. — Blaire enxotou-nos com as
mãos. — Temos que pegar bebidas e espero encontrar um
lugar para ficar antes de... ah... dois minutos.

— É por isso que vim encontrá-las. Guardei um lugar


para vocês. Deak e Damian estão perto do palco.

Lá foi, a boca de Blaire tão grande quanto um gato


Cheshire, enquanto olhava para mim. Obviamente, suas
palavras eram para mim, mesmo que ela estivesse falando
com ele.

— Ah, Austin Stone, acredito que você é um cara


atencioso.

Eu não poderia concordar mais.

Austin levou-nos até uma mesa redonda perto do palco,


sob as mesas altas onde o vi inicialmente, apenas uma
semana antes.

Louco, porque isso parecia há uma vida atrás.


Damian já estava de pé. Ansioso. Procurando na
multidão quando nos aproximamos. Alívio o inundou quando
nos avistou.

— Austin, cara, aí está você. Você tem que se mover.


Tem cerca de trinta segundos até que precise seguir em
frente, e você já está tão alto na lista negra de Craig que
tenho certeza que vai ser empurrado para o topo se fizer mais
isso, se você sabe o que quero dizer.

Eu sorri, preparando-me para expulsá-lo, dizer-lhe para


ir, quando meu celular que segurava vibrou. Por instinto, eu
o levantei, a tela brilhante contra as luzes apagadas do bar.

Respirei fundo em uma respiração afiada e horrorizada,


coloquei meu celular no bolso de trás como se fosse esconder
a crueldade da notificação que rolou na parte superior. Curta
o suficiente para ser lida. Clara o suficiente para ser
compreendida. Mesmo que tivesse novamente vindo daquele
número desconhecido.

Maldita puta. Você me deve. Você me deve muito. Vou


cobrar.

Austin ficou tenso ao meu lado. Raiva feroz. Uma


hostilidade brutal e um medo furioso. Tudo isso misturado
com o meu.

Inundando rápido.

Subindo cada vez mais.

Puxando-me mais e mais para o fundo.


— Edie. — Austin disse meu nome como se isso lhe
causasse dor.

Minhas palavras tremiam tão violentamente quanto as


minhas mãos.

— Vá. Você não pode se atrasar.

— Não posso... Edie... não posso.

Tormento apareceu em sua expressão. A dicotomia do


jeito que ele queria me proteger quando em vez disso só me
prejudicou. Suas mãos amarradas muito apertadas e sua
língua muito solta.

O segredo que ele inadvertidamente expos que me fez


fugir.

Segurei seu rosto torturado.

— Estou bem aqui. Estarei bem aqui.

Aflição o deixou com um gemido, e sua voz baixa,


apenas o suficiente para mim.

— Como posso deixá-la? Eu quero ser quem cuida de


você, Edie. Ser forte para você.

O rosto de Damian ficou confuso, mas ele estava


puxando o braço de Austin.

— Agora, homem. Você não pode estragar outro show.


Você é bom demais para isso.

— Ele não pode me tocar aqui, Austin. Vá. Lá em cima é


onde você pertence — Falei. Se ele acreditasse. Se ao menos
ele acreditasse. Se ao menos percebesse que Austin merecia
muito mais. Se ao menos reconhecesse o talento que vi
quando o olhei.

— Eu estarei bem aqui.

Ele hesitou.

— Eu prometo.

Suas palavras pronunciadas em meu cabelo foram


abafadas.

— Nós vamos fazer isso, Edie. Nós dois juntos. Não vou
deixar que aquele desgraçado estrague isso desta vez.

Relutantemente, ele se afastou, o olhar imponente,


olhando para mim por cima do ombro enquanto Damian o
conduziu pelo lado do palco.

Eu afundei em uma cadeira. Sobrecarregada. Ondas de


medo percorreram minhas veias enquanto a promessa de
Austin me saturava em qualquer outro lugar.

Cada célula.

Cada fibra.

Crença e esperança.

A voz de Blaire estava no meu ouvido.

— Que raios foi aquilo?

Minha cabeça balançou.

— Nada.

Seu olhar estava preocupado, chamando-me de


mentirosa sem dizer nada, mas ela sentou-se quando a
multidão se agitou. Austin subiu três degraus para o pequeno
palco. Deak sentou-se do outro lado dela, e Damian sentou-
se na cadeira livre ao lado dele.

Austin atravessou o palco. Tão grande e escuro, tudo


sobre ele tão complexo.

Um enigma.

Ele se acomodou no banquinho perto do microfone,


puxou seu violão para o colo enquanto quem estava
trabalhando com os holofotes angulou o feixe bem no centro.
Iluminando-o em seu brilho etéreo.

Bonito.

Devastador.

Cativante.

— Parece que você conhece o meu garoto Austin? —


Deak tomou um gole de sua cerveja, olhando-me sobre ela.

Eu não olhei na direção da voz. Só distraidamente


acenei com a cabeça e olhei para frente.

Enamorada.

— Eu o conheço. Por toda a minha vida.

Deak deu um leve aceno. Processando. Somando.

— Você está diferente, Edie.

Austin dedilhou e meu coração ficou louco dentro dos


limites do meu peito.

Como se ele tivesse uma ligação direta e me


eletrocutasse com uma chicotada daquela energia que rugia
entre nós.
Ensurdecedora.

E a voz dele... aquela linda voz hipnotizante... Austin


deixou livre.

Aquela harmonia assombrada me envolveu.

Esta noite estava ainda mais intensa do que a noite em


que me deparei com ele aqui pela primeira vez.

Como se através de sua música ele tentasse falar


comigo.

Tentáculos de consolo, alegria e desespero alcançando.

Conflito e conforto.

Abaixo disso, mesmo com tudo, eu não senti medo.

— Eu me sinto diferente. — Foi um murmúrio, eu não


tinha certeza se foi destinado para Deak ou para mim.

Mas eu me sentia.

Sentia-me diferente.

Sentia-me corajosa.

Como se quisesse alcançar e agarrar a vida.

A vida que não fui corajosa o suficiente para viver. Muito


medo de perder.

Austin tocou suas canções.

Cada uma delas parecia em harmonia com o mar. O mar


que gentilmente rolava fora das portas do “O Farol”. Aquelas
portas que estavam abertas para receber o ar fresco da noite
que escorria com a brisa.
Articuladas com as letras que eram tão sombrias. Tão
profundas.

Embaladas com uma espécie de significado que eu


duvidava que alguém pudesse entender, além do próprio
Austin.

Mas os ouvi.

Senti-os.

Entendi.

Aquele menino danificado escondido debaixo daquele


homem brilhante e intimidante era tão transparente para
mim.

E eu senti dor por ele.

Dor por nós.

Queria abraçá-lo e acalmá-lo, tão forte quanto eu sabia


que ele queria manter afastado.

Fingir como se a dor já não tivesse mais domínio sobre


ele.

Mas vi naqueles lampejos de vulnerabilidade. Sua


verdade tão clara para mim nas profundezas daqueles olhos
tempestuosos.

Austin entrava e saia das canções de forma perfeita.


Habilmente. Com talento suficiente para encher mil salões e
dar paz a um milhão de corações.

Carinho e desejo passaram através de mim. Deus. Como


eu queria que ele reconhecesse isso.
O dom que ele recebeu? Tão claramente Austin via como
algum tipo de maldição.

Mas acho que sempre corremos das coisas que mais nos
assustam.

Austin começou outra canção. Ele não se lançou em


outra do jeito que fez durante todo o show, uma transição
que unia suas canções como uma colcha de retalhos.

Em vez disso, ele fez uma pausa, sua hesitação espessa.


Pensei que talvez fosse falar, expressar um agradecimento por
terem vindo e ficar de pé.

Com desconforto e indecisão, ele esfregou uma grande


mão pelo queixo definido e forte.

Ele pareceu tomar uma decisão, exalou, e falou ao


microfone.

— Escrevi esta música há muito tempo. Foi durante um


dos momentos mais difíceis de toda a minha vida. Nunca
toquei para ninguém além de mim, porque era privada. Entre
mim e uma menina com quem agi completamente errado. Eu
não tinha nenhuma outra maneira de alcançá-la, exceto
através dessa canção. Rezando para que de alguma forma ela
entendesse, sentisse através do tempo e espaço, mesmo
quando não havia nenhuma chance que ouvisse as palavras.

O olhar dele percorreu a multidão até que trancou em


mim.

Respirei fundo uma pequena respiração sob o olhar de


terroso dele. Nus e contidos.
Uma perfeita, contradição instável.

Impenetravelmente dura e dolorosamente macia.

Quebrada e ousada.

— E esta noite... quero que ela a conheça.

Respirei fundo, podia sentir todos sentados à mesa


olhando em minha direção, em busca de minha reação,
perguntas passando por suas mentes e em seus olhos.

Mas a única coisa que eu podia ver era ele.

Amarrada.

Ligada.

Não diga uma palavra

Entre

Deite-se enquanto eu te seguro

Não fique muito perto

Eu não conheço nada, além de

Promessas quebradas e ossos quebrados

Peças que simplesmente não se encaixam

Sua voz mudou, e os acordes tornaram-se mais intensos


ao iniciar o refrão. Enquanto eu olhava para aquele rosto
marcante, lábios tão cheios e sua tão suaves.

Sua afinação perfeita.

Uma correspondência com a minha alma.

De pé sobre uma montanha

Arrastado para debaixo do mar


Perdido em algum lugar no meio

Condenado à escuridão

Meu mundo inteiro em preto e branco

Até que eu estava olhando para eles

Através dos olhos de luz do fogo

Eu senti como se estivesse flutuando. Nós dois à deriva


no fundo do mar mais sombrio.

Perdidos.

Encontrados.

Aquela voz rouca, mais uma vez mudou e mergulhou na


cadência rouca de outro verso.

Visava ser melhor

Teria dado minha vida

Esta estátua de nada além de escombros

Boas intenções fizeram mal

Justamente quando começou

Baby, você foi o melhor segredo

Nunca consegui esconder

De pé sobre uma montanha

Arrastado para debaixo do mar

Perdido em algum lugar no meio

Condenado à escuridão

Meu mundo inteiro em preto e branco


Até que eu estava olhando para eles

Através dos olhos de luz do fogo

Com os olhos fechados, a mão de Austin se moveu


inquieta, rápida e precisa quando sangrou sua beleza no
palco. Derramando sobre nós. Preenchendo todos os lugares
vagos do meu coração.

Eu posso continuar olhando para eles

Através dos olhos de luz do fogo

Diga que eu posso continuar olhando para eles

Deixe-me ver

Deixe-me ver

Através dos olhos de luz do fogo

Através dos olhos de luz do fogo

Blaire me arrastou para ficar de pé quando Austin de


repente se levantou e deixou o palco.

— Meu Deus. Isso foi incrível. Sério, talvez a coisa mais


sexy que eu já vi em toda a minha vida. Foi real, Edie. Aquele
cara. Se eu pensava que você não tinha chance antes... você é
um caso perdido, menina.

Blaire delirou enquanto eu lutava para ficar de pé.

Uma onda de tontura atingiu minha cabeça, e eu


pisquei.

Atordoada.

Impressionada.
Completamente vencida.

Aqueles que tocavam no “O Farol” estavam lá


tipicamente como uma distração qualquer. Um complemento
à configuração do mar. Entretenimento, enquanto as pessoas
comiam, conversavam e bebiam de seus copos enquanto
apreciavam a vista deslumbrante.

De tirar o fôlego.

Isso foi exatamente o que aconteceu.

E o meu não foi o único suspiro roubado por este garoto


hipnótico. O salão inteiro estava em transe, presos por sua
voz e música que encantavam lentamente e afundavam com
certeza.

Uma devastação tranquila.

Uma silenciosa tempestade furiosa que nunca se


esperava até o momento em que surgia.

Devastando tudo em seu caminho. Desnudando você.

Eu nunca me senti tão exposta.

Agora, as pessoas disputavam para se aproximar.


Austin saiu à direita do palco e elas o rodearam como se fosse
uma espécie de celebridade. Como se quisessem encostar na
fama.

Um profundo desejo latejou. Pedindo-me para ir até ele.

Eu sabia que as pessoas que o rodeavam seriam uma


atenção indesejada.

Eu podia sentir sua angústia.


Os restos do estresse da mensagem de texto que recebi
antes que ele entrasse no palco, misturado com sua
necessidade de permanecer nas sombras quando seu talento
o obrigou a entrar na luz.

Este garoto que sempre acreditou que tinha tão pouco a


oferecer, seu talento nada mais do que uma penalidade.

Ainda assim ele conseguiu de alguma forma me oferecer


tudo.

Lutei abrindo passagem em direção a ele, dando uma


cotovelada como uma espécie de fã que não podia chegar
perto o suficiente.

Damian estava ao lado dele, em ângulo de modo que ele


estava quase na frente, sorrindo e falando com um punhado
de meninas que competiam pela atenção de Austin.
Claramente, Damian estava agindo como uma interferência.

Não era uma grande multidão.

Não em um lugar como este.

Mas não deixei de notar o tormento gravado no rosto de


Austin.

Porque suas canções não eram para eles.

Especialmente a última.

Era para mim.

Assim como este garoto era para mim.

Passei por uma morena.

Ela me lançou um olhar.


Eu não poderia me importar.

Porque eu sabia... sentia o quanto esse garoto precisava


de mim. Através de uma brecha no meio da multidão, aqueles
olhos duros pegaram os meus. Impenetrável e translúcido.

Movi-me em direção a ele.

Atraída.

Energia pulsava.

Quase sufocante de tão profunda.

Aumentando e aumentando até que ambos fomos


levados pela onda.

No segundo que cheguei perto o suficiente, ele me pegou


e me arrastou pelo círculo de admiradores.

Austin me olhou como se eu fosse a única pessoa no


salão. Grades, mãos fortes embalaram meu rosto quando me
levantou em direção a ele.

Ele me beijou no meio de tudo isso.

Como se eu fosse o centro do seu mundo.

E sabia, sem dúvida, este menino era o olho da


tempestade.

O olho da minha tempestade.

Alívio soou dele com um sussurro. Ele mal puxou para


trás o suficiente para sussurrar seu apelo.

— Edie... não sei como fazer isso sem você. Não quero.
Não me deixe. Não me deixe. Não me deixe nunca.
Minhas mãos vagaram. Querendo mais.

— Você está me matando — Murmurei na parte de trás


de sua cabeça, meu nariz em seu cabelo, palmas
pressionando em sua barriga.

Puxei-a mais fundo para o meu peito.

Meu pau esticou.

Tão duro que estava perto da cegueira.

Esta fúria mal contida estava me deixando louco.


Ela pressionou para trás, esfregando seu doce traseiro
contra meu pau, aliviando um pouco a dor.

— Austin — Ela sussurrou em confusão e necessidade,


falando com um medo absoluto.

— Eu não vou te machucar. Nunca — Prometo-lhe em


seu ouvido.

Eu rolei-a de costas e rastejei sobre ela, prendendo-a.

Seu rosto era uma silhueta nas sombras de seu quarto


escuro, a noite tão profunda e escura que mal podíamos ver.

Peguei a mão dela, apertei-a contra minha bochecha.


Minha voz arranhando com necessidade.

— Você sente isso, Edie?

— O quê? — A palavra a deixou muito rápido.

Lancei contra seus lábios.

— Eu.

Ela respirou de forma significativa, a garota me deixou


selvagem ao ficar quase frenética quando me procurou no
meio da noite.

Mãos, língua e boca.

Foi uma exploração que eu não tinha certeza de que


algum de nós iria sobreviver.

Ambos precisando de mais.

Então, muito insanamente mais.

Nós dois estávamos amarrados pelos limites aparecendo


na nossa frente.
Uma linha clara que nunca deveria ser cruzada.

Mãos quentes se espalharam pelo meu peito.

Vagando e procurando.

Gemendo, juntei-me, minhas palmas das mãos vagando


e os meus dedos pressionando.

Edie ofegou.

Sua cabeça baixou no travesseiro, sua mão em um


punho no meu pau enquanto meus dedos mergulhavam no
calor de seu corpo.

Esta menina era a chama mais brilhante dentro de


minha alma enegrecida.

Seu olhar confiante se encaixou no meu, e eu bombeei


meus dedos mais rápido.

Mais duro.

Edie gozou.

Ela mordeu o lábio inferior para abafar seus gritos.

— Você. Eu sinto você.

E meu corpo estava maníaco, minha cueca muito


apertada, sua mão não era suficiente.

— Eu quero estar dentro de você. Por favor... Edie... por


favor.

Edie congelou. Tudo, exceto as unhas que cavaram em


meus ombros enquanto eu esfregava contra ela como a porra
de um doente, pervertido.
— Espere — Ela apelou tão silenciosamente. De repente,
as lágrimas escorreram pelos cantos de seus olhos e em seu
cabelo.

Ódio pelo maldito que a queimou, uma tocha na minha


pele.

Só alimentou o ódio que sempre abriguei por mim.

Vida sangrando.

Forcei-me a sair de cima dela e caí de costas. Apertei a


base do meu pau, como se pudesse aliviar a dor. Lancei meu
outro antebraço sobre meus olhos.

— Sinto muito. — Foi um gemido de sua doce, doce


boca.

Porra, era isso mesmo?

Isso me fez querer quebrar.

Rapidamente, voltei-me para ela e assim nós dois


estávamos frente a frente em nossos lados. Passei meus
dedos no cabelo dela.

— Não. Não diga isso. Nunca. Não é sua culpa. Eu não


tive a intenção de pressionar. Sou o único que está
arrependido.

Eu a vi piscando, o diamante brilhante azul, água e


noite.

— Eu te amo, Austin.

Tudo tremeu.

O aperto da energia.
Muito apertado, porra. Meu peito
apertou.

Minha mente girava com a


magnitude do que eu sentia por esta
menina e qual deveria ser a
impossibilidade do que ela sentia por mim.

Espalmei seu rosto. Beleza em minhas mãos. Meus


polegares acariciaram a umidade reunida na cavidade de
seus olhos.

— Você é minha luz.

— Não vá embora.

Eu provavelmente estava segurando Edie muito


apertado enquanto implorava naqueles sedosos fios brancos,
minhas mãos apertando-os com força.

Eu estava lutando.

Lutei ao longo de todo o maldito show.


Normalmente, perdia-me nas letras. As palavras que eu
sangrava para Julian. Oferecendo-lhe mais da penitência em
que eu viveria para sempre.

Não tinha planejado cantar a canção dela.

Mas fui vencido. Vencido pela raiva que borbulhava nas


minhas veias. Raiva direcionada para aquele desgraçado que
teve a audácia de mandar mensagens de texto para ela e
exigir mais dela do que já tomou. Aquela necessidade violenta
que se iniciou junto à minha devoção eterna pela minha
garota.

Então toquei a canção dela. Era uma música que escrevi


e toquei apenas para ela durante os anos que estava
desaparecida. Normalmente tocava dentro dos limites
silenciosos do meu quarto. Às vezes, no telhado da casa da
Sunder enquanto olhava para a cidade espalhada abaixo.
Perguntando-me onde ela estava e se estava bem.

Aquelas noites solitárias foram gastas rezando para que


ela pudesse de alguma forma sentir... sentir isso... conseguir
algum tipo de conforto com isso mesmo com a nossa
separação.

Tocá-la hoje à noite?

Sabia o que foi. Foi um apelo obscuro para que ela me


ouvisse. Para que entendesse por que fiz o que fiz depois que
ela se foi. Durante todo o tempo rezando, para que eu
pudesse descobrir como consertar isso sem que Edie jamais
descobrisse.
Estava tão cansado de sempre arruinar as coisas boas
que me foram dadas. Desta vez, faria as coisas direito. Tiraria
o horror que tomou suas feições quando ela olhou e
encontrou aquela mensagem de texto. Claro, porque ela era
Edie, tentou escondê-la muito rapidamente, a menina
tentando me proteger.

— Estou bem aqui. Não vou a lugar nenhum. — Sua


respiração estava no meu ouvido. Sussurrando conforto. Eu a
abracei novamente. Permiti-me mais um segundo fingindo
que éramos apenas nós dois e que não havia ninguém nos
rodeando.

Finalmente, afastei-me e enfiei os dedos dela nos meus.


Virei-me e conversei com algumas das pessoas que vieram
para a frente. A maioria delas foram lá apenas para me dizer
o quanto gostaram do show. Dizendo que ficaram comovidas.
Curiosas para saber se já assinei um contrato ou se eu estava
esperando a minha grande chance.

Nenhum deles tinha a menor ideia de que eu era apenas


um estranho em um mundo que era muito maior do que eu.

Que eu era quase uma parte de uma coisa maior. Um


similar estranho.

Mas forcei sorrisos e gentilezas, focado na minha garota.

Minha força.

Algumas das gurias que sempre andavam esperando


para dar uma mordida em qualquer cara que tinha um
microfone, um violão ou um pingo de talento circulavam
como lobos. Como algum tipo de groupies patéticas.
Esperando o momento perfeito para atacar.

Sem nenhuma chance.

— O show foi incrível cara. — Damian disse quando


todos finalmente saíram do meu espaço. Ele deu um tapinha
nas minhas costas. — Craig vai ficar satisfeito. Quer que lhe
pegue uma cerveja?

— Claro. Seria bom.

Blaire estava lá. Sorrindo cheia de flerte.

— E quanto a mim?

A cabeça de Damian girou em sua direção. O cara


estava surpreso por ela estar falando com ele.

— Oh... desculpe... posso pegar uma coisa para você?

Ela aproximou-se e encaixou o braço com o dele.

— Eu te acompanho.

Eu ri.

O cara não pegava a dica bem debaixo de seu nariz.

Ele ergueu o queixo para Edie.

— E você?

— Hum... uma cerveja seria legal. — Ela disse quase


como uma pergunta.

Tão fofa, porra.

— Entendi. — Damian e Blaire desapareceram na


multidão.
Virei-me para Edie. Beijei-a suavemente.

— Obrigado por estar aqui.

— Onde mais eu estaria?

Cheguei mais perto, alinhando-nos em um abraço, meu


corpo praticamente cobrindo o dela.

— Em qualquer lugar, mas comigo — Reafirmei.

Ela brincava com o botão de cima na minha camisa,


olhando para mim.

— Você foi incrível, Austin. Realmente incrível. Espero


que perceba isso. Como afetou a todos aqui. As músicas...
elas são brilhantes.

Engoli o nó causado por seus elogios. Querendo aceitá-


los. Enquanto isso, meu espírito rejeitava.

— Eu canto porque tenho que cantar, Edie. Nada mais.

Ela assentiu com a cabeça como se a minha declaração


a deixasse triste.

Damian e Blaire voltaram a atravessar a multidão.


Damian levantou as cervejas que ele carregava no ar.

— Hora de comemorar, otários.

— Ah, é? E o que é que estamos comemorando?

— Hum... eu ser o gerente mais foda que você poderia


ter. Acho que seria óbvio.

Eu ri.

— Tudo bem então. Não queremos que o talento deixe de


ser reconhecido agora, não é?
— De jeito nenhum. Isso seria uma maldita tragédia —
Ele disse, arregalando os olhos como se não pudesse sequer
imaginar isso.

Edie me lançou um doce, doce olhar que me atravessava


como raios quentes do sol brilhante de verão, tão quentes
como os dedos dela ligados nos meus.

— Você está pronto?

Sim.

Eu estava pronto.

Três horas depois, saímos para o final da noite de Santa


Cruz. As luzes do “O Farol” se apagaram atrás de nós. Um
ligeiro frio se estendeu no ar, e uma névoa encobria as ruas.
O som do mar caía à distância.

Subi mais minha mochila no meu ombro e carreguei o


estojo do meu violão na minha outra mão.

Olhei para a menina andando ao meu lado.

Parecia um milagre ela estar lá.

Ela levantou o rosto para as densas nuvens que


pairavam no céu.

— A noite hoje está linda.

Eu sorri.

— Está sombria.
Ela me lançou um sorriso irônico.

— Nem sempre precisamos da luz do sol para que o


tempo esteja lindo.

Meu olhar faminto tomou a menina.

Eu tive que discordar.

Sinceramente.

Esta maldosamente linda garota vestida com uma saia


branca folgada e uma blusa azul justa, pequenas botas de
salto subindo até os tornozelos, mechas onduladas voando ao
redor dela.

Meu sol.

— Não? — Perguntei.

— Não. — Ela levantou as mãos para seus lados. — Há


beleza em todas as coisas. Na mais sombria noite e no dia
mais brilhante. Na neve e no sol. — Sua voz caiu. — Às vezes,
a maior beleza está nas tempestades mais escuras.

Suspirei, inclinei-me perto o suficiente para que pudesse


dar um beijo em sua cabeça.

— Edie.

Foi uma declaração.

Essa garota que me pegou de um jeito que ninguém


mais poderia.

Nossos passos ecoavam enquanto caminhávamos pelas


ruas desertas até onde minha caminhonete estava
estacionada junto ao meio-fio. Considerando a hora tardia,
estava só ela. — Esta é a minha.

Na noite passada eu estava com o carro de Deak.


Imaginando que eu teria um encontro, ela podia querer um
AC5 que realmente funcionasse.

Um sorriso iluminou o rosto de Edie, uma pergunta em


seu tom de provocação.

— É o seu?

— O que? Você não gostou da Bessie?

Ela passou os dedos ao longo do painel de cima.

— Ah, eu gosto da Bessie. Acho que ela é perfeita para


você.

Bessie era uma menina de idade, corpulenta e


enferrujada do mar. Eu juntei dinheiro o suficiente quando
saí de LA, sabendo que se eu queria vagar, precisava de uma
carona. Não pensei que ela me levaria tão longe. Mas de
alguma forma me levou exatamente onde eu precisava estar.

Levantei o estojo do meu violão colocando-o no banco.

— Ela tem sido ótima para mim, essa é a verdade.

Movi-me e pressionei Edie contra o metal, minha boca


chegando perto, lábios roçando seu queixo.

— Não parece, mas ela me trouxe para você.


5 Fábrica de carros britânica.
Edie estava todo sorrisos quando olhou para mim.

— Então, eu diria que Bessie é a minha nova melhor


amiga.

Eu gemi, luxúria segurando minhas entranhas, porque


essa menina. Ela me deixava em nós.

— Vamos sair daqui — Falei.

— Para onde vamos?

— Sorvete? — Parecia seguro o suficiente.

Ela fingiu um suspiro.

— Você quer tomar um sorvete numa noite tão sombria?

Um riso surgiu do meu peito.

— Bem... eu acho que está uma bela noite, afinal.

No lado do passageiro, coloquei a chave na fechadura


antiga, abri a porta rangendo, e ajudei Edie a entrar antes de
dar a volta pela frente. Ela se inclinou e abriu o meu lado
quando cheguei lá, e eu estava dando-lhe um sorriso largo
enquanto entrava e jogava minha bolsa no meio do banco.

Havia algo tão completamente normal sobre o ato. Como


se fôssemos um casal comum que não têm a necessidade de
esconder ou fingir.

Duas pessoas que não se envergonhavam.

Parecia... bom.

Certo.
Virei a ignição, e o grande motor rugiu para a vida. Dez
minutos depois, estávamos parando no drive thru da
sorveteria 24 horas.

— Casquinha de baunilha simples para mim — Disse


Edie. Pedi um de baunilha com cobertura de chocolate para
mim.

— Aqui está, querida.

Vermelhidão corou suas bochechas com o carinho, mas


ela não fez nada além de me dar um daqueles sorrisos que
me torciam quando aceitou.

Ela lambeu o lado, gemeu um pouco.

Bom Deus.

Levantei minha cabeça, atirei-lhe um sorriso e suspendi


uma sobrancelha, acelerando enquanto o fazia.

Então, talvez eu tivesse algumas segundas intenções


quando sugeri tomar um sorvete. Mas maldição. Lembrei-me
da única vez que compartilhamos isso antes, esgueirando-me
lá embaixo no meio da noite e pegando um pote do freezer e
duas colheres, nós dois dividindo-o na cama.

Os barulhinhos que ela fez.

O gosto que deixou em sua língua.

Quem poderia me culpar por querer experimentar isso


novamente?

Eu dirigi a curta distância de volta à casa dela.


Pequenas gotas de chuva batiam no para-brisa enquanto nós
dirigimos num silêncio confortável. Ambos relaxamos e
aproveitamos o sorvete. A companhia. A mudança e a
oportunidade.

Uma que eu não achava que conseguiria.

Estacionei sob uma árvore grande na frente de seu


quintal e desliguei o motor. O silêncio pairou, a pequena casa
que Edie compartilhava com Blaire e Jed estava silenciosa.
Um nevoeiro abraçava a caminhonete e o céu. O suave brilho
da lua espreitando de um espaço entre as pesadas nuvens
cinzas era a única iluminação.

Paz.

Nós nos sentamos lá, lambendo nossos sorvetes, eu a


observando e ela me observando.

Ela riu.

Um sorriso tomou conta da minha boca.

— O que?

— Você tem um pouco de algo... — Ela estendeu a mão e


limpou uma mancha de chocolate do meu queixo, levantou-a
entre nós. — …bem aqui.

Inclinei-me e chupei seu dedo na minha boca.

Chocolate e garota.

Deliciosos, porra.

— Mmm.

Ela deu um riso mais livre e puxou a mão de volta.


— Preste atenção, Stone. Eu poderia ter a impressão de
que suas intenções eram mais do que apenas me agradar
com o sorvete mais impressionante do mundo inteiro.

Oh, sim.

Eu tinha todos os tipos de intenções.

Ela ficou lá sorrindo para mim na grande cabine da


caminhonete, nem sequer percebendo que seu sorvete estava
derretendo. Ele caiu sobre sua blusa.

— Ah droga.

Ela colocou a mão sob o sorvete que começou a derreter


mais rápido do que esperava, acelerando o resto, rindo o
tempo todo.

— Oh, meu Deus, olha para mim, sou uma desastrada


total.

Ela pensava que deixei de olhá-la?

Coloquei o resto da minha casquinha na boca, abri


minha bolsa.

— Espere um segundo... tem que haver algo aqui que


você possa usar para se limpar.

Afundei na bolsa encontrando uma camiseta limpa


dobradas na parte inferior. Puxei-a para fora.

Minha respiração bloqueou com o que eu arrastei para


fora quando o fiz.

O macaco verde voou e aterrissou em uma pilha ao lado


dela, o corpo esfarrapado e sujo, um dos braços pendurado
por apenas um fio, o eterno sorridente rosto branco olhando
para o nada.

O maldito bicho de pelúcia que meu gêmeo levava com


ele a todos os lugares. A única coisa que nos diferenciava.
Seu cobertor de segurança.

Agora o levava comigo onde quer que fosse. Ainda não


tinha certeza se achava que era conforto para mim ou para
ele.

Edie franziu a testa quando o viu, antes que ela


abrandasse com reconhecimento, olhando para minha
reação.

Ela nunca tinha visto ele antes.

É claro que ela não tinha visto.

Baz guardou ele todos esses anos. Isso foi até o dia em
que deixei LA, quando procurei e o encontrei em seu quarto.

Edie pegou a camisa, seus movimentos diminuíram


quando limpou o sorvete de sua camisa e limpou as mãos.

De vez em quando ela olhava para mim.

Avaliando.

Calculando.

Compreendendo.

Colocando a camisa de lado, as pontas dos seus dedos


se arrastaram, movendo-se apenas o suficiente para tocar a
pelúcia, como se estivesse acariciando-o. — Era de Julian?
Ouvir o nome dele vindo da boca dela do jeito que veio?
Com algum tipo de adoração?

Uma dor bruta e abrasadora me cortou no meio.

Fechei os olhos, tão firmemente e apertei meu punho


contra a minha perna, tentando me manter contido.

— Não posso imaginar o quão difícil é para você. — Ela


falou em um murmúrio enquanto continuava a acariciar o
macaco e dar rápidas olhadas para mim. — Não posso
imaginar o quanto você deve sentir falta dele.

Quase podia sentir o meu pomo de adão ficar preso na


minha garganta. Preso nas memórias. Na miséria. Pela
primeira vez na minha vida, eu queria estar livre disso.

Porra. Eu só não sabia como.

Meus dentes cerraram, e olhei para o para-brisa que


agora estava nublado com nevoeiro e condensação.

Fechando-nos.

Como se estivéssemos de volta ao santuário de seu


quarto em LA.

Encontrei-me falando antes mesmo de perceber o que


eu ia dizer.

— Não é tão simples quanto eu sentir falta dele, Edie. É


que ele é uma parte minha faltando. É estar sem aquela parte
que me faz sentir, como se eu estivesse sempre me afogando.
Como se nunca pudesse respirar direito. Como se meu
coração não batesse normalmente.

Ela continuou acariciando o macaco.


Dando-me tempo.

Encorajamento silencioso.

Minha voz se tornou melancólica enquanto a minha


mente voltava no tempo.

— Lembro-me de odiar ser um gêmeo.

Eu ri, mas o som era pura tortura.

— Odiava que todos nos confundissem, sempre trocando


nossos nomes. Odiava que usássemos as mesmas roupas,
tivéssemos os mesmos olhos e tudo. Odiava que nos
comparassem em tudo. Odiava que ele fosse sempre o
melhor. Odiava mais que eu sentia que não podia fazer uma
maldita coisa sem ele. Quando não estava com ele, sempre
me sentia inquieto. Como se tivesse esquecido alguma coisa.
Como se estivesse vazio.

A última quebrou.

Porque esse era um vazio que duraria para sempre.

Vasto e amplo.

Olhei para ela. Umidade molhava aqueles olhos azuis. O


oceano mais claro e o mar mais profundo. Ela balançou a
cabeça.

— Talvez, o vazio seja um lembrete. Talvez, seja um


dom, para que nunca esqueçamos. Então, nós realmente não
precisamos viver sem eles.

Dor esmagou meu peito. Dor por ela. Dor por mim.
Apertou-me tão forte que pensei que poderia quebrar minhas
costelas.
Porque a voz dela ficou tão suave. Cheia de saudade. Eu
sabia que ela se perdeu em seu próprio vazio.

Agarrando-se à perda como fosse uma coisa boa.

Recusando-se a esquecer.

Estendi a mão e acariciei sua bochecha.

— Você é muito corajosa.

Ela balançou a cabeça contra a minha mão.

— Não. Eu sou muito fraca.

Tentei manter minha voz equilibrada, porque cada parte


de mim queria atacar e reduzir aquele desgraçado que a fez
se sentir assim.

— Foi culpa dele, Edie. Ele foi o responsável. Não você.

— Você está errado. Eu sequer disse não a ele.

Raiva disparou pelos meus nervos.

— Ele era um homem, Edie. A porra de um homem e


você tinha quatorze anos de idade. Ele...

— Não diga isso, — Ela implorou, cortando-me — Por


favor, Austin. Não diga isso. Eu não quero dar voz a ele.

Ela se moveu, uma perna se dobrou sob a outra para


que pudesse me encarar completamente. Edie apertou uma
das minhas mãos entre as suas e segurou-a contra o peito.

— Eu não quero permitir que ele roube mais do que já


roubou.

Deus. Eu queria que fosse tão simples assim.


De todas as coisas que eu deixaria no passado, uma
delas seria aquele imbecil.

Mas lá estava ele. Aproximando-se de nós novamente.

— Se ele te mandar mensagens novamente, você precisa


me dizer, meu bem. Não esconda essa merda. Você me
entendeu?

Ela assentiu aproximando-se.

— Não vou deixar ele te tirar de mim novamente.

Desconforto soprava. Um vento com força de vendaval.

Eu sabia com cada parte de mim que ia estar comigo.

Que se o fizéssemos, eu era o único que tinha que


consertar isso. Eu fui quem fodeu isso em primeiro lugar.

Um sorriso tremeu em sua boca, o humor sombrio


mudando enquanto ela ficou joelhos. O minúsculo corpo da
garota encheu a grande cabine com sua presença
avassaladora. Edie se inclinou sobre a bolsa para chegar até
mim, o cabelo caindo ao seu redor, e eu levantei meu rosto,
dei boas-vindas ao seu beijo hesitante.

Seus lábios tão macios.

Tão quentes.

Tão doces.

Baunilha e luz do sol.

Cegamente, coloquei o macaco de volta na minha bolsa,


empurrei-a para o assoalho para dar-nos mais espaço.
Enredei os dedos pelos cabelos dela e a puxei para mais perto
até que ela estava montando meu colo.

Obrigado Deus pelas caminhonetes grandes.

Minhas mãos vagaram pelas costas dela, alisando para


cima e para baixo, enquanto a beijava lentamente.

Longamente.

Profundamente.

Ela começou a balançar, e a puxei para mais perto, seu


corpo doce esfregando no meu pau.

— Oh — Ela gemeu. Como se estivesse surpresa. Como


se não tivesse ideia de como meu corpo reagiria ao dela.

Ela se afastou. Um sorriso melancólico enfeitou seu


rosto.

— Olhe para nós, agarrando-nos numa caminhonete


como um casal de adolescentes.

Passou os dedos pelos meus lábios, olhando em meus


olhos e provocou algo sério e grave. Sua língua saiu para
molhar os lábios, dedos exploradores tremulando ao longo do
oco do meu pescoço.

— Mas eu me sinto assim... aqui... foi onde paramos.


Onde o nosso tempo foi roubado.

Ela olhou para mim, insegura e tímida, dentes


mordendo o lábio.

— E aqui estou eu, ainda tentando.

Minhas mãos emolduraram seu rosto confiante.


