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Instituto – Cuidado, Atendimento, Ensino, Pesquisa do

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A influência dos Campos Morfogenéticos nas Rodas de Terapia Comunitária


Integrativa

Professora Orientadora:

Dra. Maria Lucia de Andrade Reis

Aluno:

José Ubirajara de Castro

Porto Alegre, abril de 2019


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A INFLUÊNCIA DOS CAMPOS MORFOGENÉTICOS NAS RODAS DE


TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA

José Ubirajara de Castro1


ubirajaracastro@gmail.com

Resumo: O presente estudo tem como objetivo verificar se Campos Morfogenéticos são
responsáveis pelo processo de fazer a Roda de Terapia Comunitária Integrativa rodar, a fim de
facilitar a condução das Rodas e aplicar a Metodologia, possibilitando que a TCI possa ocupar
outros espaços. Com base nas teorias de Carl Gustav Jung (Inconsciente Coletivo), Rupert
Sheldrake (Campos Morfogenéticos) e de Adalberto Barreto (Terapia Comunitária Integrativa),
investigou-se a ação dos campos morfogenéticos na realização da Roda de TCI, através de
análise qualitativa de 140 (cento e quarenta) depoimentos significativos de Rodas. A TCI,
alicerçada em seus pilares, configura-se numa terapia breve, de baixo custo, com alta taxa de
assertividade, capaz de aliviar a dor da alma das pessoas, torna-se no cenário apropriado à
convivência harmônica das Teorias da Psicologia Analítica de Jung e dos Campos
Morfogenéticos de Sheldtrake. O processo de cura da dor da alma já pode ter início na formação
de uma mandala com cadeiras, como se fosse um grande reset na psique adoecida. Através dos
depoimentos significativos analisados, foram encontradas evidências capazes de apontar a
influência dos Campos Morfogenéticos nas Rodas de TCI, possibilitando que a roda rode como
tem que rodar.

Palavras-chaves: Campos Mórficos. Inconsciente Coletivo. Terapia Comunitária Integrativa.

THE INFLUENCE OF MORPHOGENETIC FIELDS IN THE WHEELS OF


INTEGRATED COMMUNITY THERAPY

Abstract: The present study aims to verify if the Morphogenetic Fields are responsible for the
process of making an Integrated Community Therapy to wheels, in order to conducting the
Wheels and an application of the Methodology, allowing a TCI to be capable of occupying other
spaces.Based on the theories of: Carl Gustav Jung (Collective Unconscious), Rupert Sheldrake
(Morphogenetic Fields) and Adalberto Barreto (Integrative Community Therapy), was
investigated the action of morphogenetic fields in the execution of the TCI Wheel, through
qualitative analysis of 140 (one hundred and forty) significant testimonials from Wheels . The
TCI, anchored on its pillars, is set up in brief therapy, low-cost therapy with a high rate of
assertiveness, capable of alleviating the pain of people's souls. It is therefore in accordance with
theories of Jung's Theories of Analytical Psychology and Sheldtrake's Morphogenetic Fields.
The healing process of soul pain can already begin in the formation of a mandala with chairs, as
it were a significant reset in the sick psyche. Through the important statements analyzed, some
evidence, capable of showing the influence of Morphogenetic Fields on TCI Wheels, were
found, it allows the wheel to rotate as it has to rotate.

Keywords: Morphic Fields. Collective Unconscious. Integrative Community Therapy.

1
José Ubirajara de Castro, Pedagogo, Especialista em Orientação Educacional e Gestão Pública, Mestre Reiki,
Terapeuta Comunitário Integrativo, Aluno do Curso de Formação em Constelações Familiares Sistêmicas.
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1. Introdução

A motivação do presente trabalho surgiu de uma escuta respeitosa e inquietante diante


da afirmação: “não se preocupem, pois, a Roda Roda” (referência à Roda de Terapia
Comunitária Integrativa), proferida pelo Sr. Luciano Duarte Medeiros (2017), numa aula do
curso de capacitação de TCI, recordando a fala da Presidente da Associação Brasileira de
Terapia Comunitária – ABRATECOM (Gestão: 2007-2009), Sra. Marli Olina de Souza, fala
essa que passou a povoar o imaginário de um curumim (palavra de origem tupi, e que designa,
de modo geral, as crianças indígenas - Dicionário Ilustrado Tupi Guarani, 2019) curioso e
sonhador.

