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CURSO DE MAÇONARIA – GRAU DOIS DE ACADÊMICO COMPANHEIRO

Loja de Estudos

Quarta Apostila: Edição 2013

INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO MAÇÔNICO - IBEMAC

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CURSO DE MAÇONARIA – GRAU DOIS DE ACADÊMICO COMPANHEIRO

Sumário Geral

Introdução

Página 06

QUARTA APOSTILA

1ª AULA

OBJETIVO DO GRAU DE COMPANHEIRO.ORIGEM E SIGNIFICADO DA


PALAVRA COMPANHEIRO. DECORAÇÃO DO TEMPLO. VESTES.
TÍTULOS, ABERTURA E TRANSFORMAÇÃO. FECHAMENTO E
TRANSFORMAÇÃO. INGRESSO NO TEMPLO. ORDEM DO DIA.
ELEVAÇÃO. ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE O GRAU. NÚMERO
NECESSÁRIO DE MAÇONS.

Página 10

2ª AULA

INSTRUÇÕES PRIVATIVAS. PRIMEIRA INSTRUÇÃO: O TRABALHO E O


AVENTAL DO COMPANHEIRO. SEGUNDA INSTRUÇÃO: A LENDA DO
SEGUNDO GRAU. TERCEIRA INSTRUÇÃO: A ESTRELA FLAMIGERA OU
FLAMEJANTE. QUARTA INSTRUÇÃO: O PAINEL DO GRAU DE
COMPANHEIRO. QUINTA INSTRUÇÃO: A LETRA “G”, O DELTA
LUMINOSO E O COMPANHEIRO. SEXTA INSTRUÇÃO: OS NÚMEROS.
SÉTIMA INSTRUÇÃO: OS CINCOS SENTIDOS.

Página 19

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3ª AULA

OITAVA INSTRUÇÃO: AS COLUNAS E SUA ARQUITETURA. NONA


INSTRUÇÃO: AS CINCOS PERGUNTAS AO COMPANHEIRO. PRIMEIRA
INSTRUÇÃO ESPECIAL: OS FILÓSOFOS. SEGUNDA INSTRUÇÃO
ESPECIAL: PITÁGORAS. TERCEIRA INSTRUÇÃO ESPECIAL: ORFEU.

Página 32

QUINTA APOSTILA Página 43

4ª AULA

AS ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA. POR QUE UM ESTUDO SOBRE


AS SETE ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA? O ESTUDO PROFANO
DAS SETE ARTES LIBERAIS. AS SETE ARTES LIBERAIS NA
ANTIGUIDADE. AS SETE ARTES LIBERAIS NA IDADE MÉDIA.

Página 44

5ª AULA

ASPECTOS GERAIS DAS SETE ARTES LIBERAIS NA IDADE MÉDIA. O


TRIVIUM E O QUADRIVIUM. AS FIGURAS E AS OBRAS DAS SETE
ARTES LIBERAIS. A DIALÉTICA E A LÓGICA, SINÔNIMAS NA IDADE
MÉDIA? AS SETE ARTES LIBERAIS E A ARTE NA IDADE MÉDIA.
ALGUMAS CONCLUSÕES PRELIMINARES SOBRE AS SETE ARTES
LIBERAIS NO MUNDO PROFANO. AS SETE ARTES LIBERAIS E OS
GRAUS MAÇÔNICOS DO SIMBOLISMO. AS SETE ARTES LIBERAIS E A
MAÇONARIA.

Página 53

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6ª AULA

O TRIVIUM E O QUADRIVIUM SEGUNDO OS MAÇONS. O SIGNIFICADO


DAS DISCIPLINAS DO TRIVIUM SEGUNDO OS MAÇONS. A GEOMETRIA
SEGUNDO OS MAÇONS. A ARITMÉTICA E A MÚSICA SEGUNDO OS
MAÇONS. A ENSINANÇA MAÇÔNICA E AS SETE ARTES LIBERAIS. O
GRAU DE COMPANHEIRO MAÇOM, ONDE SÃO ESTUDADAS AS SETE
ARTES LIBERAIS.MATRIZES.

Página 61

SEXTA APOSTILA Página 90

7ª AULA

SÓCRATES. A VIDA. MÉTODOS DE SÓCRATES.DOUTRINA FILOSÓFICA.


CONHECE-TE A TI MESMO. GNOSIOLOGIA. A MORAL. ESCOLAS
SOCRÁTICAS MENORES.

Página 91

8ª AULA

PLATÃO. A VIDA E AS OBRAS. O PENSAMENTO: A GNOSIOLOGIA.


TEORIA DAS IDEIAS.METAFÍSICA. AS IDEIAS.AS ALMAS. O MUNDO.

Página 101

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9ª AULA

ARISTÓTELES. A VIDA E AS OBRAS. O PENSAMENTO. A GNOSIOLOGIA.


FILOSOFIA DE ARISTÓTELES.A MORAL. A POLÍTICA. A RELIGIÃO. A
METAFÍSICA. A PSICOLOGIA. A COSMOLOGIA. JUÍZO SOBRE ARISTÓTELES.
VIDA RETROSPECTIVA.

Página 111

Folhas da Prova

Pagina 131

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Introdução - *Atenção! Leia, é de grande importância para você.

A intenção do Ibemac (Instituto Brasileiro de Estudos Maçônicos) é divulgar a


doutrina maçônica principalmente aos não-iniciados, possibilitando desta forma, que
um grande número de pessoas, ainda que não ligados diretamente a maçonaria,
possam conhecer um pouco dos nossos estudos, sem contudo adentrar aos
segredos desta Ordem Secular.

Seguindo este raciocínio, o Ibemac preparou o “Curso de Maçonaria”, dividido


em três estágios, que correspondem aos “três graus acadêmicos” para o estudo da
filosofia maçônica.

O Segundo Grau Acadêmico é composto de 09 (nove) aulas, as quais


juntas, dão uma ideia privilegiada do que vem a ser a maçonaria, dos estudos a que
se dedica, da forma abrangente que busca o conhecimento, da modo como incentiva
seus membros a busca da verdade, enfim, fornece uma visão muita ampla daquilo
que se pratica dentro da Ordem e especificamente neste grau.

Para se ter uma melhor ideia do que será abordado nesses estudos, o
Segundo Grau Acadêmico, como já dissemos, dividido em nove etapas, trata na
primeira aula da Origem do Grau de Companheiro bem como explica o termo
“companheiro”; adentra a cerimônia de elevação e a necessária abertura e
transformação da Loja de Aprendiz em Loja de Companheiro devido a Cerimônia
Magna.

Na segunda aula, leremos sobre as instruções gerais, as específicas e as


privadas, destinadas ao Companheiro; a definição da letra “G” e suas múltiplas
interpretações possíveis segundo cada rito. Explicações sobre o avental e a
modificação da posição da abeta. A lenda do Grau Dois também é um tema de
grande interesse para todos os maçons. Os números e os cinco sentidos fecham

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essa aula e abrem a mente do estudante para um universo maravilhoso e até então
desconhecido.

O estudo sobre os filósofos, principalmente sobre Pitágoras e ainda a lenda


original de Orfeu, bem como outras instruções especiais para o Grau Dois de
Acadêmico Maçom, tudo isso poderá ser encontrado na terceira aula.

A introdução sobre as “Artes Liberais” e a necessidade do seus estudo pelos


maçons, seu foco na antiguidade e na idade média e as diferenças de entendimento
passando de uma época para outra é o que nos oferece o presente estudo na
quarta aula.

A lição de número cinco nos apresenta o trivium e quadrivium como a


divisão básica das sete artes liberais e a sua importância para os graus e simbologia
dos maçons.

.Uma explicação detalhada sobre o trivium e quadrivium e a necessidade


desse estudo para o Grau de Companheiro será avaliado na lição de número seis,
que nos trás, ainda, informações sobre os conceitos maçônicos para a aritmética, a
música e a retórica.

A aula número sete nos dará uma boa e elucidadora lição sobre a filosofia
de Sócrates com mais detalhes do que nos trouxe o estudo anterior. Sua vida e seus
pensamentos sobre a moral, religião, conceitos sobre Deus, tudo isso faz parte
desta lição.

Na oitava aula. Estudaremos sobre a filosofia de Platão, principalmente


naquilo que ele faz referência a Sócrates. Os conceitos que Platão desenvolveu
sobre a vida, religião, política e outros temas de interesse popular e maçônico,
válidos até o dia de hoje.

Pitágoras encerra este estudo para o Grau Dois, sobre os filósofos. Pitágoras tem
conceitos que interessam especialmente aos maçons, uma vez que a sua ligação
com os números norteiam desde as medidas da Loja até mesmo o avental que
utilizamos. A filosofia, a vida e as obras deste grande homem podem ser estudados
na aula de número nove,
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Este “Grau Dois de Aprendiz Maçom” ou “Grau Dois de Acadêmico”, qualquer


uma das duas formas estão corretas, está totalmente fundamentado nos livros de
José Castelani e Raimundo Rodrigues, dois grandes escritores sobre temas
maçônicos.

A obra intelectual “ Estudos da Filosofia Grega”, e os textos de Rosana


Madjarof sobre filosofia, serviram como principal base para os nossos trabalhos.

Ao final das lições encontra-se um questionário o qual deverá ser respondido


e enviado para o Ibemac para fins de correção e nota; somente receberá o
Certificado de Aprovação e o selo de “apto para o próximo grau” o aluno que
responder as questões e obtiver nota mínima 5,0 (cinco). Juntamente com as
apostilas do curso, o aluno receberá uma folha avulsa contendo todas as questões,
poderá responder nessa folha e envia-la para a Caixa Postal do Ibemac neste
endereço: IBEMAC - Caixa Postal nº 51 Cep 15150-970 Monte Aprazível/SP. A
folha de exame corrigida será devolvida para o candidato com a nota final obtida e o
carimbo de aprovado.

Preste atenção durante a leitura do texto pois as frases que foram utilizadas
para formar o questionário estão todas no texto. Você pode responder as questões
logo após a lição, pois isso facilitará o preenchimento da “folha de prova” no final da
terceira apostila. Ao terminar o Grau Três de Acadêmico Maçom, o aluno que
obter nota mínima de 5,0 (cinco) em cada um dos graus, com média final 5,0 (cinco)
será indicado, caso seja de sua vontade, para uma das Lojas Maçônicas filiadas ao
Ibemac e poderá tornar-se um Aprendiz Maçom, caso preencha os requisitos
básicos para ingresso na Maçonaria.

Todo acadêmico regularmente matriculado no IBEMAC pertence a Augusta e


Responsável Loja de Estudos (A.’.R.’.L.’.E.’.) Rui Barbosa, fundada pelos
Mestres Maçons do Instituto Brasileiro de Ensino Maçônico, com a finalidade de
atender as necessidades dos alunos e dirimir as dúvidas que naturalmente surgem
durante o período de estudos.

O Mestre da sua classe sempre atenderá às suas solicitações e durante o


curso manterá contato para orientá-lo da melhor forma possível para a conclusão
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dos estudos. Ele também será o seu padrinho para um futuro ingresso na
Maçonaria.

APRESENTAÇÃO DO GRAU DOIS DE APRENDIZ ACADÊMICO

Prosseguindo no mesmo critério de estudos do Grau de Aprendiz, agora


veremos doravante o Grau de Companheiro Maçom. O método de estudo permite
a revisão do grau anterior como suporte para o avanço a este grau. O Grau de
Aprendiz foi o início de uma viagem, o primeiro passo na senda, na qual o neófito se
precipitava ainda no escuro, caminhando em uma estrada desconhecida, tropeçando
nos obstáculos naturais do caminho e amparando-se nos ombros e na mão amiga
daquele que era seu guia e que viria a ser seu irmão em curto espaço de tempo.

Aqueles que venceram os percalços da primeira jornada dentro da Maçonaria


Universal, eis que se impõe o avançamento no curso natural da vida do maçom que
é progredir nos graus, subindo pela Escada de Jacob, sempre em busca da Luz
Maior e aspirando respirar mais levemente, sendo que as coisas profanas pesam em
suas costas e as coisas do céu o aliviam de imediato

Esses, aos quais nos referimos, são os vitoriosos desta primeira etapa.
Infelizmente, notamos que muitos dos nossos irmãos contentam-se, apenas, em
conhecer o Primeiro Grau, como se fosse encontrar em um únicol grau todos os
mistérios velados por centenas ou milhares de anos pela Maçonaria.

Ledo engano. A Maçonaria não seria o que é até os dias de hoje, caso
entregasse seus segredos no grau em que recebe os profanos. Seria tamanha
temeridade que colocaria em risco toda a estrutura filosófica e esotérica da Ordem.
É, justamente, no Primeiro Grau em que encontramos, ainda, os maiores curiosos, a
sombra da metamorfose (meio maçom e meio profano), os desinteressados pelos
estudos mais profundos, os indolentes, os aproveitadores, enfim, muitas daquelas
características que marcam os profanos ainda estão presentes (mas não poderia)
em alguns dos nossos irmãos no Primeiro Grau.

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Os problemas de invasão em Loja, de falsa identificação, de usurpação


indevida de grau e outros relativos a falsidade e dissimulação, estão, via de regra,
ligados aos irmãos (em sua maioria ex-irmãos) que deixaram a Maçonaria ainda no
Primeiro Grau e escondem a sua condição de “adormecidos” passando-se por
irmãos ativos. Na realidade, esses tais, queriam apenas conhecer os Sinais, Toques
e Palavras dos Aprendizes sem contudo assumir a responsabilidade do Aprendiz
Maçom; querem exibir tais formas de identificação (inclusive com a credencial
maçônica) mas não querem aceitar a disciplina necessária inerente a todos os
maçons, buscam a glória momentânea e, portanto e para tanto, despedem-se do
convívio dos demais irmãos e irmãs, deixando a Loja para sempre, afetando de
forma contundente o próprio progresso, uma vez que perdendo o contato com a
irmandade dentro da Loja, deixam de lado não apenas as instruções, mas
principalmente, a fraternidade, que é uma das fases do lema maçônico (Liberdade,
Igualdade e Fraternidade) e que é o escopo do Grau de Companheiro Maçom.

Para todo aquele que venceu a primeira etapa na vida de iniciado, eis aqui, o
Manual do Grau de Companheiro Maçom, ou as Instruções do Grau Dois.

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OBJETIVO DO GRAU DE COMPANHEIRO.ORIGEM E SIGNIFICADO DA


PALAVRA COMPANHEIRO. DECORAÇÃO DO TEMPLO. VESTES.
TÍTULOS, ABERTURA E TRANSFORMAÇÃO. FECHAMENTO E
TRANSFORMAÇÃO. INGRESSO NO TEMPLO. ORDEM DO DIA.
ELEVAÇÃO. ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE O GRAU. NÚMERO
NECESSÁRIO DE MAÇONS.

INSTRUÇÕES PRELIMINARES

1. OBJETIVO DO GRAU DE COMPANHEIRO

Neste Grau, o iniciado deve se preocupar com vários aspectos do ritual e da


ritualística, voltando a sua atenção para os detalhes do simbolismo. O Companheiro
é, por excelência do título, o amigo ideal de todos: é Companheiro dos Aprendizes,
dos demais Companheiros e dos Mestres. Assim, a sua especialização é “andar
ombro-a-ombro”, amparar à todos os necessitados, auxiliar os outros Companheiros
nessa nova estrada e aos Mestres na árdua missão de orientar à todos da Loja. O
Companheiro deve, ainda, zelar para que os novatos da Loja tenham suas dúvidas
sanadas, pois, muitas das vezes, é mais fácil para o Aprendiz ter acesso ao
Companheiro do que a um Mestre ou ao Segundo Vigilante que é o responsável
pelas instruções básicas. O sentimento que deve dominar o Companheiro é a
Fraternidade, enquanto o Aprendiz é movido pelo ideal da Liberdade.
O companheiro deve demonstrar que possui capacidade de realizar, na
prática, os conhecimentos que adquiriu no Grau Um. Para progredir na senda
esotérica, deve ser capaz de interpretar com maior perfeição os símbolos da Loja,
principalmente os gravados nos painéis do Grau Um e do Grau Dois. Essa
interpretação se torna mais perfeita quando o Companheiro passa a vivenciar a
experiência do simbolismo, tirando-a do papel e adaptando-a em sua vida. É no dia-
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a-dia e nas sessões da Loja, que o Companheiro demonstra que realmente mereceu
o seu “aumento de salário”, através das suas atitudes do cotidiano que visam a
melhora da sociedade como um todo, da comunidade em que vive e dos indivíduos
que a compõem, realçando a imagem positiva que os profanos projetam sobre a
maçonaria. Em resumo, neste grau, o Maçom irá preocupar-se em dar atenção aos
seus semelhantes e a si mesmo; observar sempre que seus semelhantes são seres
humanos e merecem atenção e fraternidade e, por último, aceitar e compreender os
avanços da tecnologia, se possível dominar uma parte desta tecnologia e utilizá-la
para o progresso da humanidade. Não pode esquecer nunca, que apesar do seu
progresso, a base do edifício da Maçonaria continua sendo – e sempre será – o
Grau Um do Aprendiz Maçom.

1.1. A Origem e Significado da Palavra Companheiro


A palavra Companheiro é de origem latina, o seu significado, entretanto
comporta várias explicações; a mais coerente para a Maçonaria é que este
termo deriva da locução latina “cun panis”, onde cum é preposição (com) e
panis é o substantivo masculino pão. O melhor entendimento da palavra nos
leva a compreender que Companheiro é aquele que divide o mesmo pão e
em um entendimento mais extenso, podemos acrescentar, que é aquele que
divide o peso, o mesmo caminho, as mesmas tarefas, ampliando o significa
filosófico de pão.

2. DECORAÇÃO DO TEMPLO
O Templo é decorado em vermelho e tem cinco luzes que estarão acessas
antes do início da sessão, dispostas em número de três no A.’. do V.’. M.’. em um
candelabro específico, e uma em cada A.’. dos VV.’.
O L.’.S.’. ou a Const.’. da L.’. estarão dispostos no A.’. dos JJur.’. juntamente
com o Esq.’. e o Comp.’. e no Oc.’. (ao centro) o P.’. da L.’. tudo de modo visível
para quem adentra ao Templo.
As CCol.’. J.’. e B.’. caso estejam dentro do Templo, seguirão a ordem de
iluminação, mantendo-se a B.’. apagada e a J.’. acesa. Essa iluminação é

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obrigatória, mas pode ser feita de forma indireta através de luzes auxiliares focadas
na respectiva direção.
O Alt.’. das FFer.’. será forrado por uma toalha Pr.’. e Br.’. (em partes iguais) e
terá sobre si os instrumentos necessários para à elevação: O Maç.’. , o Cinz.’. , o
Esq.’. , a Alav.’. , a Reg.’. , a Esp.’. e o Comp.’. .
A Estr.’. Flam.’. deverá ser acessa somente no momento exigido pelo Ritual.
Em cada uma das estações do Templo (Oriente, Ocidente, Setentrião e
Meridiano) serão fixadas tabuletas com as inscrições: Cinco Sentidos (Oriente),
Filósofos (Ocidente), Arquitetura (Meridiano) e Ciências Liberais (Setentrião).

3. VESTES
A indumentária das Luzes e dos Obreiros é a mesma do Grau Um. Os
membros que serão elevados estarão trajados com balandrau e avental (que é a
insígnia do Comp.’.) porem com a abeta abaixada. Observação importante deve ser
feita quanto ao traje antes e depois da elevação, pois ao adentrar ao Templo, o
candidato o faz na condição de Aprendiz e deverá vestir-se com o avental “abeta
levantada” e calçar as luvas brancas; a abeta do avental será baixada e as luvas
descalçadas somente após o término do ritual de passagem.

4. TÍTULOS
Os títulos (pronomes de tratamento) tanto para as Luzes quanto para os
obreiros são os mesmos do Grau Um.

5. ABERTURA OU TRANSFORMAÇÃO
A Loj.’. do Comp.’. Maçom pode ser aberta diretamente no Gr.’. de Comp.’.
ou passar pela transformação do Grau de Aprendiz em Companheiro Maçom. No
segundo caso, a Loja de Aprendiz será fechada, os AApr.’. serão chamados para
Cobr.’. o Templo. Ao final do Ritual de Elevação, a Loja de Companheiro será
fechada e reaberta a de Aprendiz.

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6. FECHAMENTO E TRANSFORMAÇÃO
Tanto a abertura dos trabalhos bem como fechamento e a transformação
seguem um método específico, descrito no ritual e no Regulamento da Ritualística,
que são documentos de circulação e conhecimento restritos, não publicados para
conhecimento geral.

7. INGRESSO NO TEMPLO
O ingresso no Templo é realizado em procissão ou cortejo, organizado pelo
M.’. de Cer.’. ainda na Sal.’. dos PP.’. PP.’. e permitindo a entrada dos membros em
conformidade ao grau em que será aberto o trabalho. Segundo a vontade do V.’.M.’.
e em conformidade com o Regulamento Geral da Obediência, poderá ser feita “em
família” inclusive com a entrada dos visitantes ao lado dos membros da Loja, sem
distinção e sem telhamento.

8. ORDEM DO DIA
A Ordem do Dia, é um documento distinto dos demais da Loja, onde se
encontra a pauta dos acontecimentos daquele dia de trabalho. Costumeiramente
segue um critério de assuntos e destina-se: a) Iniciações; b) Assuntos em Pauta e
Editais; c) Petições e; d) Instruções; e) Apresentação de Propostas de Elevações; f)
Apresentação e Apreciação dos Trabalhos; g) Aprovação de Elevações; Este
exemplo de Ordem do Dia, diz respeito à Loja de Companheiro e será alterado
quando da Loja de Aprendiz. Durante a leitura da Ordem do Dia, será permitido o
uso da palavra nas CCol.’. porem o V.’.M.’. deverá evitar excessos, proibir debates e
deixar claro que não é necessário manifestação de apoio aos assuntos já expostos.
Os assuntos mais complexos poderão, a critério do V.’.M.’. permanecer “sob
malhete” pelo tempo permitido de forma regimental.

9. ELEVAÇÃO
Denomina-se “elevação” o ato que concede o “aumento de salário” para o
iniciado que vai de Aprendiz para Companheiro. Portanto, eleva-se um Aprendiz que
está no Grau Um para o Grau Dois que é de Companheiro Maçom. A utilização do
termo “iniciação no Grau de Companheiro” também está correta. A Elevação exige a

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execução correta do Ritual para que a cerimônia seja considerada Jus.’. e Per.’.
evitando-se inovações desnecessárias, tanto diminuindo como acrescentando textos
ou símbolos. Recomenda-se que os membros que serão elevados, ainda que
permaneçam juntos na Sala das Reflexões devem ser isolados para o ingresso no
Templo e, após as provas, isolados novamente até a conclusão do grau. Esse
isolamento visa possibilitar o desenvolvimento das provas do grau sem que um
candidato ouça ou presencie as provas que o outro está sendo submetido.

10. ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE O GRAU


A Elevação do Aprendiz Maçom ao Grau de Companheiro é feita através de
um Ritual de Passagem, portanto “passagem” é a denominação correta para esse
evento. Os CComp.’. MM.’. se reúnem em Loja para glorificar o Trabalho, progredir
na Via do Conhecimento e na Obra da Vida, para enaltecer o progresso da Ciência e
das Artes, em proveito de toda a Humanidade. Para que se aperfeiçoe, é necessário
um tempo de C.’.A.’. no qual trabalhará a P.’.C.’. efetuando este trabalho desde o
M.’. D.’. E.’. P.’. até a M.’. N.’. sendo este o horário da jornada dos CComp.’. sob os
auspícios dos MM.’.MM.’. e em especial do P.’.V.’. que é responsável diretamente
pelos CComp.’. MM.’.Esse tempo necessário para o aperfeiçoamento é idêntico a
sua idade e representa a Bat.’. do Gr.’. portanto, entende-se que esse é o número
respectivo ao Comp.’. M.’. Nos dias atuais, não está mais em uso que se aguarde
esse tempo, assim como não se espera que o Apr.’. complete Tr.’. A.’. naquele grau
para depois progredir, também não se exige que o Comp.’. aguarde tal tempo. O
Interstício praticado na Maçonaria Universal segue outros critérios, que vão desde
alguns poucos meses até no máximo de um ano para a elevação. Considera-se
esse espaço de tempo suficiente para que o Apr.’. demonstre capacidade para o
“aumento de salário”. Porem, o Companheiro não deve entender essa redução do
tempo como um benefício que recebe, mas sim como fruto do seu trabalho, portanto
mérito e não graça. Deve manter os olhos abertos para a Verdadeira Luz e ter
acabado o seu primeiro trabalho material que foi realizado na P.’.B.’. que ao mesmo
tempo possibilitou o primeiro trabalho espiritual que foi a retificação dos seus
conceitos e a fundação das bases que irão edificá-lo doravante na Grande Obra que
é a Maçonaria. Com a utilização do malho, o Aprendiz percebeu que nosso trabalho

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não é de força física mas sim de vontade e disciplina para alcançar o objetivo do
Grau Um, que é o trabalho moral, para o qual os utensílios são simbólicos e a
aplicação principal se faz, inicialmente, em nós mesmos. Com a iniciação e o
trabalho, levantou-se uma pequena ponta do “Véu de Isis” e os pequenos mistérios
começaram se descortinar perante o neófito. Agora, digno deste “aumento de
salário” irá conhecer novos símbolos, cada vez mais elevados, ligados á Maçonaria
Universal desde os primórdios da sua construção. Ao ser recebido maçom, o
iniciante foi submetido à provas físicas e psicológicas, que tinham por finalidade
testar a sua coragem e seu caráter, verificar a sua firmeza de propósitos através das
questões sobre os quatro elementos. Ainda que se fizeram tais questionamentos em
forma de testes, exigindo-se do candidato provas de uma devoção que os profanos
não estão acostumados a dar, pouco se aprofundou no âmago do candidato, uma
vez que a consciência sempre esteve representada por uma voz e mão amiga que o
guiava pelo caminho desconhecido, íngreme, com perturbações e quase todo ele
feito às escuras. Agora, no momento da passagem de um grau para o outro, o
candidato não passará mais por tais provas, mas será testado na sua verdadeira
condição de “companheiro”, onde deverá escolher de forma correta dentro das
possibilidades que lhe serão apresentadas e, dessas escolhas dependerá a sua
aprovação ou reprovação para obtenção do Grau. Será testado quanto a sua
lealdade e companheirismo para com seus pares e semelhantes, deverá demonstrar
que é capaz de abdicar dos seus desejos mais ardentes e ceder seu lugar para
outro irmão sem que isso o deixe magoado ou ferido. O conhecimento do grau
anterior também será testado através de questões relativas às instruções do Grau
Um, que deverão ser respondidas corretamente. Todo o trabalho de questionamento
será feito pelo Venerável Mestre e observado pela maior dignidade maçônica
presente bem como por um corpo de MM.’.MM.’. escolhidos para essa finalidade os
quais, por sua vez, não poderão interferir nem à favor e nem contrário ao candidato,
porem serão testemunhas presenciais dos acertos e erros nas respostas e na
conduta daquele e, ao final de uma etapa de provas serão chamados para votar pela
aprovação ou reprovação de cada candidato. É importante chamar a atenção para
esse tipo de prova, da elevação ao Grau Dois, Companheiro Maçom, que foi retirada
dos costumes das atuais Lojas, mas que era praticado pela Maçonaria Universal,

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ainda na Idade Média (sec. XV), quando não estava organizada da forma que a
vemos nos dias de hoje.
É sempre bom ressaltar que o Grau de Companheiro Maçom foi um dos mais
desejados dentro das “guildas” de construtores ou operários, uma vez que era o
grau máximo que poderia ser alcançado dentro da hierarquia, pois o Título de
Mestre Maçom não era utilizado como grau mas sim como uma forma de
homenagem ao companheiro com mais experiência, o qual poderia conduzir os
demais. Através da documentação da Maçonaria Universal, temos que até 1357,
somente existia o Grau de Aprendiz e que Companheiro era um título de tratamento
entre os membros de uma associação de construtores. O Grau de Companheiro, por
sua vez era dividido entre “novatos” e “seniores” (experientes), os quais passaram –
apenas à partir de 1670 – a criar toques, sinais e palavras para distingui-los dos
mais novos. A tradição nos mostra, que nas tavernas da França e Inglaterra, onde
se traçavam e riscavam as Lojas daquela época, o Painel de Loja era traçado
apenas no Grau de Companheiro para ambos os graus. O Ritual de Companheiro
somente foi definido de forma litúrgica após o ano de 1717 com a fundação da
Primeira Grande Loja de Londres.
No Grau de Companheiro o iniciado é chamado a penetrar mais
profundamente o espírito da Maçonaria, para tanto é necessário deixar o trabalho e
o estudo sobre a matéria (P.’.B.’.) e iniciar-se no estudo da parte espiritual do ser
humano. Esse é o motivo pelo qual a Loja passa a dar ao Companheiro a instrução
específica sobre as Ciência Liberais e a Filosofia, de modo a que venha refletir sobre
a criação, o Criador e a criatura, partindo daquilo que existe e que pode ser visto e
medido para aquilo que, existindo, não pode ser mensurado. As faculdades de
pensar e de agir corretamente e de compreender, nascem da vida e da inteligência.
Vida é o fenômeno de resistência á morte; Inteligência é a função ativa da alma,
também conhecida pelos antigos como “intelecto”; portanto, o intelecto é atributo do
Ser. Dessa dupla função que o homem possui, orgânico-espiritual, nascem o
raciocínio, as idéias, a memória e o sentimento. São essas faculdade que fazem do
homem um ser superior aos animais.

