Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE MEDICINA
D.E.I. DE ORTOTRAUMATOLOGIA
FIBROMIALGIA
4ºano de Medicina.
FIBROMIALGIA
Docente
_______________________
3
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO.................................................................................................................5
II. OBJECTIVOS................................................................................................................6
Objectivo geral........................................................................................................................6
Objectivos específicos.............................................................................................................6
III. EPIDEMIOLOGIA........................................................................................................7
IV. FISIOPATOLOGIA......................................................................................................8
V. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS....................................................................................11
- Síndromes de sobreposição e condições comorbidas.........................................................13
VI. DIAGNÓSTICO...........................................................................................................14
- Diagnóstico diferencial.......................................................................................................17
VII. TRATAMENTO..........................................................................................................18
- Tratamento não farmacológico...........................................................................................18
- Tratamento farmacológico..................................................................................................19
VIII. PROGNÓSTICO......................................................................................................21
IX. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA.............................................................21
X. CONCLUSÃO..................................................................................................................23
XI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................24
4
I. INTRODUÇÃO
A fibromialgia pode ser entendida como uma síndrome clínica caracterizada por dor e
hipersensibilidade musculoesqueléticas crônicas generalizadas. Apesar de ser definida,
essencialmente, como uma síndrome dolorosa, o quadro clínico da fibromialgia geralmente é
acompanhado de sintomas neuropsicológicos associados a fadiga, sono não restaurador,
disfunção cognitiva e transtornos de humor (Kasper et al 2015).
Segundo a Associação Internacional do Estudo da Dor (IASP, 1979), a dor pode ser
definida como “uma desagradável experiência sensorial e emocional associada a uma lesão
tecidual já existente ou potencial, ou relatada como se a lesão existisse”. A parte final dessa
definição permite compreender essa experiência sensorial de maneira mais abrangente, ao
retirar a ligação restrita da dor a um estímulo nóxico e ao incluir alterações sutis do sistema
nervoso central como desencadeantes de dor. A partir dessa avaliação, as evidências actuais
consideram o sistema nervoso central como responsável pela manutenção da dor e de outros
sintomas da fibromialgia (Porto e Porto, 2014).
A fibromialgia não era considerada uma entidade clinicamente bem definida até a
década de 70, quando foram publicados os primeiros relatos sobre distúrbios do sono
associados a dor disseminada. Foi inicialmente designada de fibrosite, a partir da descrição de
sítios anatômicos com exagerada sensibilidade dolorosa, denominados pontos hipersensíveis
ou tender points, em pacientes acometidos por distúrbios do sono. Dessa forma, a fibrosite
representava um tipo de reumatismo caracterizado pela presença de pontos musculares
endurecidos e dolorosos a palpação, com inexistência de evidências de inflamação tecidual
(Smythe e Moldofsky, 1977).
5
II. OBJECTIVOS
Objectivo geral.
- Descrever a fibromialgia enquanto entidade nosológica com etiopatogenia obscura e com
implicações no funcionamento e na qualidade de vida dos pacientes.
Objectivos específicos
- Descrever as hipóteses etiopatogénicas da fibromialgia.
6
III. EPIDEMIOLOGIA
A dor musculoesquelética crônica é bastante comum na população geral, com uma
prevalência estimada de cerca de 35%. Ela pode ser subdividida em dor regional crônica, com
uma prevalência de cerca de 25%, e dor disseminada crônica com uma prevalência de cerca
de 10% (Goldman e Schafer, 2014).
Por sua vez, White et al (1999) em estudo longitudinal com 100 casos de fibromialgia
confirmados a partir dos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia
(CAR) de 1990, verificaram que 86% dos casos de fibromialgia eram do sexo feminino e que
os principais sintomas relatados entre os casos foram a dor musculoesquelética (77,3%),
fadiga moderada (77,3%), fadiga grave com duração de 24 horas após atividade mínima
(77%), sono não restaurador (65,7%) e insônia (56%).
