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II Jornada Ibero-Americana de Pesquisas em Políticas Educacionais 438

e Experiências Interdisciplinares na Educação, Natal, 2017

EIXO TEMÁTICO: Políticas Públicas educacionais

A ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NA LEGISLAÇÃO


BRASILEIRA COMO POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO
DE POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL

THE INTEGRAL TIME SCHOOL IN BRAZILIAN


LEGISLATION AS A POSSIBILITY OF CONSTRUCTION OF
COMPREHENSIVE EDUCATION POLICY

SILVA, L. M. 1 e SOUZA, M. F. M de 2
1
Secretaria Municipal de Educação de Oriximiná, Diretoria de Ensino
2
Universidade Federal do Pará, PPEB/UFPA
E-mail para contato: lulucyenesilva@gmail.com
fmatos@ufpa.br

RESUMO – Esse estudo é parte integrante da dissertação de mestrado intitulada “Educação


integral de tempo integral: a concepção dos sujeitos participantes do Programa Mais
Educação no Município de Oriximiná – Pará”, que objetivou “compreender a Concepção de
Educação Integral de Tempo Integral dos gestores e professores comunitários, participantes
do Programa Mais Educação nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental da Rede Pública,
Zona Urbana em Oriximiná-Pa, no período de 2010 a 2015, a partir do Estudo do Programa
Mais Educação”. Tencionou compreender o caminho apontado pela legislação brasileira, a
partir da década de 1980, para a construção de políticas de Educação Integral em escola de
tempo integral. Apresenta um estudo documental que situa a Educação Integral nas legislações
e Políticas educacionais no Brasil, utilizando o método de análise de conteúdo, a partir de uma
abordagem qualitativa. A Pesquisa documental possibilitou a compreensão do que é
estabelecido em termos legais quanto a compreensão da Concepção de tempo integral expressa
nos referidos documentos. Finalizamos o artigo apontando que a Educação Integral de Tempo
Integral vem se situando na Legislação de forma a contribuir para a construção da agenda da
Educação Integral no cenário educacional brasileiro do século XXI, porém, sua efetivação,
apesar de estar assegurada na legislação requer o envolvimento da sociedade para que saia
do papel e venha a se efetivar na prática.
PALAVRAS-CHAVE: Tempo Integral, Educação Integral, Legislação Brasileira, Política
Educacional

ABSTRACT - This study is an integral part of the Master 's thesis titled "Full - time integral
education: the conception of the subjects participating in the More Education Program in the
Municipality of Oriximiná - Pará", which aimed "to understand the Comprehensive Integral
Education of Managers And community teachers, participants in the More Education Program
in the Municipal Schools of Primary Education of the Public Network, Urban Zone in
Oriximiná-Pa, from 2010 to 2015, from the Study of the More Education Program. Intends to
understand the path indicated by the Brazilian legislation, from the 1980s, for the construction

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of policies of Integral Education in full-time school. It presents a documentary study that places
the Integral Education in the legislations and Educational Policies in Brazil, using the method
of content analysis, from a qualitative approach. Documentary research made it possible to
understand what is established in legal terms regarding the understanding of the full-time
Conception expressed in said documents. We conclude the article by pointing out that Integral
Integral Education has been placed in the Legislation in order to contribute to the construction
of the Integral Education agenda in the Brazilian educational scene of the 21st century.
However, its effectiveness, although guaranteed by legislation, requires involvement Society
to get out of the role and to come to fruition in practice.
KEY WORDS: Integral Time, Integral Education, Brazilian legislation, Educational politics

1. INTRODUÇÃO
Este artigo é parte integrante de pesquisa de mestrado realizado, no Programa de Pós-
graduação, da Universidade Federal do Oeste do Pará, que teve como objeto de estudo a
Educação Integral. O presente artigo objetivou compreender o caminho apontado pela
legislação brasileira, a partir da década de 1980, para a construção de políticas de Educação
Integral, em escola de tempo integral.

Apresenta um estudo documental que situa a Educação Integral, nas legislações e


Políticas educacionais, no Brasil, utilizando o método de análise de conteúdo, a partir de uma
abordagem qualitativa, buscando essa compreensão do sentido ou dos sentidos dos documentos
sobre a escola de tempo integral e sua vinculação com a educação integral.

O recorte para este estudo compreendeu uma análise: na Constituição Federal de 1988,
que fortaleceu a percepção da educação como um direito social fundamental e estabeleceu uma
ampla rede de proteção à criança e ao adolescente, regulamentada pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) que indicou
o aumento progressivo da jornada escolar para 7 horas diárias como horizonte da política
pública educacional e os Planos Nacionais de Educação de 2001-2010 (2001) e 2014-2024
(2014) que apontam a ampliação da jornada escolar, como um avanço significativo para
diminuir as desigualdades sociais e ampliar democraticamente as oportunidades de
aprendizagem e qualidade da educação.