A busca do entendimento dos possíveis motivos, capazes de possibilitar que a roda de


TIC rode, conduziu ao questionamento: Os campos morfogenéticos são responsáveis pelo
processo de fazer a roda de terapia comunitária integrativa rodar?

A principal justificativa para o questionamento em tela visa facilitar a condução das


Rodas e aplicação da metodologia, possibilitando que a TCI possa ocupar outros espaços. Os
objetivos da investigação científica são: auxiliar os terapeutas comunitários em seu processo
inicial de formação, onde a angústia em iniciar a fala do grupo é muito grande; contribuir para
a ampliação da aplicação do protocolo da TCI e aproximar práticas terapêuticas, demonstrando
que a TCI é extremante inclusiva.

Com base nas teorias de Carl Gustav Jung do Inconsciente Coletivo, de Rupert Sheldrake
dos Campos Morfogenéticos e de Adalberto Barreto da Terapia Comunitária Integrativa,
investigou-se a ação dos campos morfogenéticos na realização da Roda de TCI, através de
análise qualitativa de 140 (cento e quarenta) depoimentos significativos de Rodas, conduzidas
pelo terapeuta comunitário José Ubirajara de Castro, ABRATECOM nº 1414, em 25 (vinte e
cinco) locais, na região da grande Porto Alegre – RS, de outubro de 2017 a março de 2019 (com
base no site do CAIFCOM).

A busca pela resposta ao curumim que todos têm em si, encontra ressonância neste
escrito: “(...) despertou o índio que morava em mim e que a universidade queria senão banir,
pelo menos abafar.” (Adalberto Barreto, 2014), constatando de que há possibilidade da
convivência pacífica entre o saber científico e o saber popular.

2. Desenvolvimento
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2.1 Terapia Comunitária Integrativa (TCI)

É uma metodologia sistematizada nos anos 1980, através de um projeto de extensão da


Universidade Federal do Ceará (UFCE), na Comunidade Quatro Varas, da Favela do Pirambu,
em Fortaleza-CE, pelo psiquiatra, antropólogo, terapeuta sistêmico de família e professor do
Departamento de Saúde Comunitária da UFCE, Prof. Dr. Adalberto de Paula Barreto, com ajuda
de seu irmão, Dr. José Airton Barreto, advogado dos Direitos Humanos, a partir das
necessidades e da bagagem da própria comunidade e do apoio de diferentes atores. Tendo como
ponto de partida a experiência, a metodologia da terapia comunitária integrativa foi se
estruturando e ganhando suporte teórico capaz de sustentá-la.

Segundo Barreto (2010), a TCI pode ser definida como um espaço comunitário onde o
ser busca partilhar as experiências de vida e os saberes da comunidade de forma horizontal e
circular (na Roda), onde cada pessoa torna-se terapeuta de si mesmo, com base na escuta de
lindas e, por vezes, doloridas histórias de vida e de superação ali relatadas. Num ambiente
acolhedor, como um colo de mãe, as pessoas se irmanam e tornam-se corresponsáveis na busca
de soluções e superações dos desafios do cotidiano.

Os pilares teóricos da Terapia Comunitária Integrativa (TCI) são:

1º - O Pensamento Sistêmico, o qual possibilita a compreensão do que aconteceu na vida


do indivíduo, através de um olhar da macroestrutura onde o sujeito está inserido. As dores da
alma geram sofrimento, o qual é multidimensional. Exemplos: uma mulher violentada, muitas
vezes, sujeita-se a um relacionamento de violência e de submissão, porque ela não tem
condições econômicas de sobrevivência para se manter só, nem educação para aspirar a um
trabalho, ficando assim refém dessa situação; uma criança que vai mal na escola, tem múltiplas
causas por traz de um baixo desempenho escolar. Em ambos os casos, se faz necessário um
acurado olhar sistêmico para o entendimento da realidade e dos contextos onde as mesmas estão
inseridas.

