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05/02/2019 Direito do Consumidor 29/08/11

Direito do Consumidor
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Conclusão da relação de consumo, diálogo das fontes e
conceito de fornecedor

Na aula passada falávamos sobre consumidor. Recapitulando:


trabalhamos com o elemento teleológico da relação de consumo, que é formada
pelos elementos subjetivos, que são consumidor e fornecedor, o objetivo, que é o
objeto da relação, e o elemento teleológico, que define se uma pessoa é ou não
consumidora do ponto de vista da intenção. Qual a intenção daquele que adquire
produtos ou serviços no mercado.

Trabalhamos com duas correntes muito importantes: primeira foi a


maximalista, ou objetiva, e a segunda, a finalista ou subjetiva. Pela maximalista,
não importa a intenção do consumidor. Não importa se este comprará o produto
para fins econômicos. Ele poderá comprar livro para usar na advocacia, adquirir
ou materiais de escritório. Isso não retira dele a característica de consumidor. O
intuito econômico não importa. Por outro lado, vimos que, pela teoria finalista,
importa o intuito daquele que compra do produto ou adquire o serviço, na medida
em que se ele adquire o serviço e, com este, lucrará de alguma forma, ou com o
produto, então pela teoria finalista este que adquiriu o produto com a intenção de
lucrar não será considerado consumidor. Significa dizer que pela teoria finalista
pura, um advogado que compra um livro de direito para elaborar uma petição não
é consumidor, porque tem a intenção de lucro.

A pergunta é: qual das duas teorias prevalece no ordenamento jurídico


brasileiro mesmo? Nenhuma das duas. Existe uma terceira corrente, que é uma
derivação da segunda, que é a teoria do finalismo aprofundado, muito bem
defendida por Claudia Lima Marques, adotada pelo STJ, que será consumidor toda
pessoa física ou jurídica que, no caso concreto, se apresentar como vulnerável. Se
houver vulnerabilidade fática, técnica ou jurídica, então esta pessoa, seja física ou
jurídica, poderá ser considerada consumidor.

Isso é fundamental, e assim conseguimos classificar o consumidor, e, a


partir do momento em que conseguimos classificá-lo, temos uma relação jurídica
de consumo. E só existe a incidência do Código de Defesa do Consumidor se
houver a relação jurídica de consumo. O objeto é bem simples: produtos ou
serviços.

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O negócio é o seguinte: tudo o que vimos na aula passada, que é muito


importante, se restringe a um único artigo, que é o art. 2º do Código de Defesa do
Consumidor.

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produto ou serviço como destinatário final.

[...]

Mas temos quatro conceitos de consumidor dentro do Código de Defesa


do Consumidor. Falamos só de um deles! Trabalhamos com o caput do art. 2º.
Existem mais três. E, de forma perfunctória, superficial, vamos ver os três outros
conceitos. De forma superficial porque não entraremos diretamente nesses
conceitos aprofundando. Teremos o momento certo. Temos que ter em mente
todos os conceitos de consumidor porque estamos vendo a relação jurídica de
consumo.

O segundo dispositivo que conceitua o consumidor é o parágrafo único do


mesmo art. 2º.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda


que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

A coletividade de pessoas equipara-se a consumidor. O que esse parágrafo


quer dizer? Que hoje o consumidor é visto como um grupo, uma categoria
diferenciada, e, enquanto categoria, poderão ser reconhecidos direitos que
chamamos de metaindividuais, ou transindividuais. Como assim? Temos a
categoria dos trabalhadores. Temos a categoria dos funcionários de uma
siderúrgica. E também a categoria dos servidores públicos, e hoje temos a
categoria dos consumidores. E esta categoria assim reconhecida possui um direito
metaindividual. O que significa dizer isso? Que, quando há a violação a um direito
metaindividual por uma determinada empresa, como um carro sair de fábrica com
um defeito, prejudicando cem mil consumidores, como se trata de um direito de
uma categoria, existe um órgão que pode fiscalizar, controlar, e que pode, em
nome desta categoria, ajuizar uma ação em defesa dessa categoria. Diga-se, antes
de qualquer coisa, que não existe sindicato dos consumidores. Quem faria sua
função é o próprio Ministério Público. Quem defende em juízo direitos
metaindividuais essencialmente é o Ministério Público. E não somente o MP. Sou
procurador, e quero ajuizar uma ação contra determinada fábrica que lançou no
mercado veículos com um vício. O que posso fazer? Aproveitar-me do art. 2º,
parágrafo único e dizer que consumidor é a coletividade de pessoas. Como defendo
interesses coletivos, eu posso, em nome próprio, como membro do MP, ajuizar
uma ação fundamentando minha legitimidade no art. 2º, parágrafo único, do CDC.

