Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Livro 08 SOBRE ATUALIDADES DO DIREITO 8 Coletânea de Ensaios e Artigos
Livro 08 SOBRE ATUALIDADES DO DIREITO 8 Coletânea de Ensaios e Artigos
MARIANA
(COORDENADORA)
SOBRE ATUALIDADES DO
DIREITO
8ª Coletânea de ensaios e artigos
1ª Edição
MARIANA,
FUPAC-MARIANA
2020
FICHA CATALOGRÁFICA
ISBN: 978-65-88017-00-5
Coletânea de textos do 8º Concurso de Ensaios e de Artigos Acadêmicos
da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Mariana.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 17
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................... 34
MORAIS. ................................................................................................................................................................ 55
ENTREVISTA COM OS ALUNOS DO SÉTIMO PERÍODO, QUE ESTÃO INICIANDO SEU CONTATO COM O NÚCLEO
CONVENIADOS. ..................................................................................................................................................... 58
ENTREVISTAS COM ALUNOS QUE FAZEM ESTÁGIO EM INSTITUIÇÕES CONVENIADAS E NO NPJ. .................. 60
MG ......................................................................................................................................................................... 62
CONCLUSÃO .......................................................................................................................................................... 65
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................... 67
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 70
............................................................................................................................................................................. 142
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SUAS MODIFICAÇÕES, DE ACORDO COM EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE: ........... 223
BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A RESOLUÇÃO 2.232/19 DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA ................. 248
............................................................................................................................................................................. 382
ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS BIOPOLÍTICAS NO DECRETO 7053 DE 2009 COM BASE NAS
IMPACTOS DA PSICANÁLISE NOS CASOS QUE ENVOLVEM A ALIENAÇÃO PARENTAL ..................................... 410
RESUMO
INTRODUÇÃO
1 E-mail: claudineis_macielsilva@yahoo.com.br
17
dispositivo que tratava de tal assunto. A reforma trabalhista suprimiu esta
lacuna, porém algumas das alterações trazidas por tal legislação estão sendo
objeto de discussão pela doutrina.
A reparação por danos morais é um direito já consolidado na
Constituição de 1988 e possui um caráter compensatório, objetivando
minimizar a dor e sofrimento do ofendido, também, possui um caráter
punitivo, que visa inibir uma nova prática da ofensa. Porém, a legislação não
trazia parâmetros para determinar o valor que deveria ser pago ao ofendido,
devendo os magistrados delimitar a matéria após comprovada à existência do
dano. Neste contexto, a reforma trabalhista incluiu um título próprio
referente ao dano extrapatrimonial e fixou critérios objetivos para estabelecer
as indenizações.
O propósito deste trabalho é avaliar a constitucionalidade desse
tabelamento do valor do dano moral em caso de indenização por acidente de
trabalho introduzido na CLT, a partir da análise do art. 223-G, que restringe
tal indenização conforme a natureza da ofensa e o salário do empregado.
Esse tabelamento possui caráter discriminatório. Cabe ressaltar que o
Supremo Tribunal Federal já se posicionou a respeito, ao julgar o ADPF nº.
130, considerando o tabelamento das indenizações nos crimes de Imprensa,
similar a esse inserido na CLT, incompatível com os preceitos da Constituição.
A metodologia utilizada neste artigo foi à pesquisa bibliográfica,
doutrinária e a pesquisa documental. A primeira baseou-se na análise de
livros e artigos sobre o tema. A fonte documental se restringiu na análise
jurisprudencial e as legislações sobre o tema. A pesquisa enquadra-se na
categoria geral de pesquisa teórica, quanto à finalidade encaixa-se na
categoria específica de pesquisa aplicada. O procedimento empregado foi o
estudo bibliográfico e documental. A abordagem utilizada foi à qualitativa e o
método foi o dedutivo.
18
Neste sentido, para realizar uma análise sobre o artigo 223-G da CLT,
este trabalho, primeiramente, abordará o instituto da responsabilidade civil,
em sequência, a aplicação da norma que prevê a reparação dos danos
extrapatrimoniais no direito do trabalho, e por fim, examinará a limitação à
aplicação do dano moral com base nos princípios constitucionais.
19
Neste sentido, o art. 186, do Código Civil, dispõe: “aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Há duas principais correntes relacionadas à responsabilidade civil, a
saber: a responsabilidade civil subjetiva e a responsabilidade civil objetiva.
A responsabilidade subjetiva é a regra geral, fundamenta-se no dolo
ou culpa, isto é, imprudência, negligência e imperícia. Conforme essa teoria
haverá indenização se a conduta ilícita praticada de forma culposa ou dolosa,
devido à ação ou omissão, resultar em violação de direitos, gerando danos a
outrem.
Quanto a responsabilidade objetiva fundamenta-se na tese de que a
responsabilidade civil deve proteger, também, da atividade perigosa. Assim,
se uma pessoa pratica uma atividade que desencadeia riscos, deve responder
pelos danos que essa atividade gera aos demais.
Atualmente, por exemplo, o entendimento doutrinário e
jurisprudencial considera como caso de responsabilidade objetiva a
responsabilidade do empregador com seus empregados, em caso de atividade
que geram riscos à saúde do trabalhador. À vista disto é desnecessário
questionar a culpa, sendo o dever de reparação imediato.
Consideremos o seguinte entendimento da 7ª Turma do Tribunal
Superior do Trabalho:
20
(...) 4. Contudo, tem a jurisprudência majoritária
desta Corte se direcionado no sentido de considerar
que a teoria do risco criado tem aplicabilidade nas
situações em que a atividade desenvolvida pelo
empregador venha a causar ao trabalhador um risco
mais acentuado do que aos demais membros da
coletividade, como é o caso do serviço de vigilância.
5. Aos que objetam cuidar-se de preceito inaplicável
à esfera das relações laborais, ante as condições
contidas no art. 7º, XXVII, da CF, sustenta-se que a
leitura restritiva do texto constitucional contrariaria
o próprio espírito da Carta, relativamente aos
direitos fundamentais do trabalho, no que
estabelece apenas um núcleo de garantias essenciais
que, por sua própria natureza, não pode excluir
outros direitos que venham a ser reconhecidos no
plano da legislação infraconstitucional doméstica
(art. 7º, -caput-, da CF) ou mesmo no direito
internacional (art. 5º, § 3º, da CF), consoante o
entendimento adotado em diversos precedentes do
TST e dos quais guardo reserva, exatamente por
inovarem na ordem jurídica. 6. Na hipótese dos
autos, a Empregadora é empresa que atua na área de
perfuração de poços de petróleo e o Empregado
sofreu fraturas generalizadas no corpo ao ser
arremessado em decorrência de explosão havida por
concentração anômala de gás natural na área de
trabalhos, o que revela a existência do pressuposto
indicado no parágrafo único do art. 927 do CC,
atraindo a responsabilização objetiva. 7. Por
conseguinte, à luz da teoria do risco criado, as
indenizações por danos morais e materiais
decorrentes de acidente sofrido pelo Empregado,
em seu labor em prol da Reclamada e em situação de
risco, impõe-se, independentemente de culpa das
Reclamadas, razão pela qual o acórdão regional
merece ser mantido, com o reconhecimento das
indenizações pleiteadas. Agravo de instrumento
desprovido. (AGRAVO DE INSTRUMENTO EM
RECURSO DE REVISTA N. 10700-
70.2007.5.19.0055, ACÓRDÃO PUBLICADO EM
19.12.2012, RELATOR O MINISTRO IVES
21
GANDRA MARTINS FILHO, 7ª TURMA DO
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO).
22
“a ofensa injusta a todo e qualquer atributo da
pessoa física como indivíduo integrado à sociedade
ou que cerceie sua liberdade, fira sua imagem ou sua
intimidade, bem como a ofensa à imagem e à
reputação da pessoa jurídica, em ambos os casos,
desde que a ofensa não apresente quaisquer reflexos
de ordem patrimonial ao ofendido” (LEVADA,
1995, p. 23-24).
23
Assim, na esfera trabalhista o fato gerador do dano moral é vinculado
com a atividade exercida pelo empregado, devendo existir um vínculo jurídico
entre empregado e empregador (ainda que não haja um contrato escrito) para
o fato ser julgado pela justiça do trabalho (FILHO, 2017).
Havendo danos morais na relação de emprego, o empregado ou
empregador pode pleitear judicialmente a reparação destes danos. Assim, nas
relações empregatícias a Justiça do Trabalho é competente para julgar as
ações envolvendo os danos morais.De acordo com o Art. 114, VI, da
Constituição Federal:
24
trabalho e doenças profissionais, o empregador está sujeito à
responsabilização civil, com previsão de reparação no âmbito trabalhista.
O empregador, por propor atividades que podem oferecer riscos em
sua execução e contratar trabalhadores para executar estas atividades obtendo
lucro, deve assumir o risco do negócio e dos danos sofridos. Há também o
entendimento pela aplicação da teoria da responsabilidade subjetiva. Nesse
caso, somente com a comprovação de dolo ou culpa, é que lhe seria imputado
à responsabilidade pelo acidente e, o dever de indenizar.
A Constituição Federal, no seu artigo 7º, inciso XXVIII, dispõe que é
direito dos trabalhadores o seguro contra acidentes do trabalho, que deve ser
pago pelo empregador. Também, há casos de culpa do empregado em
acidente de trabalho, por exemplo, devido à falta de cuidado no manuseio do
equipamento, o que afasta a responsabilidade do empregador. Neste sentido,
é o de entendimento jurisprudencial:
29
O Ministério Público Federal na ADI 5870/DF, também, se
posicionou pela inconstitucionalidade do artigo 223-G §1º e incisos I, II, III e
IV da CLT (MPF, p.35, 2018):
30
OS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA, REPARAÇÃO INTEGRAL E DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O ARTIGO 223-G DA CLT
32
reais) e faleceu nas mesmas condições do outro, sua família poderá receber,
até a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). Essa forma transmite a
mensagem que uma vida tem mais valor que a outra, conforme sua posição
financeira.
Assim, a legislação, também, ignora o princípio da isonomia e da
dignidade da pessoa humana, já que trabalhadores que venham a sofrer o
mesmo dano moral recebem indenizações diferentes de acordo com o salário
contratual de cada um. Observa-se que, quanto maior o salário do
trabalhador, mais valor tem a sua dignidade, de acordo com a reforma.
A dignidade da pessoa humana é um dos princípios do Estado
Democrático de Direito, e a valorização do trabalho é um dos objetivos
fundamentais da República (FACHIN, 2019). Se a valorização do trabalho é
um dos fundamentos da ordem econômica e da ordem social, uma lei
ordinária não pode introduzir no ordenamento uma norma restritiva de
direitos para esses trabalhadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DINIZ, M.H. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil.
26. ed. São Paulo: Saraiva, vol. 1, 2009.
35
A IMPORTÂNCIA ACADÊMICA E A FUNÇÃO SOCIAL DO NÚCLEO
DE PRÁTICA JURÍDICA DA FACULDADE PRESIDENTE ANTÔNIO
CARLOS DE MARIANA-MG1
RESUMO:
INTRODUÇÃO
37
estágio; os alunos do 9º (nono) período, subdivididos em dois grupos: alunos
que fazem estágio exclusivamente no NPJ e alunos que realizam estágio em
escritórios conveniados; alunos egressos; professores das disciplinas de
prática jurídica simulada; coordenador do curso de Direito e do Núcleo de
Prática Jurídica da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Mariana (FUPAC-
Mariana), além de pessoas que são/foram assistidas pelo NPJ-FUPAC.
Por fim, a presente pesquisa propôs a utilização deste trabalho,
como uma forma de melhoria e aprimoramento no desenvolvimento de
habilidades voltadas para prática do direito e para o atendimento das pessoas
que necessitam do efetivo acesso à justiça.
38
De acordo com a grade curricular, é no sétimo período que os alunos
vivenciam o auge dos estudos acadêmicos, além de ser neste período também
o início da contagem das horas de estágio obrigatórias na faculdade, em
escritórios e demais repartições.
Nesse momento, o NPJ torna-se crucial para a formação acadêmica, a
partir daí as atenções devem se voltar para proporcionar aos discentes uma
ampliação da vivência prática como forma de proporcionar a ele a
possibilidade de escolha sobre quais caminhos seguir após a conclusão do
curso.
Ademais, além do aprimoramento profissional, o NPJ é de fundamental
importância na preparação dos alunos para o Exame da Ordem dos
Advogados do Brasil (obrigatório aos profissionais da advocacia) e para
concursos públicos.
Com efeito, é no NPJ que são observadas as dificuldades dos alunos em
aplicar a teoria à realidade prática. Dessa forma, este setor possui grande
relevância pedagógica, oportunizando aos alunos orientações específicas aos
anseios e dificuldades de cada um.
De mais a mais, outra grande importância que os NPJs possuem, para
além do aprimoramento acadêmico, é a função social, ou seja, é o benefício
trazido para a população, em especial a parcela hipossuficiente da sociedade,
na medida em que se coloca à disposição desse grupo para auxiliá-los no
acesso à justiça, direito constitucionalmente aclamado, que por vezes
encontra-se abandonado pelo Estado, ante a ausência de órgão de Defensorias
Públicas, ou, quando estas existem, encontram-se sobrecarregadas com a
quantidade de demandas existentes.
Desta feita, os NPJs vêm para somar com os referidos órgãos, ajudando
a suprir a carência de representatividade jurídica que determinado público
possui.
39
Nesse ínterim, a Lei 13.105/2015 – Código de Processo Civil deixou de
forma expressa a possibilidade de convênio entre as Defensorias Públicas e os
NPJs. In verbis:
6 Artigo jurídico: A Defensoria Pública como Meio de Acesso do Cidadão a Justiça, disponível
em : https://www.anadep.org.br/wtksite/cms/conteudo/84/mono.pdf. Acesso: 13/06/2018.
7 Informação fornecida pelo site G1, Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2017/11/no-brasil-445-milhoes-ganham-menos-de-um-salario-minimo.html
. Acesso: 13/06/2018.
8 Informação fornecida por Site IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Disponível
em: http://www.ipea.gov.br/sites/mapadefensoria
44
defensores atuantes no Brasil para servir todo o território nacional. Desta
feita, é possível concluir em breve análise dos dados citados que não há
defensores suficientes para suprir a demanda existente.
Seguindo esse raciocínio, é possível também concluir que se não há
defensores públicos suficientes para suprir a representatividade processual da
parcela hipossuficiente da população, logo, o acesso à justiça de forma
igualitária fica prejudicado, somando a violação de dois institutos
constitucionais.
Observe o seguinte cenário: João possui condições econômicas de
contratar um advogado particular para propor uma demanda qualquer,
procurando um profissional que atenda seus anseios dentro de suas
possibilidades econômicas, ele será rapidamente atendido, sem ter que
esperar agendamentos, vagas ou qualquer outra condição imposta por órgão
público, dependendo única e exclusivamente de sua vontade/necessidade e a
óbvia condição de pagamento do serviço prestado que se encaixe dentro de
seu orçamento. Já Maria, pessoa pobre, não tem condições nenhuma de arcar
com as custas processuais, nem mesmo de contratar advogado particular,
dependendo que o Estado disponibilize em seu município um Defensor
Público para representá-la em sua demanda e assim obter a efetiva atuação do
Poder Judiciário.
São duas realidades totalmente antagônicas. Fato é que, sem o devido
acesso à justiça, nenhum dos outros direitos podem ser concretizados,
conforme exposto pelos autores Barbosa, Soares e Souto (2015)9, é assustador
45
que o não cumprimento a um único preceito legal gere uma silenciosa violação
em série de prerrogativas constitucionais.
O Poder Judiciário exerce suas funções a partir da iniciativa da parte,
ou seja, ele se mantém inerte até que alguém o provoque, pelos dados
supracitados são perceptíveis as milhares de pessoas que deixam de fazer valer
seus direitos e garantias por falta de Defensorias Públicas. O Código de
Processo Civil determina em seu art. 2º, que “o processo começa por iniciativa
da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em
lei”. (Brasil, Código de Processo Civil, 2015).
É neste momento que os NPJs se mostram indispensáveis ao
cumprimento da lei, pois agem como reforços, procurando suprir a enorme
desproporção que existe entre a quantidade de Defensorias Públicasversus a
quantidade de demandas a serem ajuizadas em prol dos hipossuficientes,
dando guarida aos princípios de igualdade no acesso à justiça.
