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126 - Revista Psique - O Afeto No Tratamento Oncológico PDF
126 - Revista Psique - O Afeto No Tratamento Oncológico PDF
editorial
Gláucia Viola, editora
Um olhar psicológico
sobre o câncer
A
relação do câncer com o sofrimento e a morte precoce faz com que a grande maioria das pessoas
não saiba lidar com tudo que envolve essa doença. O surgimento da Psicologia Oncológica serviu
PARADESMISTIlCAROSMEDOSECRIARNOVOSPARÊMETROSEMRELA¥ÎOAQUESTÜESCOMODIAGNØSTICO
MEDIDASDEENFRENTAMENTOCOMPREENSÎODASCHANCESDECURAEENTENDIMENTODOQUEPODEREPRE-
sentar qualidade de vida.
O câncer deve ser enfrentado e encarado como um problema verdadeiramente de
SAÞDEPÞBLICAQUEATINGEPESSOASDETODASASIDADESEEMTODOSOSLUGARESDOMUNDO
sendo a segunda causa principal de morte por doença no planeta. Todas essas
CARACTERÓSTICAS EXIGIRAM A NECESSIDADE DE OS PROlSSIONAIS ENTENDEREM O PROBLEMA
ALÏMDAVISÎOCLÓNICAMÏDICA!0SICO
ONCOLOGIAASSUMEESSEPAPELRECONHECENDO
QUEODESENVOLVIMENTODOCÊNCERESEUPROCESSODETRATAMENTOSEMDÞVIDASOFREM
INTENSAINmUÐNCIADEVARIÉVEISSOCIAISEAFETIVAS
!LÏM DOS PROBLEMAS CAUSADOS PELA DOEN¥A O DESGASTE PSÓQUICO SOFRIDO PELO
PACIENTEEPORSEUSFAMILIARESEAMIGOSDURANTEOPROCESSODETRATAMENTOOCORRE
PRINCIPALMENTEEMFUN¥ÎODEADOEN¥ASERASSOCIADAADORSOFRIMENTODEGRADA¥ÎO
HUMANAOUSEJAODIAGNØSTICOÏENCARADOCOMOUMASENTEN¥ADEMORTE%STAEDI¥ÎO
da Psique Ciência & VidaMOSTRACOMOA0SICOLOGIA/NCOLØGICAAJUDANACONDU¥ÎO
DESSE PROCESSO BUSCANDO AMENIZAR MITOS E ATÏ MESMO FANTASIAS PROVOCADAS POR
ELA / AMBIENTE HOSPITALAR POR EXEMPLO Ï UM FATOR ESTRESSANTE CHEIO DE ESTIGMAS APESAR DE DESPERTAR
SENTIMENTOS AMBÓGUOS 0OIS ALÏM DE TRAZER ALÓVIO A QUEM CHEGA A SUAS INSTALA¥ÜES EM MOMENTOS DE
SOFRIMENTOCAUSAGRANDEREJEI¥ÎO0ARAVALIDARESSESSENTIMENTOSA0SICOLOGIAGANHAIMPORTÊNCIANOSENTIDO
DE ATUAR JUSTAMENTE NO CAMPO DAS VARIÉVEIS EMOCIONAIS / CÊNCER EM CONJUNTO COM A HOSPITALIZA¥ÎO
CARREGAESSASSENSA¥ÜESESPECIALMENTENOQUEDIZRESPEITOÌMORTE
A verdade incontestável e difícil de aceitar é que o sofrimento está intimamente ligado ao câncer. Por
ISSOCABEAOPROlSSIONALDESAÞDEMENTALCOMPARTILHARDIVIDIREMOBILIZARTODOSOSRECURSOSDISPONÓVEIS
para que as pessoas tenham mais possibilidades de elaborar a situação da melhor maneira possível e para
QUEPOSSAMSEANCORARNAREALIDADEDEFORMASAUDÉVEL!TÏPORQUEADOEN¥AGUARDAEMSIACONSCIÐNCIADA
possibilidade da morte e essa constatação é acompanhada de angústias que seguirão o paciente durante o
PERCURSODOTRATAMENTO%CADAPACIENTEENXERGAUMSENTIDOPARTICULARNAMORTEDEACORDOCOMAFASEEM
QUESEENCONTRANOPROCESSODEEVOLU¥ÎOVITAL%SSAOBSERVA¥ÎODElNITUDEVIVÐNCIASECONDI¥ÜESFÓSICA
PSICOLØGICASOCIALECULTURALDEPENDETAMBÏMDEUMACOMPANHAMENTOEMOCIONALADEQUADOLEVANDOA
uma intersecção entre todos os fatores no desenrolar da vida.
Boa leitura!
Gláucia Viola
psique@escala.com.br
www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida “Uma cama de hospital é um táxi
estacionado com o taxímetro a correr.”
Groucho Marx
sumário
CAPA
1an0os DOSSIÊ: PSICOLOGIA
NO ESPORTE
35
A preparação psicológica
pode ser o diferencial nos
resultados expressivos de
IMAGEM DA CAPA: SHUTTERSTOCK
ATLETASRATIlCANDOSEUPAPEL
central no universo esportivo
MATÉRIAS
08 A Ética do psicólogo
26 !TUA¥ÎODOPROlSSIONAL
na Perícia Psicológica,
no âmbito judicial e
principalmente nas Varas
de Família apresenta
ENTREVISTA inúmeras diferenças do que
é exigido na área clínica
Neurologista Marcela Amaral Avelino
destaca a heterogeneidade dos quadros
CLÓNICOSCOMODESAlOCIENTÓlCO
para a obtenção de diagnósticos
dos transtornos mentais Apoio fundamental
!SDIlCULDADESEMLIDARCOM 56
SEÇÕES o câncer, suas consequências
05 EM CAMPO
e a proximidade da morte
16 IN FOCO
fazem com que a Psicologia
18 PSICOPOSITIVA Oncológica seja fundamental
20 PSICOPEDAGOGIA na atuação hospitalar
22 SEXUALIDADE
24 SUPERVISÃO
32 COACHING
34 LIVROS
50 CYBERPSICOLOGIA
52 NEUROCIÊNCIA
Uma nova ordem
54 RECURSOS HUMANOS Counseling organizacional
64 DIVÃ LITERÁRIO é uma ferramenta que usa
66 CINEMA o conhecimento técnico
70 PERFIL de uma pessoa para
78 UTILIDADE PÚBLICA 72 ORIENTARUMPROlSSIONALA
80 EM CONTATO tomar decisões assertivas
82 PSIQUIATRIA FORENSE
em campo por Jussara Goyano
TR ABALHO E FELICIDADE
Enquanto as mais diversas vertentes
organizacionais discutem um modelo
de liderança, um estudo realizado por
pesquisadores das universidades de
Greenwich e Sussex mostra que propor-
cionar uma percepção de propósito no
trabalho entre os seus liderados não é
uma habilidade dos gestores. Muito pelo
CONTRÉRIOELESDESTROEMESSESIGNIlCADO
A pesquisa ouviu 135 pessoas trabalhan-
do em 10 ocupações muito diferentes,
desde sacerdotes até coletores de lixo,
para perguntar sobre incidentes ou
momentos em que os trabalhadores pen-
saram que o seu trabalho era algo signi-
lCATIVOEPOROUTROLADOMOMENTOSEM
que eles se perguntaram: “Por que estou
trabalhando com isso?”. A despeito das
lideranças, a autora do estudo, Katie
Bailey, diz que para as organizações que
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
BUSCAMNUTRIRESSESIGNIlCADOOPERAR
“com responsabilidade ética e moral é
uma boa alternativa, uma vez que são
qualidades que fazem a ponte entre o
trabalho e a vida pessoal”.
ESTRESSE
COMO OS NEURÔNIOS CEREBRAIS
COMANDAM REAÇÕES FISIOLÓGICAS
Ao experienciar o estresse, o nosso corpo desvia re-
cursos metabólicos para sua resposta de emergência. Pen-
sava-se que o sistema nervoso simpático - sistema instinti-
vo do corpo para reagir ao estresse - dirigia essa atividade,
mas uma pesquisa recente do Weizmann Institute of Science,
em Israel, agora mostra que os neurônios no cérebro têm
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
um papel surpreendente nessa atividade. As descobertas,
que apareceram recentemente na Cell Metabolism, pode-
rão, no futuro, ajudar no desenvolvimento de melhores
medicamentos para patologias relacionadas com o estres-
se, tais como os transtornos alimentares.
Quando somos expostos a situações estressantes, o hipo-
TÉLAMOINTENSIlCAAATIVA¥ÎODEUMRECEPTOREMSUASPARE-
COMPORTAMENTO
des exteriores, o CRFR1. Sabe-se que esse receptor contribui
para a rápida ativação da rede nervo simpática - aumentando
E INTELIGÊNCIA
o ritmo cardíaco, por exemplo. Como essa área do cérebro SABEDORIA VARIA DE ACORDO
também regula o equilí-
brio de energia do corpo,
COM A SITUAÇÃO
os cientistas partiram Estudo mostra que não existe pessoa sábia, mas ati-
RESOLVERAM VERIlCAR SE O tude, sim. Pesquisadores da Universidade de Waterloo,
CRFR1 poderia desem- nos Estados Unidos, observaram a reação de indivíduos
penhar um papel nisso. em resposta a diversas situações cotidianas para estudar
Eles descobriram que é a sabedoria humana. Entre seus achados está a percepção
o receptor que desem- de que raciocínio sábio é aquele que põe em prática uma
penha efeito inibitório combinação de habilidades, tais como a humildade in-
sobre as células nervosas, telectual, a consideração da perspectiva dos outros e a
e isso é o que ativa o sis- procura por compromisso. E não depende exclusivamente
tema nervoso simpático. de personalidade, tendo essas características postas em
A descoberta, entre prática de acordo com a circunstância.
outros detalhes revela- ! OBSERVA¥ÎO DE QUE O RACIOCÓNIO SÉBIO VARIA SIGNIl-
dos pela pesquisa, pode auxiliar no desenvolvimento de cativamente entre as situações na vida cotidiana sugere
tratamentos psicofarmacêuticos que atuem no hipotála- que ele não é raro. Além disso, para indivíduos diferentes,
mo, o que já está sendo feito por algumas empresas, em apenas determinadas situações promovem esta qualidade.
busca de um possível tratamento para os transtornos de Para a próxima etapa do trabalho, os cientistas prepa-
ansiedade ou depressão. Os cientistas alertam, no entanto, ram uma ferramenta para avaliar a sabedoria de acordo
que, como as células estão envolvidas no equilíbrio ener- com a situação. Eles têm planos de realizar o primeiro
gético, bloquear os receptores poderá ter efeitos colate- estudo longitudinal com o objetivo de ensinar as pessoas
rais, como ganho de peso. a raciocinar sabiamente em suas próprias vidas.
O novo mapa da sabedoria foi publicado recentemente
PARA SABER MAIS: na revista Social Psychological and Personality Science.
Yael Kuperman, Meira Weiss, Julien Dine, Katy Staikin, (Fonte: ScienceDaily.com)
Ofra Golani, Assaf Ramot, Tali Nahum, Claudia Kühne,
Yair Shemesh, Wolfgang Wurst, Alon Harmelin, Jan M.
Deussing, Matthias Eder, Alon Chen. CRFR1 in AgRP Jussara Goyano é jornalista. Estuda Psicologia, Medicina
ARQUIVO PESSOAL
Neurons Modulates Sympathetic Nervous System Activ- Comportamental e Neurociências, com foco em
ÈIG9H¢GGI:UIGIIIG
G
ity to Adapt to Cold Stress and Fasting. Cell Metabolism,
pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento.
2016; DOI: 10.1016/j.cmet.2016.04.017
www.portalcienciaevida.com.br
ENTENDENDO A CRISE
REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 64 Uma reflexão sobre o
Game of
TRABALHISMO
Thrones
Artigo analisa
arquétipos
O Brasil passa por um grave momen- ou, mais precisamente, conhecimento políticos de
uma das séries
mais populares
Como a esquerda nacional
encarou essa ideologia,
to em sua trajetória, no qual se observa CIENTIlCODOSFATOSEFENÙMENOSSOCIAIS
da televisão
que as instituições não demonstram es- como realidades que ocorrem dentro familiar e a
qualidade
de vida do
tar tão consolidadas quanto a sociedade da sociedade”, se insere no debate, cada trabalhador
rural
esperava. Por isso, é fundamental enten- vez mais atual e necessário, em torno de
Mundo laboral
Mudanças nas
DPOmHVSBªFT
do trabalho
der a crise da democracia nacional e a temas como o processo politico brasi- não alteraram
radicalmente
a lógica da
Friedrich
RAEUMACOMPREENSÎOMAISQUALIlCADAS Nesses tempos de inquietações, de RICARDO DELLO BUONO VÊ A SOCIOLOGIA COMO FERRAMENTA DE LIBERTAÇÃO
POLÍTICA EM XEQUE
REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 119
A política, mais do que nunca, é cometidos por aqueles que exercem ao conjunto de cidadãos e às ações
parte do cotidiano. Está nos meios cargos públicos eletivos. Contudo, destes nessa esfera. Por isso, é um
de comunicação, nas rodas de con- etimologicamente, política designa, tema que deveria interessar a todos.
versa, na universidade e nas ruas. No desde a Antiguidade, o campo da ati- Na Grécia Antiga, cidadãos guia-
cotidiano, o termo “política” é usado vidade humana relativa à cidade, ao vam a cidade. Todavia, cabe ressaltar
em diferentes acepções. Há aque- Estado, à gestão do espaço público, que no paradigma grego nem todos
les que associam a certa habilidade podiam ser considerados cidadãos.
nas relações sociais e para realizar Mulheres, crianças, escravos e estran-
conciliações, como, por exemplo, a geiros não participavam da vida na pó-
pessoa chamada de muito política, ENTREVISTA RENATO JANINE RIBEIRO
lis. No entanto, todos os que gozavam
de “cidadania” participavam politica-
Edimar Brígido aborda Ética e Estética Ser de esquerda é um estilo de vida
Carolina
de Carolina
Com curadoria Perencini
Desoti
GRADUADAEM&ILOSOl
FernandesÏ
Desoti QUISAAINm
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UÐNCIAAFRICANANA
ULTURALBRASILEIRA¡EDITO
ÏLICENCIADOEBACHARELE
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PROFESSORDE&ILOSOl
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*OÎO0AULO))DE-ARÓLIA
dd 35
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APELA5NESPE
CULDADE
5/19/16
2:59 PM
REFLEXÃO E PRÁTICA: Pode existir Ciência sem Filosofia?
revista &ILOSOlA.
