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NOUTSOPOULOS, Thomas. Solidarity and life in Hegel’s ‘Philosophy of Right’.

Hegel
Jahrbuch, v. 2006, p. 368-372.
PR é uma resposta à incapacidade da RF de estabilizar um conjunto de valores
transformando-o em um arranjo político-institucional compreensível. Neste sentido, PR
é um sistema de mediação de valores, ao mesmo tempo que é um processo de
“elevação” [Erhebung]. A solidariedade aparece, ainda que não explicitamente, no
tratamento da moralidade. Em §125, Hegel fala que o bem-estar de um depende do
bem-estar dos demais e, em geral, de todos. Portanto, importar-se com o bem-estar
de outros é uma pré-condição para o seu próprio bem-estar. Esse é o conteúdo formal
da solidariedade. Formal, pois ainda não é necessário, mas apenas uma possibilidade
formal. – 368
No Direito Abstrato, não há solidariedade, pois é ligada ao bem-estar e esse está
ligado à particularização da vontade. Em princípio, no choque entre moralidade e
direito, o direito deve ser privilegiado, mas Hegel abre uma exceção, o Notrecht, direito
de necessidade. Neste caso, a moralidade se sobrepõe ao direito. Hegel parece dizer
que, em situações de extrema necessidade, devemos agir de acordo com a
solidariedade. Isso pode ser justificado de uma outra forma. Na sua exposição lógica
sobre o conceito de vida, Hegel fala da possibilidade vida ser tratada como algo morto
(W6:476; SL:766). Isso se dá quando o ser humano é submetido a relações de
natureza mecânica e através de uma teleologia externa. A Noção é “vista” como algo
externo a ele, logo ele é tratado como algo morto. Em PR, a morte do ser humano por
privação, assassinato, etc., é associada à natureza (PR, §42). – 369 – Assim a
inversão hegeliana em favor da moralidade é antecipada pela exposição lógica da vida
ao tratar da inaceitabilidade de tratar a vida como algo sob determinações de causa e
efeito.
Portanto, a esfera do direito abstrato é apenas aparentemente não mediada, pois o
direito é condicionado por considerações externas a sua esfera, como a manutenção
da vida. Na família, a solidariedade se baseia no sentimento. O egoísmo do desejo é
transformado. Há uma anulação (parcial) da propriedade privada em prol da unidade
familiar. Porém, ao sair da família e entrar na sociedade civil, volta-se a um mundo do
egoísmo e individualização. A base natural da solidariedade não serve mais.
Na sociedade civil, a solidariedade entre, primeiro, como mitigação da rigidez da lei.
Ao mesmo tempo que o crime passa a ser visto como um crime contra toda a
sociedade (PR, §218), a sociedade civil também permite a mitigação da punição, ou
seja, há uma solidariedade, ainda não que não expressa, com aquele que cometeu o
crime. O segundo lugar onde a solidariedade entra é na discussão sobre pobreza.
Hegel afirma que o bem-estar deve ser posto como um direito (§229R), exigindo uma
ação institucional, principalmente através da corporação. O direito de necessidade,
direito da vida, é transformado em uma espécie de solidariedade social. A
solidariedade se torna algo informal. – 370 – É sobretudo uma forma de coesão
social, considerando a desconfiança de Hegel em relação à caridade individual.
Há uma diferença entre os dois momentos. No primeiro, a moralidade é um critério
para analisar a lei (moralidade sob a lei). No segundo, a moralidade é colocada como
lei (moralidade sobre a lei). No Estado, a solidariedade assume, em tempos de paz, a
forma da taxação, dos impostos, que, em parte, é revertida às corporações – a
solidariedade em relação à pobreza é ativada através da mediação entre taxação e
corporação. Essa não é uma solução completa, mas uma mitigação, pois a pobreza é
consequência da propriedade privada e esse permanece como direito abstrato.
No caso da guerra, a solidariedade atinge sua forma mais completa. Não é apenas a
possibilidade de sacrificar a propriedade privada, mas a própria vida. O que está em
jogo não é a vida de um ou muitos indivíduos, mas a vida do Estado, enquanto
individualidade, a vida de todos. - 371

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