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Metodologia da pesquisa
Salvador, março/08
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Pesquisa de Survey como método das ciências sociais
6. A seleção da amostra
9. Conclusões
Um dos primeiros e mais marcantes usos do survey data de 1880, quando Karl Marx enviou
questionários pelo correio a 25.000 trabalhadores franceses, com o objetivo de verificar o nível
de exploração trabalhador/empregado, através de duas perguntas básicas: “Seu empregador ou
representante dele lança mão de desonestidade para privá-lo de parte do seu salário? Se você se
abastece nos armazéns da empresa, a qualidade dos produtos serve de pretexto para deduções
fraudulentas do seu salário?”
Apesar deste exemplo precursor de Marx, e de registros de que também outros pesquisadores
clássicos utilizaram-se deste método para desenvolvimento das suas análises - Max Weber, por
exemplo, usou métodos de pesquisa de survey no seu estudo sobre a ética protestante – a
pesquisa de survey contemporânea tem destaque sobretudo nos Estados Unidos.
Neste sentido, Earl Babbie (1999, p.78) destaca a importância do método em três setores
distintos da sociedade americana.
Por fim, a pesquisa científica na universidade pode ser considerada como a terceira área de
concentração na qual destacou-se o método survey. Inicialmente utilizado em poucas
universidades, afirma-se que o método sofreu um refinamento científico, com a inserção de
métodos sofisticados de análise, com a colaboração fundamental de Samuel A. Stouffer e Paul
F. Lazarsfeld, considerados pioneiros da pesquisa de survey como ela é conhecida hoje.
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2 Noções gerais acerca da pesquisa de survey
A palavra survey pode ser traduzida para língua portuguesa através da expressão
“levantamento”. Como denominação de método de pesquisa, mantiveram-se as relações
lingüísticas, tendo a pesquisa de survey o mesmo significado do levantamento. Neste trabalho,
foi adotada com mais freqüência a expressão “pesquisa de survey”, apesar de por vezes surgir,
no mesmo sentido, a caracterização do “levantamento”.
Inicialmente, cumpre ressaltar a noção geral da pesquisa de survey, que possui como fator
principal o levantamento de informações a um determinado grupo de pessoas, no sentido de
realizar uma análise quantitativa do problema estudado através da aplicação de instrumentos
apropriados, sobretudo questionários, no intuito de obter uma conclusão sobre aquele estudo de
forma correspondente aos dados coletados.
Para Antônio Carlos Gil (2002, p.51), “quando o levantamento recolhe informações de todos os
integrantes do universo pesquisado, tem-se o censo”. O censo pode ser caracterizado, portanto,
como o maior levantamento possível. Enquanto em um levantamento menos abrangente a
amostra analisada é projetada para toda a população da qual se deseja retirar conclusões, o censo
já é, por si só, a reunião de dados referentes a toda a população que se deseja estudar,
dispensando a projeção.
A maioria das aplicações da pesquisa de survey, no entanto, não envolve todos os integrantes da
população estudada, sobretudo em função das dificuldades materiais envolvidas e do tempo
necessário para a análise.
O levantamento por amostragem, por sua vez, é um dos métodos mais freqüentes entre os
pesquisadores sociais, sobretudo em função de três vantagens destacadas por Gil (2002, p.51):
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a) conhecimento direto da realidade: à medida que as próprias pessoas informam
acerca de seu comportamento, crenças e opiniões, a investigação torna-se mais livre
de interpretações calcadas no subjetivismo dos pesquisadores;
b) economia e rapidez: desde que se tenha uma equipe de entrevistadores,
codificadores e tabuladores devidamente treinados, torna-se possível a obtenção de
grande quantidade de dados em curso espaço de tempo. Quando os dados são obtidos
mediante questionários, os custos tornam-se relativamente baixos;
c) quantificação: os dados obtidos mediante levantamento podem ser agrupados em
tabelas, possibilitando sua análise estatística. As variáveis em estudo podem ser
quantificadas, permitindo o uso de correlações e outros procedimentos estatísticos. À
medida que os levantamentos se valem de amostras probabilísticas, torna-se possível
até mesmo conhecer a margem de erro dos resultados obtidos.
Indispensável, também, destacar as principais limitações da pesquisa de survey, também
selecionadas de forma bastante apropriada por Gil (2002, p.51-52):
Mercado - Utilizada por empresas e pelas indústrias junto a consumidores para avaliação
de hábitos de consumo, de produtos específicos e de demanda em relação a novos
produtos.
Assim, a partir do exposto, pode-se perceber que três objetivos gerais permeiam os interesses de
que propõe uma pesquisa de survey: descrição, explicação e exploração.
Sobre o objetivo descritivo da pesquisa de survey, Babbie (1999, p.96) analisa que este
caracteriza-se com o intuito da pesquisa de descobrir a distribuição de certos traços e atributos
de alguma população, não se preocupando o pesquisador com o porquê da distribuição
observada existir, mas sim com o que ela é, complementando que:
Distribuições por idade e sexo relatadas pelo U. S. Bureau of Census são exemplos
deste tipo de survey. De forma semelhante, o Ministério do Trabalho pode procurar
descrever a extensão do desemprego no país num ou em vários pontos do tempo.