— Você é perfeita, Edie. Toda garota que já toquei
deveria ter sido você.

Arrependimento capturou sua expressão, antes de ser


afugentado pelo desejo de encher a cabine.

Águas subindo.

Ela continuou se movendo sobre mim, olhando para


baixo enquanto eu olhava para cima. Intensidade crescendo e
construindo.

Aquela energia que nos mantinha íntimos.

Janelas embaçadas.

Corações vibrando.

Respirações ofegantes.

— Você é tão bonita, minha doce, doce menina.

O suspiro dela foi lento, e se agarrou em meus ombros,


balançando contra mim. Meu pau duro e implorando.

Tenha cuidado comigo.

Eu sempre teria, então gentilmente agarrei seus quadris


e a deixei ditar o ritmo.

Ela levantou-se de joelhos, seus seios perfeitos


pressionando contra o meu peito enquanto me cavalgava com
as nossas roupas nos separando.

Ainda assim, não acho que já me senti tão perto de


alguém do que agora.

Ela me beijou tão profundamente que eu tinha certeza


de que essa garota conseguiu tocar minha alma.
Tudo girava.

Movi-me, então minhas costas descansaram contra a


porta, estendi minhas pernas ao longo do banco, a minha
cabeça contra a janela.

Joelhos em ambos os meus lados, Edie se balançou, a


cabeça tocando o teto, com as mãos no meu rosto.

Tocando.

Memorizando.

A menina deixou um rastro de fogo enquanto descia pelo


meu pescoço e peito. Pressionando o local que sempre lhe
pertenceria. A menina que marcou meu coração.

Você é bom.

Você é bom.

Sinto isso aqui.

Senti ela sussurrar sua crença como se tivesse


pronunciado em voz alta, tão segura. Podia sentir seu corpo
inteiro tremendo quando se atrapalhou com o meu zíper.

Minha mão foi para o seu pulso.

— Querida, o que está fazendo?

— Eu quero te tocar.

Meu pau saltou.

Totalmente a bordo.

Respirei fundo, suprimindo a luxúria.

— Você não tem nada a provar.


Suas palavras foram ofegantes.

— Você nunca me fez sentir assim. Nunca. Deixe-me


tocar em você. Experimentar você.

Oh. Porra.

Soltei uma respiração estremecida, levantando meus


quadris uma pouco assim para que esta garota corajosa
pudesse puxar para baixo.

Meu pau saltou livre.

Edie ofegou um pequeno suspiro, mordendo


furiosamente aquele lábio inferior com incerteza enquanto
olhava para mim exposto. Duro e pronto.

Em seguida, ela voltou sua atenção para o meu rosto.


Algo ousado e corajoso encheu seus olhos. Luxúria e desejo.

Ela envolveu suas pequenas mãos em torno de meu


pau, bem na base.

Tão macias.

Tão boas.

Minha cabeça caiu para trás e gemi o nome dela.

Porra.

Lentamente, ela apertou seu agarre, acariciando,


espalmando minha cabeça latejante como se soubesse
exatamente o que fazer. Mas Edie não parava de olhar para
mim buscando incentivo, tão claramente perguntando se
estava fazendo a coisa certa, e eu estava segurando aquele
doce, doce rosto, roçando meu polegar nos seus lábios.
— Nada nunca me fez sentir tão bem.

Mas então ela mergulhou. Aplainou sua língua na


ponta. Girando ao redor dela.

Eu pulei.

E rapidamente mudei de opinião. Porque nada nunca foi


melhor do que isso.

Edie me acariciou e chupou em sincronia. Sua boca


sugando com força a minha cabeça. Sugando o prazer.
Sugando a crença.

Ela olhou para cima. A intensidade por trás daqueles


olhos quase me eviscerou.

O puro choque.

O arrebatamento.

A necessidade.

O arrependimento e o remorso.

Acima de tudo estava a esperança que brilhava ao seu


redor como um halo branco.

Aquela garota me prendeu sob seu feitiço.

Meu estômago deu um nó e formigamentos reuniram-se


na base da minha espinha.

— Edie, bebê, vou gozar. Porra, você é tão gostosa. Tão


gostosa — Murmurei, enquanto ela continuava aquele
perfeito ataque de língua, boca e mãos.

E essa garota...

Essa garota apenas me levou mais profundo.


Gemendo quando começou a se contorcer.

Suas coxas se apertando.

E foi tudo o que eu poderia suportar.

— Edie. — Foi um gemido quando eu agarrei seu cabelo,


meus quadris levantaram-se do assento como ela tomou-me
tão profundamente quanto poderia levar, segurando-me firme
em sua boca. E me desfiz.

Sublime para caralho.

Ela se afastou e meu peito arfava, meus olhos


semicerrados olhando para o outro lado dessa garota que se
sentou para trás, de frente para mim.

Parecendo um pouco atordoada.

Sentei-me. A ponta do meu polegar roçou seus lábios


inchados, porque eu simplesmente não podia evitar.

— Você está bem?

Com um sorriso tímido, ela balançou a cabeça.

— Muito, muito bem.

E sabia que ela queria dizer mais, que estava se


sentindo orgulhosa e corajosa.

Além disso?

Ela estava corada.

Quente.

Molhada e desejosa.
Dei-lhe um sorriso, sabendo que era predatório e cheio
de promessas.

Porque, Deus, esta menina acabou de explodir minha


mente.

Enfiei de volta o meu jeans, desloquei-me para um


joelho e avancei. Edie recuou enquanto me movia sobre ela e
pressionava suas costas contra a porta. Colocando-a na
mesma posição que acabara de me colocar.

Tudo, exceto suas pernas.

Eu as entendi abertas.

Espalhando-as para mim.

Sua saia enrolou na cintura, sua pequena calcinha


branca cobrindo aquele firme corpinho.

Edie gemeu, mudou de posição com necessidade


nervosa.

Cheguei para trás, deixei minhas mãos vagarem até a


macia, macia pele ao longo do interior de suas coxas.

— Você é tão linda, Edie. Você sabe disso? Você sabia


que todas as noites durante os últimos quatro anos, isto é o
que eu sonhei? Tocá-la do jeito que nunca consegui. Amá-la
do jeito que deveria ter amado.

Um murmúrio incoerente e ansioso saiu de sua boca.

Coloquei meus dedos nas laterais de sua calcinha, e ela


levantou os quadris. Abaixei-as lentamente, o movimento um
pouco estranho no espaço confinado.
Mas ainda assim, valia a pena.

Sua boceta estava nua, e não havia nada que eu


pudesse fazer, além de passar meus dedos por sua fenda.

Meus movimentos lentos.

Cheios de cautela, separando seus lábios.

Observando o tempo todo.

Um gemido escapou de mim quando a encontrei


molhada e tão delirantemente quente.

Requintada.

Suas pernas se abriram mais.

Um suspiro necessitado.

Claro, esse suspiro era o meu nome.

Coloquei o beijo mais suave na parte interna da sua


coxa, segurando-a aberta pelos joelhos e sussurrei na pele
sedosa:

— Mal posso esperar para te provar.

Ela se curvou quando lambi suas dobras.

— Oh, Deus.

Minha cabeça girou com uma avalanche de tonturas.

Completamente consumido por ela. Por seu sabor, sua


confiança e seu toque.

Há quanto tempo estive desesperado por tudo isso?


Quantas fantasias tive?
Mas a realidade era sempre muito melhor do que a
fantasia.

Porque a menina era espetacular, porra.

Seus gemidos encheram meus ouvidos e sua crença


encheu meu espírito.

Eu lambia a carne delicada, língua explorando e


memorizando. Mudei de direção e deixei a minha língua
passar sobre seu clitóris.

Aqueles dedos suaves puxaram meu cabelo.

Chupei e empurrei dois dedos em seu corpo apertado.

Suas paredes apertaram.

Fodi-a com os dedos, minha língua acariciando suave e


seguramente contra aquele ponto doce, minha outra mão
afundou na pele exuberante de seu traseiro.

Seu corpo curvou-se. Contorcendo-se. A energia ficava


cada vez mais forte.

E ela estava fazendo todos aqueles pequenos ruídos que


me atingiam diretamente, todo seu prazer dependia das mãos
que eu odiava.

As que causaram tanta destruição.

E porra... tudo o que eu queria ... tudo o que eu queria


era segurar algo bom. Ser responsável por isso.

E então essa garota... essa moça se desfez enquanto eu


a segurava na palma das minhas mãos.

Despedaçada.
Suas mãos agarravam meu cabelo. E ela estava
tentando esconder o grito que irrompeu de sua garganta
enquanto o prazer a tomou como refém.

A intensidade rugiu e disparou. Presa em torno do


espaço confinado. Ela apertou ao redor dos meus dedos que
estavam tocando sua profundidade.

Ela estava ofegante, seu corpo se curvou quando eu a


puxei de volta para o meu colo. Minha boca exigente quando
a beijei.

A garota.

A garota que pensei uma vez ser outra penitência. A


perda dela quase foi mais do que podia suportar. Isso me
enviou em espiral a uma profundidade que nunca teria
previsto.

Ao fundo do poço.

Ela gemeu meu nome, beijou-me de volta. Minha boca


se moveu, desta vez um sopro em seus lábios. E as palavras
foram tão baixas como um sussurro que eu cantava baixinho
nos confins da cabine.

— Meu mundo inteiro era preto e branco... até que eu


estava olhando para ele através dos olhos de luz do fogo.
Deixe-me vê-lo através dos seus olhos.

Edie pressionou contra mim. Agarrada.

Passei meus braços em volta de sua cintura e enterrei


meu rosto contra o martelar no seu peito.

— Você muda tudo, Edie. Tudo.


Ficamos assim por muito tempo. Abraçados do jeito que
sempre deveria ter sido. Ela se inclinou, seus lábios suaves
no topo da minha cabeça, na minha têmpora, minha boca.

— Juntos — Disse ela.

Respirei um riso aliviado, dando-lhe outro aperto.


Ajudei-a a vestir de volta sua calcinha. Toquei seu rosto.

As janelas estavam embaçadas e a cabine cheia de


vapor.

— É melhor você entrar.

— Sim — Ela concordou, e eu sai do carro,


silenciosamente me movi em torno da caminhonete e a ajudei
a descer. Demos as mãos enquanto caminhávamos até sua
porta.

Ela hesitou, olhando para mim, e eu a beijei devagar.

— Vejo você amanhã.

— Promete? — Ela sorriu timidamente. — Isso quase


parece... como um sonho.

Puxei-a para perto, murmurei em sua boca.

— Você é meu sonho. — Beijei seus lábios antes de


mordê-los para aliviar o clima. — Vejo-a, amanhã. Prometo.

— Está bem. — Ela entrou na casa, e enfiei minhas


mãos nos bolsos, balancei em meus calcanhares esperando
para ouvir a fechadura, em seguida, esperei um pouco mais,
porque eu não era capaz de me afastar.
Com um sorriso surgindo no canto da minha boca,
finalmente me virei e voltei para a minha caminhonete e abri
a porta.

Então eu congelei. Porra.

Eu podia sentir.

O frio gelado que passou pela minha espinha. A


presença me invadindo por trás não era definitivamente do
tipo agradável.

Lentamente, eu me virei.

Aquele grande filho da puta corpulento estava lá parado


com os punhos cerrados, parecendo um touro furioso que
estava se preparando para atacar.

E, aparentemente, eu estava vestindo vermelho.

Endireitei minha postura.

Sabia que poderia dar conta dele simplesmente porque


sabia exatamente pelo que eu estava lutando.

Seu rosto se fechou e agitou sua cabeça incrédulo.

— Você não acha que ela merece mais do que isso? Uma
foda rápida numa caminhonete de merda.

Esse cara não tinha ideia do que Edie merecia.

Não tinha absolutamente nenhuma ideia do que ela


merecia realmente.

Todas as coisas boas.

E eu seria o único a dar todas a ela.


Abaixei minha voz em um tom que esperava que fosse
apaziguador, sabendo muito bem que estava afiada apesar
disso. Apenas não podia controlar.

— Você não sabe do que está falando, cara. Talvez, a


melhor pergunta seria o que diabos você está fazendo,
espreitando aqui como uma espécie de pervertido?

Ele se encolheu.

Sim, imbecil. Não foi legal.

Ele sacudiu.

— Você sabe que não é o que eu estava fazendo. Ouvi


essa lata velha estacionando aqui cerca de quarenta minutos
atrás. Você acha que não sabia o que estava acontecendo?

— Eu sei que você não sabe o que estava acontecendo.


Mas mesmo que soubesse, não é da sua conta, então sugiro
que você dê um passo para trás e esfrie a cabeça. Edie não
lhe deve satisfações.

E eu com certeza não.

Ele passou a mão em seu cabelo.

— Esperei por ela. Esperei por anos ela estar pronta. E


você aparece aqui e a tira de mim.

Minha testa enrugou e dei um passo para frente


inclinando minha cabeça.

— Ela já lhe disse alguma vez para esperá-la? Edie já


lhe deu qualquer indicação de que havia mais entre vocês
dois do que você fantasiou?
Sua refutação voou rapidamente.

— Eu a trataria bem.

— Não foi isso que perguntei.

Silêncio. Ele não me disse uma palavra enquanto olhava


para mim através do brilho nebuloso do luar prateado.
Porque nós dois sabíamos que ela não fez isso.

Passei a mão pelo meu rosto. Porque, caralho. Este era o


amigo de Edie e queria rasgar ele. Bater nele apenas pelo fato
de saber onde seus pensamentos foram.

No corpo e mente dela.

Mas sabia muito bem que você não pode impedir o que
seu coração reivindica.

— Sinto muito, Jed. Desculpe se você está sofrendo.


Desculpe se te machuca vê-la comigo. Mas não vou a lugar
nenhum. Enquanto Edie me quiser... aqui é onde vou ficar.

Ele cortou as palavras.

— Machuque-a, idiota...machuque-a... e estarei na sua


cola.

Bufei e pulei na minha caminhonete. Inclinei-me para


agarrar a maçaneta interior, atenção voltada para Jed.

— Eu sinceramente espero que você faça isso.

Porque só o pensamento de machucar Edie de novo?

Faz-me preferir estar morto.


Heidi balançou os pés quando sentou no balcão ao meu
lado. Empurrei a gaveta da antiga caixa registadora que se
fechou com um tinido.

— Pronto, — Disse — Tudo feito.

— Tudo feito! — Ela me ofereceu um daqueles sorrisos


tortos mostrando seus dois dentes ausentes.

Afeto pulsou uma batida extra no meu coração.

— Muito obrigada por me ajudar. — Baguncei seu


cabelo.

— Trabalhar na loja é minha coisa favorita — Disse ela


com sua língua fofa.

— Bem, isso é uma coisa boa, porque você trabalhar


aqui na loja comigo também é minha coisa favorita.

Todo o seu rosto se iluminou, e a peguei por debaixo dos


braços colocando-a no chão em segurança. Olhei para o
relógio.
— Seu pai deve terminar o trabalho muito em breve. Por
que você não corre para o escritório de trás e junta suas
coisas?

Hoje, ela veio correndo no início da manhã com sua


mochila saltando nas costas, a bolsa cheia de livros de colorir
e bonecas. Ela de alguma forma convenceu o pai que era
muito mais importante me ajudar na loja hoje do que um dia
de escola de verão poderia ser.

Então, aqui estava ela.

Fazendo-me companhia.

Ajudando-me a manter meus pensamentos focados no


aqui e agora, em vez de à deriva de volta à noite de ontem. De
volta aquele garoto milagroso que me fez sentir tão livre.

Considerando que ela continuou tendo que me tirar dos


meus devaneios, aparentemente, a minha concentração
estava afetada.

A porta bateu atrás dela enquanto desaparecia na parte


de trás e ouvi o tilintar da porta da frente ao se abrir. Todos
os caras mais Blaire entrando, carregando o equipamento
depois das aulas de hoje.

Clay me lançou um de seus enormes sorrisos.

— Oi, linda. Você conseguiu segurar a barra hoje, o dia


todo. Ainda em pé. Eu diria que hoje foi um sucesso.

Clay era provavelmente um dos caras mais positivos que


você poderia se deparar. Ele não era nem um cara do tipo
copo meio cheio. O dele estava sempre transbordando.
— Sim. Sem grandes desastres além de uma garrafa de
leite derramado, então diria que foi uma vitória.

Kane passou a mão pelo cabelo castanho escuro,


lutando contra um sorriso.

— Eu vou arriscar e adivinhar que o leite derramado


pode ter um pouco a ver com um pequeno furacão correndo
por aqui hoje.

Antes que eu tivesse tempo de responder, Heidi voltou


para a loja, braços erguidos sobre a cabeça correndo em
direção ao pai.

— Papai!

Ele a tirou do chão, jogou-a para o ar e a abraçou com


força.

— Olha se não é o amor da minha vida — Disse ele.

Deus. O quanto ele adorava aquela criança.

Meu peito estava um pouco apertado, mas não


conseguia desviar o olhar quando ele a salpicava com beijos.

Ela balançou.

— Eca... papai. Você ainda está todo molhado.

Ele zombou de brincadeira.

— Bem, estou vestindo meu traje molhado, então você


não deve se surpreender quando fica toda molhada.

Ela uivava de tanto rir enquanto ele fazia cócegas, os


dois se perderam em seu próprio mundinho.
Jed me lançou um desagradável olhar de soslaio quando
passou, seguido por Deak para a parede traseira onde
guardavam as pranchas de aluguel.

O que foi isso?

Blaire veio para trás do balcão de vendas onde eu


estava. Ela forçou um suspiro duro quando começou a tirar
seu macacão de borracha molhado. Totalmente lutando.

— Eu juro, vou quebrar meu pescoço um dia desses


tentando sair dessa coisa.

Eu ri.

— Precisa de uma ajudinha?

Ela arregalou os olhos com a provocação, equilibrando-


se em um pé.

— Ah, eu preciso de muita ajuda. Mas acho que posso


lidar com isso.

Ela tropeçou enquanto tirava a mão.

— Bem, talvez não consiga mesmo lidar com isso.

Quando ela finalmente se libertou, levantou a roupa


preta de borracha como um troféu.

— Ponto. Acredito que isso me rendeu uma marguerita.

— Não fique muito orgulhosa de si mesma, Blaire, —


Clay falou. — Você acha que respirar rende uma marguerita?

Clay adorava mexer com ela. Os dois estavam


constantemente dando voltas e voltas.

Ela colocou a mão no quadril.


— Diz o cara que apareceu para trabalhar ainda bêbado
esta manhã. Em uma quarta-feira.

— Ei, onde diabos você acha que o apelido Bagunça da


Terça veio? — Ele era todo sorrisos sem remorso.

— Hum... de você? — Mas Blaire estava sorrindo


também, recolhendo suas coisas e saindo para ajudar Clay e
Kane com os coletes salva-vidas.

Deak se juntou a eles e foram para a parte de trás, onde


ficavam armazenados, Heidi tagarelando sem parar enquanto
os seguia.

Jed ficou para trás, e eu sabia que era de propósito,


porque normalmente ele teria ido para arrumar tudo.

Tensão encheu o cômodo.

Tentei manter minha atenção para baixo, focada na


papelada do final do dia, porque eu não tinha certeza de que
poderia lidar com o julgamento de Jed naquele momento.
Mas não podia continuar ignorando-o quando ele de repente
estava ali, bem atrás de mim.

— O que você está fazendo, Edie?

— Papelada? — Saiu uma pergunta, porque sabia muito


bem que não era a resposta que ele estava procurando.

Ele zombou.

— Você sabe que não é o que estou te perguntando. Eu


quero saber o que você está fazendo. Uma semana atrás, você
estava pulando e correndo daquele idiota, parecendo como se
tivesse visto um maldito fantasma. Assustada. A próxima
coisa que aconteceu, acordo pela manhã e você nunca esteve
em casa, e na mesma noite está na caminhonete dele no meio
da noite como uma espécie de prostituta barata.

Ele poderia muito bem ter me dado um tapa.

Eu girei ao redor, de frente para ele.

— O que você disse?

Frustrado, ele passou a mão pelo cabelo.

— Merda. Eu sinto muito. Não deveria ter dito isso. Mas


porra, Edie.... você merece muito mais que isso. Eu te trataria
como uma rainha.

Minha cabeça recuou, suas palavras implícitas tão


claras.

Todo o meu ser abalado apenas com a ideia, o


pensamento deu ao meu corpo uma onda de medo.

Minha acusação foi rude, revestida de constrangimento.

— Você estava nos espiando?

— Eu não estava te espiando, Edie. Estava preocupado


com você. Há uma porra de diferença e você sabe disso. E
nunca em todo o tempo que te conheço, deixou de voltar para
casa à noite. Nunca namorou ou flertou. E eu... eu...

Asperamente ele balançou a cabeça, olhou para o chão.

— Merda.

A tristeza se espalhou lentamente, esse homem que


nunca deixou de ser amável. E senti que ele estava sofrendo.
Que tinha ilusões de que ele e eu um dia nos tornaríamos um
casal.

— Eu estava esperando por ele.

A verdade dessa afirmação me pegou.

Dor atravessou o rosto de Jed, seu tom quase


suplicante.

— Mas ele quebrou seu coração.

Ele não conhecia a história. Claro que não. Mas sabia


que fizera suas próprias suposições sobre minha vida
passada. Que Jed não fazia ideia.

Eu não podia culpá-lo.

Nunca permiti que ninguém se aproximasse de mim.

Apenas Austin.

Apenas Austin.

— Ele quebrou, — Admiti suavemente — mas acho que


quebrei o dele também.

Engoli todo o arrependimento que senti por machucar


Jed. Porque eu o amava. Eu amava. Da maneira que amaria a
um irmão.

— Serei eternamente grata por tudo que você fez por


mim. — Levantei minhas mãos ao meu lado, oferecendo a loja
como prova. — Por me acolher e me dar um emprego.

Minha voz baixou em ênfase.

— Por sua amizade.

Pisquei, e meu peito apertou com a admissão.


— Mas meu coração... sempre pertenceu a ele.

Todos os pedaços quebrados.

Austin era o único que os mantinha juntos.

Da mesma forma que mantinha os dele.

— Não vou parar de lutar por você, Edie. Não posso.

Meu rosto se apertou e pressionei minhas mãos em meu


peito.

— Jed... você tem que parar de lutar por algo que não
existe. Vai perceber um dia.... que está destinado a outra. Ela
está lá fora. Tenho certeza.

Ele estava balançando a cabeça para me refutar quando


todos vieram da parte de trás.

Deak bateu palmas.

— Vamos chamar isso de um dia, não é?

— Dia! — Heidi gritou, pulando.

Blaire arrodeou o balcão. Pulou para sentar-se sobre ele,


de frente para mim.

— Dia — Ela murmurou.

Eu ri, tentando deixar de lado o desconforto me


atravessando, odiando que sem saber, machuquei Jed.
Sabendo que levaria tempo para ele aceitar que eu estava
certa.
Vinte minutos mais tarde, tranquei a porta da frente e
todos se separaram e saíram no ar da noite que se
aproximava.

— Quem quer tomar uma cerveja? — Perguntou Deak,


virando-se para caminhar de costas, sorrindo para nós.

— Estou dentro — Disse Clay.

— Claro que está. — Sim. Blaire estava bem ali com


isso.

Clay ergueu as sobrancelhas.

— E você não vem?

— Uh... Marguerita, lembra?

— Certo.

— Eu topo — Jed falou.

Kane espalmou o topo da cabeça de Heidi.

— Eu tenho um encontro com a garota mais bonita de


Santa Cruz. Vou passar essa.

Heidi sorriu para ele como se estivesse olhando para seu


herói.

Emoção torceu meu interior, quase gritei que eu iria


encontrar uma carona para casa, já que vim para o trabalho
com Blaire e Jed, quando meu olhar se desviou para a
esquerda.

Atraída.

Deus.

Esse garoto.
Austin inclinou-se contra a lateral de sua caminhonete.
Caminhonete que fez meu rosto ficar vermelho, as
lembranças deixando meus joelhos fracos da maneira como
ele me fez sentir.

Com ele, eu sentia como se pudesse voar.

Algo como um sorriso surgiu naquela linda boca, e eu


tremi, minha voz, provavelmente, tão fraca quanto meus
joelhos quando falei para Blaire:

— Hum ... eu acho que arrumei uma carona.

— Aposto que arrumou. — Ela piscou, alcançando Clay,


Deak, e seu irmão enquanto meus passos se desviaram.

Olhei para os dois lados, rapidamente caminhando para


a estrada, até que estava alinhada com o peito dele, ficando
na ponta dos pés, roubando mais um daqueles beijos que
nunca fui corajosa o suficiente para roubar.

Céu.

Era o que era. Sua boca na minha, suas mãos me


puxando para perto, sua respiração sobre mim.

— Veja, eu prometi — Ele murmurou na minha boca.

Um riso rolou livre e agarrei sua camisa.

— Prometa que vou te ver todos os dias para sempre.

Tentei falar de um jeito divertido. Tentando esconder a


esperança desesperada que floresceu.

Austin suavizou, passou a mão sobre minha cabeça,


segurando o lado.
— Nós vamos ter que ver se isso pode ser arranjado.

Borboletas flutuaram. Eu não poderia impedí-las nem se


tentasse.

Austin inclinou a cabeça, o garoto tão bonito que


roubou o ar dos meus pulmões.

— Acho que eu gostaria disso.

Ele colocou meus dedos entre os dele. Sem mais


palavras, nós caminhamos como se fossemos atraídos. Até à
praia, onde tirei os meus sapatos. Austin me soltou,
afastando-se e vendo eu mergulhar os dedos dos pés na água
fria. A água suavemente ondulava, abraçando-me até um
pouco acima dos meus tornozelos.

Assim como fez antes.

Meu convite é o mesmo.

Para este garoto que sentia falta deste toque.

O vento agitou, balançando meu cabelo em volta do meu


rosto. Envolvendo os braços sobre o meu peito, vi o sol
começar a sua descida, a calma tão grande contra o caos
constante que se movia ao nosso redor.

Olhei por cima do ombro para o garoto. A intensidade


severa. Vasta e profunda. Raios de luz ardente brilharam em
cima dele, as impressionantes e definidas linhas de seu rosto
lindo expressas em ouro e vermelho.

No limiar do crepúsculo.
Uma tempestade surgiu em sua expressão, suas mãos
em punhos ao lado do corpo, sua respiração dura, embora eu
soubesse que ele tentava mantê-la controlada.

Seus demônios lutavam para serem trazidos para a luz


que estava dando lugar a escuridão.

Dei um passo mais para o fundo do oceano, e me virei


para ele.

O olho da minha tempestade.

Olhei fixamente para ele e a maré avançou contra


minhas panturrilhas. Silenciosamente, eu o alimentava com
toda a fé que podia encontrar dentro de mim, derramando-a
nele.

Rezando para que ele pudesse sentir isso.

Cerrou seus dentes e ele deu um passo para trás.

Longe.

Recusando meu convite.

Abrigando toda aquela dor e se agarrando a cada


arrependimento.

Este garoto bonito e danificado ficou perdido por mais


um dia.

Três semanas passaram dessa maneira. Apenas Austin


e eu. Renovando a fé um dia danificada. Encontrando a
esperança que perdemos. Respirando a nossa crença um no
outro.

Ele empurrou meus limites. Eu empurrei os dele.

— Espere — Sussurrei.

Eu pedi por isso. Mais tempo. Mesmo que ambos


soubéssemos que um dia nossas paredes desmoronariam.
Edie gemeu ao redor do bocado de lasanha que tinha na
boca.

Caseira.

Somente o melhor para a minha garota.

— Oh meu Deus... deveria ser crime algo ter um gosto


tão bom.

Ela estava sentada na minha frente na pequena mesa


na minha casa e dei-lhe um sorriso.

Sua testa franziu e seus olhos se estreitaram.

— Você está tendo pensamentos sujos, Austin Stone?

Dei de ombros.

— Possivelmente.

— Mais como possivelmente definitivamente — Disse


ela, empurrando a sola da minha bota com a ponta do sapato
debaixo da mesa.

Ela me pegou.
— Você está sentada um metro longe de mim... fazendo
barulhos como esse. O que acha que eu estaria pensando?

A provocação foi clara, tudo misturado com um tom de


seriedade.

Seriedade perdida.

Porque era de Edie Evans que estávamos falando. A


garota que me surpreendia toda vez que entrava no lugar.
Roubando mais e mais minha respiração. Tornando-se o meu
ar.

Um rubor corou suas bochechas. Mas aquela doce


inocência? Estava sempre lá embaixo do flerte que parecia
mostrar-se mais e mais vezes a cada dia que passava.

— Eu gosto quando você pensa em mim. — Ela disse


baixinho.

Eu gemi e me inclinei para frente. Olhei para seu rosto


marcante através do cintilar de velas dispostas no centro da
mesa.

— Não quando, Edie. Todo o maldito tempo. Cada


segundo de cada minuto de cada dia. Não sei como parar de
pensar em você.

Não queria, também.

Ela olhou para mim do jeito que estava me olhando nas


últimas três semanas. Como se talvez visse o homem que
deixei na casa do meu irmão para encontrar o homem que eu
queria ser.

Como Shea olhava para Baz.


Como se eu fosse o seu propósito.

A vida dela.

E queria ser forte o suficiente para ficar ao seu lado.


Protegê-la.

Sua voz era um fiapo.

— Não pare nunca.

Pousei o meu garfo, empurrei minha cadeira.

— Venha aqui.

Desejo me pegou quando ela se levantou, a garota tão


brilhante entre as sombras, algo tão puro e bom no escuro.

Ela se enrolou no meu colo, braços delgados ao redor do


meu pescoço, tanta alegria e contentamento no suspiro que
soltou na minha garganta.

Minhas entranhas se contorcendo de luxúria e devoção.


Pressionei meu nariz em seu cabelo.

— Não vai parar nunca. Eu nunca parei. Todos os anos


que passamos separados, eu ainda pertencia a você.

Ela olhou para mim. Suas palavras foram ofegantes e


me atingiram diretamente.

— Nós não devemos nos separar mais.

Meu sorriso foi lento e meu batimento cardíaco estava


rápido.

— Não, meu bem, nós definitivamente não devemos.


Ficamos sentados por um tempo, apenas apreciando a
paz. Eu basicamente ameacei matar Damian e Deak se eles
aparecerem em casa antes da meia-noite.

Encontro essa noite, e tudo.

Parecia loucura fazer coisas tão normais, em casal.

Espetacular.

Acariciei sua coxa.

— Levante. Vou lavar os pratos rapidinho e então nós


podemos ir até a praia. Tenho uma garrafa de vinho.

— Você sabe exatamente como conquistar uma garota,


não sabe, Austin Stone? Fazer o jantar? Lavar os pratos?
Vinho? Eu poderia pedir mais alguma coisa?

Tudo sobre ela era tímido, desde a provocação saindo de


seus lábios até as curvas perfeitas de seu corpo, seu short
curto e seu top apertado, pernas tão longas.

Mas foi a ternura suave naqueles olhos azuis que me


capturou.

— Eu poderia apenas ter alguém realmente importante


para impressionar.

Ela riu. Deus, eu adorava aquele som. Saindo dela dessa


forma.

Feliz.

— Ah, é?

Coloquei um fio de cabelo atrás de sua orelha.

— É sim.
Ela desceu e me ajudou a ficar de pé.

— Vamos lá... Vou ajudar para que possamos terminar


mais rápido.

— Alguém está ansiosa.

— Um… você disse vinho, não foi?

Eu ri para o teto e peguei nossos pratos.

— Eu disse.

Fomos para a cozinha, enxaguando os pratos e


empurrando-os para a máquina de lavar louça. Trabalhamos
sem esforço lado a lado.

Meu telefone tocou no balcão.

Eu olhei para a tela.

Medo escorreu sob a superfície da minha pele, meu


coração parou.

Baz.

Ele nunca ligou.

E eu quis dizer nunca.

Nossa correspondência ao longo dos últimos três anos


foi inteiramente através de mensagens de textos e cartas.

Minha garganta fechou, e engoli em torno dela enquanto


ia para o correio de voz.

Edie esfregou um prato.

— Quem era?
Eu nem sequer tive tempo de responder antes de tocar
novamente.

Seu olhar pousou no meu celular, e ela rapidamente


lançou a sua atenção para o meu rosto, apenas levantando o
queixo num incentivo silencioso e potente que sempre me
deu.

— Você deveria atender.

Eu devo?

Dei um passo para trás. Inseguro. Odiando o medo que


arranhava meus sentidos. Fazendo-me sentir pequeno e
inútil. Aquele garoto inútil de merda que sempre apenas
piorou as coisas para o seu irmão.

Forcei-me a conter isso, meu estômago revolto quando


peguei o telefone. Olhei para ele por um instante antes de
aceitar a chamada e colocá-lo no meu ouvido. Eu já estava
caminhando em direção a parte de trás, para a porta de
correr quando disse o nome dele.

— Baz.

Sufoquei realmente.

Porque não ouvi a voz dele em um longo maldito tempo e


não tinha ideia do por que ele estar me ligando agora.

— Austin. — Parecia tão grossa quanto a minha. Uma


risada baixa vibrou através do espaço, descrente e incrédula.
— Deus... você soa diferente.
O ar frio colidiu com a minha pele aquecida quando
pisei na varanda de madeira com vista para a praia logo
abaixo. Fechei a porta atrás de mim.

O vento soprava pelas árvores e o mar uivava na noite.

Paz e caos.

— Um monte de tempo já passou — Disse eu. Estava


esmagando o telefone na minha orelha como se isso pudesse
quebrar a tensão quando senti a hesitação dele e a
turbulência através da linha.

Minhas palavras estavam apreensivas.

— O que está acontecendo?

Falei de forma casual. Como se esta fosse apenas uma


porra de conversa normal em um dia normal.

Pareci ansioso, caralho.

— Preciso que você volte para casa, homem. Para LA.

Minha boca encheu de saliva. Azedou no meu estômago


quando a engoli. Olhei para o horizonte obscurecido.
Escuridão sem fim. Um abismo de preto.

O oceano gemeu, para sempre um prisioneiro de seu


desassossego.

Isso me agitou. Incitando a antiga, implacável dor.

— Disse que não estava pronto para fazer isso ainda.


Está... está tudo bem?

Bem.

Esse sentimento parecia tão maldosamente barato.


— Isso é o que você continua dizendo, Austin. Que não
está pronto. E isso é o que me diz que você ainda culpa a si
mesmo e ainda não achou a verdade disso.

Senti como se ele me chutasse. Aquela presença


estremeceu através da atmosfera.

— Quando é que você vai me deixar assumir a


responsabilidade pelo que fiz? Quando, Baz? Fui embora por
causa disso. Porque você sempre se responsabilizou quando a
culpa era minha.

— Não é sua culpa.

Eu zombei.

— Qual é, cara. Não sou mais uma criança. Você não


precisa continuar tentando me proteger, e pode parar de
tentar me convencer do contrário do que acredito.

— Se é isso que você quer, então tudo bem. Aceite,


irmãozinho. Carregue em seus próprios ombros malditos
quando sei que deveria carregar nos meus. Em seguida, volte
para casa. Onde você pertence. Preciso de você, Austin. Não
consigo continuar no caminho que estou. Preciso que você
assuma o lugar que lhe pertence.

— Que porra você está dizendo?

— Você sabe exatamente o que estou dizendo. Não


minta para mim e me diga que nem sempre quis. Que nem
sempre sentiu isso.

Ansiedade escorreu pela minha pele.


— Não é o meu lugar. Você sabe que não canto para
eles.

Tristeza se estendeu entre nós como um elástico


quebradiço e seco. Não importava quantos quilômetros nos
separavam. Estava lá, distendido entre nós.

— Sim? Então me diga quando vai começar a cantar


para você. É hora, Austin. Está na hora.

A porta de vidro se abriu atrás de mim, aquecendo-me


com luz. Lentamente, o vidro fechou. Aquela paz esmagadora
surgiu, espalhando alívio e conforto. Ela colocou os braços
em volta de mim por trás. Energia zumbiu. Edie pôs o rosto
entre as minhas omoplatas.

Segurei suas mãos que abraçavam meu estômago.


Segurando-a mais perto.

— Pense nisso — Disse Sebastian.

Rejeitei a labareda de antecipação que ardeu em meu


espírito.

— Não sou o que você está procurando.

Não me colocaria nessa posição. A última coisa que


queria era derrubar o meu irmão novamente. Derrubar os
meninos. Não tinha certeza de que poderia ser o que a
Sunder precisava que eu fosse.

Alguém que poderia liderar. Apoiar e guiar.

— Austin... — Baz tentou.

— Falo com você depois, certo?


Ele suspirou.

— Certo. Mas logo.

— Sim.

Eu sabia que estava chegando. Precisava tomar uma


decisão. Ir para casa e acertar as coisas pelo bem. Provar
para Baz que eu estava indo bem sozinho para que ele
pudesse seguir em frente e viver sua vida melhor.

Para sua família.

Ele desligou e a linha ficou muda. O silêncio abateu-se


com o vento forte. Tudo, exceto o som do mar e o de nossas
respirações. Edie me apertou com mais força, como se
tentasse transmitir que nunca me deixaria sozinho.

— Está tudo bem?

Ela insistindo. Empurrando-me para deixá-la naqueles


lugares que sempre me recusei a dar-lhe acesso. Sempre lhe
ofereci apenas pedaços, sem sobrecarregá-la com a realidade
brutal.

— Sim.

— Ele quer que você volte para casa?

— Sim.