2º - A Teoria da Comunicação, que chama a atenção para o fato de que todo


comportamento tem valor de comunicação. É muito importante a compreensão de que o
cotidiano da sociedade, e da comunidade tem um valor comunicante da mesma maneira que
uma dor de cabeça, uma hipertensão, uma diabetes, uma psoríase. É necessário fazer o
questionamento: - o que o corpo está querendo comunicar? Quando se recorda corpo, tanto pode
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ser o corpo físico como o corpo social, pois o ser reflete as desigualdades cada vez mais
acentuadas na sociedade brasileira, principalmente no atual cenário nacional.

3º - A Antropologia Cultural, que dá um matiz especial à cultura, e pode-se entendê-la


como espinha dorsal da sociedade, sumarizando tudo o que um povo vive. O indivíduo é um
produto de suas crenças, dos hábitos alimentares, das roupas que usa, das músicas que escuta,
dentre outros. Entretanto a destruição da cultura de um povo pode levá-lo a perder sua
identidade. Os aspectos culturais de um povo são um tesouro muito valioso. Portanto, deve ser
preservado, valorizado, enaltecido, bem como acrescentado a novos conhecimentos e técnicas.
Na antropologia cultural está a base para a convivência harmônica entre o saber passado de boca
a ouvido e o saber sistematizado.

4º - A Pedagogia de Paulo Freire, que aponta para o processo de aprendizagem


constante do sujeito que pensa e enfatiza o fato de que ninguém é tão sábio que não possa
aprender, nem tão ignorante que não tenha nada para ensinar. Na comunidade, pode-se perceber
que o sujeito é rico naquilo que o outro é pobre e vice-versa. Logo, todo aprendizado no coletivo
valoriza os recursos de cada um. Segundo Paulo Freire (1983) ensinar é o exercício do diálogo,
da troca, da reciprocidade, ou seja, de um tempo para falar e de um tempo para escutar, um
tempo para aprender e um tempo para ensinar.

5º - A Resiliência, a qual fundamenta que a carência é capaz de gerar competência. Um


sujeito pode amar por duas razões: uma porque foi muito amado, e outra porque não foi amado.
No cenário onde impera dor e sofrimento, é possível transformar esta carência em uma
competência. Cabe lembrar a metáfora da ostra que só produz uma pérola, porque foi ferida,
sendo esta sua resposta à agressão e ao ferimento. A TCI busca mostrar para as pessoas que o
sofrimento pode ser algo comum a toda a comunidade e que o cerne da questão não está no
problema, mas sim no que será feito com o mesmo.

A Terapia Comunitária Integrativa rompe com a visão sistêmica de que o povo é


ignorante e que precisa ser educado, e, para tanto, só existe um modelo verdadeiro, como uma
receita de bolo, que é o da ciência, pois a comunidade tem problemas, mas também pode
encontrar soluções. A relevância de falar é de vital importância, pois como diz o ditado
nordestino: - quando a boca cala, os órgãos falam, e, quando a boca fala, os órgãos saram.

Foi realizado um estudo de impacto nos anos de 2005 e 2006, através de um convênio
entre a UFCE, a Secretaria Nacional Antidrogas e o Projeto Quatro Varas, quando foram
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capacitados cerca de 900 (novecentos) terapeutas comunitários com ênfase em álcool e outras
drogas. Foram distribuídos 12 (doze) mil questionários, objetivando descobrir quais os temas
mais frequentes, bem como as estratégias de enfrentamento aos mesmos. Após análise desses,
foi observado que 88,5% (oitenta e oito, vírgula cinco) dos problemas tiveram resolução nas
próprias rodas de terapia comunitária integrativa e que apenas 11,5% (onze, vírgula cinco) teve
necessidade de ser encaminhado para os especialistas nos postos de saúde, podendo ser
verificada a grande assertividade da TCI.