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11. NÚMERO NECESSÁRIO DE MAÇONS


A Cerimônia de Passagem para o Grau Dois, denominada Elevação,
necessita da presença de um V.’.M.’. dois VV.’. , um M.’.C.’., um Sacerdote ou
Sacerdotisa (nas lojas que admitem mulheres) e dois MM.’.MM.’. que sirvam como
“testemunhas” as quais podem ser substituídos por CComp.’.MM.’. Além desse
número mínimo, outros maçons no Grau de Comp.’. podem participar da cerimônia
na condição de observadores, que se manterão em absoluto silêncio e em
comunhão, zelando para que os trabalhos transcorram na mais perfeita ordem. Os
MM.’.MM.’. testemunhos dos trabalhos prestarão o “compromisso de fidelidade aos
trabalhos” que compreende a determinação de não se retirar do Templo antes do
término da sessão e de nunca revelar a fórmula do teste aplicado na Quinta Viagem.

FIM DAS INSTRUÇÕES GERAIS

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INSTRUÇÕES PRIVATIVAS. PRIMEIRA INSTRUÇÃO: O TRABALHO E O


AVENTAL DO COMPANHEIRO. SEGUNDA INSTRUÇÃO: A LENDA DO
SEGUNDO GRAU. TERCEIRA INSTRUÇÃO: A ESTRELA FLAMIGERA OU
FLAMEJANTE. QUARTA INSTRUÇÃO: O PAINEL DO GRAU DE
COMPANHEIRO. QUINTA INSTRUÇÃO: A LETRA “G”, O DELTA LUMINOSO E
O COMPANHEIRO. SEXTA INSTRUÇÃO: OS NÚMEROS. SÉTIMA INSTRUÇÃO:
OS CINCOS SENTIDOS.

INSTRUÇÕES PRIVATIVAS

INTRODUÇÃO: No Grau Dois, Companheiro Maçom, o iniciado irá dedicar o seu


tempo ao estudo do simbolismo do Compasso e do Esquadro, do Maço e do Cinzel
e da Alavanca; Deixando as ferramentas materiais (de força e de inteligência)
adotará o estudo e a disciplina como ferramentas imateriais as quais deverá dominar
tão bem quanto às anteriores; Com a ferramenta do estudo, será instruído na
introdução da filosofia e do simbolismo dos números cinco ao nove; com a
ferramenta da disciplina fará do estudo um hábito e uma constância e ao final deverá
demonstrar que desenvolveu a capacidade de refletir sobre as coisas do mundo e
sobre si próprio. Com a aplicação da inteligência e da observação será despertado
para os cinco sentidos que orientam o ser humano na apreciação de tudo aquilo que
existe no “mundo dos sentidos”. O refinamento da educação do Companheiro, além
de apresentá-lo à introdução da filosofia, também o levará ao conhecimento da
Arquitetura Antiga onde compreenderá as formas das colunas e saberá distingui-las,
principalmente as cinco ordens arquitetônicas: Jônica, Dórica, Coríntia, Toscana e
Compósita, as três primeiras da Ordem Grega e as duas últimas da Ordem Romana.
Conhecerá, também a Ordem Arquitetônica Egípcia, estilizada nas duas Colunas J e
B que estão no atrium do Templo e são do estilo “lotiforme” (Flor-de-Lótus), sendo

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que os egípcios preferiam, além desse estilo, outros dois: papiriforme (formato de
papiro, que pode ser fechado ou aberto) e palmiforme (formato de palmeira)”.
Encontramos, portanto, em um Templo Maçônico, marcas da cultura egípcia
mesclada com as culturas crego-romanas.

PRIMEIRA INSTRUÇÃO: O TRABALHO E O AVENTAL DO COMPANHEIRO

O Trabalho: O Companheiro Maçom se assemelha ao trabalhador da


“Parábola dos Talentos” do Novo Testamento (Mateus, Cap. 25 vers. 14), enquanto
cabe ao Aprendiz escutar, ao Companheiro cabe trabalhar no edifício, apreciando e
corrigindo os detalhes da obra; enquanto o Aprendiz trabalha na P.’. B.’. já este
trabalha na P.’. C.’.

O Avental: despe-se o Companheiro do Avental de Aprendiz apenas


rebatendo a abeta deste paramento, uma vez que a maioria dos aventais é
reversível, servindo a ambos os Graus. A explicação para o rebatimento da abeta se
dá pelo tipo de trabalho que era executado e o que será executado doravante. Ao
trabalhar a P.’. B.’. o Apr.’. Mac.’. calçava luvas para proteção das mãos e também
para simbolizar a pureza do seu trabalho, o avental com a abeta levantada protegia
uma parte maior do corpo e também simbolizava a proteção do “plexo solar” no que
diz respeito aos chakras.

SEGUNDA INSTRUÇÃO: A LENDA DO SEGUNDO GRAU

Esta Lenda refere-se ao episódio bíblico em que, logo após ganhar uma
batalha, conforme narra “Juízes 12 (1-7)” com um exercito formado pela junção de
várias tribos, menos a dos efraimita que se revoltaram pelo fato de não terem sido
convidados pois a vitória trouxe direito sobre os despojos do inimigo vencido,
resolveram entrar em batalha contra os geleaditas, pois culparam o seu General
Jetfé pela ofensa; após a batalha entre essas duas tribos, os gileaditas saíram
vencedores e o General Jatfé proibiu que os efraimitas permanecessem naquela
aldeia, porem como todos eram muito parecidos, havia uma dificuldade aparente
para distingui-los, então Jetfé iluminado pelo Senhor, criou uma senha através de
uma palavra de passe, a qual possuía uma letra de difícil pronuncia pelos efraimitas,
assim, quando eram questionados (Deixai-me passar, perguntavam a ele: és tu
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efraimita? Respondendo não, então lhe perguntavam: dizeis pois...) sobre a senha a
proferiam de forma incorreta e eram imediatamente eliminados. Narra-se que foram
mais de dois mil os que morreram dessa forma, tamanha era a perfeição da palavra
de passe. A pronuncia diferenciava o “S” do “CH”.

A lenda deste grau, na verdade, era composta pela “Lenda de Orfeu” e foi
substituída pela que está acima, por influência judaico-cristã na Maçonaria. Esta
apostila tem um capítulo dedicado a explicação sobre a “Lenda de Orfeu”.

(Recomenda-se complementar a instrução com a leitura da Bíblia Sagrada no


capitulo indicado do Velho Testamento)

TERCEIRA INSTRUÇÃO: A ESTRELA FLAMIGERA OU FLAMEJANTE

Um dos mais importantes simbolismos dentro da Loja de Companheiro, a


Estrela Flamigera ou Flamejante, que se ilumina no ato da consagração daquele que
é elevado, tornando-se parte indispensável no reconhecimento entre Companheiros,
com a Letra G no centro, permanece como o mais enigmático do signos da
Maçonaria. Seu passado mais remoto nos leva de volta ao Antigo Egito, onde os
sábios “Sacerdotes de Hórus” a comparavam com a Estrela Sirus, ponto no espaço
para onde se dirigiam os faraós quando deixavam este mundo e também de onde
surgiam os novos faraós que iriam governar o Egito por mais um certo tempo. Os
sacerdotes de Isis, por sua vez, levantavam os Templos de Hator ou Isis-Hator
direcionados para essa estrela. O Emblema dela sempre foi um cão, pois pertence
tanto ao conjunto conhecido como “cão maior” bem como “cão menor”. Existem
escrituras do início do Império Egípcio, que datam por volta de 4 a 5 mil a.C. que
narra a saga das chegadas dos Deuses na Terra e que teriam vindo da região
espacial da Estrela Sirius. A letra “G” no centro da Estrela Flamígera é praticamente
uma novidade introduzida pelos ingleses, uma vez que o ponto central dela, antes
de 1700 era ocupado pela letra Iod, que é a décima letra de vários alfabetos
semíticos (hebreu, aramaico, siríaco e árabe), que é a primeira letra do nome de
Deus, formado por Iod, He, Vau, He e que está relacionada ao homem perfeito, hoje
em dia é vista nas Lojas como segue abaixo (veja a figura). Na NOSSA LOJA
tomou-se por padrão o dístico “Estrela Flamejante” para diferenciar de “Espada

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Flamígera”. Não se deve confundi-la com o “Delta Luminoso” que é tema das
próximas instruções.

QUARTA INSTRUÇÃO: O PAINEL DO GRAU DE COMPANHEIRO

Painel Simbólico: Este painel é muito parecido com o do grau de Aprendiz Maçom.
Vamos nos fixar, inicialmente, nas semelhanças. As Colunas, em número de duas,
uma ao lado direito e outra ao lado esquerdo, mantendo as mesmas letras iniciais “J”
e “B” ambas com os mesmos significados. As três janelas pelas quais incide a luz do
Sol, nos períodos distintos, nascer do Sol, Meridiano e Ocaso ou aurora, meio-dia e
crepúsculo. Pedra Bruta para o trabalho do Aprendiz, a Pedra Cúbica da qual se
serve o Companheiro, a prancheta para o Mestre. O Malho e o Cinzel, para que o
Aprendiz desbaste a Pedra Bruta. O Esquadro e o Compasso, ambos entrelaçados,
símbolo do Companheiro e que representa, no painel, o Venerável Mestre da Loja. O
Nível simbolizando o Primeiro Vigilante e o Esquadro ou Perpendicular para o
Segundo Vigilante. O Sol e a Lua, que além de simbolizar os luminares do dia e da
noite, simbolizam o masculino e feminino, pertencendo o Sol ao Orador e a Lua ao
Secretário. Na Maçonaria Egípcia simbolizam, ainda, o Sol para o Venerável Mestre
ou o Grão-Mestre e a Lua para a Sacerdotisa da Loja ou o Grão-Mestre Adjunto e
ainda o Mestre-Adjunto. A corda de 81 nós, que no painel aparece com 7 nós,
simbolizando a união indissolúvel entre os maçons. A Orla Dentada, simbolizando a
atração entre os maçons e a justaposição que cada um ocupa na Grande Obra,
simboliza também os opostos que se unem para dar forma aquilo que tem é visível
neste mundo. As Estrelas ou Constelações que simbolizam o caráter universal da
Maçonaria. As diferenças básicas entre um painel (Aprendiz) e o outro
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(Companheiro) estão na escada, que ao invés de ter três degraus agora tem cinco
(em referência ao número d grau); o Esquadro e o Compasso estão na posição de
Companheiro; Surge a Estrela Flamejante com a letra “G” no centro; a Alavanca e a
régua que não apareciam no painel do Aprendiz agora constam deste, como
ferramentas do Companheiro; Aparecem o Pavimento Mosaico e a Orla Dentada, as
quais juntam-se a Estrela Flamejante para formar os ornamentos da Loja de
Companheiro. A Espada e a Colher de Pedreiro, também estão neste painel, em
recordação a reconstrução do segundo Templo de Salomão, por Zorobabel,
conforme consta nas Escrituras Sagradas. É importante destacar que nem sempre
encontraremos o Painel Simbólico com esses detalhes, pois os painéis foram sendo
alterados com o passar do tempo e conforme a inspiração do copista que os alterava
conforme sua concepção da simbologia. Este painel também varia conforme o rito
adotado.

Painel Alegórico: Além do Painel Simbólico, foi introduzido na Maçonaria, pelos


ingleses, do Rito de York e depois assimilado pelos demais ritos, o Painel Alegórico,
que traz em sua estampa outras figuras com simbologia distinta, as quais são de
conhecimento de todos os maçons pois fazem parte da Maçonaria Universal, são
elas: as Colunas do Pórtico, com o mesmo simbolismo que já conhecemos; uma
Escada em Caracol, simbolizando a subida do Aprendiz até os Mistérios do Grau de
Companheiro, originariamente esta escada era também chamada de “escada em
espiral” que ia do piso mosaico até o “santo dos santos” em alusão a passagem
bíblica em Reis 1 (6-8), que descreve a escada dentro do Templo de Salomão; A
Espiga de Trigo e uma Queda de Água também são simbolizadas no Painel
Alegórico, a Espiga de Trigo refere-se a palavra de passe, também a prosperidade
dos maçons, ao crescimento da irmandade, a fertilidade dos projetos sociais; A
Queda D’água representa a fonte da vida e todas as demais simbologias ligadas a
este elemento; Uma Estrela de Seis Pontas que é o Escudo ou Estrela de
David,(apesar que este símbolo é muito mais antigo que David, data
aproximadamente de uns 6 mil anos) uma Pomba que simboliza o Espírito de Deus
e a Paz Profunda, o Tetragrama Sagrado com as letras em hebraico Iod, He, Vav,
He que é o nome de Deus. No Rito de York a Estrela de Seis Pontas é que tem lugar
de destaque no Templo, chamada pelos ingleses de “Blazing Star” com a letra “G”
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ao centro, representa a Estrela Flamejante que no REAA é a Estrela de Cinco


Pontas.

QUINTA INSTRUÇÃO: A LETRA “G”, O DELTA LUMINOSO E O COMPANHEIRO

Como foi dito em instrução anterior, a Letra “G” (Gê) foi introduzida no centro
do Delta Luminoso nas Lojas Maçônicas através de um processo denominado por
Albert G. Makey de “anglicismo” (incorporação da língua inglesa em outras línguas).

Nos países que seguiram a maçonaria de língua inglesa, acostumou-se com


essa substituição, retirando-se o IOD das línguas semíticas pela letra “G”.

Essa substituição gerou vários estudos, muitos dos quais, até a presente
data, sem conclusão definida, ficando apenas na categoria da especulação.

É a sétima letra do alfabeto maçônico. Também é conhecido como Delta


Sagrado ou Delta Misterioso.

Os maçons traduzem o IOD dentro do Delta Luminoso como: “Eu Sou”,


extraído da passagem em que Deus conversa com Moisés e este pergunta:
“...quando os filhos de Israel me perguntarem quem me mandou e qual o seu nome,
o que responderei? – Responderás apenas isso: o nome dele é “Eu Sou o que Sou”.

Alguns autores atribuem essa letra a inicial do nome de Deus em inglês


(God), outros dizem que está relacionada a Geometria, outros ainda afirmam que
tem destaque por ser a sétima letra do alfabeto inglês. Como vemos, existem
explicações em todos os sentidos, indo desde God, geômetra, geometria etc.
Também é a terceira letra do alfabeto hebraico, corresponde a Ghimel; os hebreus
viam na letra G o símbolo da Serpente Oroborus, aquela que engole a própria
cauda.

Os membros das Escolas Pitagóricas (de mistérios) utilizavam dentro do Delta


Sagrado um esquadro de ramos desiguais, possivelmente com o passar do tempo,
os observadores pensaram que aquele esquadro tratava-se da letra Gama que
corresponde ao G; essa confusão é aceitável, uma vez que Pitágoras era grego.

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Outros significados para a letra G são encontrados nos diversos rituais impressos no
Brasil, são eles: gravitação, geração, gnose, gênio e geometria.

Esta Loja de Estudos, adota como significado da letra G, para o Grau de


Companheiro, que se trata da representação de GEOMETRIA, preservando assim, a
originalidade desta letra, uma vez que se o grau compreende a construção social, a
construção do indivíduo, a formação geométrica do Universo, lembrando sempre
que o Criador é conhecido, por nós, como o Grande Geômetra do Universo.
Compreendendo a letra G e seu significado, o Companheiro tomará consciência da
sua real participação na vida como Maçom.

O Delta Luminoso é a representação de um triângulo eqüilátero, que por sua


vez é a a Letra Grega Delta, quarta letra daquele alfabeto e do nosso. Ele é
luminoso, pois está rodeado por um halo brilhante que representa a divindade. Nas
Lojas é dotado de iluminação artificial. Segundo os antigos, Deus se expressou pela
forma geométrica mais completa que é o triângulo. (veja exemplos abaixo). Vemos
em algumas Lojas, tanto a Letra G no centro da Estrela Flamejante bem como no
centro do Delta Luminoso, sendo que ambos são simbolismos completamente
diferentes. É de regra, no centro do Delta Luminoso a utilização de um olho,
simbolizando “O Olho que Tudo Vê” que é o “Olho de Deus” ou “Olho de Rá” (não
confundir com o “Olho de Hórus).

SEXTA INSTRUÇÃO: OS NÚMEROS

Antes de iniciarmos os estudos dos números deste grau, convém lembrar que
a Maçonaria na antiguidade estudava a fundo a ciência dos números, dando a ela o
nome de Gematria que por sua vez foi uma palavra retirada de Geometria e por sua
vez dizia respeito a “Geometria Sagrada”. Os Maçons se dedicavam a este estudo
por um período mínimo de cinco anos. Nesse tipo de ciência, aprende-se a reduzir
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as palavras em números equivalentes, principalmente para o alfabeto hebraico,


somando-se uns aos outros até obter-se o resultado final que dará uma conclusão
sobre aquele nome ou palavra que se está estudando. Apenas para fins de
conhecimento, colocaremos ao final de cada parágrafo a palavra equivalente ao
número, sempre em hebraico.

Número Cinco: Está diretamente ligado a fase do Grau Dois, Companheiro


Maçom. Denomina-se “quinário” quando diz respeito simplesmente ao número e
“qüinqüênio” ou “lustro” quando se refere ao tempo de cinco anos. Também sugere a
“quintessência” que é a novidade apresentada ao Companheiro, que até o momento
conhecia apenas a parte material do mundo. É a essencial da vida, a parte espiritual,
a força do intelecto e o aperfeiçoamento. Para os místicos, também representa os
elementos da natureza, uma vez que se soma a terra, fogo, água e ar, a semente ou
o gérmen. Em grego chama-se PENTA é o próprio número cinco e representa uma
grande variedade de coisas e principalmente PENTAGRAMA. Cinco também é o
número de perguntas que se faz no momento da elevação do Aprendiz a
Companheiro. Cinco são as vogais e dentre elas uma ou mais fazem parte do nome
do Companheiro que está sendo submetido ao ritual de passagem. Cinco são as
viagens do Companheiro. Cinco são as colunas do segundo grau: Jônica, Dórica,
Corintia, Compósita e Toscana.

É um número mágico e místico, utilizado pelos gregos e romanos em forma


de amuletos.

Pentalfa é a estrela de cinco pontas, símbolo de proteção. Na índia ela


representa o emblema de Shiva e Brahma. Nos mistérios pitagóricos, possivelmente
que originaram os mistérios da Maçonaria, representa o período de silencio (cinco
anos) que era imposto ao iniciado em um certo grau. O equivalente hebreu para o
número cinco é He que compõe o nome de Deus.

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(figura: Pentalfa)

Número Seis: No Livro Sagrado encontramos este número como sexto


capítulo do Gênese e narra a separação das águas. Foi no sexto dia que Deus
colocou o homem sobre a face da Terra para que a dominasse. É visto por
cabalistas e pitagóricos como o número da perfeição, já Nicomachus o vê como o
número da deusa Vênus para a qual era consagrada a razão do pensamento e
também o amor passional, portanto é o número ideal para aqueles que amam. O
Maná caiu do céu, durante seis dias, no deserto para alimentar o povo que seguiu
Moisés na fuga do Egito, e a letra marcada no Maná era Vau que significa seis.
Representa as seis ordens de anjos: serafins, querubins, tronos , dominações,
poderes e virtudes) e as seis ordens dos gênios dos desastres: Acteus, Megalesius,
Ormenus, Lycus, Nicon. Mimon. A Estrela de Seis Pontas (a hexalfa) com dois
triângulos entrelaçados, um apontando para cima simbolizando o fogo e o outro
apontando para baixo simbolizando a água, sendo este o verdadeiro selo do Rei
Davi e que ornamentava o seu escudo. O equivalente em hebreu é Vav.

Número Sete: O Livro Sagrado tem uma incrível repetição deste número que
chamou a atenção de vários estudiosos por esse motivo. No sétimo dia Deus
descansou, antes viu que tudo o que tinha feito era bom, abençoou e santificou o
sétimo dia. É um número inteiramente religioso, representa o triunfo do espírito
sobre a matéria. O sétimo caminho o Sepher Yetizirah (Cabala Judaica) é o da
inteligência oculta e representa a combinação entre a fé e o intelecto. Sete são os
orifícios na cabeça do homem. O equivalente hebreu para o número sete é Zain. É
também o número da realeza, do triunfo e da fama. É o número do Mestre.

Número Oito: Os antigos gregos diziam que “todas as coisas são oito”. A
circuncisão, conforme a lei judaica, acontece no oitavo dia depois do nascimento.
Para Pitágoras era o número da justiça e plenitude. Também é conhecido como o
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número que leva ao portão da eternidade. No Sepher Yetzirah, o oitavo caminho é o


da perfeição. Também é o nome de Deus, com oito letras. Oito é o número da
atração e repulsão, já que em si encontramos infinitas voltas, o indivíduo sujeito a
ele estará envolto em lutas, separação, rupturas, destruição, expectativas e
ameaças. O equivalente hebreu é Cheth.

Número Nove: Os Pitagóricos viam o número nove (assim como o número


quatro) ligados a todos os conhecimentos intelectuais, matérias e espirituais. Na
mitologia existem nove musas, são elas, Calíope a musa da poesia; Clio que é a
musa da história; Melpômene, a musa da tragédia;Euterpe, a musa da música;
Erato, a musa da inspiração e do amor; Terpsicore, a musa da dança; Urânia, a
musa da astronomia; Tália, a musa da comédia; Polímnia, a musa da eloqüência.
Nove são os cavaleiros eleitos no Grau Nove da Maçonaria, eles usam nove luzes,
nove toques e nove rosas. No Sepher Yetzirah o nono caminho é o da inteligência
pura. É o número do poder através do silêncio. Em uma fórmula da alquimia antiga,
esse número feito em prata, tinha a propriedade de tornar os homens invisíveis. O
equivalente hebreu é Teth.

SÉTIMA INSTRUÇÃO: OS CINCOS SENTIDOS

Este capítulo apenas dá uma singela noção sobre os cinco sentidos e conclui
com a necessidade do Companheiro Maçom partir em busca do “sexto-sentido”.
Hoje em dia, face a facilidade de pesquisas e consultas através da internet torna-se
muito prático um estudo dessas faculdades físicas do ser humano, recomendamos,
pois, que o Companheiro procure essas fontes de consulta e se aprofunde neste
tema.

CINCO SENTIDOS

O ser humano percebe o mundo que o rodeia através destas cinco


capacidades físicas: visão, audição, olfato, paladar e tato. São os mesmos cinco
sentidos que, utilizados de forma esotérica, possibilitam que o homem acesse o
mundo extrassensorial. Os nervos sensitivos são as sentinelas do corpo e
transmitem ao cérebro tudo aquilo que nos rodeia. Esses nervos sensitivos
necessitam de órgãos perfeitos e completos para que possam desempenhar sua
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tarefa. Quando um órgão perde a sua perfeição geralmente é substituído por outro
que se desenvolve mais do que o normal em outras pessoas com todas as funções
perfeitas. Exemplo disso, é a capacidade de tato e olfato adquirida pelo homem que
perde a visão. Esses cinco sentidos estão ligados as sensações externas do corpo.
Sensações internas são aquelas que nos dizem que estamos com sono, fome, dor,
cansaço etc. O cérebro mantém na memória todas as sensações captadas através
destes sentidos.

A VISÃO: é o órgão mais complexo e delicado dentro dos sentidos humanos,


possivelmente foi o primeiro desenvolvido dentro do complicado sistema sensorial
do organismo. É através dele que observamos as cores, formas e dimensões de
todas as coisas que nos cerca. Seus órgãos de sentido são os olhos. A visão,
juntamente com os outros sentidos, ao mesmo tempo que serve para distinguirmos o
mundo ao nosso redor, também é responsável pela ilusão que a visão nos
proporciona, pois temos tendência a preferir as coisas belas que assim se
apresentam exteriormente e damos pouca ou nenhuma atenção ao interior daquilo
que se apresenta. O belo nem sempre é o bom, o feio nem sempre é o mal. O
conceito de beleza varia de pessoa para pessoa e de civilização para civilização.
Aquilo que vemos é o resultado da intensidade das varias ondas elétricas que
atingem o órgão da visão, cada uma dessas ondas tem uma amplitude diferenciada,
provocando as diferentes cores. O olho humano está capacitado para captar ondas
em padrões limitados, assim, não conseguimos captar através dos olhos nem ondas
na faixa do ultravioleta ou infravermelho; o primeiro está acima da nossa capacidade
e o segundo está em uma faixa abaixo. Os animais possuem capacidade visual
diferente da nossa, alguns enxergam o ultra e outros captam o infra. Alguns, ainda,
captam ambas faixas de freqüência.