NÃO É NADA
SIMPLES
IDENTIFICAR O QUE É
PATOLÓGICO
A neurologista Marcela Amaral Avelino ressalta o grande
DESAlODACOMUNIDADECIENTÓlCAPARACONSEGUIRDIAGNOSTICAR
TRANSTORNOSMENTAISEMFUN¥ÎODAHETEROGENEIDADEDEQUADROS
CLÓNICOSQUEOCORREMEMRELA¥ÎOAESSESDISTÞRBIOS
Por Lucas Vasques
O
SINÞMEROSMISTÏRIOSQUEENVOLVEMA NAINFÊNCIAEADOLESCÐNCIAFECHARDIAGNØSTICOSE
MENTEDASCRIAN¥ASEDOSADOLESCENTES ESTABELECERTRATAMENTOSSÎOSITUA¥ÜESBEMMAIS
SÎOCADAVEZMAISINTENSAMENTEALVO COMPLEXASDOQUEAPARENTAMvREVELA
DEPROFUNDOESTUDOPORPARTEDA -ARCELAPOSSUIGRADUA¥ÎOEM-EDICINAPELA
.EUROLOGIA0EDIÉTRICA4EMASCOMODISTÞRBIOS 5NIVERSIDADE&EDERALDO0IAUÓ ETÓTULODE
DODESENVOLVIMENTOEDOSTRANSTORNOSMENTAIS ESPECIALISTAEM.EUROLOGIAE.EUROLOGIA0EDIÉTRICA
ECOMPORTAMENTAISDESENVOLVIMENTOINFANTIL PELA%SCOLA0AULISTADE-EDICINA%0-5NIFESP
SUICÓDIOENTREADOLESCENTESDELINQUÐNCIADROGAS Neurologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira
USOABUSIVODAINTERNETENTREOUTROSDESAlAMAS DE0EDIATRIA3"0 E.EUROLOGIAPELA!CADEMIA
PESQUISASDOSPROlSSIONAISQUEATUAMNAÉREA "RASILEIRADE.EUROLOGIA!". 2EALIZOUMESTRADO
3EGUNDO-ARCELA!MARAL!VELINO*ACOBINANEU- PELA5NIFESP!TUALMENTEALÏMDENEUROLOGISTA
ROLOGISTADO!MATO)NSTITUTODE-EDICINA!VAN¥ADA ENEUROPEDIATRANA#LÓNICA!MATO)NSTITUTODE
NEMSEMPREDIFERENCIAROQUEÏPRØPRIODODESEN- -EDICINA!VAN¥ADAEM3ÎO0AULOÏPRECEPTORA
VOLVIMENTOHUMANODOPATOLØGICOÏSIMPLESh%NA DARESIDÐNCIAMÏDICADE.EUROLOGIA0EDIÉTRICADA
MAIORIADASVEZESOSEXAMESDIAGNØSTICOSACESSÓVEIS 5NIFESPNEUROLOGISTAENEUROPEDIATRADO)NSTITUTO
NÎOSÎOCAPAZESDEESTABELECERUMDIAGNØSTICODE DE!SSISTÐNCIA-ÏDICAAO3ERVIDOR0ÞBLICO%STADUAL
CERTEZA.OÊMBITODOSDISTÞRBIOSDODESENVOLVI- n)AMSPEENEUROLOGISTADO(OSPITALDO3ERVIDOR
MENTOEDOSTRANSTORNOSMENTAISECOMPORTAMENTAIS 0ÞBLICO-UNICIPALn(30-DE3ÎO0AULO
ARQUIVO PESSOAL
INTRAÞTERO/ESTILODEVIDACONTEMPO-
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RÊNEOÏEXTREMAMENTEDIFERENTEEMAIS
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GËIGG\GGGGhIGG ACELERADO QUE NA ÏPOCA DOS NOSSOS
Playgrounds são
ASSUNTO SÉRIO
ESPAÇOS PÚBLICOS QUE PROMOVEM A SOCIALIZAÇÃO E O
DESENVOLVIMENTO DE FUNÇÕES FUNDAMENTAIS PARA A SAÚDE
MENTAL DAS CRIANÇAS DEVERIAM RECEBER MAIS ATENÇÃO
E MAIS INVESTIMENTOS DAS AUTORIDADES BRASILEIRAS
D
iante das opções tentadoras de a brincadeiras ao ar livre. A maioria dos de funções psicomotoras, sensoriais e so-
diversão eletrônica, as crianças nossos playgrounds públicos têm duas ou ciais. Trazem às crianças a oportunidade
estão reduzindo drasticamente o três atrações, não raramente mal conser- de praticarem o equilíbrio, a força, a aten-
tempo dedicado às aventuras nos vadas. A arquitetura nos surpreende com ção às diversas texturas, a lateralidade, a
espaços externos. Muitos pais parecem se tantas soluções belas e funcionais, mas até coordenação motora, a propriocepção
preocupar com a participação excessiva dos agora pouco trouxe para concorrer com (noção da localização espacial do próprio
ELETRÙNICOS NO DIA A DIA DO lLHO MAS SÎO OS INEVITÉVEIS ESCORREGADORES E BALAN¥OS corpo) e as habilidades criativas e sociais.
raros os que conseguem encaixar na rotina das praças brasileiras. Sem questionar a Para comprovar que a arquitetura do
momentos de atividades livres em locais diversão que podem propiciar, sozinhos espaço faz toda a diferença na brinca-
ESTIMULANTES!DIlCULDADEEMADMINISTRAR eles não representam um grande motiva- deira, os pesquisadores Anthony Susa e
o tempo e, principalmente, a preocupação DORPARATIRARPAISElLHOSDECASA James Benedict (1994) realizaram um es-
crescente com a segurança das crianças A necessidade de oferecer ambien- tudo, na década de 90, relacionando brin-
pode tornar conveniente esse interesse tes atraentes e repletos de estímulos em cadeiras de faz de conta, criatividade e o
quase obsessivo delas pelas telas e botões. ESPA¥OS PÞBLICOS Ï EVIDENTE EM VÉRIOS design do playground. Para isso, testaram
Uma pesquisa recente com 2 mil fa- lugares do mundo. Em muitos países, a o “pensamento divergente” de 80 crianças
mílias inglesas constatou que três em comunidade têm à disposição parquinhos enquanto brincavam em diferentes espa-
cada quatro crianças passam menos de desenvolvidos por arquitetos especializa- ços. A conclusão foi de que os parquinhos
UMAHORADIÉRIABRINCANDOEMAMBIENTE dos nesse setor. Muitos são tão criativos e CONTEMPORÊNEOSSÎOMAISElCIENTESNOES-
externo – um tempo menor de contato IRRESISTÓVEISQUEDÉVONTADEDEVOLTARASER tímulo à criatividade que os tradicionais. O
com luz solar que o garantido a detentos criança para aproveitar a estrutura. estudo serviu de base para muitos projetos
das prisões daquele país. A realidade das Esses locais, quando bem arquitetados, de arquitetura voltados a esse público e ou-
nossas crianças que vivem nas cidades não apenas servem de incentivo a passeios tras pesquisas apontando a necessidade de
GRANDESNÎODEVESERDIFERENTE%AQUIHÉ EMFAMÓLIAEMENOSHORASDESOFÉSÎOPRO- UMOLHARMAISPROlSSIONALSOBREASÉREAS
um agravante: temos menos alternativas jetados a partir da consciência da impor- construídas para estimular brincadeiras.
interessantes de ambientes destinados tância do ambiente no desenvolvimento Enquanto seguimos conformados com
nossos velhos e abandonados escorregado-
A VIDA É CHEIA DE RISCOS E A INFÂNCIA É A res de praça, em países em que ambientes
de lazer são levados a sério e considerados
FASE DE TREINAMENTO PARA REAIS DILEMAS parte fundamental do desenvolvimento
QUE REQUEREM SEGURANÇA NA HORA DE infantil, a discussão (que nem chegou no
"RASIL ESTÉTÎOAVAN¥ADAQUEESTÎOREVEN-
AGIR. CRIANÇAS PRIVADAS DO CONTATO COM O do alguns de seus projetos mais modernos.
PERIGO CRESCEM SEM CORAGEM O motivo: excesso de segurança.
CONHECER OS
SEUS IMPEDITIVOS
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento,
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área.
graziano@psicologiapositiva.com.br
O
homem é um ser social por que recebe da família e da escolaridade habilidades interpessoais das crianças
natureza. Desde o momen- que frequenta e que esta não se baseia e jovens em idade escolar. Isso pode
to de seu nascimento, in- mais na transmissão de valores e co- ser realizado mediante jogos e tarefas
dependentemente de onde nhecimentos (de toda ordem) pratica- de grupo, onde é maior a valorização
viva, já se encontra inserido em um mente imutáveis, mas na necessidade dos comportamentos que demons-
grupo social, que se amplia conforme DECRIARPESSOASCOMUMPERlLADAPTA- trem capacidade de trocas de infor-
cresce e começa a frequentar a escola, tivo às rápidas mudanças sociais, cien- mação ef icientes, empatia, atitudes
constituindo novas e crescentes rela- TÓlCAS MERCADOLØGICAS ETC !PRENDER de comando, controle da frustração,
ções interpessoais. como se aprende, para aprender sem- capacidade de suportar pressão, resi-
Tal rede de relações é estabelecida pre, constitui um padrão de realidade à liência e autonomia, entre outras.
segundo características do indivíduo, qual ninguém pode se furtar. Segundo Eric Smith, pesquisador
do próprio grupo e da cultura vigente Entretanto, além do imprescindí- da Universidade de Stanford, o controle
e vai sendo construída gradativamen- vel respeito aos talentos naturais, há emocional gera atitudes mais adapta-
te no decorrer de toda vida e, embora de se levar em conta que habilidades TIVAS EM CASO DE MUDAN¥AS DESAlOS
os primeiros anos sejam primordiais de toda ordem devem ser aprendidas a fracassos, estresse comuns na vida estu-
nesse aprendizado, é preciso aprender partir da pré-escola, visando o desen- dantil, e preparam para as vicissitudes
a aprender como planejar novas situa- volvimento de um novo perf il, que vai DOMUNDOPROlSSIONALPRINCIPALMENTE
ções por toda a vida. passo a passo evoluindo até alcançar Portanto, preparar as crianças e jo-
Ninguém duvida que o maior ob- condições ideais de atender as exigên- VENS PARA ATENDER A ESSE PERlL DE PRO-
jetivo da educação seja criar a auto- cias acadêmicas e, um dia, ser prof is- lSSIONAIS QUE A SOCIEDADE PRECISA PARA
nomia pessoal e social e que essa con- sionalmente competitivo. enfrentar as vicissitudes e os novos
dição dependa em grande parte da Capacidade de se adaptar a mu- modelos do século XXI tornou-se um
formação acadêmica e depois prof is- danças, responder a desaf ios de modo DESAlOREALISTAPARAAFAMÓLIAEAESCOLA
sional, de cada pessoa. A constituição organizado, coerente, ser capaz de E, evidentemente, bons professo-
de um perf il prof issional que acom- trabalhar e resolver problemas junto res que também tenham essa feição
panhe as mudanças, as demandas de a outras pessoas, demonstrar atitudes tornaram-se indispensáveis: antes de
um mundo laboral hiperativo, compe- interpessoais de comunicação, lide- dominar o conteúdo ou ser um mes-
titivo e exigente é uma urgência das rança, domínio da tecnologia são im- tre na didática, o importante passou
últimas décadas, à qual ninguém se prescindíveis para a vida social e para a ser sua habilidade interpessoal, ou
pode furtar. atender as demandas do mercado de seja, saber estabelecer um bom rela-
Paralelamente a isso, temos como trabalho do século XXI. cionamento com seus alunos, desen-
certo que a formação do adulto capaz No dia a dia é possível, por exem- volver empatia, criar o sentimento de
e autônomo, socialmente responsável, plo, criar métodos e estratégias que pertencimento a um grupo. Isso tudo
depende primordialmente da educação objetivam desenvolver as chamadas favorece as habilidades cognitivas e
A
adolescência é uma fase habitualmente descrito como início da fases posteriores do desenvolvimento
do desenvolvimento, que vida sexual. Não é incomum nos per- – durante esse período) que se obser-
geralmente ocorre dos 10 guntarem com que idade começamos vam nas meninas o aparecimento do
aos 19 anos de idade. Para a vida sexual – entretanto a sexualida- broto mamário e na sequência o de-
a Organização Mundial da Saúde, a de humana é muito mais do que o ato senvolvimento das mamas, da pilosi-
puberdade se distingue por mudan- sexual em si. dade pubiana e axilar, da genitália e
ças envolvidas com particularidades As primeiras práticas e atividades a primeira menstruação, que recebe
físicas (por exemplo, pela inf luência sexuais durante a adolescência in- o nome de menarca. Nos meninos ve-
dos hormônios no desenvolvimento f luenciam nossas emoções e, por con- rif icam-se aumento dos testículos e
das características sexuais secundá- seguinte, nossas relações. Com frequ- posteriormente o surgimento dos pe-
rias), emocionais, relacionais, entre ência ouvimos relatos de pessoas que los pubianos, assim como o aumento
outras. Com a maturação das gônadas foram reprimidas durante a adolescên- do tamanho do pênis. Essas mudanças
(ovários e testículos), a função repro- cia, e de como essa repressão as in- físicas são velozes, e muitas vezes po-
dutora passa a se constituir uma pos- f luenciou de forma negativa em com- dem gerar conf litos. De certa maneira
sibilidade; além do mais, é nessa fase portamentos futuros; por outro lado, é como se o psiquismo não acompa-
que as práticas sexuais ganham outra também são frequentes os relatos de nhasse a intensidade do aumento dos
dimensão, e normalmente costumam indivíduos que não receberam qual- hormônios, responsáveis por essas al-
ser mais empreendidas, como a mas- quer orientação e/ou foram criados terações. Com frequência o adolescen-
turbação, brincadeiras e jogos com a em ambientes considerados permis- te pode não reconhecer o seu próprio
f inalidade de gratif icação sexual. En- sivos, que também sofrem durante a corpo, sentimentos de inconformidade
tretanto, não podemos resumir esse vida adulta em seus relacionamentos. são comuns, entre eles: sentir-se esqui-
período somente como sendo o qual Portanto, chegar em um denominador sito, atrapalhado, atribulado, ansioso,
novas práticas sexuais são exploradas; do que seja adequado ao pensarmos na frustrado, uma vez que nem sempre a
ele é também um momento importan- educação durante, e até mesmo antes imagem corporal reproduzirá aquela
te de interação dos adolescentes com da puberdade, é uma tarefa árdua dada que foi idealizada.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL
seus pares, família e sociedade. a diversidade das condutas humanas. Além desse corpo em mudança, que
Segundo diversos estudos, é nesse Em relação às mudanças físicas rapidamente vai perdendo as caracte-
período, geralmente após os 14 anos, que acompanham esse período, algu- rísticas infantis, é nesse período que as
que ocorrerá a primeira atividade se- mas considerações merecem desta- sensações oriundas de por quem sen-
xual com outra pessoa. Para muitos, que. É na adolescência (para alguns timos atração sexual irão se tornando
esse momento constitui um marco, em fases precoces, para outros em mais evidentes, e então mais dúvidas e
EQUÍVOCOS da profissão
O TERAPEUTA POSSUI A DESAFIADORA TAREFA DE AJUDAR O
PACIENTE E PODE ENCONTRAR OBSTÁCULOS NO CAMINHO,
COMO SEUS PRÓPRIOS ESQUEMAS MENTAIS DESADAPTATIVOS
A
complexidade e sutilezas do (EIDs)¹ e/ou da repetição de estilos dis- O segundo erro é a utilização pelo
processo psicoterápico podem funcionais de enfrentamento (que his- terapeuta de mecanismos de hipercom-
lCAROCULTASNUMAANÉLISESU- toricamente serviram para aliviar situ- pensação, de forma a evitar sentimentos
PERlCIAL E INGÐNUA %NTRETAN- ações de abuso ou emoções negativas). desagradáveis vinculados a seus EIDs.