7
IV. FISIOPATOLOGIA
A dor enquanto modalidade sensorial depende de 3 mecanismos básicos; transdução,
transmissão e modulação, que permitem os componentes sensorial-discriminativo da
sensação álgica. A transdução consiste na transformação do estímulo nóxico (mecânico,
químico ou térmico) em potencial de acção a nível das terminações nervosas livres mielínicas
e amielínicas finas, conhecidas como nociceptores. A transmissão, por sua vez, consiste no
conjunto de vias e mecanismos que possibilitam a condução do impulso nervoso, gerado nos
nociceptores, para as estruturas do sistema nervoso central responsáveis pelo reconhecimento
da dor. Já a modulação corresponde as diferentes vias descendentes de supressão da dor que
partem, essencialmente, de estruturas do tronco encefálico (Porto e Porto, 2014).
A partir dessa hipótese, o termo sensibilização central passou a ser utilizado para
denominar a amplificação dos impulsos sensoriais periféricos e o déficit de controle inibitório
descendente do mesencéfalo. Ao contrário do controles, ou indivíduos normais, os pacientes
com fibromialgia apresentam um aumento intenso na actividade cerebral das áreas
somatossensoriais, em imagens de ressonância magnética, a medida que ocorre a
intensificação da estimulação sensorial periférica (Goldman e Schafer, 2014).
Segundo Kasper et al (2015), a grande maioria dos pacientes com fibromialgia apresentam
geradores de dor periférica que, acredita-se, actuam como gatilhos para a ocorrência de dor
mais disseminada. Dessa forma, a sensibilização central resulta de uma hiperexcitabilidade
neuronal persistente, que continua muito tempo depois do estímulo sensibilizante original ter
sido retirado. Logo, a sensibilização central resulta de somação temporal dos impulsos
neurais, ou seja, da adição de estímulos repetidos que levam a descargas sucessivas, numa
frequência maior que um impulso a cada três segundos nas fibras de dor (Goldman e Schafer,
2014).
Acredita-se ainda que do ponto de vista bioquímico, essa estimulação repetida resulta na
despolarização dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA), essenciais para a
neuroplasticidade, causando alterações na transcrição neuronal que afectam o processamento
da dor. Isso foi demonstrado experimentalmente em pacientes com fibromialgia após a
estimulação térmica repetida da pele e após a estimulação eléctrica intramuscular (Goldman e
Schafer, 2014).
8
A medida que surgem novas evidências tem se verificado que assim como na maioria das
doenças complexas, a susceptibilidade a fibromialgia provavelmente resulta da contribuição
de diferentes genes. Dessa forma, uma estimulação dolorosa persistente pode causar
sensibilização central em alguns indivíduos, com base provavelmente, em parte, na
predisposição genética. Os substratos funcionais actuais para a hipótese de multifactoriedade,
incluem a elevação da concentração de substância P e os distúrbios do metabolismo e da
actividade da serotonina (5-HT) (Kasper et al 2015).
Além das alterações nas vias de condução, as vias descendentes inibitórias da dor, que
partem de estruturas do tronco encefálico para os diversos níveis segmentares da medula
espinal, também aparentam estar envolvidas na fisiopatologia da fibromialgia. O conjunto de
estruturas que participam na modulação da resposta dolorosa recebem o nome de Sistema
Inibidor da Dor e os principais neurotransmissores envolvidos no seu funcionamento são a
serotonina e noradrenalina (NA) ao nível do tronco encefálico e as dinorfinas e encefalinas a
nível dos segmentos medulares. Esse sistema apesar de apresentar uma actividade constante
devido a um tônus basal, emitido pelos centros moduladores, pode ser activado por
condicionamento e pelo estado motivacional (Riberto e Pato, 2004).