A respiração que ela liberou foi um tremor, varrendo-a


com um medo que tentou conter, mas estava tão claro.

— Ele sente sua falta.

Minhas palavras foram duras.


— Ele está insinuando..., mas o conheço, Edie. Conheço
meu irmão bem pra caramba, e quando ele ama, ama com
tudo o que tem. E ele ama a família dele e, sem dúvida, ela se
tornou mais importante do que a banda. Eu não o culpo.
Nem um pouco. Mas sei que Baz me vê lá, assumindo o lugar
dele.

— Lá é onde você se vê?

— Você sabe que não é.

— Por quê? — Ela me abraçou mais perto, suas palavras


uma carícia por trás. — Você é tão talentoso, Austin. Está
destinado a grandes, grandes coisas.

Inspirei, respirando o caos da agitação do mar.

As correntes que me prendiam a ele apertaram mais o


meu espírito.

— Cantar é parte da minha punição. — Um momento se


passou com mil perguntas.

— Não entendo — Ela finalmente sussurrou.

Apertei suas duas mãos nas minhas, embalando-as


sobre sua marca no meu coração. O lugar que sempre lhe
pertenceu.

— Você é a única que realmente entende, Edie.

Lentamente, virei-me para encará-la. As luzes de dentro


da casa brilhavam ao seu redor, a garota esboçada em um
brilho branco e cintilante. Ela estendeu a mão e passou a
ponta dos dedos ao longo do meu rosto, seu toque respirando
toda aquela crença, olhando-me na noite.
Entendi tudo sem ter uma pista. E não poderia manter
contido por um segundo a mais. Não conseguia manter as
paredes que a fecharam.

— Eu fiz isso, Edie. Foi minha culpa.

A confissão brotou dos meus pulmões. Tão quieta. Ainda


assim, atingiu com a força de um estrondo sônico.

Ela se acalmou e não passou desapercebida a confusão


que atravessou seu olhar. Então, aquela doce boca virou para
baixo no canto.

Com simpatia.

Apaixonada.

Essa menina que via diretamente dentro de mim.

A dor se chocou contra as memórias que inundaram


minha visão, e tudo apenas saiu.

Choveu e inundou.

Em suas mãos e no poço de seu coração puro, onde eu


sabia que ela manteria seguro.

Julian se equilibrou na beira do mar. Como se estivesse


andando em uma corda bamba. O corpo deslocando-se desta
forma enquanto ele pulava ao longo das linhas de espuma
branca deixadas pela maré recuando.

— Olha isso, Austin — Julian falou para ele.


Austin estava meio metro atrás, pulando ao longo
daquelas linhas, fazendo seu melhor para continuar.

— Olhar o que? — Austin falou de volta, sorrindo


largamente. Austin amava ao sol. O oceano. Os dias como
este quando eles ficavam completamente livres.

— Isso!

Julian de repente correu para as ondas, batendo os


braços ao redor como se estivesse voando. Ele pulou em
seguida e mergulhou em uma onda. Rolou com a maré,
saltou de volta. Sua boca abriu-se com uma risada, enormes
quantidades de água embebendo seu rosto.

— Você viu isso?

O riso borbulhou da barriga de Austin, e ele saiu


correndo e mergulhou também.

O irmão mais velho deles gritou de onde estava mais


acima na praia:

— Não muito no fundo, Austin e Julian.

— Não estamos — Ambos prometeram em sincronia.

Sempre em sincronia.

Julian deu a Austin um olhar malicioso.

— O que ele está fazendo com aquela garota?

Austin bufou.

— Baz está sempre com uma menina. Sempre


conversando com elas. Pai diz que isso é o que os homens
fazem.
Julian enrugou o nariz.

— Eu estou feliz por eu não ser um homem. As meninas


são nojentas.

Austin riu.

— Um dia seremos. E Baz disse que um dia vamos


mudar de ideia totalmente.

Julian sacudiu a cabeça.

— De jeito nenhum.

Em seguida, ele empurrou Austin com um sorriso, e a


perseguição começou.

— Aposto que você não consegue me pegar — Ele gritou


por cima do ombro.

— Aposto que consigo.

Austin conseguiu. Mal conseguiu. E então era sua vez e


Julian estava correndo atrás dele.

— Aposto que você não consegue ficar debaixo de água


igual a mim — Austin desafiou.

— Aposto cinco dólares que consigo.

Eles apostaram.

As ondas eram profundas o suficiente para chegar até a


cintura, onde eles brincaram. Austin deu um passo mais ao
fundo, mergulhou, e ergueu os dedos para contar. No
momento que ele chegou a trinta, sentiu a necessidade de
tomar um fôlego. Ele começou a subir, mas Julian empurrou
seus ombros, mantendo-o mergulhado.
— Não é justo, Julian — Ele queria gritar, mas ainda
estava debaixo da água, e os dois lutaram da maneira que
sempre faziam.

Julian finalmente soltou e Austin subiu, atingindo a


superfície e com falta de ar.

— Você é idiota. — Ele deu um soco no braço dele. —


Mas acho que me fez ganhar. Trinta e sete.

— Trinta e sete? Vou totalmente ganhar.

Julian levantou seus pés, afundando-se no oceano. Ele


ficou lá por mais de trinta segundos, depois quarenta, e
Austin soube que foi superado. Apenas quando Julian
começou a flutuar para cima, Austin segurou-o para baixo.
Assim como ele tinha feito.

Seu gêmeo chutou e se debateu.

Austin estava rindo e Julian estava lutando.

Foi o maior tempo que Julian conseguiu segurar.

Baz olhou para eles, e Austin sorriu para seu irmão,


imaginando que ele riria dele com Julian. Talvez vir e brincar
com eles quando parasse de flertar com aquela menina idiota.

Mas em seguida Julian não estava lutando mais. Ele se


contorceu, e seu corpo estremeceu nas mãos de Austin.

Algo frio passou por Austin. E ainda assim, ele apenas


ficou lá parado, Julian preso sob suas mãos.

Julian não estava se movendo mais.


Medo pulsou na garganta de Austin, um sentimento
dolorido tomando conta dele, como se estivesse faltando
alguma coisa. Ele se esforçou para levantar Julian da água.
Lutou para segurá-lo por debaixo de seus braços.

Baz começou a correr. Gritando. Gritando.

— Não, não, não.

Baz correu pela água. Ele tirou Julian dos braços de


Austin.

Vazio.

Foi assim que Austin sentiu seu estômago, e sua cabeça


girava enquanto observava seu irmão mais velho levar Julian
para a areia.

Austin ouviu gritos em algum lugar. Ao seu redor.


Silêncio mortal ao mesmo tempo.

Como se ele estivesse assistindo de cima.

Vazio.

Ele se arrastou até a praia. Aterrorizado. Querendo tocar


Julian. Sacudí-lo. Dizer-lhe para se levantar.

Por favor, por favor, levante-se.

Baz bombeou o peito dele, apertou o nariz e soprou em


sua boca, bombeou o peito novamente. Lágrimas escorreram
pelo rosto de Baz, algo frenético e instável em seus
movimentos.

— Austin... o que você fez... o que você fez? Oh meu


Deus, o que você fez?
Austin se mexeu para trás em seus pés e mãos quando
as pessoas rodearam Julian.

Empurrou suas costas contra uma grande rocha. Se


escondendo. Balançando.

Vazio.

Enterrei meu rosto no pescoço dela, deixando toda a


umidade escorrer por lá.

Eviscerado.

Vazio.

Eu não tinha chorado tanto a um longo maldito tempo.


Deus sabia que derramei o suficiente delas, e odiava ser
aquele menino patético de merda que não se aguentava.

Mas não havia como parar agora.

Não quando ela estava chorando comigo. Por ele. Por


mim. Suas lágrimas caíram no meu cabelo, e ela se agarrou a
mim como se soubesse que era a minha tábua de salvação.

Um farol à distância.

Chamando-me da escuridão.

Guiando-me para casa.

Mesmo quando eu não tinha o direito de ter um.

— Eles me deixaram ir vê-lo em seu quarto de hospital.


Todos aqueles tubos e fios... estavam por toda parte.
Mantendo-o vivo. Mas eu sabia, Edie... Porra, eu sabia que
ele já tinha ido. Eu podia sentir isso, podia sentir que a
minha outra metade estava faltando.

Minha voz estava entrecortada, tristeza tomando conta


de mim.

— Baz... ele me chamou de lado, sacudindo-me quando


eu não parava de chorar e chorar. Ele continuou dizendo que
não era culpa minha. Que era dele. Ele disse aos nossos pais
que não estava nos observando e Julian foi pego em uma
onda. Culpou-se quando o culpado era eu.

— Eu sinto muito, Austin. Eu lamento tanto, tanto.

Sua boca macia estava no meu ouvido, lábios beijando


minhas têmporas, lábios quase frenéticos pressionando meu
rosto e queixo, e cada centímetro do meu rosto molhado de
lágrimas.

Ela não me falou nenhuma besteira de que a culpa não


foi minha. Ela não me disse que estava tudo bem.

Porque ela sabia que não estava.

— Acho que minha mãe soube a verdade no segundo


que entrei.

Dor agarrou meu coração. Espremendo tão forte que


tinha certeza que ia explodir.

— Mas ela se afastou tanto quanto Julian. Eu roubei a


vida dele. A vida dela. Meu pai... ele se transformou num
monstro. Baz era a única coisa que eu tinha.

A parte superior das costas dela estava presa contra a


parede, meus braços ao redor da cintura dela.
— Baz me salvou, Edie. Manteve-me vivo quando eu
queria morrer. Não posso mais ser essa pessoa. A pessoa que
está sempre tirando dele. Decepcionando-o. Machucando-o.
Mas não sei como parar de falhar com todos que me
importam. Todos que eu amo.

Ela me empurrou para trás, colocou a mão sobre o meu


coração. Palma plana e firme. Aqueles olhos azuis estavam
arregalados. Vulneráveis. Compartilhando na minha dor.

Compreendendo da maneira que só ela podia.

— Você é bom. Você é bom. Eu sinto. Bem aqui. — Ela


sussurrou as palavras que sempre me falou. Sua crença.

Meus braços estavam de volta ao redor dela.

— Eu não queria, Edie. Juro, eu não queria. Faria


qualquer coisa para trazê-lo de volta. Para trocar de lugar
com ele.

— Eu sei. Eu sei. Eu sei.

Ela resmungou e continuou me cobrindo com aqueles


beijos maníacos, suas mãos passando por todo o meu corpo.
Como se fizesse qualquer coisa para ser quem me
consertaria.

Empurrei-a ainda mais contra a parede. Minha boca


capturou a dela. Esse beijo... esse beijo foi preenchido com
todo o tormento que nós dois sofríamos. Os que estavam
enclausurados.

O que pela primeira vez deixei que ela soubesse.


Ela gemeu, e a segurei pelos quadris, minhas mãos
gananciosas puxando e atraindo seu corpo.

Desesperado para aproximá-la mais.

Desesperado para ficar na sua luz.

— Edie.

— Eu sei... eu sei — Ela professou.

Empurrei a porta de correr, beijando-a o tempo todo e


entrei de volta na casa, minhas mãos segurando seu doce
rosto confiante.

Ela colocou as mãos em volta dos meus pulsos,


levantando-se para mim enquanto eu passava pelo corredor
para o refúgio do meu quarto.

Nem percebi como nós chegamos lá, mas Edie estava na


cama, e eu estava pairando sobre ela, lambendo sua boca.
Sua língua quente e necessitada.

Edie tirou minha camisa. Nosso beijo só foi interrompido


pelo flash de um segundo de quando ela a puxou sobre a
minha cabeça.

Nossos movimentos eram frenéticos.

Um frenesi de mãos necessitadas e bocas famintas.

Nossos espíritos tropeçavam e se emaranhavam. A


energia tornou-se intensa. Avançando pelo quarto. Exigindo
ser saciada.

Em seguida, sua blusa se foi, e eu estava pondo minhas


mãos debaixo de suas costas para libertar o fecho do sutiã,
seus seios pequenos e tão perfeitos, porra. Peguei-os em
minhas mãos, roçando meus polegares sobre os mamilos
rosas e atrevidos.

Eu chupei um e provoquei o outro.

Edie se contorcia. Sua cabeça baixou em meu


travesseiro. Seus dedos enredados no meu cabelo. Minha
língua percorreu o vale entre seus seios, lambendo a deliciosa
inclinação de seu pescoço e sua boca.

Um brilho de luxúria ardia no ar.

Nossos corpos balançavam.

Procurando contado.

Alívio.

Ambos desesperados para nos afogar em confiança.

Empurrei para cima minhas mãos para olha-la, e ela se


acalmou, olhando para mim de forma confiante. Edie não
desviou seu olhar enquanto tocava sua marca eterna
impressa sobre o meu coração.

Meu coração que trovejava e se antecipava.

Cada terminação nervosa viva.

Logo em seguida, todas as nossas verdades ficaram


muito evidentes.

Estendi a mão, espalmei o lado do queixo dela, meu


polegar tocando sua bochecha. As palavras foram baixas.

Enfáticas.
— Estou tão apaixonado por você, Edie Evans. Com
tudo o que tenho. Com tudo o que sou. Eu te amei por tanto
tempo quanto posso lembrar. Isso nunca vai mudar.

Mais lágrimas caíram de seus olhos, aquele rosto


precioso sob a luz brilhante.

— Eu te amo, Austin. Nunca deixei de amar. Você


sempre será a próxima batida do meu coração.

A confissão dela me fez engatar minha respiração, todos


aqueles lugares vazios tão perto de serem preenchidos.

Eu não poderia dizer o que eu odiava mais, a extensão


da culpa que sentia ou a decisão de deixá-la de lado e
permitir que Edie me enchesse com seu conforto. Permitir-me
afogar-me no alívio dela.

As pontas de seus dedos vibraram através dos meus


cílios, meus lábios, meu queixo, de volta ao lugar que sempre
lhe pertenceu.

— Não quero esperar. Não mais.

O choque congelou tudo, antes da hesitação rastejou


através de seu nome.

— Edie...

Nós dois estávamos ali, oscilando naquela linha, tão


perto de romper aquela barreira.

Um suave sorriso melancólico vibrou através de sua


doce boca.

— Tenha cuidado comigo.


Ele olhou para mim através das sombras de seu quarto.
Pensei que talvez houvesse uma parte de mim que sempre
soube seu segredo. A parte que reconhecia a devastação de
um único erro. Um erro que nunca seria corrigido, não
importa o quanto você quis nunca o cometer em primeiro
lugar. Apesar do fato de você voluntariamente desistir de
tudo para voltar e fazer direito.

Aqueles olhos cinzas me observavam. Neles havia um


amor tão intenso que brilhava através da tempestade.

Obliterando a escuridão. Vencendo o medo.

Eu já não estava com medo, e me recusei a continuar


presa.

— Eu confio em você.

Por dois segundos, ele observou meu rosto, então


respirou fundo. Meu olhar se arrastou pelo nó grosso de sua
garganta, seu pomo de adão pronunciado. Eu soube que foi o
momento em que ele aceitou o que eu estava dizendo. O que
estava lhe oferecendo.

Estava dando a ele o meu último pedaço quebrado.

A raiz de todos os meus medos.

De cada pesar.

Um erro.

Foi tudo o que sempre precisou.

Depois desta noite, sabia que era algo que Austin nunca
faria. Pensei que sim uma vez. Mas eu estava mais esperta
agora. Sabíamos que estávamos enfeitiçados e ligados, e ele
nunca desperdiçaria o que estava lhe dando.

Confiava nele para apreciar isso da mesma forma que


ele me apreciava.

Confiei que ele seria cuidadoso. Porque Austin sabia que


eu nunca poderia voltar lá. Ele sabia que nunca poderia
arriscar passar pelo tipo de perda que por tantos anos me fez
ter certeza que não sobreviveria.

Eu não poderia passar por isso novamente.

Ele afastou meu cabelo. O sorriso que me deu foi


reverente. Necessidade em sua expressão profunda.

— Você é meu mundo.

Ele se abaixou, com as mãos ainda pressionado a cama


em ambos os lados da minha cabeça. Beijou-me lenta e
profundamente. O poder dele foi tão devastador que eu queria
chorar.
Meus dedos cravaram em seus ombros fortes, os
músculos se contraindo sob o meu toque, seu corpo tão
bonito ao me manter em seu escuro perfeito.

Sua boca se moveu sobre a minha, lábios sugando e


tocando, nossas línguas perderam-se em nossa própria dança
lenta.

O quarto girou e meu corpo acendeu.

Ele sentou-se sobre os joelhos, rosto marcante nas


sombras. Hipnotizante. De tirar o fôlego.

Minhas costas arquearam, meu corpo instintivamente


implorando por seu toque.

Lentamente, ele abriu o botão do meu short, observando


minha reação. O som do zíper rompeu no ar. Uma onda de
palpitações espalhadas através do meu coração.

Oh, Deus.

Eu me senti tão nervosa.

Tão viva.

Levantei meus quadris um centímetro de seu colchão.


Cada parte minha tremia quando ele lentamente tirou meus
short e calcinha pelas minhas pernas.

Sua voz estava rouca. Áspera e suave.

— Mal posso esperar para estar dentro de você. Para


sentir este corpo sob o meu.

Aquela voz ficou mais baixa, revestida com uma lenta


sedução.
— Mal posso esperar para o meu pau estar enterrado
tão profundo que nenhum de nós saberá onde um começa e o
outro termina. Para fazer você ser minha. Eu prometo a você,
isso não terá mais volta.

Foi quase demais quando ele passou as pontas dos


dedos entre as minhas pernas, mal tocando todos aqueles
lugares que eu estava morrendo para ele estar.

— Leve-me. — Foi um murmúrio gutural.

Ele saiu da cama, tirou o resto de suas roupas. As


paredes delimitavam a energia. Densa e profunda. Escura
como esse garoto.

Cada centímetro dele era perfeição suave e musculosa, a


tinta gravada em sua pele uma obra de arte, assim como seu
corpo.

Ele atravessou o quarto. A curva definida de seu traseiro


fez minha garganta se fechar e minhas coxas se apertarem.
Desejo oscilava na parte mais baixa do meu estômago.

Seu corpo era impecável.

Requintado.

Ao meu alcance.

Ele pegou uma caixa de preservativos da gaveta da


escrivaninha. Virou-se, carinho visível em seu rosto quando
olhou para mim e se aproximou.

Tenha cuidado comigo.


Ele subiu entre as minhas coxas trêmulas, seus olhos
nunca deixando os meus enquanto cobria seu comprimento
grosso.

Tremores me balançaram como um deslizamento de


terra.

— Você está tremendo — Disse ele, passando as mãos


dos meus joelhos até meus quadris, apertando minha
cintura.

Um sorriso instável saiu dos meus lábios inchados.

— Porque você me faz tremer.

Ele gemeu e se arrastou em cima de mim. Prendendo-


me. Encobrindo e protegendo. Minha segurança. Meu
paraíso.

Ele balançou contra mim. A ponta do seu pênis tocando


minha barriga enquanto sua boca tocava meus lábios.

Arrepios livres e rápidos rolaram pela minha pele.

— E nós estamos apenas começando esta viagem, que


nunca vai ter fim.

Ele beliscou meu queixo. A parte de cima do meu


ombro. O topo do meu seio.

— Eu vou te amar eternamente. Tocar esse corpo todas


as noites. Beijar esses lábios a cada manhã.

Eu caí um pouco mais.

Cada centímetro em chamas, meus nervos zumbindo e


minha frequência cardíaca fora de controle.
Ele seria minha ruína.

Minha completa morte.

Meu caótico e feliz final.

Este menino que finalmente me deixou chegar até a


parte mais profunda de sua alma.

E eu estava deixando-o chegar a minha.

— Faça amor comigo. Por favor.

Austin se moveu, senti um outro tremor de ansiedade,


meu corpo sacudiu com a necessidade reprimida e os antigos
medos. Eu estava tão pronta para esquecê-los. Ele segurou
seu pênis na base, alinhou-se comigo.

Passou apenas a ponta através do meu centro.

Testando. Provocando.

Eu gemia baixinho.

— Sim — E me curvei na cama. Implorando com os


meus dedos agarrados a seus ombros.

Austin empurrou dentro de mim. Nem mesmo um


centímetro. Mas fundo o suficiente para derrubar meus
muros. Profundo o suficiente para enviar uma debandada de
emoção galopante através dos meus sentidos, meu coração
um trovão e meus ouvidos um rugido.

Todos cantando o seu nome.

Amor. Amor. Amor.

Seus dentes cerrados, mostrando sua contenção.


— Você está bem? — Ele falou, e eu forcei meu peito nu
para o seu.

Nossa pele queimando.

O contato perfeito.

Levantei meus quadris.

— Me ame.

Ele respirou fundo e me encheu com um golpe longo e


duro.

Fogo.

Lacrimejei com a intrusão deslumbrante, minha


respiração roubada e meu corpo cheio.

Tão, tão cheio.

Parecia que o garoto estava me tocando em todos os


lugares, levando-me toda.

Dele.

Austin envolveu-me naqueles braços fortes, seu peso em


seus cotovelos, seus dedos no meu cabelo. Ele balançou os
quadris, os impulsos lentos e seguros.

Profundos e exigentes.

Beirando a angústia. Beirando a esperança.

Ele me amou.

Salvou-me.

Adorou-me.

Deu-me prazer.
De novo e de novo.

Mais e mais.

Seu pau ficou mais duro e arranhei suas costas.

A ameaça de euforia absoluta estremeceu pelo meu


corpo. Ele levantou e girou, um aperto por dentro que me fez
voar de novo. Para onde as estrelas encontravam a água.
Onde os mundos se tornavam um.

Onde sombras e luz tornaram-se cor e a escuridão


aumentou.

Onde todo o sentido se perdia, exceto a sensação de que


você era um como algo maior que você.

Um com um amor que me trouxe aqui.

Um que me levantou das profundezas e de alguma


forma me segurou.

Onde eu me afogava em sua escuridão e aquela


tempestade surgia, espalhava-se e derrubava.

Respirei fundo e me apressei para ir de encontro a cada


um de seus impulsos selvagens quando seu ritmo se tornou
desesperado.

Lutei pelo ar que não conseguia encontrar.

Porque cada respiração pertencia a ele.

Escuridão e luz.

Vida e morte. A energia dava voltas, voltas e voltas.

Uma tempestade caindo.

Emaranhada com prazer.


Furiosa.

Implacável.

Austin ofegou e puxou quase completamente para fora,


meu corpo implorando por seu retorno. Ele me penetrou de
novo.

Aquela última fatia de indecisão se rompeu.

Em pedaços.

Luzes piscavam em grande velocidade.

Ofuscante, felicidade total.

Austin rugiu.

Rugiu o meu nome enquanto se contorcia e empurrava,


seu orgasmo e o meu próprio.

Gemi enquanto a beleza se espalhava. Enchendo cada


célula.

Duas almas tomadas pela tempestade sem fim.

Ele caiu em cima de mim, com as mãos inquietas


viajando pelo meu cabelo, o rosto enterrado no meu pescoço.

— Edie, porra. Eu te amo. Nunca vou te machucar. O


que você quiser, eu vou te dar. É seu. Você é minha luz.

Ele baixou a testa na minha, e uma paz intensa caiu


sobre mim quando colocou uma das mãos no meu rosto
enquanto nós dois desejávamos ofegantes o ar inexistente.
Austin respirou fundo, seu coração descontrolado batia no
meu peito. Pressionou seus lábios nos meus, mantendo-os
leves, apenas uma sugestão de um beijo enquanto me
respirava.

Vida.

Seus olhos se fecharam e as palavras inundaram o


quarto, quase aflitas.

— Você sente isso?

— O quê?

— Eu.

Eu acariciei sua testa enrugada.

— Sempre senti você.

Ele exalou, abraçou-me, e nos rolou para ficarmos lado


a lado. Ficamos deitados no meio da cama, enrolados.

— Cante para mim... do jeito que costumava cantar —


Murmurei na calmaria, a culpa implacável que nós dois
sentíamos, esvaindo-se.

Envolvendo-nos em um manto de segurança.

Um cobertor de escuridão.

Austin...

Esse garoto lindamente danificado.

Cantou a minha música.

Luz do fogo.

E eu sabia. Sempre queimaria por ele.


Segurei seu rosto em minhas mãos.

Beijando-a.

Ela estava na ponta dos pés.

Tentando se aproximar.

Do jeito que ela sempre fez.

Porra, eu adorava.

Amava ela parecer não conseguir o suficiente.

Como se não pudesse chegar perto o suficiente. Não


podendo alcançar uma profundidade suficiente. Não podendo
tocar o suficiente.

Eu estava muito ansioso para me oferecer para a tarefa.

Meu peito apertava completamente com a emoção que


tomava conta de mim cada vez que ela estava perto.

Alegria.

Eu podia sentir seu sorriso sob a minha boca.


Droga, eu adorei isso também.

— Eu preciso ir.

— Por quê? — Eu disse com um beicinho. Droga, por


quê? Se esta fosse a sua garota? Você faria beicinho,
também.

Ela riu.

— Hum... há uma coisa chamada trabalho. Você sabe...


paga as contas e o aluguel.

— Há também essa coisa chamada ficar na cama... fazer


amor com a minha garota. O dia todo.

Ela gemeu um som gutural.

— Não me tente.

— Engraçado, porque isso é exatamente o que você faz.


— Minha voz baixa. — Fica me tentando.

— Mmm... bem, por mais tentador que ficar na cama


com você todos os dias seja, eu realmente tenho que ir. A
caixa registradora não funciona sozinha, e não tenho certeza
de que Heidi está qualificada para cuidar da loja sozinha
ainda.

Dei uma risada.

— Tenho certeza de que ela estaria muito disposta a


tentar.

— Ah, eu aposto que ela tentaria.

Edie e eu? Nós tínhamos estado assim durante a maior


parte do último mês. Desde a noite que finalmente a deixei
quebrar a última das minhas paredes. Quando a deixei entrar
no lugar onde nunca deixaria qualquer outra pessoa, e ela
entrou e me deixou entrar.

Confiança.

Dizem que as relações são construídas sobre ela.

E eu estava ainda meio que cambaleando por ela confiar


a mim isso.

Dei outro beijo em sua boca doce.

— Bem. Vá. Mas é melhor você sentir saudades de mim


enquanto estiver fora.

Ela lançou um sorriso para mim por cima do ombro.

— Você sabe que vou.

Inclinando-me com o meu ombro contra a porta, vi-a


balançar seu traseiro perfeito enquanto caminhava até o
carro, porque não podia conseguir o suficiente também,
devolvi seu pequeno aceno quando ela foi embora, sorrindo
como um idiota enquanto me virava.

Assustado pulei um degrau.

— Você tem que estar brincando.

Deak estava sentado à mesa com o tornozelo em seu


joelho oposto, lendo o jornal e bebendo seu café como se ele
tivesse estado lá todo o maldito tempo.

— Sempre tão nervosinho.

Arregalei meus olhos.

— Sempre tão assustador para caralho.


Ele riu para o teto.

— Eu sou muitas coisas, companheiro, mas assustador


não é uma delas. — Ele acenou com a mão sobre si mesmo,
para seu peito nu e pés descalços, um calção seu único
vestuário. — As senhoras amam.

Foi a minha vez de fazer o gesto para mim mesmo.

— Caso você não tenha notado, não sou uma dama.

Ele me deu um sorriso zombeteiro.

— Continue dizendo isso a si mesmo.

Eu balancei a cabeça, lutando contra um sorriso.

— Huh... se eu não fosse mais esperto, diria que parece


que alguém quer ter seu traseiro chutado.

— Vou te pegar qualquer dia, companheiro.

— E você continua dizendo a si mesmo isso, menino


bonito.

— Menino bonito? — Deak zombou, sua voz escorrendo


ofensa. — Digo que estive correndo pelo deserto da Austrália
com cobras e aranhas que te matariam antes de você
perceber desde que eu era uma criança. Nadei com tubarões.
Isto aqui é todo o homem. Nada sobre mim é bonito.

Eu bufei.

— Aposto que você gasta mais tempo na frente de um


espelho de manhã do que Edie e Blaire juntas.

— Dificilmente. Acordar olhando para tudo isso. É uma


triste, triste história para o resto de vocês, babacas.
Rindo, balancei minha cabeça enquanto fui para a
cozinha e me servi uma xícara de café, vaguei de volta e
sentei-me em uma cadeira em frente a Deak.

— Quais são os planos de hoje? Você vai dar aulas?

— Nada. Dia de folga. Jed tem alguma merda agendada


para mim amanhã — Disse ele, folheando as páginas de um
jornal.

— Quem ainda lê um jornal de verdade, afinal? —


Provoquei, levantando meus pés.

— Homens de verdade.

— Certo — Falei. Eu ri sob minha respiração enquanto


tomava um gole, respirando a atmosfera confortável enquanto
balançava para trás.

Relaxei dessa forma por mais tempo, antes de sentir a


mudança de alguma coisa no ar.

Deak acalmou. Sentou-se um pouco mais reto em sua


cadeira. Olhou para mim por cima do papel. Algo que parecia
confusão atravessou sua expressão normalmente casual.

Ele sentou-se para trás, cabeça inclinada enquanto me


olhava.

Desconforto se esvoaçou e disparou em meus nervos.

— O quê?

— Não fala muito sobre si mesmo.

Pisquei.

— O que isso deveria significar?


Ele levantou um ombro, tão calmo quanto poderia estar.

— Apenas me perguntando por que esse cara parece


com você e usa o seu último nome, e eu nunca ouvi uma
coisa sobre ele.

Apreensão correu pela minha espinha.

— Que porra você está falando?

Mas eu já sabia. Quando saí pela primeira vez de LA, a


Sunder não estava do tamanho que esteve nos últimos dois
anos. Quero dizer, eles já tinham feito bastante, venderam
uma tonelada de discos e constantemente tinham seus shows
esgotados, mas o estilo era muito grosseiro, cru e duro para
atrair as massas.

Mas algo mudou no último álbum. As coisas tinham


explodido. Os rostos deles apareceram na TV cada vez mais,
postagens sobre eles apareceram no meu feed do Facebook.
Não sei se foi a canção que Baz fez com Shea que atirou a
Sunder na estratosfera ou se foi apenas porque o último
álbum foi tão foda, o que definitivamente foi.

Brilhante, realmente.

Mas independente dos motivos, eles estavam mais


populares do que nunca agora.

Deak dobrou o jornal ao meio e empurrou através da


mesa.

Estava aberto na seção de entretenimento. No topo do


artigo tinha uma foto preto e branco grande da banda ao vivo
no palco. Ainda assim, a imagem estática conseguiu capturar
a intensidade do show. Ao lado, havia uma imagem em close
de Baz sorrindo, Shea em volta dele, a cabeça apoiada em seu
peito.

Emoção latejava. Dor e respeito. Amor e


arrependimento. E uma tonelada de medo.

Eu não podia deixar de sentir tudo isso quando pensava


no meu irmão mais velho.

Deak apontou para a foto com o dedo indicador, a


cabeça inclinada para o lado.

— Parece familiar?

Passei a mão no meu rosto.

Não.

Nunca dissera a Deak quem eu era. Ele simplesmente


imaginou que eu era uma espécie de errante de cidade em
cidade tocando sua música, um cigano que não conseguia
ficar em lugar algum. Ele não fazia ideia da casa que deixei
para trás.

— Sim, parece familiar.

— Mesmo? — Ele pressionou.

— O que você quer que eu diga, Deak?

— Uh, não sei.... Algo como o por que você não me disse
que o seu irmão mais velho é uma estrela do rock? Poderia
começar por aí.

— Eu não ando exatamente anunciando isso. E se você


não sabia quem ele era, para começar, o que isso importa?
Ele limpou a garganta, fez uma pausa enquanto
vasculhava seus pensamentos.

— Não importa quem ele é, Austin. Não dou a mínima


que ele seja famoso ou qualquer coisa. Pensei que você me
conhecia melhor do isso até agora. Apenas pensei que você
não tinha nenhuma família com quem contar. Que se moveu
tentando encontrar um lugar para chamar de casa e talvez
encontrou aqui. E para que conste, eu conheço a banda, mas
dificilmente sou algum fã que fica procurando fotos e
publicando-as na internet. Desculpe-me por não reconhecer a
conexão.

O último foi puro sarcasmo.

Fiz uma careta para ele que apenas continuou.

— Vocês dois não se dão bem?

— Não é isso... é só... meu passado... é complicado.

Ele riu, mas havia algo escuro nisso.

— É claro que o passado é assim para a maior parte de


nós, companheiro. Não significa que você deva escondê-lo.

Exalei pesadamente.

— Eu... eu não falo sobre isso com ninguém. Nem você.


Nem Damian. Portanto, não há necessidade de ficar ofendido.

Única pessoa a quem confiei isso foi Edie.

— Tudo certo. Entendi. Respeito isso. — Ele cutucou o


papel mais perto. — Mas você pode querer dar uma olhada
nisso.
Levantando-se, ele caminhou pelo corredor, dando-me
privacidade e uma sensação incômoda de pavor.

Fiz o meu melhor para não ler a legenda no topo do


artigo, mas não houve como ignorar as palavras. Meu peito
apertou.

Separação da Sunder?

1. Quebrar em duas ou mais peças ou partes; cortar

2. Forçar ou manter separado

3. Formar uma barreira ou fronteira entre

Cautelosamente, puxei o artigo mais perto, engoli o nó


surgindo na minha garganta quando comecei a ler.

Quanto tempo até a Sunder fazer jus ao seu nome?

Los Angeles chamou a Sunder de volta para ela


novamente.

Na semana passada, a Sunder cancelou um show


agendado em Denver, poucas horas antes do cair da cortina
devido a uma emergência imprevista.

Sebastian Stone, o vocalista e membro fundador, foi visto


horas depois correndo para uma sala de emergência de Los
Angeles.

Foi anunciado na manhã seguinte que os últimos três


shows da turnê norte-americana seriam remarcados.

Uma fonte não revelada disse:

— Baz está fazendo o que é certo para ele e sua família...


e isso é estar lá para eles quando precisam dele.
As coisas pareciam mudar para a banda problemática
quando sua música, Forever, com Shea Stone, atingiu o topo
das paradas há dois anos. Desde então, fontes próximas à
banda dizem que Stone voltou sua atenção para longe da
banda e manteve o foco em sua família crescente.

Sebastian e Shea Stone se casaram três anos antes.


Shea, que já tinha uma filha antes de Stone entrar em cena,
deu à luz ao filho do casal, Connor, há dois anos.

O guitarrista Lyrik West disse recentemente:

— A família sempre virá em primeiro lugar para nós. Quer


se trate de nosso apoio um ao outro ou as nossas famílias em
crescimento. Essa é apenas a maneira que tem que ser.

West recentemente se casou, este ano. Ele e sua esposa


estão esperando o primeiro filho para este inverno.

Um comunicado do baixista Ash Evans conflitou com os


demais.

— Nascemos para fazer música. Simples assim. O resto?


Rumores ou realidade? Realmente não importa. A Sunder não
vai a lugar nenhum.

Pode a Sunder sobreviver a outra crise?

Ou será que o velho ditado permanecerá fiel?

O que sobe tem que descer.

Venha para casa.

Venha para casa.

O pedido de Baz girou ao meu redor.


Empurrando e puxando.

Atraindo e repelindo.

Eu só não sabia se eu poderia.


— Já saí do trabalho. Por que não pego alguma coisa e
levo para a sua casa? Nós podemos ter um jantar agradável.
Apenas nós dois.

Dou um suspiro grato enquanto ouço a promessa


tranquila da oferta de Edie, o som de seu pequeno carro
acelerando é o único som em segundo plano.

Ela sabia o quão difícil era hoje.

Claro que ela sabia.

— Eu realmente gostaria disso.

Quase podia ouvir seu sorriso.

— Está bem então. Dê-me cerca de vinte minutos e eu


chego.

Eu hesitei. Um silêncio pairou suspenso em torno de


nós, cheio de todas as coisas silenciadas que gritavam para
serem ditas.

— Obrigado — Finalmente, murmurei.


Sua voz suavizou daquele adorador, solidário jeito.

— Isso é o que fazemos, Austin. Somos solidários um


com o outro. Entendemos um ao outro.

— Sim — Era a única resposta que poderia dar antes de


desligar a chamada. Pressionei minhas mãos na bancada da
cozinha, deixando cair a cabeça. Respirei profundamente,
lutando para manter o pânico controlado.

Porra.

Eu odiava hoje. Odiava tão fortemente quanto tentava


ignorar sua existência.

Deak entrou. Completamente alheio a minha agitação.


Ele me deu um tapinha nas costas.

— Como vai, companheiro? Clay acabou de ligar. Vou


sair para encontrá-lo para tomar uma cerveja. Você e Dam
querem participar?

Olhei para ele.

— Não, cara. Edie está a caminho. Trazendo o jantar.

Uma carranca surgiu na testa dele quando ele viu meu


rosto.

— Você está bem? Parece um pouco doente.

Engoli o gosto amargo na boca.

— Sim. Tudo está bem.

Grande mentira.

Porque cada vez que pensava que estava ficando livre,


solto das correntes, elas apenas me apertavam mais.
Mas o que eu esperava?

Todos os anos, pareceram-me atingir mais forte do que o


último.

— Tudo bem então. Dê-me uma ligada, se você mudar


de ideia.

— Certo.

A porta bateu atrás de Deak, deixando-me no silêncio.