to, olhando-se para além do aparente, O primeiro desses equívocos é o Nesse tipo de ocorrência, o que se vê é o
desnuda-se uma rede intricada de rela- terapeuta se desconectar do paciente terapeuta agindo de um modo extremo,
ções entre conhecimentos e experiên- durante a sessão, entrando no modo de seja através de condutas agressivas (de
cias emocionais de diversos momentos enfrentamento disfuncional chamado ataque), de controle excessivo ou ainda
cronológicos do indivíduo, que culmi- “protetor desligado”, segundo a terapia se autoengrandecendo em relação ao
nam na projeção das muitas facetas do do esquema. É uma forma de resistên- paciente. Assim, um paciente narcisis-
self de cada ser humano. cia automática e inconsciente (na maio- ta, que ativa o esquema de fracasso e/
Para obter sucesso em sua empreita- ria das vezes), em que o terapeuta pode ou de privação emocional do terapeuta,
da, o clínico necessita, para além de seus INTERAGIREINTERVIRDEMODOSUPERlCIAL pode sofrer um “ataque” do terapeuta,
conhecimentos teóricos e técnicos, um desconexo, racionalizando (dando “dis- por meio de depreciação ou mesmo de-
saber sempre atualizado de seus esquemas cursos teóricos”) ou mesmo apresen- monstrações de inveja. Evidentemente,
mentais mais primitivos, bem como tando sentimentos de tédio, chateação esse tipo de situação usualmente tem o
de seus modos de enfrentamento que EDESCONFORTO.ÎORAROPODElCARCOM término da terapia como desfecho.
são ativados quando suas necessidades o pensamento em questões pessoais ou Tem-se ta mbém uma fa lha de mesma
emocionais não são satisfeitas (o que pode ainda falar sobre assuntos banais com natureza da anterior, mas com sentido
ocorrer a qualquer momento, inclusive na o paciente (“conversa entre amigos”). oposto. A conduta do psicoterapeuta em
relação terapêutica). A ocorrência desse tipo de erro indica, se subjugar ao paciente através de con-
Dentre os erros mais freqüentes que na maioria das vezes, que o paciente dutas permissivas, como alongamento
se apresentam na prática psicoterápi- encontrava-se no mesmo modo “prote- do tempo da sessão, permissividades em
ca temos quatro deles que tipicamente tor desligado” e, ao invés de “trazê-lo relação a faltas e/ou não cumprimento
aparecem como resultante da falta de de volta” para o setting terapêutico, o de combinações (horários, pagamentos,
consciência do terapeuta sobre seus pró- terapeuta é que vai para a “periferia” do tarefas de casa etc.), indica que os EIDs
prios esquemas mentais desadaptativos foco da sessão. do paciente ativaram EID de subjugação
do terapeuta, que acaba por assumir esse
papel passivo como uma forma primiti-
A SUPERVISÃO E O PROCESSO DE va de obter afeto-consideração ou de
AUTOCONHECIMENTO DO TERAPEUTA não ser visto como defeituoso.
A quarta situação a ser monitorada é
PERMITEM A PREVENÇÃO SIGNIFICATIVA a conduta de criticar o paciente. Talvez
DE ALGUMAS OCORRÊNCIAS QUE SURGEM o mais iatrogênico de todos os quatro
DE SENSAÇÕES DESCONFORTÁVEIS COM erros indicados, pois reapresenta ao pa-
CIENTEUMAFORMADEhmASHBACKvDESEU
O PACIENTE OU POR PENSAMENTOS DE PASSADOCOMlGURASDEAUTORIDADEDIS-
INCOMPETÊNCIA COM O CASO funcionais e as quais ele, provavelmente,
ue stõ es
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ét icólogo
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técnica i on al na Pe r ícia
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A atua udicial e es a por suas ias na área
bito j e nd id xig ê n c
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deve dif P or A
uito
o s tram
m
compartilhada – aspectos psicológicos e jurídicos. relação entre pais e filhos (ou de quem está pedin-
do a guarda), seus vínculos, os processos mentais e
O
como ciência e profissão. Tem sede no Distrito
que o juiz [avaliando-os], juntamente perito é alguém que é especialista
Federal e sedes regionais (Conselhos Regionais
com as demais provas dos autos, possa em determinada área e habilita- – CRP) nas capitais de 17 estados brasileiros.
dar sua decisão”. do em seu conselho de classe, no caso,
Os objetos da investigação psi- aqui, o psicólogo. No Brasil, especifica-
cológica, de acordo com Silva (2015), mente no Rio de Janeiro, o perito pode tologia, utilização de testes e dinâmica
podem girar em torno de alguns temas: ser sorteado em uma listagem de pe- familiar. A redação do laudo ou relató-
vínculos entre pais e filhos ou outros ritos do Tribunal de Justiça do Rio de rio pericial exige também formas espe-
adultos, estado emocional dos pais e as Janeiro (TJRJ) ou, ainda, ser indicado cíficas de escrita fundamentais para a
suas implicações no cuidado com os fi- como perito de confiança do juiz. Na exposição do que foi avaliado.
lhos, estado emocional da criança e sua Argentina, por exemplo, segue-se basi- O diagnóstico pericial tem quali-
relação com o processo de separação, camente o sorteio. É fundamental que dade de conclusão científica e não per-
dinâmica familiar, presença de psico- o perito tenha experiência em avaliação manece, apenas, no conhecimento do
patologia, características de persona- psicológica, tenha especialização em psicólogo e isso deverá ficar claro para
lidade, funções egoicas, persuasão so- Psicologia Jurídica (pois se diferencia os entrevistados. Estará disponível nos
bre a criança, uso de drogas ou algum da área clínica), conheça de psicopa- autos. O psicólogo deverá responder
com fidelidade sobre o que descobriu
acerca da personalidade do peritado, le-
vando em consideração aspectos priva-
dos do examinado em função do sigilo
profissional, porém informando tudo o
que sirva para ampliar a visão do juiz.
Isso, muitas vezes, se transforma em
um questionamento ético para o psicó-
logo, já que, com frequência, algumas
informações privadas são importantes
para o entendimento do juízo acerca
do processo. O perito deverá avaliar a
importância da informação privada for-
necida (até porque o periciado sabe que
as informações prestadas poderão ser
levadas ao juiz) e buscar a melhor forma
de integrá-la à conclusão, se for o caso.
Já o assistente técnico, segundo
Cresce a participação do psicólogo no meio forense, especialmente no que se refere à avaliação de Amêndola (2008, in “Referências téc-
crianças e adolescentes em litígios familiares nicas para a atuação do psicólogo em
GHG G I II G : %P da em documentos processuais, fazer
IIGGG
IGGHG: uma descrição confiável e muitas vezes
literal do que é dito pelo entrevistado
não ser o psicólogo clínico. Importante faz necessário e útil para a melhora na
no caput deve ser dado por pelo menos separar, após a avaliação das personali- qualidade de vida das pessoas envolvi-
um dos responsáveis legais. Sobre o dades e dinâmicas familiares, o que se das em litígios familiares.
laudo pericial, o CFP, através, ainda,
1
Entenda-se por quesitos as perguntas formuladas pelo juiz, promotor e pelas partes assessoradas pelo assistente técnico.
do documento “Referências técnicas Os quesitos são de extrema importância, pois nortearão a investigação pericial, já que o perito necessitará respondê-los.
para a atuação do psicólogo em Varas 2
O Parecer Psicológico é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico cujo
de Família”, acrescenta que o psicólogo resultado pode ser indicativo ou conclusivo. O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo
registrará apenas as informações ne- do conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-problema”, visando dirimir dúvidas
que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência
cessárias para o cumprimento dos ob- no assunto. A discussão do Parecer Psicológico constitui a análise minuciosa da questão explanada e argumentada com base
jetivos do trabalho. Portanto, essas são nos fundamentos necessários existentes, seja na ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica. Nessa parte,
conclusões psicológicas e não jurídi- deve respeitar as normas de referência de trabalhos científicos para suas citações e informações (Resolução 7/2003 CFP).
cas, não sendo atribuição de psicólogos 3
O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas
determinações históricas, sociais, políticas e culturais pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo docu-
proferir sentenças ou soluções jurídi- mento, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes
cas. O psicólogo não poderá se tornar psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e cientí-
um “pequeno juiz ou um juiz oculto”. fico adotado pelo psicólogo. A finalidade do relatório psicológico será apresentar os procedimentos e conclusões gerados
pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e
O cuidado com a exposição excessiva
evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento
deve ser tomado. Não há a necessida- psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.
de de reproduzir em relatórios, laudos
ou pareceres frases ditas pelos sujeitos. REFERÊNCIAS
Porém, no que diz respeito às normas Calçada, A. S.; Cavaggioni, A.; Neri, L. Falsas acusações de abuso sexual – o outro lado da história. Rio de
éticas, indica-se que o psicólogo não Janeiro: OR Editora, 2000.
tem o direito de colher informações do Calçada, A. S. Falsas acusações de abuso sexual e a implantação de falsas memórias. São Paulo: Editora
Equilíbrio, 2008.
cliente e, depois, se negar a conversar
. Perdas irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso sexual. Rio de Janeiro:
com a pessoa atendida sobre as conclu-
Editora Publit, 2014.
sões a que chegou. Entrevistas de devo-
. Falsas acusações de abuso sexual – a perícia social e psicológica no Direito de Família. In:
lução fazem parte das tarefas e obriga- Freitas, P. D.; Javorski, J., p. 212-248. Florianópolis: Editora Voxlegem, 2015.
ções dos psicólogos. Silva, E. L. Perícias psicológicas nas Varas de Família – a perícia social e psicológica no Direito de Família.
Enfim, a tarefa de atuar como psi- In: Freitas, P. D.; Javorski, J., p. 183-211. Florianópolis: Editora Voxlegem, 2015.
cólogo na função pericial é difícil no BRASIL. Resolução 7/2003 do Conselho Federal de Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.
sentido do estabelecimento de limites BRASIL. Resolução 8/2010 do Conselho Federal de Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.
para a própria atuação: não ser juiz, BRASIL. “Referências técnicas para a atuação do psicólogo em Varas de Família”, Conselho Federal de
não ser advogado, não ser o acusador e Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.
VOE ALTO!
DESDE A CONCEPÇÃO DA VIDA E EM TODAS AS SUAS FASES
SUPERAMOS INÚMERAS BARREIRAS, SENDO NECESSÁRIO ENTENDER
QUE CONTRATEMPOS E DIFICULDADES SEMPRE EXISTIRÃO
D
esde a Pré-história os seres vida. Nesse momento, elas se tornam Dessa forma, alimentamos a ansiedade, a
humanos enfrentam proble- vítimas desses problemas e assumem o RAIVAATRISTEZAAFALTADECONlAN¥AnEM
mas, superam obstáculos e compromisso de impotência perante os NØS NOS OUTROS E NA VIDA n A INSATISFA-
lidam com as adversidades fatos. Mas observe a contradição: ao mes- ção, o estresse, a desmotivação, a baixa
diariamente, mesmo que sejam de for- mo tempo em que elas esperam e pedem autoestima, a falta de controle da nossa
mas diversas. Porém, é possível notar que por uma solução, continuam olhando so- própria vida, entre muitos outros senti-
muitas pessoas não conseguem enfrentar mente para um lado do problema, ou seja, mentos e crenças limitantes.
essas situações de modo natural. Já ou- para o lado oposto da solução desejada. 1UANDO REmETIMOS SOBRE UMA SITU-
tras tiram de letra. Se não soubermos lidar com as adver- A¥ÎO CONmITANTE JÉ VIVENCIADA PODEMOS
Quase sempre as pessoas que têm sidades que aparecem em nosso caminho PERCEBER QUE DIlCILMENTE CONSEGUIMOS
mais resistência em atravessar situações acabamos dando força aos sentimentos olhar para as adversidades sob uma se-
difíceis estão presas apenas ao lado ne- NEGATIVOS E ELES lCAM SEMPRE PRESENTES gunda óptica, mas focamos somente nos
gativo do problema e não conseguem na nossa vida. Mesmo que eles sejam dei- aspectos ruins, sem ao menos tentar en-
visualizar outros prismas de uma mesma xados de lado, se não forem resolvidos xergar o lado positivo delas. Por exemplo,
questão, se diminuindo perante as adver- voltarão com frequência no nosso dia a ao receber uma advertência do líder por
sidades, deixando aquele obstáculo ditar dia, muitas vezes com padrões repetiti- queda de resultados (situação adversa),
suas ações e, muitas vezes, sua própria vos ou disfarçados com outras questões. você provavelmente irá buscar novas
como entender a sexualidade de pessoas com necessidades especiais, escritas por autores portugueses.