9
Russel et al (1992), ao compararem os níveis dos metabólitos da serotonina, norepinefrina
e dopamina no LCR de 17 pacientes com fibromialgia com o de 12 controles normais,
verificaram que os níveis de metabólitos no LCR dos três neurotransmissores eram menores
nos pacientes com fibromialgia. Com isso, esses autores concluíram que uma baixa taxa de
rotatividade de vários neurotransmissores apoia a hipótese proposta de um defeito metabólico
na fibromialgia e sugere que o defeito ocorra a nível neurorregulatório. Além disso, como
evidenciado acima, alterações do metabolismo da serotonina implicam redução da actividade
do Sistema Inibidor da Dor, com uma consequente elevação da resposta dolorosa frente a
estímulos álgicos ou mesmo o aparecimento de dor espontânea.
Além das alterações dos níveis de neurotransmissores da via descendente, outra hipótese
que apoia a reduzida actividade do sistema serotoninérgico presume que seus receptores
apresentem algum tipo de diferença funcional nesses pacientes. Nesse âmbito, Bondy et al
(1999) investigaram o polimorfismo silencioso T102C do gene do receptor 5-HT2A em 168
pacientes com fibromialgia e em 115 controles normais, e verificaram uma distribuição de
genótipo significativamente diferente em pacientes com fibromialgia, com uma diminuição no
genótipo T/T e um aumento nos genótipos T/C e C/C. Esses autores concluíram então, que
apesar do polimorfismo T102C não explicar completamente as alterações verificadas na
fibromialgia, essa alteração pode estar relacionada ao desequilíbrio de ligação com a
verdadeira variante funcional, que ainda precisa ser desvendada.
O receptor 5-HT2A está localizado a nível dos sistemas nervosos central (SNC) e
periférico, bem como em várias outras células. Este receptor modula a libertação de
neurotransmissores e neuropeptídeos como a dopamina, colecistoquinina, acetilcolina, ácido
gama aminobutírico (GABA), substância P e a própria serotonina (Riberto e Pato, 2004).
10
V. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O quadro clínico desta síndrome na maioria das vezes é polimorfo, exigindo assim uma
anamnese cuidadosa e um exame físico detalhado. A queixa mais comum dos pacientes com
fibromialgia é a dor generalizada, muitas vezes referida como “dor em todo corpo”, que se
caracteriza por ser simétrica, acometer essencialmente o esqueleto axial, mal localizada,
intensa, que piora com a actividade física não habitual e associada a uma redução da
capacidade funcional. Sendo a fibromialgia caracterizada por um quadro de dor crônica, para
o estabelecimento do seu diagnóstico a dor deve estar presente na maior parte do dia, na
maioria dos dias e durante pelo menos 3 meses (Kasper et al 2015).
A grande maioria dos indivíduos com fibromialgia apresenta ainda sono não
reparador, queixando-se de dificuldades em adormecer, manter o sono e de acordar pela
manhã. Sendo assim, independentemente do número de horas de sono, os pacientes com
fibromialgia despertam sentindo-se cansados. Muitos exibem um padrão eletroencefalográfico
alfa-delta, representativo de sono fragmentado, que explica o facto deles não alcançarem os
estágios restaurativos 3 e 4 do sono não REM. Dessa forma, esses pacientes têm ciclos de
“noite mal dormida” e agravamento dos sintomas da fibromialgia no dia seguinte, sendo ainda
comum a ocorrência de síndrome de apneia obstrutiva do sono (Goldman e Schafer, 2014).
12
Outra queixa proeminente em pacientes com fibromialgia é a disfunção cognitiva.
Esses pacientes referem dificuldades com a memória de curto prazo, memória semântica,
concentração, análise lógica e motivação. Estudos recentes documentaram que esses déficits
neurocognitivos se correlacionam com alterações morfológicas cerebrais focais no lobo
frontal e no giro cingulado anterior. Para comprovar a existência de neuroinflamação nesses
pacientes Bäckryd et al (2017) avaliaram o perfil inflamatório do LCR e do plasma de 40
pacientes com fibromialgia em comparação com o LCR de 10 controles normais e o plasma
de 46 controles de doadores de sangue. Esses autores verificaram altos níveis de quimiocina
CX3CL1 no LCR e de interleucina 8 (IL-8) tanto no LCR quanto no plasma dos pacientes
com fibromialgia (Kasper et al 2015).
