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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Feminicidio

O feminicidio é o assassinato de uma mulher, pelo simples fato de ser mulher,


sendo assim, é uma violência em razão de gênero. O feminicidio tem como característica
as mortes intencionais e violentas de mulheres em decorrência de seu sexo e nem
sempre são eventos isolados na vida das mulheres, podendo ser resultado das
diferenças de poder entre os homens e mulheres nos diferentes contextos
socioeconômicos que se apresentam.

2.2. A desigualdade de gênero

A desigualdade entre o gênero masculino e feminino, são efeitos da subordinação


da mulher, tendo em vista que em termos biológicos não há justificativa para existência
desta diferença, é somente uma questão ideológica que coloca a mulher em uma
condição de submissão.

O ser masculino e feminino determinam a maneira de ser do homem e da mulher,


no entanto na sociedade espera-se que a mulher seja submissa e cuide da família e o
homem seja o provedor, detentor do poder na relação, levando assim o homem a
acreditar que a mulher foi feita somente para servi-los. Esse modo de ver a mulher muitas
das vezes desencadeiam em violência devido ao fato de se acharem superiores, de se
acharem donos de suas mulheres, tendo em vista que o feminicidio acontece na maioria
das vezes com mulheres com as quais o agressor tenha algum laço afetivo.

Na concepção de AUAD (2003) homens e mulheres são diferentes, mas não deve
haver desigualdade de direitos entre eles, desta forma podemos perceber que as
diferenças devem ater-se somente ao campo físico, sentimental, mas jamais deveria
haver diferença de direitos, homens e mulheres deveriam ter direitos e deveres iguais,
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sem descriminação, pois a capacidade de cada um e os direitos não estão limitados a


condição de gênero masculino ou feminino, infelizmente não é isso que acontece, pois
cada vez mais, podemos perceber em nossa sociedade a discriminação da mulher, que é
desvalorizada, tratada como objeto, com um ser inferior e que deve se submeter a
vontade daqueles a quem depositaram a confiança de sua vida, de sua integridade e que
muitas das vezes acaba por perder a vida, por serem mulheres.

Na concepção de Desarte Suarez (2000), o gênero demonstra a ligação entre


homens, mulheres e a natureza com finalidade mesmo que simbólica, da igualdade entre
eles. Neste sentido, o conceito de gênero e compreendido como a desnaturalização do
sexo, como caraterização biológica de cada indivíduo delimitando o poder entre os sexos.

Assim a mulher é vista como passiva, enquanto as atividades ativas caracterizam o


gênero masculino, assim o conhecimento do gênero permite pensar nas diferenças sem
transforma-las em desigualdade, ou seja, sem que as diferenças sejam ponto de partida
para a discriminação para a violência e até mesmo para a morte.

A diferença de gênero também está presente na vida econômica da mulher,


segundo dados do Índice Global de Desigualdade de Gênero em 2015, que levou em
conta dados de 134 países, o Brasil ficou em 133º posição, ou seja, o segundo pior, na
frente apenas de Angola, ainda segundo o Índice, a mulher no Brasil ganha menos da
metade do salário dos homens que atuam em trabalhos similares, aponta o estudo.

De acordo com o índice a renda média anual das mulheres no Brasil e bem menor
que a dos homens. Para as mulheres é estimada R$ 44,9 mil por ano em média,
enquanto que para os homens e de R$ 76,3 mil anuais. Os homens também tem maior
participação no mercado de trabalho, com 85% deles empregados ou procurando
emprego, entre as mulheres esse número cai para 65%.

Além disso, os homens representam 63% dos funcionários públicos de alto escalão
diretores e legisladores, contra 37% de participação das mulheres.
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2.3 A legitimação da violência contra a mulher

O padrão comportamental do indivíduo é definido pela família, os meninos são


educados para serem fortes, impávidos e até mesmo agressivos em algumas situações,
outro fato que se ensina aos meninos e que os mesmos possuem necessidades sexuais
diferentes das mulheres, o que justifica a necessidade de terem outros relacionamentos,
ao passo que a mulher deve ser fiel, pois pertence ao seu companheiro.

Regina Lins (2011) cita que existe uma organização social com base no poder do
pai, em que os descendentes seguem a linha do masculino, na qual as mulheres são
consideradas inferiores e como consequência subordinada a sua dominação, a essa
organização deu o nome de patriarcado.

Uma forma de se perceber que o patriarcado passa por vezes despercebidos esta
no fato de a mulher receber o sobrenome do marido ao se casar, ou seja, esse domínio já
se tornou natural.

O patriarcado é um sistema autoritário tão bem sucedido que se


sustenta porque as pessoas subordinadas ajudam a estimular a
subordinação. Ideias novas geralmente desqualificadas e tentativas
de modificação do costume são rejeitados explicitamente, inclusive
pelas próprias mulheres que mesmo oprimidas, clamam pela
manutenção de valores conservadores. A abrangência da ideologia de
dominação e ampla, partindo da opressão do homem sobre a mulher,
a mentalidade patriarcal se estende a outras esferas da dominação.

Lins, 2011. P.42-43

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º inciso I e art. 226, § 5º iguala


homens e mulheres, mas ainda assim a ideologia do patriarcado permanece.