PSICOLOGIA NA
PRÁTICA DO
ESPORTE
Hoje, há consenso sobre a
influência do desempenho
mental na atuação dos
competidores de alto nível,
mas o equilíbrio emocional
é determinante também
para o sucesso pessoal
SHUTTERSTOCK
O
esporte é um dos prin- essa lógica serve para a vida também,
cipais fenômenos socio- seja no campo pessoal, profissional,
culturais desde a Grécia em família etc.
Antiga. Hoje, certamen- Voltando ao esporte, podemos
te, muitos atletas são referência para dizer que esta não é ciência exata;
pessoas que nem sempre são espor- ele é sempre executado por humanos
tistas, mas simpatizam com filosofias
que o esporte carrega como foco, aten-
ção, determinação, superação, entre
outros. A grande maioria dos atletas
medalhistas, por exemplo, se tornam
ídolos e até popularizam esportes an-
tes não tão admirados, como aconte-
ceu com Gustavo Kuerten na época
em que se tornou o melhor tenista do
mundo e também o espelho até mes-
Psicologia do Esporte
deve se adaptar
mo para crianças, que trocaram a ado- O comportamento mental, comprovadamente, Cada modalidade esportiva tem suas
ração pelo futebol por essa modalida- IG
GG
GGGI peculiaridades, sua cultura e seu uni-
G\GPG
G
G: verso, e a Psicologia do Esporte deve
de. Mas Guga é só um dos exemplos.
G\G
se adaptar a essas situações, pois as
O esporte brasileiro – e mundial – tem
modalidades são diferentes umas das
muitos outros atletas modelos. terá resultados melhores. Há inúme-
outras, assim como as capacidades
Porém, há casos conhecidos em ras variáveis que podem influenciar
físicas, técnicas e táticas são distintas
que o esportista apresenta seu me- positiva ou negativamente a atuação de um esporte para outro. Isso também
lhor momento físico, técnico e tático, de um atleta ou da equipe. Todos os acontece com a preparação psicoló-
entretanto, por diversos fatores, não competidores, desde os grandes favo- gica. Os recursos necessários para um
trabalha bem seu aspecto emocional ritos aos iniciantes, sofrem influên- bom desempenho de maratonistas são
e este é, sem dúvida, o grande dife- cias, e as pessoas mais equilibradas diferentes dos recursos dos esgrimis-
rencial nas competições. Aquele que emocionalmente, naqueles momen- tas, que são também diferentes dos jo-
estiver preparado psicologicamente tos decisivos, é que se consagrarão. E gadores de handebol. Nas modalidades
coletivas, algumas responsabilidades
podem ser partilhadas. Isso não acon-
Rodrigo Scialfa Falcão é psicólogo formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre tece em modalidades individuais, onde
GG hÔ
G/G*HG
GGGG¤/I:
todo o desempenho atlético é fruto do
Especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae. Psicólogo clínico com
especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP. comportamento de uma pessoa.
HABILIDADES
psicológicas devem
SER SEGUIDAS
Desempenho mental e preparação emocional são
aspectos imprescindíveis para a conquista de vitórias
no esporte, mas alguns requisitos podem ser
aproveitados também na vida pessoal e profissional
Por Rodrigo Scialfa Falcão
É
nítido e incontestável que erro pode ocasionar uma avalan- rendimento. A concentração é um
o desempenho e a prepa- che de sentimentos negativos e le- tipo de percepção. A percepção é
ração mental são fato- var à derrota. Saber retornar desses basicamente uma capacidade cog-
res fundamentais para a momentos (frequentes) dos jogos e nitiva, que faz reconhecer o mundo
obtenção do sucesso na atuação do competições é uma habilidade que ao redor através dos sentidos (visão,
esportista de alto rendimento. No pode ser diferencial para uma deci- tato, olfato, audição, paladar). Por-
entanto, essas conquistas precisam são e até para a carreira de qualquer tanto, para perceber alguns eventos
ficar restritas apenas ao esporte. atleta. A tensão exacerbada propor- que nos cercam, o cérebro utiliza
Existem algumas habilidades psico- ciona emoções negativas, como diferentes tipos de atenção.
lógicas que devem ser seguidas por raiva, frustração e medo. Como O ambiente está cercado por
esses competidores, e pessoas foca- consequência, podem desencadear vários estímulos que aguçam a per-
das em alcançar o sucesso. problemas durante a atuação, in- cepção, e a atenção seleciona e co-
cluindo a tensão muscular e desvio difica alguns deles que interessam
Equilíbrio emocional de concentração, que propicia dis- no momento. Quando se foca em
tas. Esse foi seu principal combus- mentos mais difíceis é com- pode lidar com ela são habilidades
tível para se desenvolver, estudar os portamento típico que ocorre essenciais para recuperar o controle
Motivação
É possível definir motivação basi-
camente como os motivos que
levam às ações em busca das metas
em todos os aspectos da vida. Pode
ser exemplificada também como a
direção e a intensidade dos esforços.
Motivação é uma “energia psicoló- *GGHGGhÔ
IGGÔG9
PIG
gica” que faz com que a pessoa se ÔG
99GG
GGGH\bI
comporte de determinadas maneiras.
Para saber o que motiva é imprescin- ambições profissionais palpáveis, O psicólogo do esporte
dível ter autoconhecimento. Portan- desde que se faça algo para alcan-
to, quando se fala em motivação não çá-los. É preferível, do ponto de
Garry Martin ensina
existe “receita de bolo”, pois ela é vista psicológico, que se pretenda 9GGIPIG
pessoal, individual e exclusiva. Não alcançar metas de atuação em vez
há motivação sem busca por metas. de resultados. As metas de atuação aspectos psicológicos,
Segundo Samulski (2008), as podem ser controladas. Os resulta- os treinos devem
metas podem tornar os sonhos e dos, não. As metas de atuação são
ser semelhantes às
exigências do torneio.
PARA SABER MAIS
É importante treinar
DESEMPENHOS FÍSICO E MENTAL taticamente, mas deve
E studar os comportamentos de todos que estão, de alguma forma, envol-
vidos no universo esportivo e de exercícios físicos é o objetivo central da
+IG
:+GG9G
IGO
IGIG
ser dado tempo para
treinar questões mentais
entender de que forma os fatores mentais interferem no desempenho físico,
além de compreender como a participação nessas atividades afeta o desenvol- de esforço, por exemplo: ter uma
vimento emocional, a saúde e o bem-estar de uma pessoa que atua nesse am- boa atitude durante o jogo; manter-
biente. A Psicologia do Esporte é uma ciência relativamente nova, que tem pres- -se confiante nos momentos difí-
tado relevantes serviços para a otimização da performance de atletas e equipes. ceis; usar a agressividade positiva-
Oferecer aos esportistas de alto rendimento apoio psicológico é tão importante mente sem deslealdade. Esse tipo
quanto proporcionar uma alimentação saudável e balanceada, programada por de meta é mais fácil de executar,
um nutricionista. Isso porque o corpo físico e o mental são duas faces da mesma depende exclusivamente do indiví-
G
IGGhÔ:hGGGP duo. As metas por resultados (ga-
relacionada aos esportes de alto rendimento. Entretanto, outras áreas de atuação nhar um torneio, chegar às quartas
podem ser exploradas: práticas de tempo livre (atividade física como manuten- de final, golear um adversário, por
exemplo) são mais complexas de se
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
www.portalcienciaevida.com.br 41
dossiê
!GG
Ô G G IG
limpo, ter espírito esportivo. Seu con-
ceito está vinculado à Ética no meio
esportivo, onde os praticantes devem
sempre procurar atuar de forma a não
prejudicar o adversário de maneira
proposital. O termo, porém, vem sen-
do utilizado em praticamente todos os
segmentos da sociedade moderna e
assume o significado de trabalhar ou
Motivação é uma “energia psicológica” apresentar uma conduta de acordo
com padrões éticos e morais.
que faz com que a pessoa se comporte de
determinadas maneiras. Portanto, quando se de intensidade elevada e de energia,
que se alimenta essencialmente de
fala em motivação não existe “receita de bolo”, suas emoções positivas. Os senti-
pois ela é pessoal, individual e exclusiva mentos de entusiasmo, inspiração,
decisão e desafio são um ponto cen-
Treinar com intensidade, cuidar Alguns comportamentos po- tral para se desenvolver nessa habi-
da alimentação e dormir bem são dem ser sinônimo de espírito de lidade. Os treinamentos servem de
fundamentais para qualquer atleta. luta: garra, atitude, intensidade, termômetro para as competições,
O treinamento esportivo nada mais coragem, jogar do primeiro ao úl- ou seja, não há fórmula mágica.
é do que repetição de exercícios. timo minuto com a mesma gana e Quanto mais semelhantes os trei-
energia, manter uma situação emo- nos forem das competições, melhor.
Espírito de luta cional construtiva quando as coisas Dessa maneira, muitas característi-
A importância
do %*"*( ).'
As práticas contemplativas e suas variadas técnicas estão ajudando
atletas de alto rendimento a melhorarem o desempenho esportivo,
por intermédio de um trabalho que enfatiza o aspecto mental
Por Camila Ferreira Vorkapic
N
o esporte dizem que consiste em estar totalmente focado e Michigan, respectivamente, conclu-
90% do desempenho presente no momento. Psicólogos do íram, em uma revisão sobre o tema,
são mental. Quantas ve- esporte afirmam que não estar “pre- que as intervenções baseadas em re-
zes, em conversas sobre sente no momento” é o que provoca laxamento e reestruturação cogniti-
competições esportivas, já ouvimos confusão mental. Isto é, quando, du- va são altamente eficazes na melhora
a frase “está tudo na cabeça”? Mesmo rante uma competição, o atleta pensa de desempenho esportivo. Segundo
assim, treinadores e atletas passam a em eventos passados ou nas consequ- os autores, essas estratégias de coping
maior do tempo, esforço e dinheiro ências da derrota, a confusão mental permitem que os atletas dirijam o foco
realizando treinos físicos e técnicos, se instala pela falta de foco no momen- para as sensações internas do corpo,
deixando pouquíssimo espaço para o to presente, prejudicando o desempe- como a respiração, resultando em me-
chamado jogo mental. A importância nho. Ao contrário, um atleta focado no lhores desempenhos competitivos.
de uma mente clara e focada é muitas momento presente e livre de padrões Enquanto as rotinas mentais pa-
vezes subestimada. E uma mente que mentais negativos e medos tem mais recem de fato influenciar o desem-
não está sob controle está mais pro- chance de vencer. penho atlético, o mecanismo exato
pensa a erros que, muitas vezes, podem Como consequência, tem se tor- pelos quais elas funcionam ainda não
custar uma partida ou até uma final. nado cada vez mais comum entre está claro. Em um estudo clássico
Além disso, o estresse, a ansiedade e a atletas a realização de rotinas mentais, com medalhistas olímpicos, a equi-
pressão sob as quais atletas são subme- como visualizações, ensaios, autover- pe do pesquisador Daniel Gould, da
tidos constantemente ocasionam em balização e relaxamentos para ajudá- Universidade Estadual de Michigan,
falta de atenção, concentração, perda -los a superar distrações, estados psi- registrou que os atletas utilizam as ro-
das habilidades motoras e falência. cológicos desfavoráveis e desenvolver tinas mentais como modo de chegar
Entretanto, a quantidade correta prontidão mental. a um estado mental ideal e que 53%
de estresse e ansiedade controlados Os pesquisadores Michael dos atletas entrevistados sobre seus
pode manter o atleta em um estado Greenspan e Deborah Feltz, das Uni- piores desempenhos disseram não ter
mental ideal, chamado de “zona”, que versidades Estaduais do Arizona e de aderido às rotinas mentais. De acordo
com os pesquisadores, a habilidade de
regular o estado de excitação, chama-
GG!G0GI\G
G
^I G!GI)+ do de arousal, parece influenciar dire-
pesquisadora do Laboratório de Biociências da Motricidade Humana (LABIMH), na Universidade tamente o desempenho atlético. Essa
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- 9
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G/
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-- :G
em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-doutora em Ciências da Saúde excitação (arousal) refere-se a quão
pela Universidade Federal de Sergipe e autora do livro Mindfulness, Meditação,Yoga e Técnicas ativado emocionalmente um atleta se
GGd"G
IGh
+PIG+GGG+G
-Gb
(Ed. Cognitiva). torna antes ou durante a competição.
É coordenadora da Rede de Estudos Interdisciplinares em Neurociências (REIN), em Sergipe.
As rotinas mentais parecem, desse
essas rotinas enfatizam uma consci- na Índia há mais de 2.000 anos e foi tanjali Research Foundation, em Ha-
ência atenta e não crítica, aceitação, descrito sistematicamente a poste- ridwar, na Índia, essas técnicas têm
atenção, concentração, relaxamen- riori (Yoga Sutras de Patanjali, cerca efeito específico no estado psicológi-
to e técnicas de respiração, como de 900 BC.). Envolve a utilização de co das pessoas. Em uma revisão sobre
modo de melhorar o desempenho técnicas diferentes como posturas yoga e saúde mental, ela relatou que
46 psique ciência&vida
Psicologia no esporte
treinar o reconhecimento do nível de
excitação apropriado (e, consequente-
mente, ansiedade) e ajustá-lo às neces-
sidades competitivas.