Conclui-se que a Educação Integral de Tempo Integral vem se situando, na Legislação de


forma a contribuir para a construção da agenda da Educação Integral, no cenário educacional
brasileiro do século XXI, porém, a efetivação de Políticas educacionais de educação integral,

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apesar de estar assegurada, na legislação requer o envolvimento da sociedade para que saia do
papel e venha a se efetivar, na prática.

2. EDUCAÇÃO INTEGRAL EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: DO


AMPARO LEGAL A CONSTRUÇÃO DO REAL
A Constituição Federal (1988) teve uma preocupação especial quanto aos direitos sociais
do brasileiro, estabelecendo uma série de dispositivos que assegurassem ao cidadão o básico
necessário para a sua existência digna.

Os direitos sociais buscam a qualidade de vida dos indivíduos como dimensão dos direitos
fundamentais do homem, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou
indiretamente, enunciadas, em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de
vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a equalização de situações sociais desiguais,
são, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade.

Como um direito social, a educação é amparada pela Carta Magna (1988), a qual em seus
art. 6º e 205 a consagra como sendo um direito de todos e dever do Estado, da família e da
sociedade em promover e incentivá-la:

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição1.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.

Esse direito ocupa um lugar de destaque, no rol dos direitos humanos, visto ser essencial
e indispensável para o exercício da cidadania e desenvolvimento do ser humano, em sua
integralidade enquanto ser humano e indivíduo que faz parte da vida cidadã. A esse respeito
Menezes (2009, p. 70) destaca que:

Ao evidenciar (1) a educação como o primeiro direito dos dez direitos sociais
(art.6º) e, conjugado a esta ordenação, apresentá-la (2) como direito capaz de
conduzir ao “pleno desenvolvimento da pessoa, fundante da cidadania, além
de possibilitar a preparação para o mundo do trabalho” (art.205.) - de forma

1
Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015.

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subliminar, a partir da conjunção dos artigos anteriormente citados, permite


que seja deduzida a Concepção do direito de todos à Educação Integral.

Menezes (2009) enfatiza ainda que a Constituição Federal (1988) ao visar o pleno
desenvolvimento da pessoa, associa este direito ao direito a uma Educação Integral, que
considera o ser humano, em todos os aspectos do seu desenvolvimento físico-motor, intelectual,
afetivo-emocional, ético, político e estético, incluindo a formação cidadã e a qualificação para
o trabalho, exigências do mundo social, político e econômico. E acrescenta que, as principais
normatizações associadas à educação que se seguiram à Constituição Federal, ECA (1990),
LDB (1996) e PNE de 2001-2010 e 2014-2024 (2001; 2014) foram unânimes, em reiterar o
direito à Educação Integral.

A Constituição Federal (1988) assegurando esse direito determina em seu art. 205, que a
educação deve ser promovida e incentivada, com a colaboração da sociedade, transpondo o ato
educativo para além da responsabilidade dos agentes e espaços escolares e estabelece que o
Estado deve garantir a todos “o pleno exercício dos seus direitos culturais e acesso às fontes da
cultura nacional”, bem como valorização das diversidades étnica e regional.

Sob essa perspectiva, Menezes (2012) enfatiza que o ordenamento constitucional


possibilita o entendimento de que a Educação Integral se constitui direito de todos – e de cada
um, haja vista a diversidade ser considerada característica primordial e valorativa dos tecidos
social e cultural de países.

Além de afirmar a educação como direito, a Constituição Federal (1988), também


evidencia o aspecto colaborativo da sociedade para a garantia do desenvolvimento pleno do ser
humano, considerando sua diversidade e consagra em seu art. 227 a proteção integral às crianças
e adolescentes como um direito fundamental:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

A promulgação destes direitos fundamentais tem amparo, no status de prioridade absoluta


dado à criança e ao adolescente, uma vez que estão em peculiar condição de pessoas humanas
em desenvolvimento.

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A esse respeito o caderno Educação Integral: Texto referência para o debate Nacional
(2009) destaca que, aliado à Constituição Federal, o ECA (1990) em seu Capítulo V, art. 53,
complementa a proposição de obrigatoriedade do acesso e da permanência na escola,
reconhecendo que o desenvolvimento integral da criança e do adolescente requer uma forma
específica de proteção e, por isso, propõe um sistema articulado e integrado de atenção a esse
público, do qual a escola faz parte.