Note que consumidor não é mais somente o indivíduo. Se fosse, cada um


teria que defender sua própria causa. Já que é categoria, o Ministério Público pode
defendê-la. E se aproveita do parágrafo único do art. 2º para ajuizar uma ação, e
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demonstra em juízo que tem legitimidade. O parágrafo único do art. 2º serve aos
órgãos de proteção de direitos coletivos, metaindividuais. Se você está com um
problema, e está com o liquidificador quebrado em casa e vai ajuizar uma ação
contra a Walita, você fundamentará no caput do art. 2º, e não do parágrafo único
daquele artigo. Você quer mostrar sua legitimidade individual, em defesa de seu
direito individual enquanto consumidor. Ou, se você for representante de um
órgão de defesa do consumidor, IDEC por exemplo, você fundamentará no
parágrafo único. Não é somente o MP que fundamenta a legitimidade no parágrafo
único do art. 2º.

Outra observação: ser a empresa demandada de abrangência nacional não


faz deslocar a competência para a Justiça Federal. O que faz deslocar a Justiça
Federal é o interesse da União. Não interessa a localização da sede para a fixação
da competência.

Próximo conceito de consumidor: art. 17 do Código:

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as
vítimas do evento.

Vejam: Dona Clotilde, que está próxima de seus 120 anos, com seu
andador, atravessando na faixa de pedestres, a uma velocidade de 0,25km/h, é
atropelada por um ônibus. Dona Clotilde não estava dentro do ônibus e não havia
pagado a passagem. Pode até ter terminado dentro dele ao final desse processo.
Mas não estabeleceu um contrato com a empresa de transportes. A pergunta é:
neste caso, dona Clotilde poderia se aproveitar do Código de Defesa do
Consumidor para defender, em juízo, seus direitos? Ou ela terá que recorrer ao
Código Civil e pedir o reconhecimento da responsabilidade civil da empresa?

Existe uma relação de consumo “envolvida nesse evento”? Como assim


uma relação de consumo envolvida? Alguém está prestando serviço para alguém, e
ganhando dinheiro com isso? Sim. Uma empresa de ônibus está prestando o
serviço e ganhando com a tarifa que se cobra. Há a relação de consumo, mas a
priori seria entre o passageiro e a empresa prestadora do serviço. Mas, em virtude
da prestação do serviço, houve um acidente, um atropelamento. A vítima
equipara-se, para efeitos jurídicos, a consumidor, mesmo que não tenha
contratado os serviços de transporte.

Mais um caso: churrascão na casa da Tawanna, com cerveja, no jogo do


Flamengo sábado que vem. Vitor foi convidado. Ele, como um bom apreciador de
bebidas alcoólicas, resolve beber cerveja. Mas Tawanna ofereceu uma cerveja
completamente excêntrica, e Vitor não sabia abrir a lata. Quando conseguiu,
cortou a mão. Vitor pode ajuizar uma ação com base no Código de Defesa do
Consumidor contra a empresa que fabricou essa cerveja? Pode! Há relação
jurídica, mesmo que quem a tenha adquirido seja a Tawanna. Vitor é vítima do
evento, de um acidente de consumo. Ele se equipara a consumidor.

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E, se demandar contra a empresa fornecedora da cerveja, Vitor


provavelmente pedirá inversão do ônus da prova, imediatamente.

Mais um conceito de consumidor. Art. 29 do Código:

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos


consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas
nele previstas.

Temos que ler para saber do que se trata este capítulo referido pelo art.
29. O capítulo é “Das Práticas Comerciais”. Vamos entrar um pouco mais nas
práticas comerciais. Quando o CDC se refere às práticas comerciais, ele trabalha
basicamente com duas coisas: cláusulas abusivas em um contrato, e publicidade.
Vamos ver a publicidade: todos aqueles que estiverem sujeitos a uma publicidade
enganosa ou abusiva têm legitimidade para ajuizar uma ação e são considerados
consumidores. Então, o fato de estarmos sujeitos, por exemplo, a uma publicidade,
já nos classifica como consumidores. "Mas não vi o anúncio, e não liguei a TV
quando passava a propaganda!" Isso não importará. Basta que estejamos sujeitos à
publicidade. Não vi a publicidade, e poderíamos ter visto. A publicidade é
potencialmente prejudicial.