Por se tratar de um transtorno doloroso crônico para o qual não existe uma “cura”, o
paciente portador dessa doença geralmente encontra-se em uma crise existencial.
Aproximadamente 30% dos pacientes com fibromialgia apresentam depressão importante em
algum momento da vida, e cerca de 60% têm um histórico arrastado de quadros depressivos.
Apesar dos transtornos psiquiátricos serem comuns em pacientes com fibromialgia, esses não
parecem estar intrinsecamente relacionados com a fisiopatologia da fibromialgia.
Actualmente existem algumas hipóteses de que as bases genéticas da fibromialgia são
compartilhadas com a depressão (Goldman e Schafer, 2014).
13
Além disso, como foi supracitado a fibromialgia frequentemente está presente com
outras condições musculoesqueléticas, infecciosas, metabólicas ou psiquiátricas crônicas.
Sendo assim esses quadros associadas à dor musculoesquelética podem simular a fibromialgia
e/ou atuar como gatilho para o seu desenvolvimento. Sendo que em pacientes com distúrbios
degenerativos ou reumáticos inflamatórios a fibromialgia possui uma prevalência de cerca
20%, provavelmente pelo fato dessas condições actuarem como geradores de dor periférica
(Kasper et al 2015).
VI. DIAGNÓSTICO
Apesar da fibromialgia ser a causa mais comum de dor crônica disseminada na população
geral, ela é frequentemente subdiagnosticada. O diagnóstico de fibromialgia é essencialmente
clínico e por exclusão, pois, os exames laboratoriais e radiográficos de rotina fornecem
resultados normais na ausência de outra comorbidade. Dessa forma, os exames
complementares (Quadro-1) visam, essencialmente, descartar a possibilidade de outras
hipóteses diagnósticas e avaliar os geradores de dor ou condições comórbidas.
14
Nesse âmbito em 1990, o Colégio Americano de Reumatologia publicou um relatório
de seu Comitê Multicêntrico para Classificação da Fibromialgia, estabelecendo os seguintes
critérios para classificação: História de dor difusa, isto é, dor presente em todas as regiões do
aparelho locomotor, incluindo o componente axial, combinada com dor em 11 de 18 pontos
dolorosos a serem pesquisados (Fig. 1). Dessa forma, são considerados pacientes com
fibromialgia aqueles que preencherem ambos os critérios por um período mínimo de três
meses, sendo que a presença de anormalidades radiográficas ou laboratoriais concomitantes
de outra doença associada não excluem o diagnóstico (Wolfe et al, 1990)
Durante a pesquisa dos pontos dolorosos, um ponto sensível dói apenas na área em
que é aplicada pressão suficiente para empalidecer o leito ungueal do examinador (cerca de 4
kg/m2), não havendo dor referida. Um instrumento conhecido como dolorímetro pode ser
usado para aplicar exatamente 4 kg de pressão sobre os pontos sensíveis durante o exame
(Harden et al, 2007)
Esses critérios publicados em 2010 são compostos de dois índices, o Índice de Dor
Generalizada (IDG) e Índice de Gravidade dos Sintomas (IGS). O IDG é calculado pela
soma de 19 áreas corporais possíveis (Quadro 2) referidas como dolorosas pelos pacientes. Já
o IGS resulta da avaliação de escores de 0 a 3 dos sintomas fadiga, sono não restaurador,
distúrbios cognitivos e distúrbios somáticos (Quadro 3).
15
Quadro 3 - Índice de Gravidade dos Sintomas (IGS)
Intensidade dos sintomas com base nos últimos 7 dias.
Fadiga (cansaço ao realizar actividades) 0 1 2 3
1) IDG maior ou igual a 7 e IGS maior ou igual a 5, ou IDG entre 3 e 6 e a IGS maior
ou igual a 9.
2) Os sintomas estão presentes em intensidade estável por pelo menos três meses.