No art. 86 do ECA (1990), percebe-se que “a política de atendimento dos direitos da


criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e
não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.

De acordo com Moll et al. (2012, p. 139) a Constituição Federal (1988) preconiza uma
relação dialógica entre os ordenamentos jurídicos, para a garantia da promoção dos direitos das
crianças e adolescentes à educação, o que exige entre os coautores dentro desse processo:
“mobilização e compromisso entre sociedade civil, poderes constituídos, instituições escolares,
coletivos constituídos pelas comunidades escolares, universidades: enfim, as forças sociais
referidas desde o Manifesto dos pioneiros da Educação Nova de 1932” .

Embora o conceito de Educação Integral esteja, em permanente construção, nos dias


atuais é considerado eixo articulador promotor da atenção e do desenvolvimento integral das
crianças e jovens, provocando reflexões a partir da Constituição Federal (1988) e do ECA
(1990), os quais, segundo Menezes (2012, p. 19)

[...] expressam uma nova perspectiva em relação à infância e juventude: a


Doutrina da Proteção Integral. Essa coloca as crianças e adolescentes no
centro das Políticas públicas, pois afirma sua condição de sujeito de direitos,
a indivisibilidade desses direitos e a prioridade absoluta no atendimento de
suas necessidades. Tal condição implica que os adultos de hoje, embora
tenham vivenciado sua infância e juventude na condição de objeto de tutela
dos adultos, precisam relacionar-se com as crianças e adolescentes
reconhecendo e valorizando seus interesses, opiniões, dificuldades e
habilidades, de forma que a relação adulto-criança não se restrinja à referência
do adulto, mas seja sustentada por sua escuta, discernimento, argumentação e
experiência.

Nesse sentido, o ECA (1990, art.53, grifos nossos) enfatiza o binômio educação/proteção,
corroborando com o art. 205 da Constituição Federal (1988) e indica a educação como direito
que propicie o pleno desenvolvimento da criança e jovens, considerando os aspectos da vida

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cidadã e a qualificação para o trabalho, destacando as corresponsabilidades dos municípios,


Estados, União e da família na garantia da proteção e assistência social às crianças e jovens,
bem como o acesso e o respeito aos conhecimentos culturais do seu próprio contexto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho [...].
[...]
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII – atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
[...]
Art. 55. Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou
pupilos na rede regular de ensino.
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental
comunicarão ao conselho tutelar os casos de:
I – maus-tratos envolvendo seus alunos;
II – Reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os
recursos escolares;
III – elevados níveis de repetência.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas
propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e
avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do
ensino fundamental obrigatório.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais,
artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do
adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às
fontes de cultura.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e
facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações
culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude .

Embora o ECA ( 1990), não faça menção à palavra integral e ou Tempo Integral, em seus
ordenamentos jurídicos percebeu-se claramente o direcionamento dado no sentido de se

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considerar o desenvolvimento integral da criança e jovem, no trabalho educativo, reforçando


que a educação seja feita de forma integral, plena e enfatiza a corresponsabilidade entre os entes
federados, família e sociedade e a conjugação de esforços junto a outros Programas setoriais
para o atendimento das crianças e jovens, no ensino fundamental.

O oferecimento de atendimento aos direitos sociais dar-se-á por meio de ações integradas,
com a participação de toda a sociedade a partir de ações articuladas e intersetoriais entre
diferentes esferas do poder público, com vistas ao desenvolvimento integral da criança e do
adolescente. Para tanto, é dever das Políticas de atendimento oferecer assistência social àqueles
que vivem, em situação de risco social, como descreve o art. 87 do ECA (1990), que determina
ser uma das linhas de ação das Políticas de atendimento as “Políticas e Programas de assistência
social, em caráter supletivo, para aqueles que deles necessitem”.

Estes ordenamentos somam força, no sentido de contribuir para a criação de Políticas


educacionais de caráter intersetorial2 de ação contra a pobreza, a exclusão social e a
marginalização cultural numa perspectiva da Educação Integral de Tempo Integral.

Consoante a esta perspectiva, a LDB (1996) afirma que a educação tem como finalidade
o pleno desenvolvimento do educando e preparação para o exercício da sua cidadania,
preconizando uma educação que dialogue com os diversos setores da sociedade. Já os art. 34 e
86 trazem como agenda que o ensino fundamental seja oferecido, em Tempo Integral de forma
progressiva

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho […].
Art. 34º.§ 2º. O ensino fundamental será ministrado progressivamente em
Tempo Integral, a critério dos sistemas de ensino.