Outro importante papel dos NPJs é a possibilidade de, em
determinados casos, realizar a autocomposição buscando resolver os conflitos
por meio da mediação e conciliação, reduzindo a termo os acordos, auxiliando
no desafogamento do Poder Judiciário e evitando a judicialização de
demandas desnecessárias, poupando recursos, tempo dos litigantes e
acarretando, consequentemente, a celeridade processual, Fredie Didier
(2015, p. 180), esclarece que:
46
O legislador procurou de todas as formas incentivar a autocomposição,
sendo assim, definiu que a mediação e conciliação fossem pré-requisitos para
o ajuizamento de ações e que ambas as partes deveriam se manifestar
contrárias a realização da audiência para que esta fosse cancelada. (DIDIER,
2015, p. 556):
47
a)institui a Política Pública de tratamento adequado
dos conflitos de interesses (art. 1 °); b) define o
papel do Conselho Nacional de justiça como
organizador desta política pública no âmbito do
Poder judiciário (art. 4º); c) impõe a criação, pelos
tribunais, dos centros de solução de conflitos e
cidadania (art. 7º); d) regulamenta a atuação do
mediador e do conciliador (art. 1 2), inclusive
criando o seu Código de Ética (anexo da Resolução);
e) imputa aos tribunais o dever de criar, manter e
dar publicidade ao banco de estatísticas de seus
centros de solução de conflitos e cidadania (art. 1
3); f) define o currículo mínimo para o curso de
capacitação dos mediadores e conciliadores.
48
competente a execução de título extrajudicial com o objetivo de fazer cumprir
o que já foi acordado. (OLIVEIRA E MORAIS, 2015)11
Portanto, cabe aos NPJs propiciar em suas instituições o incentivo a
solução pacífica dos conflitos, introduzindo em sua grade curricular
treinamento adequado para a conciliação e mediação dos alunos e dos
professores e coordenadores do curso, conforme definida na Resolução nº
125/2010:
52
Para fins de melhor didática deste trabalho foram realizadas entrevistas
com alunos, coordenadores e professores, sendo separados em grupos da
seguinte forma:
1. Entrevista com o coordenador do curso de Direito da
Faculdade Presidente Antônio Carlos, Bruno Martins.
2. Entrevista com o coordenador do Núcleo de Prática
Jurídica da FUPAC Mariana, Cleberson Ferreira de Morais.
3. Entrevista com os professores Michelle Aparecida e
Carlos Rangel, responsáveis pelas aulas do Núcleo de Prática
Jurídica simulada.
4. Entrevista com os alunos do sétimo período, que
estão iniciando suas atividades no Núcleo de Prática Jurídica.
5. Entrevista com os alunos do nono período, divididos
em: alunos que fazem estágio exclusivamente no NPJ e alunos que
fazem estágio em outros escritórios ou repartições externas.
6. Entrevista com os alunos egressos.
As entrevistas com os participantes supramencionados foram realizadas
após a assinatura de autorização por escrito, conforme termo de
consentimento livre e esclarecido, onde foi cientificada sobre os objetivos da
pesquisa e em seguida coletada a respectiva assinatura.
53
Cada entrevistado respondeu às perguntas de acordo com a sua atuação
dentro da faculdade, todas as perguntas foram respondidas em forma de
questionário, no qual o entrevistado teve a oportunidade de, com suas
próprias palavras, responder as questões sem que houvesse qualquer
interferência de interpretação de terceiros.
54
ENTREVISTA COM O COORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA
JURÍDICA, CLEBERSON FERREIRA DE MORAIS.
55
Para a professora Michelle Aparecida, o NPJ-FUPAC proporciona a
aplicação dos conhecimentos adquiridos no decorrer do curso e é a
oportunidade que os alunos possuem de desenvolver o raciocínio técnico-
jurídico, além da resolução de problemáticas de forma crítica e juridicamente
fundamentadas.
Quanto às dificuldades enfrentadas pelos alunos, a professora Michelle
destaca a dificuldade de serem retomados conceitos e bases iniciais do curso.
Já o desafio, em sua opinião, é a pouca disponibilidade dos alunos em
participar da prática forense como ir a audiências, assistir júris e outras
atividades fora do meio acadêmico.
Como sugestão, visando o aperfeiçoamento do ensino, a professora
Michelle, sugere a interdisciplinaridade das disciplinas de NPJ simulado e
prática e relembra um dos trabalhos onde envolveu ambas as disciplinas, em
uma audiência simulada realizada em sala com todas as etapas de um processo
real, no qual os alunos elaboraram a petição inicial e contestação, realizaram
audiência de instrução e julgamento e sentença. Sendo o resultado dessa
experiência muito proveitoso para o desenvolvimento do conhecimento dos
alunos participantes, além de desperta o interesse destes.
O professor Carlos entende que é impossível haver a dissociação entre a
teoria e a prática forense e no dia-a-dia do profissional não é possível a
concepção do direito sem a ação e vice-versa. Com relação aos obstáculos,
percebe que os alunos possuem dificuldade para associar o conhecimento
adquirido durante o curso e aplicá-lo no caso concreto. Como sugestão,
propôs a realização de mais estudos de casos e avaliação da evolução dos casos
simulados e reais.
Fato é que, as atividades que envolvem simulações de audiências e
processos, despertam o interesse dos alunos, nas entrevistas realizadas, tendo
ocorrido várias sugestões para realização de mais atividades como estas, até
56
porque há uma grande diferença em fazer uma peça prática e defender a sua
tese em uma audiência. Sendo assim, exercícios como esses ajudam os alunos
a desenvolver habilidades como a oratória, a associação rápida do que está
sendo mencionado na audiência com o conteúdo estudado em sala, além do
momento certo em que devem ser alegadas as impugnações.
Imperioso destacar que após as entrevistas com os professores,
consegue-se subtrair que todos entendem a necessidade do elo entre as
disciplinas de NPJ simulado e a prática real, com o intuito de agregar mais
valor à formação e despertar maior interesse nos alunos nas atividades
acadêmicas.
59
a falta de diversidade nas ações ajuizadas no NPJ. Como sugestão, descreve
que seria ideal a participação dos alunos em audiências reais.
O terceiro entrevistado relata a importância do NPJ-FUPAC ao colocar
em prática todo o conteúdo assimilado durante o curso. Quanto às
dificuldades, cita a falta de padronização das atividades ofertadas pelo NPJ-
FUPAC e as aulas que são ministradas, que deveria haver uma convergência
nas atividades do NPJ com as matérias vistas pelos alunos em adequação ao
período estudado. Sugere a conciliação entre os conteúdos das aulas teóricas
com as atividades exigidas no NPJ.
Das entrevistas acima realizadas, pode-se destacar a sugestão quanto à
adaptação das atividades realizadas no NPJ-FUPAC com as matérias vistas em
cada período, para melhor aproveitamento acadêmico, maior variedade de
demandas para que seja possível abranger mais conhecimento e experiência
em outras áreas do direito, além da participação em audiências.
60
adicionado a peça processual. Sugere ainda que os alunos que realizam o
estágio em conveniadas tenham mais oportunidades para lidar com os
processos.
Relata o segundo entrevistado que, por meio do NPJ-FUPAC, possui a
oportunidade de ter contato pessoal com os advogados e professores
permitindo tirar dúvidas no momento de realizar a atuação prática da
atividade. Como dificuldade descreve a falta de assiduidade, em razão dos
prazos e que por vezes a produção da peça é iniciada, mas não é possível a sua
conclusão. Como sugestão, entende que o aluno deveria ter o compromisso de
iniciar e terminar o atendimento ou produção de uma peça de determinado
processo.
O terceiro entrevistado da ênfase na importância que o NPJ possui para
aqueles que não têm condições de realizar estágio em razão do trabalho ou de
algum impedimento e que, através deste espaço, os alunos não perdem a
oportunidade de ter contato com a prática jurídica. Como dificuldade entende
que, por muitas vezes, as pessoas procuram o auxílio do NPJ-FUPAC para
ajuizar alguma ação, porém, não conseguem se expressar de forma clara e
concisa o caso, atrapalhando o raciocínio e o desenvolvimento do
atendimento. Sugere como aprimoramento, o aumento da carga horária
mínima exigida para os alunos que fazem estágio exclusivamente no NPJ.
O quarto entrevistado destaca a possibilidade que os alunos possuem de
acompanhar todos os trâmites processuais de forma didática. Como
dificuldade relata que em razão da pequena quantidade de profissionais no
NPJ o acompanhamento pessoal de cada aluno fica prejudicado. Sugere que
seja direcionado mais um profissional para o NPJ para que haja um
aperfeiçoamento na avaliação individual dos alunos.
Isto posto, destaca-se o reconhecimento social que o NPJ-FUPAC
exerce, além de incentivar os alunos a olhar com mais cuidado, dignidade e
61
generosidade para a população carente da comunidade. Quanto à parte
acadêmica, faz jus à sugestão de mais um profissional para que os alunos
possam ser acompanhados de forma mais individualizada na fase final do
curso.
62
interdisciplinaridade do NPJ e a possibilidade de audiências, júris simulados
somadas à elaboração de peças processuais.
Por fim, o quarto entrevistado entende que o NPJ foi um divisor de
águas em sua formação, que mesmo após a conclusão do curso, este recorre às
técnicas e métodos de elaboração de peças ensinados no NPJ, enfatiza o fato
de ter adquirido coragem e garra para contribuir com eficiência e celeridade o
desempenho processual que a profissão exige. Quanto às dificuldades cita
falta de oportunidade em acompanhar as audiências, o que relata ter gerado
receio com a presença do magistrado. Sugere que o NPJ-FUPAC e a faculdade
continuem investindo tanto no aprendizado dos alunos quanto no
acolhimento das pessoas que realmente necessitam de ajuda jurídica.
Para os alunos egressos, o NPJ-FUPAC se mostrou extremamente
importante para a sua formação acadêmica, tendo reflexos até hoje em suas
carreiras profissionais, de todo modo, cabe ressaltar a sugestão da ampliação
de sua atuação para que possa abranger outras searas jurídicas, além da cível,
possibilitando aos alunos adquirir mais experiência e prática em outras áreas
do Direito.
Em síntese, as entrevistas relacionadas ao conceito acadêmico do NPJ
foram importantes para que, com novos olhares, se possa determinar os
aspectos positivos que precisam ser mantidos e os aspectos que precisam ser
aprimorados. Todos os entrevistados foram unânimes em determinar que o
NPJ-FUPAC possui papel fundamental na formação dos discentes e que este
espaço salvaguarda os direitos constitucionais da população marianense.
Com relação às dificuldades explanadas nas entrevistas, pode-se notar a
falta de maior estrutura para acolher todos os alunos, o que demandaria a
necessidade de maior investimento na contratação de pessoal específico para
o NPJ. Além disso, foram feitas outras sugestões, como: a junção do NPJ
simulado com os casos reais, um espaço específico dedicado a realização de
63
audiências simuladas somadas as produções de peças, além de um maior
desenvolvimento de atividades voltadas para áreas jurídicas diversas da seara
cível.
64
Por meio das entrevistas realizadas, pode-se perceber que a informação
da prestação de serviços do NPJ é feita através do “boca a boca”, ou seja,
pessoas que anteriormente tiveram ações realizadas indicam a outras pessoas
e assim por diante, por esta razão enfatizo que todos os assistidos
recomendam os serviços do NPJ.
Esse contato pessoal com os assistidos pelo NPJ é muito importante
para medir a qualidade da prestação dos atendimentos e também o ensino
ofertado, pois alunos bem preparados para realizar o atendimento e a
produção das peças atestam que a faculdade investe na preparação de futuros
profissionais, respeitando as peculiaridades de cada pessoa e caso concreto,
inclusive, em relação ao perfil de grande parte das pessoas atendidas, as quais
possuem pouco estudo formal, algumas não sabem ou sabem pouco ler e
escrever, necessitando por parte do alunos e profissionais, respeito e empatia
no trato e condução do caso.
Através dessas entrevistas, entende-se que o papel do NPJ vai além do
cumprimento de uma formalidade da grade curricular acadêmica, sendo
determinante na formação profissional, pessoal e social do acadêmico, futuro
profissional do Direito, capacitando-os para enfrentar os desafios da carreira
e como se relacionará com as pessoas e seus problemas cotidianos,
colaborando assim para a transformação em um melhor cidadão.
CONCLUSÃO
65
Isto posto, foram também explorados os conceito e finalidades do NPJ,
tendo guarida no próprio Código de Processo Civil, em seu art. 186, § 3o, bem
como a ineficácia dos princípios da igualdade e do acesso à justiça, haja vista
que o Estado não supre a grande demanda de pessoas que necessitam de
representatividade jurídica, em razão da falta de defensorias públicas.
Ademais, demonstrou-se como os NPJs vêm para somar, exercer e
oferecer à população hipossuficiente o pleno exercício dos direitos
constitucionais, principalmente no tocante ao acesso à justiça e a dignidade da
pessoa humana, haja vista que o cidadão sem o devido acesso à justiça, terá,
por via de consequência, o cerceamento de outros tantos direitos
constitucionalmente garantidos.
Em seguida, foram examinados os dados do NPJ-FUPAC, nos quais
observou-se que as principais ações ajuizadas pelo núcleo são: ações de
divórcio, alimentos, execuções de alimentos e investigação de paternidade.
Noutro giro, foram realizadas entrevistas com os professores Michele
Aparecida e Carlos Rangel responsáveis pelas disciplinas de NPJ simulados;
com os alunos do 7º e 9º período e egressos; com o coordenador do curso de
Direito Bruno Martins e o coordenador do NPJ-FUPAC, professor Cleberson
Morais e com pessoas hipossuficientes assistidas pelo NPJ.
Todos os entrevistados de forma unânime reconhecem a importância
que o NPJ possui dentro da comunidade e como formação dos novos
profissionais. Das sugestões destaca-se as mais recorrentes que são as
seguintes: mais atividades voltadas para a simulação de audiências, mais
visitas técnicas, ampliação da abrangência do NPJ em outras áreas diversas da
cível, a junção do NPJ prático com o NPJ simulado para que ambas possam
acrescentar uma a outra e o aumento de profissionais no NPJ, permitindo
acompanhar mais de perto e de forma individualizada o desenvolvimento do
aluno durante o estágio.
66
Em suma, através da pesquisa de opinião foi possível notar quais são os
aprimoramentos necessários para fazer do NPJ, podendo-se concluir que o
NPJ-FUPAC, tem capacidade para formar cada vez mais profissionais
capacitados, que façam a diferença no âmbito jurídico e social, que este deve
estar sempre se atualizando do ponto de vista material e processual do direito,
mas também do ponto de vista educacional, aplicando novas tecnologias e
sendo o mais didático possível, a fim de proporcionar maior experiência
prática profissional.
Entretanto, também destaca-se que são os alunos os únicos
responsáveis pelo gerenciamento de seu empenho na aquisição
conhecimentos, tendo o dever-poder de utilizar as ferramentas do NPJ dando
máxima concretude ao programa de estágio, estando diretamente
responsáveis pelo próprio desenvolvimento acadêmico e prático profissional
para que de fato o NPJ possa cumprir com os pilares propostos de efetividade
acadêmica e social
REFERÊNCIAS
67
BRASIL, Constituição da República de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.ht
m.Acesso em: 12/04/2018.
68
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Mapa da
Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/sites/mapadefensoria.Acesso em: 22/04/2018.
69
TRABALHO INSALUBRE DURANTE A GESTAÇÃO E LACTAÇÃO:
ANÁLISE NA MUDANÇA DA CLT- LEI 13.467/17
Amanda Fonseca1
Claudinéia Maciel2
RESUMO
O presente estudo busca analisar por meio da pesquisa bibliográfica,
doutrinária, documental e jurisprudencial as mudanças trazidas com a
reforma trabalhista, implementada através da Lei 13.467 de 13 de julho de
2017. O trabalho Insalubre durante a gestação e lactação, é o principal objeto
de pesquisa a ser tratado no presente estudo. Possuindo como objetivo geral
investigar se o trabalho insalubre durante a gestação e lactação é conflitante
com os princípios constitucionais e trabalhistas.