Quando se trata de publicidade, acabará que, em vista do desinteresse


daqueles em ajuizarem uma ação por publicidade enganosa ou abusiva, e pela
abstração, quem irá acionar, na maioria das vezes, será o Ministério Público. Mas
já saibam: todos os que estiverem expostos a práticas comerciais são considerados
consumidores para efeito do art. 29 do Código do Consumidor. Ou seja, temos,
agora, quatro definições de consumidor.

Mais interessante é o seguinte: se todos que estão expostos são


consumidores, então por que vimos toda aquela teoria do art. 2º, caput? É que
nem todos são consumidores. Quando virmos o art. 29 e seguintes, veremos as
práticas comerciais que classificarão as pessoas como consumidores. Vítima de
acidente é consumidor pelo art. 17, e não pelo art. 29. Significa que estamos
trabalhando com o conceito de consumidor de forma superficial porque não vimos
ainda direitos difusos e coletivos aplicados ao Código de Defesa do Consumidor.
Também não vimos ainda fato do produto e do serviço. Por isso não temos ainda
como ver com precisão o que quer dizer o art. 17, e também não vimos práticas
comerciais. Mas, de antemão, já sabemos que existem quatro conceitos. Art. 2º,
caput, art. 2º, parágrafo único, art. 17 e art. 29.

Não se busca acionar a empresa por dano hipotético, mas por dano
potencial. A sanção pode se dar em três esferas: civil, quando temos um dano
efetivo, administrativa, pela mera potencialidade, ou na penal, quando há a
satisfação da conduta tipificada.

Diálogo das fontes

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Expressão adorada por doutrinadores de Direito do Consumidor,


introduzida no Direito Brasileiro por Claudia Marques. Explica de que maneira
que o CDC dialoga com, primeiramente, o Código Civil; quando o CDC irá
prevalecer, quando o Código Civil irá prevalecer, e como o CDC se comporta em
relação a outras leis. Para o Código de Defesa do Consumidor, todos os
fornecedores são solidários. Art. 6º. Ou seja, desde aquele que produz, que cria,
aquele que distribui, até o comerciante seriam solidários, em tese. Viaje um pouco
e vamos trabalhar com um tipo de produto intelectual. Exemplo: música ou filme,
bem imaterial, que não se esgota. É interessante a questão de não se esgotar
porque nós, no mundo, temos bens esgotáveis e bens não esgotáveis. O livro é
esgotável porque não pode ser possuído simultaneamente. Nem todos têm acesso
a bens materiais. Mas músicas não são retiráveis, não são esgotáveis. O controle
sobre isso se torna muito difícil, principalmente com a Internet. Daí o diálogo das
fontes. Temos uma determinada música, e todos os fornecedores são responsáveis.
Compro um CD do Roberto Carlos, maneiríssimo. Ele vem com um arranhado. É
um produto viciado, e não consigo ouvir. Enquanto pessoa leiga, acionamos
quem? Todos na cadeia de consumo, e são solidários. Quem certamente tem
dinheiro? Roberto Carlos!

E se a música for horrível para um entusiasta de Roberto Carlos?


Digamos, RC inventou de abandonar seu estilo tradicional para tocar thrash
metal? A música não atende suas legítimas expectativas enquanto fã e consumidor
das canções do Rei. Você irá mover uma ação contra ele? Nisso entra em jogo
novamente a autora Claudia Lima Marques dizendo: há que se fazer o diálogo do
Código de Defesa do Consumidor com a Lei 9610/96, a Lei de Direitos Autorais,
que prevê a liberdade na criação, e uma terá que limitar a outra. Daí esse
problema: limites. Posso me classificar como consumidor? Sim. Mas até que
limite? Pode-se classificar como consumidor sempre, mas há limites legais por
causa do diálogo das fontes. Mas, se há relação de consumo, há necessariamente
incidência do Código de Defesa do Consumidor. Por exemplo, RC e sua venda do
álbum “revolucionário”.

Fornecedor

Primeiramente, ao conceito: fornecedor é aquele que atua


profissionalmente no mercado recebendo remuneração direta ou indireta pela
produção e distribuição de bens e serviços.

Vamos fazer agora um trabalho inverso: excluímos determinadas pessoas


do rol de fornecedores. Vimos o conceito, e vamos agora observar aquilo para
classificar alguém como não fornecedor.