A esse respeito, Menezes (2009) destaca que no art. 34, § 2º da LDB (1996) o Tempo
Integral é um dos possíveis alicerces para a construção da educação integral de Tempo Integral,
associando o exclusivamente ao ensino fundamental.

2
A intersetorialidade se materializa no cotidiano da gestão à medida que consegue criar consenso em torno de uma
meta com a qual todos possam, em alguma medida, comprometer-se.

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O art. 87, parágrafo 5° da LDB (1996) reafirma que “serão conjugados todos os esforços
objetivando a progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental para o
regime de escolas de Tempo Integral”.

Segundo Menezes (2009, p. 3), o Tempo Integral, embora presente na LDB (1996), não
se apresenta necessariamente associado à formação integral do ser humano, podendo estar
relacionado a outros fatores e assim explicita:

[...] o estabelecimento do progressivo aumento do tempo escolar pode estar


associado a outros fatores, a citar, aqueles relacionados à proteção social da
criança e do adolescente e aos direitos de pais e mães trabalhadores. No
entanto, a ausência de uma maior clarificação desta relação na legislação, em
acordo com os princípios do Direito, também não obstaculiza sua enunciação.

Por outro lado, o PNE de 2001-2010 (2001), dentre suas metas, propunha em sua meta II
(sobre a Educação Fundamental) um modelo de educação em turno integral para a modalidade
de ensino. O intuito era universalizar o ensino e diminuir as taxas de retenção. As escolas de
Tempo Integral do PNE de 2001-2010 (2001) seriam destinadas especialmente às crianças de
família com baixa renda, prevendo também a ampliação da jornada escolar para sete horas
diárias.

O turno integral e as classes de aceleração são modalidades inovadoras na


tentativa de solucionar a universalização do ensino e minimizar a repetência.
[...] Além do atendimento pedagógico, a escola tem responsabilidades sociais
que extrapolam o simples ensinar, especialmente para crianças carentes. Para
garantir um melhor equilíbrio e desempenho dos seus alunos, faz-se
necessário ampliar o atendimento social, sobretudo nos Municípios de menor
renda, com procedimentos como renda mínima associada à educação,
alimentação escolar, livro didático e transporte escolar.

A LDB (1996) e o PNE de 2001-2010 (2001) garantiram em seus textos legais o direito
à Educação Integral, todavia com algumas restrições, a LDB (1996) fez referência
exclusivamente ao ensino Fundamental e o PNE (2001) associou-o também à Educação Infantil,
embora nenhuma tenha definido explicitamente o Tempo Integral.

Essa lacuna legal, embora não desejável no que tange à garantia do direito à
educação em Tempo Integral, provavelmente redundou em pelo menos um
efeito positivo: a lei, ao não definir, estimulou a discussão entre os
profissionais da educação sobre as contribuições, desafios e impactos do
Tempo Integral no processo de formação dos alunos, além de fortalecer o
debate sobre a relação entre Educação Integral e Tempo Integral, construindo

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assim, entre outros, subsídios a serem incorporados nas normatizações que se


sucederam (MENEZES, 2012, p. 140).

Corrigindo a lacuna que havia ficado, o PNE de 2014-2024 (2014) assegurou novas
conquistas como a implementação plena do Custo aluno-qualidade inicial (CAQi), com a
participação financeira do Governo Federal, colaborando de forma inédita com os Estados e
Municípios; 10% do PIB para a educação; 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social
do Pré-Sal para a educação assegurar, no âmbito do financiamento da educação básica, um
percentual per capita diferenciado para matrículas de, no mínimo sete horas diárias. A esse
respeito Moll et al. (2012, p. 138) enfatiza que:

[...] o Governo Federal estabelece um marco na possibilidade de que as


experiências iniciadas, sobretudo, por sistemas municipais, tenham a
sustentabilidade necessária. Em um país marcado por descontinuidades
administrativas e Políticas, o financiamento diferenciado e permanente
estabelece um elemento novo que pode nos conduzir à universalização da
Educação Integral.

O PNE (2014) traz um avanço para essa modalidade da educação, colocando-a como meta
a ser atingida em todo o país, em sua meta de número 6 prevê a oferta de educação em Tempo
Integral para no mínimo 50% das escolas públicas e o atendimento de ao menos 25% dos
estudantes de educação básica do Brasil. Também prevê, na meta de número I, sobre a educação
infantil, o estímulo a uma educação infantil em Tempo Integral para todas as crianças de até
cinco anos, como já é estabelecido, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil.

