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Pedagoga, mestranda em educação PPGEduc/UFRRJ, bolsista Incentivo à Pesquisa I IPEA/ANPEd. E-mail:
maridiaz_ufrrj@hotmail.com .
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Licenciada em Letras, mestre em educação PPGEduc/UFRRJ.
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Pedagoga, mestranda em educação PPGEduc/UFRRJ.
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Economista Doméstica, mestranda em educação PPGEduc/UFRRJ.
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A pedagogia da alternância possui princípios filosóficos e metodológicos os quais “sustenta[m] a necessidade
de a iniciativa partir do público beneficiário, como expressão do seu desejo de ter acesso a uma escola
diferenciada, que atenda aos interesses de seus alunos, que permita a reprodução da sua identidade cultural e que
não leve seus descendentes a engrossar as rotas de migração campo/cidade” (SOUZA, João Valdir Alves.
Pedagogia da alternância: uma alternativa consistente de escolarização rural? GT-14: Sociologia da Educação, p.
12). A Pedagogia da alternância refere-se a uma metodologia onde existem dois tempos: o tempo escola e o
tempo comunidade. No tempo escola, os educandos aprendem a teoria e no tempo comunidade, a práxis; é o
momento da relação teoria – prática.
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A LEC não é um curso regular, é importante destacar que está em caráter experimental
e sua existência só foi possível por conta do financiamento do Programa Nacional de
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(...) temos que olhar para o que acontece na educação neste país, não olhar apenas
para o próprio campo, para a própria sementeira e a própria colheita. É
necessário ter uma visão mais alargada, e perguntarmos o que fazem outros
educadores outras educadoras, nas escolas das periferias urbanas, das favelas, o
que fazem tantas e tantos educadores nos municípios nas escolas municipais, o que
fazem, sobretudo, outros Movimentos Sociais, o Movimento Indígena, o Movimento
Negro, também eles querem construir outra educação, também eles estão
construindo já outra educação.
(Miguel Arroyo)
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No ano de 1998, mais precisamente em 16 de abril com a Portaria nº 10/98, o Ministério Extraordinário de
Política Fundiária criou o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA, com o objetivo de
fortalecer a educação nas áreas de Reforma Agrária estimulando, propondo, criando, desenvolvendo e
coordenando projetos educacionais, utilizando metodologias voltadas para a especificidade do campo, tendo em
vista contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável [A afirmação encontra-se no site:
http://www.ced.ufsc.br/pronera/?page_id=10 do PRONERA – UFSC 2010]. Com isso, a partir de 2007 surgem
outros cursos de ensino superior pelo país, entretanto, é imprescindível lembrar a insistência dos movimentos
sociais do campo a chegada dessa formação a universidade pública. Na Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro foram oferecidas 60 vagas para os Jovens e Adultos dos Assentamentos de Reforma Agrária do Estado
do Rio de Janeiro, mais 10 vagas nesta turma direcionadas para os povos tradicionais (indígenas e quilombolas)
assumidas pela UFRRJ, bem como a necessidade de discutirmos a regularização do Curso. Tais dados foram
retirados do Relatório de um ano de atividades para implementação do curso desafios e demandas, aprovado pelo
Colegiado do Curso de Licenciatura em Educação do Campo em 24 de novembro de 2010.
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Segundo Maher (2006), é importante atentar para o fato de que, enquanto cabe ao
professor não-índio formar plenamente seus alunos como cidadãos brasileiros, o professor
indígena não apenas prepara as crianças, os jovens e os adultos, para conhecerem e
exercitarem seus direitos e deveres no interior da sociedade brasileira, como também garantir
que seus alunos continuem exercendo amplamente sua cidadania no interior da sociedade
indígena ao qual pertencem. E conclui que:
No ano de 1999 foi realizado um censo escolar indígena – que só foi publicado no ano
de 2001 – pelo Ministério da Educação (MEC), onde foram reunidas informações que nos
possibilita visualizar a situação escolar indígena.
Em linhas gerais, podemos destacar que ao todo foram identificadas naquele ano 1.392
escolas em terras indígenas, onde 3.998 professores (índios e não-índios) lecionavam para
93.037 estudantes.
Do universo total de professores, os indígenas totalizavam 3.059, representando 76,5%
do total; enquanto os não-índios representam 939 professores, correspondendo a 23,5%. Em
relação às regiões, o Norte do país possui o maior percentual de professores indígenas
representado por 82,7% do total, enquanto na região Sul o menor percentual, sendo 46,2%.
No Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, respectivamente, correspondem a 78,1%, 73, 6% e
80,6% do total. Mais da metade das escolas localizadas em terras indígenas situa-se na região
Norte (56,5%), onde vive a maior parte da população indígena e em termos de dependência
administrativa, há um ligeiro predomínio das escolas municipais, que respondem por 54,8%,
enquanto 42,7% são estaduais.
Outro dado importante a destacar é que a maioria dos estudantes indígenas estão no
Ensino Fundamental sendo 74.931 alunos representados por 80,6%. E é nas primeiras séries
do Ensino Fundamental que se concentra a maior parte dos estudantes indígenas. Na primeira
série, estão 32.629 estudantes, representando 43,5% do total; na segunda série, 23%; na
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terceira série, 14,9%; e, na quarta série, 9,4%. O restante, 9,2% distribui-se da quinta à oitava
série. Na Educação Infantil e em classes de alfabetização concentram-se 15,2% do total dos
estudantes indígenas, no Ensino Médio apenas 1,0% e, em classes de jovens e adultos, 3,2%.
