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O Conhecimento que Liberta - Estudos Bíblicos O PRINCÍPIO DA CRIAÇÃO: O Surgimento de Todas as Coisas

OUTRA ORIGEM DO CÉU E DA TERRA


INTRODUÇÃO – Muitas tradições religiosas transmitem a história da criação como o princípio somente da formação
de nosso universo, tendo já como pré-existência um grande abismo envolto em trevas, com um vasto oceano cósmico
acima e ao redor; tendo também a raça incontável de anjos, seres dotados de grande sabedoria e poder juntos de Deus,
que os criou em um outro tempo na eternidade. Entretanto, existe uma outra narrativa, que além de possível, tem muita
probabilidade de estar mais próxima da original que a do livro de Gênesis. Neste assunto, abordarei um estudo especula-
tivo de outra origem do céu e da terra, na qual é um pouco diferente, mas com bastante semelhanças no livro de Gênesis.
Essa origem especulativa é baseada no Livro dos Jubileus, que contém bastante informações valiosas, e que preenche
algumas lacunas de Gênesis, e dos outros 4 livros que são: Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, que fazem parte
do Pentateuco, os cincos livros atribuídos a Moisés.
LIVRO DOS JUBILEUS – É um antigo trabalho judaico religioso, de 50 capítulos, considerados canônicos pela Igreja
etíope ortodoxa, bem como os Beta Israel (judeus etíopes), onde é conhecido como o Livro da Divisão; narra a história
dos personagens bíblicos encontrados em Gênesis, com detalhes adicionais, principalmente com relação aos três patriar-
cas de Israel, até o nascimento de Moisés.
O que irei explicar aqui é porque essa origem pode ser a mais aproximada da tradição religiosa original, e como ela sur-
giu dentre outras origens da criação.
HIPÓTESE DOCUMENTÁRIA – Também conhecida entre os estudantes de Teologia moderna como a Hipótese de
Wellhausen (Em homenagem ao seu autor, Julius Wellhausen), propõe que o Pentateuco foi derivado de fontes indepen-
dentes, paralelas e narrativas completas, que foram subsequentemente combinadas em sua forma corrente por uma série
de redatores ou editores. A hipótese foi desenvolvida entre os séculos 18 e 19, da tentativa de se conciliar as inconsistên-
cias do texto bíblico. Pelo fim do século 19 foi aceito de maneira geral a tese de que quatro fontes principais foram com-
binadas na forma final por uma série de redatores. Estas quatro fontes são conhecidas como Javista, Eloísta, Deuterono-
mista e Sacerdotal.
A formulação de Wellhausen é a seguinte:
FONTE JAVISTA: Escrita entre cerca de (960, 950 e 930 a.C). No sul do reino de Judá.
A Fonte Javista, designada pela letra J é assim chamada porque desde o começo dá a Deus o nome de Iahweh. Ela se o-
riginou provavelmente no tempo de Salomão, nos meios reais de Jerusalém.
Características: Para o Javista, Deus envolve-se ativamente na história da humanidade e, em especial, na de Israel. Pode-
mos encontrar textos dessa fonte nos livros de Gênesis, Êxodo e Números. Também é possível encontrar textos dessa
fonte nos livros de Josué e Juízes. No geral, essa fonte trata da história israelita desde a criação, passando pela experiên-
cia do êxodo até a posse de Canaã. Essa história retrata o pensamento do povo do sul (Judá) e não há como identificar
seus autores a não ser do que se sabe ser das tribos sulistas e côrte. A Fonte Javista conta a história no estilo de grande
“Epopéia Nacional” quando todos já têm marcados em sua memória histórica essa história assim advinda da tradição o-
ral secular relida em contexto dos reis, privilegiando as tribos do sul.
FONTE ELOÍSTA: Escrita entre cerca de (900, 850 e 750 a.C). No norte do reino de Israel.
A Fonte Eloísta, designada pela letra E, dá a Deus o nome de Elohim. Ela nasceu talvez depois que o reino unido de Da-
vi-Salomão se dividiu em dois.
Características: Muito marcada pela mensagem de profetas como Elias e Oséias, ela dá muita importância aos profetas.
Sua narrativa dá ênfases a locais (santuários, montes, locais sagrados) onde é forte a experiência de suas lideranças
embrionárias (patriarcas, profetas) com a manifestação divina. Também é enfatizada a aliança com o povo (ao contrário
da Fonte Javista que dá ênfase ao reinado e templos) enquanto coletividade. Esta fonte valoriza mais o campo, a natureza,
as tradições primitivas anterior a monarquia, as relações interpessoal com a divindade (contrario ao Javista que é mais
estatal, precisa de mediadores) e as relações familiares, etc.
Observações: Os limites do documento Eloísta são difíceis de discernir. Podemos dizer, que o documento Eloísta começa
com o ciclo de Abraão, o seu final não é fácil de ser determinado. A Fonte Eloísta está tão entrelaçada com a Javista,
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que fica muito difícil precisar e separar as duas fontes em todas as situações. Como a Fonte Eloísta ficou subordinada a