Também o Gallup pode tentar descrever os percentuais do eleitorado que votarão nos
vários candidatos a presidente (...). O percentual de uma população que
provavelmente comprará um novo produto comercial é outro exemplo de pesquisa
descritiva.
Está claro, portanto, que a maioria dos surveys, ou ao menos aqueles mais frequentes, têm o
perfil descritivo. Muitos, porém, têm o objetivo adicional de proferir situações explicativas
sobre a população. Babbie (1999, p.96) explica que:
ao estudar preferências eleitorais, por exemplo, você pode querer explicar por que
alguns eleitores preferem um candidato, enquanto outros optam por outro candidato.
Ao estudar o desemprego, você pode querer explicar por que parte da força de
trabalho está empregada e o restante não. Explicar quase sempre requer análise
multivariada – o exame simultâneo de duas ou mais variáveis. Preferências por
diferentes candidatos políticos podem ser explicadas em termos de variáveis como
filiação partidária, educação, raça, sexo, região do país etc. Ao examinar as relações
entre preferências por candidatos e as diversas variáveis explicativas, o pesquisador
pode tentar “explicar” por que eleitores escolheram um ou outro candidato.
Por fim, o terceiro objetivo geral que caracteriza a pesquisa de survey destaca o caráter
exploratório que a pesquisa pode assumir. Este objetivo pode determinar uma espécie de survey
menos controlado, que não vise propriamente respostas às questões básicas para o planejamento
da pesquisa, mas sim o aprofundamento de determinadas questões ainda não totalmente
esclarecidas no início da investigação. Pode ser aplicado sobretudo quando a população
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estudada ainda não é conhecida o suficiente para a elaboração de um survey mais controlado, no
qual a amostra possa ser bem delineada e os resultados mais conclusivos. Funciona, portanto,
como um mecanismo exploração, e não de resultados específicos.
Considerando que praticamente todas as pesquisas de survey têm na amostragem o seu principal
mecanismo de análise da população estudada, à exceção do censo, entendemos como
importantes alguns argumentos acerca da lógica da amostragem. Sabe-se, diante de tudo já
exposto, que uma amostragem não condizente com o perfil e os objetivos na pesquisa
fatalmente direciona o trabalho a um resultado cientificamente inválido.
Trata-se de um argumento curioso e relevante suscitado por Babbie, que afirma (1999, p.114)
que, muitas vezes, surveys por amostragem são mais precisos do que entrevistar todos os
componentes de uma população. Neste argumento aparentemente estranho e inválido surge um
importante elemento da lógica da amostragem assim defendido por Babbie:
6 A seleção da amostra
A amostra pode ser caracterizada como uma pequena parte dos elementos que compõem o
universo, pelo que a seleção bem feita de uma amostra é diretamente responsável pelo sucesso
da pesquisa de survey. A forma de seleção da amostra deve variar conforme as características
gerais da pesquisa, bem como em função do tipo de população, condições materiais e perfil do
objeto pesquisado. Alguns tipos de amostragem merecem destaque.
A amostragem por conglomerados, por sua vez, deve ser aplicada quando surge dificuldade de
identificação dos elementos. “É o caso, por exemplo, de pesquisas cuja população seja
constituída por todos os habitantes de uma cidade (...). Torna-se possível, então, colher uma
amostra de quarteirões e fazer a contagem de todas as pessoas que residem naqueles
quarteirões”, cita Gil (2002, p.123).
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A amostragem por cotas, finalmente, seleciona a amostragem a partir de três fases: a) classifica
a população em função de propriedades tidas como relevantes para o fenômeno a ser estudado;
b) determina a proporção; c) fixa cotas para cada entrevistador, de forma que a amostra total
seja composta em observância à proporção das classes consideradas. É muito utilizada em
pesquisas eleitorais e de mercado, sobretudo em função do baixo custo.
A entrevista, por sua vez, possibilita vantagens não encontradas no questionário, como, por
exemplo, permitir a obtenção de informações daqueles que não sabem ler ou escrever e a análise
do comportamento não-verbal. Entre as técnicas de interrogação, é a que apresenta maior
flexibilidade, podendo ser informal, parcial ou totalmente estruturada. No entanto, tem a sua
aplicação mais complexa e não preserva o anonimato.
Existem questões que, apesar de não fazerem parte do método científico, formam um grupo de
normas obrigatórias aos cientistas que utilizam a pesquisa de survey. São as normas éticas, que
formam quase um consenso em relação à aplicação das pesquisas, sobre as quais trata-se com
brevidade a seguir.
Inicialmente, cumpre ressaltar que a participação do pesquisado deve ser voluntária. E essa
condição deve ser explícita, não podendo ser considerada como entendimento tácito. Não
descarta-se, no entanto, um comportamento persuasivo do entrevistador (no caso de entrevista),
no sentido de convencer o indeciso a participar da pesquisa. “Só levará alguns segundos” ou
“posso voltar em algum momento mais conveniente” são expressões absorvidas de forma
razoável perante a ética da pesquisa de survey.
É importante destacar, também, que a pesquisa de survey não deve, em nenhum momento,
prejudicar o entrevistado, que voluntariamente cooperou. Neste sentido, a revelação de
informações confidenciais, por exemplo, é considerada um desvio sério dos propósitos da
pesquisa. Devem ser ressaltados, ainda neste sentido, o anonimato e o sigilo.
9 Conclusões
10 Referências
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.