Quando a atividade desenvolvida é não profissional, ou é casual, ou


eventual, este sujeito não pode ser considerado fornecedor. Quando temos alguém
que fornece produtos ou serviços no mercado, este alguém poderá fornecer este
produto ou serviço de duas maneiras. Primeira: faz isso todos os dias, ganha
dinheiro com isso, vive disso, e transforma essa atividade numa atividade
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efetivamente remunerada, que irá gerar dividendos ou benefícios diretos ou


indiretos. É um corretor de imóveis, uma empresa que vende determinado
produto ou presta determinado serviço. Mas aquele que adquire um produto e, no
momento em que não lhe serve mais, resolve vender, colocando no Mercado Livre,
o vendedor, que não tem uma atividade profissional e que eventualmente resolve
disponibilizar o bem, não poderá ser, de forma alguma, ser considerado
fornecedor.

Um pouco além: teremos que voltar, só para compreendermos, àqueles


conceitos que vimos quando trabalhávamos com a doutrina finalista. Se um sujeito
compra determinado produto já com a intenção de revendê-lo, ele deverá ser
considerado fornecedor. Então temos que juntar as duas coisas agora: você vai
para os Estados Unidos, compra 10 computadores, consegue passar na alfandega,
e surge a pergunta: você pode ser classificado como fornecedor? Você só foi uma
vez. Você venderá nove no Brasil. E começa a vendê-los. Você pode ser classificado
como fornecedor? Não existe habitualidade, e não é uma atividade profissional. O
conceito de fornecedor é facilmente trabalhável juridicamente.

Você pode alegar que não é fornecedor, mas por outro lado você comprou
nove e venderá para nove pessoas diferentes. Isso caracterizaria sua
profissionalização, o que te colocaria como fornecedor. É uma questão nebulosa.
Então, na verdade, irá depender muito do caso concreto para que possamos
interpretar alguém como fornecedor ou não. O professor afirma, com plena
certeza, que nós não seriamos considerados fornecedores se comprássemos um
único computador para revender aqui no Brasil. A partir do momento em que
temos nove computadores, um vendido atrás do outro, isso caracteriza certa
profissionalização. Partindo, claro, do ponto de vista subjetivíssimo.

E o porteiro que faz bicos? Trabalha principalmente como Coordenador de


Movimentação Interna do condomínio, mas, quando interfonamos para ele, ele
vem resolver nosso problema de vazamento ou fazer papel de eletricista. Podemos
colocar com plena certeza: e eventualidade desconfigura a característica de
fornecedor de serviços. A relação não chega a apresentar o desequilíbrio a ponto
de se aplicar o Código de Defesa do Consumidor. Qual é o desequilíbrio? Técnico,
jurídico, fático?

Outro problema temos quando vemos um investidor imobiliário


interessado em vender seus dois imóveis vagos. O investidor é proprietário de três,
mas mora em um, e está interessado em vender os outros dois. Para conseguir
rapidamente, ele dá uma leve baixada no preço e anuncia em outdoors. Não só um
ou dois, mas em vários espalhados pela cidade. Nessas condições, é possível
argumentar que a colocação do anúncio em outdoors caracteriza a
profissionalização.

Quando o sujeito compra a coisa com a intenção de vendê-la, em outras


palavras, com fins econômicos, ele terá que ser classificado como fornecedor, e não
como consumidor. Será o que chamamos de fornecedor intermediário. Mas há que
se adequar a postura ou o conceito de fornecedor com o conceito de consumidor.
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Se ele vai para os Estados Unidos, compra um computador, quer vender aqui, ele
pode ser considerado fornecedor? Não, porque não existe profissionalização nem
habitualidade. Então temos que juntar o conceito de consumidor com o conceito
de fornecedor. Se ele, agora, resolve comprar dez computadores para vender aqui
no Brasil? Aí sim. Tanto pelo conceito de consumidor, aquele que compra com o
intuito de lucro, como pelo conceito de fornecedor, uma atividade que se torna
profissional. O que estamos fazendo? Juntando dois conceitos. Se trabalharmos só
com um, poderemos achar que o sujeito é consumidor. Pode não ser! Devemos, ao
mesmo tempo, trabalhar com o conceito de fornecedor.

Para ser consumidor, o sujeito tem que ser destinatário final,


independente de qual a teoria adotada!

Sempre, em uma relação de consumo, deve-se analisar do ponto de vista do


consumidor e do fornecedor. Dos dois.

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