Javista, o que resta da narrativa Eloísta muitas vezes está incompleto. Estas duas tradições se fundiram em Jerusalém
pelos anos 700 a.C. Esta fusão, chamada Jeovista (JE), não é simples adição; ela foi a ocasião para se completarem e se
desenvolverem algumas tradições, como a tradição Deuteronômica e a tradição Sacerdotal.
FONTE DEUTERONÔMISTA: Escrita entre cerca de (722, 622 e 600 a.C. em Jerusalém, durante o período de refor-
ma religiosa.
A Fonte Deuteronômista, designada pela letra D está contida principalmente no Deuteronômio, mas influenciou outros
livros. Começada no reino do Norte, foi terminada no de Jerusalém.
Características: É uma fonte refinada, mais critica. Nessa fonte é forte a releitura da história do norte a luz da aliança e
o momento em que o sul esta passando, de modo que poderá ter (e teve) o mesmo fim: a destruição e exílio. Em sua re-
leitura da história a ênfase é muito grande na pré-história israelita desde Moises até o inicio do reinado, dando valor à-
quilo que constitui o povo e a terra como dom/herança sagrada de Deus.
FONTE SACERDOTAL: Escrita entre cerca de (587, 550, 530, 450 a.C). pelos sacerdotes judeus no exílio babilônico.
A Fonte Sacerdotal, designada pela letra P do vocábulo alemão Priesterkodex, que quer dizer “código sacerdotal”. No
exílio, os sacerdotes reliam as suas tradições para manterem a fé e a esperança do povo.
Características: A figura fundamental não será então mais o rei, nem o profeta, mas o sacerdote e o fundamento não se-
rão mais a benção nem o temor de Deus, mas a fé e uma esperança de um tempo melhor. De Gênesis, Êxodo, passando
pelo Levítico e Números, os textos dessa fonte é fortemente constituído de genealogias, observância do sábado, leis reli-
giosas, circuncisão, tratamento das enfermidades, o convívio social, o jeito de cultuar a divindade, a casta sacerdotal,
símbolos religiosos e interpretação da história a partir da mediação sacerdotal. Sua influencia é muito forte na restaura-
ção (nos tempos de Esdras, Neemias…) e na conservação dos costumes morais, religiosos.
Das quatro quero destacar a Fonte Eloísta e Sacerdotal, pois elas em alguns pontos são muito semelhantes ao Livro dos
Jubileus; e provavelmente essas fontes foram usadas para esse livro, que serviu como base para ter uma melhor redação
do Pentateuco, e também preencheu algumas lacunas faltantes e outras mal compreendidas, que causam interpretações
problemáticas.
A seguir temos alguns pontos das lacunas faltantes e das mal compreendidas.
Lacunas Faltantes:
“E o anjo da presença, em conformidade com a ordem do Senhor, disse a Moisés: Escreve todas as coisas da criação, de
que modo o Senhor DEUS realizou, em seis dias, toda a Sua criação e no sétimo dia repousou, e o santificou por todos
os séculos, e o pôs como sinal de toda a sua obra.”
(JUBILEUS 2:1, Nova Tradução J.Franclim Pacheco Revisada e Corrigida)
Neste verso vemos uma narrativa adicional em paralelo com o livro do Êxodo, capítulo 24 verso 12, onde Moisés, além
de receber as sagradas tábuas da lei, no monte Sinai, também recebeu a revelação divina da criação, que é um fato muito
importante, e serve como base para confirmar que Moisés em seu tempo de vida, tinha um material original do relato de
toda a criação.
“Escreve, que no primeiro dia criou os céus que estão no alto, a terra, as águas, e todo o espírito que estaria na sua pre-
sença, os anjos da presença, os anjos da santidade, os anjos do espírito do fogo e os anjos do espírito dos ventos, os an-
jos do espírito das nuvens e das trevas, do granizo, da neve e da geada; os anjos dos abismos, os anjos das vozes, dos
trovões e dos raios; os anjos do espírito do gelo, do frio e do forte calor, da estação das chuvas, do inverno, da primavera,
do verão e do outono, e os anjos de todos os espíritos reunidos que estão no céu, na terra e em todas as profundezas dos
abismos, em trevas, na luz, na alva da manhã, no dia e na noite, os quais Ele preparou com a sabedoria do Seu coração.
E então, quando vimos a Sua obra, bendissemo-Lo e O magnificamos na Sua presença, por toda a Sua obra, pois no pri-
meiro dia, tinha feito sete grandes obras.”
(JUBILEUS 2:2, Nova Tradução J.Franclim Pacheco Revisada e Corrigida)
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Neste outro verso vemos também outra narrativa adicional, que é refente ao livro de Gênesis, capítulo 1, do verso 1 ao
5, onde temos ela numa forma totalmente resumida, que provalmente o autor a redigiu assim, para se a ter somente aos
detalhes principais, ou também, pode haver tido outro tipo de visão do autor, sobre a criação em sua época, já que temos
em Gênesis 1:1, uma visão Eloísta.

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