Apesar da avaliação dos pontos sensíveis ser substituída pelo IDG nesses critérios
preliminares, um exame físico completo continua sendo extremamente necessário, juntamente
com outros exames complementares na suspeita de comorbidades. Esses critérios ainda são
considerados preliminares porque precisam de ser validados pelo uso na prática clínica diária,
sendo que dessa forma eles não substituem os Critérios de Classificação de 1990, podendo na
verdade ser utilizados de forma complementar. Heymann et al (2017) em uma estudo para
estabelecer diretrizes baseadas em evidências científicas para o diagnóstico da fibromialgia,
recomendam que o mesmo pode ser feito sem o uso dos critérios do CAR 1990, porém a sua
aplicação junto aos critérios preliminares de 2010 aumenta a acurácia diagnóstica.
Dois outros métodos são utilizados na prática clínica para o diagnóstico de fibromialgia. O
primeiro é o da Medical Scientific Societies in Germany (AWMF), que considera o
diagnóstico de fibromialgia pela avaliação de dor crônica difusa definida como dor axial e dor
nas 4 extremidades, e/ou informação de distúrbios do sono e fadiga, bem como sensação de
inchaço ou rigidez nas mãos, pés ou face nos últimos 3 meses, com um escore de 1 a 10 em
uma escala numérica coletada através de questionário. Já o segundo método corresponde ao
Fibromyalgia Survey Questionnaire que assim como os critérios preliminares de 2010, avalia
o índice generalizado de dor ( IDG ou WPI), dos 19 locais de dor não articular, e o índice de
gravidade dos sintomas (IGS ou SSS), diferindo apenas pela inclusão de três sintomas
adicionais (dor ou cãibras no abdómen inferior, depressão e dor de cabeça) no IGS, que
podem ser codificadas por estar presente (1) ou não (0), sendo que a pontuação final do IGS
varia de 0 a 12. Na prática clínica esses critérios não se mostraram mais sensíveis que os
critérios preliminares do CAR de 2010, sendo dessa forma usados essencialmente para
estudos epidemiológicos (Heymann et al, 2017).
16
- Diagnóstico diferencial.
17
VII. TRATAMENTO
O sucesso terapêutico da fibromialgia exige uma análise detalhada em termos do modelo
biopsicossocial de doença. Nesse âmbito, questões como a educação do paciente, a
intensidade da dor, o grau de disfunção resultante da fadiga, a intensidade dos distúrbios do
sono e dos transtornos de humor, bem como o descondicionamento físico exigem especial
atenção por parte do médico. Sendo assim, o médico deve ter como meta a melhora da função e da
qualidade de vida, e não a eliminação da dor (Goldman e Schafer, 2014).
No tratamento não farmacológico atenção especial deve ser dada para o condicionamento
físico, com incentivo para iniciar exercícios aeróbicos de baixo nível com progressão gradual,
porém de modo consistente. Como a fadiga é um dos sintomas mais limitantes da
fibromialgia, pacientes fisicamente inativos ou que relatam a ocorrência de mal-estar após
esforços podem ter melhor resposta inicial em programas supervisionados ou realizados na
água (hidroginástica). Actividades que combinam a melhora da função física com o
relaxamento, como yoga e tai chi, também podem ser úteis. (Kasper et al 2015).
18
Como já foi referido, pacientes com fibromialgia têm prevalência aumentada para
transtornos de ansiedade e depressão. Várias opções de tratamento estão disponíveis, como a
terapia cognitivo-comportamental, que inclui o treinamento de relaxamento e terapia de
grupo, com o objectivo de melhorar a higiene do sono e reduzir os comportamentos de doença
( Jahan et al, 2012)
- Tratamento farmacológico
A sensibilização central pode ser feita com fármacos do grupo dos antidepressivos
inibidores selectivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina (ISRSN), como a
venlafaxina, duloxetina, milnaciprano e amitriptilina, sendo que a duloxetina e o
milnaciprano foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para uso na
fibromialgia. Esse grupo de fármacos é bastante eficaz no tratamento da dor da fibromialgia,
porém o mecanismo de ação deles é independente do efeito antidepressivo e resulta da
suprarregulação da via descendente que utiliza serotonina e norepinefrina como
neurotransmissores nas sinapses com os neurónios medulares do corno posterior. Os
antidepressivos tricíclicos, trazodona, ciclobenzaprina e nortriptilina, também são úteis no
tratamento da dor, por apresentarem acção semelhante aos ISRSN sobre as vias
noradrenérgicas e serotoninérgicas (Goldman e Schafer, 2014).