A AUDIÇÃO: Este sentido é formado pelo conjunto de pequenos órgãos que


compõem o ouvido. Possibilita que possamos perceber o mundo externo através dos
sons que produz. Esses sons, por sua vez, nada mais são do que vibração, ondas
em movimento. A explicação que demos sobre visão também se enquadra como
exemplo para a audição, adaptando-se para ultrassom e infrassom.

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O OLFATO: É o sentido responsável pela captação dos odores que nos cercam, seu
órgão receptor é o nariz. Este sentido, ao contrário da visão, não descansa nunca,
está ativo durante todos os instantes da nossa vida. É um dos sentidos mais
elementares e, ao contrário dos demais, liga-se diretamente ao córtex cerebral sem
passar pelo hipocampo. Também é responsável por ativar lembranças na memória.
A respiração, que é responsável pela vida, também o utilizada como condutora dos
odores que chegam até o cérebro e causam sentimentos de aproximação (aroma
agradável) ou de repulsão (odor desagradável) movimentando o ser humano ao
encontro daquele odor, ou em outros casos, conduzindo-o em sentido contrário. Os
místicos, dentre eles os Maçons, utilizam perfumes e incensos para ativar o sentido
esotérico do olfato.

O PALADAR: Seu órgão é composto pela língua, lábios, partes internas da boca e
papilas gustativas. Responsável pela capacidade que temos em distinguir os vários
sabores dos corpos que nos cercam. Na Maçonaria o paladar é utilizado,
principalmente, na prova da “Taça Doce-Acre”, que é servida ao Candido em um
determinado grau para testar as suas intenções e se tem maldade em seu coração.

O TATO: Este sentido é captado em toda a extensão do corpo humano tendo como
agente de percepção a pele, que por sua vez é considerado o maior órgão do corpo
humano. Através do tato sentimos a consistência dos objetos, suas dimensões,
aspereza, forma, dimensões, temperatura etc. O tato está intimamente ligado a
libido, portanto é responsável pelo desejo sexual, sendo que os demais sentidos,
cada um em proporção maior ou menor, porem sempre inferior ao tato, também
estão ligados ao sexo, nesta ordem (após o tato): visão, olfato, paladar e por último
a audição. Por isso, os místicos são inclinados a superar os sentidos físicos,
evitando as ilusões que eles proporcionam, principalmente, reeducando-se em
respeito ao sexo e tudo que dele advém.

CONCLUSÃO: Após compreender os cinco sentidos, o Companheiro Maçom deve


se esforçar para aprimorá-los, através das práticas que nosso rito proporciona, a tal
ponto que desenvolva os cinco sentidos esotéricos, paralelos aos físicos. É
necessário que o Companheiro deixe a construção material e a retificação da pedra
bruta e passe para a lapidação final da pedra cúbica ou polida. O Mundo material
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pertence a esfera dos estudos do Aprendiz e o mundo espiritual está compreendido


nos estudos do Companheiro.

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OITAVA INSTRUÇÃO: AS COLUNAS E SUA ARQUITETURA. NONA


INSTRUÇÃO: AS CINCOS PERGUNTAS AO COMPANHEIRO. PRIMEIRA
INSTRUÇÃO ESPECIAL: OS FILÓSOFOS. SEGUNDA INSTRUÇÃO ESPECIAL:
PITÁGORAS. TERCEIRA INSTRUÇÃO ESPECIAL: ORFEU.

OITAVA INSTRUÇÃO: AS COLUNAS E SUA ARQUITETURA

Dentro da Loja Maçônica, o associado “pedreiro-livre” se depara com algumas


colunas, as quais via de regra, são geralmente desconhecidas para ele. Logo na
entrada, no pórtico do Templo, encontra duas Colunas, denominadas por
abreviaturas “B” e “J”. Os significados de ambas já foram alvo de estudo e voltarão a
ser estudas nos Altos Graus, através do Supremo Conselho. O que nos importa,
agora, é o estudo da parte arquitetônica de cada uma das cinco colunas que são
encontradas no interior do Templo.

Nossa origem de construtores (pedreiros) nos remetem ou a construção civil


ou militar, ambas de forma material. Porem, o maçom especulativo, deverá se
empenhar na “construção social” substituindo o material clássico (pedras, cimento,
ferro etc) pelo material denominado “fraternidade e caridade” que conduzem o
maçom a construir o verdadeiro “edifício social” que é o objetivo maior da instituição.

Voltando a qualificação das construções civis e militares, focamos nosso


estudo na classificação das Colunas do Templo, começando pelas internas, as quais
pertencem a três ordens distintas: Jônica, Dórica e Coríntia.

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A Coluna Jônica, representa a Sabedoria. Está diretamente ligada e instalada


no Oriente do Templo, pertence a qualidade do Venerável Mestre ou Salomão da
Loja

A Ordem Jônica/Jónica é uma das ordens arquitetônicas clássicas. Suas


colunas possuem capitéis ornamentados com duas volutas, altura nove vezes maior
que seu diâmetro, arquitrave ornamentada com frisos e base simples.

Origem

A Ordem Jônica surgiu a leste da Grécia oriental e seria, por volta de 450
a.C., adotada também por Atenas. Desenvolvendo-se paralelamente ao estilo Dórico
apresenta, no entanto, formas mais fluidas e uma leveza geral, sendo mais utilizado
em templos dedicados a divindades femininas. A coluna possui uma base larga, tem
geralmente nove módulos de altura, o fuste é mais elegante e apresenta vinte e
quatro caneluras. O capitel acentua a analogia vegetal da coluna pela criação de um
elemento novo entre o coxim e o ábaco de caráter fitomórfico. Este elemento dispõe
de dois “rolos” consideravelmente projetados para os lados, as volutas. O friso passa
a ter elemento único decorado em continuidade. O Erecteion de Atenas, talvez o
mais belo dos templos jônicos, levantando em honra de um lendário herói ateniense
chamado Erecteu, terminou sua construção em 406 a.C., estando localizado sobre a
Acrópole da cidade. A forma de se identificar este tipo de arquitetura é observar no
alto da coluna a presença de dois rolos um em cada lado. Uma curiosidade que
envolve os estilos Jônico e Dórico é que ambos os povos eram inimigos e vivam em
batalhas constantes um expulsando o outro do seu território. A justaposição dessas
colunas, de arquiteturas tão diferentes, vindas de povos que se odiavam, pode
significar a pacifica convivência dentro do Templo Maçom que abriga todas as
culturas sem distinção alguma.

A Ordem arquitetônica da Coluna Dórica, além do que já estudamos acima,


está ligada a força e representa a parte masculina da obra de arte ou, por outro lado,
da Obra Divina do Supremo Criador do Universo. Pertence ao Primeiro Vigilante que
trabalha com Força para que a Loja e todo o seu mistério interno se estabeleça nos
corações dos homens. A ordem dórica é de caráter condensado. A coluna canelada,

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geralmente sem base, tem largura bastante considerável em relação à altura. O


capitel alarga-se num equino, espécie de coxim intermédio, encimado por uma placa
ou ábaco quadrado. O entabelamento consta de uma arquitrave nua, de um friso
composto de uma alternância de superfícies quadradas e triglifos, e de uma cornija.
Os triglifos são, sem dúvida, uma reminiscência das antigas traves de madeira que
se encontravam no aprumo das colunas. Elas têm divisões verticais tripartidas,
abaixo das quais estão suspensos pequenos ornatos esféricos. Assim, de
arquitetura de madeira, os gregos extraíram um motivo que transpuseram
admiravelmente na pedra. Quanto às superfícies quadradas, dispostas
isoladamente, é nelas que se concentra a escultura. O uso do entabelamento dórico
acarretou para os Gregos problemas delicados como era do seu gosto resolvê-los: o
da superfície quadrada do ângulo e da sua sobreposição à coluna.

Reconhece-se e distingue-se a Coluna Dórica pela total falta de ornamentos


se comparada ao estilo Jônico e ainda mais ao Coríntio. Ela é reta, quase sem frisos
e no seu capitel existe uma base quadrada ou retangular que serve, justamente,
para apoiar a maior parte do peso do teto do templo sobre si.

A terceira ordem que encontramos é a Coríntia, que na verdade não é


considerada pelos estudiosos da arquitetura grega como uma ordem propriamente
dita, mas sim uma sub-ordem, uma vez que foi gerada como misto das outras duas.

A Coluna Coríntia está ligada ao Segundo Vigilante e simboliza a Beleza,


completa assim, o trinômio: Sabedoria, Força e Beleza, que são a base obrigatória
de toda Loja Maçônica.

Dependendo do seu acabamento, dificulta a distinção entre si e a Jônica, uma


vez que possui vários enfeites em seu capitel. Assim, a grosso modo, poder-se-ia
dizer que é uma Jônica com maior número de enfeites em formato de voltas que
ornamentam a sua parte superior.

Por ser considerada uma junção das duas outras ordens arquitetônicas,
poder-se-ia supor acertadamente que ela representa a união do masculino e do
feminino que deve preponderar em toda Loja Maçônica, formando o equilíbrio dos
opostos.
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Figuras das Colunas

Dórica Jônica Corintia

Para uma compreensão pronta e simplória dos estilos apresentados neste


manual, sem querer aprofundar na arte da arquitetura, é suficiente que o maçom
saiba as seguintes definições: Capitel, é a parte superior da coluna, onde se
encontra com o teto do templo e onde estão (ou não) os contornos de
embelezamentos ou as voltas; no caso da Coluna Jônica são apenas duas voltas, no
caso da Coluna Coríntia são sempre mais de duas, podendo chegar a dezesseis
voltas, quatro em cada lado, ou seja, nos quatro lados da coluna. Fuste, é o corpo
da coluna, no caso da Toscana, que será estudada no próximo parágrafo, é
totalmente liso e nas demais ordens é ornamentado com frisos que são chamados
de “caneluras”.

Algumas Lojas Maçônicas dispõem, ainda de duas outras ordens de


arquitetura ornamental, são elas: Toscana e Compósita.

A Arquitetura Toscana e a Compósita são totalmente do período romano,


porem com influência nas três ordens arquitetônicas gregas que as antecederam,
porem foram simplificadas ao extremo e buscavam apenas a força, descartando a
beleza ou a sabedoria. Eram mais práticas para ser esculpidas e serviam a
propósitos mais militares do que civis ou religiosos. Seguem, abaixo duas imagens,
a primeira de uma Coluna Compósita e a segunda de uma Coluna Toscana.

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COMPÓSITA TOSCANA

No Egito, a arquitetura buscava a simplicidade e a eternidade, por isso


encontramos exemplos das suas colunas até os dias de hoje em vários monumentos
históricos, principalmente na região de Luxor com seus templos e am Abul-Simbel
no monumento construído por Ramesés o Grande. As pirâmides, ainda que fujam do
tema sobre colunas, enquadram-se perfeitamente no estilo de arquitetura egípcia e
justificam plenamente o conceito dos antigos egípcios em construir para a
eternidade.

As colunas egípcias adornam, ou deveriam adornar, o pórtico dos templos


maçônicos, com um dos três estilos que já estudamos (lotiforme, palmeiriforme e
papiriforme), optando-se pelo estilo em papiro, o correto é que do lado de fora
tenhamos o formato de papiro fechado e do lado interno (as ordens da maçonaria
egípcia adotam este estilo também na parte interna dos templos) teremos o papiro
aberto que então é chamado de campaniforme. A maneira mais correta de se
estudar a arquitetura das colunas egípcias para distingui-las dos estilos gregos e dos
romanos, talvez seja pela apreciação das imagens até que se perceba a nitida
diferença entre elas, ou seja, o Companheiro Maçom deve utilizar-se do cirtério da
observação para compreender a arquitetura de todas essas colunas, ainda que não
se torne um especialista neste assunto, mas deve estar apto a identificá-las quando
dispostas no Templo Maçom. Seguem,a baixo, imagens das Colunas Egipcias.

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NONA INSTRUÇÃO: AS CINCOS PERGUNTAS AO COMPANHEIRO

Dentro deste Ritual de Passagem, no qual o Aprendiz passa do nível para a


perpendicular, pois o nível é a ferramenta do Primeiro Vigilante que está na Coluna
B e a perpendicular é o instrumento do Segundo Vigilante e por sua vez está na
Coluna J, o candidato é questionado em cinco questões crucias para que alcance o
grau desejado. Em nossa Loja de Estudos, além das cinco questões temos uma
outra de grande importância, a qual não se revela de forma alguma, a não ser no
momento do exame ao candidato. As cinco questões que podem ser reveladas e
que devem ser fornecidas pelo Primeiro Vigilante ao Aprendiz que deseja o Grau
Dois, para que as estude e possa responde-las a contento, são estas: (não são
fornecidas as respostas)

Questões:

1ª.) O que é o pensamento?

2ª.) O que é a consciência?

3ª.) O que é inteligência?

4ª.) O que é vontade?

5ª.) O que é a liberdade?

PRIMEIRA INSTRUÇÃO ESPECIAL: OS FILÓSOFOS

Neste Grau, a Maçonaria não dá ênfase especial a nenhum dos grandes


filósofos que deixaram sua contribuição para todos nós, mas foca o tipo de vida e a
dedicação que esses homens tiveram com a filosofia que é o estudo da “amizade
pela sabedoria” ou “respeito pela sabedoria” poder-se-ia dizer, além da tradução
deste termo que vem do grego (philo=.amizade ou amor fraterno e shophia= saber
ou sábio, conhecer, estudar), inclusive Pitágoras de Samos teria afirmado que “a
sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem
desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.” Este estudo, neste grau, preenche a
necessidade que o Companheiro Maçom tem em adquirir esse tipo de

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conhecimento, não o de conhecer todos os filósofos pelo nome e pelas obras, mas
sim “adquirir a forma de pensamento filosófico”. Para auxiliar nos estudos,
fornecemos uma relação contendo alguns filósofos de grande importância para que
sirvam de exemplo ao estudante, são eles: Tales de Mileto, Anaximenes,
Anaximandro, Parmênides, Heráclito, Demócrito, Sócrates,Platão, Aristóteles,
Pitágoras, Descartes, Spinoza, Locke, Hume, Berkeley, Kant, Hegel, Kierkegaard,
Marx Darwim. Os Filósofos brasileiros devem ser estudados neste grau, segue uma
relação deles que não contem todos os nomes de destaque, apenas como
referência, são eles: Claudio Ulpiano, Tomás Adalberto da Silva Fontes, Tobias
Barreto de Menezes, Tarcio Meirelles Padilha, Silvio Tibiriça de Almeida, Silvio
Donizetti de Oliveira Gallo, Sérgio Paulo Rouanet, Renato Janine Ribeiro, Raimundo
Teixeira Mendes, Plinio Salgado, Olgária Chain Feres Matos, Olavo Luiz Pimentel de
Carvalho, Newton Carneiro Affonso da Costa, Mário Ferreira dos Santos, Marilena
de Sousa Chaui, José Guilherme Merquior, Huberto Rohden, José Herculano Pires,
Celso Charuri, Caio da Silva Prado Júnior, Bento Prado de Almeida Ferraz Júnior,
Apolinário José Gomes Porto-Alegre, Arsênio Palácio. Recomenda-se que o
Companheiro Maçom trace um plano de estudos sobre os filósofos acima
relacionados e, mais do que a biografia de cada um, procure entender o espírito e a
mente desses homens e mulheres que com suas idéias contribuíram e continuam
contribuindo para o progresso da humanidade.

SEGUNDA INSTRUÇÃO ESPECIAL: PITÁGORAS

Foi o fundador da Escola Pitagórica, que reunia todas as artes como matérias
obrigatórias para a educação do ser humano. A sua intenção era apresentar todas
as instruções para que o aluno, conhecendo-as, pudesse optar por qual área do
conhecimento humano tinha maior dom ou inclinação. Pitágoras costumava observar
seus alunos a ponto de definir se eram inspirados (já nasciam com a tendência para
certas artes) ou se eram capacitados (aqueles que tinham disciplina para aprender o
que o dom natural não lhes dera desde o nascimento). Dessa forma, instituiu um
ensino livre, que possibilitava ao aluno tornar-se um adulto realizado com sua
ocupação. Seus discípulos, após vencerem as primeiras etapas da escola, eram
classificados em iniciados e os públicos. Públicos eram os alunos da escola normal.
Iniciados eram aqueles chamados para a Escola de Mistério, fechada para a
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maioria. A veneração dos alunos iniciados pelo Mestre era tanta que costumavam
dizer: “assim o Mestre disse” e com essa frase encerravam qualquer possibilidade
de discussão sobre o assunto. Pitágoras admitia a existência de um único Poder
Criador, mas não emprestava nenhum nome ou título para a divindade, com isso
pretendia não criar rótulos humanos para algo que estava muito acima da
capacidade de entendimento do homem. Era um grande estudioso dos números, e
reduzia tudo a eles: letras, palavras, fatos e locais. A própria alma era um número.
Explicava a criação do universo através da seguinte fórmula: “ a grande mônada o
número um, tinha produzido o binário ou número dois, depois criou o ternário ou
número três e assim por diante até a formação de todos os números que compõem
o universo. Reconhecia na alma duas partes distintas: a razão e a paixão. Ensinava
aos seus adeptos que deveriam conhecer ambas as partes e evitar que a “fera da
paixão” os dominasse. Seus iniciados estudavam e acreditavam na “metempsicose”
como a transmigração da alma para outro corpo de forma consciente, bem como
entendiam ser possível a “reencarnação consciente” onde o indivíduo deixava este
mundo levando consigo a consciência do que estava acontecendo, guardando todos
os seus conhecimentos, conservando-os no momento de voltar a vida. Os iniciados
estudavam todas as ciências, principalmente os mistérios, que eram considerados
uma ciência à parte, ensinada de forma velada para evitar perseguições por parte da
população que acredita em outras doutrinas. Mantendo sigilo sobre a sua “Escola de
Mistérios”, Pitágoras criou, segundo os observadores profanos “uma ceita religiosa”
que era mais fácil de aceitar do que uma “escola secreta”. Através dos estudos e da
observação da astronomia, Pitágoras descobriu o duplo movimento de rotação da
Terra. Foi ele quem criou o vocábulo “filosofia” para definir o que entendemos hoje
em dia como sendo “os amantes da sabedoria”. Toda a base da Maçonaria,
principalmente do Rito Escocês Antigo e Aceito está calcada sobre os ensinamentos
de Pitágoras, nas medidas, nos números, na geometria, enfim, todas as dimensões
do Templo são pitagóricas, sendo Pitágoras Grão-Mestre Maçom por excelência.
Destaca-se, ainda nos seus ensinamentos, a forma como via e conduzia sua escola,
tanto a pública quanto a velada, para que todos os alunos vivessem em
comunidade, praticassem a meditação e o jejum, tivessem liberdade de expressão.
A prática da contemplação, que depois foi distorcida e se tornou sinônimo de

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ociosidade, era praticada na escola de Pitágoras como um exercício para levar o


aluno a compreender a natureza e a vida, com a finalidade de formar adultos mais
conscientes dos seus deveres e direitos frente ao mundo e aos seus semelhantes. A
atual situação da escola e da educação, tanto no Brasil quanto no mundo (com raras
exceções) é fruto de uma estrutura de ensino que prepara as crianças para se
tornarem “adultos competidores”, e os ensina, desde a mais tenra idade a disputar
vagas nas faculdades e nos cobiçados cargos públicos ou privados que o Estado e a
sociedade capitalista oferece. Os valores morais e éticos não são ensinados nem
tão pouco praticados; a contemplação, ensinada na escola de Pitágoras faz falta na
formação do caráter da criança que se torna um adulto inconseqüente.

TERCEIRA INSTRUÇÃO ESPECIAL: ORFEU

A Maçonaria que deveria ser imutável em seus ensinamentos infelizmente


não é; alguns preferem deixar imutáveis apenas os Landmarks e esquecem-se que
muitos deles já estão ultrapassados, principalmente aqueles que se referem a
proibição da entrada da mulher na maçonaria, dos escravos e dos aleijões. Primeiro
que a mulher tem as mesmas condições do homem para participar da maçonaria
que (ao contrário do que muitos pensam) não pratica um rito exclusivamente
masculino, uma vez que em seu simbolismo possui o Sol (masculino) e a Lua
(feminino), a Coluna Jônica (utilizada nos templos das deusas, portanto, feminino), a
Coluna Dórica (masculino), a Coluna Corintia (hibrida, masculino e feminino juntos);
segundo que “escravos” na concepção da palavra que era empregada na época dos
Landmarks não existem mais e, terceiro, que o termo “aleijões” tornou-se
politicamente incorreto e ofensivo, substituído por “portadores de necessidades
especiais” e que se antes não poderiam participar da maçonaria (especificamente
este Landmark era uma cópia das guildas de construtores) pois não se adaptavam
ao canteiro de obras, hoje na Maçonaria Especulativa, que constrói não com os
braços mas com a mente, não existe razão de deixá-los à margem desta
associação. Explicações à parte, passemos a Orfeu. O Grau de Companheiro
Maçom sempre foi dedicado a Pitágoras (matemático) e Orfeu (simbolismo).
Lembra-se muito de Pitágoras e não se faz referência alguma a Orfeu, sinal que a
Maçonaria alterou seus ensinamentos. Orfeu era lembrado por Pitágoras e Platão

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em seus discursos. As Escolas de Mistérios Pitagóricos tinham em Orfeu a máxima


inspiração para um dos seus graus. Muitos achavam e acham até hoje que Orfeu é
apenas uma lenda para justificar o surgimento da música ou ainda do instrumento
Lira que continha sete cordas as quais Orfeu acrescentou mais duas num total de
nove cordas. Outros dizem que Orfeu foi um deus e ainda o confundem com Morfeu.
A origem de Orfeu foi entre os egípcios. O que importa para o Grau de Companheiro
é conhecer mais essa lenda (se é que podemos chamar assim), diz ela: “Orfeu se
apaixonou perdidamente por Eurídice, a jovem mais bela que existia no mundo,
porem no dia do casamento e antes de se casarem, a noiva morreu subitamente.
Orfeu, inconformado chorava e tocava sua lira, com uma melodia tão triste que
impressionou os deuses da mansão dos mortos, os quais lhe deram permissão para
que entrasse naquela mansão e resgatasse Eurídice, com uma condição: que não
olhasse na face dela até o momento em que estivessem de volta na mansão dos
vivos; descendo ao subterrâneo, Orfeu encontrou a sua amada e a resgatou, porem
descumprindo as ordens recebida, olhou por um instante para a bela face dela,
naquele momento abriu-se um abismo e tragou a jovem para as profundezas da
mansão dos mortos e Orfeu nunca mais a viu, perdendo assim, a chance de ter o
seu amor de volta por um simples descuido de sua parte, descumprindo as ordens
dos deuses”. Essa lenda que era a principal deste grau, antes da influência judaica
que impôs a lenda extraída do Antigo Testamento (Juízes 12, 1-7) e a substituiu, nos
leva a refletir sobre a influência da matéria e sua beleza sobre nós, sobre nossa
disciplina e que por vezes perdemos algo de belo que buscamos e alcançamos
simplesmente por não respeitarmos a lógica da vida e da existência. O que
simbolizava a beleza de Eurídice? E o casamento entre Orfeu, um sábio, e Eurídice,
a jovem mais bela da face da terra? E a morte dela no dia do casamento? E a
música que tocou os deuses? E o quase renascimento da bela? Por que Orfeu
desobedeceu aos deuses, olhou para a face dela e a perdeu para sempre? Essas
questões de reflexão, por si só dariam um livro sobre o grau. É de vital importância
que o Companheiro conheça essa lenda, estude e reflita sobre ela, por isso as
indagações não são acompanhadas das respostas, justamente para que cada um
obtenha as suas soluções.

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O aluno encontrará na Terceira Apostila deste curso um texto mais


abrangente sobre a biografia e filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles.

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Quinta Apostila: Edição 2013

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AS ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA. POR QUE UM ESTUDO SOBRE AS


SETE ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA? O ESTUDO PROFANO DAS SETE
ARTES LIBERAIS. AS SETE ARTES LIBERAIS NA ANTIGUIDADE. AS SETE
ARTES LIBERAIS NA IDADE MÉDIA.

INTRODUÇÃO

A maçonaria possibilita uma gama muito grande de pesquisas, estudos


sobre os seus usos e costumes, notadamente quando a abordagem é sobre sua
ensinança e o seu simbolismo.

O nosso estudo, aqui apresentado em grandes linhas – um ensaio apenas


-, é quanto ao aspecto educativo maçônico, mas precisamente, a ensinança
maçônica. O tema principal é: AS ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA.

Pode parecer, à primeira vista, perda de tempo e fora de propósito um


estudo dessa natureza, quando a Ordem está a precisar de um engajamento maior,
tanto junto a seu público externo – a sociedade profana. Contudo, a sua
necessidade não é meramente intelectual; deve-se ao fato de ser o sistema
instrucional maçônico, algo peculiar, que foge às regras normais do sistema de
instrução da sociedade profana.

Dentro desse enfoque, a nossa abordagem está adstrita aos RITUAIS


MAÇÔNICOS no GRAU DE COMPANHEIRO, que dão como uma das tarefas
educativas maçônicas ao Companheiro, já na sua Segunda Iniciação, o estudo das
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ARTES LIBERAIS. Logicamente, para que possamos entender o que significa,


teremos, em primeiro lugar, saber o que significam as ARTES LIBERAIS, o seu
contexto sócio-histórico-educativo e a partir daí, tenho algumas conclusões sobre o
caso maçônico.

Para realizarmos tal empreitada, utilizaremos, basicamente, o seguinte


esquema:

I) O enfoque inicial será sobre as ARTES LIBERAIS no mundo, num


bosquejo histórico-filosófico-educativo que se inicia na Antiguidade, passando,
posteriormente, para a IDADE MÉDIA, onde de fato, têm esse nome, as disciplinas
do TRIVIUM e do QUADRIVIUM. Antes, será analisada a razão básica do porque de
um estudo sobre as ARTES LIBERAIS.

1) ANTIGUIDADE – Procurar-se-á enfocar as disciplinas do TRIVIUM e


do QUADRIVIUM na Grécia antiga, onde a ensinança da época levava em conta a
enciclopédia da antiguidade. Os sofistas, segundo alguns autores, foram os
introdutores do estudo dessas disciplinas em Grécia.

Um ponto merece a nossa atenção: o passado deve ser estudado,


olhado, sentido, com os olhos do passado, para que possamos ter uma aproximação
do que realmente significavam naquela época as ARTES LIBERAIS. Logicamente,
que esse juízo de valor embora revestido de método, não isenta o pesquisador da
inserção da sua cultura contemporânea na análise feita. Contudo, esse ponto não
deve desfigurar o que se procura ver recuando no tempo.

