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TÍTULO
LIGAS CAMPONESAS, PCB E IGREJA CATÓLICA: OS DIVERSOS
ÂNGULOS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA NAS DÉCADAS DE 1950
E 1960
RESUMO
O trabalho aponta a atuação de algumas das principais forças políticas e sociais
que se propunham a falar em nome dos trabalhadores rurais nas décadas de 1950
e 1960. Durante toda a década de 1950 até 1964 houve no Brasil um processo
intenso de difusão de organizações, sindicados, associações e entidades de
trabalhadores rurais que tinham na luta pela reforma agrária o seu principal
vinculo. Algumas dessas organizações de trabalhadores rurais ganharam grande
notoriedade nacional, como, por exemplo, a SAPPP (Sociedade Agrícola e
Pecuária dos Plantadores de Pernambuco), chamada pela imprensa nacional de
“Liga”. As ligas como ficaram conhecidas, se espalharam pelo Nordeste e
acabaram se convertendo em um dos principais símbolos na luta pela reforma
agrária no Brasil. Neste mesmo período tivemos a importante participação da
Igreja Católica e do PCB (Partido Comunista Brasileiro) na articulação dos
principais movimentos de trabalhadores rurais, bem como, participando
ativamente do debate político sobre a questão agrária no Brasil. Este artigo se
propõe a analisar a questão agrária Brasileira a partir das lutas políticas e sociais
que se engendram a partir da luta pela terra, analisando as ações que foram
articuladas entre o PCB, a Igreja Católica e os principais movimentos de
trabalhadores rurais, no período que tem início em 1945 com o fim do Estado
Novo e vai até o golpe militar de 1964.
Introdução
Bauer (1998) afirma que o conceito de “questão agrária” está vinculado aos
debates desenvolvidos no interior do movimento operário europeu entre o final do
século XIX e começo do século XX,
1
Bacharel em Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial e Mestre em Desenvolvimento Rural
pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
operário com o campesinato, na luta para derrubar as estruturas feudais
prevalecentes no meio rural (Bauer, p. 136, 1998).
2
Região localizada em Goiás, onde em meados da década de 1950, posseiros ameaçados por
grileiros resistiram ao despejo, já em 1957 a região estava toda “sob controle dos posseiros que
impediam a entrada de jagunços, dos grileiros e da polícia na área” (Medeiros, 1989, p.38).
relação à concepção dos problemas enfrentados pela região, vistos até então
como reflexos de secas e fatores naturais. No congresso de Salvação do Nordeste
em 1955, onde nesse evento reunidos intelectuais como Celso Furtado, Ignácio
Rangel, políticos e representantes da indústria abordaram a problemática da
miséria da região como “decorrente de uma estrutura altamente concentradora de
riquezas e incluía a reinvidicação da reforma agrária” (Medeiros, 1989, p. 47).
As Ligas Camponesas foram um marco importante na constituição de
organizações de trabalhadores rurais na década de 1950 e suas ações tiveram
grande repercussão nacional, tornando-se símbolos da luta pela reforma agrária
no Brasil. Além das Ligas Camponesas que se difundiram principalmente pelo
nordeste, durante toda a década de 1950, houve um processo intenso de difusão
de organizações, sindicados, associações e entidades de trabalhadores rurais que
tinham na luta pela reforma agrária o seu principal vinculo. Também é importante
ressaltar que é nesse período onde se registram vários encontros de
trabalhadores rurais.
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Segundo Martins (1986) o termo “camponês” foi introduzido no Brasil pelas esquerdas que,
procuraram dar conta das lutas dos trabalhadores rurais que eclodiram em vários lugares do Brasil
nos anos cinqüenta.
frente única, que reunisse todas as forças interessadas no combate ao
imperialismo norte-americano” (Medeiros, 1989, p. 53). Para o PCB haveria uma
“contradição entre as forças produtivas em desenvolvimento e as relações de
produção semifeudais na agricultura que, por sua vez, tinham por base setores
latifundiários também com interesses ligados ao imperialismo” (Medeiros, 1989, p.