Com esse estudo objetiva-se mostrar que a nova legislação é conflitante com o
Princípio da Proteção do Direito do Trabalho, e os Direitos e Garantias
Fundamentais previstos na Constituição Federal, uma vez que, violam a
proteção à maternidade, à vida e ao desenvolvimento da infância.
INTRODUÇÃO
1
Graduanda do Curso de Direito da Faculdade Presidente Antônio Carlos de
Mariana-MG-FUPAC.
2
Especialista em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito e Prática
Previdenciária. Advogada e Assessora de Estágio no Núcleo de Prática Jurídica da
Faculdade Presidente Antônio Carlos de Mariana - FUPAC.
70
se o trabalho insalubre durante a gestação e lactação, é prejudicial à saúde da
mulher e até mesmo do recém-nascido.
O trabalho insalubre durante a gestação e lactação, mais que uma
questão jurídica refere-se a uma questão social cotidiana. É sabido que o
aumento da atuação feminina no mercado de trabalho tem-se sobressaído
cada vez mais, e também os direitos conferidos à mulher na relação de
emprego.
O presente estudo tem como objetivo abordar o tema: Trabalho insalubre
durante a gestação e lactação: análise da mudança da CLT- LEI 13.467/17.
Como questões norteadoras relevantes para a pesquisa, a fim de delimitar e
melhor expor o que se pretende elucidar será utilizado o conceito de
insalubridade e como essa se caracteriza.
Para alcançar o propósito central, se fez necessário propor objetivos
específicos sendo estes: Caracterizar o trabalho insalubre; Descrever como o
trabalho insalubre pode ser prejudicial à saúde da gestante, lactante e da
criança em fase de amamentação; Investigar possível conflito do art. 394-A
CLT, com os princípios constitucionais e do trabalho.
O presente estudo é caracterizado como teórico básico uma vez que,
tem por finalidade conhecer e analisar acerca do trabalho insalubre durante a
gestação e lactação. Sendo ainda caracterizado como uma pesquisa
qualitativa, uma vez que, se pauta apenas em análise de textos e não requer
coleta de dados e pesquisa em campo.
Classifica-se ainda, como uma pesquisa bibliográfica, guiada por
livros, artigos, monografias e afins; contudo, possui ainda ares de pesquisa
documental por se relacionar a leis, normas e congêneres.
Quanto à metodologia do trabalho, trata-se de metodologia dedutiva,
pois analisa a alteração da CLT- Lei 13.467/17, acerca do trabalho insalubre
realizado pela gestante ou lactante, norma a qual, já se encontra estabelecida.
71
Será abordado ainda, a Ação Direta de Inconstitucionalidade
(BRASIL, Ação De Inconstitucionalidade 5.938. Relator: Alexandre Moraes.
30/04/2019, STF, 2019), a qual se findou e obteve sua procedência pela
inconstitucionalidade contida nos incisos II e III do artigo 394-A da CLT
(BRASIL, Lei 13.467, 2017).
Para tanto, os procedimentos/instrumentos metodológicos utilizados
para desenvolver tal trabalho foram caracterizar e descrever o trabalho
insalubre com base em pesquisas teóricas acerca do assunto.
Para constituir as referências bibliográficas, se fez necessário utilizar
de artigos de periódicos eletrônicos, artigos científicos, sites e blogs jurídicos,
assim como a própria legislação vigente e em análise.
Por fim, no presente estudo, será abordado um breve histórico do
direito do trabalho, incluindo a conquista feminina no mercado empregatício,
assim como o conceito de insalubridade e como esta se caracteriza. Busca-se
ainda, por meio deste estudo, demonstrar o quanto pode ser prejudicial à
saúde da mulher e de sua prole, o trabalho em condições insalubres. Para
mais, se faz necessário provar se a alteração na legislação é conflitante com
normas e princípios constitucionais e do trabalho.
A mulher por muitos anos lutou para alcançar seu espaço no ambiente
de trabalho, vindo a ter seu total reconhecimento na Constituição Federal de
1988, a qual além de igualar homem e mulher nas condições empregatícias,
também garantiu a proteção à maternidade à mulher trabalhadora, como será
demonstrado mais adiante em dispositivos específicos. No entanto, mesmo
que em condições de igualdade, vale lembrar que biologicamente em certas
práticas profissionais, como por exemplo, o trabalho exercido em local
72
insalubre é capaz de oferecer problemas mais graves às mulheres gestantes,
do que aos homens.
Lado outro, deve-se levar em conta que o trabalho desenvolvido em
ambiente insalubre, ou seja, trabalho exposto inclusive a agente químico
implica em um duplo risco, de forma que não afeta apenas a mulher, mas
também o seu feto e ou criança recém-nascida, tendo em vista que poderá
implicar na amamentação.
De acordo com Janyele Sales, especialista em Medicina de Família e
Comunidade pela Universidade de São Paulo, durante a gestação, é possível a
transmissão de doenças para o feto, devido à permeabilidade da placenta a
agentes infecciosos, podendo se diversificar consoante ao tipo de risco
biológico a qual se está exposta e do estado imunológico da mãe que,
exercendo atividade laboral em local insalubre pode estar mais propícia à
proliferação de doenças.
73
No período da escrivão, o trabalhador-escravo não possuía direito
algum e era tratado como coisa, sendo submetido à diversas formas de
castigos, quase sempre provido de formas desumanas.
A mulher sempre foi taxada como sexo frágil, sendo a mesma
responsável apenas por afazeres domésticos, geração e educação dos filhos,
além das obrigações matrimoniais com seu marido. A função das mulheres
organizava-se “ao bom desempenho do governo doméstico e na assistência
moral à família, fortalecendo seus laços”. (MELO. 2011, ONLINE “et al”
Amanda Souza Silva).
A sociedade instituía que a mulher não precisava trabalhar, que o
trabalho era algo masculino e a mulher deveria ser dependente do homem.
Poucas eram as que laboravam, algumas faziam doces, pães por encomenda,
bordados, costuras em geral, para obterem sua própria renda, sendo pouco
valorizadas.
Temos ao final das I e II Guerra, uma inserção significativa das
mulheres no mercado de trabalho, uma vez que, tiveram que assumir o lugar
de seus maridos, devido à participação destes nas guerras. Ao final das
guerras, muitas dessas mulheres ficaram viúvas ou tiveram maridos
mutilados, impossibilitados de exercer função laboral, sendo assim, essas
mulheres continuaram a laborar para sustento próprio e da sua família.
A mulher ganhou verdadeiro destaque nas funções obreiras à partir da
Revolução Industrial sendo a principal mão de obra, pois exerciam as mesmas
funções que os homens a troco de salários inferiores. Dito isso, de acordo com
Ana Letícia Roza Belo, temos o posicionamento de Fonseca “et al”:
75
Dado o fim da escravidão no século XIX, surgiu-se diversos postos de
trabalho, sobretudo no setor agropecuário. Após a expansão do referido setor,
o Brasil sofreu escassez de mão de obra no campo e para resolver tal questão,
o governo brasileiro incentivou a imigração europeia, concedendo benefícios
aos imigrantes que viessem para laborar na área rural.
Neste sentido, com a exploração intensa sofrida pelos imigrantes, e
diante das condições precárias impostas, houve grande revolta. De forma que
os imigrantes partiram do campo e avançaram para as cidades em busca de
trabalho, o que coincidiu com o momento de industrialização do país.
Com a Industrialização em foco, as mulheres passaram a exercer suas
atividades laborais principalmente em indústrias têxteis, com fiação e
tecelagem.
Devido às condições escassas também na era industrial, surgiram
movimentos de imposição da classe trabalhadora brasileira, a fim de melhores
condições laborais.
Em 1912 houve no Brasil a iniciativa de discutir direitos trabalhistas
femininos, de modo que tal iniciativa trouxe como inovação a possibilidade de
que as mulheres pudessem laborar sem que fosse necessário a autorização do
marido. A jornada limitada em 08 horas diárias também foi colocada em
pauta, bem como a proibição do trabalho noturno, sendo que este não era
bem visto perante a coletividade. E ainda a licença maternidade,
contemplando a mulher ao afastamento de sua atividade laboral, pelo período
de 15 a 25 dias anteriores e até 25 dias após o parto.
No entanto, referida proposta foi rejeitada pelo Congresso, posto que,
entendia-se o trabalho feminino como uma ofensa a honra do marido, ficando
eles em posição secundária.
Em 1917, houve em São Paulo a Lei Estadual nº 1.596, a qual
reorganizou no Estado o serviço sanitário, de forma que impedia o trabalho
76
das mulheres durante o último mês de gravidez e o primeiro mês do
puerpério.
Por conseguinte, em 1919 o Tratado de Versalhes trouxe o princípio
da igualdade salarial entre homem e mulher, sendo esse tratado adotado em
alguns países, abarcando inclusive o Brasil.
Já em meados de 1923, na esfera Federal, o Decreto 16.300,
concedeu às mulheres, o direito de trabalhar em estabelecimentos comerciais
e industriais, e o direito a repouso anterior e posterior ao parto, ambos de 30
dias. Conforme cita Maria Pereira (p. 34) “o mesmo decreto previa a
organização de “caixa a favor de mães pobres”, com intuito de criar creche ou
salas de amamentação próxima à empresa ou indústria a qual a mãe
trabalhasse, para que essa pudesse amamentar seu filho”.
Em 1932 houve o primeiro dispositivo o qual tratava exclusivamente
da atividade laboral feminina, através do Decreto nº 21.417-A de 1932. O
referido Decreto tratou a respeito do trabalho feminino o qual proibia
terminativamente o trabalho da mulher no período noturno, em locais
subterrâneos e em locais insalubres e perigosos. Foi concedido na ocasião o
intervalo de quatro semanas antes e quatro semanas após o parto de licença
maternidade.
O Decreto supracitado trouxe também como direito da mulher a
metade de sua remuneração como auxílio ao período anterior e posterior ao
nascimento do bebê. Para mais, ainda instituiu o benefício de parar por duas
vezes durante o seu labor para amamentar durantes os seis primeiros meses
do nascituro.
Não obstante, o mesmo Decreto garantiu à mulher um auxilio durante
o tempo de afastamento que antecedia o parto. Tal garantia, era paga por
denominadas Caixas criadas pelo Instituto de Seguridade Social, de acordo
com a média dos últimos seis meses.
77
Neste interim, a Constituição de 1934, garantiu a equiparação salarial
entre homens e mulheres, proibiu o trabalho feminino em ambientes
insalubres, garantiu assistência médica à gestante, concedeu pausa antes e
após o parto, sem prejuízo salarial. Garantiu conforme Maria Pereira “que a
União, os Estados e os municípios destinassem 1% de sua arrecadação
tributária para assegurar o amparo a maternidade e à infância.”
Já em 1937 a Constituição manteve o impedimento do trabalho da
mulher em local insalubre, mas omitiu a garantia de emprego à gestante. Foi
instituído, no entanto a assistência médica e higiênica ao trabalhador e à
gestante, assegurando período de descanso antes e após o parto, sem prejuízo
salarial. (BRASIL, Constituição Federal,1937)
Somente em 1º de Maio de 1943, a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT) foi aprovada por meio do Decreto-Lei 5.452, entrando em
vigor com todas as leis vigentes, que até então tratavam sobre direito do
trabalho, sem menção específica ao direito laboral exclusivamente feminino.
As normas sobre trabalho feminino estavam descritas no capítulo III do Título
III, sendo as medidas de amparo à maternidade descrita na Seção V.
O art. 391 da CLT – Decreto Lei nº 5.452/43, o qual permaneceu
vigente após a reforma trabalhista, dispõe que contrair matrimonio ou estar
em estado de gravidez, não estabelece motivo justo para rescisão de contrato.
A CLT Decreto Lei nº 5.452/43 carreava ao empregador o ônus do
pagamento do salário referente a licença maternidade, sendo o início desse
afastamento determinado por atestado médico apresentado ao empregador.
Nesse viés, a gestante tinha direito ao salário integral e quando
variável por qualquer que fosse o motivo, se fazia uma média entre os últimos
seis meses de trabalho; tendo também direito aos direitos adquiridos como
planos de saúde; os proveitos adquiridos em normas coletivas, enquanto
78
estivesse ausente de sua atividade, também seriam adquiridas pela mulher,
que ao retornar ao trabalho, retomaria também a função que antes exercia.
O art. 392 da Consolidação das Leis do Trabalho em sua redação
original coibia o trabalho da gestante nas seis semanas antecedentes e nas seis
posteriores ao parto.
No entanto, por meio do Decreto-Lei 229 de 28/02/1967, os
referidos períodos foram expandidos para quatro semanas antes e oito
semanas após o parto.
A Constituição de 1946 proibia a diferença salarial em decorrência do
sexo, vedava o trabalho insalubre exercido por mulheres, assegurava descanso
antes e após o parto sem prejuízo salarial.
A Constituição em 1967 além de proibir a diferença salarial entre
homens e mulheres, proibiu critérios de admissão por motivo de sexo, cor e
estado civil, além de garantir à mulher a aposentaria após trinta anos de
trabalho.
Passados alguns anos, já em 1974, o salário-maternidade deixou de
ser ônus do empregador, passando a ser pago através da Previdência Social.
Dando um salto na história, para os dias atuais, a Constituição de
1988 que estabelece como fundamento a dignidade da pessoa humana e os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o qual protege à infância e a
maternidade, ampliou os direitos e garantias das mulheres, e possibilitou
também sua maior inserção no mercado empregatício.
A referida Constituição permite o trabalho da mulher em locais
insalubres, garantindo a licença à maternidade de 120 dias, sem detrimento
de salário, tendo a mulher garantia do emprego até cinco meses posteriores ao
parto. Considerando a igualdade entre homem e mulher, a legislação vigente
não proíbe que a mulher exerça trabalho insalubre, em locais subterrâneos,
79
nas minerações em subsolo, nas obras e pedreiras, de construção pública ou
particular.
É válido ressaltar que a Lei 9.799/99 trouxe a seção V, Capítulo III,
do Título III da Constituição das Leis Trabalhistas, que trata “da proteção à
maternidade, garantindo à empregada durante a gravidez, sem prejuízo de
direitos e salários: a transferência de função, quando as condições de saúde
assim exigirem, assegurada sua volta a função anterior quando retornar ao
trabalho, a escusa do horário de trabalho por tempo necessário para a
realização de, no mínimo seis consultas médicas e demais exames
complementares.” (BRASIL, Lei nº 9.799, 1999)
Mais recente, em 2008 a Lei 11.770 instituiu o Programa Empresa
cidadã, o qual trouxe incentivos fiscais às empresas privadas que concedessem
de forma voluntária a licença a maternidade de 180 dias, ao invés de 120,
contudo não garantiu à gestante sua estabilidade após tal período.
Diante de todo exposto, pode-se afirmar que atualmente ainda existe
discriminação acerca da maternidade no momento da contratação, sendo essa
símbolo de desigualdade entre homens e mulheres, principalmente em idades
férteis. Acredita-se que a nossa legislação ainda tem muito que avançar nesse
quesito.
85
Por todo exposto, é direito da gestante e lactante um local de trabalho
saudável, limpo, com condições adequadas para seu exercício, sem expor a sua
saúde, do nascituro e do recém-nascido em risco.
Adentrando mais na temática deste estudo, o art. 394-A da nova
norma Trabalhista (Lei 13.467 de 2017) possui como justificativa para o labor
da gestante e lactante em local insalubre, a maior inserção da mulher no
mercado de trabalho. E mais, a fim de proporcionar igualdade com o sexo
masculino e gerar maior competitividade no mercado, diminuindo assim, a
discriminação em relação à contratação de mulheres em idade fértil.
Fundamenta-se que a utilização de EPI’s (Equipamento de Proteção
Individual) previstos na NR-6 seja o suficiente para a eliminação de riscos
existentes em atividades insalubres, de forma a proteger o trabalhador.
O princípio da proteção previsto no Direito do Trabalho, é
fundamental justamente porque na maioria da das vezes o trabalhador é parte
hipossuficiente em relação ao empregador, quer seja, nas condições de
insalubridade, ou de proteção a outros riscos.
Tal princípio se divide em três partes:
a) in dubio pro operário - Que defende que o ônus da prova é do
empregador, uma vez que o empregado é parte vulnerável na relação de
emprego;
b) aplicação da norma mais favorável - defende que deve-se aplicar ao
caso concreto, a norma que se apresentar mais benéfica ao assalariado;
c) condição mais benéfica ao trabalhador - devendo ser entendida em
relação a direitos já conquistados, que não podem ser abolidos ou modificados
para pior.