Isso e o toque estridente do meu celular vibrando no


meu bolso.

Eu fiquei tenso.

É estranho como às vezes você apenas sabe. Poderia ter


sido tão facilmente a ligação da minha garota. O som de
conforto.

Mas eu sabia.

Sabia no fundo do meu intestino que era exatamente o


mesmo som de pedágio da morte.

Tirei ele do meu bolso, segurei na minha mão.

Baz.

Trêmulo, exalei o ar dos meus pulmões, tentado a


rejeitar a chamada e enviá-la para o correio de voz. Mas eu
estava muito cansado de fugir dessa merda. Atendi e coloquei
na minha orelha.

— Ei — Disse.

Incerteza queimava através da linha. Finalmente, sua


voz veio apertada e abafada.
— Feliz aniversário, irmãozinho.

Meus olhos se fecharam de repente. Como se isso


pudesse bloquear.

— Baz... nós não fazemos essa porra esse dia. Você sabe
disso.

— Acho que é hora de fazermos.

— Deus... Por que você continua fazendo isso? Forçando


e forçando. Pedi espaço. Tempo.

Sem dúvida, Baz estava lidando com sua própria merda.


Machucado. Pela primeira vez, talvez, precisando de mim.
Mas isso... isso era demais. Muito grande. Muito pesado.

— Estou fazendo isso porque me importo com você,


Austin. Porque é hora de você realmente viver. Hora de você
voltar para casa. E não com a cabeça caída entre os ombros,
mas sim com ela erguida.

— Droga, Baz. Você está me pedindo muito.

Em cima de tudo isso, ele não sabia nada sobre Edie.


Sobre o fato de que encontrei a vida. E o último lugar que ela
queria estar era de volta ao meio de toda aquela confusão.

Parecia que eu era rasgado em um milhão de direções


diferentes. Minha necessidade de compensar toda a dor que
causei ao meu irmão. Sabendo que ele estava em apuros.
Amarrado à sua própria maneira.

Minha punição... minha dívida com Julian.

Minha devoção à Edie que duraria para sempre.


Tudo misturado com as brasas da fogueira que sentia
cintilando ao meu redor cada vez que estava nos bastidores
de um show da Sunder. A queimadura lenta que doía para
ser uma parte do que eles eram.

— E você não está se dando crédito o suficiente. Você é


o único que está se vendendo barato.

— Tenho que ir — Disse a ele, terminando a ligação,


porque não poderia lidar com mais um segundo. Foi tudo
muito. O peso caindo.

Hoje não.

Hoje não.

Sem sequer pensar sobre isso, peguei uma garrafa do


armário e me dirigi para o meu quarto. Voei de volta para
fora, pelo corredor, e pela parte de trás, uma das mãos
segurando o gargalo da garrafa de Jack, a outra segurando o
maldito macaco.

Meus passos eram pesados enquanto eu seguia o


caminho desgastado até a praia deserta. A noite arrastava-se
nos céus, um punhado de estrelas espalhadas por toda parte.

Afundei minhas costas na areia fria e úmida, mais perto


da água do que jamais me atrevi a ir. Ainda assim, não perto
o suficiente para tocar. Ondas rolavam e caiam, subindo
apenas a dois passos de distância, antes de cair de volta ao
oceano.

Olhei para a quantidade interminável de estrelas.


Perguntei-me se ele estava lá em cima ou debaixo do
mar.

Agarrei o macaco contra o meu peito, e aquele vazio


latejava.

— Eu sinto muito, Julian. — Saiu de algum lugar dentro


da minha alma.

Sem me sentar, tomei um gole de Jack. O fluido veio


como um choque nos meus sentidos. Queimou na minha
garganta e bateu no meu estômago como um soco. Um pouco
vazando pelo lado da minha boca.

Bati a palma da minha mão na areia molhada.

Tomei outro gole. Em seguida, outro.

— Porra, eu sinto muito, — Murmurei, esfregando meu


rosto enquanto o álcool fluía pelas minhas veias e o vento
uivava com aquela presença surgindo — Estou tão
arrependido.

Meu coração quase ficou confuso quando senti uma


segunda presença sobre mim. Conforto e apoio. A sombra
dela caiu sobre meu rosto e sua silhueta apareceu.

Balancei minha cabeça para trás, olhando-a acima de


mim.

Minha graça salvadora.

Seu sorriso era suave e cheio de simpatia.

— Eu pensei que poderia encontrá-lo aqui fora.


Sentei-me, tomei outro gole. Não havia como disfarçar o
desgosto no meu tom.

— Previsível, hein?

Ela sentou-se na areia ao meu lado e puxou os joelhos


contra o peito. Olhou para a escuridão aparecendo, e então
para mim.

— Não, Austin. Acho que é completamente natural. Este


é o lugar onde você se sente mais próximo dele.

Não conseguia evitar o temor se formando na minha


boca. Esta garota. Estendi a mão e toquei a curva suave de
seu rosto. Não sabia se foi Edie ou o álcool que derrubou as
minhas reservas, mas as palavras saíram livremente.

— Sabe o que mais me assusta, Edie?

Ela apenas olhou para mim com a cabeça inclinada.


Esperando. Paciente e pura.

— Assusta-me que quando estou com você... não fico


tão mal. Que quando você está perto, o vazio não fica
profundo.

Ela mordeu o lábio inferior, hesitante.

— E você acha que essa sensação de alguma maneira é


injusta com ele?

Dei-lhe o menor aceno de cabeça, minha mão apertando


sua bochecha.

— Mata-me começar a sentir isso, e ele nunca sentirá.


Mata-me que eu tenha tirado isso dele. Roubado dele quem
quer que sua esposa fosse ser. Quem quer que seus filhos
seriam.

Ela se contraiu desconfortavelmente, pegou a garrafa,


inclinou-a e tomou um gole. Devagar, com cuidado, Edie
começou a falar.

— Eu acordo todas as manhãs e desejo poder voltar no


tempo e mudar isso. Apagar um erro que deu início a tudo.

Ela olhou para mim. Sua expressão me torceu como


uma faca. Exposto com a dor que eu daria qualquer coisa
para livrá-la.

— Mas sei que tenho que agradecer a Deus pelas


pequenas coisas. As coisas que nos são tão facilmente dadas.
As coisas bobas que me fazem rir. As flores que desabrocham
na parte da manhã. Os flashes de esperança quando tenho
um dia especialmente difícil.

Ela respirou devagar.

— E então me é dado algo tão maravilhoso que eu mal


posso entender como. Me é dado você. E sei que apesar... de
toda a depressão e desesperança... há grandes coisas lá fora,
apenas esperando que nós saiamos do desespero.

— Edie. — O nome dela fluiu da minha língua e meus


dedos teceram mais profundamente naquelas mechas
brancas brilhantes, até que eu estava segurando todo o lado
de sua cabeça. Puxei-a para mim. Minha boca caiu sobre a
dela.

Seus lábios tão macios.


Sua língua tão doce.

Luz.

Minha cabeça girava e meu intestino apertava, meus


pensamentos nebulosos, mas minhas intenções claras.

— Eu preciso de você.

— Você me tem — Ela gemeu enquanto me movia,


arrastando-me sobre seu corpo e empurrando-a de costas na
areia.

Ela passou as mãos pelo meu peito, e afundei,


pressionando os dela, meu coração batendo freneticamente,
tum, tum em seu pulso.

Ou talvez fosse o meu.

Trovejando.

Beijei-a selvagemente, essa menina que me entendia da


maneira que ninguém mais poderia.

Aquela que foi feita para mim.

A luz no meio da sombria tempestade.

O telefone dela tocou em seu bolso de trás. Em seguida,


tocou novamente.

— Deixe-me desligar isso — Ela murmurou, e eu mal me


movi para dar-lhe espaço suficiente para tirá-lo de lá. Edie
tocou em toda a tela.

Eu sabia que ela queria esconder isso. O puro pânico


que tomou conta de seu rosto. Tentando contê-lo, mas estava
claro.
Ela se atrapalhou e rapidamente tentou desligar o
telefone.

Puxei-o de sua mão.

— Não esconda isso, Edie.

Sentei-me de joelhos, a visão embaçada enquanto eu


lutava para me concentrar nas palavras.

Puta. Esconder esse tipo de segredo de mim, em seguida,


sair e foder com a minha vida?

Você me deve.

Raiva.

Ela borbulhou através de meus sentidos como um


relâmpago. Esmaguei o telefone na minha mão.

Medo nublou aquelas características brilhantes, suas


palavras foram trêmulas com turbulência.

— Eu não entendo por que ele não me deixa em paz. Eu


só quero que ele me deixe em paz.

Eu tropecei ficando de pé. Meu corpo balançava. Fui


atingido com uma onda de tontura, minha cabeça confusa.

— Caralho. — Eu passei uma mão sobre meu rosto. —


Eu não vou deixá-lo fazer isso, Edie. Não vou deixar. Vou
consertar isso. Eu prometo, vou consertar isso.

Edie ficou de pé.

— Não é seu problema para consertar, Austin.

Comecei a voltar para a casa. Piscando. Tentando limpar


meus pensamentos. Edie estava logo atrás de mim.
Quando cheguei à varanda, andei e passei a mão no
meu cabelo.

— É minha culpa, Edie, a culpa é minha.

Ela só não fazia ideia que era. Que eu era o único que
tinha que fazer isso direito. Eu tive que acabar com isso.

— Não, não é — Proferiu com toda aquela crença. — Eu


vou.... vou ligar para ele. Falar com ele. Dizer que acabou e
para ele apenas me deixar em paz.

— Não. Eu não quero que você fale com ele nunca mais.
Nem o veja. Nunca mais. — Virei-me, empurrei-a contra a
parede de fora. Murmurei as palavras entre beijos frenéticos.
— Ele não pode ter você, Edie. Eu não vou deixá-lo ter você.

E a apalpei, desesperado para trazê-la para mais perto.

— Eu preciso de você... preciso de você ... preciso de


você.

Resmunguei, beijando-a mais duramente.

Profundamente

Precisava de mais.

Minha cabeça girava, e puxei o botão do seu short,


desesperado enquanto os empurrava para baixo, tirando sua
roupa de baixo com ele.

Atrapalhei-me com o meu zíper.

Impaciente.

— Eu preciso de você — Exigi novamente.


Edie estava me tocando em todos os lugares, as mãos
tão frenéticas quanto as minhas. Enchendo-me com toda a
sua crença.

Ela engasgou quando de repente levantei-a de seus pés


e a prendi à parede.

Enchi-a em um impulso possessivo.

— Austin.

O mundo girou e engasguei com o alívio absoluto que


sentia ao estar dentro desta garota.

Eu a peguei dura e rapidamente.

Precisando apagar toda a merda que ameaçava ficar


entre nós. Precisando trazê-la para mais perto. Segurá-la e
protegê-la. Nunca deixá-la ir.

Meu orgasmo me atingiu de algum lugar. Muito intenso.


Ofuscante. Meus ouvidos zumbiram e gritei o nome dela.

Através dele, eu mal podia ouvir seus gritos. Mas eles


estavam lá, caindo contra meus sentidos como uma
reverberação lenta.

— Espere, espere.

Espere.

Eu puxei para fora, meus olhos arregalados de choque


quando meu corpo continuava a empurrar e ter espasmos,
sêmen jorrando por toda a sua barriga.

Mas foi o fato de que estava escorrendo por sua coxa


que me balançou e me deixou sóbrio.
Eu poderia muito bem ter passado uma lâmina através
das partes quebradas de seu coração terno.

Porque vi tudo se desenrolar como se estivesse em


câmera lenta.

Fragmentando.

Estilhaçando.

A traição congelou o rosto com horror. Sua boca e olhos


bem abertos enquanto seu corpo cambaleava para trás.

Ela tinha uma consulta na próxima semana para fazer


um check-up e pegar uma receita de pílulas.

Quero dizer, nós conseguimos vencer uma parte disso.


Seus medos e reservas. Foi um grande negócio, porra. Parte
dela confiando em mim.

O que eu fiz?

Ela começou a tremer. Descontrolada.

— Não, não, não.

Frenética, ela pegou sua calcinha e fechou seu short,


tentando me esfregar para longe de seu corpo.

Limpando-se da minha mancha.

— Não.

Aquela palavra? Foi muito tranquila. Torturada. Um eco


de antigas, antigas feridas que foram abertas de novo.

— Edie. — Toquei seu ombro.

Ela empurrou, mas eu sabia que não estava me vendo.


— Não me toque. — Seu apelo foi afogado em lágrimas, e
ela se atrapalhou com seus shorts. Sua mão disparou para
evitar cair.

Ela cambaleou para dentro da casa.

Desorientada.

Ela olhou em volta. Perdida. Deu uma guinada em


direção à mesa onde deixou as sacolas e pegou as chaves.

Ela não olhou para trás quando saiu correndo pela


porta da frente para o seu carro.

Eu estava logo atrás dela, meus apelos frenéticos e


derramando-se.

— Edie, querida, eu sinto muito. Pare... por favor pare.


Escute-me.

Ela escancarou a porta do carro. Ignorando-me quando


tentei agarrar o braço dela.

— Não me toque — Ela murmurou novamente.

— Não é o mesmo. Não é o mesmo. Por favor, escute-me.

Ela ligou o carro e saiu da garagem, começou a se mover


comigo ainda de pé na porta aberta.

Pulei para trás quando ela acelerou. A porta se fechou e


ela desviou quando chegou na rua.

— Caralho. — Eu gritei.

Tenha cuidado comigo.

Essa foi a única coisa que ela pediu.

Ela me deu todo o resto.


Corri para dentro e peguei minhas chaves, corri de volta
para fora, tentando ligar minha caminhonete. O motor pegou,
e acelerei.

Quando cheguei à casa de Edie, ela já estava


estacionando seu carro na calçada e tropeçando para fora.

O rosto que eu adorava estava manchada e vermelho,


encharcado de lágrimas.

A porta da frente se abriu e Jed saiu correndo.

Voei para fora da minha caminhonete no exato momento


que Edie caiu nos braços dele.

Soluçando.

Corri para ela. Ela gemeu ao sentir minhas mãos em seu


braço nu.

— Não me toque. Deixe-me em paz. Por favor. Deixe-me


em paz.

Jed a virou e então não podia chegar até ela,


protegendo-a do jeito que eu deveria fazer.

Blaire de repente estava lá.

— Edie... oh meu Deus... Edie.

Blaire a pegou e Jed soltou. Edie enterrou a cabeça no


peito de Blaire.

Chorando muito.

— Peguei você, querida — Disse Blaire, silenciando-a.


Blaire olhou para mim enquanto levava Edie em direção à
porta.
Eu fui atrás deles.

Jed empurrou meu peito. Forte. Eu fui afastado.


Equilibrei-me antes de cair.

Não importava. Voei de volta, empurrando.

Pronto para uma luta.

Para lutar por ela.

Não podia deixá-la ir.

Não faria isso.

— Não é o mesmo, Edie — Eu me ouvi gritar.


Implorando. — Não é o mesmo. Não faça isso. Eu te amo. Por
favor. Edie... porra... por favor. Escute-me.

Eu te amo.

Jed entrou na minha frente.

— Eu te avisei que se você a machucasse, eu estaria


vindo para você.

Toda a minha atenção estava na porta, os sons vindo de


dentro. Eu me inclinei naquela direção.

— Eu preciso...

Ele me empurrou novamente.

— A única coisa que você precisa fazer é dar o fora


daqui. Ouça-a. Ela lhe disse para não a tocar. Para deixá-la
sozinha. E isso é exatamente o que você vai fazer.

Tenha cuidado comigo.

Eu tropecei para trás.


Ofegante.

Eu podia sentir meu mundo desabar ao redor de mim.

Eu não podia suportar aquilo.

Ódio bateu nas minhas veias.

Porque aquilo era eu.

Sempre pegando as coisas boas que me eram dadas e


esmagando-as em minhas mãos.

Eu sempre fodi tudo.

Machuquei aqueles que significavam algo mais para


mim.

Mas se fosse a última coisa que eu faria? Eu deixaria


Edie livre. Libertaria das correntes que ainda a mantinham
presa. Iria protegê-la daquele maldito para que pudesse viver.

Apenas uma vez.

Apenas uma vez.

Eu faria algo certo.


— Edie... fique calma... acalme-se.

Blaire passou os dedos pelo meu cabelo, empurrando


minha cabeça para trás quando fez isso. Forçando-me a olhar
para ela e para a preocupação inundando sua expressão.

— Shh. Está tudo bem. Acalme-se. Acalme-se, certo?


Respire fundo.

Eu tentei, mas minha garganta estava muito seca e


meus pulmões estavam muito apertados. Chiei em torno de
outro tremor que sacudiu através de mim e meu peito arfou.

— Como ele pôde? — Respirei fundo.

Como pôde?

Ele prometeu. Ele prometeu.

Blaire agarrou meu rosto.

— Ele te machucou, Edie? Você precisa me dizer se ele


te machucou.
— Sim... — Outro chiado, e então balancei a cabeça.
Tentando entender o que tinha acontecido nos últimos quinze
minutos. — Não... não gosto disso.

Como se tivéssemos chegado tão alto e de repente caído


tanto?

Austin.

Eu doía por dentro, e queria sair para onde ele estava


gritando para mim e jurando que não era o mesmo. Eu queria
correr para ele.

Queria acreditar.

Não sabia como processar isso. Como separar as duas


coisas.

Em vez disso chorei de cabeça baixa, meus ouvidos


cheios com o tom áspero da voz de Jed e do pânico de Austin.
Caí de joelhos quando ouvi o rugido de sua caminhonete sair
para a rua.

— Austin. — O nome dele saiu de mim como uma


avalanche de tristeza.

Blaire ficou de joelhos na minha frente, alisando meu


cabelo bagunçado.

— O que aconteceu?

Jed ardia por dentro. Agressividade e raiva.

— O que aquele filho da puta fez com você? Eu vou


matá-lo, Edie. Juro por Deus. Eu sabia.... Eu sabia disso,
porra.
Respirei fundo.

— Jed... pare. — Blaire lançou-lhe um olhar de


advertência. — Você não está ajudando em nada.

Passos pesados bateram quando ele se aproximou. As


botas de Jed entraram na minha visão onde eu chorava em
direção ao chão.

— O que ele fez com você, Edie? Conte-me.

Blaire continuou alisando meu cabelo enquanto a antiga


turbulência surgia e quebrava em cima de mim.

Onda após onda.

Todos os meus medos.

Todas as minhas inseguranças.

As esperanças roubadas.

As coisas que Austin me fez querer.

Apenas as necessidades e desejos que Austin inspirou


em mim acionando todos os medos novamente. Senti-me
consumida pela perda. Era o tipo de perda que não acho que
poderia sobreviver novamente.

Então, fugi da possibilidade.

Levantando paredes em volta de mim na esperança de


que isso iria proteger meu coração danificado de ser
completamente destruído.

Esta era a mesma coisa que havia mantido as barreiras


entre Austin e eu todos aqueles anos atrás. O que me encheu
de medo quando o encontrei pela primeira vez aqui. O que
encheu o seu toque com cuidado enquanto eu lentamente
sucumbia ao que sempre se passou entre nós.

Tudo isso porque eu estava com medo de passar por


algo tão horrível novamente.

Só que acabei de perder tudo de novo porque perder


Austin machucava tanto quanto.

Diferente.

Ainda assim, foi o suficiente para me esviscerar. Rasgar


minhas entranhas em pedaços.

Austin.

Será que eu sempre permitiria que ele ditasse quem eu


era? Quem eu seria?

Abaixei-me até o chão. Abracei meus joelhos no meu


peito. Através de olhos turvos, olhei para os meus amigos.
Aqueles que me tiraram do fundo do poço.

— Eu... — Isso quebrou na minha garganta, e apertei


meus joelhos com mais força, como se pudesse preencher o
vazio latejante em meu peito. — Eu... quando tinha quatorze
anos eu...
Edie olhou a fita que tirou de dentro da caixa do exame.

Suor pontilhou suas têmporas e rolou pelo lado de seu


pescoço.

Náuseas surgiram.

Uma onda de tontura, e sua mão disparou para apoiar-


se sobre o balcão para evitar a queda. Ela baixou a cabeça e
lutou contra a bile que subia até sua garganta. Ela lutou
mais duramente contra a sua consciência de que ficou fora
de alcance.

Flutuando em torno de sua mente e brincando nos


limites.

Seis semanas atrás, ela chegava em casa daquela festa e


forçava-se em um banho quente escaldante. Edie tinha se
esfregado até que sua pele estava irritada e vermelha. Até que
já não podia sentir o cheiro nauseante, o fedor composto de
sexo, homem e sua própria estupidez.

Ela saiu do chuveiro, uma toalha enrolada em volta do


corpo tremendo, e olhou para seu reflexo assombrado no
espelho.

Ela se sentiu tão estúpida e ingênua. Usada e suja.

Nunca mais.

De pé lá, ela prometeu a si mesma que nunca iria


acontecer novamente. Ela nunca permitiria que outro homem
a usasse daquela forma. Nenhum homem jamais voltaria a
tocá-la sem que desejasse ou a encheria com medo e pavor.

Ela prometeu a si mesma que uma lição foi aprendida,


mas uma ação não foi esquecida.

Um erro.

Um que estava deixando no passado.

Agora gotas de suor se reuniram como doença e


passavam pela sua pele.

Náuseas rodando.

Ela se abaixou e caiu de joelhos no chão do banheiro


um segundo antes que purgasse seu desespero no banheiro.

— Não. Não. Não. — Ela se agarrou ao vaso sanitário e


fez uma oração. — Por favor, não.
Com os pés trêmulos, Edie saiu do ônibus. Ela deu um
passo para dentro do bairro, para onde nunca quis voltar. O
ônibus acelerou. Ela prendeu a respiração quando uma
espessa camada de fumaça de óleo diesel negra girava pelo
ar.

Borboletas revoavam em sua barriga.

Mas não do tipo bom.

Estas batiam e chicoteavam espalhando o medo, e ela


respirou fundo, com as mãos em punhos, enroladas,
abraçando o próprio peito e se forçando a se mover na direção
a casa que ela escapou oito semanas antes no meio da noite.

Ela não tinha outras opções ou escolhas, além de vir


aqui.

Você não tem que ter medo. Você consegue fazer isso.
Você consegue fazer isso.

Isso deixou sua boca como um canto sussurrado


enquanto ela seguia as placas de rua, em direção ao norte,
entrando mais em um bairro desgastado onde as casas
estavam em ruínas, decadentes e de má qualidade.

Alguém buzinou enquanto passava por ela, gritando


obscenidades, e Edie se encolheu, ombros levantados para
seus ouvidos como se isso pudesse protegê-la do destino
desconhecido espreitando à distância.

Ela respirou forçando seus pulmões quando parou na


porta da casa.
Parecia tão diferente durante o dia do que naquela noite,
quando tudo não pareceu nada mais que um borrão.

Uma cerca de arame baixa bloqueava a propriedade.

Dentro, uma pequena casa resistia e estava escondida e


encoberta em uma confusão de árvores e arbustos. O lixo se
espalhava pelo lugar, e um carro quebrado estava parado na
frente com a carroceria removida, deteriorando-se no tempo.

Você consegue fazer isso.

Ela repetiu para si mesma, realmente não tendo ideia do


que estava realmente fazendo ou qual resultado esperava.

Uma bola de medo revirou-se em seu estômago já


inquieto quando pensou no que a estava esperando lá dentro.

Mas ela tinha feito isso, e precisava de ajuda. Ela tinha


a quem recorrer.

Então, ela avançou, não retardando ou parando antes


de bater na porta.

Aquela súbita explosão de coragem murchou quando a


porta se escancarou.

Ele ficou lá com um sorriso lascivo surgindo em um lado


da boca, seu ombro inclinou-se no batente.

— Bem, bem, bem. Parece que alguém voltou para mais.


Não foi tão ruim, afinal?

Ela balançou, torcendo os dedos.

— Não... não é isso...


Aquele sorriso se transformou em um sorriso de
escárnio.

— Então, o que diabos você está fazendo aqui?


Tínhamos um acordo. Eu disse ao seu irmão que você estava
se sentindo mal e você foi embora sem ele ter que saber a
puta gostosa que é. Nenhum dano. Nenhum desacordo. Agora
é com você finalizar o negócio.

Nenhum dano, nenhum desacordo?

O mundo dela girou com toda o desacordo.

— Preciso da sua ajuda.

Um riso zombeteiro retumbou da boca dele.

— Como é?

— Estou grávida.

Ele congelou, antes de sacudir a cabeça.

— E o que isso tem a ver comigo?

A testa dela franziu inconscientemente, enquanto


tentava processar o que ele estava querendo dizer.

— Eu... nós…

A risada dele foi dura.

— Prostitutazinhas como você...sempre jogando o


mesmo maldito jogo. Fingindo que nós colocamos vocês em
apuros para tirar de nós um dólar ou dois. Não pense que
você é a primeira pessoa que veio bater na minha porta.
Quantos outros caras você ficou?
— Outros caras? — A cabeça dela balançou. — Foi só
você.

Ele bufou para o céu.

— Certo.

— Eu juro para você. — Isso saiu um choro suplicante.


— Por favor, eu preciso que você me ajude.

Ele sacudiu a cabeça com nojo, e praguejou baixinho,


abriu completamente a porta, desaparecendo dentro.

As entranhas dela estavam em nós enquanto esperava, e


ficou apreensiva quando ele reapareceu.

Ele agarrou-a pelo pulso, apertou-lhe a mão aberta,


forçou-lhe um rolo de dinheiro na palma da mão.

— Trezentos dólares. Três centenas de dólares a mais do


que você vale a pena. Mas, às vezes você tem que pagar a
vadia.

Confusão nublou tudo enquanto a porta bateu em seu


rosto.

Edie levantou a mão, olhando para o dinheiro.

Trezentos dólares.

Deus.

Ela balançou a cabeça, lutando mais contra as lágrimas


que já estava lutando a dias.

Ela era tão estúpida. Foi só então que finalmente


entendeu o que ele pensava que ela queria.
Ela fechou bem os olhos, como se pudesse bloquear
isso.

Então, justamente como a menina ingênua que ela sabia


que era, virou-se e correu.

Chuva caia na janela, gotas grandes e largas que se


agrupavam e desciam pelo vidro abaixo. Edie olhou para fora
dela, para a paisagem verde de sua nova casa em Ohio, com a
mão em sua barriga que mal começara a aparecer.

Seu segredo.

Sua vida.

Um sorriso terno ameaçou vir de sua boca, tudo acabou


com o medo.

O medo de ficar completamente fora de controle.

O medo do futuro.

O medo de destino.

Ela sabia o que viria. Seria uma tola se pensasse que


não viria mais cedo ou mais tarde.

O suspiro de sua mãe a fez deslocar sua atenção para o


lado. A mãe estendeu a mão e agarrou-se a ambos os lados
do portal para não cair.

— Edie... querida... o que você fez?


Sua mãe segurou-a no colchão, enquanto Edie soluçava,
balançando-se como uma criança balançava.

— Está tudo bem, querida, é o melhor. É o melhor. Você


tem a vida inteira pela frente. Você vai me agradecer mais
tarde. Eu prometo, você vai me agradecer mais tarde.

— Não, mamãe, não.

Sua mãe deu um beijo em sua testa.

— É tão difícil de ver o futuro, Edie. Nós não


percebemos o quão grande ele é estendido a nossa frente,
quando tudo o que podemos ver é o aqui e agora. Mas eu
posso ver o seu. Eu sempre pude ver. Os sonhos que tive
para você. Todas as oportunidades que você pode ter. As
coisas incríveis que pode conseguir. Quem você pode se
tornar.

Mas Edie viu imagens do futuro que se desdobrava na


frente dela. Como relances do que poderia ser.

Só que esses relances. Esses relances pareciam tão


diferentes do que o que sua mãe algum dia poderia imaginar.

Edie se enrolou em uma bola mais apertada. A noite


pressionado por todos os lados. Seus joelhos estavam
dobrados em torno de sua barriga redonda, tão apertado
quanto ela conseguia, mas não tão apertado como os braços.

Ela chutou, e lágrimas desceram livres. Emoção


esmagadoras inundaram-a.
Alegria e tristeza. Alegria e tristeza.

Atingiam-na por todos os lados. Agarrando-a por baixo e


enterrando-a por cima.

Ela não deveria amar. Não assim. Mas ela amava. Deus,
ela amava.

Edie gemeu, a cabeça pressionada contra o travesseiro.


Seu rosto erguido para o teto enquanto ela dava um grito
torturado, a mão de sua mãe apertando a dela quase tão
ferozmente quanto ela apertava de volta.

— Você consegue, Edie. Mais um empurrão. Mais um


empurrão e está tudo feito.

Feito.

Edie não queria fazer.

Ela queria se segurar. Mantê-la onde poderia segurá-la.


Onde ela poderia protegê-la e amá-la.

— Não. — Foi um grito rouco e quebrado, sua cabeça


frenética enquanto ela balançava para frente e para trás.

Mas não havia nada que pudesse fazer, os seus instintos


prevaleceram, e ela deu à luz, seus dentes cerrados.

Ela empurrou.

E tudo ficou em silêncio.

Seu coração parou quando o mundo inteiro congelou.

Um pequeno grito quebrou.


Um minúsculo corpo perfeito.

O coração de Edie disparou.

Amor. Amor. Amor.

Engoliu-a, inundou e derrubou.

Rapidamente, Edie se sentou, estendendo as mãos.


Desesperadamente se atirando para a criança.

— Por favor — Ela choramingou.

E ela estava lá, colocada nos braços de Edie, enrolada


em um pequeno cobertor branco, um gorro azul e rosa na
cabeça.

Lábios vermelhos.

Olhos inchados.

Ela tinha os olhos do cinza mais azul.

A mãe de Edie olhou para baixo, e lágrimas molhavam


seu rosto.

— Está na hora.

Edie a segurou contra o peito.

— Não... eu mudei de ideia. Eu mudei de ideia.

Sua mãe balançou a cabeça.

— Não faça isso, Edie. Por favor, não torne isso mais
difícil do que já é.

A enfermeira pegou a criança, e Edie segurou-a mais


perto.

— Não... não... eu mudei de ideia.


Ninguém ouviu. Mãos a levaram para longe.

A voz de sua mãe estava em sua testa, uma mão em seu


cabelo como se pudesse acalmar e aliviar.

— Você vai me agradecer mais tarde. Eu prometo,


querida, eu prometo. Logo, você vai esquecer.

Edie viu quando a porta se fechou atrás delas, sua


respiração ofegante e estrangulada, seu cabelo emaranhado e
preso ao seu rosto.

Cada centímetro dela doía.

Rasgado.

Edie gritou.

Gritou para os céus.

— Espere. Por favor, espere.

E esse espaço vazio.

Só ecoou de volta.

Perda. Perda. Perda.

— Não — Ela chorou. — Não.

E Edie prometeu.

Prometeu que nunca mais seria deixada sem uma


escolha. Prometeu que nenhum homem jamais iria tocá-la
novamente.

Edie se forçou a ficar de pé. A se mover. A sair de casa.


Cada passo parecia como se exigisse um grande esforço,
e sua próxima respiração parecia como se nunca pudesse vir.

Dias, semanas e meses foram gastos tentando


convencer a si mesma de que foi a escolha certa. Que ela
estaria segura, amada e cuidada da forma como deveria
estar.

A cabeça de Edie sabia disso.

Ela só não sabia como convencer seu coração.

Apenas doía tanto. Uma angústia paralisante que nunca


parecia diminuir.

Então, ela procurou por sua filha, no rosto de cada bebê


que passava, em cada choro que ecoava pelo ar, o passar dos
anos que não apagou o vazio ou a tristeza.

Edie se fechou. Bloqueou seu coração e seu espírito.


Deixou-se ficar mais velha estagnada e obsoleta.

Porque ela não conseguiria passar por isso novamente.


Não podia arriscar perder aquele tipo de amor.

Nunca mais.

Ela se arrastou ao longo dos dias e anos e se permitiu


chorar à noite.

A porta se abriu, deixando entrar um raio de luz


silencioso. Ela ficou tensa enquanto passos ecoaram.
Engasgou em uma respiração assustada quando dedos
calmantes alcançaram seu cabelo.

— Shh... eu tenho você.


E, pela primeira vez, o medo não veio, e quando ele se
arrastou pela cama ao lado dela, ela não se sentiu tão vazia.

O menino com olhos como os dela.

Assombrados.

Perdidos.

Ele envolveu-a em seus braços. Braços ternos que


seguravam aquele corpo trêmulo. Ela suspirou e apertou a
cabeça contra o peito dele, onde seu coração trovejava contra
suas costelas.

Ele levantou um filtro de sonhos acima deles.

— Olhe. Você não tem que ter medo. Isto... irá filtrar
todos os seus sonhos. Eles não têm nenhum poder sobre
você. Eles não podem te machucar. Mantenha-o sempre com
você, e ele vai lhe dar paz e segurança.

Foi a primeira vez que Edie sentiu isso desde que deixou
ela ir embora.

Paz.
O avião aterrissou em Los Angeles.

Subi na parte de trás do carro que me esperava, enviei


para meu irmão uma mensagem de texto.

Em LA.

Seu retorno foi rápido.

Você está aqui? Por que não me disse que vinha?

Eu digitei uma resposta.

Decisão de última hora. Onde você está?

Uma culpa pesou sobre meus ombros. Eu sabia que


estava o enganando. Que não estava aqui pelas razões que ele
queria que eu estivesse. Mas não podia lidar com aquilo
agora e cuidar de Edie. E caralho... Edie vinha em primeiro
lugar. Se Baz tivesse alguma ideia do que estava
acontecendo, sabia que ele concordaria com isso também.

Antiga casa da Sunder. Reunião da banda. Todos os


caras estão aqui.
Estarei lá em breve.

Meu joelho tremia uma milhão de vezes por minuto.


Meus dedos batiam muito rápido contra a minha coxa.

Quarenta e cinco minutos depois, o carro começou a


subida para Hills. Casas apareciam nas margens da estrada
estreita e sinuosa, e sempre-vivas e palmeiras balançavam
com a brisa de verão. Aquela imensidão do céu da cidade era
tingida com um cinza encardido por cauda da forte poluição.

Uma onda de saudade me atingiu.

Eu dava boas-vindas e odiava tudo ao mesmo tempo.

Porque a cada segundo que passava, a ansiedade


disparava pelos meus nervos. Era uma sensação impaciente,
que chegava no seu máximo e mais além.

Tic.

Tac.

Como o lento giro das engrenagens de um relógio antigo.

Vou consertar isso, Edie. Prometo. Mesmo se você


nunca fale comigo de novo, vou corrigir isso.

As palavras eram uma promessa feita em silêncio na


minha língua.

Eu segurava o macaco verde esfarrapado que guardei na


minha mochila quando fui na minha casa esta manhã,
pegando as coisas que pensei que poderia precisar.

Damian ficou no meu calcanhar, exigindo saber o que


estava acontecendo e por quanto tempo eu ficaria fora. Disse-
lhe que não sabia ao certo, mas tinha que ir para casa por
um tempo, e se por algum milagre de Deus, Edie aparecesse,
para dizer a ela que eu estaria de volta logo que pudesse.

Esmaguei o macaco de pelúcia desgastado em meu


punho, como se ao apertá-lo com força o suficiente, ele
gritasse a resposta para as muitas perguntas.

Em vez disso, ele ecoou a perda, sussurrou os gemidos


daquela presença apagada que me assombrava como um
fantasma.

O carro parou na garagem de tijolos. Uma fileira de


carros chamativos, alguns eu reconheci, alguns novos,
enfeitavam a frente da mansão adornada. A maior parte da
estrutura impressionante estava escondida por árvores altas,
escondida embaixo das grandes e belas folhas das arvores.

A ansiedade tomava conta dos meus nervos quando subi


mais outro degrau.

Nós chegamos a um impasse.

Abri a porta e sai, e atirei minha mochila sobre o ombro.

Eu murmurei um silencioso:

— Obrigado.

Com os passos ecoando, marchei até a passagem para


as portas duplas ornamentadas.

Eu não fazia ideia se deveria bater ou tocar a campainha


ou caminhar diretamente para dentro, porra.

Porque não sabia mais onde era o meu lugar.


Não sabia onde eu pertencia ou onde me encaixava.

Não sabia se no segundo que ultrapassasse aquelas


portas, eu iria regredir para o garoto chorão que desperdiçava
sua vida e as vidas ao redor dele sem pensar duas vezes.

Descuidado.

Imprudente.

Sem cabeça.

Assim como na noite passada.

Mas, porra. Eu estava determinado a manter unidos os


poucos pedaços que encontrei.

Não sairia daqui até que fizesse isto direito. Até que
aquele filho da puta do Paul não fosse mais uma ameaça. Eu
pus a minha mão na maçaneta, polegar vacilante antes de
finalmente empurrar para baixo a trava. Metal ralou contra
metal quando desengatou.

A porta abriu-se para o interior que era nada menos que


uma extensão desconexa da extravagância.

O hall de entrada era amplo, aberto e alto. Um conjunto


de portas duplas estava à esquerda. Atrás delas estava a
cozinha que era tão luxuosa quando o resto do lugar.

À direita estava um corredor que levava aos escritórios


no térreo e porão, e ao lado dele estava a ampla escadaria que
levava para as duas asas que protegem os seis quartos acima.

Emoção pulsava quando as memórias surgiram. Eu não


conseguia impedir meus pensamentos de ir para o quarto
logo acima.
Foi onde encontrei pela primeira vez Edie e ela me
encontrou.