2.2 Inconsciente Coletivo

Conforme o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (2002), criador da psicologia analítica, o
inconsciente coletivo é constituído pelos materiais que foram herdados, nele residem os traços
funcionais, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os seres humanos. O
inconsciente coletivo também tem sido compreendido como a base de arquétipos cujas
influências se expandem para além da psiquê humana.

Segundo artigo do site Psicoativo (2018), para Jung, o objetivo da vida era ver a
individualização do self (aquilo que define a pessoa na sua individualidade e subjetividade, isto
é, a sua essência). Uma espécie de união da mente consciente e inconsciente de uma pessoa de
modo que seu original possa ser constituído, podendo ser capaz de integrar os opostos dentro de
si – as mentes consciente e inconsciente, possibilitando que o indivíduo se torne o que sempre
foi em potencial, para poder bem cumprir seu propósito original (sua missão). Este processo
pode ser comparado como uma viagem turbulenta.

Jung aponta para muitos mitos que mostram como seguir um caminho possível para
transcender a razão. O self pertence ao inconsciente pessoal e coletivo, enquanto o ego se
relaciona apenas à mente consciente. Os seres humanos são expressões de uma camada mais
profunda da consciência universal. Na busca da compreensão da singularidade de cada pessoa,
faz-se necessário ir além do ego pessoal, sendo possível o entendimento do funcionamento de
uma profunda sabedoria coletiva.

Os arquétipos são formas imateriais nas quais os fenômenos mentais tendem a se moldar,
primeiramente no sonho e em seguida, nas construções das personalidades. Eles possibilitam a
expressão do inconsciente coletivo, sendo formas-pensamentos universais ou imagens mentais
capazes de influenciar sentimentos e ações do sujeito. Um recém-nascido não é uma tábula rasa,
uma folha em branco, mas vem pronto para perceber certos padrões e símbolos arquetípicos.
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Neste aspecto, explica-se o motivo das crianças fantasiarem tanto. Logo, Jung sugere que as
mesmas não tinham experiência suficiente da realidade para cancelar a satisfação de imagens
arquetípicas da sua mente.

Em sua obra, Jung destacou uma série de arquétipos, incluindo a anima, a mãe, a sombra,
a criança, o velho sábio, os espíritos dos contos de fadas, a figura do malandro encontrado em
mitos e histórias, a mandala de cura. Para o presente estudo, serão enfocadas apenas as
mandalas, imagens estampadas abstratas, cujo nome em sânscrito significa círculo. Quando um
sujeito desenha ou pinta uma mandala, inclinações ou desejos inconscientes estão expressos em
seus padrões, símbolos e formas. Estas têm a possibilidade de redução da confusão na psique
instantaneamente, como se tivessem um efeito mágico, conforme pode ser verificado por Jung
em sua prática terapêutica. Pelas características do inconsciente, este é um reino livre. Logo, o
que tenha sido escondido, colocado de lado, tirado do alcance da consciência, chega à superfície.
Através de forma de ovais, um sol, uma estrela, algum animal, construções, faces, olhos, etc,
que venham sem nenhum motivo aparente, na verdade, refletem ou extraem processos que estão
acontecendo nas profundezas do pensamento consciente de uma pessoa. Quando Jung se tornou
um estudioso capaz de interpretar os significados das imagens, percebeu que estas marcavam o
início da cura psicológica, ou seja, um grande passo no processo de individuação.

A respeito da comunidade científica, Jung (2002) afirma: - “O céu tornou-se para nós o
espaço cósmico dos físicos (…) ‘mas o coração brilha’, e uma agitação em segredo corrói as
raízes de nosso ser”. O sujeito moderno vive com um imenso hiato espiritual, outrora
preenchido pela mitologia ou pela religião. Faz-se necessária uma psicologia renovada, que
possa reconhecer a psique e suas nuances e seja capaz de ajudar o ser a encontrar a paz.