Com relação ao presente estudo, que trata do trabalho da gestante e
lactante em local insalubre, deve ser observado o princípio da proteção, tendo
em vista os direitos adquiridos pela gestante e lactante, no que alude ao
86
afastamento de labor em local insalubre, seja qual for o grau. Preservando
assim a sua saúde, do nascituro e/ou recém-nascido. Ainda, deve-se observar
a proteção à dignidade da pessoa humana, os direitos sociais, como a saúde, a
proteção à vida, à infância e à família, devendo tais direitos serem respeitados
e protegidos.
Sob tal perspectiva, observa-se que a Lei 13.467 de 2017 traz grande
retrocesso ao direito, uma vez que viola a proteção à maternidade e à infância.
O afastamento imediato apenas da gestante que labora em local de
insalubridade máxima gera conflito ao princípio da proteção no que se refere
as gestantes que laboram em grau médio e mínimo de insalubridade e as
lactantes qualquer que seja o grau a qual está exposta.
Além disso, o fato de dever ser apresentado atestado justificando seu
afastamento das atividades insalubres, o que se é exigido, as gestantes que
laboram em grau mínimo ou médio e a lactante que exerce atividade laboral,
não estão sendo amparadas pelo “in dubio pro operário”. Nota-se que houve
inversão do ônus da prova, o qual deveria ser incumbido ao empregador
provar se tal local é adequado ou não para a saúde da gestante, lactante,
nascituro ou recém-nascido.
Se faz necessário frisar que, tratando-se o empregado de parte
hipossuficiente como mencionado anteriormente, a empregada pode se ver
forçada ou se ver sem saída, e ter que continuar seu labor, mesmo colocando
sua saúde em risco. Ainda assim, pode haver de maneira sutil ou indireta uma
possível existência de represália por parte do empregador que, possa deixar
transparecer sua insatisfação, quanto ao pedido do empregado de afastamento
da atividade insalubre em grau mínimo ou médio, por meio de atestado.
87
Com base nos artigos lidos e referenciados ao final, percebe-se que
insalubre é aquilo que é prejudicial à saúde, dando causa à doença. A
insalubridade no ambiente de trabalho caracteriza-se pela exposição a agentes
nocivos à saúde, tais agentes se dividem em três categorias: agentes físicos,
químicos ou biológicos.
As atividades insalubres são tratadas de forma exclusiva pela norma
NR15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE.
Para se caracterizar a insalubridade laboral, a exposição a tais agentes
devem ser acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza,
intensidade e tempo de exposição. Dito isso, o trabalhador que labora exposto
a tais condições, possui direito a uma remuneração superior, qual seja o
adicional de Insalubridade. Sendo o adicional definido de acordo com os
graus: mínimo, médio e máximo; auferindo pagamento ao empregado de
acordo com o grau a que é exposto, sendo de 20%, 30% ou 40%
respectivamente sobre o mínimo da região.
A Consolidação das Leis Trabalhistas, em seu art. 195 (BRASIL, Lei
6.514, 1977) prevê que a classificação e a caracterização da insalubridade
devem ser estabelecidas por perícia, por intermédio de profissionais que
devem ainda ser capacitados no Ministério do Trabalho e Emprego, vejamos o
artigo a seguir:
88
De acordo com Súmula 139 do TST, “Enquanto percebido, o adicional
de insalubridade integra a remuneração para todos os efeitos legais.”
(BRASIL, TST, ex-OJ nº 102 da SBDI-1, 1997)
O adicional de insalubridade possui natureza salarial e não
indenizatória, sendo um elemento compensatório devido as condições
prejudicais a saúde do empregado. Sendo assim, o adicional de insalubridade
será acrescido ao salário base para integrar a remuneração do empregado.
Sendo o cálculo do adicional de insalubridade feito com o salário básico.
O trabalho em condições insalubres mesmo que intermitente, implica
em perigo à saúde do empregado, de forma a auferir também em aumento
remuneratório, como já afirmado.
A aplicação do pagamento do adicional de insalubridade tem como
alvo, não somente a indenização ao trabalhador, mas sim, a conscientização
para que as empresas tomem medidas eficazes de proteção (coletivas ou
individuais) a fim de minimizar os ambientes insalubres no local de trabalho.
No entanto, sabe-se que o custo efetivo dessas medidas seriam altos, de forma
que as empresas optam por expor seus empregados a condições de risco,
pagar-lhes quantias como compensação do que minimizar, neutralizar ou
eliminar quando possível a insalubridade laboral, adotando assim, apenas as
medidas realmente exigidas, como por exemplo o uso de EPI (Equipamento
de Proteção Individual), previsto na NR-6.
89
mulheres gestantes e lactantes o labor em tais situações coloca também em
risco a saúde do nascituro e do recém-nascido.
Durante a gravidez a mulher passa por constantes mudanças
fisiológicas, psicológicas, hormonais e anatômicas, necessitando de cuidado
diverso do habitual. Assim, segundo estudos de PEREIRA afirma
MCDIARMID, et al:
Segundo PEREIRA (p. 51) ao citar a autora Verri, em sua obra “et al”
a existência de estudos que demonstram que a exposição do feto a tais ruídos
pode alterar o desenvolvimento de sua audição. Comprovando que crianças
expostas aos referentes ruídos apresentavam perda auditiva considerável em
ambos os ouvidos.
De acordo com VERRI, “et al”:
91
A reforma da CLT foi instituída em 2017 pela Lei 13.467/17, na
tentativa de recuperar o país do cenário de crise existente, o qual ainda se
perdura no nosso país. Vale mencionar que, as mudanças às quais atingem as
mulheres surgem da ideologia de que estas seriam benéficas às mulheres, pois
as colocaria em pé de igualdade aos homens. Justifica-se ainda que, a antiga
norma protegia excessivamente a mulher que atualmente, não é vista em sua
totalidade como o sexo frágil.
Fato é que, a mulher já conquistou seu espaço, e normas de proteção
não são empecilhos para a contratação desta, inclusive a prática
discriminatória pautada na proteção a qual não se ajusta em justificativa para
discriminação.
Têm-se nesse sentido o entendimento de DELGADO, et al:
92
que tange o trabalho da gestante e lactante em local insalubre, é um retrocesso
diante de toda evolução e conquistas da mulher na sociedade.
A antiga Legislação Trabalhista possuía entre as suas normas a
proibição da atividade laboral da gestante e lactante em locais insalubres não
importando qual grau fosse. Logo após a confirmação da gestação, a
empregada podia ter alteração do local de atividade laboral, ou quando não
possível tal prática, era afastada de suas funções. Bastava apenas a
confirmação do estado gravídico ser feito através de atestado médico. É o que
aduz a lei 13.287 de 2016:
93
III - atividades consideradas insalubres em
qualquer grau, quando apresentar atestado de
saúde, emitido por médico de confiança da
mulher, que recomende o afastamento durante a
lactação.
§
1º ......................................................................
§ 2º Cabe à empresa pagar o adicional de
insalubridade à gestante ou à lactante, efetivando-
se a compensação, observado o disposto no art.
248 da Constituição Federal, por ocasião do
recolhimento das contribuições incidentes sobre a
folha de salários e demais rendimentos pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que
lhe preste serviço.
§ 3º Quando não for possível que a gestante ou a
lactante afastada nos termos do caput deste artigo
exerça suas atividades em local salubre na
empresa, a hipótese será considerada como
gravidez de risco e ensejará a percepção de salário-
maternidade, nos termos da Lei nº 8.213, de 24 de
julho de 1991, durante todo o período de
afastamento. (BRASIL, Lei 13.467, 2017)
95
II- atividades consideradas insalubres em grau
médio ou mínimo, quando apresentar atestado
de saúde emitido por médico de confiança da
mulher, que recomende o afastamento
durante a gestação.
III- atividades consideradas insalubres em qualquer
grau, quando apresentar atestado de saúde,
emitido por médico de confiança da mulher,
que recomende o afastamento durante a
lactação. (BRASIL, Lei 13.467, 2017)
96
A Procuradora-Geral opinou pela concessão da medida liminar e
procedência do pedido, e ainda alegou que a autorização da gestante e lactante
à trabalhos insalubres expõe as trabalhadoras e seus filhos a riscos eminentes.
E aduz ainda, que a norma pauta-se de um retrocesso social, sustentando a
inconstitucionalidade do Art. 394-A em consonância com os artigos da
Constituição Federal, anteriormente citados nesse estudo.
Tal ação expõe a importância de se discutir assunto em tela, pois é de
relevante valor social, diz respeito à saúde da gestante e lactante, do bom
desenvolvimento e saúde do nascituro e do recém-nascido. Dito isso, houve
admissão de amicus curiae na referida ação. Estando, portanto, oferecidas as
condições necessários para a concessão da medida cautelar. Se fez necessária
comprovação de perigo de lesão irreparável, para concessão da medida
cautelar.
Cita-se que a proteção a maternidade e à criança trata-se de direito
irrenunciável, que não podem ser afastado. Assim sendo, a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, reconhece a importância da referida ação, frente à
proteção à maternidade e à infância.
Entende-se ainda que as expressões impugnadas do art. 394-A da CLT
não estão em concordância com as normas constitucionais vigentes, não
apresentando proteção à mulher gestante ou lactante, e também não
protegendo o nascituro e o recém-nascido.
Alexandre de Morais, Relator do Tribunal Pleno, ao reconhecer entre
os direitos sociais à proteção a maternidade, e a melhoria das condições de
vida aos hipossuficientes, elucida que:
98
Em 29 de maio de 2019, o Plenário do Supremo Tribunal Federal
(STF) julgou a citada Ação Direta de Inconstitucionalidade (BRASIL, Ação De
Inconstitucionalidade 5.938. Relator: Alexandre Moraes. 30/04/2019, STF,
2019), a qual se findou e obteve sua procedência pela inconstitucionalidade
contida nos incisos II e III do artigo 394-A da CLT (BRASIL, Lei 13.467,
2017). Os incisos citados previam que grávidas e lactantes laborassem em
locais insalubres. Para maioria, os incisos afrontam a proteção constitucional
à maternidade e à infância.
A ação foi ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores
Metalúrgicos, pautada na defesa da inconstitucionalidade dos incisos citados
anteriormente, diante dos direitos e garantias fundamentais compreendidos
pela Constituição Federal (BRASIL, Constituição Federal, 1988).
A imposição às grávidas e lactantes apresentarem atestado médico
para demonstrar a condição de afastamento, foi a pauta inicial para o voto do
relato, a qual segundo o ministro, “sujeita a trabalhadora a maior embaraço
para o exercício de seus direitos, sobretudo para aquelas que não têm acesso à
saúde básica para conseguir o atestado.” (BRASIL, STF, 2019).
O ministro em seu parecer afirma que a Constituição Federal possui
“direitos a proteção à maternidade, o direito a licença a maternidade e a
segurança no emprego, normas de saúde, higiene e segurança” (BRASIL,
Constituição Federal, 1988), sendo esses totalmente assegurados a gestante,
bem como a lactante e seu bebê. A proteção a gestante e lactante é também
uma forma de proteger o recém-nascido, garantindo a ambos os direitos
sociais compreendidos no texto constitucional.
Destaca-se o ministro que a alteração da CLT (BRASIL, Lei 13.467,
2017) feriu o direito da mãe e da criança, deixando ambos desamparados.
Segundo relator “A proteção à maternidade e a integral proteção à criança são
direitos irrenunciáveis e não podem ser afastados pelo desconhecimento, pela
99
impossibilidade ou pela eventual negligência da gestante ou da lactante em
juntar um atestado médico, sob pena de prejudicá-la e prejudicar o recém-
nascido”. (BRASIL, STF, 2019)
Para ele a destituição da nova norma, não é motivo para
descriminalização da mulher no mercado de trabalho, uma vez que “eventuais
criminalizações serão punidas nos termos da própria lei, e o próprio texto
constitucional determina de maneira impositiva a proteção ao mercado de
trabalho da mulher mediante incentivos específicos.” (BRASIL, STF, 2019).
Diante de tais fundamentos, o relator votou pela confirmação da liminar
deferida e procedência do pedido.
A Ministra Rosa Weber, afirmou que a gestação é um período de
vulnerabilidade para a trabalhadora e que a Constituição Federal em seu art.
7º “impõe limites à liberdade de organização e administração do empregador
de forma a concretizar, para a empregada mãe, merecida segurança do
exercício do direito ao equilíbrio entre trabalho e família.” (BRASIL, STF,
2019). Concluindo seu voto a favor do deferimento da liminar e procedência
do pedido, citando ainda a norma discutida como retrocesso social.
Votaram também pela procedência da ação os ministros “Edson
Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Carmen Lúcia, Ricardo
Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e o presidente da Corte,
ministro Dias Toffoli.” (BRASIL, STF, 2019).
Têm-se um único ministro Marco Aurélio, quem divergiu e votou pela
improcedência da ação, defendendo que julgar inconstitucional os incisos II e
III do art. 394-A da CLT (BRASIL, Lei 13467, 2017) é a criação de um
obstáculo à contratação de mão de obra feminina. Findando assim, a votação
acerca do tema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
100
O presente estudo desejou demonstrar a partir da evolução histórica o
quanto a mulher conquistou em relação a direitos e garantias trabalhistas,
deixando de ser apenas a cuidadora do lar e passando a se destacar também
em atividades laborais fora de seu lar. Apesar do grande avanço no que tange
a esses direitos e garantias, ainda existe muito o que se conquistar.
Com a reforma trabalhista a mulher teve direitos violados e
retrocedidos, que foram camuflados de maior oportunidade no mercado de
trabalho, esculpindo na ideologia de que tais mudanças iriam dirimir o
preconceito sofrido pela mulher em idade reprodutiva no mercado de
trabalho. É certo que, em alguns casos ao passar por uma seleção de emprego
por mais que tenha um excelente currículo, a mulher é descartada
profissionalmente pela possibilidade de vir a engravidar após efetivação de
contrato. No entanto, não é a modificação do art. 394-A quem irá mudar tal
realidade.
Fato é que, atualmente as mulheres tem se destacado cada vez mais
em atividades laborais, ocupando inclusive cargos de alta chefia, ocupando
cargos políticos e ocupando cada vez mais o mercado empregatício. Cumpre
mencionar que, deixar de protegê-las quanto a seus direitos não é a solução
mais plausível para estimular sua contratação.
O Estado como garantidor de direitos e garantias, deveria criar
normas que coíbissem o preconceito ainda existente na contratação de mão de
obra feminina, ao invés de colocar em risco à saúde da mulher e das futuras
gerações.
Desprotegê-la não será certeza de que o preconceito será eliminado,
uma vez que, esse preconceito não é decorrente apenas da maternidade, mas
sim de uma cultura machista e preconceituosa, que deve ser educada e
combatida. Somente a educação ética e social pode aduzir a sociedade o fim
da discriminação a mulher.
101
O presente estudo se pautou em demonstrar o quanto a norma
modificada, aqui em pauta o art. 394-A da Consolidação das Leis trabalhistas
- CLT (Brasil, Lei 13.467, 2017), é conflitante com normas constitucionais e
com o princípio da Proteção do Trabalho.
É possível compreender de todo exposto que, a modificação feita na
norma foi prejudicial à saúde da mulher gestante e lactante, bem como ao
nascituro e ao recém-nascido.
Já que, o legislador ao aprovar tal norma, põe de lado a tutela do
direito à vida, à saúde, a dignidade da pessoa humana, bem como o direito da
trabalhadora e o desenvolvimento à infância. Nesse sentido, é explícito que o
Legislador ao aprovar tal artigo, equivocou-se ao ceifar diversas garantias
concebidas aos trabalhadores em geral, que foram conquistados ao longos dos
anos com grande esforço, especialmente ao que trata este estudo aos direitos
das gestantes em relação ao local de trabalho insalubre.
Então fica a indagação: Será que, para o legislador é mais importante
que a mulher tenha um emprego, mesmo que de riscos à sua saúde gestacional
e à saúde de sua prole, que uma norma que neutralize a insalubridade nos
ambientes laborais, e a preservação à saúde da gestante e das futuras
gerações?