Da perspectiva das práticas con-
templativas, é possível que atletas de
elite lidem melhor com pensamentos
e sentimentos negativos por estarem
mais presentes no momento. Pres-
tando plena atenção (mindfulness)
e se tornando mais conscientes du-
rante o desempenho, esses atletas
exercem menos esforço na tentativa
de controlar e reduzir cognições e
emoções. Na verdade, é exatamente
o contrário, são capazes de desempe- Pesquisas constatam queda no nível de estresse e melhores desempenhos em arqueiros,
nhar suas tarefas competitivas com jogadores de basquete e de futebol após intervenções de mindfulness
quaisquer cognições e emoções que
estejam experimentando. GIG
GPIGIGG9
Contribuição é possível que atletas lidem melhor com
A pesar da sugestiva relação entre
práticas de mente-corpo e trei-
namento mental de atletas, poucos
pensamentos negativos por estarem
mais presentes. Prestando plena atenção,
estudos observaram o impacto dessas exercem menos esforço na tentativa
rotinas no estado psicológico dos atle-
tas e no desempenho esportivo. Além de controlar e reduzir cognições e emoções
disso, a maioria dos estudos utiliza ex-
clusivamente técnicas de mindfulness Mindfulness é um tipo de aten- mento de uma observação desapegada
ou estratégias baseadas em mindful- ção focada, uma “percepção ou cons- dos conteúdos da consciência, podem
ness para esse propósito. cientização não crítica do momento representar uma poderosa estratégia
presente”, que pode ser desenvolvida comportamental de coping para se li-
através de técnicas contemplativas dar com o estresse, a ansiedade e pen-
e até artes marciais. A Psicologia do samentos negativos no esporte. No en-
Esporte tem utilizado intervenções tanto, poucas pesquisas investigaram
baseadas em mindfulness como rotina o efeito dessas práticas no estado men-
mental para melhorar o desempenho tal de atletas. Alguns estudos observa-
e o humor geral dos atletas. A técnica ram níveis reduzidos de ansiedade e
de concentração na respiração, por estresse e melhores desempenhos em
exemplo, uma das práticas de min- arqueiros, jogadores de basquete e de
Reestruturação cognitiva dfulness, ajuda a reduzir a ruminação futebol após a utilização de interven-
A chamada reestruturação cognitiva mental. Uma mente ruminante é uma ções baseadas em mindfulness (para
é um processo psicoterapêutico que mente fora de controle. E quando se uma revisão, consultar os artigos na
busca o aprendizado da identificação tem 30 segundos para decidir uma seção Para saber mais).
e da contestação de pensamentos irra- partida, a última coisa que um atleta Pesquisadores afirmam que as téc-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK /ARQUIVO PESSOAL
cionais ou não adaptativos, conhecido quer é uma mente confusa. nicas contemplativas ajudam a treinar
como distorções cognitivas, como por
De modo específico, técnicas o córtex pré-frontal, a parte do cérebro
exemplo clivagem, pensamento mági-
de meditação mindfulness, um com- responsável por criar o estado mental
co, filtragem, excesso de generalização,
magnificação e raciocínio emocional,
ponente de práticas contemplativas de calma e alerta, mantendo os atletas
frequentemente associados. como o yoga, que foca na percepção focados, sem distrações e com o me-
e na atenção plena para o desenvolvi- lhor desempenho possível. De acordo
ANÚNCIO DU
48 psique ciência&vida Imagem - Jacques Lacan www.portalcienciaevida.com.br
Psicologia no esporte
Jogadores de basquete
costumam respirar
te norte-americanas do Chicago
profundamente antes
Bulls, durante os anos de Michael
do lance livre e o fazem
intuitivamente, na Jordan, e no Los Angeles Lakers.
tentativa de reduzir os Atualmente é consultor de diversos
batimentos cardíacos e atletas e times de esportes diversos.
a ansiedade Nas palavras de Mumford: “Você
precisa focar em si mesmo. É muito
mais difícil conquistar a si mesmo
que aos outros. Isso é o mais difícil
que temos que fazer, mas também
o mais benéfico. Tudo acontece no
momento presente. Esse momento
é tudo o que temos. É somente no
é à toa que jogadores de basquete resiliente. E estas, definitivamente, momento presente que podemos
costumam respirar profundamente são as características mentais dos mudar as coisas. E você não está so-
antes de lançar a bola. Eles o fazem verdadeiros campeões. mente mudando para si, você está
intuitivamente, na tentativa de redu- O psicólogo do esporte e profes- fazendo isso por todos. Todos se
zir os batimentos cardíacos e conse- sor de meditação George Mumford beneficiam. Na vida ou no esporte,
quentemente a ansiedade, que pode- trabalhou nas equipes de basque- esse é o maior ato de altruísmo”.
ria custar os pontos de uma cesta.
A pesquisa sobre a relação entre REFERÊNCIAS
técnicas contemplativas e treina- "G9(:%:e!9:!:+IIGGIGdG
mento mental na preparação de atle- :.-+I9:>9:>9:=<D¢=>A9
tas é um campo emergente, e pouco "
9:e
9 ::e%GI9-:/:-:*IIIdGGG9
ainda se sabe sobre como o cérebro IIG
GI:.-+I9:A9:>@C¢>C=9
funciona nesse sentido. No entanto, "
9:e/
9 :+IIGGIGIdGGGG:
Medicine and Science in Sports and Exercise9:=A9:?BC¢?C@9<DD?:
as pesquisas de fato observam me-
"
9:e"G
9!:GGH
99
lhoras no estado mental e no desem-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/WIKIPEDIA
G
HGHGIG:%GIG-+I9:?9:>;>¢><D9=;;D:
penho esportivo dessa população.
(GG9:eII9(:e-I9-:e+9+:GGGIHG
II¢
I
Tais práticas comprovadamente re-
G:
I¢G
GG
G(
I9:=;<<9G$
duzem o estresse e a ansiedade, co- D>=?>;9
d<;:<;D>¤IG¤<AD:
nectando o indivíduo ao momento GGHGGG9(:e.9-:eGG9+:(:3G
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presente e criando uma mente mais IGI
:!+IG9:>9:<<B99
d<;:>>CD¤:=;<=:;;<<B:
UPLA JÚNIOR
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 49
ciberpsicologia Por Igor Lins Lemos
League of Legends:
uma PAIXÃO PERIGOSA?
O JOGO MUNDIALMENTE CONHECIDO
TEM CONQUISTADO ADEPTOS E ABARCADO RELATOS
INTERESSANTES NO SETTING TERAPÊUTICO
M
esmo aqueles que não são psíquico) relatam de alcançar posições consegue interromper uma atividade
pesquisadores no campo da cada vez mais altas (existe um ranking quando julga que ela é prejudicial para
ciberpsicologia ou jogadores neste jogo, altamente disputado). En- si (o que raramente é encontrado no co-
do League of Legends (LoL) já tretanto, existe um importante critério: meço de tratamento de pacientes com
ouviram comentários sobre o jogo que quanto mais vitórias, mais conquistas; transtorno do jogo pela internet); no
dá título a esta matéria. O LoL é mun- quanto mais derrotas, mais quedas no segundo tipo o comprometimento está
dialmente famoso, jogo do gênero Mul- ranking. Isso leva os jogadores (e pacien- além do controle do indivíduo, já exis-
tiplayer Online Battle Arena (MOBA), no tes) ao seguinte raciocínio: “Se eu jogar tindo interferências negativas nas ativi-
qual o papel dos jogadores, que jogam EGANHARSIGNIlCAQUEESTOUEMUMDIA dades cotidianas. A consequência deste
sempre em um time de cinco pessoas, é favorável, então irei jogar mais vezes processo – complementam os pesqui-
destruir uma construção localizada na para continuar subindo no ranking”. De sadores – é a persistência, que se torna
base do time inimigo (chamada de ne- forma oposta: “Se eu perder é um mau rígida e presente mesmo em atividades
xus). Mas qual a importância de trazer sinal, preciso jogar novamente para po- que não geram sentimentos positivos e
uma matéria sobre este game? A resposta der recuperar as posições perdidas na prejudicam os relacionamentos ou obri-
é simples: trata-se de um jogo eletrôni- partida anterior”. Essas frases lembram gações acadêmicas/laborais do sujeito
co que tem uma média de 67 milhões as cognições presentes em paciente (neste caso, o jogador).
de jogadores utilizando-o mensalmente com jogo patológico? Relacionando o LoL à paixão, Ber-
e cerca de 27 milhões diariamente, de Apesar de ser um jogo inserido, tran e Chamarro (2016) realizaram um
acordo com a Riot Games. Possivelmente no âmbito clínico, nas narrativas de estudo com 369 espanhóis que concor-
este dado reverbera em outro: é o jogo pacientes acometidos pelo transtorno daram em preencher um questionário
mais comentado nos consultórios de psi- do jogo pela internet, a matéria abar- virtual. Os participantes tinham mais de
cólogos e psiquiatras. ca outro ponto: a paixão relacionada 16 anos e jogavam LoL periodicamente.
Constantemente recebo pacientes aos jogos eletrônicos. Vallerand et al. A idade média dos sujeitos foi de 21,59
e seus familiares que mencionam con- DElNEM PAIXÎO COMO UMA FOR- anos (DP = 3,58) e a média de tempo
mITOSCOMOUSODO,O,$ESTAFORMA te tendência de realizar uma atividade de jogo por semana foi de 17,72 horas
trago o questionamento: o problema é que gere prazer ao indivíduo, na qual (DP = 12,46). Além das informações so-
o jogo eletrônico ou o jogador? Reforço o sujeito investe tempo e energia. Os CIODEMOGRÉlCAS O TEMA DA PAIXÎO FOI
que todo tipo de tecnologia é neutro, pesquisadores comentam, também, que medido pela Passion Scale. Os resultados
porém o usufruto positivo ou negativo a paixão gera uma forte implicação na do estudo demonstraram que a paixão
será caracterizado por aquele que pra- identidade, fazendo as atividades se harmônica se torna uma protetora de
tica essa atividade. Um dos pontos que tornaram parte do que nós somos. Os consequências negativas. Do outro lado,
podem reforçar o uso problemático do autores dividem essa paixão em dois a paixão obsessiva traz consequências
LoL é a necessidade que os jogadores tipos: a paixão harmônica e a paixão negativas a esses jogadores. A pesquisa
(especialmente aqueles em adoecimento obsessiva. No primeiro tipo o sujeito sugere que aqueles jogadores que apre-
A atenção e os
TRAÇOS da CRIATIVIDADE
DIFICULDADES DE PRESTAR ATENÇÃO EM ALGO
DESINTERESSANTE PODE SER UM GRANDE PROBLEMA EM
DETERMINADOS CONTEXTOS. PESSOAS QUE APRESENTAM
TDAH MOSTRAM DIFICULDADES PARA SUPRIMIR ATIVIDADE
CEREBRAL VINDA DA “REDE DA IMAGINAÇÃO”
S
ERÉ QUE AS PESSOAS COM DÏlCIT um transtorno relacionado a três carac- diagnóstico de TDAH. Para complicar,
de atenção são mais criativas? terísticas principais: a inatentividade, a essas características podem surgir em
Primeiro, vamos procurar en- impulsividade e a hiperatividade. diferentes condições e não fazer parte
TENDER BEM O QUE Ï hDÏlCIT DE Essas características nem sempre do TDAH. O diagnóstico de TDAH está
atenção”. Existe o TDAH, sigla com as vêm juntas, podem se apresentar isola- relacionado à presença desses traços, ou
iniciais do chamado “transtorno de dé- damente. Nem sempre a presença de um de alguns deles, desde cedo, como um
lCITDEATEN¥ÎOEHIPERATIVIDADEvQUEÏ desses traços envolve necessariamente o padrão recorrente na vida escolar, social
As OPORTUNIDADES
na CARREIRA
Q
uando ouvimos a palavra oportunidade
UMA GRADUAÇÃO JÁ NÃO É associamos naturalmente a outra que, de
CERTIFICAÇÃO ESPECIAL NA fato, pouco tem a ver: sorte. Esse é um
pensamento muito comum entre prof is-
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL. sionais que observam outros em plena ascensão sem
O INVESTIMENTO NO PROCESSO se dar conta dos fatores envolvidos no processo de
crescimento no ambiente institucional e como isso
PESSOAL DE ADMINISTRAÇÃO pode ser possível se todos ao mesmo tempo só falam
EMOCIONAL PODE SER UM de crise em diversos setores.
Alguns pontos devem ser observados, e o primei-
TEMPERO MAIS RELEVANTE ro deles é o preparo do prof issional que deseja al-
NOS DIAS ATUAIS çar voos mais altos. O investimento deve ser apenas
ENGAJAMENTO
com cuidados
paliativos
Compreender a história da Psicologia Oncológica,
desmembrando seus campos na atuação hospitalar,
é uma forma de lidar com o câncer,
suas consequências e a proximidade da morte
Por Marcelo Pereira Lemos
“A
s pessoas são de vida, respeitando sempre o pa- Psico-oncologia foi fundada com o
como vitrais co- ciente na sua subjetividade física, intuito de oferecer cursos itineran-
loridos: cintilam social e espiritual, são assuntos ex- tes de especialização realizados em
e brilham quan- tremamente relevantes. várias cidades do país.
do o sol está do A Psico-oncologia surgiu em Fonseca (2004) explica que a
lado de fora, mas quando a escuridão 1960, na Argentina; e, no Brasil, al- palavra câncer é utilizada para des-
chega, sua verdadeira beleza é reve- guns trabalhos começaram a ocor- crever um grupo de doenças que se
lada apenas se existir luz no interior” rer a partir dos anos 1970, com o caracteriza pela anormalidade das
(Elizabeth Kubler-Ros, 1977). interesse de integrar e produzir co- células e pela sua divisão excessiva.