2.3 Campos Morfogenéticos

O Autor da teoria dos Campos Mórficos ou Morfogenéticos é o expoente professor


Rupert Sheldrake (1998), para o qual os organismos vivos, cristais e moléculas são organizados
por campos de forma, padrões ou estruturas de ordem. Estes campos são os que ordenam a
natureza. Há muitos tipos de campos porque há muitos tipos de coisas e padrões na natureza.
Na biologia, uma energia age para dar forma a um ser vivo dentro de um processo de evolução,
num espaço de tempo determinado. Os campos morfogenéticos de qualquer organismo vivo
particular levam informações e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma
de intensidade depois de terem sido criados.
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Os campos mórficos podem ser entendidos como: laços afetivos entre pessoas, grupos
de animais (como bandos de pássaros, cães, gatos, peixes) e entre pessoas e animais. Não é algo
fisiológico, mas se insere em outro aspecto - o afetivo. São afinidades que surgem entre os
animais e as pessoas com quem eles convivem, as quais são responsáveis pela comunicação.

Segundo Hoffmann (2005), para Sheldrake a natureza tem memória, portanto, suas leis
são como hábitos sob a influência da seleção natural e da ressonância mórfica. A exemplo, em
uma floresta de coníferas, é gerado o hábito de estender as raízes mais profundamente para
absorver mais nutrientes. O campo morfogenético da conífera assimila e armazena esta
informação que é herdada não só por exemplares no seu entorno, mas em florestas de coníferas
em todo o planeta por efeitos da ressonância mórfica, bem como trazem influências de gerações
anteriores desta espécie.

Para Sheldrake, a ressonância morfogenética tem um destaque especial no cenário dos


campos morfogenéticos. No processo responsável por essa coletivização da informação, a
música é um excelente exemplo capaz de explicar esse fenômeno. Quando se tem um
instrumento musical, como um violão, e se toca uma corda afinada em uma determinada nota,
outra corda do violão afinada na mesma nota vai entrar em vibração sem ser tocada. Portanto, a
ressonância mórfica implica uma espécie de ação à distância no espaço e no tempo. No contexto
de atuação do campo morfogenético, o passado é capaz de influir no presente.

Na prática, a influência dos campos morfogenéticos pode ser verificada quando um cão
demonstra saber quando seu dono vai chegar em casa. Independente do horário, começa a dar
sinal da sua aproximação antes da chegada do mesmo, como se fosse avisado por um sistema
imperceptível.

2.4 Costurando as Teorias

Ao colocar-se, hipoteticamente, ao pé de uma frondosa mangueira, sob o sol morno e


sonolento, no instante em que as nuvens começam a descer rebocando a tarde primaveril, de
onde se pode avistar a volta do rio, que corre manso e tranquilo, três maravilhosos seres
humanos: Carl Gustav Jung, Rupert Sheldrake e Adalberto de Paula Barreto, os quais trazem no
peito um curumim, proseiam sobre suas teorias e práticas, conforme pode ser demonstrado a
seguir.
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Segundo Freire et al (2016), o conceito de inconsciente coletivo de Jung é fortalecido


pelas ideias de Shedrake, no que diz respeito à interferência do coletivo na construção do sujeito
e vice-versa. Neste contexto, o arquétipo, configurando-se como conteúdo simbólico do
inconsciente coletivo, é acessado por toda a grande rede da espécie humana, encontrado nas
lendas, mitos de um grupo social e se expressa no imaginário individual. Os padrões naturais da
razão e intuição humanos, símbolos de identificação do ser com seu ambiente natural, são
capazes de mostrar qual a melhor trilha a seguir, objetivando equalizar suas particularidades
positivas ou negativas.

Ainda valendo-se de Freire et al (2016), as teorias de Jung e Sheldrake apresentam uma


forte relação entre os assuntos estudados por ambos, possibilitando a compreensão do momento
presente, trazendo conceitos fundamentais do inconsciente coletivo, arquétipos, os campos
mórficos e a ressonância morfogenética. Verifica-se que, através do campo morfogenético, o
inconsciente coletivo pode ser compartilhado pela ressonância mórfica.