Por fim, têm-se demonstrado através da decisão do relator, senhor
Alexandre de Morais, o qual deu voto favorável a Ação Direta de
Inconstitucionalidade ADI-5.938 (STF, Ação De Inconstitucionalidade 5.938.
Relator: Alexandre Moraes. 30/04/2019, STF, 2019) a suspensão do trabalho
da gestante e lactante em locais insalubres. Demonstra-se, efetivamente a
vulnerabilidade da mulher na relação de emprego, a qual não quer colocar em
risco seu vínculo empregatício.
Finalmente, temos a citada Ação Direta de Inconstitucionalidade,
julgada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal em 29 de maio de 2019, o
102
qual por maioria dos votos julgam procedente. Em coerência com o elucidado
neste estudo fora confirmando a inconstitucionalidade de trechos do art. 394-
A CLT (Brasil. Lei 13.467, 2017) uma vez que, tais trechos ferem princípios
constitucionais básicos irrenunciáveis, como o direito à vida, à saúde, à
maternidade e infância.
REFERÊNCIAS
103
BRITO, Yasmin Viana, Reforma Trabalhista e o direito da mulher:
Avanço ou retrocesso? Monografia (Curso de Direito) – Universidade
Federal de Pernambuco- UFPE Centro de Ciências Jurídicas- CCJ Faculdade
de Direito de Recife – FDR, Recife 2017.
104
PEREIRA, Maria da conceição Maia. Visão crítica do artigo 394-a da
CLT: proibição do trabalho da gestante ou lactante em ambiente
insalubre. 93 f. Monografia (Curso de Mestrado em Direito) - Universidade
Fumec Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde, Belo Horizonte,
2017.
105
TRIBUNAL DO JÚRI: UMA VISÃO CRÍTICA
RESUMO
O presente trabalho tem como escopo fazer uma análise crítica acerca de
um instituto único no ordenamento jurídico brasileiro, qual seja, o
Tribunal do Júri. Para alcançar o objetivo geral proposto,
primeiramente será analisado o instituto como um todo desde suas raízes
que, de tão antigas, se perdem nos confins do tempo até os dias atuais
com o advento da lei 11.689 de 2008, que trouxe importantes mudanças
no procedimento, sem, contudo, deixar de lado a essência do julgamento
dos réus pelos seus pares nos crimes dolosos contra a vida, bem como
criticar a influência da mídia no veredito final, levando em consideração
os aspectos da comunicação atual. A metodologia utilizada será a
pesquisa com foco na necessidade de se questionar a estrutura do
instituto, o procedimento, o preparo do conselho de sentença, os efeitos
reais e sua consequente eficácia na sociedade brasileira. A conclusão
geral da pesquisa será baseada na crítica feita sobre a influência da
mídia nas decisões dos jurados, analisando a soberania dos vereditos,
diante da cultura popular, da organização política, das avaliações
sociológicas e da garantia do direito fundamental a liberdade como
principio basilar da Constituição Brasileira.
INTRODUÇÃO
107
Ainda no primeiro capítulo, verificamos a possibilidade da
reforma da decisão popular em atendimento ao princípio Constitucional
do Duplo Grau de Jurisdição comparado ao princípio basilar da
instituição do júri, qual seja, a soberania dos vereditos. Analisamos
também a estratégia teatral usada pelos operadores do direito em plenário
para convencer os jurados de suas teses.
O segundo capítulo adentra a questão da influência da mídia no
veredito final sendo destaque por ser o tema problema dessa pesquisa,
isto porque o veredito final proferido pelos jurados em plenário do
Tribunal do júri está cada vez mais afetado pela influência da mídia, já
que vivemos em um mundo cada vez mais globalizado em que a liberdade
de imprensa ganhou contornos extraordinários sendo abrangida por todos
os meios de comunicação, e a tecnológia aumentou substanciamente a
difusão da informação em massa, a famosa: mídia.
Nesse meio de difusão citado anteriomente, a liberdade de
expressão é utilizada para informar e formar opiniões (que muitas vezes
se tornam pré-julgamentos) através da exteriorização de fatos que
merecem atenção do público, aqui em especial o Julgamento em tribunal
do júri.
Diante disto, a presente pesquisa tem sua justificativa baseada
na intenção de analisar, descrever, criticar e esclarecer o tema proposto,
utilizando-se de uma modalidade de pesquisa bibliografica, linguagem
clara, objetiva e uma metodologia de pesquisa descritiva e explicativa
acerca da relação mídia versus soberania dos vereditos no Tribunal do
Júri.
O TRIBUNAL DO JÚRI
108
Antes de adentramos ao estudo do Tribunal do júri
necessariamente precisamos descontruir entendimentos que nós
adquirimos antes de iniciarmos o estudo do processo penal, isso porque tal
instituto ganha nossa atenção em filmes e seriados norte americanos que
nos trás ideias de um júri notadamente diferente daquele instituído em
nosso ordenamento jurídico-brasileiro.
Para iniciarmos de forma clara as explanações que aqui serão
feitas, primeiramente, faz-se necessário conceituar o Tribunal do Júri.
Entre as muitas definições que encontramos, vale salientar o que diz
Guilherme de Souza Nucci. Vejamos:
110
natureza constitucional, pois a carta Magna garante segurança lícita do
cidadão ser julgado pelo povo, quando for pronunciado pela prática de
crime tipificado na própria Constituição ou em lei infraconstitucional.
O Tribunal do Júri como a garantia particular, não pode ser
abolido, nem por modificação constitucional estabelecendo a verdadeira
cláusula pétrea (núcleo constitucional intangível). Tudo por força da
limitação material evidente contido no art. 60, §4. IV da Constituição
Federal, que prediz que não será objeto de arbitramento a proposta de
modificação constitucional conducente a abolir os direitos e garantias
particulares.
O CONSELHO DE SENTENÇA
111
segue ensinamento de Fernando Capez:
113
possíveis falhas que por ventura possam ser cometidas pelo conselho de
sentença.
115
garantir a defesa do acusado. A plenitude de defesa é intrínseca ao júri, já
que a defesa em plenário é apresentada a juízes leigos utilizando-se,
portanto, não somente argumentos jurídicos, mas todos os meios para
plenitude da defesa. Segundo Nucci “amplo é algo vasto, largo, copioso,
enquanto pleno equivale a completo, perfeito, absoluto.” (NUCCI, 2015).
Resta claro, portanto que a plenitude de defesa é príncipio constitucional
fundamental, garantindo ao acusado uma defesa irrestrita, ampla, e
amparada em todos os meios de prova que se fizerem necessárias a garantia
de sua defesa.
O sigilo das votações garantido pelo Artigo 5º, XXXVIII, “b”, da
Constituição Federal de 1988 reveste-se de muitas formalidades, pois é
princípio específico do Tribunal do Júri e cumpre papel essencial para que
o julgamento cumpra o devido processo legal.
O Código de Processo Penal se encarregou de explicitar quais
pessoas deverão presenciar a votação e onde esta deverá acontecer,
corroborando assim com a garantia do princípio constitucional do sigilo
das votações.
Segundo o art. 485 do CPP:
116
o que poderia representar uma intimidação aos jurados.
120
com o consentimento da gestante, e, por fim, crimes que decorrem ou se
relacionam a modalidade de aborto, que também são incluídos no rol de
crimes julgados pelo Tribunal do Júri.
Todavia, é pacífico na doutrina pátria que a competência de tal
instituto é mínima, pois quando a Constituição outorga ao Tribunal do
Júri a competência para processar e julgar os crimes dolosos contra vida
em seu artigo 5º inciso XXXVIII alínea “d’’:
Está outorgando ali uma competência mínima, que não pode ser
suprimida, e somente o denominado Tribunal pode julgar os crimes da
natureza que lhe cabe. No entanto, é possível ao legislador ordinário
dilatar a competência do Tribunal do júri, o que geralmente ocorre
quando atrai à competência do júri os crimes conexos, ou seja, aqueles
crimes praticados com relação de causa e efeito ou quando um é cometido
durante a execução do outro. Entendimento esse consolidado na
jurisprudência do STF:
121
ampliação pelo legislador ordinário. A regra
estabelecida no art. 78, I, do CPP de observância
obrigatória, faz com que a competência
constitucional do tribunal do júri exerça uma vis
atrativa sobre delitos que apresentem relação de
continência ou conexão com os crimes dolosos
contra a vida. Precedentes. A manifestação dos
jurados sobre os delitos de sequestro e roubo
também imputados ao réu não maculam o
julgamento com o vício da nulidade. (HC
101542/SP., 1ª T.,j. 04.05.2010(, v.u., Ricardo
Lewandowski).
122
Ainda de acordo com o posicionamento jurisprudencial Araújo
Reis; Rio Gonçalves, leciona:
124
Dessa maneira a mídia está o tempo todo presente no dia a dia
das pessoas trazendo informações em tempo real, sobre assuntos diversos,
por meio da televisão, rádio, jornais impressos e principalmente da
internet, que se tornou a maior fonte de informação da sociedade em todo
o planeta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
127
imprensa que é um dos princípios do Estado democrático de direito, pelo
contrário diminuiria a violação dos casos de cerceamento da dignidade da
pessoa humana, da plenitude de defesa, bem como restaria justo o
julgamento sem qualquer influência midiática.
REFERÊNCIAS
Magna Campos1
Saulo Camêllo2
RESUMO:
INTRODUÇÃO
131
As teorias que estudam racismo variam conforme o autor e época. Por
isso, neste estudo será feita uma breve apresentação das principais
concepções da área, para na sequência verificar-se o que a legislação brasileira
considera crime de racismo e quais as consequências jurídicas implicadas.
CONCEPÇÃO INDIVIDUALISTA
CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL
132
A concepção institucional não resume o racismo unicamente a
comportamentos individuais, mas o interpreta como expressão do
funcionamento das instituições, que “passam a atuar em uma dinâmica que
confere, ainda que indiretamente, desvantagens e privilégios a partir da raça”
(ALMEIDA, 2018, p.29). O autor discorre ainda sobre o que confere
institucionalidade a esse sistema, dado o antagonismo intrínseco à estrutura
social, e o define como o campo onde se dá a absorção e o intermédio de tais
oposições, condicionando-as ao controle da instituição em si, de onde é
exercido o monopólio de poder.
Por essa natureza, o racismo institucional é, na maioria dos casos,
velado e incondenável, já que atua por meio de processos tipicamente
respeitados pelo conjunto da sociedade, sendo até mesmo imperceptível a
quem não afeta de maneira direta. Portanto, nessa esfera os conflitos raciais
se manifestam como uma luta pelo controle formal das estruturas de exercício
da hegemonia, conferindo, assim, legitimidade ao grupo com mais acesso às
estruturas de poder por ser previamente hegemônico.
Esse processo vicioso, historicamente estabelecido em benefício de
homens brancos, gera discriminação racial no cerne dos espaços públicos,
como o Estado e o sistema jurídico, por exemplo, erodindo o princípio de
isonomia:
CONCEPÇÃO ESTRUTURAL
134
não é estranho ao Estado, pois faz parte da própria estrutura organizadora das
relações tanto sociais quanto econômicas e políticas.
135
Essas três vertentes, cada uma em sua especificidade, contribuíram
para a ampliação do espectro de estudos do fenômeno do racismo, tendo em
vista que:
136
O CRIME DE RACISMO E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
Neste estudo, vimos que o racismo não deve ser resumido apenas ao
preconceito, discorremos a respeito de sua sistemática, trazendo uma breve
apresentação de suas concepções, a fim de visualizarmos o crime de racismo
em nossa legislação.
Em 3 de julho de 1951, o presidente Getúlio Vargas sancionou pela
primeira vez na história da legislação brasileira a criminalização da
discriminação racial, a lei 1390/51, proposta por Afonso Arinos de Melo
Franco (1905-1990), tendo a lei ganhado seu nome. Após 63 anos do fim da
escravidão no Brasil, a Lei Afonso Arinos designava em seus nove artigos
como sendo mera contravenção penal o que decorria de preconceito de raça
ou de cor, a qual resultou em diversas críticas referentes a sua eficácia e ao
método de interpretação sobre o que verdadeiramente é o racismo, que, para
a lei, possuía apenas um caráter proibitivo. Vejamos o 1° artigo da lei
1390/51:
137
concentrado na esfera penal que criminalizava a própria existência negra, e
que permanece atuando sistematicamente, dentro do próprio poder
judiciário, com o olhar condicionado em combater a existência de pobres e
negros (PEREIRA, 2019, p.108).
Neste âmbito, nota-se que a Lei Afonso Arinos traz uma concepção
reducionista do que é racismo, caracterizando em seu contexto o racismo
apenas como ato de preconceito. Além disso, a lei foi tipificada como infração
penal, trazendo insatisfações por partes dos movimentos sociais envolvidos
em sua tipificação (PEREIRA, 2019, p.50).
138
Art. 3º - São poderes objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil:
140
Em 2019, em matéria divulgada no jornal mineiro, O Tempo, traz um
levantamento de dados de um estudo realizado em Minas Gerais, no qual
constata-se que de 2018 até novembro de 2019 houve 16 ações de crime de
racismo e 142 de Injúria Racial. Em média, a cada quatro dias, uma denúncia
de discriminação racial foi oferecida à Justiça pelo Ministério Público
Estadual. Com relação às queixas prestadas à polícia, entre janeiro e setembro
de 2019, foram registradas 294 situações. Esse número certamente é mínimo,
pois em muitos casos, a vítima desiste de prestar queixa, quer seja por
desconhecimento da lei, por vergonha ou pelo pré-julgamento negativo das
demais pessoas que acusam de vitimismo a tentativa de evidenciar situações
envolvendo racismo e seus desmembramentos.
Por isso, serão trazidos dois casos exemplares de situações distintas
relacionadas a possíveis situações de racismo/injúria racial, a fim de se
visualizar, exploratoriamente, o tema na prática social.
4 Dados retirados do comunicado postado na página do supermercado, que, por não ser
identificado aqui, uma vez que o caso não foi a processo, não informaremos link onde estava
disponível. Tendo os autores deste texto salvo o comunicado para uso.
143
Observa-se que, diferentemente do primeiro caso, aqui a comunidade
tende a não reconhecer como uma situação que possa envolver racismo ou
injúria racial. Normalizando o procedimento de um indivíduo ou instituição e
julgando como vitimismo, ainda que não tenha visto a cena como realmente se
deu. Pelo desgaste emocional causado nas redes sociais, a suposta vítima
preferiu não prestar queixa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo explorou a corrente crítica que investiga a questão do
racismo na sociedade atual e as principais legislações brasileiras relacionadas
ao tema. Fica perceptível que mais que o indivíduo que comete racismo, as
instituições e, em última análise, as estruturas é quem legitimam e propiciam
condições de reprodução ou favorecem a sua invisibilidade social.
Neste sentido, os dispositivos legislativos nacionais anteriores e
atuais ainda precisam ser ampliados e dialogar mais claramente com as
formas de manifestação do racismo e com a identidade histórico cultural do
negro brasileiro e atuar fora da esfera da criminalização individual, visando as
instituições e estruturas que sustentam atitudes e ideologias racistas.
REFERÊNCIAS
Campos, Luiz Augusto. Racismo em três dimensões: uma abordagem
realista-crítica. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Rio de Janeiro,
UERJ, v. 32, n. 95. p. 1-19, 2017.
144
Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-Graduação em Direito,
Fortaleza, 2019.
145
AS DIRETRIZES DO DIREITO AMBIENTAL EM RELAÇÃO ÀS
BARRAGENS DAS MINERADORAS
INTRODUÇÃO
146
modo pertinente a aplicação das leis ambientais e das normas
regulamentadoras de exploração mineral.
Ao longo dos anos, houve uma notável evolução das leis minerárias no
país. A primeira Constituição da República, de 1891, considerava que o
proprietário do solo tinha o direito de explorar o subsolo. Então, a Lei Simão
Lopes, em vigor na mesma época, permitia o registro dos manifestos da mina
pelo superficiário, o que ocasionou um retrocesso no desenvolvimento da
mineração brasileira. Somente a nova Constituição Brasileira de 1934
permitiu a distinção entre as propriedades do solo e do subsolo, estipulando
que seria necessária uma concessão federal para exploração de recurso
mineral de propriedades privadas. As barragens surgiram por volta de 1930
com o propósito de evitar que os rejeitos fossem lançados nos cursos d’água
(CBDB, 2011). O Código de Mineração, pelo Decreto 24.642, de 10 de julho
de 1934, determinou que jazidas conhecidas continuariam sendo dos donos
do terreno desde que suas existências fossem declaradas aos órgãos públicos
competentes, enquanto as desconhecidas seriam incorporadas à União ao
serem descobertas (LEITE, 2019).