Para os distúrbios de sono os ISRSN também podem ser úteis, porém devido a níveis
inaceitáveis de sonolência diurna e ganho de peso, os sedativos hipnóticos não
benzadiazepínicos como o zolpidem e o zopiclone, frequentemente são utilizados para
melhorar o padrão de sono apesar de não interferirem directamente na dor. O oxibato de
sódio, aprovado pelo FDA para narcolepsia, também apresenta efeitos benéficos sobre o
padrão de sono, dor, rigidez e fadiga em pacientes com fibromialgia (Goldman e Schafer,
2014).
19
Como cerca de 25% dos pacientes com fibromialgia do sexo masculino e 15% do sexo
feminino também apresentam síndrome de apneia obstrutiva do sono, tratamento com pressão
positiva contínua das vias respiratórias ou cirurgia também pode ser indicada para melhoria da
qualidade de sono. Além disso, os pacientes com fibromialgia frequentemente apresentam
síndrome das pernas inquietas ou transtorno de movimentos periódicos de membro, sendo
nessas circuntâncias necessária terapia a base de agonistas de dopamina como L-
DOPA/carbidopa, pramipexol ou ropinirol (Goldman e Schafer, 2014).
Para os pacientes com fibromialgia que apresentam distúrbios psicológicos, terapias não
farmacológicas como a terapia cognitivo-comportamental representam a medida mais eficaz,
pois, apesar dos fármacos antidepressivos serem comumente usados no tratamento da dor e dos
distúrbios do sono, as doses são frequentemente insuficientes para o tratamento de quadros
depressivos. Além disso, pelo facto de vários antidepressivos puderem ser utilizados na
fibromialgia os pacientes podem estar em risco de desenvolver uma síndrome serotoninérgica,
sendo assim necessária uma revisão cuidadosa das medicações concomitantes durante a
prescrição de novas medicações, especialmente em pacientes de difícil tratamento que fazem
uso de múltiplas medicações (Goldman e Schafer, 2014).
É importante referir que os analgésicos opioides devem ser evitados em pacientes com
fibromialgia, pois esses agentes não têm nenhuma eficácia demonstrada nesse quadro e estão
associados a hiperalgesia induzida por opióides, que pode agravar tanto os sintomas quanto a
função. Turner et al (2016), em um estudo com 429 pacientes com fibromialgia que usaram
opioides de forma intermitente, em dose baixa/regular ou em dose mais alta durante 12 meses,
verificaram que os pacientes que continuaram a terapia opioide de forma crônica obtiveram
resultados piores de interferência na dor e na actividade do que aqueles pacientes com uso
mínimo.
20
VIII. PROGNÓSTICO
De forma geral, os sintomas da fibromialgia permanecem por muitos anos sendo que as
consequências da dor e da fatigabilidade influenciam negativamente o desempenho regular de
tarefas físicas e intelectuais. Pacientes com fibromialgia necessitam de mais tempo pra
realizar as actividades quotidianas e, com frequência, necessitam de períodos extras de
repouso durante o dia. Uma pesquisa com pacientes com fibromialgia atendidos em centros
acadêmicos relatou que 70% se percebiam como incapacitados e 16% estavam recebendo
benefícios do seguro social (Goldman e Schafer, 2014).