A terapia comunitária integrativa alicerçada em seus pilares teóricos e na fala de Barreto


(2014): - o microcosmo que constitui o homem é idêntico ao macrocosmo do universo, ou seja,
as leis que estruturam o Universo são as mesmas que estruturam o homem, configura-se em
cenário ideal para acolher os referenciais de Jung e Sheldrake. Para a psicologia analítica, a
estrutura quaternária (os quatro pontos cardeais) é a base da orientação espaço-temporal,
enquanto o círculo (Roda, no caso das mandalas, um dos arquétipos) representa o movimento
de todo o psiquismo ao redor de um ponto ou eixo central.

Tomando-se o exemplo de um indivíduo esquizofrênico, o eixo está rompido,


possibilitando experiências mais arcaicas, e, na fase mais aguda surgem imagens, as quais são
uma regressão histórica, indicando um processo psíquico de tentativa de retorno ao início, um
(re)começar, o qual pode ser comparado com um reset de um computador. O círculo, imagem
comum nessa fase, indica uma dinâmica de ordem e de síntese, ocupando um porto seguro dentro
do mar (caos) agitado da psicose.

Neste cenário, a roda de TCI configura-se num ambiente propício para a cura das dores
da alma de uma pessoa, assumindo a disposição de cadeiras colocadas em círculo uma dimensão
muito maior do que apenas oportunizar que todos se olhem com facilidade. Portanto, a cura já
pode ter início na formação de uma mandala com cadeiras, como se fosse um grande reset na
psique adoecida.
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2.5 Metodologia

O presente trabalho configura-se, segundo Minayo (2001), como qualitativo por buscar
responder uma questão muito particular, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado, encontrada num cenário muito singular, não podendo ser reduzida à
operacionalização de variáveis.

A fonte de investigação advêm dos depoimentos significativos de 140 (cento e quarenta)


Rodas, conduzidas pelo terapeuta comunitário José Ubirajara de Castro, ABRATECOM nº
1414, no período 24 de outubro de 2017 e 14 de março de 2019, registradas no site do Instituto
CAIFCOM, na região da grande Porto Alegre – RS, em 25 (vinte e cinco) locais diferentes.

O público das rodas em tela foi bem diversificado, com idade entre 12 (doze) e 77
(setenta e sete) anos, distribuídos da seguinte forma: alunos do curso de formação de TCI, jovens
em vulnerabilidade social, equipes de saúde da família, pessoas em situação de rua, usuários do
serviço de saúde mental, alunos do ensino fundamental de escola pública, participantes da
pastoral da mulher, participantes de grupo de jovens cristão, internos em comunidade terapêutica
para recuperação de dependência química, familiares de internos em comunidade terapêutica
para recuperação de dependência química, moradores de instituição de longa permanência para
idosos, funcionários da justiça federal, estudantes universitários, membros da Ordem dos
Advogados do Brasil e usuários do serviço de saúde da Força Aérea Brasileira.

Os depoimentos significativos foram selecionados tendo como pano de fundo a teoria de


Campos Mórficos ou Morfogenéticos de Rupert Sheldrake e sua ligação com o Inconsciente
Coletivo de Carl Gustav Jung, criador da Psicologia Analítica, objetivando verificar se os
Campos Morfogenéticos têm influência na condução da Roda de Terapia Comunitária
Integrativa, frente à máxima: - A roda roda.

2.6 Resultados e Discussões

Foi possível encontrar depoimentos significativos correlacionados com a teoria dos


campos morfogenéticos, a fim de verificar a influência destes na realização das Rodas de TCI,
os quais são dispostos a seguir sempre com uma relação ao referencial teórico.