O tema de ref lexão exposto a nhecimento na área clínica médica Um câncer começa com uma célula
seguir se encontra no campo da oncológica. Em meados dos anos que contém informações genéticas
Psicologia Oncológica. Questões 1990, a Sociedade Brasileira de incorretas, de modo que se torna
como diagnóstico, ressignificação
das medidas de enfrentamento, Marcelo Pereira Lemos é formado em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
compreensão das possibilidades É especializado em Life Coaching pela Society International of Coaching e Practitioner pelo Instituto de
nas medidas de conforto e enten- Desenvolvimento Humano Humanize. Atualmente é psico-oncologista do Hospital do Câncer Mãe de
Deus. Contatos: marcelo.lemos@maededeus.com.br e marcelop_lemos@hotmail.com
dimento do que pode ser qualidade
56 psique ciência&vida
SHUTTERSTOCK
todo encontro com qualquer mem- te primeiro passa por um período de IG
G
9G
GGÈIG-
gral à pessoa com câncer, sua família, bem
bro da equipe de saúde, em cada en- negação, conforme citado anterior- como os profissionais envolvidos.
contro” (Holland, 2003, p. 21). mente, quando a principal pergunta
60 psique ciência&vida
rá entendê-lo como um sujeito que
pensa, sente, fala e cria sentidos nas
relações de subjetividades.
Nesse modo de subjetividades,
pacientes buscam, através das me-
táforas, relatar sobre seu sofrimen-
to. O câncer carrega em cada corpo
um estigma de morte, um medo do
desconhecido, uma passagem sofri-
da de um futuro incerto. De acordo
com Paulon (2010), devemos inter-
pretar o discurso e o inconsciente
humano além daquilo que está vi-
sivelmente dado e do que se pode
mensurar, pois esse discurso não se
limita ao que está concretamente
simbolizado.
Familiares e cuidadores Um dos estágios do paciente de câncer, a barganha, pode desencadear um processo de depressão, no qual
em manter o paciente sob seus cui- nizando o bem-estar e a qualida- diagnóstico, e passa a ser o alívio
dados, porém, para que isso se torne de de vida, promovendo o alívio dos sintomas, não apenas físicos,
possível, há a necessidade de apren- do sofrimento físico, social, emo- mas também de ordem espiritual e
dizado sobre o cuidado e como lidar cional, espiritual e psicológico da psicológica. Uma morte mais dig-
com o sofrimento do outro. pessoa com uma doença grave, em na, carinho, afeto e cuidado são as
Os cuidados direcionados a pa- estado avançado e incurável, bem ações dessa inovadora e reconheci-
cientes que têm o diagnóstico de como seus familiares. da filosofia.
câncer, seja em qualquer estado, Existe um crescente interesse Em minha atividade como psi-
demandam tempo de dedicação no mundo pelo tema cuidado pa- cólogo oncológico, fico certas ve-
do cuidador e isso faz com que ele liativo, principalmente por seu pa- zes me questionando sobre nossa
abandone grande parte de suas ati- radigma diferenciado, deslocando capacidade como seres humanos de
vidades cotidianas, tendo que se a atenção da cura para o cuidado, nos relacionarmos com a obvieda-
adaptar a uma nova rotina que in- mas ainda a sua inserção no sistema de da morte. A meu ver, de todos os
clui dias e noites no hospital, perda de saúde é muito complicada (Boe- fatos que nos movem, o mais forte e
de funcionamento rotineiro da vida mer, 2009). determinante é o medo de morrer.
profissional e demais exigências e O enfoque desse cuidado deixa O ser humano vivencia em suas
demandas do tratamento (Inocen- de ser a cura, por uma questão de relações sociais diferentes formas de
ti; Rodrigues; Miasso, 2009).
Contudo, vale ressaltar sempre
o importante papel do familiar nes- O câncer traz em si a consciência da
se momento. Família é o cuidado, possibilidade de morte. Essa constatação
no mais puro e significativo tom da
palavra. Acalma, acolhe e preenche é acompanhada de angústia e temores
lacunas de medo, solidão e tantos que seguirão o paciente ao longo do
outros sentimentos afetivos. Pa-
ciente com uma base familiar sóli-
tratamento. O medo é a resposta
da e estruturada tem nesse alicerce psicológica mais comum diante da morte
da vida uma condição real de com-
preender e enfrentar o câncer de
maneira mais saudável.
Cuidados paliativos
N a década de 60, com o apare-
cimento do modelo hospice,
criado por Cicely Saunders, surgia o
molde dos cuidados paliativos. Uma
alternativa de encarar a morte como
processo inerente à vida. Que ofe-
recesse dignidade à pessoa humana
no seu final de vida. A morte passa a
não ser mais ocultada e silenciosa e,
sim, fonte de cuidado de uma nova
proposta de saber e poder.
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) considera o cuida-
do paliativo como uma prioridade
da política de saúde. Para a OMS,
esse cuidado corresponde a um
trabalho desenvolvido por uma
equipe interdisciplinar que utiliza )GG
GIGhÔ9GGGIG9G
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estratégias de intervenção, preco- GG
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Aspectos desvalorizados
pelos HUMANOS
/3-)4/33§/#/.3425°$/3./302)-2$)/3$!
(5-!.)$!$%#/-/)-!').!2/3%.4)-%.4/$%*534)!%
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0!2!2%&,%4)23/"2%!3"!3%3).34).4)6!3$!03)15%
D
ignidade é um sentimento que Nesse conto, o personagem de se transformara em uma pessoa e que se
nos leva ao interesse pelas ques- Franz Kaf ka, o Samsa do livro Meta- chamava Gregor Samsa.
tões do sofrimento de outrem, morfose, segue um processo inverso. Samsa, ao despertar em um am-
bem como a justiça – o que tor- Assim Murakami descreve: “Quando biente de uma casa, aparentemente
na o homem protegido na relação com o certa manhã acordou de sonhos in- abandonado, logo tomou consciência
OUTRO%NCONTRAMOSTAISREmEXÜESNOCON- tranquilos, encontrou-se em sua cama dos temas: invasão, prisão e proteção.
TOh3AMSAAPAIXONADOvNOLIVROHomens METAMORFOSEADODE'REGOR3AMSAv$E Começou a pensar quem era ele antes
sem Mulheres, de Haruki Murakami. alguma maneira o inseto entendeu que de ser Gregor. Veio à sua mente uma
Quando o passado
bate à porta
O DOCUMENTÁRIO NOSTALGIA DA LUZ,
DIRIGIDO POR PATRICIO GUZMÁN,
MOSTRA AS CONSEQUÊNCIAS DE QUEM
SOFREU COM A DITADURA MILITAR
NO CHILE E REACENDE A DISCUSSÃO A
RESPEITO DE UM POSSÍVEL RETROCESSO
POLÍTICO NO BRASIL
“E
stou convencido de que a memória tem uma força da
gravidade. Ela sempre nos atrai. Os que têm memória
são capazes de viver no frágil tempo presente. Os que
não a têm, não vivem em nenhuma parte.”
Nossos textos nesta coluna são escritos com alguma antecedência.
Dito isso, queremos apenas registrar que resolvemos escrever sobre o
lLMENostalgia da Luz, do sensível diretor Patricio Guzmán Lozanes,
tomados pelos contraditórios sentimentos vividos no atual momento
do Brasil, quando a “presidenta” eleita por mais de 54 milhões de votos
está sendo afastada por um processo que tem sido denunciado dentro
e fora do país como algo que não cumpre a mínima diretriz dentro da
nossa Constituição. Inevitável lembrarmos, então, do período ditatorial
que, não faz nem muito tempo, o país desembarcou dele, mais precisa-
mente nos anos 80 do século XX. Há muito de memória traumática sen-
do desenterrado no processo atual. Não é possível prever como serão
os próximos tempos, um fantasma que mal começara a ser exorcizado
é chamado a ser revisitado por fatores políticos que colocam em dúvida
a credibilidade do processo político que ora se instaura.
Muitos dos mais recentes fatos levaram-nos a pensar em Costa-
-Gravas, com seu inesquecível Missing, que narra os dias que instau-
raram o golpe militar no Chile. O diretor compôs o seu roteiro utili-
zando o olhar de um pai, um americano conservador, republicano até
ENTÎOQUEBUSCANO#HILEDOSMILITARESOSEUlLHODESAPARECIDO/
golpe dos anos 60 em toda a América Latina é assim desenhado pelas
lentes do diretor.
O governo que agora está sendo destituído aqui foi o primeiro a
verdadeiramente querer abrir as páginas da nossa história para apura-
ção e conhecimento público. Vimos funcionar a Comissão Nacional
da Verdade, que, para o nosso orgulho, tinha como um dos seus mem-
bros a psicanalista Maria Rita Kehl, que esteve presente quando da
66
6 psique ciên
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ida.c om.br
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HÁ MUITO DE
MEMÓRIA
TRAUMÁTICA SENDO
DESENTERRADO NO
PROCESSO ATUAL. NÃO
É POSSÍVEL PREVER
COMO SERÃO OS
PRÓXIMOS TEMPOS,
UM FANTASMA QUE
MAL COMEÇARA
A SER EXORCIZADO
É REVISITADO
que podem ter estado ali adormecidos
p#PG\I\GG
GÔG
GGGo:I por décadas. Invade o olhar, encanta, en-
GG91G-GG
GGGGGIGIGGÔHGG
ternece, fazendo lembrar a poesia do ve-
IP)GG
G'9
I+GI"P:
LHOPOETA$RUMMONDAmORQUEVENCEU
entrega do Relatório Final à “presidenta”. pela total falta de umidade. O que ali jaz OASFALTOAmORQUEATUDOVENCEAVIDA
Talvez essa ousadia desse governo tenha para sempre conta a história, mas é pre- que insiste sempre, como os presos polí-
sido um dos pontos que ergueram ódios ciso querer buscá-la e enfrentar a secura TICOSDE0INOCHETNARRADOSNOlLMEQUE
que levaram ao desfecho que parece se das lacunas do desinteresse plantado pelos olhando para as estrelas encontravam
encaminhar tudo isso. que comandaram cada período. Um lugar dentro de si a liberdade.
A história acusa e, de certa maneira, tipicamente inabitável, que guarda tantos
talvez seja repetindo-a que se busque a segredos sórdidos de um passado político, EXOPLANETAS
explicação que atenue culpas por atos ou mas também abre portas para o entendi- Também por esses dias recebemos a
OMISSÜES&OIASSIMCOMONOlLMENos- mento do nosso futuro enquanto raça. notícia que, pouco antes do desligamento
talgia da Luz, o astrônomo, o arqueólogo Interessante pensar esse documen- DElNITIVODOTELESCØPIO+EPLEROSASTRÙNO-
e o arquiteto que quiseram fazer ver que tário junto a um episódio insólito que mos descobriram dentro da nossa galáxia
o presente não existe, como é pensado no invadiu o deserto do Atacama em 2011, mais de 1.200 exoplanetas e alguns apa-
lLME O PASSADO ESTÉ SEMPRE NOS TRA¥OS que, repentinamente, se apresentou aos rentemente úmidos e com condições de
daquilo que pensamos como atual. Essa OLHOSHUMANOSTODOmORIDOCOMCOLORA- ter vida ou mesmo muito parecidos aqui
PODE SER A GRANDE PREMISSA DESSE lLME ções diferentes, nos mais variados tons. com a nossa Terra. O mundo solavanca
levando a questionamentos compartilha- Mudou por algum tempo sua aparência mais do que nunca na marcha do progres-
dos por diversas ciências, como Astro- traduzindo uma festa que, talvez, ainda so e retrocesso, civilização versus barbá-
nomia, Física, Arqueologia e até mesmo estejamos olhando tão perto, que encon- rie, desenvolvimento e atraso etc. Vivemos
Psicologia. O passado existe e nos brinda, tramo-nos míopes para entender a nota, em uma canção estelar que talvez algum
e o presente nada mais é do que um frag- ORECADODANATUREZA%SSAmORADADODE- dia nos possibilite olharmos para o céu e
mento deste. serto ainda não pode ser compreendida. entendermos um pouco desse presente,
/lLMECOME¥ADEUMAMANEIRAEN- O fato é que algum fenômeno trouxe uma que é sempre passado. Oito minutos leva
volvente, nos apresentando tanto aos POSSIBILIDADE DE FAZER mORIR TRADUZIR
SE a luz do sol para atingir nossos olhos, o
imensos telescópios, ao intrigante deserto EMmORFAZERGERMINARBULBOSERIZOMAS que vemos não está mais lá, mas nos in-
do Atacama, assim como às belas imagens
do enigmático espaço. O diretor constrói
Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde
SUAS REmEXÜES EM BUSCA DE UM PASSADO
IMAGENS: DIVULGAÇÃO
68 psiqu
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ou ressentimento, vemos aquilo que costu-
mamos chamar de esperança.
Patricio Guzmán, que é considerado
um dos mais conceituados documentaris-
tas latino-americanos, foi ele mesmo um
exilado quando da derrubada do governo
de Salvador Allende. Elabora, via seus do-
cumentários, uma história que é de todo
um país, seu Chile, e, ao mesmo tempo,
toca em sua própria trajetória, os perigos
que viveu e dos quais se salvou exilando-se
em Cuba e depois na França. Talvez por
ISSOMESMOSEUlLMETRAGATANTALUZPOIS
há nele um distanciamento necessário ao
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narrar uma história, mas, concomitante-
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MENTEENCONTRAMOSTODOUMlODEAFETO
que envolve o espectador todo o tempo. AS MULHERES DE com mais propriedade. Quando não po-
Os sons que insere colocam a quem assiste demos criar mecanismos que possibilitem
suspenso em um espaço mágico que pode
CALAMA, QUE POR isso, podemos assistir àquilo que se no-
ser da origem, nascimento de qualquer 28 ANOS BUSCARAM meia como “peste emocional”, que pode
vida, como pode também ser pensado OS RESTOS MORTAIS ser comparada ao próprio surgimento do
como os mistérios e enigmas que estão que se chama “o ovo da serpente”. Talvez
inacessíveis lá no universo.
DE SEUS PARENTES ESSA TAREFA SEJA O QUE AO lNAL AS LENTES
NO DESERTO, PRESOS de Guzmán tão delicadamente propõem.