21
O questionário conhecido como Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) é o
instrumento mais específico para a avaliação do impacto da doença na qualidade de vida. Ele
é composto de questões relacionadas à influência da doença nas actividades quotidianas, nas
actividades profissionais e questões relacionadas à intensidade dos principais sintomas. O FIQ
tem boa confiabilidade, comparado com as escalas relevantes do Arthritis Impact
Measurement Scales-AIMS (Provenza et al, 2004)
22
X. CONCLUSÃO
Em suma, podemos concluir que a fibromialgia corresponde a um subtipo de dor crônica
disseminada que compromete significativamente a qualidade de vida dos pacientes, devido a
intensa redução da funcionalidade. O seu diagnóstico é eminentemente clínico, resultando da
exclusão de outras doenças reumáticas e não reumáticas e baseado na utilização de critérios
pré-estabelecidos que avaliam o quadro doloroso e os sintomas neuropsicológicos.
Vários fármacos diferentes estão aprovados pela FDA para o tramento da fibromialgia
incluindo ISRSN como a duloxetina e o milnaciprano e anticonvulsivantes como a
pregabalina e gabapentina, com base nos seus efeitos clinicamente significativos e duráveis
sobre o quadro doloroso e outros sintomas acompanhantes. Terapia adjuvante direcionada a
sintomas específicos, como sono, bem como tratamentos voltados para comorbidades comuns,
como a síndrome do intestino irritável e a artrite reumatóide, devem ser considerados com o
objectivo de reduzir a carga geral de sintomas do paciente. Sendo assim, uma abrodagem
multidisciplinar representa a melhor forma de intervenção pois, os fármacos actuais não
tratam completamente os sintomas da fibromialgia nem beneficiam todos os pacientes. O
diagnóstico precoce e o tratamento atempado dos pacientes com fibromialgia podem produzir
uma melhora substancial na qualidade de vida.
23
XI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. KASPER, D. L. et al. Medicina Interna de Harrison. 19ª edição, Mc Graw Hill editora,
Porto Alegre, 2015. Cap. 396, pág. 2238-2240.
24
11. REILLY P. A. Fibromyalgia in the workplace: a management problem. Ann Rheum
Dis; 52: 249-51. 1993.
17. HARDEN, R.N. et al. A critical analysis of the tender points in fibromyalgia. Pain
Medicine. Pubmed; 8(2):147-156. Mar. 2007.
19. MOLONY R.R., MACPEEK D.M. e SCHIFFMAN PL. Sleep, sleep apnea and the
fibromyalgia syndrome. The Journal of Rheumatology; 13(4):797-800. Ago. 1986.
25
22. MARTÍNEZ, J. E. e MARTÍNEZ, L. C. Revisitando a fibromialgia: o desafio
diagnóstico continua. Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba; 12(4):6-9,
2010.
23. WOLFE, F. et al. The American College of Rheumatology1990 Criteria for the
Classification of Fibromyalgia. Report of the Multicenter Criteria Committee. Arthritis
Rheum; 33(2):160‐172. 1990.
27. CARSON. J.W. et al. A pilot randomized controlled trial of the Yoga of Awareness
program in the management of fibromyalgia. The Pain journal. International Association for
the Study of Pain; 151(2):530‐539. Dez. 2010.
28. WANG, C. et al. A randomized trial of tai chi for fibromyalgia. The New England
journal of medicine; 363(8): 743–754. Ago. 2010.
29. TURNER, J. A. et al. Does association of opioid use with pain and function
differ by fibromyalgia or widespread pain status? The Pain journal. International
Association for the Study of Pain; 157(10), 2208–2216. Out. 2016.
30. BURCKHARDT C.S., GUNILLA M.L., CHRIS M.H. e SALLY K. The impact
of fibromyalgia on employment status of newly-diagnosed young women: a pilot
study. J. Musculoskeletal Pain; 13(2):31–41. Jan. 2005.
31. BULLINGER M., ANDERSON R., CELLA D.. Developing and a evaluating
cross-cultural instruments from minimum requirements to optimal models. Qual Life
Res; 2:451-459. Dez. 1993.
26
32. FLECK, M. P. et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de
avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100). Brazilian Journal of
Psychiatry; 21(1), 19-28. Mar. 1999.
27