2) IDADE MÉDIA – Quando estudarmos a IDADE MÉDIA, iremos


encontrar a aplicação “in totum” das SETE ARTES LIBERAIS (GRAMÁTICA,
RETÓRICA, DIALÉTICA ARITMÉTICA, GEOMETRIA, ASTRONOMIA e MÚSICA).
Notadamente, a partir do século XII, quando segundo Le Goff, surgiram os primeiros
intelectuais, i.e., homens dedicados exclusivamente à abordagem do intelecto,
coincidindo com o surgimento das Cidades, enquanto ocupação de espaço e poder.

Nessa fase procurar-se-á apreender o significado maior das SETES


ARTES LIBERAIS, a sua estrutura – o TRIVIUM e o QUADRIVIUM – e o seu

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significado para a formação do homem medieval, com os acréscimos posteriores da


enciclopédia aristotélica. A importância das Artes Liberais pode ser atestada não
apenas enquanto grade curricular medieval, mas, também, por sua representação
junto à arte medieval quando as encontramos em relevo na Catedral de Chatres.

Não poderíamos concluir essa unidade, sem tecermos comentários


acerca de um aspecto fundamental para a compreensão maçônica da estrutura do
TRIVIUM – a sinomia dos termos DIALÉTICA e LÓGICA (no conceito estoico) na
Idade Média. Parece que os Maçons optaram por essa abordagem ao substituírem a
DIALÉTICA pela LÓGICA na estrutura do TRIVIUM segundo os Rituais e
documentos Antigos (Manuscrito de Harley, por exemplo).

Por último, convém uma pequena digressão quanto ao significado da


Gramática dentro das Sete Artes Liberais, pois, a Gramática, permitia o uso e a
compreensão dos textos sagrados, a base do ensino medieval, além de autores
gregos, notadamente durante a renascença carolíngia. Um outro ponto é quanto à
Música e sua integração ritual no contexto religioso da Idade Média, o que remonta,
neste particular, à Antiguidade, como demonstra Platão em sua República.

II. AS ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA

As ARTES LIBERAIS na Maçonaria estão intimamente ligadas à sua


ensinança, onde, em um dos Graus (o de companheiro, Rito de York) aparece a
necessidade de seu estudo. A nossa abordagem será feita dentro do seguinte
esquema:

1) Aspectos Gerais das Sete Artes Liberais segundo autores Maçons,


onde verificaremos o pensamento Maçônico acerca da questão.

2) O ponto seguinte é quanto às SETE ARTES LIBERAIS E OS GRAUS


MAÇÔNICOS DO SIMBOLISMO, onde iremos constatar que nos primeiros tempos
(no Brasil, o GUIA dos Maçons escocês de 1857 trazia as Artes Liberais no grau de
Aprendiz) essa aprendizagem se dava no Primeiro Grau, passando em seguida para
o Segundo Grau. Chama a atenção, neste particular, que embora ficando na
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atualidade, nesse Grau, o Rito escocês não a utiliza, encontramo-las apenas no Rito
York. Por que? Uma questão que ficará em aberto, pois necessita de uma pesquisa
mais profunda e inclusive, nos originais desses Ritos e que no momento não temos
as informações necessárias. Mas, essa abordagem necessita ser feita e
urgentemente.

3) A composição do TRIVIUM e do QUADRIVIUM é outra abordagem a


ser feita, pois, os Maçons, alteraram a composição do TRIVIUM, onde a DIALÉTICA
foi substituída pela LÓGICA, não se sabendo se foi utilizando o costume de
medieval, onde as duas, em determinados períodos, foram usadas indistintamente,
sendo esta de acordo com o enfoque dos estoicos.

4) A quarta abordagem será sobre o significado para os Maçons das


disciplinas que compõem o TRIVIUM MAÇÔNICO – GRAMÁTICA, RETÓRIA E
LÓGICA.

5) A quinta, será a respeito da Geometria, essa disciplina tão cara aos


Maçons da era Operativa (onde era instrumento de trabalho) quanto aos da
Especulativa (aqui, no seu aspecto simbólico).

6) A ARITMÉTICA e a MÚSICA são enfoques seguintes junto aos


Maçons.

7) O sétimo ponto é quanto à ENSINANÇA MAÇÔNICA E AS SETE


ARTES LIBERAIS, onde iremos tentar traçara alguns aspectos da ensinança
maçônica e o uso das Sete Artes Liberais, principalmente na atualidade, quando
para o homem de plástico e tecnológico e cibernético, esse “curriculum” parece
totalmente fora de moda.

8) Por último, a abordagem será a respeito do GRAU COMPANHEIRO,


ONDE SÃO ESTUDADAS AS SETE ARTES LIBERAIS, procurando encontrar
alguma explicação do seu uso nesse Grau e não no Primeiro ou no Terceiro, já que
o nosso estudo está adstrito aos graus do simbolismo maçônico.

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Não queremos ter a pretensão de esgotar o assunto, embora a


profundidade das pesquisas tenha procurado trazer uma visão ampla sobre a
questão.

POR QUE UM ESTUDO SOBRE AS SETE ARTES LIBERAIS E A


MAÇONARIA

Essa, a pergunta básica quando empreendemos o estudo das SETE


ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA. Sabemos que as SETE ARTES LIBERAIS
estão divididas em dois grandes grupos: o TRIVIUM (GRAMÁTICA, RETÓRICA, E
DIALÉTICA) e o QUADRIVIUM (ARITMÉTICA, GEOMETRIA, ASTRONOMIA E
MÚSICA). E o que a Maçonaria e seu sistema de ensinança tem a ver com essas
disciplinas?

A nossa impressão é a de que para respondermos (ou melhor dizendo,


tentarmos responder) essa indagação básica necessário se faz:

1 – que compreendamos o significado das SETE ARTES LIBERAIS no


seu contexto e qual a sua utilização no sistema educacional de então. Sabemos que
tiveram início na Antiguidade, notadamente, na Antiguidade Ocidental (Grécia) e que
tomou essa designação durante a IDADE MÉDIA (em especial, no período que se
denomina renascença carolíngia, quando foi estruturado o sistema francês de ensino
com base nessas disciplinas, organizado pelo inglês Alcuíno (735-804) no fim do
século VIII depois de Cristo. 2- Após essa identificação a nível profano, o mesmo
procedimento deverá ser feito na área Maçônica: por que estudar a GRAMÁTICA, A
RETÓRICA, A DIALÉTICA (OU LÓGICA), A ARITMÉTICA, A GEOMETRIA, A
ASTRONOMIA E A MÚSICA?

Cremos que há a necessidade de levantarmos algumas questões


preliminares acerca do problema, antes de iniciarmos o nosso bosquejo histórico em
direção ao passado. Senão vejamos:

1. Por que estudar a GRAMÁTICA, a primeira ciência do TRIVIUM?

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O conceito antigo dizia que ao se nomear uma coisa, um objeto, uma


pessoa, era já defini-lo por completo. Em Maçonaria, a sua alusão é apenas
simbólica ou tem algum significado analógico para o entendimento de suas de suas
alegorias e seus símbolos? Ou o candidato à Ordem deve ter os conhecimentos
elementares dessa disciplina para poder usar os seus Rituais, manuais, livros
específicos?

2. E o estudo da RETÓRICA? Cremos, que em virtude de todo Maçom


em sua plenitude ser um ocupante potencial do cargo de ORADOR, a sua
necessidade enquanto técnica de falar em público é sentida. Ou será, novamente
uma alegoria apenas? O sistema formador profano tem essa disciplina nos seus
currículos nos três níveis ou é apenas uma das especialidades a mais e que deve
ser apreendida individualmente fora do escôpo oficial? O uso da palavra entre
COLUNAS e nas COLUNAS faz com que o Maçom sinta necessidade desse
aperfeiçoamento?

3. E a DIALÉTICA, qual a sua necessidade? Ou a LÓGICA, no conceito


estóico do termo? Seria esse segundo o termo e a concepção usadas largamente na
Idade Média a utilizada na Maçonaria atual ou a sua substituição tem alguma ligação
com o seu uso profano, principalmente a partir de Marx? O Pavimento Mosaico,
símbolo síntese dos contrários seria a representação material da dialética Maçônica
ou está associada ao seus aspecto de DIALÉTICA enquanto Lógica do Possível ou
enquanto LÓGICA?

4. A ARITMÉTICA é a primeira ciência do QUADRIVIUM, qual o seu


sentido em Maçonaria? Seria apenas simbólico e estamos nos referindo à aritmética,
ao cálculo Teosófico necessário para um amplo conhecimento do simbolismo dos
números?

5. A GEOMETRIA, necessária ao conhecimento formal do homem de


antanho e o atual, qual a sua utilização em Maçonaria? O seu estudo iniciando-se
pelo ponto de vista pitagórico, combinado com a ARITMÉTICA, que aplicações
simbólicas poderiam ser feitas?

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6. A ASTRONOMIA aqui referida é a moderna Astronomia ou está


adstrita ao conceito medieval e antigo, quando era mais Astrologia? O teto de
nossos Templos, onde está representado o firmamento, esse firmamento é o da tese
astrológica?

Por fim, a MÚSICA. Qual a sua utilidade na Maçonaria? Cremos aqui, que
tanto a GEOMETRIA quanto a MÚSICA, são as disciplinas do QUADRIVIUM que
mais têm utilidade na Ordem. A primeira, vinculada aos aspectos rituais e litúrgicos
que já em pleno século XII se constituía na disciplina principal daquele período.

Esses, os aspectos que tentaremos desenvolver ao longo de nosso


modesto e despretensioso estudo sobre as SETE ARTES LIBERAIS.

O ESTUDO PROFANO DAS SETE ARTES LIBERAIS

O estudo profano das SETE ARTES LIBERAIS será realizado em duas


épocas: 1 – A ANTIGUIDADE – quando ainda não tinha esse nome (SETE ARTES
LIBERAIS), mas cujas disciplinas viriam formar, posteriormente, o TRIVIUM e o
QUADRIVIUM. 2 – A IDADE MÉDIA, onde floresceu e se tornou o principal
“curriculum” da época notadamente na renascença carolíngea.

AS SETE ARTES LIBERAIS NA ANTIGUIDADE

O estudo das SETE ARTES LIBERAIS na antiguidade, deságua,


necessariamente na Grécia Antiga. Segundo Jaeger “antes dos sofistas não se fala
de gramática, de retórica ou de dialética”, essas três disciplinas viriam futuramente
constituir o TRIVIUM. Chama a atenção para o fato de que as ARTES LIBERAIS na
Antiguidade eram aquelas que permitiam a formação da cultura liberal da época.

O conteúdo global da educação formal grega, na Antiguidade passava


pelas disciplinas que iriam formar o TRIVIUM e o QUADRIVIUM e mais algumas
outras de importância fundamental para o sistema educacional grego, onde por
exemplo, a Música era considerada uma das artes matemáticas, devido a
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concepção de harmonia herdada do pitagorismo. O TEETETO, de Platão, ao tratar


da conceituação de ciência, retrata muito bem essas disciplinas. Em A REPÚBLICA,
também encontramos a preocupação platônica em definir a hierarquização essas
disciplinas.

Platão, em A REPÚBLICA, classifica as ciências dentro do seguinte


aspecto:

Ciências dos Números

Geometria Plana

Estereometria

Ciência do Movimento

Astronomia

Música

As matrizes 1 e 2 (págs. 39 e 40) mostram a concepção das artes liberais


na antiguidade.

AS SETE ARTES LIBERAIS NA IDADE MÉDIA

A abordagem sobre as ARTES LIBERAIS na IDADE MÉDIA inicia-se por


Abbagnano que diz “A partir do século I, chama-se “Artes Liberais” (isto é dignas do
homem livre)... nove (9) disciplinas, algumas das quais Aristóteles teria chamado
ciências e não Artes. Essas disciplinas foram enumeradas por Varrão e são as
seguintes: GRAMÁTICA, RETÓRICA, LÓGICA, ARITMÉTICA, GEOMETRIA.
ASTRONOMIA, MÚSICA, ARQUITETURA, E MEDICINA.

Mais tarde, no século V, Marciano Capella (Núpcias de Mercúrio e da


Filosofia) reduzia a sete as Artes Liberais (GRAMÁTICA, RETÓRICA, LÓGICA,
ARITMÉTICA, GEOMETRIA, ASTRONOMIA E MÚSICA) eliminando as que lhe
pareciam não necessárias a um ser puramente espiritual (que não tem corpo), isto é,

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a arquitetura e a medicina, estabelecendo assim o curriculum de estudos que


deveria ser inalterado por séculos (in DICIONÁRIO DE FILOSOFIA, pág. 78).

Vimos, também, que essas ARTES LIBERAIS eram ensinadas nas


escolas que ficavam dentro da estrutura das Catedrais (ex. Chat res) e,
posteriormente, ganharam as universidades medievais, até serem suplantadas, de
certa forma pela Dialética, num período posterior. Esses, os aspectos introdutório.

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ASPECTOS GERAIS DAS SETE ARTES LIBERAIS NA IDADE MÉDIA. O


TRIVIUM E O QUADRIVIUM. AS FIGURAS E AS OBRAS DAS SETE ARTES
LIBERAIS. A DIALÉTICA E A LÓGICA, SINÔNIMAS NA IDADE MÉDIA? AS SETE
ARTES LIBERAIS E A ARTE NA IDADE MÉDIA. ALGUMAS CONCLUSÕES
PRELIMINARES SOBRE AS SETE ARTES LIBERAIS NO MUNDO PROFANO. AS
SETE ARTES LIBERAIS E OS GRAUS MAÇÔNICOS DO SIMBOLISMO. AS SETE
ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA.

ASPECTOS GERAIS DAS SETE ARTES LIBERAIS NA IDADE MÉDIA

Quais seriam os aspectos gerais das ARTES LIBERAIS na IDADE


MÉDIA? Vejamos alguns pontos que consideramos importantes para iniciarmos o
nosso estudo.

1. Le Goff e Abbagnano fazem derivar de Varrão as ARTES LIBERAIS,


que teria distinguido as artes mecânicas das artes liberais.

2. Abbagnano coloca o século V como o início, no Ocidente, do interesse


laico pelas Sete Artes Liberais.

3. Abbagnano e Peterson dizem que “SCHOLASTICUS” era o termo com


que se designava nos primeiros séculos da IDADE MÉDIA aquele que ensinava as
SETE ARTES LIBERAIS.

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Alcuino, em 793, foi o grande organizador do ensino do reino franco,


ordenando os estudos segundo as sete disciplinas do TRIVIUM e do QUADRIVIUM,
chamados por ele de “as sete colunas da sabedoria”.

4. Já aquela época a preocupação estava com um conhecimento global


representado pelas sete artes liberais as quais foram sendo acrescidas outras tantas
como a ética, a filosofia teórica, que compreendiam as matemáticas, a física e a
teologia.

5. CASSIODRO, citado por Bréhier, diz que o conhecimento das artes


liberais tem origem na Bíblia e é preciso pô-lo a serviço da verdade.

A matriz 3 demonstra alguns dos aspectos gerais das Artes Liberais.

A matriz 4 nos dá algumas informações acerca dos aspectos gerais das


Sete Artes Liberais na Idade Média, das quais destacamos as seguintes:

1. O século XIII marca uma ruptura com a ordem tradicional das SETE
ARTES LIBERAIS, que aos poucos vão sendo substituídos pela enciclopédia
aristotélica.

2. Que o monge no seu claustro, em seu silêncio, necessitava apenas da


GRAMÁTICA, pois de nada lhe valia o conhecimento sobre a DIALÉTICA e a
RETÓRICA se o isolamento em que vivia não permitia a sua exercitação.

3. Nela vê-se, também, que o TRIVIUM (Gramática, Dialética, Retórica) e


o QUADRIVIUM (Aritmética, Geometria, Astronomia e Música) tinham objetos
diferentes. O primeiro estava destinado a manifestar a expressão do pensamento –
VERBA; o segundo, ao estudo das coisas – RES.

4. Vê-se que ao QUADRIVIUM acresceu-se a medicina, posteriormente,


principalmente com os estudos de AVICENA. Lembremo-nos que na página 38,
dissemos que VARRÃO já incluía nas Artes Liberais a Medicina sendo excluída,
posteriormente, no século V, por Capella.

A matriz 5 traz complementações importantes aos aspectos gerais das


SETE ARTES LIBERAIS. Com ela, temos, inclusive uma conceituação de ARTE
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que, cremos, dirime qualquer dúvida a respeito do que seja Arte no contexto
medieval das Artes Liberais.

O TRIVIUM E O QUADRIVIUM

A estrutura das SETE ARTES LIBERAIS, comporta uma dualidade


básica: O TRIVIUM e o QUADRIVIUM, cujas matrizes 6 e 7 trazem informações
gerais acerca da composição e sentido dos mesmos.

Convém, entretanto, fazer algumas observações a respeito:

1. A necessidade de individualizar o TRIVIUM e o QUADRIVIUM foi a


existência de uma divergência entre autores profanos e Maçons quanto à
composição do TRIVIUM.

2. Chama a atenção o fato das disciplinas do TRIVIUM serem de capital


importância na Idade Média, pois a partir dela era possível a leitura e interpretação
dos textos sagrados, material didático largamente utilizado na escola medieval.

3. O QUADRIVIUM era para Platão segundo Bréhier o ponto de partida da


filosofia.

4. Segundo DUBY, a música e por ela a liturgia, foram os instrumentos


mais eficazes que dispôs a cultura do século XI, sendo as demais ciências do
QUADRIVIUM a ela subordinadas, não do ponto de vista de estrutura didático-
curricular, mas como decorrência natural do ambiente religioso da época.

5. PLATÃO, em a REPÚBLICA (524 a 535) faz uma enumeração das


ciências segundo o grau de importância, onde poderão ser vistas as que foram
consideradas por ele como mais importantes para a formação do homem e do
governante em sua República ideal.

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AS FIGURAS E AS OBRAS DAS SETE ARTES LIBERAIS

As matrizes 8 e 9 dão uma visão axial das principais figuras e de algumas


obras acerca das SETE ARTES LIBERAIS.

A DIALÉTICA E A LÓGICA, SINÔNIMAS NA IDADE MÉDIA?

Devido a enorme importância da DIALÉTICA no processo educativo


medieval, notadamente a partir do século XIII e com o surgimento da Universidade
de Paris e em face dos autores Maçons a excluírem da composição do TRIVIUM,
utilizando em seu lugar a Lógica, necessário se faz uma abordagem específica
sobre o fato.

Do estudo de ABBAGNANO depreendemos o seguinte:

1. A DIALÉTICA, segundo ABBAGNANO pode ser entendida dentro de


quatro pontos de vista: como MÉTODO DA DIVISÃO (Platão), COMO LÓGICA DO
PROVÁVEL (Aristóteles), COMO LÓGICA (Estóicos) e COMO SÍNTESE DOS
CONTRÁRIOS (Hegel com fundamentos de PROCOLO).

2. A noção de DIALÉTICA COMO LÓGICA GERAL, de acordo com o


conceito estoico dura toda a IDADE MÉDIA.

3. Que durante a IDADE MÉDIA a LÓGICA foi empregada como sinônimo


de DIALÉTICA, tendo Boécio, um dos principais autores medievais empregado
indistintamente os termos DIALÉTICA e LÓGICA.

A matriz 10 dá uma visão geral sobre essa problemática.

AS SETE ARTES LIBERAIS E A ARTE NA IDADE MÉDIA

Aqui, uma pequena digressão que mostra claramente a importância das


SETE ARTES LIBERAIS no contexto medieval.

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Segundo ANNE SHAVER-CRANDELL, em sua INTRODUÇÃO À


HISTÓRIA DA ARTE, DA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, no tema IDADE
MÉDIA, quando fala da catedral de CHARTRES diz o seguinte “...Na época em que
o Portal Régio estava sendo projetado , CHARTRES era a sede de uma florescente
escola eclesiástica. Os ramos do saber do currículo medieval eram chamados as
SETE ARTES LIBERAIS. Nas arquivoltas estão representados os praticantes de
cada arte liberal em eras passadas. E estão com eles figuras femininas que
personificam as próprias artes: Aritmética, Geografia, Música, Astronomia,
Gramática, Dialética e a Retórica. O efeito da figura da Gramática, repreendendo um
de seus alunos com um puxão de orelha, é tão vivo hoje quanto na época em que foi
esculpida”.

ALGUMAS CONCLUSÕES PRELIMINARES SOBRE AS SETE ARTES


LIBERAIS NO MUNDO PROFANO

1. O estudo das SETE ARTES LIBERAIS vem desde a antiguidade,


conforme comprovam os relatos de Platão e a História da Filosofia de ABBAGNANO,
BRÉHIER, CHATELET e a PAIDEIA DE JAEGER.

2. Na Idade Média constituíam a espinha dorsal do sistema de ensino


medieval, sendo necessárias para a formação do homem livre, sendo,
posteriormente, adotadas pelas universidades medievais.

3. As disciplinas do TRIVIUM – Gramática, Retórica e Dialética – tinham


por finalidade manifestar a expressão do pensamento. A Gramática, entretanto, foi
considerada como principal disciplina que permitia nomear as coisas, aqui entendido
como explicá-las completamente. A Retórica preparava a beleza do discurso e a
Dialética proporcionava a lógica do raciocínio.

4. A DIALÉTICA foi a principal disciplina no “curriculum” medieval a partir


do século XIII. BIEHNER e GILSON (HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ) citam
ANSELMO DE BESATE como o grande dialético do século X, que comparam à era
pré-carolíngia e PEDRO DAMIÃO como o grande Antidialético desse período.

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5. A Dialética foi utilizada como sinônimo de Lógica na Idade Média,


quando esta estava sendo conceituada segundo os estoicos.

6. As disciplinas do QUADRIVIUM têm na GEOMETRIA e na MÚSICA, as


que mais se sobressaem. Uma na Antiguidade, a Geometria, que além de Pitágoras
tem em Platão um grande estudioso, chegando a dizer que “é o conhecimento do
que existe sempre” (A REPÚBLICA 531 a-d). A segunda, na Idade Média, onde no
século XII é a principal disciplina, sendo as demais, suas servas.

Essas conclusões preliminares e o conteúdo anteriormente enfocado,


permitirão uma melhor compreensão da problemática das SETE ARTES LIBERAIS
na Maçonaria, o que faremos a seguir.

AS SETE ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA

Abordaremos agora, as SETE ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA, uma


tentativa de verificar o conceito que delas fazem os autores Maçons e sua aplicação
no sistema de ensinança Maçônica.

ASPECTOS GERAIS DAS SETE ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA

Vamos encontrar uma referência importante sobre as ARTES LIBERAIS


em Aslan, onde diz que os antigos assim denominavam as Artes que um homem
livre podia exercer sem decair no conceito de seus concidadãos. Mais adiante diz
que nos ANTIGOS DEVERES, CONSTITUIÇÕES DE ANDERSON, encontramos
referência às ARTES LIBERAIS. O Manuscrito de Harley é um deles.

Para que possamos melhor ilustrar essa problemática, transcreveremos


parte do que reza o Manuscrito de Harley encontrado em uma publicação do GOB
de 1977, juntamente com sua Constituição. Diz o manuscrito:

“BONS IRMÃOS E COMPANHEIROS, o nosso propósito é ensinar-vos


como e de que maneira se originou a arte da Maçonaria e como depois a

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assentarem e estabelecerem meritíssimos reis e príncipes, assim como outras


coisas que não prejudicam a ninguém; por que em boa fé, se o escutais vereis que
convém observá-lo, por ser uma das SETE CIÊNCIAS LIBERAIS, a saber:

1. Gramática que ensina ao homem a falar e a escrever corretamente.

2. Retórica que ensina ao homem a falar artística e elegantamente em


termos sutis.

3. Lógica que ensina a discernir a verdade do erro.

4. Aritmética que ensina a contar e a razão dos números.

5. Geometria que ensina medir e traçar as coisas e foi a origem de


Maçonaria.

6. Música que ensina o canto.

7. Astronomia que ensina o curso do sol, da lua e outros ornamentos do


céu...”.

A matriz nº 11 ilustra melhor os aspectos aqui apontados.

AS SETE ARTES LIBERAIS E OS GRAUS MAÇÔNICOS DO


SIMBOLISMO

Um dos aspectos fundamentais do nosso trabalho é o que identifica a


prática das SETE ARTES LIBERAIS e os GRAUS MAÇÔNICOS DO SIMBOLISMO,
onde são praticadas dentro da ensinança Maçônica.

Segundo ASLAN, as Artes Liberais figuraram primeiramente no GRAU DE


APRENDIZ, por ser o Grau mais importante à época em que surgiu a Maçonaria
especulativa (1717). O GUIA DOS MAÇONS ESCOCESES, publicado no Brasil, em
meados do século XIX, 1857, ainda traz as Artes Liberais no primeiro Grau.

O Grau de companheiro, foi, posteriormente o detentor dessa ensinança.


Assim vamos encontrar as SETE ARTES LIBERAIS no Rito de York, Grau de
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Companheiro. Vários autores citam as SETE ARTES LIBERAIS sem contudo


tecerem maiores comentários. Será apenas uma abordagem simbólica-alegórica ou
teria um outro sentido?

A matriz nº 12 dá uma visão axial da problemática.

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O TRIVIUM E O QUADRIVIUM SEGUNDO OS MAÇONS. O SIGNIFICADO DAS


DISCIPLINAS DO TRIVIUM SEGUNDO OS MAÇONS. A GEOMETRIA SEGUNDO
OS MAÇONS. A ARITMÉTICA E A MÚSICA SEGUNDO OS MAÇONS. A
ENSINANÇA MAÇÔNICA E AS SETE ARTES LIBERAIS. O GRAU DE
COMPANHEIRO MAÇOM, ONDE SÃO ESTUDADAS AS SETE ARTES
LIBERAIS.MATRIZES.

O TRIVIUM E O QUADRIVIUM SEGUNDO OS MAÇONS

Já dissemos anteriormente que a composição do TRIVIUM entre os


Maçons difere da aceita pelo mundo profano, notadamente quanto à Lógica, referida
em lugar Dialética.

Quando analisamos o TRIVIUM encontramos, de fato, uma diferença


entre sua composição profana e a usada entre os Maçons, exceto Marquês (vide
matrizes 6 e 13).

No caso Maçônico a Dialética virou Lógica.

Uma das hipóteses levantadas é a de que os ritualistas Maçônicos estão


utilizando o conceito medieval de Dialética, quando esta foi usada como Lógica (vide
matriz 10). A outra hipótese é que devido a má fama da DIALÉTICA nos dias atuais,
notadamente após HEGEL e mais recentemente após MARX, esse termo ficou
ligado à asa esquerda de MARX.

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A matriz nº 13, dá maiores esclarecimentos acerca do TRIVIUM e do


QUADRIVIUM entre os Maçons.

