Você está na página 1de 3

Demências

A demência é um termo que se refere a diminuição progressiva e global das


funções cognitivas e afeta diretamente a memória e fatores como, pensamento abstrato,
julgamento, linguagem e personalidade.
Tomadas em conjunto, as quatro principais causas de demência – doença de
Alzheimer, demência vascular, doença com corpos de Lewy e demência frontotemporal
– são responsáveis por 80 a 90% do total das demências. As quatro causas principais
têm curso variável, mas, em geral, relativamente lento, a menos que haja
intercorrências, como delirium por infecção ou desidratação, depressão associada ou
efeito colateral de medicação.

Alzheimer
A doença de Alzheimer (DA) é a forma mais frequente das síndromes
demenciais, responsável por cerca de 50 a 70% das causas de demência (isolada ou em
associação). De etiologia degenerativa, possui características clínicas e patológicas que
a diferenciam das demais demências. Pode, ainda, apresentar variações na apresentação
clínica, como taxa de progressão, déficits neuropsicológicos e presença de sintomas
comportamentais. Não existem, atualmente, marcadores biológicos da DA que
permitam o diagnóstico pré- sintomático ou pré-mórbido definitivo. Contudo, o
diagnóstico clínico, permite um diagnóstico correto em cerca de 80 a 90% dos
pacientes.
Em avaliação anatomopatológica de pacientes com DA, encontra-se cérebro
atrofiado difusamente, mais acentuado em regiões temporais, frontais e parietais,
quando observado macroscopicamente pós-morte. Ao exame microscópico, observam-
se perda de neurônios e degeneração sináptica cortical. Além disso, são encontrados
dois tipos de lesões características da DA, isto é, as placas senis (extracelulares) e os
novelos neurofibrilares (intracelulares). Essas alterações histológicas parecem estar
relacionadas ao declínio cognitivo observado na DA e aos demais sintomas que surgem
no curso clínico da DA.

Alterações cognitivas

O comprometimento cognitivo ocorre principalmente na memória, mas também


em linguagem, gnosias, praxias e nas funções executivas, podendo ser evidenciado por
testes objetivos neuropsicológicos que, além de servirem para diagnóstico, são úteis na
evolução da DA, uma vez que o curso da doença leva, em média, 10 anos de evolução.
A memória está comprometida precocemente, na forma de déficit de aprendizado de
informações, no nível episódico, isto é, o aprendizado de eventos e dados de pessoas é
prejudicado. Outra marca da DA é a dificuldade em resolver problemas do cotidiano e
planejar atividades corretamente (secundárias ao déficit de aprendizado de informa-
ções). Também está presente déficit em evocar fatos e eventos, sobretudo os adquiridos
mais recentemente, sendo proporcional ao prejuízo de aprendizado episódico e podendo
ser percebido na dificuldade em reconhecer locais e a relação de pessoas e objetos. Isso
explica a confusão, precocemente notada nos indivíduos, quando têm de enfrentar
mudanças rápidas de cena e locais. A linguagem também está precocemente acometida
na DA, podendo ser notada por dificuldade em nomear objetos, na análise de discurso,
no vocabulário, na capacidade descritiva e na compreensão de leitura. A fala pode se
tornar um pouco lenta, podendo haver perseveração e repetição de palavras e frases fora
de contexto.
Nas demais áreas cognitivas, as funções visuoespaciais estão comprometidas no
curso da doença, de modo que os pacientes se perdem, com desorientação espacial e
dificuldade em manusear aparelhos complexos. As funções executivas também podem
estar comprometidas, mas isso parece não ocorrer em estágios iniciais da doença. De
modo geral, os déficits cognitivos podem ser resumidos em:
• amnésia: novos aprendizados e memória de curta e longa duração;
• afasia: compreensão, nomeação, leitura e escrita;
• apraxia: habilidade em realizar certos movimentos sob comando ou imitação;
• agnosia: habilidade em reconhecer objetos familiares.

Todas essas funções declinam na DA, mas não ao mesmo tempo e nem na
mesma proporção em um mesmo indivíduo.

Alterações comportamentais

Os sintomas não cognitivos ou as alterações de comportamento constituem um


grande problema na DA. Ainda que produzam mais ansiedade aos cuidadores e causem
muito mais institucionalização dos pacientes que os déficits cognitivos, são frequente-
mente ignorados. As alterações de comportamento variam de progressiva passividade a
marcantes hostilidade e agressividade, podendo surgir antes das dificuldades cognitivas
na evolução da doença. Os delírios, comumente os paranoides, afetam cerca de 50% dos
pacientes com DA, levando-os a acusações de roubo, infidelidade conjugal e
perseguição. Muitos dos pacientes com DA desenvolvem perturbações do ciclo sono-
vigília, alteração na alimentação (voracidade ou anorexia) e mudanças no
comportamento sexual (desinibição). Resumidamente, podem-se incluir os distúrbios de
comportamento na DA em 7 categorias maiores:
• sintomas de delírios e/ou paranoides;
• distúrbios de alucinações;
• distúrbios de atividade;
• agressividade;
• distúrbios de ritmo (sono) diurno;
• distúrbios afetivos;
• ansiedade e fobias.
Esses sintomas, embora sejam característicos de DA, não estão presentes em
todos os pacientes, mesmo na progressão da doença. Todas as categorias de distúrbios
de comportamento, quando presentes, atingem um pico de ocorrência e magnitude antes
do estágio grave da DA.

Alterações das AVDs

Os pacientes com DA apresentam deterioração progressiva de suas capacidades


em desenvolver as atividades da vida diária (AVD). A perda progressiva dessas funções
repercute na qualidade de vida do paciente e de seus cuidadores e parece ocorrer de
forma hierárquica, ou seja, das mais complexas para as mais simples. As perdas
funcionais podem estar relacionadas aos déficits que ocorrem na esfera cognitiva devido
ao com- prometimento que atinge a percepção, as funções executivas e o
comportamento. Uma descrição desse declínio pode ser útil no acompanhamento da
severidade da doença e no planejamento dos cuidados. A avaliação das AVD é essencial
para a obtenção de um diagnóstico preciso do nível de autonomia do paciente.

Você também pode gostar