53). Com base nessa concepção o partido propunha uma revolução democrático-
burguesa que impunha a eliminação dos “restos feudais”, e onde a reforma agrária
aparecia como tema central.
Conforme relata Medeiros (1995, p. 75), com base em estudo realizado por
Faleiros (1989), já em 1945 o partido falava da necessidade de
Martins (1989) revela que a Igreja Católica não estava preparada para
enfrentar as crises sociais e políticas que ocorreram nos anos 50 com o advento
da industrialização e o seu reflexo a partir do crescente êxodo rural e das
migrações para as grandes cidades. Segundo Martins (1989, p. 35) os migrantes,
libertados da antiga relação de dependência da chamada patronagem, “ao
chegarem às cidades tornavam-se alvos fáceis do proselitismo religioso”. Martins
(1989) assinala que as mudanças eram lamentadas pela Igreja Católica que
durante um dado momento se manteve claramente comprometida com uma
tradição conservadora. Segundo o autor nesse momento a Igreja Católica falava
“com a boca do patrão” e relacionava este tipo de relação à ordem. Com o
aperfeiçoamento das análises dos problemas do campo pela Igreja Católica
modificam-se as suas posições e “ficará cada vez mais claro que o patrão-
proprietário está ligado a um passado econômico e político do qual a Igreja se
afasta” (Martins, 1989, p. 36).
Segundo Martins (1989) a inflexão de posicionamentos da Igreja Católica
ocorre em 1956 através da Declaração dos Bispos do Nordeste. Neste documento
a Igreja Católica adota a noção de desenvolvimento como idéia central. Assim
como analisam Tedesco e Carini (2007, p. 19), a Igreja Católica exerceu a partir
da noção de desenvolvimento idéias
Considerações finais
Este trabalho procurou mostrar como se configuraram as visões e ações de
algumas das principais forças políticas e sociais que propunham a lutar pelos
interesses dos trabalhadores rurais brasileiros entre as décadas de 1950 e 1960.
Dando destaque especial a atuação das Ligas Camponesas, do PCB e da Igreja
Católica na conformação da luta pela reforma agrária.
Como pudemos observar havia uma certa unanimidade entre intelectuais e
forças políticas que observavam no meio rural brasileiro um setor em atraso, com
uma estrutura fundiária arcaica e, portanto como um obstáculo ao processo de
industrialização do país. O descompasso existente entre indústria e agricultura
colocava em xeque o modelo de produção baseado na grande propriedade
latifundiária. Foi nesse contexto que tanto as Ligas, o PCB e a Igreja Católica se
colocaram à frente da luta pela reforma agrária, mas como vimos as suas visões e
concepções sobre o caminho a ser seguido eram muito diferentes.
Com o golpe militar de 13 de março de 1964, o debate sobre a reforma
agrária acabou perdendo força a partir do fechamento de partidos políticos,
sindicatos e associações de trabalhadores rurais, bem como, de prisões,
perseguições, torturas e assassinatos impostos pelo Governo Militar aos líderes
dos principais movimentos de trabalhadores rurais do país que se propunham a
lutar pela reforma agrária. Já no final de 1964 o governo do Presidente Castelo
Branco cria o Estatuto da Terra, tendo como metas básicas à reforma agrária e a
modernização da agricultura. Mas a reforma agrária acabou ficando apenas no
papel, enquanto a segunda opção foi a que teve mais atenção por parte do
Governo Militar.
REFERÊNCIAS
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ediplat, 2003.
MARINI, Ruy Mauro. Crítica a revolução brasileira, de Caio Prado Júnior – 1967.
In: STEDILE, João Pedro (Org.). A questão agrária no Brasil: o debate na
esquerda – 1960 –1980. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
TEDESCO, João Carlo; CARINI, Joel João. Conflitos agrários no Norte Gaúcho
1960-1980: o master, indígenas e camponeses. Porto Alegre: EST, 2007.