Outro dado relevante refere-se aos níveis de escolaridade dos professores variam,
sendo assim, podemos destacar que em linhas gerais, 28,2% dos professores indígenas ainda
não tinham completado o Ensino Fundamental, 24,8% tinham o Ensino Fundamental
completo, 4,5% tinham Ensino Médio completo, 23,4% tinham Ensino Médio com
magistério, 17,6% tinham Ensino Médio com magistério indígena e apenas 1,5% haviam
cursado o Ensino Superior.
Devemos salientar também que como destaca os Referenciais para formação de
professores indígenas, produzido pelo Ministério da Educação (MEC), é importante que o
professor indígena aprenda não só aspectos relevantes da história e da cultura do seu povo,
porém, aprender também conhecimentos significativos nas diversas áreas de conhecimento e
deve ser formado como um pesquisador.
Segundo os Referenciais para Formação de Professor Indígena (MEC), os professores
indígenas têm a difícil responsabilidade de serem os principais incentivadores à pesquisa dos
conhecimentos tradicionais junto aos membros mais velhos de sua comunidade e sua difusão
entre as novas gerações, visando à sua continuidade e reprodução cultural; assim como
estudarem, pesquisarem e compreenderem os conhecimentos reunidos no currículo escolar à
luz de seus próprios conhecimentos. (MEC, 2002)
Ao ampliar a oferta de vagas e oferecer o curso de Educação do Campo para as
populações tradicionais, e nesse caso mais especificadamente os indígenas, é importante
pensar outras questões como a própria variação linguística, o distanciamento das realidades e
as próprias tradições. Sabemos que a oralidade é um elemento central na cultura indígena e as
histórias e memórias são (re) passadas dos mais velhos aos mais jovens. Tal elemento pode
ser compreendido também como uma forma de metodologia e que está presente na tradição
indígena, com as narrativas e histórias orais. São os valores tradicionais presentes nesses
grupos específicos.
Pensar o currículo, é pensar em igual modo, como elaborá-lo levando em conta os
sujeitos que terão um encontro cotidiano como seus conteúdos, onde esses possam atender as
expectativas desses sujeitos, compreendendo suas culturas e identidades. Na realidade, essa é
uma prática complexa, visto que não é tarefa fácil lidar com a “diferença”, onde sofre
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tentativas de serem anuladas de algum modo. Uma abordagem substancial nessa direção pode
ser fornecida por Paraíso (2009) onde afirma que:
[...] o tempo das malocas, antes da chegada de Cabral; o tempo das correrias,
quando os índios foram caçados à bala para a ocupação de seus territórios; o tempo
do cativeiro, quando eles foram usados como mão-de-obra escrava no corte de
seringa; e finalmente o tempo dos direitos, quando finalmente conquistaram o direito
à terra e à sua própria cultura7.
Grupioni (2006) destaca que é nesse contexto que os povos indígenas no Brasil têm
reivindicado uma escola que lhes sirvam de instrumento para a construção de projetos
autônomos de futuro, dando-lhes acesso a conhecimentos necessários para um novo tipo de
interlocução com o mundo de fora da aldeia. É primordial que haja a formação docente desses
professores no sentido de garantir suas de identidades, culturas, direitos, deveres e diálogo
com a sociedade.
7
A cartilha de história do Acre divide a história do Brasil nesses quatro períodos e defende a necessidade de
entendimento de uma outra história. Sobre isso, ver CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, 2004, p.
123.
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Não podemos permitir que ocorra hoje o que os colonizadores não conseguiram
realizar no passado, a aniquilação dos povos indígenas. Para isso, é necessário pensar,
repensar e refletir em nossas ações e como destaca a professora indígena Paresi (2011), a luta
continua em um novo contexto, onde os povos indígenas aprenderam a se organizar e a
reivindicar pelos seus direitos. Entende-se a escola como um instrumento para a consolidação
dos direitos conquistados, mas é preciso que seja garantida a construção de uma escola
indígena cidadã, para além de adquirir conhecimentos.
É preciso que se construa uma nova escola, onde a educação escolar tradicional
dialogue com as necessidades e especificidades de cada povo, isso porque os sistemas
educativos indígenas são processos tradicionais de transmissão a aprendizagem de
conhecimentos nos quais os mestres são a família e o contexto sociocultural da comunidade
(PARESI, 2011).
Considerações finais
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centros urbanos e isso não significa que tenham perdido sua identidade; muito pelo contrário,
a adaptação à sociedade do “não-índio” e a utilização da tecnologia – como o uso da internet,
o ingresso em universidades e a aquisição da língua portuguesa– têm servido para propagar a
cultura de muitos grupos étnicos e, inclusive, mostrar à sociedade envolvente seus saberes.
As comunidades indígenas, como as demais do planeta, acompanham as mudanças
históricas e reivindicam seus direitos, desempenham sua autonomia. Algumas escolas (do
ensino fundamental) já possuem matriz curricular diferenciada: bilíngue, respeitosa da cultura
local e com professores indígenas – capacitados em um programa específico para eles.
O Referencial Curricular Nacional para as escolas indígenas (RCNEI), nesse contexto,
representa um grande avanço para a educação (e Educação Física escolar) indígena. Seja na
educação básica ou no ensino superior, uma nova concepção de educação caminha ao
encontro de uma iniciativa que proponha a (re)construção de princípios, valores e recursos
educacionais, fundamentados em uma Política Pedagógica de inclusão (neste caso a indígena),
que vise, por um lado, o entrelaçamento complexo da realidade vivida com sonhos,
subjetividades e sensibilidade (incluindo a livre expressão das culturas), e por outro, o
desenvolvimento da consciência de cidadania e dignidade humana, pautada em uma cultura de
paz e de um “saber com sabor”.
Referências bibliográficas
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______. Quem precisa da Identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e
diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2009. p. 103-133.
PARESI, Francisca Navantino. A verdadeira escola indígena. In: Revista índio. Ano 1, nº 2,
2011.
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