Existe ainda a divisão segundo o sexo dos papeis que cada um deve desempenhar
dentro da sociedade que vem acompanhado da ideologia da construção da hierarquia dos
sexos, no qual o masculino sempre é superior ao feminino, o que legitima a diferenciação
dos sexos, são os valores associados a divisão sexual nas esferas pública e privada (Dias
2015).
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Segundo Damásio de Jesus (2015, p.7)

Nas sociedades onde a definição de gênero feminino tradicionalmente é


referida a esfera familiar e a maternidade, a referência fundamental da
construção social do gênero masculino é sua atividade na esfera pública,
concentrador dos valores materiais, o que faz dele o provedor e protetor
da família. Enquanto atualmente, nessas mesmas sociedades as
mulheres estão maciçamente presentes na força de trabalho e no mundo
público, a distribuição da violência reflete a tradicional divisão dos
espaços: o homem é a vítima da violência na esfera pública e a violência
contra a mulher é perpetuada no âmbito doméstico, onde o agressor é,
mais frequentemente o próprio parceiro.

Diante disso, é notório a criação dos mundos, sendo um de dominação (externo e


produtor), o homem e o outro de submissão (interno e reprodutor), a mulher, sendo
destinado a esta o papel de submissão, a inferiorização da mulher esta longe de ser
extinguido.

Segundo Engels, 1997, p.75 a mulher foi degradada, convertida em servidora, em


escrava do prazer do homem e um mero instrumento de reprodução.

A mulher por si mesma, já se denomina como o ser frágil, que necessita de


proteção e delega ao homem o papel de provedor e protetor, fazendo com que o
sentimento de superioridade cresça cada vez mais, dando ao homem a certeza de que é
dono do corpo e da vontade da mulher, essa falsa consciência de poder assegura ao
homem o suposto direito de fazer uso da força física e superioridade corporal sobre a
mulher.

Desta forma podemos perceber que o patriarcado legitima a violência contra a


mulher, uma vez que para a própria sociedade tem sustentado esse fato.

2.4 os tipos de violência contra a mulher

Os tipos de violência perpetrados contra a, uma vez em regra, entende-se por


violência somente a física que apesar de ser a mais denunciada e divulgada são diversas
as expressões que a violência pode ter. Segundo a Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha
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em seu art. 7º versa sobre os diversos tipos de violência doméstica e familiar contra a
mulher, entre outras:

I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal;

II – a violência psicológica, entendida com qualquer conduta que lhe , dano


emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, isolamento, vigilância constante, perseguição costumaz, insulto,
chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo a saúde psicológica e a
autodeterminação;

III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a


presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimação ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimonio, a gravidez, ao aborto ou a
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure


retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetivos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calunia,

2.4.1 violência física

A violência física acontece quando para agredir usa-se a força física ou de arma
que provoque lesões como socos, bofetadas, empurrões, mordidas, tapas, chutes, cortes,
queimaduras, fraturas, estrangulamento ou lesões por armas ou objetos, entre outros.

A violência contra a mulher muitas das vezes não se inicia fisicamente, geralmente
o início se da por meio de violência moral e psicológica, evoluindo para agressão física,
uma vez que a mulher já encontra-se fragilizada e não consegue reagir.

A violência física esta prevista nos artigos 121 §2º VI e 129 do Código Penal
Brasileiro como lesão corporal e feminicidio, na Lei de Contravenções Penais art. 21,
destaca que
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A prática da violência de gênero e transmitida de


geração em geração, tanto para homens quanto para
mulheres. Basicamente tem sido o primeiro tipo de
violência em que o ser humano é colocado em contato. A
partir daí, as pessoas aprendem outras práticas violentas.
E ele torna-se de tal forma arraigada no âmbito das
relações humanas que é vista como se fosse natural, como
se fizesse parte da natureza humana. A sociedade legitima
tais condutas violentas e, ainda nos dias de hoje, é comum
ouvir que as mulheres gostam de apanhar. Isso dificulta a
denúncia e a implantação de processos preventivos que
poderão desarraigar por fim a pratica de violência de
gênero. A erradicação da violência social e política passa
necessariamente pelo fim da violência de gênero, que, sem
dúvida, dá origem aos demais tipos de violência.

2.4.2 Violência Psicológica

A violência psicológica, consiste em uma agressão emocional, que é tão ou mais


grave que a agressão física, esse tipo de violência ocorre no momento em que o
causador da agressão ameaça, rejeita ou discrimina a vítima.

O praticante desse tipo de agressão sente prazer em ver a vítima com medo,
diminuída, segundo Dias, 2015, esse tipo de violência é denominada Vis Compulsiva.

Esse tipo de violência é previsto no art. 147 do Código Penal, como crime de
ameaça. Segundo Jones Figueiredo Alves (2014),

De ver que a clausula qualquer outro meio, contida no dispositivo, implica


em refletir situações não previstas, uma delas podendo ser considerada a
própria dependência econômica da mulher, que sirva de causa eficiente e
deliberada para a dominação psicológica. No viés, é também causa
determinante de dominação a que se submete a mulher por insegurança
quanto a manutenção de sua própria subsistência.
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A violência psicológica não causa dores físicas, mas sim deixa marcas na
alma, fazendo que suas consequências sejam mais graves, pois muitos usam de palavras
fortes para demonstrar a sua companheira o quanto ele a considera inferior, tentando
demonstrar de todas as formas a sua suposta superioridade, causando desta forma
marcas que as mulheres jamais esqueceram.

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