O SIGNIFICADO DAS DISCIPLINAS DO TRIVIUM SEGUNDO OS


MAÇONS

Vários significados foram encontrados entre os Maçons, no estudo das


disciplinas que compõem o TRIVIUM.

ABRINES diz que a Gramática é estudada porque ensina a expressar as


ideias com regras próprias de linguagem; que é o estudo da linguagem falada e
escrita (SANTOS); que ensina a falar e escrever (Ritual de 1857).

A Retórica é vista como os adornos e belezas do estilo falado (ABRINES),


e que a Maçonaria a recomenda como arte de embelezar a linguagem, dentro da
educação liberal no Segundo Grau (ASLAN). A Lógica serve para formar juízos
exatos das coisas (ABRINES).

A Matriz nº 14 dá a ampla visão acerca do que foi dito aqui.

A GEOMETRIA SEGUNDO OS MAÇONS

A Geometria é uma das disciplinas do QUADRIVIUM que mais está ligada


à Maçonaria, tanto em sua fase operativa quanto em seu aspecto especulativo.

ASLAN, chama a atenção para o fato da sinonímia entre Maçonaria e a


Geometria no período operativo e que devido muitos autores não terem
conhecimento disto, provocou muitos mal entendidos.

A Geometria tem aplicação em vários graus Maçons e segundo SANTOS,


em todos os Graus e sistemas, e que simbolicamente significa o rigor, a medida do
universo, uma das maneiras de atingir a construção de templo (MARQUES).

A matriz nº 15 dá uma visão mais ampla a respeito dessa problemática.

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A ARITMÉTICA E A MÚSICA SEGUNDO OS MAÇONS

A matriz nº 16 dá uma visão geral acerca da conceituação de Aritmética e


Música no âmbito Maçônico.

ASLAN e FIGUEIREDO dizem: a Aritmética é a primeira ciência que deve


conhecer um mestre Maçom, sendo o atributo de um bom Maçom.

Quanto à musica ficam nos sons melodiosos, emblemas das grandes


impressões do coração.

A ENSINANÇA MAÇÔNICA E AS SETE ARTES LIBERAIS

Pelo que vimos, tanto do lado profano quanto do lado Maçônico, há um


chamamento de atenção para o fato de que deve ter os conhecimentos advindos
das SETE ARTES LIBERAIS e mais, que algumas disciplinas (Gramática,
Geometria, Música) têm primazia sobre outras.

Alguns autores, como CHARLIER, não chegaram, a nosso ver, a


compreender o significado das Artes Liberais na Maçonaria. Diz ele; “alguns autores
franceses beiram o ridículo em suas tentativas para explicar a iniciação do segundo
grau, sem, contudo, conseguir o seu intento... Em outros ainda, aparecem
majestosamente as artes liberais sob a forma de Gramática, Geometria, Música,
Astronomia, Aritmética, Retórica e Lógica. Neste caso são sete! Por quê?...” (in
PEQUENO ENSAIO DE SIMBÓLICA MAÇÔNICA – pág. 154).

Cremos, que salvo algumas disciplinas do TRIVIUM e do QUADRIVIUM, o


mundo moderno e os Maçons da atualidade, não tomam conhecimento delas nos
currículos tradicionais (a música, por exemplo, em qual “curriculum” entra hoje em
dia? E seria apenas intelectual o aspecto de seu estudo ou estaria ligada mais à
ritualística e a liturgia?).

Alguns pontos merecem a nossa atenção. Vejamos alguns deles.

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1.O estudo da Música na Maçonaria parece tão importante quanto o foi ao


longo da História (vide os gregos, por exemplo). Aqui, (na Maçonaria) está voltada
para a liturgia e o ritual. Lembremo-nos que essa função já era exercitada em pleno
século XII, quando o ritual e a liturgia tinham foro de prioridade na atividade
intelectual daquela época. Sabemos que nossas sessões Maçônicas ficam ainda
mais vazias quando não temos música apropriada, não apenas música (víde o
esforço do Irmão ZALY BARROS ARAÚJO em difundir a música na Ordem em suas
COLUNAS DE HARMONIA publicadas no jornal O APRENDIZ, São Vicente – SP).

Se o Grau 2, o Grau do companheiro Maçom é o GRAU DA


ESPIRITUALIDADE MAÇÔNICA e se a música ritual faz com que o simbolismo, o
esoterismo, a espiritualidade sejam assimiláveis com mais facilidade, nada mais
justo do que colocar no âmbito Maçônico o seu estudo. Os rituais, em sua sabedoria,
recomendam sempre o uso da música nas sessões, o que lamentavelmente, não
encontramos amiúde.

2 O estudo da Geometria, aqui em seus aspecto simbólico, é necessário


para a compreensão de vários símbolos maçônicos, principalmente aqueles
herdados da confraria de construtores. Essa herança, contudo não está adstrita
apenas a esse aspecto. Remonta a Pitágoras, entre os Presocráticos.

3. A Gramática tem a sua razão de ser pelo aspecto cultural da Ordem,


onde os Maçons devem apresentar trabalhos para obterem aumento de salário.
Contudo, dado o grau de instrução dos Maçons, cujas regras de admissão
recomendam que tenham instrução suficiente para entender os mistérios da Ordem,
cremos que a sua alusão aqui é mais simbólica do que uma disciplina real da
Maçonaria (por ser a primeira disciplina do TRIVIUM).

A mesma coisa pode ser verificada quanto à RETÓRICA, onde o falar em


público (mesmo que esse público seja composto de 10 pessoas) é uma das
características da organização Maçônica, quer em seus aspectos administrativos
quer em suas abordagens ritualísticas e litúrgicas. E mais, o ORADOR DA OFICINA
que teoricamente pode ser qualquer Mestre Maçom. Por isso esse estudo é
importante.

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5. A DIALÉTICA, sem entrarmos no ponto de vista MARXISTA de


estrutura/superestrutura, os conceitos da asa esquerda de MARX pode ser estudada
dentro do conceito de lógica (que tinham os estoicos e os medievalistas) e de
síntese dos contrários, de HEGEL. Para um estudo melhor da DIALÉTICA é
necessário que recuemos no tempo para chegar a Zenão de Elea, na Grécia antiga,
considerado o pai da dialética (vide matriz 10).

Esses, os breves enfoques que queríamos fazer acerca dessa questão.

O GRAU DE COMPANHEIRO MAÇOM, ONDE SÃO ESTUDADAS AS


SETE ARTES LIBERAIS

Vimos anteriormente, que o Grau de Aprendiz era onde se estudava as


SETE ARTES LIBERAIS, algo que nos parece fora do contexto, haja vista a
necessidade do silêncio iniciático do Aprendiz, onde não teria condições de exercitar
a RETÓRICA, a DIALÉTICA, a ASTRONOMIA, dentre outras disciplinas.

Contudo, o Grau de Companheiro é o Grau da Espiritualidade Maçônica,


que em sua iniciação recomenda-se o estudo das artes liberais e onde a DIALÉTICA
está presente do ponto de vista estrutural da iniciação, onde os símbolos dos
pedreiros se funde com a espiritualidade própria do Grau. O Pavimento Mosáico é a
prova física da síntese dos contrários, um dos aspectos da dialética.

A nosso ver, esse estudo das SETE ARTES LIBERAIS, dar-se-a da


seguinte forma:

1. É um estudo individual cujos resultados avaliados pela Loja na


apresentação dos trabalhos e mais precipuamente, no cumprimento das obrigações
ritualísticas, onde a música, o simbolismo da geometria e demais aspectos
simbólicos são imprescindíveis.

2. Algumas dessas disciplinas deverão ser estudadas segundo concepção


dos antigos. Uma prova disso é o estudo da ASTRONOMIA, aqui,cremos que mais

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ligada à ASTROLOGIA, haja visto que os templos Maçônicos reproduzem a tese da


ASTROLOGIA do firmamento em determinado momentos e espaço.

Esses, são os aspectos básicos que gostaríamos de enfocar.

CONCLUSÕES

Chegamos, finalmente, às nossas conclusões, após esse breve apanhado


sobre as SETE ARTES LIBERAIS, tanto na área profana, quanto na área Maçônica.
Essas conclusões estão consubstanciadas em:

1. O estudo das SETE ARTES LIBERAIS na Maçonaria, parece estar


adstrito à necessidade do Maçom ter um conhecimento global e eclético, que tinham
os homens livres da Idade Média, quando estudavam o TRIVIUM e o QUADRIVIUM.
Logicamente, aqui, segundo entendemos, existe mais uma alegoria (tantas vezes
utilizadas na Ordem) para dizer que necessitamos ter um conhecimento global e
eclético para entendermos a Maçonaria. (A esse respeito, existe uma Prancha
Cultural publicada no Jornal – O Aprendiz, de São Vicente – SP, novembro e
dezembro de 1986, sob o tema – A NECESSIDADE DE UM CONHECIMENTO
ECLÉTICO PARA ENTENDER A MAÇONARIA, onde levantamos a questão).

2. O estudo dessas ARTES LIBERAIS no Grau de COMPANHEIRO


AMÇOM, segundo o pensamento medieval desse “curriculum”, visa permitir e
entender melhor os textos dos rituais que às vezes parecem herméticos. Aqui, talvez
um ponto importante a ser enfocado, onde a Gramática seria o estudo correto da
linguagem ritual da Maçonaria. O não estudo desses aspectos faz com que o Ritual
Maçônico pareça sem sentido por muitos.

3. Uma outra abordagem é quanto a MÚSICA, uma das disciplinas do


QUADRIVIUM, tão necessária para que os atos ritualísticos e litúrgicos possam
render os fluídos necessários para um bom desempenho das sessões esotéricas da
Ordem. Aqui – cremos – não se trata de um estudo da música enquanto
componente cultural, mas visto, sobretudo, dentro do aspecto ritual e litúrgico. Em

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assim procedendo a COLUNA DE HARMONIA da Loja deixaria de ser silenciosa


como acontece na maioria das vezes.

4. A aparente contradição da estrutura do TRIVIUM entre os autores


profanos e Maçônicos talvez esteja dentro de duas hipóteses: 1ª – a de que se está
mantendo uma tradição que remonta ao período medieval, onde a Dialética era vista
como lógica, do ponto de vista estoico; 2ª – a segunda hipótese para os Maçons não
utilizarem a DIALÉTICA na composição do TRIVIUM, talvez seja da ordem
ideológica, onde, na modernidade é sempre vista ligada à concepção MARXISTA,
quando não é verdade, pois, MARX utilizou a concepção da síntese dos contrários
de HEGEL na sua concepção materialista da História. Definindo-a em que sentido
empregá-la, logicamente não sendo o método MARXISTA, já que ele é contrário à
Ordem, pois esta é democrática e ele totalitário, não haveria porque excluí-lo do
TRIVIUM. O passado demonstra o vasto uso da DIALÉTICA, principalmente a partir
do século XII, nas Universidades Medievais, para não recuarmos a Platão.

Finalmente, concluímos que o estudo das SETE ARTES LIBERAIS,


possibilita ao Maçom, uma visão de conjunto do “curriculum” medieval e que “mutatis
mutandi”, aplicando-se o caso à Maçonaria, poder-se-ia melhorar alguns aspectos
rituais e litúrgicos de nossa instituição.

Esperamos que tenhamos pelo menos iniciado levantar o véu sobre este
problema, para que possamos aprofundá-lo como merece.

MATRIZES (Elas servem como anotação do texto das lições anteriores.)

MATRIZ 1 – AS ARTES LIBERAIS NA ANTIGUIDADE

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Por obra dos Sofistas, o sistema escolar grego,compunha-se do TRIVIUM


(G,D,R) e do QUADRIVIUM (A,G,AST,M). PLATÃO 23

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Origem pitagórica do QUADRIVIUM futuro JAEGER 842

Além da Aritmética e da Geometria o ramo principal da cultura


Sofistica abarcava ainda a Astronomia e a Música: estas quatro
Disciplinas haviam mais tarde de se agrupar sob o nome de
QUADRIVIUM. JAEGER 842

As Artes Liberais são aquelas que formam parte da


Cultura liberal, que é a Paideia do cidadão livre, em
Oposição à incultura e mesquinhez do homem
Não-livre e do escravo. JAEGER 511

O Mathemata (representam o elemento real


da educação sofística – a Harmonia e a Astronomia)
juntamente com a Gramática, a Retórica e a Oratória –
o elemento formal. JAEGER 343

Os sofistas não uniram ainda aquelas três artes (Gramática,


Dialética e Retórica) formais à Aritmética, Geometria, Música
e Astronomia, que formaram, posteriormente, o sistema das
SETE ARTES LIBERAIS. JAEGER 341

Desde os últimos tempos da antiguidade formam juntas (Gramá-


Tica, Dialética e Retórica) o chamado TRIVIUM, que juntamente
com o QUADRIVIUM constituíam as SETE ARTES LIBERAIS que,
sob esta forma escolar, sobreviveram a todo esplendor da arte e
da cultura grega. JAEGER 341

“Unida à Gramática e à Dialética, a Retórica tomou-se o fundamento


da formação formal do Ocidente”. JAEGER 341

Antes dos sofistas, não se fala de gramática, de retórica ou de Dialética JAEGER 359

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MATRIZ 2 – AS ARTES LIBERAIS NA ANTIGUIDADE

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Entendia-se a música como ciência Matemática, porque não constava


Apenas da prática do tom e do ritmo, mas envolvia também a teoria
Pitagórica das harmonias. PLATÃO 23

Será igualmente entendido (TEETETO) em Astronomia, em Cálculo,


em Música e em tudo o que diz respeito à educação (AS SETE ARTES
LIBERAIS)? PLATÃO 23

...parece-me que é ciência aquilo que podemos aprender


De TEODORO – a Geometria e as disciplinas que há pouco
Enumeraste (As Artes Liberais) (TEETETO). PLATÃO 27

A Geometria é, com efeito, o conhecimento do que existe sempre


(527 E – A República). PLATÃO 124

A Classificação das Ciências ora propostas resume-se no seguinte


Quadro (Ciência dos Números, Geometria Plana, Estereometria, Ciência
do Movimento, Astronomia e Música (A República 531 a-d). PLATÃO 130

MATRIZ 3 – AS SETE ARTES LIBERAIS (1)

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Em Didascolion há uma preocupação com estudos completos, que vão da


Gramática à Mecânica, passando pela Ética e pela Filosofia Teórica (Mate-
máticas, Física, Teologia). BRÉHIER 59

Alcuino. Seus manuais de ensino: Gramática, Retórica, Dialética, Ortografia,


nada acrescentam às compilações precedentes. Sustenta a utilidade dos
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estudos para a Teologia. BRÉHIER 22

Os conhecimentos profanos formam o conjunto dessa propedêutica ou


as Artes Liberais, que um Filon e um Sêneca, colocariam no começo da
Filosofia. BRÉHIER 17

CASSIODRO considera essências as obras: A Gramática (Donato), Retórica


(Cícero), Dialética (Quintiliano), Aritmética (Boécio) e os Elementos (Euclides). CASSIODRO 16

O conhecimento das Artes Liberais tem origem na Bíblia e é preciso


pô-la à serviço da verdade. CASSIODRO 16

Alcuino é o grande organizador do ensino no Reino Franco (793). Foi


ele quem ordenou os estudos segundo as sete disciplinas do TRIVIUM e
QUADRIVIUM, e a que chama as Sete Colunas da Sabedoria ABBAGNANO 16

O termo Scholasticus indicava nos primeiros séculos da Idade Média


aquele que ensinava as Artes Liberais ( o TRIVIUM e o QUADRIVIUM). ABBAGNANO 9

A palavra escolástica designa a filosofia cristã da Idade Média ABBAGNANO 9

O conteúdo deste interesse manifesta-se em poucas obras que


compreendiam na forma mais genérica a sabedoria da antiguidade ABBAGNANO 199

Meados do Século V: no Ocidente permanece, todavia, um núcleo


de interesse laico pelas Setes Artes Liberais (o TRIVIUM e o QUADRIVIUM). ABBAGNANO 199

MATRIZ 4 – AS SETE ARTES LIBERAIS (2)

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

O TRIVIUM tem por objeto a expressão do pensamento (verba) e o QUADRI-


VIUM o estudo das coisas (res). LE GOFF 265

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Alcuino divide as Sete Artes Liberais em dois ramos: o TRIVIUM (Gramática,


Dialética, Retórica) e o QUADRIVIUM (Aritmética, Geometria, Astronomia e
Música). LE GOFF 265

O método (das Artes Liberais) é retomado por Martinianus Capella, no


Século V. LE GOFF 265

Este método (Ciências Liberais) vem do varrão, que distingue as Artes


Liberais das Artes Mecânicas. LE GOFF 265

As Sete Artes Liberais são, até o século XII, um programa de ensino


herdado na antiguidade. LE GOFF 265

Embora se diversificasse a progressão dos estudos na escola episcopal


continuava fechada no quadro das “Artes Liberais”. DUBBY 118

Só a Gramática convém à formação do monge DUBBY 78

Das Artes do TRIVIUM, não pareciam necessárias ao monge, nem a Retó-


rica, nem a Dialética, devido à reclusão do claustro. DUBBY 77 e 78

A Lógica, a Aritmética, a Geometria, a Música, a Astronomia, a Gramática e


a Retórica são de máxima importância para o desenvolvimento do sistema
erígena. JOÃO ESCOTO 234

No ensino Carolingio existem “Três Tipos Educandários: as Escolas Liberais


oferecem dois currículos: o TRIVIUM (disciplinas formais) e QUADRIVIUM,
que inclui posteriormente a Medicina. PETERSON 79 e 80

A enciclopédia Aristotélica: a Física, Matemática, Teologia e a Lógica. BRÉHIER 118

Século XIII – Aí se altera a ordem tradicional do TRIVIUM e do


QUADRIVIUM, para substituí-la pela enciclopédia Aristotélica. BRÉHIER 118

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MATRIZ 5 – AS SETE ARTES LIBERAIS (3)

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Pelo menos até o fim do século XII, a base de todo o ensino foi a Gramática.
Por ela se chegava a todas as outras ciências. LE GOFF 94

A maior parte dos exegetas medievais vê na letra uma introdução aos


sentidos. LE GOFF 95

O simbolismo medieval começava, também, ao nível das palavras.


Nomear uma coisa era já explicá-la. A designação é conhecimento
e posse das coisas e das realidades. LE GOFF 94

Para Dante, a palavra é um signo total que descobre a razão e o


sentido: “Rationale signum et sensuale”. LE GOFF 94

A ciência “...se chega por meio das Artes Liberais”. SAINT VICTOR 61

SAINT-VICTOR acrescenta às Artes Liberais: a Física, a Mecânica,


a Economia, a Política (a porta da pátria do homem). SAINT VICTOR 61

O intelectual urbano do século XII tinha por função “ensinar” e estudar


as Artes Liberais. LE GOFF 64

“Uma arte é toda e qualquer actividade racional e justa do espírito


aplicada à fabricação de instrumentos, tanto materiais como intelec-
tuais; é uma técnica inteligente do fazer”. LE GOFF 64

O fundamento pedagógico medieval é o estudo das palavras e da


linguagem, o TRIVIUM (Gramática, Retórica, Dialética) o primeiro
ciclo das Sete Artes Liberais. LE GOFF 94

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MATRIZ 6 – AS ARTES LIBERAIS - TRIVIUM

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Nos meados do século XII, os exercícios do TRIVIUM se acharam pouco a


pouco acantonados num papel preparatório para o que passava a tornar-se
a função principal do clérigo, a leitura da divina página, a interpretação da
crítica do texto sagrado, a consolidação da doutrina pela difusão da verdade.
O estudante recebia uma iniciação gramatical e retórica. DUBY 118

Em Laone e sobretudo em Paris, a Dialética tornou-se o ramo principal


do TRIVIUM. DUBY 119

O TRIVIUM não é senão um estudo preliminar da Filosofia. GUILHERME 56

O TRIVIUM encontra justificação em sua necessidade para a leitura e


explicação da escritura e dos santos padres, e para o ensino do dogma. BRÉHIER 17

O TRIVIUM, compreende todas as Artes do Discurso e da Palavra. BRÉHIER 17

Dialética ABBAGNANO 199


CASSIODRO 98
BRÉHIER 17
PETERSON 79
LE GOFF 265

Retórica ABBAGNANO 199


CASSIODRO 98
BRÉHIER 17
PETERSON 79
LE GOFF 265

Gramática ABBAGNANO 199


CASSIODRO 98
BRÉHIER 17
PETERSON 79
LE GOFF 265

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MATRIZ 7 – AS ARTES LIBERAIS - QUADRIVIUM

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Nas escolas do século XI, o QUADRIVIUM, resumia-se quase exclusivamente


à Música. A Aritmética, a Geometria, a Astronomia, Ciências Subalternas, não
eram mais do que servas dela. DUBY 80

A Música e por ela a Liturgia, foram os instrumentos de conhecimento mais


eficazes que dispõe a cultura do século XI. DUBY 80

Boecio – seus tratados elementares sobre aritmética e música tornaram-se


livros textos para o QUADRIVIUM, sendo mais tarde adotados pelas
universidades. GUILHERME 83

Com ABELARDO, a razão é formada inteiramente pela Dialética, que


cultivou com paixão, com a exclusão quase completa das ciências do
QUADRIVIUM. BRÉHIER 62

O QUADRIVIUM (Matemática e Astronomia) é a primeira parte da


Filosofia, da qual a segunda parte é a Teologia. GUILHERME 56

ABELARDO de BETH, traduz do árabe, os elementos de Euclides, e dá


a conhecer, além das obras astronômicas, a Aritmética de Alchwarismi,
com que se aumenta extraordinariamente, o QUADRIVIUM. BRÉHIER 52

O QUADRIVIUM é indispensável à Liturgia e ao cômputo eclesiástico. BRÉHIER 17

O QUADRIVIUM, composto de quatro ciências (A.G.A.M), das quais


PLATÃO fazia o ponto de partida da Filosofia. BRÉHIER 17

Acrescenta Medicina no período tardio. PETERSON 81


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Aritmética, Música, Geometria, Astronomia. CASSIODRO 98

Música BRÉHIER 17
PETERSON 81

Astronomia BRÉHIER 17
PETERSON 81

Geometria ABBAGNANO 199


BRÉHIER 17
PETERSON 80

Aritmética ABBAGNANO 199


BRÉHIER 17
PETERSON 80

MATRIZ 8 – AS FIGURAS DAS ARTES LIBERAIS

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

FIGURAS

João Escoto Erigena

Pedro Abelardo (1079 – 1142) BRÉHIER 61

Guilherme de Conches (1080 – 1145) BRÉHIER 56

João de Salysbury BRÉHIER 53

Adelardo e Bath (Sec. XII) BRÉHIER 52

Isodoro, Bispo de Servilha (570 – 636) BRÉHIER 18

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Euclides

Donato

Quintiliano

Cassiodro (477 – 570) CHATELET 98


BRÉHIER 16

Hugo S. Victor ABBAGNANO 131


BRÉHIER 59

Alcuino (735 – 804) ABBAGNANO 16


CHATELET 223
BRÉHIER 22

Boecio (470 – 525) ABBAGNANO 199

Lucano ABBAGNANO 199

Cícero ABBAGNANO 199

Plínio, O Velho ABBAGNANO 199

MATRIZ 9 – AS SETE ARTES LIBERAIS

ASPECTOS GERAIS AUTORES PÁG.

FIGURAS

De Nuptilis Philologior et Mercuori – Martinianus Capella LE GOFF 265

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Heptateuchon – Thierry de Chartes. LE GOFF 265

Consolação da Filosofia – de Música – Libri V; de Aritmética Libri II (Boecio). ABBAGNANO 200


BRÉHIER 210

Metalogicus – João de Salysbury BRÉHIER 77

Etimologies – Isidoro BRÉHIER 16

Da interpretação das Escrituras Divinas e Seculares (1 compêndio sobre


as Sete Artes Liberais). Cassiodro. CHATELET 98
BRÉHIER 16

Didascalion – S. Victor ABBAGNANO 131


BRÉHIER 59

Gramática – Retórica – Dialética – Alcuíno ABBAGNANO 16


BRÉHIER 22

Lucano – Farsálie ABBAGNANO 199

De Officiis – Cícero ABBAGNANO 199


LE GOFF 265

História Natural – Plínio O Velho. ABBAGNANO 199

MATRIZ 10 – A DIALÉTICA E A LÓGICA

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

A LÓGICA

Boecio dá o nome de lógica (também, aqui, alternado com dialética) ao


conjunto de doutrinas contidas no organon aristotélico denominada
indiferentemente dialética ou lógica ABBAGNANO 596
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77
CURSO DE MAÇONARIA – GRAU DOIS DE ACADÊMICO COMPANHEIRO

O termo lógica empregado estritamente como sinônimo de dialética é


introduzido como nome daquela doutrina que tinha como centro os
analistas aristotélicos, Istoé, a teoria do silogismo e da demonstração. ABBAGNANO 596

Na filosofia moderna e contemporânea, a dialética conserva o significado


Hegeliano. ABBAGNANO 256

Procolo foi quem descobriu o caráter triádico, considerando esse


processo como derivar as coisas do uno e o seu retorno uno. ABBAGNANO 255

A noção da dialética como síntese dos contrários é formulada pelo


idealismo romântico e, em particular por Hegel, que a entendia como
a “própria natureza do pensamento”. ABBAGNANO 255

A noção da dialética como lógica geral segundo o conceito estoico,


dura toda a Idade Média. ABBAGNANO 254

A doutrina estóica da dialética foi a mais difundida na antiguidade e na


Idade Média. ABBAGNANO 254

A dialética como lógica foi identificada pelos estoicos. Pelo menos


aquela parte da lógica que não é a retórica. ABBAGNANO 254

A dialética como lógica do provável foi inventada por Aristóteles. ABBAGNANO 253

A dialética como lógica do provável foi formulado por Aristóteles. ABBAGNANO 253

A dialética pode ser entendida de quatro maneiras: A dialética


como método da divisão – foi formulado por Platão. ABBAGNANO 252

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MATRIZ 11 – AS ARTES LIBERAIS E A MAÇONARIA

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Adão, nosso primeiro pai... deveu de ter escritas em seu coração


as Ciências Liberais particularmente a Geometria. CONSTITUIÇÕES
DE ANDERSON 59

As Artes Liberais quando devidamente interpretadas, constituem


o símbolo do progresso no conhecimento. ASLAN 127

Em todos os antigos deveres ou seja os Old Charges, há constantes


referências às Artes e Ciências Liberais e, quando foi fundada a Maço-
naria Especulativa (1717) elas fizeram parte do sistema de instrução dos
Maçons. ASLAN 127

Cinco séculos antes de Cristo, Platão estabelecera uma distinção entre


estas artes (Mecânicas e Liberais). ASLAN 127

Nestas Sete Ciências, alguns homens instruídos da época reuniram todo


o saber da antiguidade, formando tais matérias os únicos conhecimentos
daquele período. ASLAN 127

A expressão “Sete Artes Liberais” significando a soma total do saber entrou


em voga no século V, Aurora da Idade Média. ASLAN 127

Os antigos chamavam “Artes Liberais” as que um homem livre podia


exercer sem decair no conceito de seus concidadãos, por oposição às
Artes “Mecânicas” ou manuais. ASLAN 126

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MATRIZ 12 – AS SETE ARTES LIBERAIS E OS GRAUS MAÇÔNICOS DO SIMBOLISMO

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Os Maçons-Companheiros devem observar as Sete Artes Liberais.