No meio do piso do térreo havia uma sala enorme que se


abria para as portas de correr de vidro com vista para a
piscina e para a cidade se alastrando abaixo.

Tremores sacudiram meu corpo.

Algo sobre isso me fez me sentir em casa.

Confusão se misturou com esse sentimento, virando-me


para a esquerda e direita, fazendo minha cabeça girar.

Porque estava mais inseguro sobre onde eu pertencia do


que já estive antes.

Minha mochila escorregou do meu ombro e caiu com


um baque no chão de mármore. Minhas botas ecoaram
contra os azulejos brilhantes quando andei para mais dentro
da casa. O som parecia com algo que soava como solidão.

Parei quando ouvi os passos descendo a escada.

Minha atenção voou para a direita. Ash descia,


completamente inconsciente.

Vê-lo era como um soco direto no intestino.

Cabelo loiro bagunçado, grande, pesadão com braços


tatuados, rosto sorridente.

O peso nos ombros por sua irmã me atingiu como um


golpe de corpo inteiro.

Ele recuou quando me viu. Agarrou o corrimão e parou.


Surpresa apareceu por todo o seu rosto. Olhos azuis,
tão parecidos com os de Edie brilharam. Mas sua surpresa?
Era de boas-vindas porque ele não fazia ideia.

— Bem, puta merda, se não é o Austin Stone. Em carne


e osso.

Sua cabeça começou a tremer, e o sorriso que ele


gostava de dar veio no canto de sua boca.

— Nosso próprio vagabundo retornando após anos de


aventura.

Ele deu mais um passo para baixo.

— Como diabos você está? — Ele não esperou pela


minha resposta, só ficou balançando a cabeça e sorrindo
enquanto se dirigia em minha direção. — Olhe para você.
Aparecendo por aqui, todo crescido. Por um segundo, pensei
que você fosse Baz. Balançou minha mente. E correndo o
risco de parecer uma bicha, que obviamente eu não sou, vou
em frente e assumir dizer que as senhoras vão ficar
satisfeitas com o que veem.

Desse jeito é Ash, seus pensamentos sempre lascivos,


indo direto para sua caça interminável por mulheres.

Eu ri. Porque, caramba, eu não conseguia não rir. Era


bom demais vê-lo. Não sabia o quanto sentia falta dele até
esse momento.

— E eu vejo que absolutamente nada mudou por aqui.

Ele riu, um som incrédulo.


— Cara... é aí que você está errado. Todos esses idiotas?
Eles perderam suas cabeças para o amor. Morando junto com
suas damas. Colocando anéis em seus dedos. Eles estão
fazendo crianças numa velocidade maior que a do meu novo
Maserati. Agora somos só eu e Zee enchendo estas paredes de
qualquer diversão que podemos encontrar durante a noite.

Claro, porque era Ash, não é? Ele disse isso com afeto
puro e um sorriso agitando sua face.

— Agora sério... graças a Deus você está de volta. A


tempo de inclinar a balança de volta a nosso favor. Você
sabe... tem alguns de nós que não estão se arrastando em
torno de uma bola e uma corrente.

De volta.

Desconforto fez coçar minha pele.

Eu não estava realmente de volta.

Não podia estar. Porque este era o último lugar onde


Edie queria estar. E duvidava que o cara estaria todos os
sorrisos e boas-vindas se soubesse que eu vivi com sua
irmãzinha durante o último mês. Se ele soubesse algum
indício do porquê retornei. Para consertar o que fodi a um
longo tempo atrás.

Ele passeou descendo o resto da escada. Como se fosse


dono do lugar.

Acho que ele provavelmente é.


Ele estendeu a mão na frente dele. Eu apertei sua mão,
totalmente pego de surpresa quando me puxou para a frente,
abraçou-me com força e me deu um tapinha nas costas.

Sua voz veio baixa em meu ouvido. Todas as gracinhas


evaporaram como uma névoa.

— Ei, cara, quero que você saiba que é realmente muito


bom vê-lo. Você se foi a muito tempo. Todos nós... nós
sentimos sua falta. Mas seu irmão precisava de você. Ele está
lutando, homem. Sentindo-se preso.

Parecia um aviso.

Recuando, ele inclinou a cabeça para o trecho de


janelas.

Meu coração apertou no meu peito.

Ao longe, avistei meu irmão mais velho.

O cara que sacrificou tanto por mim.

Acho que eu não estava preparado para ver ele me


afetando dessa maneira.

Emoção me rasgou todo.

Pesar, alegria e tristeza sufocante.

Eu o vi levantar um menino por debaixo dos braços e


lançá-lo no ar. Pegá-lo, e o sufocar com uma enxurrada de
beijos nas bochechas rechonchudas e queixo. Todo o rosto
dele. O menino riu e se aprofundou no abraço do meu irmão.

Este menininho que eu não conhecia.

Connor Stone.
Um que fui muito covarde para conhecer.

A voz de Ash rompeu o torpor nublando minha cabeça.

— Vá em frente, cara. Nada vai deixá-lo mais feliz do que


vê-lo aqui.

Eu não lhe respondi. Apenas comecei a andar naquela


direção. Movi lentamente, cautelosamente, na direção do cara
que eu não queria nada mais do que deixar orgulhoso. Em
seguida, uma e outra vez, fiz tudo errado e constantemente o
deixei para baixo.

Edie passou pela minha mente. O jeito que ela sempre


ficava quando estava deitada embaixo de mim, em conflito
com a expressão que usara quando a esmaguei de novo.

Porra.

Quando eu iria parar com isso?

Parecia que minhas entranhas estavam amarradas até a


minha garganta.

Abri a porta de correr e sai.

Uma explosão de calor, sol e a cidade me atingiram. Os


sons de Hollywood gritaram de volta, uma vibração de
energia, buzinas, e o barulho da rodovia à distância.

Sebastian se deteve, e suas costas ficaram rígidas, antes


que ele enganchasse o menino em seu quadril e lentamente
se virasse para me encarar.

Alívio.
Dele ou meu, eu não sabia, porra. Mas estava lá.
Fechando entre nós com aquela corda invisível que nos unia.

Família.

Sangue.

Devoção.

— Austin. — Seus olhos vagavam me olhando inteiro.

Eu fiquei lá de pé como uma oferta pela culpa. Porque,


merda, eu não tinha ideia do motivo pelo qual o deixei de
lado, ficando ausente por todos esses anos.

Cauteloso, ele deu alguns passos para a frente.

Minha atenção foi atraída pelo menino grudado ao seu


lado. O garoto cheio de alegria, luz e sorrisos, cabelo loiro
areia, e os mesmos olhos cor de pedra.

Carinho tomou conta de mim. Pulsou e me puxou por


todas as direções. Porra, se eu não tinha vontade de chorar.

Bem ali.

Claro, eu vi fotos.

Mas não chegou nem perto de ver em pessoa.

A crueza distinta apareceu em meu tom.

— Ele é incrível, Baz. Parece com você.

Meu irmão sorriu de uma maneira que não acho que já


o tinha visto fazer. Ele passou a palma da mão do topo da
cabeça do menino até o queixo.

— Você acha?
— Sim cara.

Connor riu, prestando atenção brevemente como você


esperaria de qualquer garoto de dois anos de idade.
Balançando, ele apontou um dedo para o longo gramado que
se estendia pelo lado direito da piscina.

Se a mente de Ash balançou, a minha explodiu.

Era uma piscina usada para todos os tipos de


depravação. Agora ela tinha uma daquelas cercas para
manter os pequenos seguros.

Ash não estava brincando. As coisas mudaram.

— Bola... jogue — O rapaz exigiu.

— Em um minuto, amigo. Quero que você conheça


alguém realmente importante primeiro. Tudo bem?

Baz o levantou na minha direção. Olhos cinzentos


brilharam com sua curiosidade. Connor sorriu um adorável,
sorriso tímido. Tudo o que eu podia fazer era dar-lhe um
vacilante. Ele virou a cabeça de lado, dobrando-se contra o
peito de seu pai, olhando para mim, como se quisesse
interagir, mas não estivesse muito certo do que fazer de mim.

Algo melancolicamente triste me atingiu como um


martelo.

Percebendo profundamente na minha alma o quanto eu


perdi.

A consciência do tempo que perdi.

— Este é meu irmão... seu tio Austin. Você pode dizer


isso? Austin? — Ele persuadiu. Baz inclinou sua voz de uma
forma carinhosa que eu não tinha certeza de que já ouvi meu
irmão usar antes. Exceto, talvez, com aquela menina doce
que chegou e o derrubou, uma coisinha tão irresistível
quanto sua mãe.

Não me admira que Baz tenha caído no segundo em que


Shea apareceu em sua vida.

Eu balancei a mão fechada de Connor.

— E aí homenzinho. É bom finalmente conhecê-lo.

Ele sorriu largamente, repetindo o que seu pai o bajulou


para dizer.

— Auffin.

Sim.

Aquilo chegou muito perto de me matar.

Calor. Infiltrando. Penetrando em todos os cantos


escuros.

Era tão intenso que não sabia muito bem o que fazer
com ele. Um sentimento tão certo chocando-se com o horror
que fiz Edie passar ontem à noite.

Quebrando a confiança dela da pior maneira.

Eu tinha muito a expiar.

Sem dúvida, estava aqui por uma razão. Um objetivo.

Para silenciar Paul.

Esse nome já não precisaria ser uma parte do


vocabulário de Edie.
Mas não havia nenhuma chance de que pudesse ignorar
meu irmão completamente. Nem ele, nem as perguntas que
permaneceram entre nós.

As intenções que deixou implícitas.

Foram flagrantes em suas mensagens de texto e cartas.


Mais claras a cada uma que passava.

Não. Eu não poderia aceitar. Não poderia calçar seus


sapatos.

Eles eram grandes demais para preencher.

E Edie... este era o último lugar que ela queria estar.

Mas talvez eu pudesse arrumar um pouco as coisas com


Baz enquanto conserto essa bagunça com Edie.

E porra esse plano não incluía Baz. Mas eu tinha que


acreditar que ele entenderia no final.

Então voltaria para Edie e imploraria por mais uma


chance.

Uma que eu não merecia.

Mas não desistiria sem uma luta.

— Sim, homenzinho, eu sou seu tio Austin.

Tão rápido quanto o seu interesse durou, ele estava


apontando para a sua bola novamente.

— Joga a bola... papai, joga.

Baz o colocou no chão. Ele saiu correndo, cambaleando


depois disso.
Baz inclinou-se afastando-se por um segundo para vê-lo
ir. No segundo que ele se virou, uma explosão de tensão
apareceu.

Ela estagnou no ar entre nós.

Baz virou-se. Cauteloso.

— Austin. — Meu nome saiu de sua boca como se


estivesse envolto em bandeiras de cautela.

Minha garganta estava fazendo aquela coisa de queimar.


Livrei-me da sensação, forçando a falar as palavras.

— É bom vê-lo, irmão.

Um som incrédulo veio dele. Ele deu um sorriso cheio de


descrença.

— Deus... eu estava certo. Quase não te reconheci.


Exceto pelo fato de que meio que sinto que estou olhando
num espelho.

Desconforto me fez coçar a parte de trás do meu


pescoço.

— O tempo tem uma maneira de fazer essas coisas, não


é?

— Sim. E com certeza parece que o tempo tem sido bom


para você.

Eu arqueei uma sobrancelha, esperando dizer algo que


trouxesse leveza ao humor.

— Oh, ficando arrogante agora, estamos considerando


agora que estamos chegando perto de ser gêmeos?
Por que eu disse isso? Nós dois estremecemos, porra.
Derrubados diretamente em direção a essa realidade brutal.
Desejei que eu pudesse voltar atrás. Mas, não. Trouxe isso
para a luz que desfilou ao redor, implorando por atenção.

Desesperado para ser reconhecido.

Recusando-se a nos deixar esquecer.

Como se houvesse alguma chance disso.

Dor revestiu seu tom.

— Austin.

Minhas mãos ficaram em punhos em meus lados.

— Sinto muito, cara.

Sua testa franziu, linhas marcadas.

— Pelo que diabos você sente muito?

— Por tudo.

Ele deu uma sacudida dura em sua cabeça.

— Você acha que estive sentado aqui decepcionado com


você?

Claro que ele esteve.

Por que não estaria?

— Eu fui embora.

Talvez, isso foi o culminar de tudo. Porque Deus sabia


que isso tinha começado naquele dia, quando eu tinha oito
anos de idade.

Quando cometi o pior crime.


O maior pecado.

Parecia que eu não conseguia parar de cometê-los desde


então.

Outro aceno de cabeça. Mas este era quase uma


repreensão.

— Você acha que não entendi que precisava ir? Acha


que não respeitei o que você estava fazendo, Austin? Porra....
Eu senti sua falta como um louco. Preocupado com você noite
e dia. Mas isso não significava que não o entendia. Cem por
cento.

Sempre cuidando de mim. Esse era o meu irmão.


Mesmo quando isso lhe custava muito.

Ele desviou o olhar para seu filho, antes que olhasse


para mim, sua mão passando pelo seu cabelo.

— Porra, cara, eu errei tanto contigo. Arrastando-o para


todas as besteiras que governavam o meu mundo. Você era
apenas uma criança, e lá estava você, bem no meio da
confusão, todo tipo de pecado acontecendo bem debaixo do
seu nariz. Você acha que não sabia que era minha culpa que
tenha se metido com isso?

— Você sabe que isto não está nem perto de ser verdade.
Sempre fui eu, Baz. Era o único que estava procurando uma
maneira de me entorpecer. De preencher alguns daqueles
vazios. Eu teria encontrado aquilo... de uma maneira ou de
outra.
Seus lábios se apertaram. Eu podia sentir o discordar
rolando através dele.

— Talvez, nós dois sejamos culpados. Eu não sei, porra.


Tudo o que sei é quando te encontrei no ônibus da turnê,
esparramado de bruços no chão, perdido para aquela
merda...

Tristeza agarrou seu tom.

— Pensei que você estivesse morto, homem. Pensei que


tinha perdido outro irmão. E a culpa foi minha.

Eu empalideci, agredido por suas palavras. Ele não me


deu tempo para respirar.

— Então, você sobreviveu, Austin. Você sobreviveu. Eu


senti como nos fosse dada uma segunda chance, e meio que
fiquei perdido, fazendo o meu melhor para mantê-lo protegido
e isolado para que nada de ruim acontecesse com você de
novo.

Ele me deu um aceno lento de cabeça.

— Mas agora sei que não era certo, também. Eu não


estava fazendo nada, além de te reprimir. Impedindo-o de ser
o que deveria.

Alegria e tristeza teceram através dos meus sentidos.


Tomando conta.

— A única coisa que fiz foi olhar para mim mesmo, Baz.
Sabia que precisava ir embora.... se algum dia eu fosse ser
alguma coisa, ser alguém, eu tinha que ir e encontrar o meu
rumo.
A coisa mais louca era que encontrei Edie.

A vontade quase me derrubou. Conte a ele. Coloque isso


para fora. Eu o mantive dentro. Recusei-me a trair Edie.
Nunca mais contaria segredos que não tinha o direito de
contar.

Emoção fez subir um lado da boca dele.

— Eu vejo o cara agora. Bem aqui na minha frente.

Com a voz crua, consegui perguntar:

— E quem é esse?

Porque, porra.

Eu precisava saber.

— Alguém forte. Alguém que ainda está sofrendo e


sentido dor com o passado. Mas ele está aqui. Alguém
corajoso o suficiente para dar um passo atrás para o meio
disso. Alguém que está a um milhão de quilômetros além do
garoto assustado que saiu por aquela porta, há três anos. E
ainda assim... ele tem o mesmo espírito suave. Eu o vejo,
Austin. E ele é um bom homem. Eu sempre soube que ele
estava ali. Esperando a oportunidade de crescer.

Fiquei tenso com sua declaração.

Deus.

Seus pressupostos eram tanto misericordiosos quanto


cruéis.

— Esse é quem quero ser, Baz. Só não tenho certeza de


que cheguei lá ainda.
Mal-estar doeu entre nós. Respirei fundo.

— Eu vi aquele artigo, Baz. Um sobre os shows sendo


cancelados. Você aparecendo em uma sala de emergência
aqui na cidade. Suas mensagens. Rumores aparecendo. Você
me queria aqui, e aqui estou. Agora me diga o que realmente
está acontecendo.

Baz soltou um suspiro para o céu. Ele balançou a


cabeça enquanto enfiava as mãos nos bolsos.

— Você sempre pensou que estava perdido, Austin. Mas


eu era o único que estava à procura por toda a minha vida.
Nunca tendo certeza de onde queria estar. Acho que soube no
momento em que conheci Shea. Soube que estava destinado
a algo diferente. E não estou dizendo que é ruim ou errado
querer tanto. Mas me senti como se estivesse no limbo a
partir do segundo que encontrei a minha família.

Ele olhou para seu filho.

— Nós estamos indo e vindo pelos últimos três anos.


Compartilhando nosso tempo entre a casa que comprei aqui
em LA e a antiga casa de Shea em Savannah. Porra, parte de
mim morre cada vez que eles não vêm comigo.

Ele olhou para o meu olhar congelado.

— Shea decidiu trazer as crianças aqui para o verão de


modo que seria mais fácil para mim voltar para casa entre as
cidades durante a turnê. Toda vez que entro em um avião
para viajar, não desejo ir.

Sua cabeça balançou.


— Estávamos em Denver e recebi um telefonema de
Shea. Ela estava super calma. Não agitada ou qualquer coisa.
Acabou me avisando que estava levando Kallie para a
emergência, porque ela teve uma febre que não passava e
Shea queria ter certeza de que estava bem, já que era fim de
semana.

Sem tirar as mãos dos bolsos, ele encolheu os ombros.

— Entrei em pânico, homem. Fui para o aeroporto sem


avisar ninguém. Porque eu não poderia lidar com o
pensamento de não estar lá, se elas precisavam de mim. Saí
do avião e encontrei todas aquelas chamadas não atendidas,
perguntando-me onde diabos eu estava.

Ele olhou para a cidade.

— A banda está desmoronando, Austin. Eu venho


fazendo isso por um tempo agora. Porque meu coração não
está nela. Está com Shea. Com Kallie. Com Connor. Eu
saindo da banda. De uma forma ou de outra.

Apreensão me lavou com a faísca daqueles sonhos


antigos.

Baz olhou para mim.

— Eu te ouvi todas as noites em seu quarto, Austin.


Tocando. Bom para caralho, você me fez parecer como um
amador. Sei que esteve tocando por todos esses anos,
também. Coisas diferentes, mas o mesmo. O mesmo coração.
A mesma alma.

— Você está enganado, Baz. Eu... eu acabei com tudo.


Ele balançou sua cabeça.

— Não. Pode se sentir assim. Mas você não acabou.


Você finalizou sua busca, também. Justamente como eu. E
porra... não vou fingir que sei onde você deveria pousar. Mas
o que sei? Eu sei que não há ninguém mais que eu prefira
deixar no meu lugar que você. E essa é a verdade disso. Não é
porque estou tentando salvá-lo ou dar-lhe algo que você não
mereceu. Se este é o lugar onde seu coração pertence? Fique
e o pegue. Se não? Então tudo bem, também.

Coração?

Ele estava em uma briga interna.

Porque eu sabia que quando viesse até aqui, essa seria a


oferta de Baz.

E havia uma enorme parte de mim que queria. A parte


que sempre quis.

Mas a minha verdade? Meu coração? Eu sabia onde ele


pertencia. Pertencia ao lado de Edie. Mas, por agora, eu
fingiria.
Um anel de copos de doses estava no meio da mesa.

Animado, o olhar de Ash passeava ao redor em todos


que estavam sentados em nosso círculo.

Baz, Lyrik, Zee.

Eu.

— Por um poço inesgotável de inspiração e canções —


Disse ele com aquele sorriso fácil que não podia deixar de
usar. — Pelos nossos fãs. Por nossos amigos. Por esta família
de incompatíveis que sempre estará unida. Acima de tudo...
por Austin voltar ao seu devido lugar. Você merece isso, cara.
Bem-vindo ao lar.

Uma onda de inquietação rolou pelas minhas entranhas.


Como uma enorme sensação de ser a coisa certa.

Deus. Eu não conseguia entender isso. O empurrar e o


puxar. Parecia que quanto mais tempo eu passava aqui, mais
forte isso ficava.
A verdade era que era bom estar em casa. Como se eu
tivesse recuperado algo que perdi.

Mas isso não chegava nem perto de curar a dor que


sentia com a perda de Edie. Fazia apenas três noites desde
que destruí uma outra parte dela. Dois dias desde que vim
para cá. Mas cada uma dessas noites? Foram gastas em
claro. Braços doendo. Meu corpo vazio.

Sentindo falta daquele preto, mar preto.

Desesperado para subir de volta para a terra.

De seu lugar na minha frente, Baz me olhava.

Brindar antes de um show?

Esta era uma das tradições que fui excluído há muito


tempo. De volta a quando as coisas ficaram feias e eu
comecei a bombear em meu corpo a merda que só serviu para
foder as coisas mais.

Parecia que todos nós tínhamos aquela tendência.


Exceto Zee. O cara era sem dúvida mais inteligente que o
resto de nós.

O líquido espesso e escuro espirrou para o lado do meu


copo quando brindei com os caras. Eu o joguei na minha
boca. Descendo na minha garganta e esquentando meu
intestino.

— Então me diga como isso vai acontecer.

Lyrik se inclinou para frente, todo astuto e sombrio,


como ele sempre foi. Passou a mão tatuada pelo seu cabelo
preto indisciplinado que era tão negro quanto seus olhos.
— Você continuou ouvindo as músicas?

Eu balancei a cabeça.

— Sim.

Claro que continuei. Acho que todo mundo aqui sabia


que não havia nenhuma chance de que eu tivesse parado e
deixado de ouvir as palavras que eles escreviam. As músicas
que tocavam. Não importa quanta distância nos separava. Eu
nunca poderia ter chegado tão longe.

Como Baz me disse quando me deu meu primeiro violão.

A batida da música estava no meu sangue.

Era parte do que nos mantinha juntos. Os assuntos de


suas canções eram apenas uma outra parte do vínculo.

Lyrik assentiu.

— Então você vai lá fora. Você toca. Você vê como isso te


parece. Então toma a decisão se quiser ficar. Simples assim.

Um riso incrédulo ameaçou sair. Porque não havia nada


simples sobre isso.

Lyrik sentou-se com aquele olhar escuro.

— Você está disposto a dar uma chance?

Uma chance para o meu irmão?

Uma chance de fazer isso certo com Edie?

— Sim, cara, eu estou disposto a correr o risco.

Ash bateu as duas mãos sobre a mesa.


— Isso aí. Isso vai ser épico. O irmãozinho de Baz
tomando lugar de seu irmão. As meninas vão pirar. — Ele
levantou os braços ao lado do corpo. — Este menino aqui
precisa de um pouco de amor, mas tenho certeza que este
idiota vai me fazer perder muitas garotas.

Uma risada rolou de mim, tudo misturado com a culpa.


Parecia tão errado esconder algo tão significante do irmão de
Edie. Mas o que diabos mais eu poderia fazer?

— Não se preocupe com isso, cara. Elas são todas suas.

Zee arregalou os olhos.

— Como se ele precisasse de mais incentivo.

Tamar e Shea, Lyrik e as mulheres de Baz apareceram


na porta.

— Toc, toc — Shea disse com um sorriso enquanto


enfiava a cabeça dentro.

Deus. Era estranho ver Shea depois de tudo o que


passamos. Parte de mim se sentia muito distante. A outra?
Parecia tão perto dela quanto eu poderia estar. As coisas
sobre o passado dela que eu involuntariamente soube, não
fazendo ideia de como estávamos ligados. Não até que quase
foi tarde demais.

Graças a Deus isso ficou para trás.

Para trás de nós.

Agora Baz e Shea poderiam viver em paz.

Paz.
Porra.

Aquilo era tudo o que eu queria para a minha garota.


Ficando sentado lá? Senti-me inquieto. Desesperado para
fazer isso acontecer. Não tendo certeza de que poderia.

Tamar entrou na frente de Shea na sala. Sua barriga


estava apenas começando a se insinuar com a ondulação da
criança que ela carregava.

Lyrik tinha de ser um dos mais duros, mais


intimidantes caras que você já viu. Mas no segundo que ele a
viu? O cara se transformou.

— Aí está você — Murmurou enquanto Tamar ia até ele.

Ash girou em sua cadeira, com um sorriso largo de filho


da mãe arrogante que era.

— Ahh, Tam Tam. Nós estávamos falando sobre o fato


de que preciso de algum amor. E aqui estão vocês. Venha e
me dê uns beijinhos.

— Preste atenção, homem. — As palavras de Lyrik eram


quase um grunhido, mas ele estava muito ocupado puxando
sua esposa para o colo, beijando-a obscenamente bem no
meio da sala.

— Ei, agora. Por que você sempre tem que se precipitar


e ficar imaginando coisas? Eu só ia dizer oi para ela.

Zee jogou uma caneta em Ash.

— Talvez, seja porque todos nós temos sido submetidos


à maneira que você gosta de dizer oi para as meninas.

Ash se esquivou, deu um de seus sorrisos com covinhas.


— O que? Eu não posso evitar se sou irresistível.

Shea deu um tapa na parte de trás de sua cabeça


enquanto passava.

— Só espere, Ash. Eu ainda tenho apostado cem dólares


de que você vai encher sua casa ridícula em Savannah. Todos
aqueles cômodos pintados de rosa e azul. Eu vi umas botas
super fofas que estão apenas chamando seu nome.

Ela me deu um sorriso suave enquanto se virava na


mesa, indo em direção ao meu irmão.

Ash sacudiu a cabeça como se estivesse se preparando


para contar a história mais triste.

— Acho que aquelas botas vão ficar lá... saindo de


moda.

— Vamos ver — Disse ela, enrolando seus braços em


volta do pescoço do meu irmão por trás.

Eu ri, apoiei meus cotovelos sobre a mesa.

Muito confuso.

Porque Deus. Estar aqui, com os caras? Com Shea e


Tamar? Sentia-me em casa.

O tempo todo meu espírito voltava para a única coisa


que parecia certa.

Você me sente?

Os pensamentos de Edie lá fora, sozinha de novo,


inundaram-me. Sugando-me mais profundamente em direção
àquela tempestade.
Eu podia sentir isso.

Construindo-se na distância.

— Como foi seu dia? — Perguntou Shea, sua boca suave


no ouvido do meu irmão.

Baz olhou em frente para mim. Segurando-me com seu


olhar.

— Foi um bom dia. Um maldito bom dia.

Pelas próximas duas horas, todos nós ficamos na


solidão do porão de Lyrik na casa que ele dividia com sua
família.

Baz entregou-me uma guitarra elétrica e nós quatro


ensaiamos a lista de músicas. Certificando-nos de que eu
estava por dentro. De que poderia lidar com isso.

Baz ficou atrás de nós, batendo em sua coxa no ritmo


enquanto balançava sua cabeça, já tomando a posição de
apoio. Em segundo plano, com apoio e aconselhamento, uma
mudança de posição.

Foi bom para caralho.

Tão certo.

Com cada letra que cantei, com a dura, caótica, batida


que eu tocava, aquele gritante, pedaço amargo gemia de
dentro de mim.
Conserte isso. Liberte-a. Pela primeira vez, faça a coisa
certa.

— Alguém se importa se eu sair para tomar um ar? —


Perguntei.

Baz inclinou a cabeça em direção às escadas.

— Leve o tempo que precisar.

Coloquei a guitarra que pertencia ao meu irmão de lado.


Uma enorme sensação me atingiu com a força de um
cargueiro.

Respirei fundo em torno dela, subi as escadas para o


piso principal da enorme casa de Lyrik. Os dois andares
superiores eram muito luxuosos, opulentos e claros.

Ainda assim, havia algo caseiro sobre ela. Talvez, fosse a


forma como um monte de brinquedos estavam espalhados,
evidenciando a presença do filho de Lyrik, Brendon. Ou talvez
fosse a maneira como Tamar andava por lá com seus pés
descalços. Ou a forma como Shea e sua risada soava e ecoava
nas paredes de pedra.

Talvez, fosse a alegria subindo pelas paredes.

E era isso o que eu queria para Edie.

Sua alegria.

Sua liberdade.

A minha garota finalmente livre de todas as besteiras.


Então, talvez, Edie finalmente visse que a decisão que
ela nunca teria tomando era a certa. Talvez então ficasse livre
da culpa e da vergonha.

Livre da maldade e da vingança de Paul.

Tudo que era culpa minha.

O que fosse preciso, faria para protegê-la.

Deixaria Edie livre.

Abri um lado das portas francesas maciças


emolduradas, ornamentadas em madeira e com placas
enormes de vidro no centro. Saí para o calor nebuloso da luz
de fim de tarde, a Cidade dos Anjos sempre vagando abaixo.

Peguei meu telefone, digitei o número que memorizei. O


que vinha assombrando Edie pelos últimos dois meses.

Banquei o tolo enquanto digitava a mensagem para o


filho da puta que tinha toda a intenção de destruir.

Toda a intenção de finalmente silenciar a voz à frente


dos arrependimentos dela.

A raiz de tudo.

Um erro.

Aquilo foi tudo o que levou ao cataclismo que se seguiu.

Mas esta era uma escolha que jamais me arrependeria.

Ei cara, é Austin Stone. Ouvi dizer que você saiu. A


Sunder vai tocar amanhã. No Lucky’s @9. Você deveria
aparecer. Faz muito tempo. Quero falar com você sobre uma
oportunidade na banda.
Eu pressionei enviar.

Sabendo muito bem que ele ficaria chocado por eu ter


mandado uma mensagem.

Mas também sabia com cada parte de mim que o babaca


faria qualquer coisa por uma chance de conseguir qualquer
pedaço da Sunder.

Ele viria.

E finalmente apareceria e assumiria a responsabilidade


que era minha.

Por Edie, eu me certificaria de que acabaria com isso.

De uma vez por todas.


Agarrando a maçaneta da porta, olhei para fora pela
janela do carro. Lutando contra as garras do pânico e do
medo que queriam afundar suas unhas na minha pele e me
segurar.

Derrubar-me.

Da maneira como sempre fizeram.

— Você está bem? — Blaire perguntou em voz baixa. Ela


estava sentada no banco de trás, e inclinou-se entre os dois
bancos da frente.

Eu balancei a cabeça, ainda olhando para o terminal me


aguardando. Um único som rasgado soando livre.

— Eu não sei. Eu só estou... estou tão cansada de ser


conduzida pelo passado. Eu estou tão cansado de fugir. Eu
quero…

Eu queria a vida.
Queria a respiração que não pude dar desde que o meu
medo e insegurança o forçaram a sair da minha vida há três
dias.

Eu queria Austin.

Deus. Queria Austin.

Aquela intensidade brilhou na distância.

Chamando-me.

Pedindo-me para uma vez... para uma vez me levantar e


ser corajosa.

Virei-me, e notei o flash de tristeza na expressão de


Blaire, o orgulho que deflagrava por trás dele.

Dizer a Blaire e Jed sobre ela foi libertador, falar as


palavras que pareciam tão sujas e erradas.

O tempo todo eu estava com medo do julgamento que


viria. As palavras que só iriam afirmar o que eu já sabia.

Mas Blaire... ela acabou por me abraçar, embalou-me


durante horas, enquanto Jed esteve sentado no sofá com as
mãos entre os joelhos, oferecendo-me o seu apoio silencioso.

Eu passei os últimos três dias lidando com a confusão


de emoções que brigavam dentro de mim. Magoada com o que
Austin fez, mas sabendo que meus demônios não eram os
únicos que nós estávamos lidando.

Meu garoto danificado.

Meu espírito dançava e ansiava.

Um reboliço intenso de desejo esmagador.


Eu sabia que ele precisava de mim tão
desesperadamente quanto eu precisava dele.

Na noite passada desisti e fui para a casa dele. Fui


sabendo que tínhamos grandes questões, mas com certeza eu
queria trabalhar nelas do mesmo jeito.

Disposta a finalmente lutar.

Lutar por nós.

Damian me encontrou na porta e me disse que Austin


fora para casa. Ele me disse que Austin deixou um recado,
dizendo que estaria de volta em breve.

Para eu esperar.

Mas em breve não era suficiente.

O medo me invadiu fortemente.

Paul estava em Los Angeles.

Mas eu o enfrentaria? Ele sempre estaria lá no fundo.


Espreitando como as ameaças mais sombrias.

Ele roubou a minha segurança.

Minhas esperanças.

Ele me roubou por anos.

Não permitiria que ele me fizesse medo por nem mais


um segundo.

Blaire fez um gesto com a cabeça em direção ao terminal


cheio de pessoas.

— Você vai perder o seu voo se não for.


Eu balancei a cabeça.

— Certo.

Peguei minha mochila do chão entre meus pés e abri a


porta, enquanto Blaire me movia na parte de trás.

— Te vejo depois, Edie. — A voz de Jed estava áspera.


Agitada pela emoção.

— Tchau, Jed — Disse, não sabia como deixar as coisas


entre nós. Se dizer algo tornaria as coisas melhor ou pior.

Comecei a esquivar-me.

Congelei quando de repente ele me pegou pelo pulso. Eu


me mexi, olhei-o quando ele me encarava, o grande homem
corpulento com expressão tão completamente suave.

— Vá, Edie. Encontre sua paz. Você merece isso e ele


está lá fora esperando por você. Lá é onde você pertence.
Agora eu entendo.

O ar ficou preso nos meus pulmões. Ofereci-lhe o sorriso


mais triste que transbordava com todo o apreço que tinha por
ele. Meu carinho.

Porque ele era tão bom.

Tão certo.

Ele simplesmente não era certo para mim.

— Obrigada. — Eu apertei sua mão. — Sua paz está lá


fora, também, Jed. Você vai encontrá-la. Eu prometo. Apenas
espere.
Seus olhos enrugaram nos cantos, como se talvez ele
discordasse, mas me soltou.

Na calçada, Blaire me envolveu em seus braços.

— Vou sentir saudade de você.

Lutei contra a umidade que enchia meus olhos.

— Eu nem sei quanto tempo ficarei lá. Poderia estar de


volta no próximo avião.

Ela deu um passo atrás, segurando uma das minhas


mãos. Balançou a cabeça como se pudesse nunca mais me
ver novamente, enxugou uma lágrima que corria pelo seu
rosto.

Então, ela sorriu.

— Não, Edie. Nós todos sabemos o que isso significa. E é


hora de você ir para casa.
Nós todos ouvimos os clamores pelo corredor úmido da
casa de shows nos dando boas-vindas com palmas na parte
de trás, as vozes altas e preenchidas com o tipo de emoção
que era impossível escapar em um lugar como este.

Algo tanto escuro quanto vivo.

O The Hollywood era um local que frequentei muitas


vezes. Um lugar que esteve feliz em abrir as portas para a
Sunder antes dos caras fazerem sucesso, eu era pouco mais
do que uma criança por perto, ficando pelas salas dos fundos
agindo como um companheiro de cama para o pecado.

Um parceiro para todos os crimes e transgressões.

Uma balbúrdia de imoralidade.

Sexo, drogas, e rock’n roll.

Dentro daquelas paredes, aquele velho clichê ganhava


seu sustento.

Mas isso não queria dizer que não era maior do que isso.
Que este lugar não cantarolava com possibilidades.

Ele abrigou os sonhos daqueles que significavam muito


para mim, Baz e o resto dos rapazes que deram duro sem
trégua. Abrindo-se para quem quisesse tê-los. Tocando
apenas em lugares como este em todo o país como se eles
implorassem e fizessem muito esforço, até que alguém notou
o talento deles e lhes deu uma chance.

Agora, eles estavam passando isso para mim.

Sem obrigações.

E não sei se isso me fez sentir barato ou orgulhoso.

Como um mendigo que tinha de alguma forma se


deparado com a maior sorte inesperada.

Durante anos, estive tocando a minha música no


silêncio de pequenos clubes.

Um prisioneiro de uma perda interminável. Acorrentado


ao mar e às canções. Sabendo o tempo todo que eu não
poderia pedir nada mais do que a oportunidade de honrar
Julian no ritmo e nas palavras.

Agora ... agora eu estava de pé na frente dos fãs mais


antigos da Sunder. Aqueles que estiveram lá desde o início.
Eu ficaria no lugar do meu irmão e estava rezando para que
pudesse estar à altura.

Durante todo o tempo me sentindo como um filho da


puta, porque sabia que depois que enfrentasse Paul esta
noite, teria que me virar e ir embora.
Nós surgimos no final do corredor e saímos para o
espaço escurecido dos bastidores. Pesadas cortinas marrons
não fizeram nada para esconder o canto da multidão exigindo
sua amada banda.

Sunder. Sunder. Sunder.

Pulsava pelo ar denso como se estivesse respirando. A


força viva que compelia, agitava e enviava este sentimento
compulsivo pelas minhas veias.

O comichão.

O desejo de ir para o palco.

Quantas vezes senti isso antes? Apenas uma criança


nos cantos, não corajoso o suficiente para sequer desejar
pertencer ao mundo do meu irmão?

Meus punhos cerraram, e uma grande mão me deu um


tapinha nas costas.

Eu me virei.

Anthony Di Pietro. O gerente da Sunder. Um cara que


esteve lá no bom e no ruim. Nas prisões, overdoses e mortes.
Sua presença se fundia com as lutas e as vitórias da banda.
Não houve uma vez que ele tenha vacilado em seu apoio.