SORRISOS POLÍTICOS QUE POR A história tem muito a contribuir com o
Vemos, em determinado trecho, duas que vivemos como atual na subjetividade
das mulheres de Calama visitando o MAIS DE 17 ANOS e, talvez, na verdade, como propõe, toda
observatório e seus sorrisos ao olharem FORAM ASSASSINADOS experiência seja, na verdade, passado.
pelos poderosos telescópios. Há em seus Vida e morte são entrelaçadas com
A MANDO DE
sorrisos algo de criança ao se voltarem lOS INSEPARÉVEIS DE PASSADO E PRESENTE
para os céus, como a deixar por alguns PINOCHET, MIRAM A compondo futuros incertos. O diretor já
instantes toda a miséria e dor em seus TERRA AO INVÉS DE AlRMOU QUE hGRANDE PARTE DOS CHILENOS
olhos cansados de avistarem o solo. Uma não fala da História, ignoram-se os mas-
nova fuga da realidade para um externo
VOLTAREM SEUS OLHOS sacres e as perseguições, o desprezo pe-
repleto de mistérios e que acalmam nos- PARA AS ESTRELAS los índios, ou o verdadeiro contexto por
sas angústias. Dizem alguns pensadores detrás dos golpes de estado”. Sabemos,
da atualidade que a grande revolução negando todo feminino, a mãe terra e a por outro lado, que o Brasil foi um dos
será operada pelas mulheres, sua obs- vastidão das galáxias. últimos países a querer entender o que
tinação, com certeza, tem enfrentado Sabemos que trabalhar as resistências aqui se passou em tempos recentes da
ao longo da história as mais poderosas é uma das tarefas mais árduas de um ana- última ditadura. Muito ainda nos assom-
forças. “Ergue os olhos, Hanah. Ergue lista na condução de uma análise. Talvez bra com uma negação em algo mesmo
os olhos!” (trecho do discurso no genial ao pensarmos em mudanças coletivas ti- próximo ao que ele narra em Nostalgia da
lLMEDE#HARLES#HAPLINO Grande Dita- véssemos que voltar um olhar mais apro- Luz. Tempos obscuros se combatem com
dor, 1940). Sabemos, então, que, por isso fundado para onde deixarmos de levar o estudo da História e muita claridade
mesmo, há sempre uma estratégia de as essa discussão. Em termos do público foi o NAS DISCUSSÜES FUNDAMENTAIS %SSE lLME
calarem nos momentos-chave de emba- teórico Wilhelm Reich quem abordou isso é inspirador quanto a esse aspecto.
te. As bruxas estão aí para nos lembrar
disso, com forte simbolismo que a força
IMAGENS: DIVULGAÇÃO
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do feminino traz. O homem do capital +G^d!GhG99 GG9GG /:"ÈdIP:
não contempla o desamparo, não perce- GhÔdD;:
GhGd=;<;:H
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be seu adoecimento, prefere a dominação !:GIGhÔd<=G:
www.portalcienciaevida.com.br
PERlL Por Anderson Zenidarci
A VIDA que U
m dos primeiros escritores
americanos de contos e con-
siderado o inventor do gênero
lC¥ÎO POLICIAL TAMBÏM TEM
imita a ARTE
UMA GRANDE CONTRIBUI¥ÎO AO GÐNERO DE
lC¥ÎOCIENTÓlCA.ASCEUCOMO%DGAR0OE
NACIDADEDE"OSTONlLHODEATORESMAM-
BEMBES DE ORIGEM ESCOCESA
IRLANDESA
ANTES DOS TRÐS ANOS lCOU ØRFÎO DE MÎE
QUEMORREUPOUCODEPOISDEDARALUZA
SUAIRMÎCA¥ULAEDETERSIDOABANDONADA
PELO MARIDO DEVIDO TANTO A COMPLICA-
¥ÜES NO PARTO COMO A TUBERCULOSE $EI-
XOUOSTRÐSlLHOSØRFÎOSQUEFORAMCADA
UM PARA UM DESTINO DIFERENTE %LE FOI
ACOLHIDOPELOCASAL&RANCISE*OHN!LLAN
rico empresário que morava na cidade de
2ICHMOND NO ESTADO DA 6IRGÓNIA MAS
NUNCAFOIFORMALMENTEADOTADOEMBORA
*OHNTENHALHEDADOOSEUSOBRENOMEFA-
ZENDOCOMQUESECHAMASSEAPARTIRDE
ENTÎO%DGAR!LLAN0OE$ESDEPEQUENO
FOI MAIS APEGADO Ì MÎE ADOTIVA DO QUE
ao pai, que permanecia sempre distante,
OQUEESTIMULOUADIFÓCILRELA¥ÎOESTABELE-
CIDAENTREOSDOISAPARTIRDAADOLESCÐN-
cia do escritor, permeada por constantes
BRIGASEDISCUSSÜESQUEAMBOSTERIAMAO
LONGO DA VIDA #OM A TAMBÏM PRECOSE
MORTE DA MÎE ADOTIVA SEU PAI VOLTOU A
SE CASAR COM UMA MULHER MUITO JOVEM
QUE LHE DEU DOIS lLHOS E QUE O REJEITA-
va veementemente, pois o via como uma
AMEA¥A)SSOIMPEDIUQUE0OESETORNASSE
HERDEIRODAFORTUNAPATERNAEELESEAFAS-
tou da casa do pai adotivo. Frequentou
A 5NIVERSIDADE DA 6IRGÓNIA SOMENTE POR
um semestre, passando a maior parte do
TEMPO ENTRE BEBIDAS E MULHERES !PØS
UMASÏRIEDEDISCUSSÜESCOMOPAIFUGIU
DE CASA PARA SE ALISTAR NAS FOR¥AS ARMA-
das, onde serviu durante dois anos antes
O ESCRITOR E POETA EDGAR ALLAN POE de ser dispensado. O pai, a contragosto,
USOUSUAINmUÐNCIAEOAUXILIOUAENTRAR
É CONHECIDO POR SUAS HISTÓRIAS NA!CADEMIA-ILITARDE7EST0OINTTEN-
QUE ENVOLVEM SUSPENSE, TERROR TANDO MANTÐ
LO NA CARREIRA MILITAR -AS
EMVIRTUDEDASUAPROPOSITADADESOBEDI-
E O MACABRO. SUA VIDA SE CONFUNDE ÐNCIA A ORDENS USO DE ÉLCOOL E ENVOLVI-
MENTOCOMJOGOSDEAZARELEACABOUPOR
COM SEUS CONTOS DE MISTÉRIO
70 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ALLAN POE ERA CHAMADO DE CRÍTICO
LITERÁRIO CRUEL, POR SUAS CRÍTICAS CÁUSTICAS.
STICAS.
TICAS
S
EM TOM DE RECLAMAÇÃO, DIZIAM QUE ELE
USAVA ÁCIDO PRÚSSICO AO INVÉS DE TINTA
SEREXPULSODESTAACADEMIAEMFATO BÏMESCREVEUSÉTIRASCONTOSDEHUMORE
PELOQUALSEUPAIADOTIVOOFENDIDOORE- COMOEFEITOCÙMICOUSOUAIRONIAEAEX-
PUDIOUATÏASUAMORTE TRAVAGÊNCIADORIDÓCULOMUITASVEZESNA
%MCONSEGUINDOSEMANTERPOR TENTATIVADELIBERAROLEITORDACONFORMI-
meio dos seus escritos, casa-se em seg re- DADE CULTURAL %RA CONHECIDO COMO UM
DOCOMASUAPRIMA6IRGÓNIA#LEMMDE CRÓTICO LITERÉRIO CRUEL POR SUAS CRÓTICAS
ANOS1UATROANOSDEPOISELACOME¥OU CÉUSTICAS/SAUTORESDIZIAMEMTOMDE
ASOFRERDETUBERCULOSEEMORREUAPØSSEIS RECLAMACÎOQUEELEUSAVAÉCIDOPRÞSSICO
ANOS 6IÞVO TENTOU UM RELACIONAMENTO AOINVÏSDETINTA
COM3ARAH(ELEN7HITMANQUEOREJEI- 3UAS OBRAS INmUENCIARAM A LITERATURA
tou em virtude do comportamento errá- DOMUNDOEMCAMPOSESPECIALIZADOSTAIS
TICODESREGRADOEALCOØLICO COMOACOSMOLOGIACIÐNCIAQUETRATADAS +^GGGG
GGH
G
GG^IG9H
.A ÏPOCA 0OE TENTOU O SUICÓDIO POR LEISGERAISQUEREGEMOUNIVERSO EACRIP-
G`G
SOBREDOSAGEMDELÉUDANOEREGRESSOUÌ TOGRAlAESCRITAPORMEIODESINAISCODIl-
CIDADEDE2ICHMONDONDERETOMOUARE- CADOSPARAQUEPOSSASERLIDOEENTENDIDO APARECEM SEUS CONTOS MAIS CONHECIDOS
LA¥ÎOCOMUMAPAIXÎODEINFÊNCIA3ARAH SOMENTEPORQUEMDETENHAASENHADESUA COMOh/GATOPRETOvh/BARRILDE!MON-
%LMIRA 2OYSTER ENTÎO VIÞVA 4AMBÏM DECODIlCA¥ÎO 5SOU DAS PSEUDOCIÐNCIAS TILLADO h-ANUSCRITO ENCONTRADO NUMA
NESSE RELACIONAMENTO TEVE PROBLEMAS MUITOEMhMODAvNAÏPOCACOMOAFRE- GARRAFAvEh!MÉSCARADAMORTEESCARLA-
PELOSEUALCOOLISMO%LEERAUMAPESSOA NOLOGIAESTUDODAESTRUTURADOCRÊNIOQUE TEvCONSIDERADOOBRA
PRIMADOTERROR
SOLITÉRIADIZIAPOUCOSOBRESIUMDESCO- determina o caráter e a capacidade men- 3UAMORTEEOMISTÏRIOQUEACERCA
NHECIDOMESMOPARAOSMAISPRØXIMOS TAL EAlSIOGNOMIA (TÏCNICADECOMPREEN- PODERIA PERFEITAMENTE SER UM DE SEUS
"EBIA MUITO E SEMPRE JOGAVA SAÓA COM SÎO DO COMPORTAMENTO E PERSONALIDADE CONTOS DE SUSPENSE 0OE FOI ENCONTRADO
PROSTITUTAS FREQUENTEMENTE 0ARECIA NÎO PORMEIODAOBSERVA¥ÎODASCARACTERÓSTICAS NAS RUAS DE "ALTIMORE APØS TER DESAPA-
PERTENCERALUGARNENHUM DOSTRA¥OSFACIAISECORPORAIS /USODES- RECIDOALGUNSDIASSUJOVESTIAROUPASQUE
!LÏM DE ESCRER COMPULSIVAMENTE E SESRECURSOSEMSEUSESCRITOSFASCINAVAO NÎOERAMSUASEAPRESENTAVAUMESTADO
SERBRILHANTENOGÐNERODEHORRORTAM- PÞBLICOLEITOR!COMO¥ÎOCRIADAPORSUAS de delirium tremens &ALECEU NO HOSPITAL
FA¥ANHASCRIPTOGRÉlCASDESEMPENHOUUM QUATRO DIAS DEPOIS .ESTE PERÓODO ELE
PAPEL IMPORTANTE EM POPULARIZAR CRIPTO- NÎO CONSEGUIU ESTABELECER UM DISCURSO
GRAMASEMJORNAISEREVISTAS SUlCIENTEMENTECOERENTEQUEPUDESSEEX-
0OSSUÓA UMA AlADA HABILIDADE ANALÓ- PLICARCOMOTINHACHEGADOÌSITUA¥ÎONA
TICA BEM EVIDENTE EM SUAS HISTØRIAS DE QUALFOIENCONTRADO!CAUSADESUAMOR-
DETETIVEQUESEPERMITIADESCREVERAOPÞ- TEPREMATURAAOSANOSÏDESCONHECI-
BLICOOPERlLDOASSASSINOPORSEUmodus DAPOLÐMICAECONTROVERSA&OIPORDIVER-
operandi 3EU TRABALHO APARECE AO LONGO SAS VEZES ATRIBUÓDA AO ÉLCOOL CONGESTÎO
DACULTURAPOPULARNALITERATURAMÞSICA CEREBRAL CØLERA SÓlLIS DROGAS DOEN¥AS
lLMES E TELEVISÎO 0OE Ï UM ESCRITOR ES- CARDIOVASCULARES SUICÓDIO TUBERCULOSE
TUDADOECULTUADO%NTRESUASOBRASDES- DOEN¥ASCEREBRAISRARAS
IMAGENS: WIKIPEDIA/ ARQUIVO PESSOAL/SHUTTERSTOCK
DIFICULDADE
em superar a VIUVEZ
A PERDA DO CÔNJUGE É O TIPO DE LUTO QUE COM
MAIS FREQUÊNCIA RESULTA EM ENCAMINHAMENTO
PSIQUIÁTRICO, POR ISSO O TEMA, TÃO DELICADO, NÃO PODE
SER ENCARADO COMO UM DADO ESTATÍSTICO QUALQUER
A
morte de uma pessoa da fa- garem a morrer também pouco tempo morrer depois de perder sua esposa é
mília é sempre uma experi- depois da separação. de 21%, independentemente do fato de
ência traumática, superada Casos assim são frequentes, apon- estar doente ou não. A percentagem é
a duras penas. A perda do tou uma pesquisa feita nos Estados de 17% para as mulheres.
companheiro é ainda mais complica- Unidos. O estudo avaliou o impacto A análise do médico e sociólogo
da, muitas vezes f ica a ausência, uma do luto na saúde e bem-estar de mais Nicholas Christakis, da Universidade
espécie de morte em vida. Em alguns de meio milhão de casais de idosos Harvard, e do sociólogo Paul Allison,
SHUTTERSTOCK
casos, o abalo é tão forte que acaba entre 65 e 89 anos. De acordo com o da Universidade da Pensilvânia, tam-
sendo inevitável muitas pessoas che- levantamento, a chance de um homem bém deixou claro que dependendo da
Novas perspectivas
para GESTÃO
74
de PESSOAS
psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
O counseling
counseling organizacional
organizacional é uma
uma ferramenta
ferramenta
que
que uutiliza
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aneira ssistemática
istemática Dionízio Costta Jr. é
psicólogo organizacional,
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I G professor e pesquisador.