No Ritual do segundo grau (Companheiro) do Rito Francês ensinam-se ao


iniciado as Sete Artes Liberais. MANUSCRITO
DE HARLEY 103

As Artes Liberais são as que se ensinam alegoricamente ao Companheiro,


durante a segunda e terceira viagens de sua recepção. MARQUES 55

A rase “Artes Liberais” aparece no simbolismo do grau de Companheiro. FIGUEIREDO 13

Las Siete Artes Liberales formam parte de lãs alegorias Del grado de
compañero, o sea Del simbolismo. SANTOS 104

As Sete Artes Liberais e Ciências aludem aos sete ou mais que


tornam a Loja perfeita. RITUAL DE
YORK 55

A insígnia que investe o Companheiro indica que se espera que


faça das Artes e Ciências Liberais o futuro estudo, podendo assim
cumprir melhor os deveres Maçom. RITUAL DE
YORK 42 e 43

As Sete Artes Liberais foram, posteriormente, transferidas para o


grau de Companheiro, por ser este o grau simbólico da ciência, e
foram representadas pelos sete degraus da escada em espiral. ASLAN 127

As Sete Ciências Liberais (no grau de Aprendiz eram) Gramática,


Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. GUIA REAA
DE 1857 41

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As Artes Liberais foram colocadas no Grau e Aprendiz que então


(1717?) constituía o Grau mais importante daquele período. ASLAN 127

MATRIZ – 13 – O TRIVIUM E O QUADRIVIUM SEGUNDO AUTORES MAÇONS

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

O QUADRIVIUM

O QUADRIVIUM levava ao Templo do Saber. ASLAN 127

Aritmética, Geometria, Astronomia e Música FIGUEIREDO 55


MARQUES 103

Astronomia ASLAN 127


SANTOS 13
FIGUEIREDO 55
MARQUES 103
MANUSCRITO
DE HARLEY 114

Música ASLAN 127


SANTOS 13
FIGUEIREDO 55
MARQUES 103
MANUSCRITO
DE HARLEY 114

Geometria ASLAN 127


SANTOS 13
FIGUEIREDO 55
MARQUES 103
MANUSCRITO
DE HARLEY 114

Aritmética ASLAN 127


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SANTOS 13
FIGUEIREDO 55
MARQUES 103
MANUSCRITO
DE HARLEY 114

O TRIVIUM

TRIVIUM, assim se designavam as matérias que constituíam o ensino


complementar. SANTOS 13

O TRIVIUM conduzia à eloquência ASLAN 127

Dialética MARQUES 103

Lógica FIGUEIREDO 55
MANUSCRITO
DE HARLEY 114

Dialética ou Lógica ASLAN 127


SANTOS 13

Retórica ASLAN 127


SANTOS 13
FIGUEIREDO 55
MARQUES 103
MANUSCRITO
DE HARLEY 114

Gramática ASLAN 127


SANTOS 13
FIGUEIREDO 55
MARQUES 103
MANUSCRITO
DE HARLEY 114

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82
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MATRIZ 14 – O SIGNIFICADO DAS DISCIPLINAS DO TRIVIUM SEGUNDO AUTORES MAÇONS

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

LÓGICA

La lógica, para formar juicios exactos de La cosas. ABRINES 104

Os antigos deveres definem a lógica como a arte “Que ensina a discernir


a verdade da falsidade”. ASLAN 587

RETÓRICA

A Retórica, Arte de falar e de discorrer sobre quaisquer objetos. RITUAL REAA


DE 1857 41

O termo aparece no grau segundo do Simbolismo SANTOS 190

Diz-se do conjunto de regras referentes à Arte de bem falar,


à eloquência SANTOS 190

A Maçonaria recomenda a arte de embelezar a linguagem,


no segundo grau, como parte da educação liberal e o orador
para conseguir adomar o seu discurso deve estar familiarizado
com as outras ciências liberais. ASLAN 956

É uma das Sete ciências ou Artes Liberais. ASLAN 956


SANTOS 190

Arte da palavra, falada ou escrita, que se caracteriza pela técnica


orientada com o fim de persuadir, de impressionar o ouvinte ou o
leitor. ASLAN 956
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La Retórica, lós adomos y bellezas Del estilo hablado. ABRINES 104

GRAMÁTICA

A Gramática nos ensina escrever e falar. RITUAL REAA


DE 1857 41

Ciência mencionada, entre outros, no Ritual do grau 30 MARQUES 652

Uma das matérias (a primeira) que na Idade Média constituía o Trivio. SANTOS 72

Estudo ou tratado da linguagem falada e escrita. SANTOS 72

Na Idade Média, o cultivo da gramática coube aos escolásticos e esta


arte desenvolveu-se com a cultura e a civilização do homem.
Era compreendida no TRIVIUM. ASLAN 454

Era, na antiguidade, uma das Sete Ciências ou Artes Liberais. ASLAN 454

La Gramatica, que ensena a expresar lãs ideias com las reglas


del lenguaje. ABRINES 104

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84
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MATRIZ 15 – A GEOMETRIA SEGUNDO AUTORES MAÇONS

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

Arte de medir a terra como faziam os egypcios. GUIA DO REAA


DE 1857 41

Tem aplicação em todos os graus e sistemas maçônicos. SANTOS 70 e 71

É a Arte ou a Ciência de medir. Acha-se representada nas Cerimônias


e Simbologia Maçônicas, principalmente no grau 2. FIGUEIREDO 165

A Geometria constituí, também, um meio de formação do espírito e


desenvolvimento do conhecimento, pelo rigor e pela harmonia que
pressupõe. MARQUES 636

Como símbolo, significa o rigor, a medida do universo, uma das


maneiras de atingir a construção do Templo. MARQUES 636

Uma das ciências frequentemente mencionadas nos vários graus


maçônicos. MARQUES 636

A Maçonaria especulativa conservou o termo, fazendo dele uma


metáfora, significando a própria Arte Maçônica. ASLAN 450

Na Maçonaria operativa, os termos Geometria, Arquitetura e


Maçonaria eram sinônimo, e isto provocou os maiores equívocos
por parte dos escritores que ignoravam este fato. ASLAN 450

Na antiguidade, a Geometria gozava de imenso prestígio. ASLAN 449

A importância da Geometria é demonstrada na menção feita no


título do manuscrito régio. ASLAN 449

Como uma das Sete Ciências ou Artes Liberais, a Geometria fez


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85
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parte do QUADRIVIUM nas universidades medievais e foi consi-


derada como a ciência essencial pela Maçonaria operativa. ASLAN 449

Era uma das Sete Ciências ou Artes Liberais. ASLAN 449

La Geometria, el conocimiento de lãs dimensiones y proporciones de


los cuerpos. ABRINES 104

MATRIZ 16 – A ARITMÉTICA E A MÚSICA SEGUNDO AUTORES MAÇONS

ASPECTOS GERAIS AUTOR PÁG.

MÚSICA

A Música ensina a virtude dos sons. GUIA DO REAA


DE 1857 41

Na antiguidade, a Música constituía uma das Sete Ciências ou


Artes Liberais. SANTOS 134

Durante a Idade Média, a Música encontrou sua expressão máxima


no canto gregoriano, quando nasceu a Música polifônica. ASLAN 723

É a Arte ou Ciência de combinar os sons de maneira agradável ao ouvido,


quer sejam proveniente da voz humana ou de instrumentos. ASLAN 723

Uma das Sete Ciências ou Artes Liberais. ASLAN 723

La Música, La Duizura y Armonia delos sonidos, emblema de lãs gran


impresiones del corazón. ABRINES 104

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ARITMÉTICA

Ensina o valor dos números. GUIA DO REAA


DE 1857 41

A palavra aparece no grau de Companheiro. SANTOS 13

É a Arte ou Ciência de contar, achando-se representada nas cerimônias


e simbologia maçônicas, no grau de Companheiro. FIGUEIREDO 51

Simbologicamente, a Aritmética ensina-lhe a multiplicar a sua benevolência


e a sua sabedoria em benefício de seus irmãos e a considerar toda
recompensa como cifra aritmética, visto que paga uma dívida a si mesmo
ao fazer uma boa ação. ASLAN 123

É a primeira ciência que deve conhecer um Mestre Maçom, sendo


o atributo de um bom Maçom. ASLAN 123
FIGUEIREDO 51

Como ciência, a Aritmética permaneceu ignorada pelos sábios,


que a julgavam indigna de estudo ou investigação, até que Pitágoras
a redimisse, elevando-a à altura da Geometria. ASLAN 122/123

É a parte das matemáticas que trata da composição e da decomposição


da quantidade. ASLAN 122

Uma das Sete Ciências ou Artes Liberais ASLAN 122

La Aritmética ensina verdadeiro valor de lós números para no errar lós


cálculos. ABRINES 104

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BIBLIOGRAFIA

A – ÁREA PROFANA

ABBAGNANO, Nicola. HISTÓRIA DA FILOSOFIA, vol. I e II. Ed. Presença Lisboa, 3ª ed., 1984.

DICIONÁRIO DE FILOSOFIA. Ed. Mestre Jou – SP, 2ª ed., 1982.

BOEHNER, Philotleus e GILSON, Etiene. HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ. Ed. Vozes, 3ª ed.,
1985.

BRÉHIER, Émile. HISTÓRIA DA FILOSOFIA, tomo I, vol. II., Ed. Mestre Jou SP, 1987.

CHÂTELET, François. HISTÓRIA DA FILOSOFIA, vol. II. Zahar editores, 1983.

DUBY, Georges. O TEMPO DAS CATEDRAIS. Editorial Estampa, Lisboa, 1979.

JAEGER, Werner. PAIDEIA. Liv. Martins Fontes, ed. Ltda, 1979.

LE GOFF, Jacques. OS INTELECTUAIS NA IDADE MÉDIA. Ed. Gradiva, Lisboa, 2ª ed., 1984.

LE GOFF, Jacques. A CIVILIZAÇÃO DO OCIDENTE MEDIEVAL. Ed. Presença, Lisboa, 1984.

PETTERSON, Marianna. INTROCUÇÃO À FILOSOFIA MEDIEVAL. UFC. Fort., 1981.

PLATÃO. A REPÚBLICA. Difusão Européia do livro, 1965.

PLATÃO. TEETO. Ed. Inquérito Ltda., Lisboa.

SCHAVER-GRANDEL, Anne. INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA ARTE, UNIVERSIDADE DE


CAMBRIDGE A IDADE MÉDIA. Zahar Editores, Rio, 1984.

B – ÁREA MAÇÔNICA

ABRINES, Frau. DICCIONARIO DE LA MASONERIA. Vol. I, Ed. Kier B. Aires.

ANDERSON, James. CONSTITUIÇÕES.

ASLAN, Nicola. GRANDE DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MAÇONARIA E SIMBOLOGIA. 4


vols., Ed. Arte Nova, Rio.

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CHARLIER, René Joseph. PEQUENO ENSAIO DE SIMBÓLICA MAÇÔNICA. Ed. EDO, 2ª ed.,
1964.

FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. DICIONÁRIO DA MAÇONARIA. Ed. Pensamentos.

GOB. RITUAL DO RITO DE YORK, 1982.

GOB. MANUSCRITO DE HARLEY.

RITUAL. GUIA DOS MAÇONS ESCOCESES OU REGULADORES DOS TRÊS GRAUS SIMBÓLICOS
DO RITO ANTIGO E ACEITO. Ed. Typographia, Rio, 1987.

MARQUES, A. H. de Oliveira. DICIONÁRIO DE MAÇONARIA PORTUGUESA. Editorial Delta,


Lisboa, 1986.

SANTOS, Sebastião Dodel dos. DICIONÁRIO ILUSTRADO DE MAÇONARIA. Ed; Essinger. Rio.

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Sexta Apostila: Edição 2013

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SÓCRATES. A VIDA. MÉTODOS DE SÓCRATES.DOUTRINA FILOSÓFICA.


CONHECE-TE A TI MESMO. GNOSIOLOGIA. A MORAL. ESCOLAS
SOCRÁTICAS MENORES.

SÓCRATES

A Vida

Quem valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a


para os valores universais, segundo a via real do pensamento grego, foi Sócrates.
Nasceu Sócrates em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de
Fenáreta, parteira. Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à
meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma, não obstante sua
pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível
de bom cidadão. Combateu a Potidéia, onde salvou a vida de Alcebíades e em
Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Formou a sua
instrução sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura
ateniense da época, em contato com o que de mais ilustre houve na cidade de
Péricles.

Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se deixou distrair pelas


preocupações domésticas nem pelos interesses políticos. Quanto à família,
podemos dizer que Sócrates não teve, por certo, uma mulher ideal na quérula
Xantipa; mas também ela não teve um marido ideal no filósofo, ocupado com outros
cuidados que não os domésticos.
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Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral,
conservou-se afastado da vida pública e da política contemporânea, que
contrastavam com o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que
devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando
cidadãos sábios, honestos, temperados - diversamente dos sofistas, que agiam para
o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se
acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo.

Entretanto, a liberdade de seus discursos, a feição austera de seu caráter, a


sua atitude crítica, irônica e a conseqüente educação por ele ministrada, criaram
descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar de sua
probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos elementos racionários,
aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo
hostil a Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida contra
ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria
introduzindo outros. Sócrates desdenhou defender-se diante dos juízes e da justiça
humana, humilhando-se e desculpando-se mais ou menos. Tinha ele diante dos
olhos da alma não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno da
razão, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado culpado por uma pequena
minoria, assentou-se com indômita fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o
condenou à pena capital com o voto da maioria.

Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava
as execuções capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo
Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando
não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo
preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos.
Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da alma - que se teria
realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte
incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido
tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus da

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medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Sócrates em
399 a.C. com 71 anos de idade.

Método de Sócrates

É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade


extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo
se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do
saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto
da ciência.

O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o


inteligível, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral
obtém-se por um processo dialético por ele chamado indução e que consiste em
comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças
individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável,
permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução
socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do
fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção
universal.

Praticamente, na exposição polêmica e didática destas idéias, Sócrates


adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de
um adversário a confrontar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia
humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher
o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão
humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de
um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as

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perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e
concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo
pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele maiêutica ou
engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.

Doutrinas Filosóficas

A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no


famoso lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te consciente de tua ignorância -
como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E
alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se
personificava na voz interior divina do gênio ou demônio.

Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As notícias que temos de
sua vida e de seu pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discípulos
Xenofonte e Platão, de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de
Anábase, em seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático e
moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem
profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das
notícias, não entendeu o pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem
de ação do que um pensador. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para
nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem sempre é fácil discernir o fundo
socrático das especulações acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória
e o privilégio de ter sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como
o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se dizer que Sócrates é o protagonista de
todas as obras platônicas embora Platão conhecesse Sócrates já com mais de
sessenta anos de idade.

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"Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio.
O perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a
moral, o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia
serve-lhe de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento
da ética.

Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma,


distingue as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o
livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.

Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o argumento teológico,


formulando claramente o princípio: tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma
inteligência; b) com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem
é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o
argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao homem, um legislador, que
a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa
o mundo com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações.
Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os
preconceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar.

Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar


para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim
supremo do homem, é a prática da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou,
antes, com ela se identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral
socrática, é conseqüência natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da
inteligência. Conclusão: grandeza moral e penetração especulativa, virtude e
ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se músico é o que sabe música, pedreiro
o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça".

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Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência


de uma lei natural - independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de
todo direito positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da
consciência.

Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em prática, sugere


quase sempre a utilidade como motivo e estímulo da virtude. Esta feição utilitarista
empana-lhe a beleza moral do sistema.

Gnosiologia

O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, espiritual,


com finalidades práticas, morais. Como os sofistas, ele é cético a respeito da
cosmologia e, em geral, a respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo
de fato, não de direito, dada a sua revalidação da ciência. A única ciência possível e
útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores universais, não particulares.
Vale dizer que o agir humano - bem como o conhecer humano - se baseia em
normas objetivas e transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no
entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para construir uma ética é
necessário uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder
logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia é prático, o prático depende, por sua
vez, totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto
conhece: virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é
equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está contra todo
voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.

A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à ética, sem


metafísica. A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava no seu ensinamento

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dialógico, donde é preciso extraí-la, pode-se esquematicamente resumir nestes


pontos fundamentais: ironia, maiêutica, introspecção, ignorância, indução, definição.
Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhecimentos errados, dos
preconceitos, opiniões; este é o momento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de
par com os sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a independência da
autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e da convicção racional. A seguir
será possível realizar o conhecimento verdadeiro, a ciência, mediante a razão. Isto
quer dizer que a instrução não deve consistir na imposição extrínseca de uma
doutrina ao discente, mas o mestre deve tirá-la da mente do discípulo, pela razão
imanente e constitutiva do espírito humano, a qual é um valor universal. É a famosa
maiêutica de Sócrates, que declara auxiliar os partos do espírito, como sua mãe
auxiliava os partos do corpo.

Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência - que não é


absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da própria razão - patenteiam-
se no famoso dito socrático"conhece-te a ti mesmo" que, no pensamento de
Sócrates, significa precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar
racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo quer dizer, antes
de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, portanto, necessidade de
superá-la pela aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte,
ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso impulso para o saber,
embora o pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por falta de
uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma conceptual da ciência, não o
seu conteúdo.

O procedimento lógico para realizar o conhecimento verdadeiro, científico,


conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é, remontar do particular ao universal,
da opinião à ciência, da experiência ao conceito. Este conceito é, depois,
determinado precisamente mediante a definição, representando o ideal e a
conclusão do processo gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade.

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A Moral

Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do


conceito, assim é o fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de
que eticidade significa racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão,
ciência, não sentimento, rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo
isto tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até à
animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que Sócrates levava a
importância da razão para a ação moral até àquele intelectualismo que, identificando
conhecimento e virtude - bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre
arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma especificação
lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência está nos conceitos - assim a
ética socrática carece de um conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica.
Se o fim do homem for o bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a virtude
mediante o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, esta
felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. Traçou, todavia, o
itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes
dois filósofos, partindo dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia
acabada, uma grande metafísica e, logo, uma moral.

Escolas Socráticas Menores

A reforma socrática atingiu os alicerces da filosofia. A doutrina do conceito


determina para sempre o verdadeiro objeto da ciência: a indução dialética reforma o
método filosófico; a ética une pela primeira vez e com laços indissolúveis a ciência
dos costumes à filosofia especulativa. Não é, pois, de admirar que um homem, já
aureolado pela austera grandeza moral de sua vida, tenha, pela novidade de suas
idéias, exercido sobre os contemporâneos tamanha influência. Entre os seus
numerosos discípulos, além de simples amadores, como Alcibíades e Eurípedes,

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além dos vulgarizadores da sua moral (socratici viri), como Xenofonte, havia
verdadeiros filósofos que se formaram com os seus ensinamentos. Dentre estes,
alguns, saídos das escolas anteriores não lograram assimilar toda a doutrina do
mestre; desenvolveram exageradamente algumas de suas partes com detrimento do
conjunto.

Sócrates não elaborou um sistema filosófico acabado, nem deixou algo de


escrito; no entanto, descobriu o método e fundou uma grande escola. Por isso, dele
depende, direta ou indiretamente, toda a especulação grega que se seguiu, a qual,
mediante o pensamento socrático, valoriza o pensamento dos pré-socráticos
desenvolvendo-o em sistemas vários e originais. Isto aparece imediatamente nas
escolas socráticas. Estas - mesmo diferenciando-se bastante entre si - concordam
todas pelo menos na característica doutrina socrática de que o maior bem do
homem é a sabedoria. A escola socrática maior é a platônica; representa o
desenvolvimento lógico do elemento central do pensamento socrático - o conceito -
juntamente com o elemento vital do pensamento precedente, e culmina em
Aristóteles, o vértice e a conclusão da grande metafísica grega. Fora desta escola
começa a decadência e desenvolver-se-ão as escolas socráticas menores.

São fundadores das escolas socráticas menores, das quais as mais


conhecidas são:

1. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que tentou uma conciliação
da nova ética com a metafísica dos eleatas e abusou dos processos dialéticos de
Zenão.

2. A escola cínica, fundada por Antístenes (n. c. 445), que, exagerando a doutrina
socrática do desapego das coisas exteriores, degenerou, por último, em verdadeiro

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desprezo das conveniências sociais. São bem conhecidas as excentricidades de


Diógenes.

3. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo, (n. c. 425) que desenvolveu
o utilitarismo do mestre em hedonismo ou moral do prazer. Estas escolas, que,
durante o segundo período, dominado pelas altas especulações de Platão e
Aristóteles , verdadeiros continuadores da tradição socrática, vegetaram na
penumbra, mais tarde recresceram transformadas ou degeneradas em outras seitas
filosóficas. Dentre os herdeiros de Sócrates, porém, o herdeiro genuíno de suas
idéias, o seu mais ilustre continuador foi o sublime Platão.

Bibliografia

© Texto elaborado por Rosana Madjarof

OBRAS UTILIZADAS

DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos, São
Paulo, Editora Nacional, 1.ª edição, 1926.

FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.

PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições


Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.

VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos,


Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 4.ª edição, 1980.

Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição,


vol.I, agosto 1973.

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PLATÃO. A VIDA E AS OBRAS. O PENSAMENTO: A GNOSIOLOGIA. TEORIA


DAS IDEIAS.METAFÍSICA. AS IDEIAS.AS ALMAS. O MUNDO.

Platão

A Vida e as Obras

Diversamente de Sócrates , que era filho do povo, Platão nasceu em Atenas,


em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre prosápia.
Temperamento artístico e dialético - manifestação característica e suma do gênio
grego - deu, na mocidade, livre curso ao seu talento poético, que o acompanhou
durante a vida toda, manifestando-se na expressão estética de seus escritos;
entretanto isto prejudicou sem dúvida a precisão e a ordem do seu pensamento,
tanto assim que várias partes de suas obras não têm verdadeira importância e valor
filosófico.

Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais velho do que ele
quarenta anos - e gozou por oito anos do ensinamento e da amizade do mestre.
Quando discípulo de Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores
pré-socráticos. Depois da morte do mestre, Platão retirou-se com outros socráticos
para junto de Euclides, em Mégara.

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Daí deu início a suas viagens, e fez um vasto giro pelo mundo para se instruir
(390-388). Visitou o Egito, de que admirou a veneranda antigüidade e estabilidade
política; a Itália meridional, onde teve ocasião de travar relações com os pitagóricos
(tal contato será fecundo para o desenvolvimento do seu pensamento); a Sicília,
onde conheceu Dionísio o Antigo, tirano de Siracusa e travou amizade profunda com
Dion, cunhado daquele. Caído, porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi
vendido como escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas.

Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre escola, que, dos
jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome famoso de Academia. Adquiriu,
perto de Colona, povoado da Ática, uma herdade, onde levantou um templo às
Musas, que se tornou propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada
durante quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano (529 d.C.).

Platão, ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente pela política e pela


filosofia política. Foi assim que o filósofo, após a morte de Dionísio o Antigo, voltou
duas vezes - em 366 e em 361 - à Dion, esperando poder experimentar o seu ideal
político e realizar a sua política utopista. Estas duas viagens políticas a Siracusa,
porém, não tiveram melhor êxito do que a precedente: a primeira viagem terminou
com desterro de Dion; na segunda, Platão foi preso por Dionísio, e foi libertado por
Arquitas e pelos seus amigos, estando, então, Arquistas no governo do poderoso
estado de Tarento.

Voltando para Atenas, Platão dedicou-se inteiramente à especulação


metafísica, ao ensino filosófico e à redação de suas obras, atividade que não foi
interrompida a não ser pela morte. Esta veio operar aquela libertação definitiva do
cárcere do corpo, da qual a filosofia - como lemos no Fédon - não é senão uma
assídua preparação e realização no tempo. Morreu o grande Platão em 348 ou 347
a.C., com oitenta anos de idade.

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Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as obras completas.


Dos 35 diálogos, porém, que correm sob o seu nome, muitos são apócrifos, outros
de autenticidade duvidosa.

A forma dos escritos platônicos é o diálogo, transição espontânea entre o


ensinamento oral e fragmentário de Sócrates e o método estritamente didático de
Aristóteles. No fundador da Academia, o mito e a poesia confundem-se muitas vezes
com os elementos puramente racionais do sistema. Faltam-lhe ainda o rigor, a
precisão, o método, a terminologia científica que tanto caracterizam os escritos do
sábio estagirita.

A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta anos da sua vida:


desde a morte de Sócrates , até a sua morte. A parte mais importante da atividade
literária de Platão é representada pelos diálogos - em três grupos principais,
segundo certa ordem cronológica, lógica e formal, que representa a evolução do
pensamento platônico, do socratismo ao aristotelismo .

O Pensamento: A Gnosiologia

Como já em Sócrates, assim em Platão a filosofia tem um fim prático, moral; é


a grande ciência que resolve o problema da vida. Este fim prático realiza-se, no
entanto, intelectualmente, através da especulação, do conhecimento da ciência. Mas
- diversamente de Sócrates, que limitava a pesquisa filosófica, conceptual, ao campo
antropológico e moral - Platão estende tal indagação ao campo metafísico e
cosmológico, isto é, a toda a realidade.

Este caráter íntimo, humano, religioso da filosofia, em Platão é tornado


especialmente vivo, angustioso, pela viva sensibilidade do filósofo em face do
universal vir-a-ser, nascer e perecer de todas as coisas; em face do mal, da
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desordem que se manifesta em especial no homem, onde o corpo é inimigo do


espírito, o sentido se opõe ao intelecto, a paixão contrasta com a razão. Assim,
considera Platão o espírito humano peregrino neste mundo e prisioneiro na caverna
do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e libertar-se do corpo para realizar o seu
fim, isto é, chegar à contemplação do inteligível, para o qual é atraído por um amor
nostálgico, pelo eros platônico.

Platão como Sócrates, parte do conhecimento empírico, sensível, da opinião


do vulgo e dos sofistas, para chegar ao conhecimento intelectual, conceptual,
universal e imutável. A gnosiologia platônica, porém, tem o caráter científico,
filosófico, que falta a gnosiologia socrática, ainda que as conclusões sejam, mais ou
menos, idênticas. O conhecimento sensível deve ser superado por um outro
conhecimento, o conhecimento conceptual, porquanto no conhecimento humano,
como efetivamente, apresentam-se elementos que não se podem explicar mediante
a sensação. O conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, não pode
explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua característica a universalidade,
a imutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda menos pode o conhecimento
sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que estão
efetivamente presentes no espírito humano, e se distinguem diametralmente de seus
opostos, fealdade, erro e mal-posição e distinção que o sentido não pode operar por
si mesmo.

Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em


dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento
intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas
que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível,
a opinião verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o
conhecimento sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar
indiferentemente o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o
segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de

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modo algum ser substituído por um conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia


também dizer que o primeiro sabe que as coisas estão assim, sem saber porque o
estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar necessariamente
assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento das coisas
pelas causas.

Sócrates estava convencido, como também Platão, de que o saber intelectual


transcende, no seu valor, o saber sensível, mas julgava, todavia, poder construir
indutivamente o conceito da sensação, da opinião; Platão, ao contrário, não admite
que da sensação - particular, mutável, relativa - se possa de algum modo tirar o
conceito universal, imutável, absoluto. E, desenvolvendo, exagerando, exasperando
a doutrina da maiêutica socrática, diz que os conceitos são a priori, inatos no espírito
humano, donde têm de ser oportunamente tirados, e sustenta que as sensações
correspondentes aos conceitos não lhes constituem a origem, e sim a ocasião para
fazê-los reviver, relembrar conforme a lei da associação.

Aqui devemos lembrar que Platão, diversamente de Sócrates, dá ao


conhecimento racional, conceptual, científico, uma base real, um objeto próprio: as
idéias eternas e universais, que são os conceitos, ou alguns conceitos da mente,
personalizados. Do mesmo modo, dá ao conhecimento empírico, sensível, à opinião
verdadeira, uma base e um fundamento reais, um objeto próprio: as coisas
particulares e mutáveis, como as concebiam Heráclito e os sofistas. Deste mundo
material e contingente, portanto, não há ciência, devido à sua natureza inferior, mas
apenas é possível, no máximo, um conhecimento sensível verdadeiro - opinião
verdadeira - que é precisamente o conhecimento adequado à sua natureza inferior.
Pode haver conhecimento apenas do mundo imaterial e racional das idéias pela sua
natureza superior. Este mundo ideal, racional - no dizer de Platão - transcende
inteiramente o mundo empírico, material, em que vivemos.

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Teoria das Idéias

Sócrates mostrara no conceito o verdadeiro objeto da ciência. Platão


aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a relação entre o conceito e a realidade
fazendo deste problema o ponto de partida da sua filosofia.

A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade.


Ora, de um lado, os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e
eternos (Sócrates), do outro, tudo no mundo é individual, contingente e transitório
(Heráclito). Deve, logo, existir, além do fenomenal, um outro mundo de realidades,
objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos conceitos subjetivos que as
representam. Estas realidades chamam-se Idéias. As idéias não são, pois, no
sentido platônico, representações intelectuais, formas abstratas do pensamento, são
realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são
cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem abstrato perfeito
e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.

Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis,


situado na esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na
necessidade de salvar o valor objetivo dos nossos conhecimentos e na importância
de explicar os atributos do ente de Parmênides, sem, com ele, negar a existência do
fieri. Tal a célebre teoria das idéias, alma de toda filosofia platônica, centro em torno
do qual gravita todo o seu sistema.

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A Metafísica

As Idéias

O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das


idéias; e estas contrapõe-se a matéria obscura e incriada. Entre as idéias e a
matéria estão o Demiurgo e as almas, através de que desce das idéias à matéria
aquilo de racionalidade que nesta matéria aparece.

O divino platônico é representado pelo mundo das idéias e especialmente


pela idéia do Bem, que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria
provada pela necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objeto adequado
ao conhecimento conceptual. Esse conhecimento, aliás, se impõe ao lado e acima
do conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento
humano na sua efetiva realidade. E, em geral, o mundo ideal é provado pela
necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso mundo
imperfeito participa e a que aspira.

Visto serem as idéias conceitos personalizados, transferidos da ordem lógica


à ontológica, terão consequentemente as características dos próprios conceitos:
transcenderão a experiência, serão universais, imutáveis. Além disso, as idéias terão
aquela mesma ordem lógica dos conceitos, que se obtém mediante a divisão e a
classificação, isto é, são ordenadas em sistema hierárquico, estando no vértice a
idéia do Bem, que é papel da dialética (lógica real, ontológica) esclarecer. Como a
multiplicidade dos indivíduos é unificada nas idéias respectivas, assim a
multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do Bem, no
sistema platônico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias,
e todos os valores (éticos, lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo
sensível; é o ser sem o qual não se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar
o verdadeiro Deus platônico. No entanto, para ser verdadeiramente tal, falta-lhe a
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personalidade e a atividade criadora. Desta personalidade e atividade criadora - ou,


melhor, ordenadora - é, pelo contrário, dotado o Demiurgo o qual, embora superior à
matéria, é inferior às idéias, de cujo modelo se serve para ordenar a matéria e
transformar o caos em cosmos.

As Almas

A alma, assim como o Demiurgo, desempenha papel de mediador entre as idéias e


a matéria, à qual comunica o movimento e a vida, a ordem e a harmonia, em
dependência de uma ação do Demiurgo sobre a alma. Assim, deveria ser, tanto no
homem como nos outros seres, porquanto Platão é um pampsiquista, quer dizer,
anima toda a realidade. Ele, todavia, dá à alma humana um lugar e um tratamento à
parte, de superioridade, em vista dos seus impelentes interesses morais e ascéticos,
religiosos e místicos. Assim é que considera ele a alma humana como um ser eterno
(coeterno às idéias, ao Demiurgo e à matéria), de natureza espiritual, inteligível,
caído no mundo material como que por uma espécie de queda original, de um mal
radical. Deve portanto, a alma humana, libertar-se do corpo, como de um cárcere;
esta libertação, durante a vida terrena, começa e progride mediante a filosofia, que é
separação espiritual da alma do corpo, e se realiza com a morte, separando-se,
então, na realidade, a alma do corpo.

A faculdade principal, essencial da alma é a de conhecer o mundo ideal,


transcendental: contemplação em que se realiza a natureza humana, e da qual
depende totalmente a ação moral. Entretanto, sendo que a alma racional é, de fato,
unida a um corpo, dotado de atividade sensitiva e vegetativa, deve existir um
princípio de uma e outra. Segundo Platão, tais funções seriam desempenhadas por
outras duas almas - ou partes da alma: a irascível(ímpeto), que residiria no peito, e a
concupiscível (apetite), que residiria no abdome - assim como a alma racional

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residiria na cabeça. Naturalmente a alma sensitiva e a vegetativa são subordinadas


à alma racional.

Logo, segundo Platão, a união da alma espiritual com o corpo é extrínseca,


até violenta. A alma não encontra no corpo o seu complemento, o seu instrumento
adequado. Mas a alma está no corpo como num cárcere, o intelecto é impedido pelo
sentido da visão das idéias, que devem ser trabalhosamente relembradas. E diga-se
o mesmo da vontade a respeito das tendências. E, apenas mediante uma disciplina
ascética do corpo, que o mortifica inteiramente, e mediante a morte libertadora, que
desvencilha para sempre a alma do corpo, o homem realiza a sua verdadeira
natureza: a contemplação intuitiva do mundo ideal.

O Mundo

O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de dois princípios


opostos, as idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria no modelo
das idéias eternas, introduzindo no caos a alma, princípio de movimento e de ordem.
O mundo, pois, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado,
como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a
opinião verdadeira. Conforme a cosmologia pampsiquista platônica, haveria, antes
de tudo, uma alma do mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a
saber, as almas dos astros, dos homens, etc.

O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material resulta do ser e do


não-ser, da ordem e da desordem, do bem e do mal, que aparecem no mundo. Da
idéia - ser, verdade, bondade, beleza - depende tudo quanto há de positivo, de
racional no vir-a-ser da experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável,

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irracional, passiva, espacial - depende, ao contrário, tudo que há de negativo na


experiência.

Consoante a astronomia platônica, o mundo, o universo sensível, são


esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera e, ao redor, os astros, as
estrelas e os planetas, cravados em esferas ou anéis rodantes, transparentes,
explicando-se deste modo o movimento circular deles.

No seu conjunto, o mundo físico percorre uma grande evolução, um ciclo de


dez mil anos, não no sentido do progresso, mas no da decadência, terminados os
quais, chegado o grande ano do mundo, tudo recomeça de novo. É a clássica
concepção grega do eterno retorno, conexa ao clássico dualismo grego, que domina
também a grande concepção platônica.

BIBLIOGRAFIA

© Texto elaborado por Rosana Madjarof

OBRAS UTILIZADAS

DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos, São
Paulo, Editora Nacional, 1.ª edição, 1926.

FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.

PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições


Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.

VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos,


Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 4.ª edição, 1980.

Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição,


vol.I, agosto 1973.

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ARISTÓTELES. A VIDA E AS OBRAS. O PENSAMENTO. A


GNOSIOLOGIA.FILOSOFIA DE ARISTÓTELES.A MORAL. A POLÍTICA. A
RELIGIÃO. A METAFÍSICA. A PSICOLOGIA. A COSMOLOGIA. JUÍZO SOBRE
ARISTÓTELES. VIDA RETROSPECTIVA.

ARISTÓTELES

A Vida e as Obras

Este grande filósofo grego, filho de Nicômaco, médico de Amintas, rei da


Macedônia, nasceu em Estagira, colônia grega da Trácia, no litoral setentrional do
mar Egeu, em 384 a.C. Aos dezoito anos, em 367, foi para Atenas e ingressou na
academia platônica, onde ficou por vinte anos, até à morte do Mestre. Nesse período
estudou também os filósofos pré-platônicos, que lhe foram úteis na construção do
seu grande sistema.

Em 343 foi convidado pelo Rei Filipe para a corte de Macedônia, como
preceptor do Príncipe Alexandre, então jovem de treze anos. Aí ficou três anos, até à
famosa expedição asiática, conseguindo um êxito na sua missão educativo-política,

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que Platão não conseguiu, por certo, em Siracusa. De volta a Atenas, em 335, treze
anos depois da morte de Platão, Aristóteles fundava, perto do templo de Apolo Lício,
a sua escola. Daí o nome de Liceu dado à sua escola, também chamada
peripatética devido ao costume de dar lições, em amena palestra, passeando nos
umbrosos caminhos do ginásio de Apolo. Esta escola seria a grande rival e a
verdadeira herdeira da velha e gloriosa academia platônica. Morto Alexandre em
323, desfez-se politicamente o seu grande império e despertaram-se em Atenas os
desejos de independência, estourando uma reação nacional, chefiada por
Demóstenes. Aristóteles, malvisto pelos atenienses, foi acusado de ateísmo.
Preveniu ele a condenação, retirando-se voluntariamente para Eubéia, Aristóteles
faleceu, após enfermidade, no ano seguinte, no verão de 322. Tinha pouco mais de
60 anos de idade. A respeito do caráter de Aristóteles, inteiramente recolhido na
elaboração crítica do seu sistema filosófico, sem se deixar distrair por motivos
práticos ou sentimentais, temos naturalmente muito menos a revelar do que em
torno do caráter de Platão, em que, ao contrário, os motivos políticos, éticos,
estéticos e místicos tiveram grande influência. Do diferente caráter dos dois
filósofos, dependem também as vicissitudes exteriores das duas vidas, mais
uniforme e linear a de Aristóteles, variada e romanesca a de Platão. Aristóteles foi
essencialmente um homem de cultura, de estudo, de pesquisas, de pensamento,
que se foi isolando da vida prática, social e política, para se dedicar à investigação
científica. A atividade literária de Aristóteles foi vasta e intensa, como a sua cultura e
seu gênio universal. "Assimilou Aristóteles escreve magistralmente Leonel Franca
todos os conhecimentos anteriores e acrescentou-lhes o trabalho próprio, fruto de
muita observação e de profundas meditações. Escreveu sobre todas as ciências,
constituindo algumas desde os primeiros fundamentos, organizando outras em corpo
coerente de doutrinas e sobre todas espalhando as luzes de sua admirável
inteligência. Não lhe faltou nenhum dos dotes e requisitos que constituem o
verdadeiro filósofo: profundidade e firmeza de inteligência, agudeza de penetração,
vigor de raciocínio, poder admirável de síntese, faculdade de criação e invenção
aliados a uma vasta erudição histórica e universalidade de conhecimentos
científicos. O grande estagirita explorou o mundo do pensamento em todas as suas
direções. Pelo elenco dos principais escritos que dele ainda nos restam, poder-se-á

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avaliar a sua prodigiosa atividade literária". A primeira edição completa das obras de
Aristóteles é a de Andronico de Rodes pela metade do último século a.C.
substancialmente autêntica, salvo uns apócrifos e umas interpolações. Aqui
classificamos as obras doutrinais de Aristóteles do modo seguinte, tendo presente a
edição de Andronico de Rodes.

I. Escritos lógicos: cujo conjunto foi denominado Órganon mais tarde, não por
Aristóteles. O nome, entretanto, corresponde muito bem à intenção do autor, que
considerava a lógica instrumento da ciência.

II. Escritos sobre a física: abrangendo a hodierna cosmologia e a antropologia, e


pertencentes à filosofia teorética, juntamente com a metafísica.

III. Escritos metafísicos: a Metafísica famosa, em catorze livros. É uma compilação


feita depois da morte de Aristóteles mediante seus apontamentos manuscritos,
referentes à metafísica geral e à teologia. O nome de metafísica é devido ao lugar
que ela ocupa na coleção de Andrônico, que a colocou depois da física.

IV. Escritos morais e políticos: a Ética a Nicômaco, em dez livros, provavelmente


publicada por Nicômaco, seu filho, ao qual é dedicada; a Ética a Eudemo,
inacabada, refazimento da ética de Aristóteles, devido a Eudemo; a Grande Ética,
compêndio das duas precedentes, em especial da segunda; a Política, em oito
livros, incompleta.

V. Escritos retóricos e poéticos: a Retórica, em três livros; a Poética, em dois livros,


que, no seu estado atual, é apenas uma parte da obra de Aristóteles. As obras de
Aristóteles as doutrinas que nos restam - manifestam um grande rigor científico, sem

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enfeites míticos ou poéticos, exposição e expressão breve e aguda, clara e


ordenada, perfeição maravilhosa da terminologia filosófica, de que foi ele o criador.

O Pensamento: A Gnosiologia

Segundo Aristóteles, a filosofia é essencialmente teorética: deve decifrar o


enigma do universo, em face do qual a atitude inicial do espírito é o assombro do
mistério. O seu problema fundamental é o problema do ser, não o problema da vida.
O objeto próprio da filosofia, em que está a solução do seu problema, são as
essências imutáveis e a razão última das coisas, isto é, o universal e o necessário,
as formas e suas relações. Entretanto, as formas são imanentes na experiência, nos
indivíduos, de que constituem a essência. A filosofia aristotélica é, portanto,
conceptual como a de Platão mas parte da experiência; é dedutiva, mas o ponto de
partida da dedução é tirado - mediante o intelecto da experiência. A filosofia, pois,
segundo Aristóteles, dividir-se-ia em teorética, prática e poética, abrangendo,
destarte, todo o saber humano, racional. A teorética, por sua vez, divide-se em
física, matemática e filosofia primeira(metafísica e teologia); a filosofia prática divide-
se em ética e política; a poética em estética e técnica. Aristóteles é o criador da
lógica, como ciência especial, sobre a base socrático-platônica; é denominada por
ele analítica e representa a metodologia científica. Trata Aristóteles os problemas
lógicos e gnosiológicos no conjunto daqueles escritos que tomaram mais tarde o
nome de Órganon. Limitar-nos-emos mais especialmente aos problemas gerais da
lógica de Aristóteles, porque aí está a sua gnosiologia. Foi dito que, em geral, a
ciência, a filosofia - conforme Aristóteles, bem como segundo Platão - tem como
objeto o universal e o necessário; pois não pode haver ciência em torno do individual
e do contingente, conhecidos sensivelmente. Sob o ponto de vista metafísico, o
objeto da ciência aristotélica é a forma, como idéia era o objeto da ciência platônica.
A ciência platônica e aristotélica são, portanto, ambas objetivas, realistas: tudo que
se pode aprender precede a sensação e é independente dela. No sentido estrito, a
filosofia aristotélica é dedução do particular pelo universal, explicação do

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condicionado mediante a condição, porquanto o primeiro elemento depende do


segundo. Também aqui se segue a ordem da realidade, onde o fenômeno particular
depende da lei universal e o efeito da causa. Objeto essencial da lógica aristotélica é
precisamente este processo de derivação ideal, que corresponde a uma derivação
real. A lógica aristotélica, portanto, bem como a platônica, é essencialmente
dedutiva, demonstrativa, apodíctica. O seu processo característico, clássico, é o
silogismo. Os elementos primeiros, os princípios supremos, as verdades evidentes,
consoante Platão, são fruto de uma visão imediata, intuição intelectual, em relação
com a sua doutrina do contato imediato da alma com as idéias - reminiscência.
Segundo Aristóteles, entretanto, de cujo sistema é banida toda forma de inatismo,
também os elementos primeiros do conhecimento - conceito e juízos - devem ser, de
um modo e de outro, tirados da experiência, da representação sensível, cuja
verdade imediata ele defende, porquanto os sentidos por si nunca nos enganam. O
erro começa de uma falsa elaboração dos dados dos sentidos: a sensação, como o
conceito, é sempre verdadeira. Por certo, metafisicamente, ontologicamente, o
universal, o necessário, o inteligível, é anterior ao particular, ao contingente, ao
sensível: mas, gnosiologicamente, psicologicamente existe primeiro o particular, o
contingente, o sensível, que constituem precisamente o objeto próprio do nosso
conhecimento sensível, que é o nosso primeiro conhecimento. Assim sendo,
compreende-se que Aristóteles, ao lado e em conseqüência da doutrina de dedução,
seja constrangido a elaborar, na lógica, uma doutrina da indução. Por certo, ela não
está efetivamente acabada, mas pode-se integrar logicamente segundo o espírito
profundo da sua filosofia. Quanto aos elementos primeiros do conhecimento
racional, a saber, os conceitos, a coisa parece simples: a indução nada mais é que a
abstração do conceito, do inteligível, da representação sensível, isto é, a
"desindividualização" do universal do particular, em que o universal é imanente. A
formação do conceito é, a posteriori, tirada da experiência. Quanto ao juízo,
entretanto, em que unicamente temos ou não temos a verdade, e que é o elemento
constitutivo da ciência, a coisa parece mais complicada. Como é que se formam os
princípios da demonstração, os juízos imediatamente evidentes, donde temos a
ciência? Aristóteles reconhece que é impossível uma indução completa, isto é, uma
resenha de todos os casos os fenômenos particulares para poder tirar com certeza

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absoluta leis universais abrangendo todas as essências. Então só resta possível


uma indução incompleta, mas certíssima, no sentido de que os elementos do juízo
os conceitos são tirados da experiência, a posteriori, seu nexo, porém, é a priori,
analítico, colhido imediatamente pelo intelecto humano mediante a sua evidência,
necessidade objetiva.

Filosofia de Aristóteles

Partindo como Platão do mesmo problema acerca do valor objetivo dos


conceitos, mas abandonando a solução do mestre, Aristóteles constrói um sistema
inteiramente original. Os caracteres desta grande síntese são:

1. Observação fiel da natureza - Platão, idealista, rejeitara a experiência como fonte


de conhecimento certo. Aristóteles, mais positivo, toma sempre o fato como ponto de
partida de suas teorias, buscando na realidade um apoio sólido às suas mais
elevadas especulações metafísicas.

2. Rigor no método - Depois de estudas as leis do pensamento, o processo dedutivo


e indutivo aplica-os, com rara habilidade, em todas as suas obras, substituindo à
linguagem imaginosa e figurada de Platão, em estilo lapidar e conciso e criando uma
terminologia filosófica de precisão admirável. Pode considerar-se como o autor da
metodologia e tecnologia científicas. Geralmente, no estudo de uma questão,
Aristóteles procede por partes: a) começa a definir-lhe o objeto; b)passa a enumerar-
lhes as soluções históricas; c)propõe depois as dúvidas; d) indica, em seguida, a
própria solução;e) refuta, por último, as sentenças contrárias.

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3. Unidade do conjunto - Sua vasta obra filosófica constitui um verdadeiro sistema,


uma verdadeira síntese. Todas as partes se compõem, se correspondem, se
confirmam.

A Teologia

Objeto próprio da teologia é o primeiro motor imóvel, ato puro, o pensamento


do pensamento, isto é, Deus, a quem Aristóteles chega através de uma sólida
demonstração, baseada sobre a imediata experiência, indiscutível, realidade do vir-
a-ser, da passagem da potência ao ato. Este vir-a-ser, passagem da potência ao
ato, requer finalmente um não-vir-a-ser, motor imóvel, um motor já em ato, um ato
puro enfim, pois, de outra forma teria que ser movido por sua vez. A necessidade
deste primeiro motor imóvel não é absolutamente excluída pela eternidade do vir-a-
ser, do movimento, do mundo. Com efeito, mesmo admitindo que o mundo seja
eterno, isto é, que não tem princípio e fim no tempo, enquanto é vir-a-ser, passagem
da potência ao ato, fica eternamente inexplicável, contraditório, sem um primeiro
motor imóvel, origem extra-temporal, causa absoluta, razão metafísica de todo devir.
Deus, o real puro, é aquilo que move sem ser movido; a matéria, o possível puro, é
aquilo que é movido, sem se mover a si mesmo.

Da análise do conceito de Deus, concebido como primeiro motor imóvel,


conquistado através do precedente raciocínio, Aristóteles, pode deduzir logicamente
a natureza essencial de Deus, concebido, antes de tudo, como ato puro, e,
consequentemente, como pensamento de si mesmo. Deus é unicamente
pensamento, atividade teorética, no dizer de Aristóteles, enquanto qualquer outra
atividade teria fim extrínseco, incompatível com o ser perfeito, auto-suficiente. Se o
agir, o querer têm objeto diverso do sujeito agente e "querente", Deus não pode agir
e querer, mas unicamente conhecer e pensar, conhecer a si próprio e pensar em si
mesmo. Deus é, portanto, pensamento de pensamento, pensamento de si, que é

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pensamento puro. E nesta autocontemplação imutável e ativa, está a beatitude


divina.

Se Deus é mera atividade teorética, tendo como objeto unicamente a própria


perfeição, não conhece o mundo imperfeito, e menos ainda opera sobre ele. Deus
não atua sobre o mundo, voltando-se para ele, com o pensamento e a vontade; mas
unicamente como o fim último, atraente, isto é, como causa final, e, por
conseqüência, e só assim, como causa eficiente e formal (exemplar). De Deus
depende a ordem, a vida, a racionalidade do mundo; ele, porém, não é criador, nem
providência do mundo. Em Aristóteles o pensamento grego conquista logicamente a
transcendência de Deus; mas, no mesmo tempo, permanece o dualismo, que vem
anular aquele mesmo Absoluto a que logicamente chegara, para dar uma explicação
filosófica da relatividade do mundo pondo ao seu lado esta realidade independente
dele.

A Moral

Aristóteles trata da moral em três Éticas, de que se falou quando das obras
dele. Consoante sua doutrina metafísica fundamental, todo ser tende
necessariamente à realização da sua natureza, à atualização plena da sua forma: e
nisto está o seu fim, o seu bem, a sua felicidade, e, por conseqüência, a sua lei.
Visto ser a razão a essência característica do homem, realiza ele a sua natureza
vivendo racionalmente e senso disto consciente. E assim consegue ele a felicidade e
a virtude, isto é, consegue a felicidade mediante a virtude, que é precisamente uma
atividade conforme à razão, isto é, uma atividade que pressupõe o conhecimento
racional. Logo, o fim do homem é a felicidade, a que é necessária à virtude, e a esta
é necessária a razão. A característica fundamental da moral aristotélica é, portanto,
o racionalismo, visto ser a virtude ação consciente segundo a razão, que exige o

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conhecimento absoluto, metafísico, da natureza e do universo, natureza segundo a


qual e na qual o homem deve operar.

As virtudes éticas, morais, não são mera atividade racional, como as virtudes
intelectuais, teoréticas; mas implicam, por natureza, um elemento sentimental,
afetivo, passional, que deve ser governado pela razão, e não pode, todavia, ser
completamente resolvido na razão. A razão aristotélica governa, domina as paixões,
não as aniquila e destrói, como queria o ascetismo platônico. A virtude ética não é,
pois, razão pura, mas uma aplicação da razão; não é unicamente ciência, mas uma
ação com ciência.

Uma doutrina aristotélica a respeito da virtude doutrina que teve muita


doutrina prática, popular, embora se apresente especulativamente assaz discutível é
aquela pela qual a virtude é precisamente concebida como um justo meio entre dois
extremos, isto é, entre duas paixões opostas: porquanto o sentido poderia esmagar
a razão ou não lhe dar forças suficientes. Naturalmente, este justo meio, na ação de
um homem, não é abstrato, igual para todos e sempre; mas concreto, relativo a cada
qual, e variável conforme as circunstâncias, as diversas paixões predominantes dos
vários indivíduos.

Pelo que diz respeito à virtude, tem, ao contrário, certamente, maior valor uma
outra doutrina aristotélica: precisamente a da virtude concebida como hábito
racional. Se a virtude é, fundamentalmente, uma atividade segundo a razão, mais
precisamente é ela um hábito segundo a razão, um costume moral, uma disposição
constante, reta, da vontade, isto é, a virtude não é inata, como não é inata a ciência;
mas adquiri-se mediante a ação, a prática, o exercício e, uma vez adquirida,
estabiliza-se, mecaniza-se; torna-se quase uma segunda natureza e, logo, torna-se
de fácil execução - como o vício.

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Como já foi mencionado, Aristóteles distingue duas categorias fundamentais


de virtudes: as éticas, que constituem propriamente o objeto da moral, e as
dianoéticas, que a transcendem. É uma distinção e uma hierarquia, que têm uma
importância essencial em relação a toda a filosofia e especialmente à moral. As
virtudes intelectuais, teoréticas, contemplativas, são superiores às virtudes éticas,
práticas, ativas. Noutras palavras, Aristóteles sustenta o primado do conhecimento,
do intelecto, da filosofia, sobre a ação, a vontade, a política.

A Política

A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do


estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios
necessários para isso. O estado é um organismo moral, condição e complemento da
atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade
contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como
objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a
política é a doutrina moral social. Desta ciência trata Aristóteles precisamente na
Política, de que acima se falou.

O estado, então, é superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior


ao indivíduo, o bem comum superior ao bem particular. Unicamente no estado
efetua-se a satisfação de todas as necessidades, pois o homem, sendo
naturalmente animal social, político, não pode realizar a sua perfeição sem a
sociedade do estado.