Ele me olhou com olhos penetrantes, profundamente


com o incentivo.

— Você consegue, Austin. Vi isso em você o tempo todo.


Agora quero que chegue lá e domine esse palco.

A ansiedade disparou através dos meus nervos. Minhas


entranhas se emaranharam com devoção, todas as antigas
inseguranças e o medo que sentia em uma guerra total
contra a necessidade esmagadora na minha alma de honrar o
meu irmão, que vibrava em um espaço cavernoso dentro de
mim.

Para honrar meus dois irmãos, realmente.

Estava perto demais da minha cabeça explodir


percebendo que eles se tornaram a mesma coisa.

A parte mais assustadora? Era o desejo nos meus ossos


de fazer isso por mim mesmo.

Mas a necessidade mais consumidora era a de fazer isso


por ela, que me fez dar a Anthony um aceno rápido.

Olhei para o lado quando ouvi Ash chamar meu nome.


Ele ergueu o queixo, apontando para onde o resto dos caras
estava perto da entrada lateral do palco.

— Ei, cara, está quase na hora. Você sabe o que fazer.


Vamos.

Sobre meu ombro, lancei um olhar fugaz para Anthony


que se manteve confortável, inclinando um ombro me
incentivando a ir em frente.

Meus passos tornaram-se inquietos enquanto eu


caminhava para o palco.

Porra.

O que eu estava fazendo?

Mas não havia como parar agora. Cada fator incitante


me impelia para frente.
Parecia loucura que agora meu irmão fosse quem estava
atrás do palco, afastando-se para o lado. Ele me agarrou por
ambos os lados do pescoço, pressionou sua testa na minha.
Suas palavras estavam cruas quando ele sussurrou:

— Você foi feito para isso. Nunca questione isso.

Minha garganta engatou e balancei a cabeça, não tendo


forças para falar, virei-me para o amontoado composto pela
Sunder.

Lyrik. Ash. Zee.

E eu.

Lyrik e Ash jogaram os braços em volta dos meus


ombros, Zee entre os dois. Todos nós abraçados como se
fossemos uma espécie de equipe esportiva, o que não chegava
nem perto considerando que nenhum de nós jamais chegou
perto de um campo.

Mas aqui estávamos, entrando no palco, e Ash estava


alimentando-nos com todo seu conteúdo arrogante que ele
amava vomitar. Tocando. Alimentando o frenesi que chiava
sob nossa pele e inflamava em nossos estômagos.

Sunder. Sunder. Sunder.

Eles chamavam mais alto.

Exigentes.

A onda de energia passava por toda a minha pele, e eu


engoli o ar que estava vivo com o frenesi.

Meus pulmões estavam muito apertados. Meu coração


batendo muito forte.
— Esta noite é nossa. — Ash gritou, empurrando-se
para quebrar o círculo, saltando na ponta dos pés.

Zee foi caminhando para o palco. Ele empurrou duas


baquetas acima de sua cabeça.

Um tributo a seu irmão caído.

Meu peito se apertou com a visão, e pela primeira vez,


eu me perguntava o quanto Zee e eu poderíamos ser iguais.

Eu andei.

Indo e vindo.

Três passos para uma direção, três passos para o outro


lado.

O que eu estava fazendo? O que eu estava fazendo? Ali


não era meu lugar.

Sunder.

A multidão gritou, e fui atingido por outra onda de


energia.

Ash passeava pelo palco.

Aplausos e gritos.

Algo próximo à histeria ondulava pelo espaço.

Cada vez mais forte.

Mais complexo.

Como se compreendesse os medos desta noite.

Lyrik andava com sua maneira intimidante. Lento, certo


e confiante.
De onde eu estava, podia sentir a forma como a
multidão avançava. Na espera. Uma queda de corpos que
competiam para chegar mais perto do palco.

Fiquei ali ao lado.

Mãos em punhos. Querendo passá-las pelo meu cabelo.


Pela primeira vez em meses desejando a segurança do
maldito moletom com capuz.

Porra. Porra. Porra.

Eu não era digno de me colocar no lugar do meu irmão.

Na sua luz.

No seu legado.

Sua mão estava no meu braço, seus olhos me dizendo


que ele ouvia cada medo girando na minha cabeça.

Ele não precisa dizer uma palavra.

Tudo em sua expressão me prometia que eu estava


errado.

Que ele acreditava em mim.

Que depois de todo esse tempo, o que ele viu? Ele viu
algo de bom.

Eu respirei fundo. Preparando-me.

O ar frenético entrava em meus pulmões se misturando


ao trovejar do meu coração.

Fui para o palco para o barulho e os gritos.


A massa ondulava com a confusão da minha presença e
não meu irmão. Tudo isso se confundiu com a emoção
profusa. Cheia de vida, uma respiração intensa.

Luzes brilharam.

As luzes piscando pelos corpos e rostos indistintos.

Com o coração na garganta, pendurei a guitarra elétrica


do meu irmão por cima do meu ombro e levantei-me perto do
microfone.

Não deixei de notar o peso dos olhos cheios de


perguntas. Como todos os presentes estavam presos e cheios
de antecipação.

Uma expectativa esperando para irromper.

Energia esticada e apertada.

De nenhuma maneira eu iria quebrar.

— Boa noite — Falei. Busquei no fundo a confiança que


meu irmão fez o seu melhor para incutir em mim. Mesmo
depois de tudo o que fiz, ele acreditava, e eu não estava
prestes a decepcioná-lo.

Eu desafinei um acorde.

Veio o encorajamento, gritos e assobios.

— As coisas parecem um pouco diferente aqui para


vocês?

Gritos, principalmente de aprovação, mas algumas vaias


entraram pelos meus ouvidos.

E de alguma forma... de alguma forma estava tudo bem.


Um sorriso surgiu na minha boca.

— Pareço um pouquinho com o meu irmão, hein?

Gritos. Principalmente femininos.

E aquele zumbido aumentou, um pulsar constante,


pulsando, pulsando.

Impulsionando-me para frente.

— Vamos ver se eu posso tocar e cantar como ele,


também.

Aquilo foi tudo o que precisou para a emoção ficar fora


de controle.

Para a energia estalar.

Pulei para a música, acordes duros da canção. Um


tumulto veio do fundo do palco. E o resto dos meninos... eles
estavam ali. Tocando forte e afiado.

A música.

Eu sempre soube que estava lá. Sentada no fundo da


minha alma.

Hoje à noite ela corria livre e solta.

Feroz.

E eu cantei... cantei a canção que meu irmão escreveu


anos atrás.

Antes que ele encontrasse uma maneira de ser livre.

Antes que ele encontrasse o amor.


Fui fundo nas letras. Na sensação. E imaginei que talvez
pela primeira vez eu realmente tenha entendido o seu
significado.

Eu não posso tocar o tempo

Não há remédio para este espaço

Quanto tempo você vai me segurar?

Apenas termine isso agora

Acabe comigo agora

E eu sabia.

Eu sabia que com a energia da multidão.

Com a canção tecendo sua trajetória em meu espírito.

Com essa esmagadora sensação de ser um com os


caras.

Com a forma como isso caiu em cima de mim com a


força de um maremoto.

Tudo consumido.

Avassalador.

Incontrolável.

Esperar para estar aqui em cima não era um senso


distorcido de lealdade.

Não era obrigação ou dever.

Foi como Baz disse.

Aqui era o meu lugar.

Mas eu estava disposto a desistir.


A deixar este sentimento para trás para sempre.

Porque nada valia a pena se Edie não estivesse ao meu


lado.
Você sabe o que se sente ao estar no precipício da vida?

Oscilando na beira do aqui e agora?

Você sabe em seu estômago que está a apenas um passo


desajeitado até que esteja em queda livre.

Caindo, para baixo, para baixo.

Em colisão direta com o seu passado.

Mesmo quando você fez tudo o que estava ao seu


alcance para deixá-lo para trás.

Então toma o máximo cuidado para não viajar pelas


mesmas estradas cheias de erros e arrependimentos e dor
insuportável.

E lá estavam aquelas estradas.

Aparecendo ao redor novamente.

Deixando-lhe cara a cara com o passado que você daria


tudo para esquecer.

Engraçado como fiz de tudo para evitar isso.


Enfrentar o meu passado.

Mas não queria ter medo.

Não mais.

Eu queria ser valente. Cheia do tipo de coragem que


Austin jurava ver quando ele olhava para mim.

Isso não significa que eu não estava tremendo quando


abri a porta do táxi, murmurei um tranquilo obrigada, e sai
para a noite de Hollywood. O ar espesso tocou minha pele já
aquecida.

Senti-me quente.

Trêmula.

Subi na calçada movimentada.

Eu estava no meio dela, e uma horda de pessoas se


movimentava em torno de mim, vozes altas e despreocupadas
se dirigiam para o ponto que iria mantê-los entretidos
durante a noite.

E eu só permaneci lá. Congelada. Meu coração batendo


em meus ouvidos enquanto olhava para a marquise estilo
vintage. A placa estava toda iluminada, grande, corajosa,
letras pretas proclamando o show de hoje à noite.

Sunder.

Quando cheguei a Los Angeles, fui para o lugar que


conhecia para encontrá-lo.

Onde nós começamos nossa história.

Rezando para que tudo entre nós não estivesse acabado.


A velha casa da Sunder nas colinas.

Estava escura.

Quieta.

Quase assustadora.

Ou talvez foi apenas a quantidade impressionante de


desânimo e medo que senti com a possibilidade de ter me
desencontrado deles. A ironia que depois de todo esse tempo
eu finalmente ganhei coragem para vir e eles foram embora.
Para a estrada.

Com uma pitada de esperança, olhei a programação de


shows deles.

E aqui estava eu.

Estando na frente das chamativas luzes piscando.

Um farol.

A batida fraca da alta música de rock atravessou as


paredes de blocos espessos, estendendo a mão para tocar a
noite.

Sunder.

Minha cabeça girava com os velhos medos e


inseguranças, com a antiga vergonha que não queria mais
vestir, e me forcei a ir até a cabine.

Minha língua saiu para molhar meus lábios secos, e


minha voz falhou.

— Eu preciso de um ingresso, por favor.


Uma garota com mechas coloridas em seu cabelo loiro
platinado e um anel no lábio se inclinou para mim.

— Desculpe, você está cerca de um mês atrasada. Os


shows esgotaram há semanas.

O desespero percorreu meus sentidos. Eu agarrei a


beirada do balcão.

— Por favor.... Eu tenho que entrar... meu irmão...

O que eu deveria dizer? Meu irmão estará no palco? Que


me agarrei à esperança de que o garoto que eu precisava
estaria em algum lugar lá, compartilhando o show com seu
próprio irmão?

Que lá era meu lugar?

Eu acho que pareci desesperada o suficiente, porque ela


balançou a cabeça, deu-me um sorriso irônico.

— Vá em frente. A portaria está liberada. Não diga a


ninguém que a deixei entrar.

Alívio me iluminou.

— Obrigada.

— Claro que sim. — Ela disse isso como se não


significasse nada. Ela não tinha ideia do quanto estava
errada.

Atravessei as portas duplas até a área do lobby. As


pessoas estavam em toda parte, em sua maioria jovens, aqui
a perder-se nas canções pesadas e caóticas que falavam com
eles. As letras intensas e pronunciadas.
Como se eles, também, tivessem vindo aqui para
conseguir sua liberdade.

Liberdade.

Meus nervos dispararam rápido, e meu pulso trovejou,


minha respiração ficando cada vez mais presa e meus ombros
pesados. A cada passo que me levava mais longe.

Finalmente, cheguei ao salão principal.

As luzes estavam completamente escuras.

Todas, exceto as rajadas brilhantes de luz intermitente


no palco.

Silhuetas brilhantes.

Dedilhando guitarras.

Empurrei-me mais adentro no meio da multidão


delirante.

Atraída.

Cada vez para mais perto.

Tudo isso bloqueou minha garganta.

Perplexidade. Amor. Meu espírito dançou em


reconhecimento.

Eu pisquei.

Austin.

Pisquei novamente, tentando entender o que vi.

Austin.

Ele estava aqui.


No palco.

Com a Sunder.

Cantando.

Tocando.

No lugar de Baz.

O que estava acontecendo?

A confusão caiu como ondas através de mim, e minha


atenção foi atraída para a direita.

Para meu irmão.

Meu sangue.

Eu vou sentir saudades de você quando eu me for.

Eu ainda não havia sentido toda a magnitude do que


perdia. A menina de quatorze anos de idade que só queria
estar ao redor de seu irmão mais velho, desesperada por um
momento para se sentir importante. O único que foi afastado
e jogado de lado por ela.

Eu senti saudades. Oh meu deus, senti saudades.

Meu coração se apertou, e estava tentando engolir ao


redor do nó de emoção na base da minha garganta. Lutei
para chegar mais perto.

Os rostos escuros e os corpos balançando iam à loucura


ao pé do palco.

Puxei uma respiração para me equilibrar. Era como se


eu não fizesse nada mais do que respirar a turbulência
latejante. Puxando-me profundamente. A turbulência que
penetrava nos meus músculos e ossos.

Chamando-me de volta.

Mais perto.

Mais perto.

Algo grave passou por toda a minha pele.

A poderosa força escaldante.

A tempestade se formando à distância.

O fio de energia e o vento chicoteando.

Eu fugi tanto disso. E aqui estava eu. Depois de todos


esses anos. Rastejando como uma vagabunda quebrada,
machucada e implorando por uma passagem de volta para
casa.

Austin gritou no microfone, aquela boca linda torcida e


dura. Seus dedos voaram com precisão pelas cordas. Para
cima e para baixo no braço da guitarra elétrica, a outra mão
tocando a batida imprudente.

Oh, Deus.

Nenhum garoto deveria ter tão boa aparência.

Meu lindo garoto danificado. E eu girava e girava e


girava.

Trevas.

Luz.

Caos.
E este fio inflexível de esperança.

Era impressionante.

A febre que correu dentro de mim.

Lutei para chegar mais perto, infiltrando-me e apertando


através dos corpos unidos que lutavam pela mesma posição
que eu.

Mais perto. Mais perto. Mais perto.

Meu corpo se movimentava com a inclinação vertiginosa


do salão, meus passos me levando mais perto.

Querendo mais.

Era por isso que eu estava aqui.

Finalmente estava pronta para mais.

Eu estava pronta para tudo.

Luzes brilharam. Raios brilhantes de luzes coloridas


riscavam as linhas definidas do rosto dele.

Este garoto que eu deveria saber que seria sempre uma


parte de mim.

Eu queria isso.

Eu queria ele.

Queria tudo o que ele tinha a oferecer.

Eu fiquei lá em reverência completa no meio da


desordem. Corpos se batendo, pulando e gritando ao meu
redor. Punhos no ar. Vozes se elevando para cantar junto
com esse bonito, garoto misterioso.
Um garoto que sem dúvida pertencia àquele lugar o
tempo todo.

Eu vi o seu medo de ficar lá. Ouvi isso em suas palavras


e senti em suas reservas.

Mas eu sabia.... sabia que era o lugar dele.

Alegria.

Esperança e paz no meio da noite mais escura.

Não conseguia aguentar por mais tempo, empurrei-me


para trás para sair do meio da multidão. Acho que não
deveria ter ficado surpresa que a tarefa fosse muito mais fácil
do que o meu esforço para chegar mais perto do palco.

Mas para lá era exatamente onde eu estava indo.

Mais perto.

Movendo-me para o sempre.

A necessidade que me atingia como a batida da bateria


de Zee.

Com o caos maníaco de suas canções.

Caminhei até a entrada lateral dos bastidores e comecei


a subir dois degraus. Minha abordagem foi interrompida por
um grande e corpulento segurança.

Ele provavelmente poderia ter o dobro do tamanho de


Jed.

Ele cruzou os grossos braços tatuados sobre o peito.

— Eu preciso ir até lá. — Minha voz era ao mesmo


tempo fraca e forte.
Carente.

Ele riu.

— Sim... você e todas as outras garotas aqui, querida.


Somente para convidados.

— Por favor... Ash Evans... ele é meu irmão.

E eu queria dizer isso.

E Austin Stone é minha vida.

Isso congelou na minha língua.

O grandalhão balançou a cabeça.

— Boa tentativa.

Seu sorriso se transformou em quase simpático.

— Fica por aí... seu irmão provavelmente vai dar uma


conferida na multidão em algum momento esta noite. Nunca
se sabe o sabor que ele está procurando.

Meu estômago revirou, e lutei contra a queimadura de


umidade surgindo na parte de trás dos meus olhos.

Lágrimas de protesto e esperança e essa liberdade


indescritível que me provocava.

Pairando à distância.

O futuro o qual eu não fui corajosa o suficiente para


impedir de sair do meu alcance.

Notei um movimento atrás do segurança, e meus olhos


se adaptaram para distinguir as linhas e curvas. O rosto
familiar entrou em foco.
Alívio me bateu por todos os lados.

— Anthony! — Eu gritei.

Desesperada, lutei para espreitar a minha cabeça em


torno da massa desmedida que ficava como uma barricada de
concreto em frente a mim.

— Anthony!

Anthony di Pietro, gerente da Sunder, tropeçou em seu


passo confiante. Ele deu um passo para trás curioso,
sobrancelhas franzidas quando olhou para mim através da
névoa de escuridão e fumaça.

— Você se lembra de mim? — Eu praticamente implorei.

— Edie?

Libertação.

— Oh meu Deus, sim, por favor, eu preciso...

Eu precisava viver.

O segurança já estava girando para o lado. Ele


murmurou um pedido de desculpas, deixando-me passar ao
mesmo tempo que Anthony foi me pegando no calor de seu
peito.

Como se eu fosse sua filha há muito perdida.

Agarrei-o e deixei libertar o soluço que sacudia contra


minhas costelas.

Alívio.

Sua voz estava cheia preocupação.


— Edie Evans. Onde diabos você estava? Ash... seu
irmão... ele vai ficar tão aliviado ao vê-la. Ele me disse que
não fala com você há muito tempo.

Arrependimento pesou no meu coração. Eu sabia que a


única carta que enviei ao meu irmão era nada menos que
uma fraca tentativa de cobrir a minha dor. Ash teria estado
preocupado comigo todos esses anos.

Eu sabia que ele se preocuparia.

Só não sabia como me levantar e voltar.

Agora eu estava pronta.

— Eu não posso acreditar que você está aqui — Anthony


murmurou no topo da minha cabeça.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ele apenas me


abraçou, balançou-me, acalmou-me de uma maneira que me
dizia que eu era bem-vinda.

— Ei, está tudo bem. Ele vai ficar feliz em vê-la. Eu


prometo.

Vergonha.

Pairava por perto. Provocando-me das margens


sombrias. Uma fraca tonalidade de vermelho que fervia e
ardia.

Pronta para atacar.

Para me puxar de volta para as profundezas da solidão e


do nada.

Recusei-me a permitir.
Anthony parou de me abraçar, segurou-me no
comprimento do braço.

— Eu tenho que ir cuidar de algo realmente rápido. Por


que você não vai para a área VIP ao lado do palco? Os
meninos vão terminar em menos de cinco minutos... só tem
mais uma música após esta.

Fungando, balancei a cabeça, passei a manga da minha


camisa no meu rosto para enxugar a umidade.

Ofereci-lhe um pequeno sorriso de agradecido enquanto


a liberdade me esperava através de mim.

— Tudo bem, obrigada.

Ele deu um aceno de cabeça com os lábios puxando de


um lado.

— Bem-vinda ao lar, Edie.

Ele desfilou para longe, e andei através das sombras,


abraçando meu peito.

Cada célula do meu corpo parecia atraída para o som da


voz que vinha do palco.

Memorável.

Fascinante.

Hipnotizante.

Este garoto assombrado, tão escuro, tão triste, tão cheio


de vida.
Subi na lateral onde poderia vê-lo. Eu estava escondida
atrás das cortinas que cobriam o palco, a ascensão delas alta
e pesada.

Elas me mantiveram velada enquanto eu olhava para o


futuro esperando à distância.

Um tremor rolou em mim, desejo e devoção enquanto


olhava para um rosto muito brilhante.

O talento tão belo dele.

Seu corpo um tiro certeiro de devastação.

Todas as minhas defesas foram destruídas.

Ele estava tomado pela vibração, o som e o grito dos fãs.

Emoção me inundou.

Arrastou-me para ondas turvas de águas impenetráveis.

Tão profundas e sombrias.

Eu flutuava através delas.

Afogadas no conforto dele.

Este menino, meu mais perfeito ar.

Minha respiração.

Meus pulmões queimavam com o peso dele.

Tão cheios.

Cheios de esperança.

De crença.

Amor.

Eu queria me perder neles para sempre.


Aquela escuridão se agitou e piscou. Mas desta vez foi
diferente.

Viciosa.

Desprezível.

O ar ficou preso em meus pulmões.

Eu congelei.

Um conhecimento pinicando na minha consciência e os


minúsculos e pelos se levantaram na minha nuca.

Arrepios patinaram na minha pele enquanto o medo se


arrastava por toda a superfície.

Dardos de medo me perfurado em toda parte.

Golpeando.

Torturando.

Lágrimas ameaçando surgir e tentei duramente mantê-


las presas. Para mostrar a ele que eu não era mais fraca e
vulnerável. Recusando-me a permitir que me machucasse
novamente.

Mas a reação já estava lá, e Paul riu baixo e ameaçador


no meu ouvido.

Eu sabia que teria que enfrentá-lo. Algum dia. E em


breve.

Mas não aqui.

Assim não.

Respirações quentes ofegaram contra a minha


bochecha.
Memórias surgiram.

Seu corpo corrupto contra o meu. Sua respiração vulgar


no meu rosto.

Bile subiu na minha garganta. Enojamento afiado como


pregos.

Um soluço.

Tentei evitar. Mas entrou em erupção.

Apertado e estridente.

Como se minha capa de proteção fosse arrancada para


revelar a vergonha repugnante.

A perda mórbida de ser usada.

O pânico tomou o centro do palco.

Deixando de lado todos os outros sentimentos.

Lutar ou fugir.

E Deus. Eu queria lutar.

Mas eu não tinha forças.

Pressionei minha mão no meu rosto e me virei para


correr.

Corri para passar por ele. Para encontrar um lugar


seguro para me esconder. Eu gritei contra o punho repulsivo
que apertou o cerco contra meu antebraço. Ele obrigou-me a
voltar.

— Onde você pensa que está indo?

Tentei puxar meu braço.


— Fique longe de mim.

Ele me empurrou contra ele.

— Quero falar com você... talvez cobrar um pouco do


que você deve. Parece que uma noite está bem o suficiente
para começar. O que você acha?

Afastei-me e Paul me puxou em direção a ele. Duro. Eu


tropecei para frente. Ele me virou por isso as minhas costas
foram contra o peito dele, seus braços ao meu redor como
correntes.

Não.

Eu lutei e esperneei.

Meus gritos foram enterrados pela música.

Ele apertou seus braços.

Estávamos nas sombras.

Escondidos.

Cada centímetro meu rejeitou a ideia de ser tocada por


ele novamente.

As pesadas cortinas que cercavam o palco nos


disfarçaram, as asas escuras nos mantendo obscurecidos.

Ele me arrastou para trás até nós encontrarmos uma


porta. Abriu-a e me arrastou para dentro.

O pequeno espaço estava escuro como um breu.

No segundo em que estávamos dentro, ele me girou e me


tirou do seu domínio.
Respirei fundo e cambaleei para trás. Eu mal me movi
quando tropecei em algo no chão.

Ele se atrapalhou com um interruptor.

Uma lâmpada no teto piscou para a vida, e registrei que


estávamos em um antigo camarim que estava sendo utilizado
como depósito, o espaço bagunçado recheado de caixas e
equipamentos.

Um rastro desorganizado separava o lugar ao meio.

Paul olhou para mim, um sorriso de escárnio escrito em


seu rosto quando se virava e trancava a porta.

Repulsa se enrolou em meu estômago.

— O que você quer? — Exigi. Eu esperava que saísse


forte, mas saiu fraco.

Fechando a distância, ele se aproximou. Dei um passo


atrapalhada para trás.

— Fique longe de mim.

Fora das paredes ouvi Austin gritar no microfone,

— Boa noite!

— Austin. — O nome dele saiu sem a minha permissão.

Desdém encheu os olhos escuros de Paul.

— Você sempre gostou mais dele do que de mim, não é?

O medo veio vívido. De dentro da minha barriga e


selando através do meu espírito. Não era o medo do impacto
emocional que ele causaria em mim.

Mas na verdade, era um medo visceral.


O tipo que gritava pela autopreservação.

Da luta pela vida.

— Só te digo, você me deve. É claro que eu tinha uma


ideia totalmente diferente sobre a forma como esta noite ia
rolar..., mas ... quando a oportunidade aparece.

Minha cabeça balançou, as palavras presas na minha


língua seca enquanto eu dava outro passo para trás.

— Eu não sei o que você quer. Eu não tenho nada a


dizer.

Ele riu, um som maníaco, malicioso que me cortava


como farpas afiadas de ódio.

— Você não tem nada a dizer? Eu apodreci numa cela


durante os últimos quatro anos, e você não tem nada a dizer?

— Eu não sei do que você está falando. — Eu balancei a


cabeça confusa, minha voz obstruída com medo. — Você...
você... foi pego com drogas.

Austin me disse que ele foi preso uma noite depois que
eu fui embora. Depois que ele foi pego em flagrante. Ele foi
parado por dirigir sem placa, drogas foram encontradas em
seu carro, posse de drogas, reincidência.

Ele esboçou um sorriso que me cortava como uma faca


enferrujada.

Ele andou para a frente. Quase casualmente.

Mas não deixei de notar a ameaça por trás disso.

Ele invadiu.
Movi para trás, do mesmo modo que ele lentamente
espreitava para a frente.

Não havia nenhum lugar para ir, eu bati contra uma


grande caixa atrás de mim.

— Austin. — Seu nome foi um grito trêmulo. Somado a


um apelo. Sabendo que não era alto o suficiente.

Ele nem sabia que eu estava aqui.

— Pare de gritar, bebê. Ninguém vai ouvir.

Paul passou uma unha pelo meu rosto.

Vômito subiu pelo meu intestino.

— Mas antes de chegar à parte divertida, digamos que


você e eu teremos uma conversinha sobre isso. — Ele enfiou
a mão no bolso e tirou um pedaço de papel amassado,
desembrulhou-o e empurrou-o na minha cara.

Eu vacilei, mas me forcei a me concentrar, fazer o que


ele disse.

Compreender o que significava.

Meus olhos selvagens leram as palavras escritas no


bilhete esfarrapado.

Trezentos dólares. Três centenas de dólares a mais do


que você vale a pena. Mas, às vezes você tem que pagar a
cadela.

E às vezes a cadela é quem dá o troco.


Minha cabeça girava e eu lutava para entender. Aquelas
palavras cruéis rugiram de volta como se eu estivesse
ouvindo-as pela primeira vez.

As memórias que queria suprimir.

Parada lá implorando por ajuda e receber nada mais que


um tapa na cara.

O medo.

A tristeza.

A dor.

O lugar vazio dentro de mim latejava, e fechei meus


olhos bem apertados, enquanto as palavras que foram
adicionadas na parte inferior cutucavam a minha
consciência.

Dúvida e desordem.

Meu queixo caiu e minha língua enrolou. Assim como no


meu estômago enrolado.

Paul desintegrou o bilhete em seu punho.

— Engraçado, sabe, ser pego em seu próprio maldito


carro. — Seu tom foi duro, cheio de sarcasmo quando ele
cuspiu as palavras. — A placa que esteve lá naquela manhã
se foi. Cinco saquinhos de cocaína sob o assento que eu tinha
a porra da certeza que não tinha colocado lá.

Oh, Deus.

Oh, Deus.
Meus olhos se apertaram com mais força. Lutando
contra o entendimento.

Não.

Ele não faria isso.

Paul me pressionou mais contra a caixa. Respiração.


Minha respiração engasgada quando ele vomitou toda sua
raiva no meu rosto. Ele se inclinou perto do meu ouvido, o
peso opressivo do seu antebraço pressionando contra meu
peito.

Seu riso amargo sangrou.

— Fiquei lá por quatro malditos anos me perguntando


quem lá fora armou para mim... pensando que não havia
chance de uma putinha estúpida como você ter a coragem de
fazer algo parecido.

O fim.

A palavra cortou, fatiou e matou.

Severamente, ele sacudiu a cabeça. Lutando por seu


próprio controle. E então ele cedeu e seu antebraço foi levado
ao meu queixo.

Eu queria gritar.

Pedir-lhe para parar.

Dizer a ele que não era responsável por aquilo.

Em vez disso, dei um grito murmurado.

— Por favor... não. Eu não...


A pressão aumentou sobre minha garganta. O braço de
Paul empurrou mais forte, cortando o meu fluxo de oxigênio,
forçando o meu queixo. A caixa pesada rangeu debaixo de
mim.

Um gemido escapou, e agarrei inutilmente seu braço.

Fraca.

Por favor, Deus, não me deixe ser fraca.

Eu queria ser forte.

Encontrar a coragem que Austin viu em mim.

Durante todo o tempo tentando entender o que ele tinha


feito. Por que ele tinha feito isso.

Minha mente não queria aceitar o fato de que ele era o


responsável. O fato de que Paul esteve me enviando
mensagens esse tempo e ele nunca confessou.

Não estou entendendo.

Austin jurou para mim que era o único culpado.

Paul riu novamente. Seus olhos selvagens. Fervendo


com a sede de vingança.

— Sua estúpida, garota estúpida. Eles me deixaram sair


antes do tempo, já que eu era um bom menino lá dentro.
Claro que me devolveram as minhas coisas que foram
confiscadas. Minhas roupas e meu celular. E lá estava ela,
bem na minha carteira, a evidência de que foi você o tempo
todo. Mas era isso o que você queria, certo? Que eu soubesse.
O que você achou que iria acontecer?
Medo estremeceu, correu por mim e pisquei através das
lágrimas que não paravam de cair.

Mais uma vez, eu era a tola, sujeita à crueldade dos


depravados, nas mãos ímpias de Paul.

— O que você pensava, Edie? Quando eu saísse... o que


exatamente você achou que ia acontecer? Você pensou que
eu apenas deixaria isso para lá? Porque você vai pagar como
a vadia suja que é.

Um grito irregular rasgou minha garganta.

— Não. Por favor. Não.

Ele se inclinou, sua respiração trazendo o vômito para a


minha boca, seu murmúrio uma lâmina no meu ouvido.

— Sim.
Música tocava nos alto-falantes. A casa nas colinas
estava lotada.

Transbordando com corpos apenas querendo ser vistos.

A Sunder tinha tocado esta noite.

Pela primeira vez, os ingressos se esgotaram.

Parecia que durante a noite, multidões de pessoas


estavam com a boca salivando, morrendo de vontade de
conseguir uma amostra do que os garotos da banda tinham a
oferecer.

Querendo conseguir um pedacinho.

Abutres do caralho.

Isso me dava coceira.

Pouco à vontade.
Eu andava às margens do caos, da maneira como
sempre fiz, mantendo-me na minha.

As duas coisas que costumavam me atrair para as festas


intermináveis? Elas já não pareciam uma tentação. Nem as
carreiras6 sobre a mesa do escritório ou as mulheres meio
nuas penduradas em qualquer cara que elas conseguissem
afundar suas garras.

Não quero mais nada disso.

Eu tinha feito uma promessa para Edie.

Eu prometi a ela que manteria limpos meu nariz e meu


corpo, porque só o pensamento de escorregar de volta para
essa confusão não era mais algo que podia suportar.

Você é muito bom para isso, ela me disse em uma noite.


Lavando-me naquele doce poço de confiança e crença firme
quando confidenciei a ela um pouco da merda que me meti. O
caos e o tumulto. O meu tropeço rápido diretamente para o
buraco do coelho. Tão jovem, caralho, segui aquele sombrio,
com o resto dos caras.

Por muitos anos, parecia a única direção que qualquer


um de nós poderia seguir.

Você pensaria que uma vez que toda essa gente fosse
chutada, essa merda não estaria mais acontecendo na casa
da Sunder. Mas lá estava, aquela tentação bem debaixo dos
nossos narizes, o brilho decadente que parecia andar de

6 De drogas.
mãos dadas com este estilo de vida que se espalhava como
um buffet.

Qualquer um de nós poderia simplesmente chegar e nos


banquetear nele.

Sentindo-me repentinamente varrido ao longo do chão.

Abastecido e alimentado.

Chegando mais e mais rápido.

Atraído, olhei para cima. Meu olhar roubado para quem


eu queria ver.

Meu segredo favorito.

Do outro lado da sala, Edie me lançou um malicioso


sorriso tímido. Ela baixou a cabeça tão rápido quanto olhou,
virou-se para o que quer que seu irmão porra louca estava
jorrando para ela.

O cara era maior que a vida.

Adorava viver na grandeza.

No alto.

Um braço tatuado estava pendurado em uma garota, o


outro selvagemente gesticulando enquanto ele contava uma
história que, provavelmente, nada mais era do que um conto
louco.

Droga, eu nunca queria estar perto o suficiente para


ouvir.

Certo. Então essa foi uma mentira deslavada.

Eu queria estar perto dela.


Queria estar perto da garota que eu estava me
esforçando tanto para não estender a mão e tocar. Mas isso
estaria nos expondo. E já que toda a nossa coisa já era uma
confusa bagunça, complicada, sabia que não seria a melhor
coisa.

A melhor coisa?

Era que essa menina estava fora de seu quarto.

Sorridente.

Mostrando seu rosto que antes ela sempre tentou


esconder.

Que diabos, machucaria ir dizer oi?

Enfiando minhas mãos nos bolsos, passeei na sua


direção, tão casual quanto poderia estar, enquanto algum
tipo de frenesi despertou dentro de mim.

Ela olhou para o chão, tão doce e tímida, mordeu o lábio


enquanto me aproximava.

Mesmo assim, não deixei de notar a forma como seu


corpo se contraiu conforme eu chegava mais perto.

Precisando de mim do jeito que eu precisava dela.

E aquela necessidade?

Só cresceu e cresceu.

Forte e avassaladora.

Vida e luz.

Agarrando-me em todos os lugares.

Ash sorriu como um tolo.


— Bem, bem, bem. Parece que temos um outro Stone
que quer sair e brincar.

Ele sorriu para mim, apertou o braço que ele tinha


enrolado em torno da nuca da vadia.

— Querida, por que você não vai buscar uma amiga ou


duas? E as apresenta ao meu garoto Austin aqui.

Ele projetava o queixo na minha direção, todo sorrisos e


provocação.

— Cara, parece que ele poderia usar um pouco de


companhia.

Edie se encolheu.

Eu tinha certeza de que ninguém notou.

Mas eu tinha a porra da certeza que notei.

Sem retirar minhas mãos dos meus bolsos da frente,


levantei meus cotovelos para fora.

— Muito bem, cara. Não preciso que você fique tentando


me arranjar. Tenho certeza que consigo muito bem sozinho.

Os olhos azuis dançavam.

— Ah! Você consegue. E hoje temos muitas senhoras


encantadoras, e todas elas estão implorando por um pouco
de diversão. Estou muito contente de fornecer isso, mas não
tenho certeza de que posso lidar com todas elas.

Eu levantei uma sobrancelha.

— Com toda certeza você faria um bom trabalho por lá.

Ele riu. Alto.


— Acho que posso.

Seu olhar inclinado em direção a sua irmã.

— Já que você está aqui, por que não fica de olho na


Edie para mim? — Seu sorriso se transformou em um sorriso
afetuoso, quando a olhou. — A garota mais bonita em toda a
casa.

Edie corou do jeito que ela corava.

Um anjo.

Ele voltou sua atenção para mim, enfatizando o fato com


um menear de sua cabeça.

— Não preciso de nenhum desses filhos da puta


tentando fazer um movimento para minha irmãzinha. Você
sabe que não daria certo.

Isso mesmo, não daria.

— Claro que sim. — Eu disse isso como se não me


importasse. Se ele soubesse que sua irmãzinha era a única
razão pela qual eu estava aqui embaixo.

Olhei para ela, naquele azul oceano, sentindo-me engolir


todo. Consumindo-me.

— Você quer ir para algum lugar que esteja mais quieto?

— Por favor.

Comecei a andar para trás, inclinando a cabeça para


trás.

— Vamos sair para o pátio. Está agradável lá fora esta


noite.
— Eu adoraria.

Caminhamos lado a lado para a cozinha, que estava


lotada de parede a parede.

— Eu vou pegar umas garrafas de água. Eu te encontro


lá fora.

— Está bem — Disse ela, felizmente, porque eu sabia


que Edie não queria ficar lá rodeada de pessoas que não
conhecia. Ela saiu no meio da multidão, seus cabelos
brancos balançando ao seu redor enquanto caminhava para o
outro lado, rapidamente se esgueirando pela porta dos
fundos.

Eu dei oi para algumas pessoas, busquei as águas na


geladeira, que era a última coisa que mais alguém queria por
aqui, antes que caminhasse na direção que Edie foi.

Saí para a noite. Enormes árvores altas e orgulhosas


apareciam ao lado da enorme casa, estendendo-se para
oferecer proteção e sombra, a festa era um eco estridente que
eu estava muito feliz em deixar para trás.

Desci para o pequeno quintal composto por arbustos e


flores isoladas ao lado da casa. Raios de luar caíam e
iluminavam o espaço.