Corroborando com a Constituição Federal (1988) e o ECA (1990), o PNE (2014) em sua
meta nº 6 indica também como responsabilidade da União, Estados, distrito Federal e
Municípios, a implementação de estratégias, no sentido de promover a Educação Integral por
meio de atividades pedagógicas, culturais e esportivas definindo que o tempo de permanência
dos alunos na escola, durante o ano letivo, seja igual ou superior a 7 horas diárias.

Destaca-se ainda no PNE (2014), a ampliação da oferta da Educação Integral, a qual deve
ser ofertada, na Educação Básica, atendendo às escolas do campo, comunidades indígenas,
quilombolas, garantindo também sua oferta para pessoas com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na faixa etária dos 4 aos 17 anos.

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Ainda, como estratégia de efetivação da Educação Integral, o PNE (2014) reforça como
dever dos entes federados, em regime de colaboração, a realização de construção de escolas de
padrão arquitetônico, mobiliário e espaços, pedagógicos, culturais, esportivos e tecnológicos
adequados, priorizando as comunidades pobres e que possuam crianças em situação de
vulnerabilidade.

Assim, aponta-se que a temática, em estudo figura desde a Constituição Federal de 1988
como um direito social, o qual vem se legitimando tomando forma com o ECA (1990), LDB
(1996) e o PNE (2001, 2014) tendo a ampliação do tempo como condição para a realização da
Educação Integral.

Os Planos Nacionais de Educação PNE (2001, 2014) em relação aos demais


ordenamentos jurídicos apresentados, avançam ao apresentar a educação em Tempo Integral
não apenas para o ensino fundamental e educação infantil, mas também para as escolas do
campo, comunidades indígenas, quilombolas, garantindo também sua oferta para pessoas com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

Outro avanço diz respeito a delimitação do quantitativo mínimo de sete horas diárias para
a escola de Tempo Integral e o regime de colaboração para construção de escolas com padrão
arquitetônico e de mobiliário adequado para atendimento em Tempo Integral.

Ressalta-se ainda que a Educação Integral de Tempo Integral vem também se situando
com um viés assistencial e de proteção à criança e adolescente, quando, ao encontro da
Constituição Federal a qual rege que “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer
natureza [...]” (BRASIL, 1988), prioriza comunidades pobres ou com crianças em situação de
vulnerabilidade social. Para além do caráter assistencial presente, a legislação aponta também
para um caráter intersetorial entre as instituições, na sociedade, que deve estar presente, na
organização da Educação Integral de Tempo Integral, no Brasil.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que diz respeito aos aspectos legais referente à educação integral, no Brasil, observou-
se que a Constituição Federal (1988), a LDB (1996), o ECA (1990) e o PNE (2011, 2014), se
mostram como ordenamentos jurídicos que somam força, no sentido de estabelecerem

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determinações que legitimam e contribuem para o desenvolvimento de políticas educacionais


de educação integral de tempo integral. Percebe-se, um avanço dos textos normativos. A partir
da LDB (1996), delimitou-se o quantitativo mínimo de sete horas diárias para a escola de tempo
integral e o regime de colaboração para construção de escolas com padrão arquitetônico e de
mobiliário adequado para atendimento em tempo integral.

Porém, entende-se que a legislação, ao assegurar tão somente a ampliação do tempo não
consiste, em um indicador de qualidade da proposta de educação em tempo integral, sendo
importante e necessário que o tempo integral seja colocado, em pauta por todos os responsáveis
pela educação, no sentido de dar oferta de um tempo enriquecido pelas atividades pedagógicas
que propiciem, ao educando se desenvolver, nos aspectos cognitivo, cultural, afetivo,
emocional, dentre outros.

Faz-se necessário destacar ainda que os ordenamentos jurídicos, ao estabelecerem as


estratégias de efetivação da educação integral, no caso do PNE (2014), priorizando as
comunidades pobres e que possuam crianças, em situação de vulnerabilidade, apresentam
características predominantemente assistencialista. Alertamos que essa característica contribui
para a exclusão de crianças, jovens e adolescentes e à educação de qualidade, aspecto também
evidenciado por Menezes (2012), o que se contrapõe ao direito constitucional de que todos têm
direitos iguais perante a lei e à educação integral como um direito de todos.

4. REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal, 1988.
_______. Presidência da República. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o
Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 1990.
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nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 27833.
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_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade. Educação integral: texto referência para o debate nacional. Brasília, DF,
2009. (Série Mais Educação).

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_______. Ministério da Educação. O Plano Nacional de Educação 2014-2024.2014.


Disponívelvem:<http://www.observatoriodopne.org.br/uploads/reference/file/439/docu
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MENEZES, J. S.S. Educação Integral e tempo integral na educação básica: da LDB ao PDE.
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