Contudo, é necessário compreender as diretrizes do Direito
Ambiental e do Direito Minerário, ambos parecem ser contraditórios quando
o assunto é a exploração mineral. Enquanto este é defendido pela
Constituição Federal, cujo Art. 176 da CF define com clareza que os recursos
minerários pertencem à União, portanto subtende-se que sejam necessários
para desenvolvimento econômico do país, aquele se opõe à extração
exacerbada dos bens minerais.
147
Mas antes de entender a legislação é importante, sobretudo, analisar a
linha do tempo para entender o papel da mineração na economia e no
desenvolvimento do país e entender como ocorre o beneficiamento mineral no
limiar dos impactos causados pelo processo. Desde o século XVII, no período
colonial do Brasil, já havia centenas de lavras de ouro aluvionar na região
central do estado de Minas Gerais, tornando possível a implantação de
núcleos urbanos, a criação da Estrada Real, a efetuação de uma estrutura
administrativa própria e a unificação do território estadual, de acordo com
Alves (2007). Muito embora tenha sido um período de muita desigualdade
social e de injustiças, em que a exploração comercial fornecia produtos e
riquezas para os mercados europeus, graças à mineração, essa foi uma época
de adensamento populacional, desenvolvimento do ciclo econômico e relações
comerciais com o exterior, momento que antecedeu a formação da nação
(PRADO JR, 1972).
Destacam-se entre os principais marcos deste setor ao longo dos anos:
a descoberta de jazidas de minério de ferro; a instalação dos primeiros alto-
fornos na fábrica de Morro do Pilar em 1814; a implantação de uma usina
siderúrgica na atual cidade de João Monlevade em 1825; e a fundação da
Escola de Minas, em Ouro Preto, em 1876. Até os dias atuais o setor vem se
desenvolvendo, gerando empregos à população e bens de consumo essenciais,
como por exemplo: carros, aparelhos eletrônicos e ainda materiais agregados
para a construção civil. Estima-se que, atualmente, apenas a mineração seja
responsável por aproximadamente 67.1% da exportação do país, de acordo
com a ANM (2018). Em contrapartida, esse valor em 2007 correspondia a
50% (SINDIEXTRA, 2007).
148
Figura 1: Participação dos Estados na produção mineral brasileira em 2007
(SINDIEXTRA, 2007).
DISCUSSÃO
151
Figura 3: Evolução do comércio exterior de bens minerais em milhões de US$
(ANM, 2018).
154
A tabela abaixo apresenta uma comparação entre os três métodos para
facilitar o entendimento da escolha do método a montante pelas mineradoras,
apesar deste ser o mais arriscado, muito embora seja mais econômico.
155
liquefação e de material sistema de
piping requerido drenagem
proteção do
talude
a jusante apenas
na configuração
final
156
A construção de uma barragem baseia-se em um projeto muito bem
elaborado e, obrigatoriamente, deve ser anexado ao projeto todos os
documentos pertinentes, bem como o relatório de investigações geotécnicas,
os cálculos e os critérios do projeto, as planilhas dos serviços e obras civis, as
especificações técnicas, o manual de operação da estrutura, os procedimentos
de campo e os atendimentos em supostas emergências (ABNT, 2006). Mesmo
assim, segundo Azam et al (2010), aproximadamente 1,2% das barragens de
mineração sujeitas a algum tipo de falha. Esse valor é consideravelmente alto
e, em prol da sustentabilidade ambiental, tem-se buscado formas de recuperar
minério de ferro contido em rejeitos e também formas de reaproveitar a lama
dos rejeitos para assim minimizar o uso das barragens.
Em suas pesquisas, Blight (2010) apresentou a instabilidade dos
taludes como sendo a principal causa de ruptura das barragens de rejeitos,
pois segundo ele, cerca de 22% do total dos acidentes ocorreu por esse motivo
e, embora esses eventos sejam raros e isolados. Mas de fato, Veesaert et al
(2005) relata que de fato não é possível obter um projeto de construção e
operação de barragens sem nenhum risco, tendo em vista que as fundações e
propriedades dos materiais nelas contidos são incertos. Cabe às empresas
assumirem a responsabilidade legal através da responsabilidade objetiva pelos
danos resultantes de sua atividade; da negligência, caso falhe por não exercer
o cuidado e não prevenir os riscos; e pelos rompimentos, danosos à sociedade
e ao meio ambiente.
Algumas medidas podem ser tomadas para minimizar ou reduzir os
danos causados por rompimentos são, segundo o CBDB (2019):
- Legislação reguladora para controle de segurança e zoneamento das áreas de
inundação à jusante;
- Simulações de modos de rupturas e monitoramento visual;
- Revisão de manuais e procedimentos de manutenção;
157
- Planos de Ação Emergencial (EAP) para evacuação da área de perigo;
- Conscientização pública para informar às pessoas dos perigos;
- Políticas de seguros para que as empresas arquem com os danos gerados.
159
estabilidade de barragens de mineração, notadamente aquelas construídas ou
alteadas pelo método denominado “a montante” ou por método declarado
como desconhecido (SOUZA, 2019).
Segundo a Lei Federal de Proteção da Defesa Civil 12.608 do dia 10
de abril de 2012, os municípios devem criar um mapeamento das áreas
suscetíveis a catástrofes e elaborar um plano de contingência para a redução
do risco, a partir de Plano Diretor. Assim, torna-se possível descobrir as
causas dos problemas e corrigi-las antes mesmo de ocorrerem (FELTRIN et
al, 2012).
160
em regime individual ou familiar, de lenha para
consumo doméstico, e a limpeza de pastagens ou
culturas em propriedades particulares;
II - zelar pela observância das normas de
controle e proteção ambiental, em articulação com
órgãos federais, estaduais e municipais;
III - planejar, propor e coordenar a gestão
ambiental integrada no Estado, com vistas à
manutenção dos ecossistemas e ao desenvolvimento
sustentável;
IV - articular-se com os organismos que
atuam na área de meio ambiente com a finalidade de
garantir a execução da política ambiental;
V - estabelecer e consolidar, em conjunto com
órgãos e entidades que atuam na área ambiental, as
normas técnicas a serem por eles observadas;
VI - orientar e coordenar tecnicamente,
quanto ao aspecto ambiental, os órgãos e as
entidades que atuam na área do meio ambiente;
VII - Marcela Bastos
<marcellamaryabastos@gmail.com>identificar os
recursos naturais do Estado, com vistas à
compatibilização das medidas preservacionistas e
conservacionistas e à exploração racional, conforme
as diretrizes do desenvolvimento sustentável;
VIII - propor e coordenar a implantação de
unidades de conservação de uso direto e indireto
sob jurisdição estadual;
161
IX - coordenar planos, programas e projetos
de proteção de mananciais;
X - representar o Governo do Estado de
Minas Gerais no Conselho Nacional de Meio
Ambiente - CONAMA - e no Conselho Nacional de
Recursos Naturais Renováveis;
XI - coordenar planos, programas e
projetos de educação ambiental;
XII - coordenar o zoneamento ambiental no
Estado.
162
mau desempenho da estrutura da barragem. O potencial
de dano é função das características intrínsecas da
barragem: altura, volume de reservatório, existência de
vidas humanas e/ou de instalações de valor econômico a
jusante, e possibilidade de impacto sobre o meio
ambiente, independentemente da eficácia do sistema de
gestão dos riscos que seja aplicado.
IV - Risco: Probabilidade e severidade de um efeito
adverso para a saúde, para a propriedade ou para o meio
ambiente. O risco é avaliado em função das condições de
implantação da barragem e da eficácia do sistema de
gestão.
V. Altura da barragem: É o maior desnível entre a
cota da crista da barragem (topo) e a cota do pé do talude
de jusante (talude externo).
VI. Volume do reservatório: É o volume total do
material, líquido e/ou sólido, depositado após a
construção da barragem e durante os possíveis
alteamentos, nele incluindo o material de assoreamento,
vinculado ou não às atividades do empreendimento. Para
isto, sempre se deve tomar como base a topografia da
fundação do reservatório.
VII. Volume do reservatório de contenção de
resíduos sólidos: É o volume total dos sólidos somado ao
volume total de água captada no período de cheias,
volume este considerado significativo.
VIII. Estéril: É o material descartado, retirado
durante o processo de lavra do minério.
IX. Rejeito: É o material descartado, resultante do
processo de beneficiamento do minério (lavagem,
moagem, britagem, tratamento químico, etc.)
163
X. Empreendedor: representante legal pelo
empreendimento industrial ou minerário onde se situa a
barragem.
XI. Porte da barragem e porte do reservatório: O
porte de uma barragem é determinado pela sua altura e o
porte de um reservatório é determinado pelo seu volume.
do governo de Minas Gerais após o mesmo admitir que seus órgãos quase não
tomavam parte dos fomentos e execuções das ações relativas aos setores de
geologia e de mineração. Para solucionar este problema, algumas medidas
tomadas pelo governo foram: a criação da Secretaria de Geologia, Mineração
e Transformação Mineral; a reestruturação do Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM) e também da Companhia de Recursos Minerais
(CPRM); a criação de uma agência para regulamentação do setor mineral; a
realização de levantamentos geológicos e geofísicos no país; e uma junção
maior entre os poderes da união, dos estados e dos municípios para solução
das questões concernentes à mineração (ALVES, 2007). Dentre os projetos
desenvolvidos pelo governo, destaca-se a “Carta Geológica do Brasil ao
Milionésimo”, de suma importância por ser um repositório de informações
geológicas em meio digital, associado ao sistema GEOBANK, que é um
conjunto de bases de dados relacionais (SCHOBBENHAUS et al, 2003).
Souza (2019) ainda reitera que ao longo do tempo foram publicadas
outras normas a respeito do assunto: a Lei nº 15.056/2004 (MINAS GERAIS,
2004); as Deliberações Normativas nº 87/2005 (COPAM, 2005) e 124/2008
(COPAM, 2008); o Decreto estadual nº 46.993/2016 (MINAS GERAIS,
2016); a Lei estadual nº 23.291/2019 (MINAS GERAIS, 2019); e a
164
Resolução nº 2784/2019 (SEMAD & FEAM, 2019). No entanto, a
primeira norma que regulamentou as barragens de rejeito do Brasil foi a
Portaria n° 237, de 18 de outubro de 2001(DNPM, 2001), que dispõe:
165
laudo técnico do Agente Fiscalizador, serem
reduzidos, uma vez constatada situação de grave e
iminente risco.
Art. 8º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua
publicação.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ABNT. NBR nº 13.028, de 2006. Mineração – Elaboração e
apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos,
contenção de sedimentos e reservação de água. Brasil, 2006.
168
AZAM, Shahid; LI, Qiren. Tailings dam failures: A review of the last
one hundred years. Geotechnical News. v. 28(4), p. 50-54. Breitenbach,
2010.
170
ESPÓSITO, T. J. Metodologia probabilística e observacional aplicada
a barragens de rejeito construídas por aterro hidráulico. 2000. 363 f.
Tese (Doutorado em Geotecnia) – Universidade Federal de Brasília, Brasília,
2000.
173
A AMPLITUDE DA PSICOPATIA NOS LIMIARES DO DIREITO
PENAL BRASILEIRO E DA PSICANÁLISE
René Dentz1
Gabriela Gois2
Raquel Araújo3
RESUMO
Haja vista que crimes sempre existiram, mas nos tempos atuais a violência
vem se agravando e a sociedade tem conhecimento dos fatos relatados
amplamente pelas mídias, observa-se com facilidade o modus operandi dos
acusados que são acometidos de insólita crueldade e frieza com suas vítimas.
O presente trabalho consiste em um estudo sobre como a Psicanálise trata os
desvios de comportamento ligados à criminalidade e aponta algumas análises
das leis do Código Penal Brasileiro sobre aplicação das penas, culpabilidade,
imputabilidade e inimputabilidade. Afinal, antes de um encaminhamento
jurídico do indivíduo, é necessário compreender sua personalidade para que
haja um desfecho mais adequado de seu caso e para que as penas aplicadas
sejam mais justas.
INTRODUÇÃO
174
psicopata diz que ama, ele mente) e não se arrepende do que faz nem tão
pouco se emociona com nada. A psicopatia fica adormecida no psicopata até
um dia em que é despertada pela maldade. Para a psiquiatria, psicologia ou
psicanálise, esse distúrbio é um tipo de transtorno da personalidade, uma vez
que esses indivíduos se mostram egocêntricos, manipuladores, impulsivos,
megalômanos, controladores, intimidadores e não têm medo da punição.
Todavia, esse comportamento não é classificado como uma doença,
mas uma perturbação na afetividade do sujeito demonstrada quando o mesmo
desrespeita e viola os direitos dos outros, desrespeita leis e costumes sociais,
desde tenra idade, infância ou adolescência, mente de forma contumaz,
apresenta promiscuidade sexual, ausência de culpa, descontrole emocional e
todos esses fatores aumentam durante a vida e deflagram durante a fase
adulta. O que se vê é um criminoso sem escrúpulos, capaz de premeditar um
crime, de executá-lo friamente e de maneira bárbara e impiedosa. Contudo,
nem sempre o psicopata é criminoso, quando isso ocorre, existem programas
para tratar jovens insensíveis e, assim, evitar que se transformem em
psicopatas em idade adulta.
A psiquiatria forense estuda a mente criminosa e o critério utilizado
pela perícia médica para comprovar alguma doença mental é o biopsicológico,
indispensável para casos a serem verificados pelo juiz devido à sua alta
periculosidade, sendo impetradas medidas de segurança preventivas por
tempo indeterminado para os inimputáveis e os semi-imputáveis.
Segundo a Dra. June, “a psicopatia surgiu na Alemanha, no início do
século XX, quando coube ao psiquiatra Kurt Schneider definir o indivíduo
psicopata como portador de uma personalidade anormal, insensível aos
sentimentos alheios, com ausência total de remorso, que assume um
comportamento delituoso com diagnóstico de psicopatia ou transtorno de
175
personalidade antissocial, sociopata, transtorno de caráter, transtorno
sociopático ou transtorno dissocial”.
Todas as alterações de conduta geradas pela delinquência juvenil
resultam de maus tratos na infância, de convivência abusiva com pessoas
autoritárias sem atenção e carinho, de reincidências criminais, de condições
de extrema pobreza ou de famílias desestruturadas tornam a pessoa que já
tem dentro dela a semente da maldade a autora de mais perversos atos de
caráter violento, sem empatia com a sociedade.
Os psicopatas na pós-modernidade são considerados serial killers em
potencial e há necessidade de mantê-los contidos nas Unidades Experimentais
de Saúde (UES), que são locais que recebem jovens maiores de idade que
cometeram atos infracionais graves e já cumpriram o período de internação na
Fundação Casa, onde ocorre o confinamento sem prazo definido devido ao
alto grau de periculosidade que apresentam para a sociedade. A psicopatia
não tem tratamento, porque os psicopatas desenvolvem obsessões com
instinto de vingança, não têm compaixão por ninguém, a sua maior motivação
para a vida é a afirmação violenta do próprio eu, são capazes de matar os
próprios pais e depois saírem para se divertir. Além disso, têm capacidade de
mentir, enganar os fracos e de boa-fé e estouram com insulto, frustração,
ameaça, voltando a agir como se nada tivesse acontecido, completamente sem
emoção (Henriques, 2009).
Os distúrbios mentais catalogados pelo CID-10 (Classificação
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) e pelos DSM’s
(Diagnostic and Mental Disorders ou Manual de diagnósticos e Estatítica de
Transtornos Mentais), concluem que a psicopatia não é doença e sim
transtorno da personalidade. E por não ser uma doença, por não ter um
tratamento efetivo eles devem ser privados de sua liberdade em presídios de
segurança máxima ou em manicômios judiciais, que abrigam asilo de
176
alienados e prisão. Como no Brasil não existe pena de caráter perpétuo as
sanções em nosso ordenamento jurídico ficam limitadas ao cerceamento da
liberdade. E por não apresentarem melhoras em seu comportamento psíquico
não podem ser ressocializados. A legislação devida ao psicopata disciplina
especificamente o art.26 do CPB, pois o criminoso ao acabar de cumprir a
pena poderá apresentar fortes indícios de voltar a praticar novos delitos
pondo em risco a sociedade.