Diretor de Pesquisa e
Desenvolvimento da ABRH-
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G PE – Associação Brasileira
de Recursos Humanos.
Coautor do livro Coaching
SHUTTERSTOCK
– Aceleração de Resultados
Por D
Por Dionízio
ionízio Costta
Costta Jr.
Jr. (Editora Ser Mais).
C
ounseling é uma abor- aconselhamento é chamado de coun-
dagem profissional selee. Essa atuação pode existir de
e pessoal com foco duas formas: amadora (de maneira in-
específico no desen- formal e aleatória) ou profissional (de
volvimento do ser hu- modo sistemático e com frequência).
mano, que visa otimizar suas capaci- A aplicação do counseling é milenar.
dades. É desenvolvida com atividades É possível perceber ao longo do proces-
estruturadas de acompanhamento, so histórico a existência de aconselha-
desenvolvimento e resultado. Basica- mento em todas as sociedades, desde os
mente, consiste em uma pessoa que, povos indígenas até as grandes coroas
dotada de conhecimento técnico, ex- da Idade Média. Todavia, observa-se
periência de vida pessoal e profissio- sua atuação mais fortemente na religião.
nal, aconselha de forma sistemática e Alguns teóricos atribuem a origem da
dedicada o outro a tomar as decisões técnica de counseling ao cristianismo
mais assertivas, e que sejam benéficas como uma ação natural dentro das co-
para sua vida. Quem aconselha ganha munidades eclesiásticas. Nesse meio, se
o nome de counselor e quem recebe o destaca a contribuição dada pelo reve- *GGGII
GH
G
GGG
desenvolvimento do ser humano, otimizando
pessoas, em que uma, com forma- Há indicações de que o counseling é milenar, com
der cada uma delas, percebe-se que
ção específica, auxilia a outra a mo- registros da existência de aconselhamento em todas as existem diferenças alarmantes, e é
dificar-se ou a mudar seu ambiente sociedades, desde os indígenas até a Idade Média justamente essas particularidades
Diferenças
É de extrema importância entender
que, quando se fala em counseling
organizacional, a referência é uma fer-
ramenta de desenvolvimento humano,
com foco na pessoa dentro da organiza-
ção, pois existe, também, o counseling
como ferramenta terapêutica usada em
sessões de análise psicológica ou Psica-
nálise (não é este o caso). Quando uma
empresa decide aderir a um programa
de counseling, ela precisa ter em mente
que é de extrema importância selecionar
Além do counseling organizacional, existe, também, o counseling como ferramenta terapêutica, uma pessoa que seja de referência den-
utilizado em sessões de análise psicológica ou Psicanálise tro da organização para ocupar a função
de conselheiro. Esse profissional sele-
Para Shostrom e Brammer, o aconselhamento cionado internamente precisa ter não
apenas a vivência, mas também o perfil,
é uma relação objetiva e recíproca um perfil auxiliador que tem foco nas
entre duas pessoas, em que uma, com pessoas, com sensibilidade e interesse
no desenvolvimento de pessoas (testes
formação específica, auxilia a outra a de análise comportamental facilitarão
modificar-se ou a mudar seu ambiente nessa busca. Entretanto, é importante
ressaltar que os testes não devem ser to-
que cada uma tem que define seu su- talentosos que exercem um cargo estra- mados como verdades absolutas de pes-
cesso no processo de desenvolvimento tégico dentro das organizações, o tipo soas, pois o ser humano é muito maior
individual. Não existem melhores ou de funcionário que vale a pena investir que qualquer teste que possa existir).
piores ferramentas, todas elas apresen- caro para aprimorar suas capacidades. Além disso, proporcionar uma capacita-
tam resultados e um impacto positivo Onde acontecem as sessões? Podem ção (que pode ser interna, com a ajuda
dentro da organização. Entretanto, cabe acontecer dentro da organização ou de uma consultoria especializada) para
sempre ressaltar e reforçar que devem fora (exceto para situações em que o que o profissional possa conhecer e ter o
ser sempre aplicadas de maneira pru- counselor perceba que precisa tirar o domínio das ferramentas usadas em um
dente e ética com responsabilidade e counselee de dentro da empresa para processo de counseling organizacional.
maturidade organizacional, sem modis- uma reflexão mais aprofundada). Qual No que diz respeito ao colabora-
mos ou conveniências. o foco? No ser humano, muito antes dor que receberá as sessões de aconse-
No que concerne ao counseling, do problema ou gap. Vale salientar que lhamento, é necessário, antes de mais
existem especificações que evidenciam o ser humano é único e que reflete no nada, entender se o caso dele requer um
as principais diferenças: Quem pode campo profissional experiências pesso- profissional que o aconselhe nas esco-
ser um counselor? Pessoa com experi- ais. Consequentemente, quando o pro- lhas e decisões. Então, o primeiro pas-
ência profissional e pessoal, que tenha fissional auxilia no crescimento pessoal so é perceber a real necessidade do uso
o conhecimento e vivência no campo está sendo proporcionado crescimento do counseling (uma consultoria ajuda-
organizacional. Será necessária tam- profissional. Qual a metodologia? O rá no diagnóstico), para não correr o
bém uma preparação para assumir o counselor possui conhecimento téc- risco de usar o counseling quando, na
papel de counselor, um curso de for- nico na ferramenta para o desenvolvi- verdade, precisaria de um mentoring
mação, para aprender as técnicas que mento do colaborador indicado. São re- ou um coaching. Quando é entendida a
precisam ser usadas nas sessões. Quem alizadas sessões mensais, com duração, necessidade, começa a conscientização
pode ser um counselee? Profissionais em média, de uma hora (para mais ou do colaborador no sentido de entender
O s ganhos de um programa de
counseling são inúmeros. É pos-
sível enumerar dez benefícios mais
O coaching é incrível em seus resultados,
evidenciados nos colaboradores que
mas quando aplicado para quem precisa
recebem sessões de desenvolvimento de um processo de coaching. Não é difícil
com essa ferramenta. São os seguin-
tes: assertividade nas tomadas de de-
até mesmo os teóricos confundirem o
cisão; maior alinhamento cultural; counseling com o coaching e o mentoring
maior relacionamento de parceria;
baixo investimento em treinamento; da carreira profissional; entendimen- O counseling, sem dúvida, é uma
qualidade de vida no trabalho; maior to da real utilidade e contribuição das melhores ferramentas para o desen-
planejamento e controle; amadureci- para a organização. volvimento humano organizacional.
mento organizacional; maior capaci- Para a organização, os benefícios Como foi possível observar, sua atuação
dade de criação e inovação; melhoria também são inúmeros, desde ter um beneficia a todos: a quem recebe, quem
colaborador mais motivado e enga- aplica e à organização como um todo.
jado nos projetos da empresa até um A valorização do ser humano é, certa-
funcionário mais saudável psicologica- mente, o melhor caminho para se obter
mente falando. Esses ganhos, por si, já uma organização assertiva em seus re-
são maravilhosos e atestam a eficácia sultados e sempre gozando de sucesso, e
que um programa bem estruturado quando aplicado de maneira bem elabo-
proporciona. Também são percebidos rada, estudada e planejada o counseling
ganhos para o counselor, que também ajuda a atingir os objetivos. Com isso, é
vão desde prestígio dentro da corpora- possível desmistificar aquele velho dita-
Na religião
O professor e conselheiro Jay Edward Ada-
ção até o sentimento de dever cumpri-
do em poder ter ajudado um outro ser
do que diz que “se conselho fosse bom,
não se dava, vendia”. Conselho bom é
ms é um reverendo presbiteriano, que exer- humano a se desenvolver. conselho dado com razão.
I\PG
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aconselhamento bíblico. Obteve seu PhD
pela Universidade de Missouri, nos Estados REFERÊNCIAS
Unidos, e serviu como professor no Semi- Rogers, C. R. Counseling and Psychotherapy:)3d#(9<D?=:
nário Teológico de Westminster durante . On Personal Power. New York: Delacorte Press, 1977.
vários anos. Entre outras atividades fun-
Santos, O. B. Aconselhamento Psicológico e Psicoterapia: GGhÔ®G
dou os ministérios Christian Counseling and
Básico. São Paulo: Pioneira, 1982.
Education Foundation (CCEF) e National As-
sociation of Nouthetic Counselors (NANC). Scorsolini-Comin, F. Aconselhamento Psicológico: Aplicações em Gestão de Carreiras, Educação e
Saúde. São Paulo: Editora Atlas, 2015.
A revista Psique traz muitas informações interessantes também nas redes sociais. Oceano
Indústria Gráfica Ltda.
!CESSEA&ANPAGEWWWFACEBOOKCOM2EVISTA0SIQUE#IENCIAE6IDA Nós temos uma ótima
impressão do futuro
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Esta revista foi impressa na Gráfica Oceano, com emissão zero de
fumaça, tratamento de todos os resíduos químicos e reciclagem de
todos os materiais não químicos.
ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia
EM#IÐNCIASNAÉREADE.EUROlSIOLOGIADA-EMØRIA pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em FALE CONOSCO
e Atenção pela Universidade de São Paulo, Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em REALIZAÇÃO
DIRETO COM A REDAÇÃO
onde também é professor no curso de Biociência e Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP. Av. Profª Ida Kolb, 551 Casa Verde – CEP 02518-000
coordena o Laboratório de Ciências da Cognição no São Paulo – SP – (+55) 11 3042-5900 – psique@escala.com.br
Instituto de Biociências. MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de
Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em PARA ANUNCIAR anunciar@escala.com.br
CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga SÃO PAULO: (+55) 11 3855-2179
doutor em Saúde Mental pela Unicamp, pós-doutorado em do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HCFMUSP SP (INTERIOR - CAMPINAS): (+55) 19 4595-5058
Saúde Mental pela Universidade de Barcelona-Espanha, SP (INTERIOR - RIBEIRÃO PRETO): (+55) 16 3667-1800
e supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia
professor associado de Psicologia da Universidade Federal RJ: (+55) 21 2224-0095 ES: (+55) 27 3229-1986
Hospitalar em Ortopedia.
de Uberlândia. Autor de Aids e exclusão social. PR: (+55) 41 3026-1175 RS: (+55) 51 3061-0208
PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela SC: (+55) 47 3041-3323 BRASÍLIA: (+55) 61 3226-2218
DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. Universidade Paulista, psicanalista, consultora editorial Tráfego: material.publicidade@escala.com.br
Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia do programa de entrevistas da FNAC e membro ASSINE NOSSAS REVISTAS
Escolar e do Desenvolvimento Humano, ambos pela USP. correspondente do Espaço Moebius de Psicanálise de (+55) 11 3855-2117 – www.assineescala.com.br
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
ESTELIONATO é
tão ANTIGO quanto a
própria HUMANIDADE
O ESTELIONATÁRIO VALE-SE DA SIMULAÇÃO E DA
MENTIRA, QUE SÃO RAMOS NASCIDOS DO TRONCO COMUM
DO ENGANO E DA ASTÚCIA, PARA APLICAR O SEU GOLPE
S
E FOSSE NECESSÉRIO DElNIR ESTELIO- líticos. Se esse desvio for no sentido do
natário em uma só palavra, di- emprego da força bruta, então teremos os
ríamos: trapaceiro. A bem ver, a ditadores, as guerras, as invasões e seus
palavra vem de stellio, onis, estelião, similares (campos de concentração, ho-
lagarto que muda a cor da pele, daí trapa- mens-bomba etc.). E caso a regressão seja
ceiro, velhaco. na direção da fraude, têm-se demagogos
Esse tipo de indivíduo não é um fato enganadores do povo, que se travestem
típico da nossa época, pois já existia nos re- COMPELEDECORDEIROlNGEMPAZEAMOR
cuados tempos. O estelionato é tão antigo mas são lobos gananciosos com objetivos
quanto a própria humanidade, ou melhor, é balordos. Não passam de estelionatários
ANTERIORAELAUMAVEZQUEMUITOSANIMAIS da pior qualidade.
se valem desse comportamento. A bem ver, A história mostra que tanto os líderes
onde há vida há luta pela vida e o vencedor políticos que se valeram da força quanto
será o mais apto. E nesse embate os ani- os estelionatários do povo, ambos, mais
mais empregam recursos variadíssimos, cedo ou mais tarde, acabaram se dando
principalmente de duas ordens: uns ven- que o cerca, tem duas outras armas para mal: aqueles que usaram da força bruta
cem à base da fraude; outros, pela violência. vencer a refrega: a inteligência, a qual lhe um dia encontraram outro mais forte e
Se não é pela força bruta, a aquisição de um dá o entendimento lógico do fato, e a mo- foram eliminados; os que se valeram da
caráter vantajoso coloca o seu possuidor ral, que é o dever-ser da lógica. fraude e da mentira para enganar o povo,
em melhores condições de sobrevivência, Assim, constituído de entendimento e houve (como sempre vai haver) o momen-
tornando-o mais apto a enfrentar o recon- de determinação moralmente ordenada, to em que as suas máscaras caíram, pois
TROCOMOAMBIENTEARAPOSAlNGEDORMIR TRANSCENDEOSANIMAISEVIVEFELIZAGINDO nenhum embusteiro, por melhor que seja,
para surpreender a sua presa; a libélula fe- corretamente (a felicidade vem por acrés- ÏCAPAZDEENGANARMUITOSPORLONGOTEM-
cha as asas para se confundir com o caule cimo) dentro das suas circunstâncias e po sem se trair e ser descoberto. Julgados,
onde pousa, ludibriando o inimigo. Nesse possibilidades. mofaram na cadeia.
sentido, muitas espécies simulam a morte Porém, pode acontecer, entre os hu- Assim seja também aqui no Brasil.
para aproveitar a semelhança com algo ina- manos, uma regressão ao mundo animal,
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TESTES
INCLUSOS!