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Resumo
O paper faz um levantamento dos estudos sobre protestos expressos em
movimentos sociais ou outras formas de ações coletivas no Brasil ao longo das
cinco últimas décadas mapeando sua diversidade, temáticas, paradigmas
teórico-metodológicos que as fundamentam, categorias e seus autores.
Recupera-se a construção, a transformação e a diversificação das ações e as
teorias que têm dado suporte às suas análises, segundo momentos da
conjuntura histórico-política do país. Como resultado os dados foram agrupados
em cinco ciclos histórico-políticos distintos:1º- na década de 1970; 2º- transição
democrática dos anos de 1980; 3º pós Constituição de 1988; 4º- Década de 2000
e, 5º-pós junho de 2013. Estes ciclos têm sido analisados segundo blocos
temáticos de teorias destacando-se: o engajamento militante ou neomarxista;
culturalistas ou identitárias; institucionalistas ou da mobilização política
institucional; teoria crítica e reconhecimento de direitos; decolonial ou
descolonização ; de gênero a partir de grupo de mulheres; abordagem relacional
ou do cyberativismo; autonomistas; neoliberais e conservadoras. Indaga-se
como os eventos de protestos e as teorias têm influenciado, informado e
orientado a produção brasileira sobre os movimentos sociais ao longo de quase
cinco décadas.
Apresentação
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focado no estudo das redes sociais, e da Internet, que ele desenvolve desde o
final dos anos 90 (CASTELLS, 1999). Atualmente ele destaca as teorias
cognitivas das emoções que movem as pessoas a se indignarem. As emoções-
dos indivíduos e coletivos ganham destaque nos protestos políticos e podem
assumir papel ativo da construção do social (CASTELLS, 2013). Muitos dos que
protestam negam a política partidária atual. Há múltiplos processos de
subjetivação na construção dos sujeitos em ação - os acontecimentos no calor
da hora provocam reações que geram novas frentes da ação coletiva. A
composição das mesmas é complexa, diversificada, com múltiplos atores,
propostas e concepções sobre a política, a sociedade, o governo. Contudo, não
basta focar nos indivíduos, nas organizações e nos eventos de protesto, como
bem disse DIANI (2010). É preciso observar também a multiplicidade de laços
entre os diferentes atores, episódios ocorridos na conjuntura sociopolítica e
cultural paralelos aos eventos que poderão lhes dar sentido e direção. A
pluralidade de indivíduos, grupos e organizações presentes em uma
manifestação, deve ser analisada pelas redes de compartilhamento de crenças
e pertencimentos, pelas interações informais e pelas identidades coletivas que
vão construindo.
Cumpre destacar uma abordagem presente desde o primeiro ciclo tratado neste
paper mas que ganha força e proeminência no 5º ciclo. Trata-se da abordagem,
de gênero, a partir de grupo de mulheres, também denominada de ‘feministas’.
Sabe-se que esta abordagem teve antecedentes desde o século XIX, mas foi a
partir da década de 1960 que construiu um arcabouço teórico-conceptual. Ela
passou por várias etapas e teve várias ênfases- desde a libertação das
convenções sociais e a moral dos anos 60 (SAFFIOTI, 1969), a luta contra
discriminação das mulheres no mercado de trabalho (SOUZA-LOBO, 1991) , o
papel da mulher na sociedade (SCOTT e TILLY,1994) e no campo da educação
(LOURO, 1997); a questão de gênero (CASTRO, 1992; COSTA e
BRUSCHINI,1992 ) a mulher na política (PERROT, 1998; YOUNG,
1996;AVELAR, 2002; ALVAREZ, 2004); a violência contra as mulheres ( LIMA,
2013 ); às reivindicações do próprio corpo (BUTLER, 1993), o problema do
reconhecimento com ética (FRASER, 2001), a questão da subjetividade (RAGO,
2013), a luta contra o assédio moral e sexual (ELUF,1999) etc. A participação
das mulheres foi além das lutas pela identidade porque criaram se novos sujeitos
políticos e históricos (PINTO, 1992), que demandou identidade, novos direitos
(em todos os campos). A participação das mulheres não se resumiu a entrada
nas universidades, no mercado de trabalho ou no exercício de atividades até
então exclusivas dos homens. Ela clamou por igualdade de gênero, não só para
as mulheres, mas para todas as formas de ser humano, todas as possibilidades
de ser mulher. Abriu as portas para a participação e demandas de todos os
homoafetivos, lutou para quebrar barreiras de raça e cor. De todos os
movimentos sociais que participaram da cena pública nos últimos cinquenta
anos, o das mulheres foi um dos que mais avançou, no sentido de combate às
desigualdades, talvez o que mais questionou as diferenças sociais e exigiu
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