179
principal causa das patologias mentais, uma vez que um indivíduo perfeito
passaria ao longo de sua vida por um processo de decadência progressiva e a
ideia moreliana baseia-se no cristianismo, em que o pecado original dentre
outros tantos males são transmitidos através das gerações. Em 1857, em sua
obra Traité des dégénérescences, Morel relacionou os quadros clínicos com as
causas biológicas dos diagnósticos (PEREIRA, 2008).
O termo “psicopático” (do grego: psyché = alma; pathos = paixão)
citado por Koch referia-se aos doentes mentais em modo amplo, pois naquela
época os estudos iniciavam-se e ainda não haviam correlacionado a psicopatia
ao caráter antissocial (HENRIQUES, 2009). De posse desse conceito geral,
Freud escreveu, em 1906, a obra “Personagens psicopáticos no palco”, onde
narrou personagens como Hamlet (de Shakespeare) que era normal e tornou-
se um psicopata com o tempo. De acordo com Freud, “criminosos em
consequência de um sentimento de culpa” eram frequentemente seus jovens
pacientes arrependidos de seus erros, que teriam necessidade de externar seu
sentimento de culpa cometendo seus crimes para se sentirem aliviados, sendo
que este sentimento se originara do Complexo de Édipo (onde o filho matou o
pai para ter uma relação incestuosa com a mãe).
Em estudos mais recentes, o psiquiatra canadense Robert Hare,
indignado com a falha da justiça de seu país em punir devidamente os
acusados, começou a estudar os detentos de um presídio de segurança
máxima. Concluiu que os presidiários eram psicopatas, fazendo uma analogia
com o gato, que não pensa no que o rato sente e só o enxerga como comida,
mas a diferença é que o rato percebe seu predador e o ser humano não
consegue. A partir disso dos dados coletados com maior frequência em sua
amostra de 143 homens brancos, com idades que variavam entre 18 a 53
anos, criou um método de análise do transtorno com 22 critérios de análise:
1- charme superficial;
180
2- diagnóstico prévio como psicopata;
3- egocentrismo e superestima;
4- tendência ao tédio e/ou baixa tolerância à frustração;
5- mentira patológica;
6- manipulação e/ou falta de sinceridade;
7- ausência de remorso ou culpa;
8- insensibilidade e frieza;
9- crueldade e falta de empatia;
10- estilo de vida parasitário;
11- pobre controle comportamental e temperamento explosivo;
12- promiscuidade sexual;
13- transtornos de conduta na infância;
14- ausência de metas realistas a longo prazo;
15- impulsividade;
16- comportamento irresponsável como pai;
17- problemas conjugais frequentes;
18- delinquência juvenil
19- risco em caso de liberdade condicional;
20- fracasso em aceitar responsabilidades pelas próprias ações;
21- diferentes tipos de delito;
22- abuso de álcool ou uso de drogas sem ser necessariamente causado
pelo comportamento antissocial.
181
quando vários soldados voltaram da guerra com problemas mentais, e foi
responsável por criar uma nova nomenclatura de transtornos mentais. A
Perturbação Sociopática da Personalidade é definida conforme o DSM I da
seguinte maneira:
182
O DSM II, de 1968, não alterou muito a primeira edição. O termo
“Perturbação Sociopática da Personalidade” mudou para “Personalidade
Antissocial”, sendo descrito da seguinte maneira:
Porém, em 1987 foi publicado o DSM III, o qual classificou a psicopatia como
“Transtorno de Personalidade Antissocial” e houve uma grande mudança,
pois passou a predominar a psiquiatria biológica. Os dois princípios que
vigoravam a partir de então foram: as descrições dos sintomas e um sistema
de classificação que desconsiderara a etiologia dos transtornos.
No DSM IV, publicado em 1994, não houve nenhuma mudança
significativa em relação ao anterior, mas o DSM IV TR, classifica o
Transtorno de Personalidade Antissocial como “um padrão global de
desrespeito e violação dos direitos alheios, que se manifesta na infância ou no
começo da adolescência e continua na vida adulta (...)” (DSM IV TR, 2000, p.
656).
183
O DSM5 foi publicado em 2013, sendo a versão mais atual do manual
e continua sendo utilizado mundialmente para descrever os transtornos
mentais (SANTOS, 2013).
184
atuação específica do direito penal aos que precisam de internação (CORREA,
1999).
186
manicômios judiciais, mas a falha da norma foi não especificar quais são os
tipos distúrbios a que se referem, poderiam ser, por exemplo, além da
psicopatia: esquizofrenia, psicose maníaco-depressiva, paranoia, epilepsia,
demência senil, psicose alcoólica e sonambulismo (ALVAREZ, 2004).
De acordo com o DSMIV, o indivíduo para ser considerado portador
do transtorno de personalidade antissocial deve ter atingido a maioridade (18
anos) e deve ter tido desde antes dos 15 anos de idade um histórico de
transtorno de conduta. Conforme descrito por Henriques (2009), apesar de
ser comum rotular um assassino de ser psicopata, o conceito se aplica a outras
pessoas que tenham sido corrompidas por política, dinheiro ou fanatismo,
bem como terroristas, chefes de Estado e até mesmo religiosos, que se passam
por pessoas normais e, no entanto, não tem escrúpulos.
187
Em consoante, Pereira (2008) alega que o Direito Penal Brasileiro deveria
punir mesmo o sujeito portador de sofrimento mental, a fim de livrar a
sociedade do perigo, desde que este tenha consciência de seus atos.
Entretanto, o artigo 98 do código penal destaca que:
188
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
189
ALVAREZ, Marcos César. A criminologia no Brasil ou como tratar
desigualmente os desiguais. Dados - Revista de Ciências Sociais. v. 45, n.
4, p. 677-704. Rio de Janeiro, 2002.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-
52582002000400005&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 19 de fevereiro de 2020.
191
SANTOS, Maria Josefina Medeiros. Sob o véu da psicopatia. 2013. 160 f.
Dissertação de Mestrado em Psicologia. Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas - Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2013.
192
INTOLERÂNCIA: SOMOS INTOLERANTES OU IGNORANTES AO
NÃO ACEITARMOS AS ESCOLHAS ALHEIAS?
Gilson Almeida1
Gilson Félix2
Antônio Carlos3
Juliana 14 Voltas4
Marlon Mesquita5
Bárbara Mendonça6
Maira C. Sales7
Magna Campos8
RESUMO:
O presente ensaio acadêmico tem como objetivo expor uma abordagem sobre
alguns tipos de intolerâncias que ocorrem entre a sociedade em principal no
Brasil, mas que também há no mundo todo, tendo em vista que abordaremos
sobre as intolerâncias: Religiosas, Política, Racial, Misoginia e Feminicídio,
Homofobia, Xenofobia e o Problemas dos meios sociais. As intolerâncias
ocorrem devido a incapacidade de cada ser aceitar a liberdade de expressão do
outro, uma vez que a nossa Constituição garante a cada cidadão Brasileiro por
lei os tais Direitos. Sendo assim, a democracia e a liberdade de expressão,
representadas pelas as diversidades e divergências sociais, culturais e
religiosas, acarretam as intolerâncias no País que acabam muito das vezes em
crimes.
INTRODUÇÃO:
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
196
revela que esse tipo de preconceito vitimiza as pessoas que seguem as religiões
de origem africana, cerca de 39% das denúncias. Eles relatam todo tipo de
violência, templos e imagens destruídos, violência física, xingamentos,
ameaças, entre outros.
O disque 100, canal de denúncia teve relatos de casos que ferem os
direitos a liberdade religiosa, o coordenador geral do canal Fabiano de Souza
Lima diz que é alta considerando o cenário nacional e afirma também que
muitas vítimas preferem ficar no anonimato e evitam denunciar. A análise
feita em 2017, que a maioria das vítimas de intolerância religiosa são
frequentadoras de religiões de origem africana, (Umbanda, Candomblé) em
seguida a católica e a evangélica.
No ano de 2017 foram registrados 169 casos registrados no Brasil:
sendo São Paulo com 35 casos, Rio de Janeiro 33 e Minas Gerais 14.
Segundo Lima quando há campanha para a conscientização do problema as
queixas aumentam, pois as pessoas se sentem encorajadas a denunciar.
Cláudio Bertolli Filho, antropólogo da Universidade Estadual Paulista
(UNESP) diz que a intolerância é a “dificuldade de conviver com a
diversidade”. Outra fator observado é que as mulheres são as mais
intolerantes ao se tratar das questões religiosas. Cita-se o caso da pastora
Zélia Ribeiro que quebrou a marteladas uma imagem de Nossa Senhora
Aparecida, da Igreja Evangélica Razão de Viver. A atitude da pastora causou
revolta e ela pediu desculpas publicamente.
Na cidade de São Gonçalo uma menina de 15 anos , aluna do Colégio
Estadual Padre Manuel da Nóbrega foi vítima de intolerância religiosa, a
adolescente é candomblecista e foi humilhada por outros alunos na sala de
aula chamada de “macumbeira gorda”, quando tentou revidar foi expulsa da
aula pela professora. A garota sofria bullying constantemente e só foi tomada
uma atitude depois que a jovem foi vista chorando na sala de aula.
197
Segundo G1 novamente no Rio de Janeiro uma menina de 11 anos
que voltava com os pais de um culto de candomblé levou uma pedrada, o
ataque veio de dois homens que após atirar as pedras e insultar o grupo fugiu
em um ônibus. Outro caso ocorrido no Grajaú, um menino foi proibido de
entrar na escola porque trajava bermuda branca e guias por baixo do
uniforme, o relato veio da família que disse que o garoto sofreu discriminação
e humilhação por causa da sua religião, portanto irão processar a escola.
O jornal Extra de maio de 2018 publicou uma pesquisa que revela que
cresceu em 56% o número de casos de intolerância religiosa no Rio de
Janeiro, a comparação foi feita comparada com os primeiro 4 meses de 2017,
de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos e Política para Crianças e
Idosos (SEDHMI). Os episódios mais frequentes são templos depredados
como o centro Espírita Caboclo Pena Branca. Segundo um órgão ligado a
SEDHMI as denúncias aumentaram depois que a intolerância religiosa tornou
crime passível de punição e também houve uma maior confiança nos órgãos
de proteção.
INTOLERÂNCIA POLÍTICA
199
Mas como já fomos uma nação que tinha garantia de direitos para
poucos, ou seja nesta modalidade podemos falar que a um total descrédito na
política brasileira e como presenciamos no cenário atual onde muitos,
políticos que teriam o condão de manter a lei e a ordem se encontra-se presos
e respondendo processos por suspeita de se apropriar do dinheiro público.
Há um grande descontrole através dos que participam do meio
político onde buscam defender seus próprios interesses e consequentemente
esconder o mar de lamas que eles próprios criaram com seus sistemas, tomá-
la e dá cá com o dinheiro público.
A nação onde os que detém o poder, e que não respeita princípios
mínimo como é o caso do Brasil, o povo não acredita mais naqueles que estão
disputando cargo público, ou seja tem medo de votar e o principal ser
cúmplice do seu direito o de eleger um administrador corrupto.
Na atual conjuntura do nosso Estado democrático, que vivemos nos
dias atuais a uma forte e crescente demanda entre a população, para a eleição
do cargo a presidente da república uma vez que uma parcela da população,
estão em defesa, do grupo chamado de anti (PT) e por sua vez outro grupo se
encontra preocupado com a volta do totalitarismo, ou seja, uma volta ao
passado tenebroso vivido pelos nossos antecessores.
Deste modo, um defende a bandeira verde e amarela e o outro tem
como lema a bandeira do partido que tem como cor o vermelho, mas o mais
preocupante de tudo isso é sem dúvida alguma a incerteza que ambos os
candidatos deixa a desejar por falta de esclarecimento do seus planos de
governos.
202
chamada Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes. Tivemos também
devido á isso a criação da lei “ Maria da Penha” e a inclusão do feminicídio na
lista dos crimes hediondos. (SILVA, DUARTE,2012)
Algumas leis já são claras a respeito da igualdade e dignidade da
mulher, exemplo disso é a constituição de 1988. No entanto , o modo que a
sociedade olha a mulher é fruto de uma história onde a mulher foi reprimida
em vários sentidos , um deles é o sexual.
Até o século XVII, o sexo e a nudez eram vistos de maneira bem
natural, pela a sociedade. Com o surgimento da burguesia vitoriana, no século
XVIII, a relação sexual passa a ser vista como forma de reprodução.
No decorrer da história , os homens de posses, os que regiam a
sociedade, para eles a mulher era um objeto sexual. No entanto, a mulher
casada tinha a obrigação de ser fiel . E para os homens, passou a ser
permitida as relações extraconjugais.
O pensamento que a mulher é submissa é tão arcaico e está
entranhado na nossa cultura , que as meninas desde novas são criadas para
satisfazer os desejos masculinos e atenderem às suas expectativas .Em
Contrapartida, os homens são induzidos desde de novos às práticas sexuais e
além disso , era imposto a eles que eles eram os únicos que poderiam ter
prazer durante o ato sexual. E para que esse prazer ocorresse , o homem tinha
a obrigação de ser viril. A impotência masculina era motivo de humilhação,
conforme afirma Priore (2011) citada por Silva, Duarte (2012, p.6):
205
vítima, quando presentes “violência doméstica e familiar” ou “menosprezo ou
discriminação à condição de mulher”’’. (CONCEIÇÃO,2017, p.4)
A palavra feminicídio foi usada pela primeira vez em público pela
escritora sul-africana Diana Russel perante o tribunal internacional sobre
crimes contra as mulheres em Bruxelas em 1976. ( CONCEIÇÃO,2017, p. 4)
Em 2012 o Brasil estava na lista dos países como o maior índice de
homicídios femininos do mundo, ficamos na 7º posição entre 84 países de
acordo com o mapa da violência deixando evidente que a violência contra
mulheres na sua grande maioria ,são provenientes do ambiente doméstico.
Um grande avanço que tivemos foi a lei do feminicídio que visava diminuir os
índices dos assassinatos contra a mulher, tendo como objetivo a proteção
feminina , podendo dessa maneira comparar sua aplicabilidade no Brasil em
relação aos países da América Latina . Para isso é necessário conhecer os tipos
possíveis de feminicídios. (CONCEIÇÃO , 2017, p.5)
Os tipos de feminicídios são três: íntimos, não íntimo e por conexão.
No feminicídio íntimos, o crime é cometido pelo companheiro atual
ou ex companheiro da mulher com o qual ela teve algum tipo relacionamento.
Já no feminicídio não íntimo, o autor do crime e a vítima mulher não possui
nenhum tipo de relacionamento. E o feminicídio por conexão a vítima mulher
está no lugar errado e na hora errada ou seja o homem quer matar uma
mulher, qualquer mulher.(CONCEIÇÃO,2017,p.6)
Todo dia morrem mulheres vítima de feminicídio. Dados fornecidos
pelo em.com, afirmam que o feminicídio aumentou em 5% em 2018 em Minas
Gerais. Chegando a 106 mortes.
Segundo o (em,2018),Jaciara Sousa Nascimento, de 30 anos, estava
em casa, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, quando foi surpreendida pelo
ex-companheiro, de 21, acompanhado de um adolescente de 17. Acabou
sendo assassinada a facadas. A quilômetros de distância dali, em Lajinha, na
206
Zona da Mata, Michele Aparecida de Medeiros, de 40, foi assassinada na
frente dos filhos. O principal suspeito é o ex-marido.
São duas mulheres com histórias de vidas tão diferentes e que foram
unidas pelo destino de uma forma muito triste. Hoje elas fazem parte de uma
estatística muito preocupante , apenas nos primeiros nove meses deste ano,
106 mulheres foram assassinadas por menosprezo pela condição feminina,
discriminação ou por violência doméstica. O quadro real de feminicídio, como
são definidos esses casos, é ainda mais grave, já que não entram na estatística
casos como os das duas últimas vítimas, mortas nesta semana.(em.com,2018)
Por outro lado sabemos que, existe uma certa omissão por parte do
legislador, impossibilitando a aprovação do projeto de lei que assegure aos
homossexuais assegurando e garantindo que a punibilidade, para os crimes
de homofobia em todos os sentidos que seja agressão física verbal ou
psicológica classificando as como crime, garantindo as verdadeiramente o
direito à liberdade direito de ir e vir sem sofrer qualquer ato de violência e o
direito de ser bem tratado independente cor raça ou religião.