O ar ficou preso em meus pulmões quando vi Edie no


meio dele.

Arrepios patinaram na minha espinha.

Chamas gélidas.
Minha mão apertou e as garrafas de plástico rangeram,
lâminas descendo na minha garganta quando tentei engolir.

Paul se elevava sobre ela, com a cabeça abaixada,


enquanto ele tentava se aproximar de seu rosto, sem dúvida
dizendo algo vulgar.

Depravado.

A cabeça de Edie se desviou para baixo, virando-se.


Como se ela estivesse tentando se encolher.

A menina era uma prisioneira da vergonha que não


merecia.

Possessividade aumentou e fogo inflamou por minhas


veias.

Eu vi vermelho e deixei cair as garrafas, minhas mãos


em punhos quando corri em direção a ela.

Senti-me desequilibrado quando finalmente cheguei


perto o suficiente para ouvir o que ele disse.

— ...então vamos mais uma rodada. Você me deve, bebê,


não acha?

Sua voz era totalmente doce. Imoral e maldosa.

A raiva borbulhou e ferveu. E eu estava lá. De queixo


erguido tentando me conter.

Meu segredo favorito.

Ele olhou para mim e me dispensou muito rápido.

— Estamos claramente ocupados aqui, não acha?

Eu só fiquei lá.
Embora aquilo estivesse se construindo e construindo.

O ódio pelo que ele fez.

Por sua angústia e tristeza.

Por sua perda que tentei segurar todas as noites.

O fato de esse bastardo ser a única coisa que estava no


nosso caminho.

Ele era a barreira para a felicidade nos provocando. Tão


perto, mas tão fora de alcance, porra.

— Eu disse cai fora, imbecil. — Com isso, sua voz veio


um pouco mais dura e me aproximei.

Assim como ele apertava a mão brutalmente em torno


do pulso de Edie.

— Solte-a. — Falei rápido.

Ele riu um som zombeteiro.

— Isso não vai acontecer. Ela e eu temos alguns


negócios inacabados para resolver. A vadia me deve e ela vai
pagar.

A violência latente dentro de mim explodiu.

Eu avancei. Empurrei-o no peito com as duas mãos.

— Ela não vai a lugar nenhum com você.

Paul cambaleou para trás. A raiva atingiu linhas duras


em seu rosto repugnante.

— E vai ser você quem vai me impedir?

— Sim, eu.
Disse muito friamente.

Como se eu não fosse um moleque magricela olhando


para um homem adulto muito puto. Mas era o homem que eu
queria arrebentar de porrada. Arrebentar era uma saída. Para
libertar.

Eu lutaria por ela.

Com vontade.

Até a morte se isso fosse necessário.

— Austin. — Meu nome era um apelo de sua boca. Foi


um pedido que eu não conseguia entender quando eu estava
empurrando-a atrás de mim e me pondo entre eles.

Paul riu baixo. É claro então que foi aí que minhas


intenções apareceram.

— Ah... que bonito. Parece que alguém está interessado.


— Ele inclinou a cabeça, seu tom era insulto puro. — O
garoto mudo está disposto a ter o seu traseiro chutado por
uma puta sem valor. Ela é uma boa puta, porém, não é?

O fim.

Isso golpeou o ar como um raio.

Um incêndio sendo incitado.

Edie engasgou com o golpe dele.

Meu anjo.

Voei para ele.

Um vai e vem de punhos, ódio e maldições na minha


língua.
Paul me surpreendeu.

Foi um golpe direto no meu queixo que quase me


derrubou no chão.

Minha cabeça balançou para trás.

Não importava a dor que quase me dividiu em dois.

Eu lutei contra.

Atacando com tudo que eu tinha.

— Eu vou matar você, filho da puta. Você a usou... a


engravidou, seu pedaço de merda. Você nem sequer se
importou, porra. Eu vou matar você. Eu vou matar você.

Eu bati no alto da maçã do rosto.

Com o golpe, ele cambaleou para trás, limpou o sangue


jorrando do corte que infligi.

— Eu me aproveitei dela? Putinhas como ela são todas


iguais. Choramingando por alguns dólares extras, como a
prostituta que é. Provavelmente não estava nem mesmo
grávida.

Ofuscante.

A raiva.

O ódio.

Não dei mais a mínima que ele fosse maior do que eu.

Ele ia pagar.

Nem que fosse a última coisa que faria, ele ia pagar.


Eu chutei e soquei enquanto um distúrbio murmurado
de palavras caía amargamente da minha língua.

— Não estava grávida? Seu imbecil ignorante. Ela teve a


bebê. Ela teve a bebê. Ela teve que entregá-la. Você tem
alguma ideia do que isso fez com ela. Você tem alguma ideia?

As palavras eram tão irregulares quanto minha


respiração.

As estrelas e o céu giraram em um caleidoscópio de


loucura.

A violência agonizante que não podia ser saciada.

O amor que eu tinha por esta menina era excruciante.

Edie de repente chorou.

Um grito tão profundo que penetrou a fúria.

Ela se desesperava quando me virei para olhá-la.

Seu olhar estava sobre mim.

Quebrado.

Traído.

— Você... você disse a ele? Ele nunca ia saber. Como


você pôde... como pôde? — Ela recuou, segurando a si
mesma. O local onde a filha tinha estado.

Paul congelou, em seguida, avançou para a frente.

— Que porra é essa que ele disse? Você está me dizendo


que há uma porra de criança lá fora que poderia ser minha?

Ele voou, mergulhou, onde cuspiu as palavras no rosto


horrorizado dela.
— O que é que ele está dizendo? Que um dia eu vou ter
algum pirralho aparecendo, batendo na minha porta, dizendo
que eu sou o seu pai perdido há muito tempo?

Edie engasgou sobre suas lágrimas. Com a cabeça entre


os ombros. Tentando se esconder.

Vergonha.

Medo serpenteou sobre a minha pele.

Úmido e frio.

O que eu fiz? O que eu fiz?

Sempre peguei as coisas boas que me foram dadas e


destruí antes que elas tivessem a chance de florescer.

— Edie — Sussurrei.

— Puta estúpida do caralho. Você foi paga por isso,


também? Quanto você conseguiu por ela? Diga-me.

— Edie — Implorei.

Ela não estava nem olhando para Paul quando ele


açoitou e vomitou palavras terríveis de sua boca.

Ela estava olhando para mim, incrédula.

Eu podia sentir, aquela esperança sugada pelo ar.


Dissipando como a confiança que acabei de esmagar. Um
turbilhão balançou e se agitou com a fúria. Colidindo e
caindo até que não havia mais nada.

Eu fiquei lá quando ela fugiu voltando para a casa.


Passei minhas mãos no meu cabelo. Tentando respirar.

Paul cuspiu no chão. Apontou para mim.


— Isso ainda não acabou.

Minha voz estava mortalmente baixa.

— Você pode ir para o inferno.

Ele zombou uma risada, antes que se virasse e falasse


as palavras casualmente por cima do ombro.

— Vamos ver.

Eu andei.

Imaginando como ia consertar isso. Sabendo que eu não


poderia dizer nada pior.

Que a feri de uma forma que ela não podia suportar.

Cinco minutos depois, ouvi a porta da frente bater.

Eu não sabia o porquê. Eu só sabia. Eu só sabia,


caralho.

Corri até a frente da casa.

Edie tinha uma grande bolsa pendurada no ombro, os


braços cruzados sobre o peito e sua cabeça caída de
humilhação quando se arrastou até a garagem de
paralelepípedos.

— Edie — Sussurrei o pedido, que se tornou frenético


quando percebi que ela não olharia para trás, para mim.

— Edie.

Ela começou a correr.

— Edie, espere, por favor, espere.


Ela se virou, com a mão em punho sobre o coração.
Tormento fluía de sua boca.

— Eu não posso acreditar que você fez isso comigo.


Depois de tudo o que confiei a você. Só... fique fora disso.
Fique fora da minha vida e dos meus assuntos, porque não
posso confiar em você. Não deixe isso pior do que já deixou.

Um táxi parou na esquina, e ela correu para longe de


mim.

Eu lutei para chegar até ela.

Para impedi-la.

Ela saltou dentro e bateu a porta, com as mãos


tremendo enquanto se atrapalhava para travá-la quando
cheguei lá. Edie manteve a cabeça baixa, aquele halo branco
cobrindo seu rosto, recusando-se a olhar para mim.

— Edie! — Gritei. Eu bati na janela. — Edie!

O carro acelerou, e corri para a rua atrás dele enquanto


se afastava.

Rasgando o último bom pedaço de mim.

— Edie, por favor! — Eu gritei para a noite.

Por favor.

— Espere.

A tormenta doía e doía. Aquele lugar oco voltou com o


gosto amargo da morte.
Eu não deveria ter ficado surpreso.

Aquilo era o que eu fazia.

Pegava as coisas boas e destruía. Esmagava-as em


minhas mãos.

Amargura queimou pelo meu sangue.

Um caos sem esperança.

— Vamos sair as cinco, — Baz advertiu. Ele estava


enchendo sua bolsa com um monte de porcaria, meu irmão
arrumando a bagagem para a última etapa de sua Turnê
Divided, que nos levaria a mais seis cidades.

Esta foi a turnê que os consolidou como uma banda.

A que lhes deu fama.

Fortuna.

Mas tinha valido a pena?

Porque essa também foi a turnê que roubou Mark. A


turnê que nos deixou na miséria.

Claro, que foi antes que eu visse a luz.

Fui cegado por ela, realmente.

Porque agora parecia que eu estava tropeçando em uma


escuridão, um breu. Sabendo que nunca terminaria. Que eu
nunca ficaria bem. Que o meu passado, meus erros, sempre
estariam lá esperando para me pegar.

Julian. Julian. Julian.

A presença dele enrolava em torno de mim como feixe de


raios. Zombando de mim por minha ingenuidade. Pela crença
tola que talvez, apenas talvez, poderia ter encontrado a
felicidade.

Que eu poderia ser bom para alguém. Dar algo de volta,


em vez de tirar, tirar, tirar.

Mordi de volta um som ressentido.

Porque eu tinha.

Eu tinha encontrado.

Edie.

Então fui lá e destruí tudo.

— Entendi — Falei. Não dava a mínima para onde as


estradas os levaria porque eu sabia que só tinha que viajar
em uma direção.

Descer.

Mas eu tinha uma última coisa a fazer antes de


finalmente desistir.

Ninguém sequer percebeu quando peguei as chaves do


meu irmão ou quando tirei o maço gordo de dinheiro do cofre.
Nem quando apareci naquele apartamento no gueto, e fiz o
negócio que sabia que iria selar o destino do idiota, e com
certeza não quando escapei para a sua casa decadente.

Ajoelhado atrás de seu carro, o chão ardia em meus


joelhos. Rapidamente, tirei os parafusos que prendiam a sua
placa.

Joguei-a atrás de um arbusto.

Isso não acabou.


Suas palavras rolaram através de mim. A ameaça para a
minha garota. Uma que eu estava indo apagar.

Prendi a respiração quando entrei em seu carro e plantei


os papelotes sob o assento.

Busquei em torno um lugar para deixar o bilhete. Com


uma sorte filha da puta, parecia que eu estava feito hoje,
porque a carteira do idiota estava escondida no console
central. Enfiei o bilhete entre notas de cinco e dez.

Trezentos dólares. Três centenas de dólares a mais do


que você vale a pena. Mas, às vezes você tem que pagar a
cadela.

E às vezes a cadela é quem dá o troco.

O único consolo que tive em tudo aquilo foi saber que


quando ele visse o bilhete, saberia que era eu, as palavras
que tão violentamente disse para Edie, repetindo-se com um
especial foda-se, apenas eu dando um gran finale. Meu
próprio tchauzinho enviando-o embora.

Eu esperava com todas as minha forças que o que deixei


em seu carro fosse o suficiente para enviar o filho da puta
direto para o inferno.

Talvez, então, ele queimasse lá comigo.

Esperei o dia todo pela oportunidade. Finalmente, tive


quando o idiota saiu de sua casa como se ele precisasse
pegar alguma coisa. Como se fosse imune a todas as
consequências do mundo, Paul deixou seu carro em marcha
lenta na garagem.
Um segundo.

Um momento.

Um erro.

Eu acho que aquilo realmente foi o suficiente.

Por trás de uma parede, eu o assisti entrar em seu carro


e dirigí-lo em sentido inverso, entrando na rua, e
desaparecendo no cruzamento final.

Eu tinha prometido a ela que a protegeria.

E estava fazendo isso da única maneira que eu sabia.

Cinco horas depois, deparei-me com o ônibus da


Sunder.

Totalmente perdido.

Desesperado.

Incapaz de respirar.

Os caras chegaram no local. Preparando-se para o seu


show. Não tendo nenhum indício da devastação que causei.

Esperei até que eles se fossem antes de invadir o


cubículo onde eu sabia que Mark guardava o número do seu
revendedor.

Mandei uma mensagem para um traficante.

Qualquer coisa para anestesiar a dor.

Para apagar.

Desesperado para alcançar a escuridão.

Porque depois que você ficou na luz?


Você já não sabe como viver sem ela.
— Boa noite!

Nós quatro levantamos as mãos e saímos do palco.


Parecia que meus pés não estavam tocando o chão.

Meu corpo flutuando.

Espírito crescendo.

Gritos, aplausos, e um canto pedindo mais só serviu


para aumentar ainda mais. Meu sangue correu e pulsou. Eu
podia sentir a adrenalina consumindo cada célula do meu
corpo. Implorando para ser libertada.

Eu me coçava.

Acho que foi nesse momento que finalmente compreendi


plenamente a compulsão que meu irmão tentou uma vez
descrever para mim. Quando ele tentou me fazer entender o
que realmente sentia ao estar num palco na frente de
milhares de fãs. Como era sentir o frenesi e como eles apenas
o derramavam de volta para dentro de você.
Assim que passei pela parede de cortinas, Ash apertou
suas mãos na parte de trás dos meus ombros. O cara me
usou como um trampolim para impulsionar-se para o ar,
fazendo seu próprio tipo de voo. Ele caiu com um estrondo
com ambas as palmas nas minhas costas.

— É isso aí, cara. Você arrebentou. O show foi épico. A


multidão estava selvagem. Eles amaram você, cara. Perfeito.
Perfeito, porra.

Perfeito.

Aquela foi a maneira que pareceu.

Como se lá em cima fosse mesmo meu lugar.

Lyrik me deu um menear de queixo em sinal de


aprovação clara enquanto se afastava, seu cabelo preto
balançando acima da multidão que ele desaparecia. Zee
ofereceu um bater de punhos quando passou.

— É isso, cara. Sabia que você podia.

Mas era o meu irmão que estava esperando aparecer


que me fez retardar os meus passos.

Era sua aprovação que eu buscava.

Ele me agarrou pelos ombros. Balançou-me. Seus dedos


cavando minha pele.

— Estou tão, orgulhoso de você, Austin. Orgulhoso para


caralho.

Ele me puxou para um abraço apertado, com os punhos


nas minhas costas, e o abracei de volta. Tudo o que ele já fez
por mim estava bem ali, na linha da frente dos meus
pensamentos e memórias.

— Obrigado por me dar esta oportunidade.

Suas palavras foram roucas.

— Obrigado por aceitá-la.

Meu gesto foi ligeiro, e meu coração acelerado bateu um


pouco mais forte enquanto eu apreciava tudo por um
momento mais.

Então, eu o soltei.

Focado no que me trouxe de volta para Los Angeles, em


primeiro lugar.

A principal razão pelo qual eu estava aqui, mesmo que


me sentisse como se encontrasse uma peça que faltava em
mim ao longo do caminho.

Paul retornou minha mensagem de texto quando eu o


avisei que deixaria um passe para os bastidores para ele com
uma ligação, disse que estaria lá.

Eu estava pronto.

Muito pronto para me levantar e assumir a


responsabilidade que era minha e certificar-me de que o filho
da puta nunca mais teria um pensamento vagando em
direção a minha garota.

Eu sabia que ia ser uma briga.

Uma que me recusava a aceitar nada além de ganhar.


Percebi que só tinha que esperar até ele estar na minha
frente, pensando que estava prestes a se dar bem quando o
imbecil ainda não tinha jogado. A queda seria maior por
trazê-lo aqui, sob os auspícios de algo grande, quando as
coisas para ele estavam prestes a dar terrivelmente errado.

Agitação começou lentamente, mas forte. Eu procurei os


rostos à espera nos bastidores, esperando-o sair das sombras
como o filho da puta assustador que ele era.

Então, voltaria para Santa Cruz, encontraria minha


menina, e confessaria tudo.

Ia dizer a ela que como sempre fiz, meti-a numa


confusão e no caos. Que apenas tornou tudo pior.

Mesmo que estivesse tentando fazer a coisa certa. Eu


sabia que não poderia continuar sem tirar ele do caminho
dela, já que ele prometeu que não tinha acabado. Percebi
agora que não acabaria até que Paul fosse posto em seu
lugar.

Anthony apareceu. Confuso, ele olhou em volta, como se


estivesse à procura de alguém. Eu não deixei de ver a
preocupação brilhando em seu rosto ou a preocupação com
que se moveu em minha direção.

— Ei, Ash — Ele chamou.

Ash estava com o braço em torno de uma garota,


fazendo-a rir enquanto sussurrava algo que eu tinha certeza
de que era totalmente obsceno em seu ouvido. O cara sempre
foi um cachorro.
— Volto em um minuto, querida — Disse ele com aquela
cadência arrogante. Ele passeou direção de Anthony. — E aí
cara?

Anthony hesitou, os olhos correndo ao redor novamente.


Algo em meu espírito me fez prestar atenção a tudo o que ele
estava prestes a dizer, meu corpo sendo golpeado com um
tremor de inquietação.

— Você viu sua irmã... Edie?

A expressão de Ash ficou em branco por um flash de


segundo. Como se ele estivesse processando. Perplexo.

Enquanto minhas entranhas se torciam.

— O que quer dizer, minha irmã? — Ele perguntou, do


jeito distante que sempre usava. Algo intensa o atingiu.

— Sua irmã. Ela está aqui. Disse-lhe para esperar na


seção VIP nos bastidores. Não estou a vendo agora.

A preocupação apareceu imediatamente na expressão de


Ash.

— Minha irmã? Tem certeza, Anthony? Não brinque


comigo, cara. Não sobre ela.

Anthony balançou a cabeça.

— Realmente acha que eu iria mexer com você sobre


algo assim?

A conversa tornou-se um zumbido maçante no fundo da


minha mente.

Tudo mudou para segundo plano.


Meu olhar brilhou ao redor da sala. Pesquisando as
enseadas e recessos.

Pânico acendeu na minha barriga.

Como uma chama.

Um anel de fogo.

Eu estava no meio dela.

Queimando.

Não.

De novo não.

Porra. Porra. Porra.

Procurei no meu bolso o meu telefone.

O medo veio vasto e amplo quando li a mensagem que


eu tinha em espera.

Uma de Paul.

Nos bastidores. Pronto para ouvir tudo o que você tem a


dizer.

Não. Não. Não.

Eu nem sequer percebi que eu estava falando em voz


alta. Minha voz ficou mais alta com cada palavra que rasgou
da minha língua.

— Não... porra... não. Edie.

Gritei, girando dentro de um círculo.

— Edie!

Ash se virou em um frenesi movimentado.


Nossos olhos se encontraram.

Como se ele soubesse.

Corri em direção à parte de trás do edifício onde a festa


pós show rolava.

Ash estava em meus calcanhares, falando.

— Por que estou sentindo que você tem um monte de


porra a explicar e não vou gostar do que você tem a dizer?

Eu não parei para lhe dar uma resposta.

Só empurrei as pessoas espalhadas na parte de trás do


salão onde a grande sala se espalhava, gritando por ela o
tempo todo.

Lá dentro, uma tonelada de idiotas estavam como se


fossem os donos do lugar, meninas prontas para encarar o
lixo que fosse com esses perdedores apenas para conseguir
um gostinho do brilho e do glamour.

Como se alguém no dia seguinte sequer lembrasse seus


nomes.

Olhei para cada uma delas.

Ela não estava lá.

Horror se espalhou por mim.

Afundando-me e agarrando.

Eu quase colidi com Ash quando dei a volta. Corri para


o corredor. Nós corremos mais profundamente nas entranhas
do edifício antigo, em direção aos vestiários e escritórios na
parte de trás. Estávamos abrindo as portas, o nome dela
voando em um fluxo constante de nossas línguas.

Algo próximo à histeria surgiu dentro de mim.

O pensamento daquele filho da puta a tocando...


machucando.

Não.

Eu não deixaria isso acontecer.

De novo não.

Descendo, virei-me e fui arremessado de volta de onde


viemos, Ash ocupando o meu lado.

Não dando a mínima que eu estivesse literalmente


empurrando as pessoas para fora do meu caminho enquanto
eu me jogava contra elas.

A confusão reinava nas expressões de todos quando


voltamos ao lado do palco, Baz, Anthony, e Zee olhando para
nós como se eles estivessem se perguntando o que fazer,
Lyrik agora já estava na briga.

Frenético, meus olhos olharam em todos os cantos.

Observando tudo quando vi a porta à esquerda do palco,


escondida e esquecida nas sombras.

Corri em direção a ela e agarrei a maçaneta. Puxei.

Trancada.

Terror me queimou, sufocou, e dei um passo para trás,


levantei a sola da minha bota para que eu pudesse chutar a
porta.
Ela sacudiu, mas permaneceu fechada.

Eu fiz de novo.

E de novo.

Só chutei e chutei até que a estilhacei e consegui. Se


abriu e colidiu contra a parede de dentro. Sem hesitar, eu
entrei completamente.

Edie.

Violência se arranhou abaixo da superfície da minha


pele.

Paul a mantinha presa contra uma grande caixa na


parede dos fundos. Em estado de choque, ele se virou para
olhar por cima do ombro quando me ouviu entrando.

Mas eu sabia.

Não havia como não ver aqueles aterrorizados, olhos cor


do mar, o que o pedaço de merda tinha a intenção de fazer.

— Austin. — Meu nome saiu em tom de alívio


estrangulado e ela caiu quando ele girou e soltou.

Porra, eu mal conseguia entender tudo. O fato de que a


minha garota estava aqui depois do jeito que a traí na outra
noite.

Raiva se mexeu em meus músculos e minhas mãos


ficaram em punhos. Impulsionado pela fúria reprimida e o
ódio incontrolável, eu corri.

Corri direito para o imbecil.

Edie gritou e pulou fora do caminho.


Em algum lugar na névoa da minha mente, podia ouvir
a voz de Ash cortando o ar sufocante.

— Edie... oh Deus... me diga que você está bem. O que


diabos você está fazendo aqui? Edie.

Mas não podia processar. Meu foco era o homem que


era a raiz de tudo. Com força total, eu bati nele.

Eu bati nele no estômago com meu ombro. Com o


impacto, tranquei meus braços ao redor da cintura dele e o
derrubei.

Nós voamos.

Isso só alimentou a escuridão, alimentou a raiva,


minhas veias com fogo ardente. Nós caímos duro, um
emaranhado de pernas e grunhidos amargos, uma batalha
definitiva para decidir.

Eu fiz.

Porque não estava prestes a deixar este imbecil ganhar.

Eu sabia que Ash estava ali, no limite, com os músculos


apertados. Tenso com adrenalina. Pronto para saltar dentro.
Não fazendo ideia de que estávamos lutando por mais do que
o fato do idiota manter sua irmãzinha trancada em uma sala
de armazenamento.

Isso por si só seria suficiente para mandar as coisas


para o espaço.

Mas se ele soubesse o quão profundo isso ia?

Ele teria se perdido. Da mesma maneira que eu.


— Filho da puta. — O xingamento que Paul grunhiu foi
baixo, os olhos arregalados de tanta confusão e choque.

Embora talvez não tão chocado quanto inclinei meu


braço para trás e joguei meu punho como um martelo em seu
rosto.

Eu dei dois socos.

Cortei sua pele.

Sangue derramado.

Agarrei-o pela camisa, puxei-o para cima, e o joguei


contra o chão de concreto.

— Seu filho da puta. Realmente pensou que te deixaria


tocar nela de novo?

— Que porra é essa? — Ele resmungou, afastando-se, o


tolo apenas agora se ligando ao fato de que ele não estava lá
para conseguir um pedaço da Sunder.

Mas eu com certeza ia pegar um pedaço dele.

— Eu te avisei que te mataria — Eu fervia, meus dentes


rangendo, desesperado para cumprir a ameaça.

Uma mão voou livre e me acertou no queixo.

Pego de surpresa, balancei para trás, e ele se levantou e


veio para mim, dando gargalhadas.

Maníaco.

— Você quer lutar por aquela putinha? Puta do


caralho... mandou-me para a cadeia pelos últimos quatro
anos. Ela vai me pagar. De um jeito ou de outro. Poderia
muito bem cobrar de você.

O cara só podia estar louco por jogar essas palavras


para mim. E não vamos esquecer o irmão de Edie que estava
muito bravo lá. Tentando entender os detalhes.

Somando-os.

Sabia que seria apenas questão de alguns segundos


antes que ele finalmente entendesse.

Aparentemente, o babaca deixou passar o aviso de que


alguns anos se passaram. Porque eu com toda certeza, não
era mais um adolescente magricela. No segundo em que ele
atacou, bati de volta com um soco. Um golpe direto no nariz.

A cartilagem rachou e sangue jorrou. Espirrou em seu


rosto e sujou o chão. Nem sequer dei-lhe tempo para
choramingar como a cadela que era antes que eu estivesse
em cima dele.

Caixas tombaram, vidro quebrou e equipamentos de


metal fizeram ruídos caindo no chão enquanto batia nele de
novo como um saco de batatas. Eu o prendi na parede. Ele
lutou e meu aperto aumentou à medida que coloquei para
fora, palavras duras ditas em direção ao seu rosto, o riso
duro que me deixou amargo.

— Você acha que Edie fez isso com você? Aquela doce
menina que você destruiu? Você realmente acha que foi ela?
Por que não pensa sobre isso um pouco mais, imbecil?

Minha voz estava perigosamente tranquila.


— Pense nisso. Ou você não teve tempo o suficiente para
descobrir isso enquanto apodrecia atrás das grades nos
últimos quatro anos? Será que essa sua consciência
distorcida nunca te deixou perceber? Você finalmente
conseguiu... finalmente entendeu por que te mandei para lá?
Realmente achou por um segundo que iria ficar de lado e
deixá-lo fugir com o que você fez?

Um soluço rasgou de Edie. Deus, eu queria rastejar para


ela em minhas mãos e joelhos. Pedir-lhe que me perdoe pelo
que eu estava fazendo.

Em vez disso, concentrei-me no medo de perdê-la para o


bem, dirigido tudo isso em Paul. O idiota cujos olhos ficaram
arredondados com o impacto das minhas palavras, a
realidade da minha admissão atingindo-o como uma
avalanche.

Tijolos chovendo.

— Diga-me, — Eu exigi.

— Você — Ele cuspiu.

— Que porra... alguém — O desespero veio de Ash e


quase quebrou a neblina vermelha de ódio que tomava conta
de mim em todos os lugares. Meus músculos ficaram tensos e
aquele feio, lugar vil dentro de mim gritou para que eu só a
fizesse entrar.

Acabar com isso.

— Sim. Eu. E faria tudo novamente... um milhão de


vezes, porra. Desejei poder ter feito mais, porque você e eu
sabemos que os quatro anos que você passou lá não vai
desfazer o que você fez com ela.

Ele zombou.

— Eu fiz a ela? Ela queria aquilo.

Violência patinou na superfície da minha pele. Eu


levantei-o do chão, fixei-o no alto da parede, tudo
derramando.

— Não vai apagar da pele dela ou suas memórias. Não


vai apagar a dor ou apagar seu medo. Não vai apagar o fato
de que a filha dela está em algum lugar lá fora... sendo criada
por outra pessoa.

Edie gemeu, e de repente Ash estava atrás de mim, uma


bola de raiva.

— Alguém precisa me dizer o que diabos está


acontecendo e dizer agora, porque eu estou a cerca de meio
segundo de perder minha cabeça.

Soluços.

Minha garota.

Anjo.

Meu peito apertou muito e estremeci. Piscando através


do torpor, percebendo o que deixei sair pelos meus lábios. O
segredo que sempre supostamente deveria guardar.

De alguma forma, este confronto tornou-se um


espetáculo, porque podia sentir os olhos, a mal contida
presença do meu irmão, Lyrik e Zee, e a garota de Baz atrás
deles.
Porra.

— Edie — Sussurrei, querendo acalmá-la. Acalmá-la.


Deixá-la saber que ia ficar tudo bem.

Libertá-la.

Minhas palavras ralaram como vidro quebrado.

— Querida... está tudo bem... está tudo bem.

Querida.

Lá estava.

Fora.

Pela primeira vez, ofereci como uma revelação.

Sem vergonha, desgraça ou escândalo.

Sem todo o esconderijo.

Um grito choramingado quebrou de sua boca.

Ash rasgou em seu cabelo, sua expressão atormentada


quando ele girou e inclinou a atenção para a irmã, apontando
de maneira exigente um dedo em Paul.

— Este filho da puta te machucou? O que ele fez para


você? Diga-me o que está acontecendo, Edie. Diga-me
exatamente agora o que, porra, Austin está falando.

Paul riu.

— Eu não a machuquei. Ela estava me implorando para


transar com ela.

Ash rugiu, e de repente Lyrik e Baz estavam lá,


segurando-o enquanto ele lutava contra o aperto deles. Todos
eles sabiam que se Ash perdesse a cabeça assim, as coisas
ficariam feias, e rápido.

Um grito irrompeu de Edie.

Excruciante.

Como se esse único som tivesse sido abrigado dentro


dela por um bilhão de anos. Um fervor de fogo e magma
comprimido que esperaram sob a superfície. Pressão se
construindo e construindo até que não havia como parar a
força e a livre explosão.

O rosto de Edie se torceu com descrença. Ferida. E


algum tipo de profunda determinação.

Coragem.

O imbecil se debateu. Lutando contra minhas mãos.


Lutando para respirar. Travando uma luta que não adiantava
lutar.

— Você roubou tudo de mim. — As palavras dela foram


um sussurro quebrado. — Você roubou minha inocência.
Meu futuro. Você se aproveitou de mim. — Ela bateu seu
punho contra o peito. — Violou-me.

Ela engasgou em torno de uma respiração oscilante.

— E quando implorei por ajuda, você riu na minha cara.


Envergonhou-me. Então não se atreva a ficar aí e dizer que
você não me machucou.

Ele agarrou meu pulso, libertando-se tempo o suficiente


para vomitar as palavras.

— Você estava me implorando para transar com você.


Eu bati ele de volta para baixo.

— Cala a boca, idiota. — Eu olhei para minha garota,


pedindo-lhe com os meus olhos para continuar. Para colocar
tudo para fora. Para conseguir.

Talvez então ela pudesse finalmente ser capaz de deixar


alguma parte disso ir embora.

Riachos cintilantes de lágrimas passavam pelo seu


rosto.

— Não — Ela disse, com a voz cada vez mais ousada.


Como se talvez fosse a primeira vez que acreditava. — Não.
Você está errado.

Meu coração apertou para caralho.

Tão bonita, porra.

Danificada como eu.

Tantos quebrados, pedaços estilhaçados.

Senti cada um deles lá fora, pairando à margem da


nossa vida confusa.

Tremendo. Chacoalhando em espera.

Como ímãs repelidos até que de repente se moveram e


voaram.

Cambaleando até que aceleraram.

Reunidos por aquela atração inevitável.

A energia e a força.

Quebrando juntos para se tornar um.


Meu espelho.

Bati as costas de Paul contra a parede. Meus punhos


estavam enrolados em sua camisa, pressionando sob o
queixo dele.

— Ela tinha quatorze anos. — A acusação amarga saiu


da minha boca abaixo do meu fôlego, até perto de seu rosto
onde ninguém mais podia ouvir.

— De onde eu venho... isso se chama estupro. Quando


eu tivesse que me encontrar com você, esperava que fosse
apenas você e eu. Imaginamos que íamos lutar até que um de
nós não se levantasse. Mas, considerando que temos uma
audiência, parece que é seu dia de sorte. Então, ouça
atentamente, idiota... se você sequer respirar na direção dela,
alguma vez, vou apagar você. Você me entendeu?

Ash se enfureceu. Seu coração entendendo tudo.


Finalmente conseguindo ver o que realmente aconteceu todos
aqueles anos atrás.

Edie chorava silenciosamente no canto.

Respirei fundo em torno da culpa e do medo na minha


garganta.

— Eu fiz uma pergunta, filho da puta. Você entendeu?


Porque te juro, se eu tiver que ir atrás de você, novamente,
não será apenas eu batendo à sua porta.

A expressão do cagão estava cheia de medo. De repente,


soltei-o e ele caiu no chão. Consegui dar um chute nas
costelas dele.
Apenas no caso do estupido precisar de um lembrete
extra.

De boca aberta, ele se enrolou de lado, gemendo


enquanto se balançava. Conseguiu ficar de quatro. Paul mal
conseguia ficar de pé quando se levantou. Estava respirando
ofegante de dor quando começou a mancar em direção à
porta.

Lyrik cambaleou para ele. Ameaçador enquanto ele


passava. Uma afirmação de que o que eu disse era verdade.

Eu não seria o único que iria para ele se em algum


momento mostrasse a cara novamente.

Ash lutou para se libertar, gritando enquanto se


enfurecia.

— Vigie suas costas, idiota... vigie suas costas. Você


tocou minha irmã.

Paul não olhou para cima. Apenas saiu como o cagão


que era.

Malditos como aquele? Estavam sempre perseguindo os


mais fracos. Tomando daqueles que não podiam se defender.
Enfiando o rabo entre as pernas no segundo em que alguém
com capacidade se levantava para responsabilizar o filho da
puta.

Assim que ele saiu de cena, foi instantâneo.

A forma como o silêncio pairou e nos espremeu.


A angústia que pairou em torno de nós foi o suficiente
para extinguir aqueles vestígios de esperança que senti
quando estava sobre aquele palco como um maldito rei.

Agora eu estava ali como um mendigo.

Cautelosamente, meu olhar se desviou para Edie.

Todo o seu rosto se contorceu.

Com descrença.

Com horror.

Senti uma dor angustiante entrar direto na minha alma.

— Como você pôde?

Sua mão apertou a seu estômago. Como se ela estivesse


tentando se impedir de desmoronar.

— Como você pôde? Meu irmão... oh, meu Deus.

Ela balançou a cabeça.

— Duas vezes, Austin. Duas vezes confiei em você com


meu segredo. E duas vezes você o jogou fora. E então... e-e-
então você mentiu para mim? Agindo como se não soubesse
nada sobre as mensagens de texto quando você era
responsável o tempo todo? Eu confiei você. Eu acreditei em
você. Eu vim para casa por você.

Ela piscou. Tremendo. Desorientada.

Ela deu um passo atrás, bateu em uma caixa.

Chocada.

— Eu não posso...
Baz rompeu o tormento.

— Shea... meu bem... por que você não tira Edie daqui?
Acho que ela precisa de algum tempo e o resto de nós precisa
esfriar a cabeça.

Shea lhe deu um aceno rápido, seus olhos travando em


uma conversa silenciosa enquanto ela entrava na sala, sua
voz suave quando chegou perto de Edie.

— Ei, Edie. Sou Shea. — Ela passou os dedos


suavemente pelo cabelo da minha garota. — O que você acha
de sair daqui? Apenas as meninas... você, eu e Tamar. Tomar
um pouco de ar.

Desconectada, Edie piscou, acenou com a cabeça,


murmurou,

— Está bem.

Shea começou a levá-la para fora.

O apelo de Ash rompeu com dor.

— Edie.

Shea lhe lançou um olhar que dizia depois, Edie se


jogou em seu ombro, inclinando-se contra ela enquanto a
tirava de lá.

E porra.

Eu queria correr para ela. Perseguí-la e cair de joelhos.


Implorar pelo perdão que sabia que não merecia.
Em vez disso, eu estava ali ofegante, meu coração
batendo tão forte que tinha certeza que iria se libertar dos
limites do meu peito.

Porque se Edie foi embora?

Era muito.

Tenha cuidado comigo.

Isso foi tudo o que ela pediu.

E fodi isso.

Peguei uma coisa boa e esmaguei-a nas minhas mãos


descuidadas.

Fiquei olhando para a porta vazia, antes de


cautelosamente olhar para Ash.

Estava de costas para o peito do meu irmão, Baz ainda o


segurando pelos braços, mas ele afrouxou o aperto.

Tensão rolava ao redor das paredes da pequena sala.

A testa de Ash se torcia, apesar de tudo lentamente ser


compreendido. Penetrando seu ser. Seu rosto inteiro franziu
quando ele forçou as palavras.

— Você estava dormindo com ela? Com a minha


irmãzinha... quando eu a trouxe para nossa casa quando ela
tinha dezessete anos? Quando eu era o único que deveria
estar cuidando dela? O responsável por ela?

Emoção me espremeu todo. Arrependimento. Esperança.


Brilhantes lampejos de sonhos não concretizados.
A menina que despertou os lugares mortos dentro de
mim. A única que respirou vida de volta para o meu coração
partido.

Luz do fogo.

Ela brilhava tão forte.

Lentamente, balancei a cabeça, exposto.

— Não, Ash, eu não estava dormindo com ela. Eu estava


me apaixonando por ela.