Segundo Hendges (2011), é necessário reconhecer a existência de sistemas


hierarquicamente organizados com particularidades, os quais não podem ser entendidos por
meio do estudo de partes isoladas, mas em sua totalidade e interdependência. O depoimento
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significativo a seguir, expressa que este anseio se faz presente nas Rodas de TCI: - “Nasci, vivo
e morrerei me conhecendo. Sinto necessidade da busca de um olhar holístico para o tudo que
me cerca. É necessário vencer meu lado sombra e me conectar com a amorosidade - pulsão de
vida”. (Porto Alegre, 10/03/2018).

“Os campos mórficos também ligam partes de um sistema que parecem ser separados,
embora ninguém saiba ainda como estão relacionados à não-localidade quântica. Esses
campos são a base das interligações não apenas no espaço como também no tempo”.
(Sheldrake, 1999). A capacidade dos campos mórficos de serem aglutinadores de partes, que
podem até parecer totalmente desconexas, pode ser vista na afirmação: - “Impressionante, pois
o tema escolhido hoje tem tudo a ver com a homilia do Bispo na missa de ontem, onde minha
força está alicerçada em minha fé, sinto que esta Roda foi na medida certa para mim”. (Canoas,
11/02/2019).

“Os campos mórficos de grupos sociais ajudariam a explicar muitos aspectos da


organização social tidos como misteriosos, incluindo o comportamento de insetos sociais,
bandos de pássaros e sociedades humanas”. (Sheldrake, 1999). O ato de dar-se conta de fatos,
de perceber que há muita aprendizagem em todas as dificuldades faz parte das mensagens que
os campos mórficos são capazes de ajudar a desvendar, como pode ser observado no depoimento
a seguir: - “Ao olhar para minha trajetória de vida, me dou conta de que o passado não pode
ser mudado, mas o futuro só depende de mim. A vida nos manda recados, nossos medos têm
preciosas lições a nos passar”. (Porto Alegre, 19/05/2018).

“Indivíduos podem ser separados de tal maneira que não consigam se comunicar
através de meios sensoriais normais. Se a informação ainda assim puder ser transferida entre
um e outro, isso sugeriria a existência de elos ou interligações do tipo proporcionado por
campos mórficos”. (Sheldrake, 1999). Fundamentado na ação dos campos morfogenéticos, foi
possível um participante de uma Roda ter insights antes mesmo da ocorrência da mesma,
conforme pode ser verificado: “Percebi que esta Roda já começou ontem, pois pensei em coisas
que hoje vocês comentaram aqui, o melhor com estratégias de enfrentamento que nunca tinha
pensado”. (Canoas, 21/01/2019).

Para Sheldrak (1999), o desenvolvimento dos seres vivos pode ser entendido como
moldado por campos organizadores invisíveis, os quais são compostos de hábitos ancestrais. Por
meio desses campos, hábitos adquiridos podem ser herdados e espalhados rapidamente, como
resultado da ressonância mórfica como se dependessem apenas da transferência de genes
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mutantes dos pais para os filhos. Fato que pode ser percebido na seguinte fala: - “Ao abandonar
velhas ideias, foi como trocar as lentes dos meus óculos, pois passei a ver o mundo com outros
matizes. Esta roda foi na medida certa para mim, estou saindo daqui aliviada, as lágrimas
foram libertadoras”. (Gravataí, 29/01/2019).

Para Sheldrake (1999), para se entender que a orientação animal, afetos a migração e da
capacidade de encontrar o caminho de casa, está intimamente dependente da existência de
campos invisíveis, na verdade elásticos invisíveis, que os ligam aos seus destinos. O ser humano
também está sujeito à ação deste campo invisível, o qual, no cotidiano, o liga a algo que lhe se
seja necessário, como pode ser observado no depoimento a seguir: - “Passei um final de semana
complicado, estava muito triste, ao escutar a fala de vocês, tomei uma injeção de ânimo, estou
outra pessoa, eu realmente precisava muito vir aqui hoje”. (Canoas, 25/03/2019).