Visto que o estado se compõe de uma comunidade de famílias, assim como


estas se compõem de muitos indivíduos, antes de tratar propriamente do estado
será mister falar da família, que precede cronologicamente o estado, como as partes

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precedem o todo. Segundo Aristóteles, a família compõe-se de quatro elementos: os


filhos, a mulher, os bens, os escravos; além, naturalmente, do chefe a que pertence
a direção da família. Deve ele guiar os filhos e as mulheres, em razão da
imperfeição destes. Deve fazer frutificar seus bens, porquanto a família, além de um
fim educativo, tem também um fim econômico. E, como ao estado, é-lhe essencial a
propriedade, pois os homens têm necessidades materiais. No entanto, para que a
propriedade seja produtora, são necessários instrumentos inanimados e animados;
estes últimos seriam os escravos.

Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo; mas constata que na


sociedade são necessários também os trabalhos materiais, que exigem indivíduos
particulares, a que fica assim tirada fatalmente a possibilidade de providenciar a
cultura da alma, visto ser necessário, para tanto, tempo e liberdade, bem como
aptas qualidades espirituais, excluídas pelas próprias características qualidades
materiais de tais indivíduos. Daí a escravidão.

Vejamos, agora, o estado em particular. O estado surge, pelo fato de ser o


homem um animal naturalmente social, político. O estado provê, inicialmente, a
satisfação daquelas necessidades materiais, negativas e positivas, defesa e
segurança, conservação e engrandecimento, de outro modo irrealizáveis. Mas o seu
fim essencial é espiritual, isto é, deve promover a virtude e, conseqüentemente, a
felicidade dos súditos mediante a ciência.

Compreende-se, então, como seja tarefa essencial do estado a educação,


que deve desenvolver harmônica e hierarquicamente todas as faculdades: antes de
tudo as espirituais, intelectuais e, subordinadamente, as materiais, físicas. O fim da
educação é formar homens mediante as artes liberais, importantíssimas a poesia e a
música, e não máquinas, mediante um treinamento profissional. Eis porque
Aristóteles, como Platão, condena o estado que, ao invés de se preocupar com uma

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pacífica educação científica e moral, visa a conquista e a guerra. E critica, dessa


forma, a educação militar de Esparta, que faz da guerra a tarefa precípua do estado,
e põe a conquista acima da virtude, enquanto a guerra, como o trabalho, são apenas
meios para a paz e o lazer sapiente.

Não obstante a sua concepção ética do estado, Aristóteles, diversamente de


Platão, salva o direito privado, a propriedade particular e a família. O comunismo
como resolução total dos indivíduos e dos valores no estado é fantástico e
irrealizável. O estado não é uma unidade substancial, e sim uma síntese de
indivíduos substancialmente distintos. Se se quiser a unidade absoluta, será mister
reduzir o estado à família e a família ao indivíduo; só este último possui aquela
unidade substancial que falta aos dois precedentes. Reconhece Aristóteles a divisão
platônica das castas, e, precisamente, duas classes reconhece: a dos homens livres,
possuidores, isto é, a dos cidadãos e a dos escravos, dos trabalhadores, sem
direitos políticos.

Quanto à forma exterior do estado, Aristóteles distingue três principais: a


monarquia, que é o governo de um só, cujo caráter e valor estão na unidade, e cuja
degeneração é a tirania; a aristocracia, que é o governo de poucos, cujo caráter e
valor estão na qualidade, e cuja degeneração é a oligarquia; a democracia, que é o
governo de muitos, cujo caráter e valor estão na liberdade, e cuja degeneração é a
demagogia. As preferências de Aristóteles vão para uma forma de república
democrático-intelectual, a forma de governo clássica da Grécia, particularmente de
Atenas. No entanto, com o seu profundo realismo, reconhece Aristóteles que a
melhor forma de governo não é abstrata, e sim concreta: deve ser relativa,
acomodada às situações históricas, às circunstâncias de um determinado povo. De
qualquer maneira a condição indispensável para uma boa constituição, é que o fim
da atividade estatal deve ser o bem comum e não a vantagem de quem governa
despoticamente.

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A Religião

Com Aristóteles afirma-se o teísmo do ato puro. No entanto, este Deus, pelo
seu efetivo isolamento do mundo, que ele não conhece, não cria, não governa, não
está em condições de se tornar objeto de religião, mais do que as transcendentes
idéias platônicas. E não fica nenhum outro objeto religioso. Também Aristóteles,
como Platão, se exclui filosoficamente o antropomorfismo, não exclui uma espécie
de politeísmo, e admite, ao lado do Ato Puro e a ele subordinado, os deuses astrais,
isto é, admite que os corpos celestes são animados por espíritos racionais.
Entretanto, esses seres divinos não parecem e não podem ter função religiosa e
sem física.

Não obstante esta concepção filosófica da divindade, Aristóteles admite a


religião positiva do povo, até sem correção alguma. Explica e justifica a religião
positiva, tradicional, mítica, como obra política para moralizar o povo, e como fruto
da tendência humana para as representações antropomórficas; e não diz que ela
teria um fundamento racional na verdade filosófica da existência da divindade, a que
o homem se teria facilmente elevado através do espetáculo da ordem celeste.

Aristóteles como Platão considera a arte como imitação, de conformidade


com o fundamental realismo grego. Não, porém, imitação de uma imitação, como é o
fenômeno, o sensível, platônicos; e sim imitação direta da própria idéia, do inteligível
imanente no sensível, imitação da forma imanente na matéria. Na arte, esse
inteligível, universal é encarnado, concretizado num sensível, num particular e,
destarte, tornando intuitivo, graças ao artista. Por isso, Aristóteles considera a arte a
poesia de Homero que tem por conteúdo o universal, o imutável, ainda que
encarnado fantasticamente num particular, como superior à história e mais filosófica
do que a história de Heródoto que tem como objeto o particular, o mutável, seja
embora real. O objeto da arte não é o que aconteceu uma vez como é o caso da

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história , mas o que por natureza deve, necessária e universalmente, acontecer.


Deste seu conteúdo inteligível, universal, depende a eficácia espiritual pedagógica,
purificadora da arte.

Se bem que a arte seja imitação da realidade no seu elemento essencial, a


forma, o inteligível, este inteligível recebe como que uma nova vida através da
fantasia criadora do artista, isto precisamente porque o inteligível, o universal, deve
ser encarnado, concretizado pelo artista num sensível, num particular. As leis da
obra de arte serão, portanto, além de imitação do universal verossimilhança e
necessidade coerência interior dos elementos da representação artística, íntimo
sentimento do conteúdo, evidência e vivacidade de expressão. A arte é, pois,
produção mediante a imitação; e a diferença entre as várias artes é estabelecida
com base no objeto ou no instrumento de tal imitação.

A Metafísica

A metafísica aristotélica é "a ciência do ser como ser, ou dos princípios e das
causas do ser e de seus atributos essenciais". Ela abrange ainda o ser imóvel e
incorpóreo, princípio dos movimentos e das formas do mundo, bem como o mundo
mutável e material, mas em seus aspectos universais e necessários. Exporemos
portanto, antes de tudo, as questões gerais da metafísica, para depois chegarmos
àquela que foi chamada, mais tarde, metafísica especial; tem esta como objeto o
mundo que vem-a-ser - natureza e homem - e culmina no que não pode vir-a-ser,
isto é, Deus. Podem-se reduzir fundamentalmente a quatro as questões gerais da
metafísica aristotélica: potência e ato, matéria e forma, particular e universal, movido
e motor. A primeira e a última abraçam todo o ser, a segunda e a terceira todo o ser
em que está presente a matéria.

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I. A doutrina da potência e do ato é fundamental na metafísica aristotélica: potência


significa possibilidade, capacidade de ser, não-ser atual; e ato significa realidade,
perfeição, ser efetivo. Todo ser, que não seja o Ser perfeitíssimo, é portanto uma
síntese - um sínolo - de potência e de ato, em diversas proporções, conforme o grau
de perfeição, de realidade dos vários seres. Um ser desenvolve-se, aperfeiçoa-se,
passando da potência ao ato; esta passagem da potência ao ato é atualização de
uma possibilidade, de uma potencialidade anterior. Esta doutrina fundamental da
potência e do ato é aplicada - e desenvolvida - por Aristóteles especialmente quando
da doutrina da matéria e da forma, que representam a potência e o ato no mundo,
na natureza em que vivemos. Desta doutrina da matéria e da forma, vamos logo
falar.

II. Aristóteles não nega o vir-a-ser de Heráclito, nem o ser de Parmênides, mas une-
os em uma síntese conclusiva, já iniciada pelos últimos pré-socráticos e
grandemente aperfeiçoada por Demócrito e Platão. Segundo Aristóteles, a mudança,
que é intuitiva, pressupõe uma realidade imutável, que é de duas espécies. Um
substrato comum, elemento imutável da mudança, em que a mudança se realiza; e
as determinações que se realizam neste substrato, a essência, a natureza que ele
assume. O primeiro elemento é chamado matéria (prima), o segundo forma
(substancial). O primeiro é potência, possibilidade de assumir várias formas,
imperfeição; o segundo é atualidade - realizadora, especificadora da matéria - ,
perfeição. A síntese - o sinolo - da matéria e da forma constitui a substância, e esta,
por sua vez, é o substrato imutável, em que se sucedem os acidentes, as qualidades
acidentais. A mudança, portanto, consiste ou na sucessão de várias formas na
mesma essência, forma concretizada da matéria, que constitui precisamente a
substância.

A matéria sem forma, a pura matéria, chamada matéria-prima, é um mero


possível, não existe por si, é um absolutamente interminado, em que a forma
introduz as determinações. A matéria aristotélica, porém, não é o puro não-ser de

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Platão, mero princípio de decadência, pois ela é também condição indispensável


para concretizar a forma, ingrediente necessário para a existência da realidade
material, causa concomitante de todos os seres reais.

Então não existe, propriamente, a forma sem a matéria, ainda que a forma
seja princípio de atuação e determinação da própria matéria. Com respeito à
matéria, a forma é, portanto, princípio de ordem e finalidade, racional, inteligível.
Diversamente da idéia platônica, a forma aristotélica não é separada da matéria, e
sim imanente e operante nela. Ao contrário, as formas aristotélicas são universais,
imutáveis, eternas, como as idéias platônicas.

Os elementos constitutivos da realidade são, portanto, a forma e a matéria. A


realidade, porém, é composta de indivíduos, substâncias, que são uma síntese – um
sínolo - de matéria e forma. Por conseqüência, estes dois princípios não são
suficientes para explicar o surgir dos indivíduos e das substâncias que não podem
ser atuados - bem como a matéria não pode ser atuada - a não ser por um outro
indivíduo, isto é, por uma substância em ato. Daí a necessidade de um terceiro
princípio, a causa eficiente, para poder explicar a realidade efetiva das coisas. A
causa eficiente, por sua vez, deve operar para um fim, que é precisamente a síntese
da forma e da matéria, produzindo esta síntese o indivíduo. Daí uma quarta causa, a
causa final, que dirige a causa eficiente para a atualização da matéria mediante a
forma.

III. Mediante a doutrina da matéria e da forma, Aristóteles explica o indivíduo, a


substância física, a única realidade efetiva no mundo, que é precisamente síntese -
sínolo - de matéria e de forma. A essência - igual em todos os indivíduos de uma
mesma espécie - deriva da forma; a individualidade, pela qual toda substância é
original e se diferencia de todas as demais, depende da matéria. O indivíduo é,
portanto, potência realizada, matéria enformada, universal particularizado. Mediante

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esta doutrina é explicado o problema do universal e do particular, que tanto


atormenta Platão; Aristóteles faz o primeiro - a idéia - imanente no segundo - a
matéria, depois de ter eficazmente criticado o dualismo platônico, que fazia os dois
elementos transcendentes e exteriores um ao outro.

IV. Da relação entre a potência e o ato, entre a matéria e a forma, surge o


movimento, a mudança, o vir-a-ser, a que é submetido tudo que tem matéria,
potência. A mudança é, portanto, a realização do possível. Esta realização do
possível, porém, pode ser levada a efeito unicamente por um ser que já está em ato,
que possui já o que a coisa movida deve vir-a-ser, visto ser impossível que o menos
produza o mais, o imperfeito o perfeito, a potência o ato, mas vice-versa. Mesmo
que um ser se mova a si mesmo, aquilo que move deve ser diverso daquilo que é
movido, deve ser composto de um motor e de uma coisa movida. Por exemplo, a
alma é que move o corpo. O motor pode ser unicamente ato, forma; a coisa movida -
enquanto tal - pode ser unicamente potência, matéria. Eis a grande doutrina
aristotélica do motor e da coisa movida, doutrina que culmina no motor primeiro,
absolutamente imóvel, ato puro, isto é, Deus.

A Psicologia

Objeto geral da psicologia aristotélica é o mundo animado, isto é, vivente, que


tem por princípio a alma e se distingue essencialmente do mundo inorgânico, pois, o
ser vivo diversamente do ser inorgânico possui internamente o princípio da sua
atividade, que é precisamente a alma, forma do corpo. A característica essencial e
diferencial da vida e da planta, que tem por princípio a alma vegetativa, é a nutrição
e a reprodução. A característica da vida animal, que tem por princípio a alma
sensitiva, é precisamente a sensibilidade e a locomoção. Enfim, a característica da
vida do homem, que tem por princípio a alma racional, é o pensamento. Todas estas
três almas são objeto da psicologia aristotélica. Aqui nos limitamos à psicologia

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racional, que tem por objeto específico o homem, visto que a alma racional cumpre
no homem também as funções da vida sensitiva e vegetativa; e, em geral, o
princípio superior cumpre as funções do princípio inferior. De sorte que, segundo
Aristóteles diversamente de Platão todo ser vivo tem uma só alma, ainda que haja
nele funções diversas faculdades diversas porquanto se dão atos diversos. E assim,
conforme Aristóteles, diversamente de Platão, o corpo humano não é obstáculo, mas
instrumento da alma racional, que é a forma do corpo.

O homem é uma unidade substancial de alma e de corpo, em que a primeira


cumpre as funções de forma em relação à matéria, que é constituída pelo segundo.
O que caracteriza a alma humana é a racionalidade, a inteligência, o pensamento,
pelo que ela é espírito. Mas a alma humana desempenha também as funções da
alma sensitiva e vegetativa, sendo superior a estas. Assim, a alma humana, sendo
embora uma e única, tem várias faculdades, funções, porquanto se manifesta
efetivamente com atos diversos. As faculdades fundamentais do espírito humano
são duas: teorética e prática, cognoscitiva e operativa, contemplativa e ativa. Cada
uma destas, pois, se desdobra em dois graus, sensitivo e intelectivo, se se tiver
presente que o homem é um animal racional, quer dizer, não é um espírito puro,
mas um espírito que anima um corpo animal.

O conhecimento sensível, a sensação, pressupões um fato físico, a saber, a


ação do objeto sensível sobre o órgão que sente, imediata ou à distância, através do
movimento de um meio. Mas o fato físico transforma-se num fato psíquico, isto é, na
sensação propriamente dita, em virtude da específica faculdade e atividade
sensitivas da alma. O sentido recebe as qualidades materiais sem a matéria delas,
como a cera recebe a impressão do selo sem a sua matéria. A sensação embora
limitada é objetiva, sempre verdadeira com respeito ao próprio objeto; a falsidade, ou
a possibilidade da falsidade, começa com a síntese, com o juízo. O sensível próprio
é percebido por um só sentido, isto é, as sensações específicas são percebidas,
respectivamente, pelos vários sentidos; o sensível comum, as qualidades gerais das

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coisas tamanho, figura, repouso, movimento, etc. são percebidas por mais sentidos.
O senso comum é uma faculdade interna, tendo a função de coordenar, unificar as
várias sensações isoladas, que a ele confluem, e se tornam, por isso,
representações, percepções.

Acima do conhecimento sensível está o conhecimento inteligível,


especificamente diverso do primeiro. Aristóteles aceita a essencial distinção
platônica entre sensação e pensamento, ainda que rejeite o inatismo platônico,
contrapondo-lhe a concepção do intelecto como tabula rasa, sem idéias inatas.
Objeto do sentido é o particular, o contingente, o mutável, o material. Objeto do
intelecto é o universal, o necessário, o imutável, o imaterial, as essências, as formas
das coisas e os princípios primeiros do ser, o ser absoluto. Por conseqüência, a
alma humana, conhecendo o imaterial, deve ser espiritual e, quanto a tal, deve ser
imperecível.

Analogamente às atividades teoréticas, duas são as atividades práticas da


alma: apetite e vontade. O apetite é a tendência guiada pelo conhecimento sensível,
e é próprio da alma animal. Esse apetite é concebido precisamente como sendo um
movimento finalista, dependente do sentimento, que, por sua vez depende do
conhecimento sensível. A vontade é o impulso, o apetite guiado pela razão, e é
própria da alma racional. Como se vê, segundo Aristóteles, a atividade fundamental
da alma é teorética, cognoscitiva, e dessa depende a prática, ativa, no grau sensível
bem como no grau inteligível.

A Cosmologia

Uma questão geral da física aristotélica, como filosofia da natureza, é a análise dos
vários tipos de movimento, mudança, que já sabemos ser passagem da potência ao

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ato, realização de uma possibilidade. Aristóteles distingue quatro espécies de


movimentos:

1. Movimento substancial - mudança de forma, nascimento e morte;

2. Movimento qualitativo - mudança de propriedade;

3. Movimento quantitativo - acrescimento e diminuição;

4. Movimento espacial - mudança de lugar, condicionando todas as demais espécies


de mudança.

Outra especial e importantíssima questão da física aristotélica é a


concernente ao espaço e ao tempo, em torno dos quais fez ele investigações
profundas. O espaço é definido como sendo o limite do corpo, isto é, o limite imóvel
do corpo "circundante" com respeito ao corpo circundado. O tempo é definido como
sendo o número - isto é, a medida - do movimento segundo a razão, o aspecto, do
"antes" e do "depois". Admitidas as precedentes concepções de espaço e de tempo -
como sendo relações de substâncias, de fenômenos - é evidente que fora do mundo
não há espaço nem tempo: espaço e tempo vazios são impensáveis.

Uma terceira questão fundamental da filosofia natural de Aristóteles é a


concernente ao teleologismo - finalismo - por ele propugnado com base na
finalidade, que ele descortina em a natureza. "A natureza faz, enquanto possível,
sempre o que é mais belo". Fim de todo devir é o desenvolvimento da potência ao
ato, a realização da forma na matéria.

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Quanto às ciências químicas, físicas e especialmente astronômicas, as


doutrinas aristotélicas têm apenas um valor histórico, e são logicamente separáveis
da sua filosofia, que tem um valor teorético. Especialmente célebre é a sua doutrina
astronômica geocêntrica, que prestará a estrutura física à Divina Comédia de Dante
Alighieri.

Juízo sobre Aristóteles

É difícil aquilatar em sua justa medida o valor de Aristóteles. A influência


intelectual por ele até hoje exercida sobre o pensamento humano e à qual se não
pode comparar a de nenhum outro pensador dá-nos, porém, uma idéia da
envergadura de seu gênio excepcional. Criador da lógica, autor do primeiro tratado
de psicologia científica, primeiro escritor da história da filosofia, patriarca das
ciências naturais, metafísico, moralista, político, ele é o verdadeiro fundador da
ciência moderna e "ainda hoje está presente com sua linguagem científica não
somente às nossas cogitações, senão também à expressão dos sentimentos e das
idéias na vida comum e habitual".

Nem por isso podemos deixar de apontar as lacunas do seu sistema. Sua
moral, sem obrigação nem sanção, é defeituosa e mais gravemente defeituosa ainda
que a teodicéia, sobretudo na parte que trata das relações de Deus com o mundo. O
dualismo primitivo e irredutível entre Deus, ato puro, e a matéria, princípio potencial,
é, na própria teoria aristotélica, uma verdadeira contradição e deixa subsistir, como
enigma insolúvel e inexplicável, a existência dos seres fora de Deus.

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Vista Retrospectiva

Com Sócrates entre a filosofia em seu caminho definitivo. O problema do


objeto e da possibilidade da ciência é posto em seus verdadeiros termos e resolvido,
nas suas linhas gerais, pela doutrina do conceito.Platão dá um passo além,
procurando determinar a relação entre o conceito e a realidade, mas encalha, dum
lado, nas dificuldades insolúveis de um realismo exagerado; de outro, nas
extravagâncias dum idealismo extremo. Aristóteles, com o seu espírito positivo e
observador, retoma o mesmo problema no pé em que o pusera Platão e dá-lhe, pela
teoria da abstração e da inteligência ativa, uma solução satisfatória e definitiva nos
grandes lineamentos. Em torno desta questão fundamental, que entende com a
metafísica, a psicologia e a lógica, se vão desenvolvendo harmoniosamente as
outras partes da filosofia até constituírem em Aristóteles esta grandiosa síntese do
saber universal, o mais precioso legado da civilização grega que declinava à
civilização ocidental que surgia.

BIBLIOGRAFIA

© Texto elaborado por Rosana Madjarof

OBRAS UTILIZADAS

DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos, São
Paulo, Editora Nacional, 1.ª edição, 1926.

FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.

PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições


Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.

VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos,


Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 4.ª edição, 1980.

Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição,


vol.I, agosto 1973.

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Instruções finais

Você acabou de estudar todo o material disponível para o Grau Dois de


Acadêmico Maçom.

No final desta apostila existe uma “folha de prova” que contém as mesmas
questões que estão nas lições. O aluno deverá responder todas as perguntas e
enviar a folha para ser corrigida pelo IBEMAC, o endereço para envio é IBEMAC –
Caixa Postal nº 51 – Monte Aprazível/SP Cep 15150-970.

Lembre-se de preencher seus dados no início da prova.

Você receberá, através dos correios, a prova corrigida e – se atingir média 5,0
(cinco) – receberá o Certificado de Aprovação. Caso não atinja a média mínima
necessária terá uma segunda chance para refazer a prova.

Uma vez aprovado terá o direito a se inscrever para o Grau Três, para isso
inscreva-se através do contato@ibemac.com.br .

Continue seus estudos, persista sempre, tenha disciplina e saiba que o maior
e melhor investimento que você pode fazer é em você mesmo.

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estudar cada vez mais.

Esperamos você nos próximos cursos. Até lá e conte sempre conosco. O


Mestre da sua classe se despede.

Diretoria do IBEMAC

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Folha de Provas do Grau Dois

Nome do Aluno:

Endereço:

E-mail:

Tel: ( ) Operadora ( ) TIM ( ) Vivo ( ) Oi ( ) Claro ( )

Média Final:

1. Neste Grau, o iniciado deve se preocupar com vários aspectos do ritual e da


ritualística, voltando a sua atenção para os detalhes do simbolismo. O
Companheiro é, por excelência do título, o amigo ideal de todos: é
Companheiro dos Aprendizes, dos demais Companheiros e dos Mestres.
Assim, a sua especialização é “andar ombro-a-ombro”, amparar à todos os
necessitados, auxiliar os outros Companheiros nessa nova estrada e aos
Mestres na árdua missão de orientar à todos da Loja.
Este texto esta ( ) certo ou ( ) errado

2. O sentimento que deve dominar o Companheiro é a Fraternidade, enquanto o


Aprendiz é movido pelo ideal da Liberdade.
Este texto esta ( ) certo ou ( ) errado

3. A palavra Companheiro é de origem latina, o seu significado, entretanto


comporta várias explicações; a mais coerente para a Maçonaria é que este
termo deriva da locução latina “cun panis”, onde cum é preposição (com) e
panis é o substantivo masculino pão. O melhor entendimento da palavra nos
leva a compreender que Companheiro é aquele que divide o mesmo pão e
em um entendimento mais extenso, podemos acrescentar, que é aquele que
divide o peso, o mesmo caminho, as mesmas tarefas, ampliando o significa
filosófico de pão.
Este texto esta ( ) certo ou ( ) errado

4. Esta Lenda refere-se ao episódio bíblico em que, logo após ganhar uma
batalha, conforme narra “Juízes 12 (1-7)” com um exercito formado pela
junção de várias tribos, menos a dos efraimita que se revoltaram pelo fato de
não terem sido convidados pois a vitória trouxe direito sobre os despojos do
inimigo vencido, resolveram entrar em batalha contra os geleaditas, pois
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culparam o seu General Jetfé pela ofensa; após a batalha entre essas duas
tribos, os gileaditas saíram vencedores e o General Jatfé proibiu que os
efraimitas permanecessem naquela aldeia, porem como todos eram muito
parecidos, havia uma dificuldade aparente para distingui-los, então Jetfé
iluminado pelo Senhor, criou uma senha através de uma palavra de passe, a
qual possuía uma letra de difícil pronuncia pelos efraimitas,
Este texto esta ( ) certo ou ( ) errado

5. Esta Loja de Estudos, adota como significado da letra G, para o Grau de


Companheiro, que se trata da representação de GEOMETRIA, preservando
assim, a originalidade desta letra, uma vez que se o grau compreende a
construção social, a construção do indivíduo, a formação geométrica do
Universo, lembrando sempre que o Criador é conhecido, por nós, como o
Grande Geômetra do Universo. Compreendendo a letra G e seu significado, o
Companheiro tomará consciência da sua real participação na vida como
Maçom.
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6. Essas são as SETE ARTES LIBERAIS (GRAMÁTICA, RETÓRICA,


DIALÉTICA, ARITMÉTICA, GEOMETRIA, ASTRONOMIA e MÚSICA).
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7. SÓCRATES, foi o fundador da Escola Pitagórica, que reunia todas as artes


como matérias obrigatórias para a educação do ser humano. A sua intenção
era apresentar todas as instruções para que o aluno, conhecendo-as,
pudesse optar por qual área do conhecimento humano tinha maior dom ou
inclinação. ..costumava observar seus alunos a ponto de definir se eram
inspirados (já nasciam com a tendência para certas artes) ou se eram
capacitados (aqueles que tinham disciplina para aprender o que o dom
natural não lhes dera desde o nascimento).
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8. O Grau de Companheiro Maçom sempre foi dedicado a Pitágoras


(matemático) e Orfeu (simbolismo). Lembra-se muito de Pitágoras e não se
faz referência alguma a Orfeu, sinal que a Maçonaria alterou seus
ensinamentos. Orfeu era lembrado por Pitágoras e Platão em seus discursos.
As Escolas de Mistérios Pitagóricos tinham em Orfeu a máxima inspiração
para um dos seus graus.
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9. As disciplinas do TRIVIUM – Gramática, Retórica e Dialética – tinham por


finalidade manifestar a expressão do pensamento. A Gramática, entretanto,
foi considerada como principal disciplina que permitia nomear as coisas, aqui
entendido como explicá-las completamente. A Retórica preparava a beleza do
discurso e a Dialética proporcionava a lógica do raciocínio.
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10. Sócrates, Platão, Aristóteles e Pitágoras são os principais filósofos abordados


no Grau de Companheiro.
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Recomendação: Para enviar a sua folha de prova para o IBEMAC faça uma
cópia desta (Xerox), assim você não terá que destaca-la da apostila.

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