Ele balançou a cabeça duramente e Baz o soltou. Ash


passou os dedos pelo cabelo loiro, olhando para o chão por
um instante, antes que olhasse para mim.

— Ela teve uma criança?

Balancei a cabeça, incapaz de encará-lo. Não importava


que o segredo já tivesse sido escancarado.

Parecia errado dar-lhe os detalhes.

— Caralho. — Ele gritou para o teto. — Como diabos


isso aconteceu?

Desamparado, eu olhei para ele.

— Isso é algo que você tem que conversar a respeito com


ela. Eu já falei demais.

Ele deu um suspiro ponderado, passou uma mão


agitada no queixo.

— Você esteve com ela o tempo todo? Todo este tempo


condenado em que eu pensava que ela estava lá fora perdida?
Porque aquilo com certeza soa muito parecido com o que você
alegou ter feito, não acha?

— Não — Eu disse, passando a palma da mão sobre


meu rosto. — Não, cara... ela foi embora porque aquele
babaca descobriu...

Minha culpa.

Novamente.

— E eu... fui embora para me encontrar. Porque sem ela


parecia que tudo estava fora do lugar. E de alguma forma,
neste grande mundo, encontramos um ao outro.

Frustrado balancei a cabeça.

— Mas você sabe como eu faço as coisas, Ash. Dão-me


uma chance atrás da outra, e toda vez, eu acabo com todas
elas de novo.

Hesitação me parou e eu lutava com o que dizer. Como


dizer isso para o irmão de Edie. Porque eu já estava cansado
de esconder. Cansado de tratar o que Edie e eu tivemos como
algo sujo e vergonhoso. Não quando era a coisa mais linda
que já tive.

Um presente.

Olhei-o diretamente.

— Eu a amo.

Foi a coisa mais honesta que já disse.

— Mas eu errei, — Continuei — Errei demais. Deveria


ter apenas contado a ela. Deixado claro o que fiz e por que fiz.
Mas Paul? Eu não me arrependo. Ele precisava pagar.
Precisava sair da vida dela e eu poderia fazer isso acontecer.
E se sou quem tem que pagar o preço, perdendo-a, vou
aceitar. Vai me destruir, mas vou aceitar.

Seu olhar estava cheio de culpa.

— Por que ela não me contou?

Tristeza e carinho embolaram na minha garganta.

— Acho que esta noite foi a primeira vez que ela


realmente aceitou que não era culpa dela.

Sua boca torceu e ele sacudiu a cabeça.

— Preciso sair daqui. Vou quebrar.

Ash empurrou Zee que se saiu da sua frente. Comecei a


ir atrás dele. Lyrik colocou uma mão no meu peito.

— Deixe-o ir, cara. Você acabou de desencadear uma


tempestade fodida. Ele precisa de algum tempo para
processar tudo o que está acontecendo.

Emoção se arrastou pela minha garganta enquanto eu


me sentia como um gato enjaulado. Dei um aceno duro, não
tendo nenhuma ideia do que deveria fazer agora.

Baz suspirou.

— Vamos lá... vamos sair daqui.

Nada foi dito enquanto nós arrumamos nossas coisas. O


humor estava sombrio. Nós saímos e fomos direto para a
caminhonete de Baz que estava estacionada na parte dos
fundos. Coloquei a guitarra dele no banco da caminhonete e
subi no banco do passageiro da frente.

Eu verifiquei meu telefone. Inquieto. Sentindo aquele


pedaço que faltava doendo de dentro para fora.

Baz virou a chave na ignição, dando a ré, e indo para a


rua. Ele continuou dando olhares curiosos para mim
enquanto dirigia, como se estivesse lutando entre dar um
sorriso e um sermão.

Sabia que era difícil para ele lidar com essas coisas
naqueles dias.

Fiz uma careta para ele, um pouco irritado.

— Por que diabos você continua olhando para mim


desse jeito?

Prendendo a respiração ele deixou seu sorriso sair, seu


tom quase provocador.

— Então, você e Edie Evans, hein?

Eu suspirei, esfreguei minha testa, sabendo que esta


conversa estava se preparando para descer em queda livre.
Eu não tinha certeza se estava pronto para mergulhar nessas
profundezas com ele.

Não quando não sabia se a menina ainda era minha, ou


se ela teve o suficiente da minha besteira.

Todo o meu ser se encolheu com a ideia.

Ele riu, acelerando a partir de um farol vermelho. Baz


bateu no volante, contemplando.
— Engraçado... houve um monte de vezes que eu teria
jurado que havia algo acontecendo entre vocês dois quando
ela estava hospedada na casa nas colinas. A tensão ficava
grossa cada vez que vocês dois estavam no mesmo lugar. Mas
ela era muito tímida, pensei melhor.

Ele olhou para mim.

— Acho que eu deveria ter pensado pior. Quero dizer... o


que eu esperava, deixando você se virando sozinho? Todos
nós éramos mais espertos que aquilo.

Isso saiu cheio de insinuações.

Eu balancei a cabeça.

— Eu disse para Ash que não dormi com ela na época.


Não estava mentindo.

Queria estar.

Deus, eu queria tanto que acabei me perdendo.

— E o flerte? Sério, cara, você acha que sou cego ou o


quê?

Um riso rolou dele, um sorriso puxando de sua boca.

— Pode ser que tenha visto uma menina ou duas


passando por mim.

— Shea te faz feliz, certo?

— Insanamente feliz.

A verdade da questão? Deixava-me insanamente feliz


que ela fizesse.
— Bom para você, Baz. Espero que saiba disso. Sei que
foi um tempo difícil quando fui embora. Mas preciso que você
saiba que fiz isso tanto por você e Shea quanto fiz isso por
mim mesmo.

— Não no momento..., mas depois de um tempo, eu


soube.

Silêncio pairou entre nós.

— Por que você fez isso? — Ele finalmente perguntou.

Fiz isso?

Comecei a entrar sorrateiramente no quarto dela?

Bati de frente com Paul pela primeira vez?

Armei para ele?

Tentei encobrir quando ele novamente começou a


cheirar ao redor?

Tantas opções. Certo ou errado, elas foram tomadas por


uma razão.

Eu afundei ainda mais no assento, minha voz firme.

— Porque eu a amo.

Porque queria protegê-la.

Cuidar dela da maneira que sempre deveria cuidar.

Um riso duvidoso rolou dele.

— Amar alguém será uma das coisas mais difíceis que


você vai fazer, irmão mais novo. Isso vai te torcer e pendurar
para secar. Vai enchê-lo com mais preocupação do que você
pensa que pode aguentar, em seguida, se transformar e
enchê-lo com a maior alegria. É uma porra de batalha,
Austin. Uma batalha porque você vai passar o resto de sua
vida lutando para mantê-lo. Mas sabe de uma coisa? Sei que
não há nada melhor do que um erro que você comete em
nome do amor.

Eu ri, apesar de que faltava qualquer diversão em tudo.

— Mas às vezes esses erros cortam fundo demais, Baz.


Eles cortam e quebram. Tenho certeza que esse corte pode ter
sido demais e não faço ideia de como juntar os pedaços.

Ele soltou uma respiração entre os lábios franzidos.

— Os segredos sempre voltam, Austin. Talvez eu e você


saibamos disso melhor do que ninguém. Não importa o quão
longe Edie fosse daquilo, ele teria a pego. Você ou outra
pessoa.

Minha cabeça balançou.

— Eu traí ela, Baz. Ela só me pediu uma coisa.

Seu telefone tocou e o rosto de Shea iluminou a tela.

Minhas entranhas retorceram e minha pulsação


acelerou, meu corpo inclinando-se para o telefone como se
isso pudesse me levar para mais perto de Edie.

Ele o agarrou e trouxe ao ouvido.

— Oi, amor.

Eu podia ouvir a entonação da voz dela, mas não podia


ouvir o que ela dizia.

— Tudo bem... sim... vejo vocês daqui pouco. Amo vocês.


Ele terminou a chamada e outro surto de silêncio
pulsou na cabine. Baz apertou o volante.

— O que ela disse?

Ele hesitou. Porque esse era o jeito de Baz. Sempre


tentando me proteger do que achava que eu não poderia
lidar.

— Não sou mais uma criança. Chega dessa merda... não


fique mais sem dizer o que precisa ser dito.

Um suspiro veio de seus pulmões.

— Shea colocou Edie em um hotel. Disse que ela precisa


de algum tempo.

Dor esmagou meu peito. Um milhão de toneladas.

Ele parecia em guerra com o que dizer.

— Por que você não vem para nossa casa? Temos


bastante espaço.

Eu balancei a cabeça.

— Só... me leve para a casa da Sunder.

O lugar onde a encontrei e ela me encontrou. Onde me


senti mais próximo dela.

Ele me deu um aceno curto, e seguimos o resto do


percurso em silêncio. Baz estacionou na garagem.

— Obrigado, Baz — Disse enquanto abria a porta e saia.

— Você vai ficar bem? — Ele perguntou e eu parei, a


meio caminho entre a casa e o carro quando o olhei, meu
sorriso sinistro.
— Amá-la pode ser o melhor erro que já cometi.

Seus lábios apertados em um sorriso simpático. Ele


entendia. Percebi que se alguém pudesse entender, era Baz.

Pendurei minha bolsa sobre o ombro e peguei a guitarra


que agora pertencia a mim. Caminhei em direção ao local que
abrigava tantas memórias, entrei na casa escura, que gritava
de volta a solidão.

Lentamente, subi as escadas, minha respiração


ofegante. Abri a porta do meu antigo quarto e acendi a luz.
Estava exatamente igual. Os mesmos móveis e imagens.
Todos os meus pertences em seu devido lugar.

Exatamente do jeito que deixei.

Muito louco, porque nada sobre isso parecia certo.

Saí do quarto com minha cabeça baixa passando pelo


longo corredor, silencioso.

Apreensivo.

Mas nem isso poderia me parar.

Porque fui atraído.

Movi-me, meus passos acalmaram. Igual tinham se


acalmado anos antes.

Subjugado.

Um destino tentador.

Respirando profundamente, tirei o trinco e entrei no


antigo quarto dela.
Eu estava na escuridão. As leves cortinas translúcidas
brilhavam no fraco luar que passavam por elas. A cama
estava feita. O quarto limpo. Pronto para qualquer hóspede
que precisasse de um lugar para dormir.

Não importava.

Ainda tinha a sensação dela.

Cheirava a ela.

Coloquei a guitarra no chão e deixei minha bolsa cair do


meu ombro livre, tirei meus sapatos e caí de cara no colchão.

Eu respirei a dor, e deixei a magnitude dos erros que


cometi caírem através de mim como uma tempestade de
choro.

Eu não poderia nem mesmo identificar onde tudo


começou.

Talvez fosse nesta noite, que expus o segredo dela para


Ash.

Ou quando me perdi no nosso aniversário. Quando


fiquei tão desesperado para que ela enchesse o vazio da única
maneira que podia, porra.

Poderia ser quando não confessei logo de cara ao ver a


primeira mensagem de Paul.

Ou, eventualmente, quando deixei seu segredo escorrer


da minha boca pela primeira vez. Mais uma vez alimentado
pelo meu furor, desperdiçando sua confiança nas mãos da
própria pessoa que ela determinou que nunca saberia.
Talvez fosse quando me esgueirei nesse quarto pela
primeira vez.

Mas acho que havia uma parte de mim que sabia. Sabia
que podia traçar tudo de volta para aquele dia na praia.

O dia que rasguei a outra metade do meu espírito.

Que deixei o dia mais escuro.

Foi o dia em que perdi meu prumo. Meu equilíbrio sendo


destruído. Um lado da balança pensando mais para o feio,
escuro e o vazio daquele lado tornando-se muito difícil de
suportar.

Isso me deixou girando em uma espiral decadente.

Sempre caindo nas profundezas de um poço sem fim.

Abracei um travesseiro. Enterrei meu rosto nele.

— O que eu faço, Julian? Que porra eu devo fazer?


Quando isso vai acabar?

Fiquei ali na escuridão de Santa Ana, os ventos


chicoteando pela cidade e batendo contra as paredes.

As vidraças das janelas se agitando.

E fiz preces que não tinha o direito de fazer.

— Por favor.

Eu entrava e saía de consciência. Mal acordado. Meu


coração trovejando no poço do meu peito. Esse errático tum,
tum, tum que não conseguia acalmar.

Energia se moveu. Subiu e inchou.

Eu respirei fundo.
A porta se abriu e aquela energia entrou. Uma porção da
luz obscura sangrado através do chão e na cama, e a tensão
nos cantos.

Grossa e profunda.

Sufocante.

Seus passos eram leves. Lentos e cautelosos.

Fiquei congelado enquanto ela silenciosamente


atravessava o quarto, minha respiração presa quando as
pontas dos dedos dela passavam pelo centro das minhas
costas, subindo e roçando a pele do meu pescoço e sob o meu
cabelo.

Arrepios surgiram na minha espinha, apertando cada


célula.

Eu me mexi, quase com medo de olhar por cima do


ombro.

Mas não havia nenhuma chance de que eu conseguisse


desviar o olhar.

Porque era a minha menina em pé, em cima de mim.

Seus cabelos como chamas etéreas.

Um halo branco em volta da cabeça.

Olhos cor do mar brilhando na noite.

Diamantes

Anjo. Luz. Vida.

Ela não disse nada, apenas subiu na cama. Rolei sobre


minhas costas e Edie montou minha cintura.
Cada centímetro do meu corpo endurecido.

Olhei para ela. A menina era uma visão.

— Edie — Murmurei.

Ela não disse nada, só levantou o filtro de sonhos em


cima de mim. O aro torcido e fiado, suspenso sobre minha
cabeça, as penas formando um ondular lento.

Agarrei-a pelos quadris. Com um caroço muito grosso


na minha garganta. Porque eu não tinha ideia de qual direção
isto estava tomando.

Sua voz estava fraca quando ela finalmente falou, quase


distante.

— A primeira noite que você veio a mim, eu estava tão


perdida. Eu tinha pavor de viver, Austin. Ficava aterrorizada
ao sentir. Mas você quebrou todas aquelas barreiras. Você me
fez lembrar qual era a sensação de ter esperança. Qual era a
sensação de acreditar.

Sentei-me, deixando-nos face a face. Seu corpo colocado


contra o meu, o seu coração em um tum, tum, tum
constante.

Eu mal conseguia falar minha admissão.

— A primeira vez que te toquei, foi a primeira vez que


respirei.

Desde que eu era um menininho.

Ela olhou para baixo.


— Aquele era o jeito que sempre seria conosco. Algo
brilhante e bonito confrontado com algo feio e escuro. Os dois
sempre em guerra.

Ela olhou para mim por debaixo dos cílios. Aquele mar
de azul cheio de emoção, focada em mim. Em mim. Edie
sempre foi a única que conseguia ver tudo.

— Como vamos ganhar se não podemos parar de lutar


contra isso?

Tentei engolir, procurando desesperadamente uma


maneira de contornar os obstáculos que continuaram a
bloquear os nossos caminhos. Os que sempre nos levaram de
volta um para o outro.

Gentilmente, toquei seu doce rosto confiante.

— Porque não quero nunca parar de lutar por você.

Lágrimas saíram pelos cantos de seus olhos, e seu


queixo tremia, minha menina mastigando o lábio enquanto
tentava se conter.

— Estou com tanto medo disso, Austin. Medo de nós.


Com medo de ser livre com você, porque isso pode significar
deixá-la ir. Eu tenho medo de que isto com você se encha de
vazio. Eu estou com medo de que um dia... um dia ela passe
por mim e eu não a reconheça.

Meu polegar roçou sua bochecha.

— E eu estou com medo de que um dia.... um dia eu


não sinta mais. Que se não sentir dor, talvez, já não me
lembre. Que se preencher o vazio, eu vá esquecer.
Olhei para ela.

Meu reflexo.

Meu espelho.

Dedos acariciavam minha testa e minhas sobrancelhas.


Ternos e calmantes, confortando-me, no meio de toda a sua
dor.

— O que aconteceu na outra noite... na praia. Eu sei


que não aconteceu porque você não se importava de ser
cuidadoso comigo. Sei que você é, Austin. Sei que você se
importa. Sei disso. Sinto isso. Mas parecia que eu estava
perdendo a escolha. Que eu estava fora de controle, e não sei
como lidar com essa sensação.

Ela balançou lentamente a cabeça.

— E você parou... parou quando lhe pedi para parar.


Mas aquilo foi o que me assustou mais. Permiti-me ficar
perdida em você.

Ela piscou, suas palavras enfáticas enquanto as oferecia


para mim, na noite.

— Eu quero ser ela, Austin. Quero ser quem você pode


tocar. Sem reservas, porque você sabe que sou sua, porque
eu me dei a você. Quero ser quem você sabe que vai sempre
estar lá para você. Sempre. Para qualquer coisa que você
precise de mim. Quero pertencer a você da mesma maneira
que você pertence a mim. Eu quero ser livre.

Emoldurei seu rosto em minhas mãos.


— Eu vou estragar isso, Edie. Sempre cometo erros.
Faço coisas que desejo não fazer. Mas você vai sempre,
sempre, ser livre perto de mim. Comigo. Sempre estarei lá
para apoiá-la em qualquer escolha que você fizer. E odeio ter
perdido o controle. Mas eu te juro.... Nunca te machucaria de
propósito. Mata-me ter feito isso.

Lágrimas continuavam a cair, como flâmulas de luz


brilhando rolando pelo seu rosto.

— Eu pensei que nunca confiaria em alguém o


suficiente para me colocar em uma posição onde poderia ter
essa escolha para fazer de novo.

Ela colocou a palma da mão em seu estômago, sua


expressão assombrada e cheia de esperança.

— Mas quando vim aqui, tomei a decisão, eu não quero


mais ter medo.

Gemi um suspiro de alívio, e a abracei perto enterrando


meu rosto em seu peito. Diretamente sobre o coração. Eu só
precisava ouvi-lo bater.

— Não posso dizer como estou arrependido sobre Paul.


Sobre falar na frente de seu irmão.

Eu podia sentir a cabeça balançando.

— Eu estava chateada. Ferida. Mas eu sabia, Austin.


Sentada sozinha no quarto do hotel, sabia que cada escolha
que você fez foi por mim. Que o tempo todo, você fez tudo que
podia para me proteger.
Nós ficamos assim. Balançando lentamente. A menina
de joelhos. Abraçando-me e pairando sobre mim.

Meu anjo.

Lentamente, sentei-me, puxei os braços dela para frente


e desenrolei o filtro que ela segurava na mão. Segurei acima
de nós. Minha atenção se lançava entre ela e o aro. Minha
confissão veio em um sussurro áspero.

— Prometo que esse sempre filtrará seus sonhos.


Afugentará os ruins e manterá os bons seguros. — Eu engoli
em torno dos nós irregulares presos na minha garganta. —
Mas eu nunca disse a você meu sonho.

Olhos cor do mar brilharam.

— Conte-me.

Suavemente, eu falei.

— Eu sonho com uma vida com você, Edie. Que eu viva


por você. Com você.

Juntei nossos dedos, trazendo a mão dela à boca e beijei


o seu dedo anelar.

— Sonho comigo colocando um anel neste dedo.


Chamando-a de minha esposa.

Escolhi as palavras com cuidado. Porque eu sabia que


estava empurrando a última das barreiras que
permaneceram entre nós. Meus dedos jogaram para trás o
cabelo emaranhado de suas bochechas úmidas.

— Sonho com uma menina com seus olhos... talvez uma


que tenha o meu sorriso. Algum dia, Edie, algum dia.... Eu
quero todas essas coisas. E quero elas com você. Quer seja
amanhã ou daqui a alguns anos.... Quero tudo isso com você.

Se o que aconteceu na praia no outro dia nos trouxesse


isso mais cedo, eu estaria lá. Com ela. Para ela.

Juntos.

Assim como prometi.

— Eu quero isso, Austin. Algum dia, eu quero. Contigo.


Quero tudo isso.

Eu a abracei junto a mim, meu rosto voltado para o seu


peito.

Ela passou os dedos pelo meu cabelo, sua voz uma


confissão sussurrada.

— Eu vi você no palco.

Aqueles velhos sonhos queimados. Respirei fundo,


enquanto sua voz era suave como uma canção.

— Você estava lindo, Austin. Poderoso. Hipnotizante.


Você estava exatamente onde era seu lugar.

— Eu... eu vim aqui pensando que era a melhor maneira


de chegar perto de Paul. Machucá-lo mais. Trazê-lo tão perto
da banda quanto pudesse. Mas estar lá em cima... parecia...
Edie, parecia que era onde eu pertencia. Mas mais do que
isso é o fato de que pertenço a você.

Ela se afastou, seu sorriso sincero e tão, tão doce.

— Isso... isso é onde nós pertencemos. Eu não quero


fugir, Austin. Não mais.
Exalando o peso, puxei o braço dela para o meu rosto,
beijei o interior de seu pulso, o interior do cotovelo, em cima
de seu ombro.

— Luz do fogo.

Minha confissão.

Meu mundo.

A luz.

Edie me agarrou por ambos os lados do rosto. Segurou


forte. Certo.

— Faça amor comigo, Austin. Faça amor comigo para


sempre. Nunca deixe meu coração. Nunca me deixe. Eu
escolhi você.
A luz da manhã banhava o quarto. Um quarto tão
familiar. O menino envolto em torno de mim por trás, tão
certo.

Sua pele queimava contra a minha, sua frequência


cardíaca estável.

Forte.

Lentamente, desembaracei-me de seus braços e pernas,


sorrindo para onde ele dormia.

O garoto que me fez acreditar.

A pessoa que me fez ver que eu não tinha que ter


vergonha.

Com cuidado para não o acordar, vesti minhas roupas


que Austin deixou em uma pilha confusa no chão na noite
anterior, e silenciosamente na ponta dos pés saí pela porta.
Eu desci as escadas para a casa adormecida, tudo tão quieto.
Atravessei o espaço que dava para a cintilante cidade
com o sol. Empurrei as portas duplas que levavam para a
cozinha.

Eu congelei quando vi que não estava só na cozinha.

Um farfalhar de ansiedade percorreu meus nervos. Eu


os empurrei para baixo.

Você não tem do que se envergonhar. Você não tem do


que se envergonhar.

Meu irmão estava no balcão de costas, vestindo apenas


um par de jeans desgastados, pés descalços e peito nu,
cabelo loiro um desastre em cima de sua cabeça.

— Ash — Eu consegui dizer, minha voz rasa e inútil,


mas eu não tinha ideia de como abordar tudo o que havia
acontecido debaixo do nariz de Ash. — Você acordou cedo.

Ash riu, mas não havia uma verdadeira risada por trás.
Senti falta da facilidade ocasional que normalmente usava.
Ele deu de ombros com um único ombro.

— Não consegui dormir. Mas acho que ninguém pode


me culpar, pode?

Eu me encolhi, fiquei quieta enquanto ele servia uma


xícara de café. Ash acenou com a garrafa para mim.

— Você quer?

Movi-me até o balcão, todo o meu corpo pouco à vontade


quando me inclinei contra ele.

— Não... obrigada.
Ele girou, encostou-se ao balcão oposto, olhou-me por
cima da caneca. Sua voz estava áspera.

— Não sabia que você estava aqui esta manhã.

Deixei meus olhos abaixarem. Uma indicação silenciosa


do garoto que me atraiu até aqui no meio da noite.

Porque eu não tinha sido capaz de dormir, também. Eu


só tinha me deitado, virado na cama e procurado as minhas
emoções até que vim para o mais importante.

O que olhava e brilhava dentro de mim.

Eu estava apaixonada por Austin Stone.

E o garoto estava apaixonado por mim.

Agora nós descobriríamos o resto.

Ele balançou a cabeça lentamente.

— Baz trouxe Austin aqui ontem à noite. E você veio.

Outro aceno.

Ele empurrou um suspiro, enrolando-se, tentando


encontrar a força para dizer as coisas que precisavam ser
ditas.

— Você estava grávida.

— Sim. — A admissão ficou presa na minha garganta


como farpas pontiagudas.

Deus. Doía tanto admitir em voz alta. Especialmente


depois que protegi por tanto tempo, o mais inestimável,
perigoso segredo.

— Paul. — Ele cuspiu.


Minha boca tremia, mas eu não precisava responder.

Olhando para os seus pés descalços, ele sacudiu a


cabeça, tentando entender isso.

— Quando, como?

— Você me levou para uma festa... um pouco antes de


nossa mudança para Ohio.

Suas mãos subiram para cobrir seu rosto, como se


tivesse levado um soco. Então, ele falou tão pesado como se
fossem tijolos.

— O quê? — Ele piscou quando as memórias o


agrediram. — Eu te levei para uma festa.

Ele disse como se acabasse de notar o fato.

— Eu implorei para que você me levasse.

Desgostoso, ele sacudiu a cabeça.

— Eu levei a minha irmã mais nova de quatorze anos


de idade para uma festa... e eu... eu te deixei sozinha.

Ele começou a andar.

— Eu levei uma menina a uma festa como aquela?


Deixei-a sozinha com os abutres para que eu pudesse pegar
alguma vadia fácil? — Ele chupou o ar. — Merda. Tudo isso...
foi minha culpa.

Ele agarrou seu cabelo para os lados de sua cabeça, a


culpa derramando livre.

Minha boca tremia.

— Não foi culpa sua.


Ele zombou.

— Sempre tratei a vida como se fosse nada além de


diversão e jogos. — Um riso amargo soou livre. — Eu nem
sequer pensei muito quando você me pediu para ir junto. Eu
não tinha nenhuma ideia do que se passou naquela noite.
Juro, Edie, eu não sabia.

— Claro que você não sabia. Eu nunca te culpei, porque


não foi culpa sua.

— Por que você não me contou? Matou-me todo aquele


tempo... todo esse tempo, e nunca soube.

Tudo o que reprimi por tanto tempo se libertou.

— Eu... eu estava apavorada Ash. Não tinha ideia do


que fazer. Fui até Paul pedir ajuda... ele... ele me deu
dinheiro... trezentos dólares.

Ele deu um suspiro.

— Filho da puta.

Continuei, com a necessidade de dizer tudo antes que


eu perdesse a cabeça, minhas palavras eram um passeio de
arrependimento.

— E apenas fugi. Eu me escondi e fingi. Porque que


parecia muito mais fácil do que enfrentar isso.

A emoção pressionou meu peito.

— Mamãe finalmente descobriu quando eu estava com


cerca de cinco meses de gravidez. Ela me convenceu a
encontrar uma família adotiva. A manter em segredo. Não
dizer a ninguém para que eu pudesse seguir em frente com
minha vida depois. Ela me prometeu-me uma e outra vez que
era o melhor... e em algum lugar dentro de mim ... sabia que
era. Eu sabia que era. Mas isso não muda o que sentia, Ash.
Não parou a devastação. Eu a amava tanto.

Meu irmão mais velho olhou para o teto, tentando


controlar sua emoção. Tristeza. Tristeza por mim.

— Eu não... isso me mata, Edie. Porra, mata-me. Eu


nem sabia. Como diabos isso pode acontecer? Bem debaixo
do meu nariz? Estava aqui pensando que tudo estava bem...
e você está sofrendo da pior maneira. Sozinha.

Minha boca tremia.

— Mas ele me encontrou, Ash. Encontrou-me no meio


disso. E pela primeira vez... pela primeira vez pensei que
talvez ficaria tudo bem. Austin e eu... somos provavelmente
errados um para o outro, porque somos tão certos.

Ele era a minha fraqueza e minha maior força.

Meu tumulto e minha maior paz.

Paz.

Eu queria isso.

Queria tão desesperadamente, afundar-me no calor dele.

Para sempre.

— Passei muito tempo me culpando. Assumindo toda a


responsabilidade. Mas estou pronta para deixar isso ir, Ash.
Por favor, entenda isso. Sei que é novo para você, mas isso é
algo que lidei por um longo, longo tempo. E é o tempo de eu
finalmente lidar verdadeiramente com isso. Encarar. Aceitar.
E isso significa que se vou ficar aqui, preciso que você aceite
ele, também.

— E eu estou achando que ficar aqui envolve ficar com


ele?

Meus dentes morderam meu lábio inferior, dei um leve


aceno. Nervosa, mas esperançosa.

Ash parou, antes de finalmente dar um daqueles


sorrisos largos, mas havia algo sincero por trás dele.

— Então você está me dizendo que eu não devo chutar o


traseiro de Austin?

Dei uma risada.

— Não... você não deve chutar o traseiro dele. — Fiquei


séria. — Eu o amo, Ash. Amo-o tanto que dói. Mas é o tipo
bom de dor. Não quero ir embora nunca mais.

Ash colocou sua caneca sobre o balcão.

— Venha aqui, irmãzinha.

Ele me puxou contra ele, o queixo no topo da minha


cabeça, os braços ao redor da minha cintura.

— Jamais vá embora novamente. Você não tem que


esconder nada de mim. Nem agora. Nem nunca. Você me
entendeu?

Ele riu com aqueles olhos azuis.

— E sempre precisar de alguém para chutar um


traseiro? Sou a primeira pessoa que deve chamar. Você sabe
que os fodões, impressionantes irmãos mais velhos são para
isso, certo?

Eu ri.

— Eu não duvido disso.

Dei um passo para trás, olhei para ele com toda a


seriedade.

— Eu realmente senti sua falta.

Ele enganchou os nós dos dedos debaixo do meu queixo.

— Também, senti sua falta.

Nós dois olhamos para o lado quando a porta se abriu.

Austin estava ali, sem camisa, seu cabelo estava uma


confusão perfeita e absoluta por causa das minhas mãos
puxando-o durante toda a noite.

Desejo.

Devoção.

Amor.

Esperança.

Estavam todos lá.

Refletidos de volta em seu sorriso.

— Oi — Ele disse, a voz áspera do sono.

— Oi.

Ash suspirou dramaticamente.

— Ahhh... Acho que essa é a minha deixa. Um cara sabe


quando ele já não é desejado. — Deu-me uma piscadela,
pegou sua caneca, passeou em direção a Austin. Ele estendeu
a mão quando passou. — Cuide da minha irmã, homem,
embora me pareça que você estava fazendo um maldito bom
trabalho o tempo todo.

Austin respondeu.

— Sempre.

Ash continuou se movendo, indo em direção à porta


dupla, fez uma parada e olhou para trás.

— Ah... e apenas para deixar claro.... Eu sou o chutador


de traseiros oficial. Minha irmãzinha tem um problema com
você? Você tem um problema comigo. Sacou?

Foi tudo uma provocação antes de lançar um sorriso


arrogante.

— Não vai ser necessário. — Austin disse, olhando para


ele e me dando um sorriso.

Ash abriu um sorriso mais largo.

— Amor. Otários. Todos vocês. — A porta se fechou


atrás dele, e sua voz ecoou pelas paredes. — Todo mundo por
aqui perdeu a cabeça para o amor. Primeiro, minha linda
Shea, então minha Tam Tam. — O volume baixou, cabisbaixo
e falso, antes que as palavras começassem a desaparecer
enquanto se afastava. — Então, minha irmãzinha. Coração.
Partido.

E Austin ficou ali, olhando para mim, antes que se


movesse. Enrolando-me em seus braços. Dando-me seu beijo.
Uma promessa em seu abraço.
Não há mais vergonha.

Não há mais por que se esconder.

Apenas o futuro esperando à nossa frente.


Água rolou na costa, uma queda suave chegando
enquanto ele andava até a praia.

Como se meus dedos estivessem se esticando.

Chamando-me.

Aquela presença nunca longe.

Uma voz assustadora.

Uma memória distante.

Meu peito se apertou em sincronia com o aperto de sua


mão queimando contra a minha.

— Você está pronto? — Ela perguntou, sua própria voz


estava tremendo.

Apertei de volta.

— Sim.

O louco era que ela quem estava me levando, minha


garota mergulhando os dedos dos pés nas águas frias que
cobriam meu antigo bairro. O lugar que nós costumávamos
brincar. E quase podia vê-lo onde ele mergulhava e ria, um
halo de cabelo branco contra o sol, o sorriso muito brilhante.

Tanta vida.

Um emaranhado de remorso torceu no meu coração e


puxou meu espírito. O mesmo espírito que foi de alguma
forma me impulsionando para frente.

Uma onda caiu em torno dos tornozelos de Edie, nossas


mãos entrelaçadas. Ela se virou para olhar para mim. Olhou-
me cheia de incentivo e compreensão

Enchendo-me da única maneira que podia.

Eu respirei fundo. Congelei quando mergulhei um dedo


do pé, porra.

Tentei engolir, manter controlada a emoção que corria,


um tumulto selvagem de antiga dor e tristeza, a culpa que eu
sentia há um longo tempo caindo nas minhas entranhas.

— Estou com você — Ela disse, e caralho, se eu não


queria chorar, essa menina estava ao meu lado. Assim como
sempre estaria no dela.

O vento do inverno soprava, sobre as ondas, um gemido


que uivava enquanto batia contra a minha pele gelada.

Dei mais um passo profundo.

Atraído.

Tremores rolaram, e eu estava ao seu lado como a água


fria chegando às nossas cinturas.

Ficamos ali.
Juntos.

Ondas corriam em torno de nós, nossas mãos


entrelaçadas, o sol brilhando no horizonte, uma vez que
lentamente chegou o dia do adeus.

Edie olhou para mim com aqueles olhos azuis que


mostravam seu calor. Então ela soltou minha mão e se virou
para olhar sobre o que parecia uma expansão infinita de
água, o oceano profundo.

Ela levantou o apanhador de sonhos na altura do peito,


firmemente segurou lá quando suas palavras voaram dela em
um sussurro.

Uma confissão.

Uma oração.

— Eu sempre vou te amar e meu coração sempre vai te


abraçar. Sempre haverá um lugar para você esperando dentro
da minha alma. Mas estou deixando-a ir. Estou deixando-a
viver essa bela vida sabendo que é amada. Que você está
sendo cuidada. Que você está sendo adorada. Se você decidir
que quer voltar para mim, encontrar-me, estarei esperando.

Ela apertou o aro nos lábios, um frenético, beijo


sagrado, antes que fechasse os olhos e o atirasse com toda a
força que tinha, liberando-o no abraço das ondas.

Ele caiu, não muito longe de onde estávamos.

Ele balançou gentilmente, girando enquanto flutuava.


Antes de afundar e ser engolido pelas ondas.

Levado para as profundezas.


Meus nervos estremeceram. Tristeza, culpa e minha
própria crença.

Crença construída com a força desta menina.

Crença que de alguma forma encontrei em sua


presença.

Agarrei o macaco sujo esfarrapado no meu peito. O que


levou com ele onde quer que fosse. O que dormiu com ele
todos os seus dias.

O conforto dele.

O cobertor de segurança dele.

Segurei-o nos meus lábios onde minhas palavras caíram


em um sussurro.

Minha confissão.

Minha oração.

— Eu amo você, Julian. Meu irmão. Meu gêmeo. A outra


metade da minha alma. Por favor, perdoe-me por roubar
todos os seus amanhãs. Por roubar-lhe a chance de viver os
dias que você deveria ter vivido. Eu não queria. Deus, por
favor, acredite em mim. Eu não queria.

Engasguei com a tristeza travando minha garganta e me


forcei a continuar.

— Agora eu tenho que deixá-lo ir. Você não pode ficar


aqui e não posso mais tentar mantê-lo aqui. Eu não vou te
esquecer. Por favor, não se esqueça de mim. — Fechei os
olhos, as palavras emocionadas. — Vejo você do outro lado.
Eu sei que você vai estar esperando por mim.
Apertei o macaco.

Segurei firme.

Antes de deixá-lo ir.

Ele caiu exatamente no mesmo lugar do aro de Edie.

Ele flutuou. Acenou com o seu braço verde e peludo


pouco acima das ondas, balançava para cima e para baixo.
Ficando mais pesado com o peso da água.

Consumido.

Afundado.

Edie enfiou os dedos nos meus.

Uma nova página.

Amor. Paz. Vida.

Esperança bem no meio dela.

Brilhando.

Luz do fogo.
Edie gemeu e sua cabeça caiu de volta no travesseiro.
Seu rosto erguido para o teto quando ela dava um grito.

Seu marido apertou a mão dela quase tão ferozmente


quanto ela apertou de volta.

— Você consegue, Edie. Você consegue. Mais um


empurrão. Mais um empurrão e está tudo feito.

Emoção agarrou-a em todos os lugares.

Seus instintos vivos.

O suor escorria em sua testa, e ela deu à luz, com os


dentes cerrados.

Ela empurrou.

E tudo ficou em silêncio.

Seu coração parou.

Um pequeno grito quebrou.

Um minúsculo corpo perfeito.

Seu coração disparou.


Amor.

Amor.

Amor.

E ela se sentou, mãos estendidas, pedindo a criança.

— Por favor — Edie choramingou. E ela estava lá,


colocada nos seus braços, envolta em um pequeno cobertor
branco, um gorro azul e rosa na cabeça.

Lábios vermelhos.

Olhos inchados.

Ela piscou um olhar cinza.

Ele olhou para elas. Lágrimas cobrindo seu rosto.

Admiração e amor.

Adoração sem fim.

Uma grande mão cobriu o rosto de Edie, e ele deu um


beijo em sua testa, seus lábios sussurrando sua crença na
sua pele.

— Você fez isso, baby. Você fez isso.

E seus corações. Eles batiam e pulsavam. Inchavam e


cresciam.

Transbordaram.

Duas vidas vazias que tinham estado tão ocas.

Duas vidas que agora estavam tão cheias.

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