"(...) A forma e o comportamento dos organismos não são, simplesmente, os produtos


de interações mecânicas no seio do organismo, ou entre o organismo e o seu ambiente imediato;
dependem, também, dos campos com os quais o organismo está sintonizado". (Sheldrake, 1998).
A ação dos campos morfogenéticos possibilita que muitas declarações extraordinárias sejam
colocadas nas rodas, como: - "Moço, eu queria poder chorar há meses, estava engolindo o
choro, minha psoríase está explodindo. Depois que chorei aqui, a pressão no coração
aliviou!!!". (Canoas, 26/06/2018).

A importância da ação das pessoas pode ser verificada em: - "A ressonância mórfica
tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou mau. Por isso, cada um de nós é
mais responsável do que imagina. Pois nossas ações podem influenciar os outros e serem
repetidas". (Sheldrake, apud Galileu, 2018). A prática de terapia comunitária integrativa é capaz
de transformar a vida das pessoas, de uma maneira extremamente abrangente: - “Esta
experiência de hoje me mostrou que a roda de TCI é para mim um amor incondicional da
comunidade, um colo de mãe, um bálsamo para minha alma”. (Canoas, 18/02/19).

3. Conclusão

A prosa, estabelecida entre Jung, Sheldrake e Adalberto Barreto neste artigo, indica a
possibilidade de uma amigável relação entre as teorias do Inconsciente Coletivo e dos Campos
Morfogenéticos, que, através da Ressonância Mórfica, propaga o conteúdo do primeiro, onde as
Rodas de Terapia Comunitária Integrativa podem ser o campo para a observação desta
associação. A TCI, alicerçada em seus pilares, configura-se numa terapia breve, de baixo custo,
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com alta taxa de assertividade, capaz de aliviar a dor da alma das pessoas, configura-se no
cenário apropriado à convivência harmônica das teorias da Psicologia Analítica e dos Campos
Morfogenéticos. O processo de cura da dor da alma já pode ter início na formação de uma
mandala com cadeiras, como se fosse um grande reset na psique adoecida.

Através dos depoimentos significativos analisados, foram encontrados pontos capazes


de apontar a influência dos campos morfogenéticos nas Rodas de TCI, possibilitando que a roda
rode como tem que rodar. Tal influência oportunizou que as pessoas certas estivessem na roda
certa para as mesmas, com a qual já podiam estar conectadas dias antes da realização da prática,
fato verificável nas expressões: - esta roda foi na medida certa para mim, - eu precisava muito
vir aqui hoje. Com isso muitas pessoas afirmam: - estou saindo daqui aliviado.

Verificou-se a existência de um catalizador, como fios ou elásticos invisíveis, capaz de


ligar as pessoas em determinados momentos, o que pode facilitar, sobremaneira, a condução das
Rodas e aplicação da Metodologia. A tomada de consciência desta situação pelos terapeutas
comunitários, na fase inicial do processo de formação, pode espantar o fantasma da angústia,
principalmente diante de um grupo que permaneça por um tempo mais prolongado em silêncio,
antes de começar a falar.

O término do presente trabalho deixa a possibilidade de continuidade do estudo,


objetivando uma compreensão mais ampla dos aspectos que operacionalizam a influência dos
Campos Morfogenéticos na condução da Roda de TCI. As estratégias de enfrentamento de
problemas de pessoas, sofridas e castigadas pela vida, não chegam por mero acaso na vida de
outras, mas, antes, tem um porquê, mesmo que não possa ser entendido naquele momento.

Faz-se necessário estar de corpo, alma e coração, bem como fundamentado nos pilares
da TCI e norteado pelo protocolo da metodologia, em todas as rodas para fazer com que a “roda
rode”, pois cada uma é única, tem o seu ritmo e vibração, que independe do querer das pessoas
envolvidas. No final tudo sempre dá certo, ou seja, acontece como tem que ser e, com isso, a
grande Roda da Vida vai rodando, exatamente, da maneira como deve ser.

Constatar as forças que fazem com que a “Roda Rode” não só tranquiliza a práxis de um
curumim curioso e sonhador, mas também o deixa com mais vontade de alçar outros voos na
senda do conhecimento, a fim de capacitá-lo mais e melhor para continuar vivendo maravilhosas
Rodas.
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4. Referências

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