208
vise o em comum de toda a sociedade, caso contrário estaremos com a falsa
liberdade, que nos dar o direito de ser livre mas não nos assegura
constitucionalmente penas para estes atos preconceituosos.
209
enormes proporções, influenciando as relações sociais de classe entre trabalho
e capital.
No Brasil, o preconceito ao imigrante é histórico, remontando ao final
do século XIX, culminando com a Lei de Cotas implementada durante o
Estado Novo, em meados do século XX. O Estatuto do Estrangeiro, de 19 de
agosto de 1980, é incompatível com os direitos assegurados pela Constituição
Federal de 1988 e com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de
1948. Apesar disso o Brasil foi pioneiro, na América Latina, na criação de um
Estatuto do Refugiado, em 1997, e aguarda tramitação no Congresso de uma
nova Lei de Migração (DINIZ, 2016) .
Esse preconceito torna os imigrantes e refugiados mão-de-obra
barata, os quais, temendo constrangimentos de diversas naturezas, muitas
vezes não procuram os órgãos competentes e mantém-se em confinamento,
isolando-se em casa de amigos ou nos próprios locais de trabalho, levando a
condições análogas ao trabalho escravo.
Em termos legais, ainda há muito a ser feito no Brasil quanto aos
imigrantes e refugiados, de forma a atender suas demandas, passando pelo
seu acolhimento à manutenção de seus direitos humanos.
A Venezuela está passando por uma grave crise humanitária. Entre os
problemas enfrentados temos uma forte crise econômica, acompanhada de
hiperinflação, diminuindo o poder de compra da população e com escassez de
alimentos, remédios e de atendimento à saúde. Há, também uma crise
política, onde o Estado está se ausentando de proteger os cidadãos, violando
seus direitos fundamentais e reprimindo com força policial às manifestações
de seus habitantes.
Conforme Milesi, Coury e Rovery (2018), milhares de venezuelanos
estão deixando o país em função da crise, indo buscar proteção em outros
Estados e, segundo dados da Organização Internacional para Migrações
210
(OIM), mais de 900.000 migraram entre 2015 e 2017, principalmente para a
Colômbia. Ainda, mais de 60 mil se refugiaram no Brasil no período de 2016
a maio de 2018.
Segundo as mesmas autoras, o problema não está na quantidade de
migrantes, que poderiam facilmente ser acolhidos no país; mas que, cerca de
40 mil entraram pela fronteira com Roraima, um estado pequeno em
população (cerca de 500 mil habitantes) e que não tem condições de acolher,
abrigar e oferecer alternativas de trabalho a esse contingente.
Apesar do Governo Federal ter tomado algumas atitudes, estas não
foram suficientes, o que levou as autoridades locais a ingressarem com uma
Ação Civil Originária (ACO 3121), solicitando ao Supremo Tribunal Federal
que determine que a União assuma todo o controle policial, de saúde e
sanitário ao atendimento aos imigrantes, propondo, inclusive, o fechamento
temporário da fronteira com a Venezuela, sob a alegação de que a entrada
desordenada de venezuelanos tem causado enormes prejuízos à população,
com a aparição de doenças antes erradicadas no Brasil e com aumento da
criminalidade.
Milesi, Coury e Rovery (2018) citam que na narrativa construída na
ACO 3121 expõem-se problemas de causas estruturais e que já estavam
presentes em Roraima; que trata-se de uma argumentação discriminatória,
xenófoba, que, a partir de fatos reais chega-se a conclusões falaciosas como
atribuir o aumento dos casos de incidência de malária aos imigrantes,
enquanto a Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde afirma não haver
qualquer relação do aumento com a imigração venezuelana. Ainda, que o
aumento da criminalidade, do tráfico de drogas e armas estaria associado ao
fluxo migratório e fosse causado pelos venezuelanos; quando, sabe-se que
estes crimes na região são comandados por facções brasileiras, como o
211
Primeiro Comando da Capital (PCC), muitas vezes, de dentro de presídios na
região, e antecedem o fluxo migratório.
O fechamento da fronteira e a limitação da entrada de venezuelanos,
segundo Milesi, Coury e Rovery (2018) carecem de legalidade e ferem
dispositivos da Constituição brasileira quanto à dignidade humana, violando,
ainda, compromissos internacionais assumidos pelo Brasil no tocante ao
acolhimento de refugiados; além de ir contra o espírito da Lei de Migração
(Lei 13.445/2017) no tocante a mobilidade humana e seus direitos, mais
especificamente ao seu artigo 3º.
Alguns políticos locais têm utilizados esses mesmos discursos de
retórica xenófoba promovendo a aversão aos imigrantes, quando,
anteriormente a esse crescente fluxo migratório, mal expressavam problemas
com a imigração em suas plataformas políticas. Essa estratégia política é
nociva aos imigrantes pois, “além de não terem suas demandas reconhecidas,
passam a ser responsabilizados por todas as falhas da administração pública,
em áreas como saúde, segurança, educação, emprego e outros” (MILESI;
COURY; ROVERY, 2018, p. 64-65), tornando-os estigmatizados e culpados,
quase que automaticamente, simplesmente por pertencerem a esse grupo,
“favorecendo situações onde a discriminação e mesmo a violência contra
imigrantes passam a ser consideradas como aceitáveis” (idem) e ressaltam:
A importância e a necessidade de desenvolver ações
e atividades que contribuam para que a sociedade
tenha uma percepção realista e positiva da
migração, percebendo que não se trata de um
problema ou de uma catástrofe, mas, sim, de um
fato social, uma grande oportunidade para o
desenvolvimento, a colaboração recíproca, a
acolhida humanitária e o progresso social [...]
surgem, assim, oportunidades para que o convívio
mútuo resulte no aumento da consciência da
população local sobre os aspectos positivos da
migração e para o bem dos migrantes, não como
212
privilégio, mas simplesmente como atitude
humanitária e como tratamento digno e igualitário
com os nacionais, princípio consagrado em nossa
Carta Magna (MILESI; COURY; ROVERY, 2018, p.
66-67).
213
agora, não se sentem acolhidos em seu refúgio. Fatos semelhantes já haviam
ocorridos em Boa Vista, causando vítimas com queimaduras de segundo grau.
Fato é que as autoridades brasileiras pouco têm feito para atender os
refugiados, acolhendo-os de maneira humanitária, garantindo-lhes direitos
fundamentais e não os redistribuindo pelo país, a fim de não causar grandes
impactos nos locais de entrada no país.
Hoje grande parte das pessoas possuem redes sociais, entre elas o
Twitter, Facebook, Instagram e o WhatsApp redes que são utilizadas como
meio de comunicação e postagens de fotos estão cada dia se degradando mais,
e vindo sendo utilizadas como meio de propagação de ódio, o que é conhecido
como Cyberbullying no qual os comentários maldosos são feitos por meios de
redes sociais.
Os discursos são geralmente feitos por pessoas que acham que estão
apenas dando uma simples opinião um comentário que dizem não ter
maldade, mas o modo que os comentários são feitos da para notar que são
feitos em tom de maldade para deixar quem lê se sentindo mal como se aquilo
que o outro escreveu fosse a verdade absoluta. A pessoa que escreve os
comentários não pensam no mal que irá causar ao outro. Esses discursos já
existiam antes porém de uma forma mais restrita ou seja não era divulgado
para que todos vissem, já nos dias atuais com o meio comunicacional fica mais
214
fácil distribuir esses comentários maldosos, já não querem mais saber o que
realmente o outro é e o que ele precisaria ver ou ouvir para ter um dia melhor,
ao mesmo tempo que as redes aproximam estão afastando as pessoas, Santos
e Silva (2013) Apud Nandi,2018.
Fica mais difícil de ser reconhecidos os que se escondem por contas
fakes, fazem isso em busca de não receberem uma punição pois utilizando
dessas contas podem piorar seus comentários e deixá-los ainda mais
absurdos que o normal. Os discursos que são feitos nas redes buscam uma
certa audiência pois procuram por atenção das pessoas que também utilizam
do meio de comunicação no intuito de que elas concordem com o que foi dito
por eles, e acabam realmente encontrando pessoas que acham graça e
concordam com seus discursos de ódio, fazendo com que eles pensem ser os
donos da razão e continuem tendo esses tipos de atitudes com o outro.
216
ela fora do Brasil ela não seria nem achada e nem punida, sobre a crítica
Galhiasso respondeu ‘’Numa sociedade racista não basta não ser racista é
necessário ser anti-racista’’ diz Galhiasso, Bruno 2018, e realmente nossa
sociedade está precisando de mais compaixão uns com os outros, não foi
somente uma vez que a menina Titi sofreu ataques, houve uma vez que uma
moça fez um comentário totalmente desnecessário dizendo ‘’Você e seu
marido até combina, mas a criança que vocês adotaram não combinou muito,
porque ela é pretinha e lugar de preto e na África’’ Diz Socialitte, o perfil da
moça foi excluído mas isso não diminui o dano causado no psicológico de uma
criança que ao saber disso tudo pode passar a se olhar diferente e não gostar
do que vê no espelho passando a enxergar defeitos onde não existem. (Jornal
OGlobo,10.10.2017) Houve mais casos entre os famosos desse mesmo tipo,
usando ofensas e muito deboche esse segundo caso ocorreu com a menina
Rafaella Justus, filha de Ticiane Pinheiro e Roberto Justus na qual foi
chamada de Boneco Chucky pela mesma mulher que atacou a Titi, a mulher
que fez o comentário sobre Rafaella até cogitou a hipótese de que ela foi
trocada pelo Chucky na maternidade. Essa mulher na verdade parecia querer
chamar atenção ter um momento de fama mesmo que fosse passageiro, então
o meio mais fácil seria atacando os famosos.
Dessa vez as pessoas não deixaram passar em branco e se revoltaram
contra a socialite, então entraram no seu perfil e começaram a xingá-la
chamando-a de ‘’lixo’’,’’ridícula’’,’’’’parece o demônio em pessoa e quer falar
de uma criança. Dinheiro não traz humanidade’ ’e ‘’ consegue ser horrorosa
bruxa’’. (Otvfoco,2017)Essa mulher causou muita revolta nas redes, e foi
denunciada pelos pais das meninas. O que não percebemos é que esses tipos
de comentários vem até mesmo por brincadeiras em tons maliciosos que só é
percebido pela pessoa afetada quem vê por fora acaba denominando de
‘’mimimi’’ e frescura. Os casos que ocorrem com pessoas normais não chegam
217
a ser alarmados para a justiça. o que acaba fazendo a pessoa afetada corrigir o
outro que a afetou com as próprias mãos, muitas vezes atos impensados e
inconscientes que quando se nota a besteira já está feita.
Nota-se que vem crescendo as vinganças das pessoas que sofrem
preconceitos, acabam entrando nas escolas com armas e facas em busca de
punir quem debochou e riu dos comentários em busca de afetar somente o que
fez as críticas acaba afetando também todos que estão no local, um ato que
começa com risada termina em choros dos familiares que muitas vezes não
sabiam do que se passava com seus filhos. Somos uma sociedade que muitas
vezes não aceitamos brincadeiras como antes, levam-se tudo ao extremo e
acabam gerando muitas consequências indesejáveis.
Conclui-se então que para melhorar o ambiente virtual precisamos
respeitar uns aos outros, evitar brigas e discussões desnecessárias, um
ambiente virtual serve para se divertir compartilhar ideias e conversar com
parentes e amigos distantes, ja tem tanta briga entre as pessoas por toda
parte, por que brigar pelas redes sociais se o melhor é se distrair ?!
Há normas que tentam pacificar as brigas mas nem sempre tem o
alcance de todas, no entanto devemos ter consciência de que não é bom tratar
o outro como não gostaríamos de ser tratados, o respeito é muito importante
para que possamos viver bem uns com os outros. Quando se trata de ofensas
criticando os outros pode ser que nem sempre seja por maldade mas depende
de quem está lendo e do tom que se lê, pois a pessoa pode levar como ofensa o
que de início seria só uma brincadeira sem maldade, porém destaca-se um
fato que pode acontecer com qualquer um de nós como o uso de fotos que não
são de autoria própria sem a permissão do dono da imagem, e com isso
ameaça a pessoa exemplo claro desse fato é quando um ex posta uma foto
íntima de sua antiga companheira o que se torna um pesadelo para ela e de
218
difícil conserto pois, depois da foto ter sido espalhada e compartilhada por
muitos não se tem mais alcance de onde ela pode ter chegado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
REFERÊNCIAS
219
BANDEIRA, Lourdes; BATISTA, Anália Soria. Preconceito e
discriminação como expressão de violência. 2002. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11632.pdf. Acesso em: 3 out. 2018.
https://oglobo.globo.com/rio/filha-de-giovanna-ewbank-bruno-gagliasso-
vitima-de-racismo-22117146 .Acesso em 10.10.18 às 23:59).
https://www.otvfoco.com.br/socialite-que-praticou-racismo-contra-filha-de-
gagliasso-ja-ofendeu-rafaella-justus/ Acesso em:11.10.18 ás 00:28).
220
extra.globo.com/casos-de-policia/cresce-56-numero-de-casos-de-
intolerancia-religiosa-no-rio-22664492.html
https://veja.abril.com.br/brasil/brasil-tem-uma-denuncia-de-intolerancia-
religiosa-a-cada-15-horas/
https://extra.globo.com/casos-de-policia/cresce-56-numero-de-casos-de-
intolerancia-religiosa-no-rio-22664492.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/06/crianca-e-vitima-de-
intolerancia-religiosa-no-rio.html
221
CONSTITUIONALIZAÇÃO DO DIREITO: CONSTITUCIONALIDADE
DA LEI 13.491/2017: (DECRETO LEI Nº 3.914/1941) X (DECRETO
LEI Nº 1.001/1969) E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A
HARMONIA DO SISTEMA JUDICIÁRIO BRASILEIRO.
RESUMO:
INTRODUÇÃO:
222
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SUAS MODIFICAÇÕES, DE
ACORDO COM EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE:
223
A formação da sociedade brasileira tem se estruturado a partir das
adequações das Constituições no decorrer do tempo. Desta forma, o Estado
Brasileiro foi construído e perpassando por 07 (sete) constituições: Sendo 01
(uma) no período monárquico e 06 (seis) no período republicano. Atualmente
está vigente a Constituição Federal que foi promulgada em 1988, que foi
descrita como “Constituição Cidadã”, que possui como um de seus
fundamentos principais a concessão de maior liberdade e direitos ao cidadão,
mantendo o Estado Republicano Presidencialista. Na história das
Constituições brasileiras, ocorreram várias alternâncias entre os regimes
fechados e mais democráticos, com importantes modificações sociais e
políticas para o país.
Percebe-se que no transcorrer destes 195anos desde a 1ª
Constituição, perpassamos por 07 Constituições, sendo que esta última de
1988 já conta com 31 anos e várias Emendas Constitucionais. Estas Emendas
Constitucionais São devidas às necessidades de adequações do ordenamento
jurídico aos anseios do povo. Sob este enfoque, percebe-se que devido à
evolução da sociedade, os ilícitos penais e as necessidades da população
mudam, com o passar do tempo e tais mudanças fazem com que o
ordenamento jurídico nacional seja reformulado para atender de melhor
forma os anseios da sociedade.
A Constituição Federal promulgada em 05/10/1988 recepcionou
algumas normas já pré-existentes, dentre as quais: O Decreto Lei Nº
3.914/1941 que trata do Código Penal (CP) ao qual estão sujeitos todos os
civis, este atualmente é composto por 361 artigos. E o Decreto Lei Nº
1.001/1969 que trata do Código Penal Militar (CPM) ao qual estão sujeitos os
Militares das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) e também os
224
Policiais Militares e Bombeiros Militares dos 26 (vinte e seis) Estados e do DF
que atualmente é formado por 410 artigos.
A Constituição Cidadã é uma constituição estatizante, que gerou
dezenas de direitos para todos os cidadãos, sem discriminar de onde viriam os
recursos para garanti-los. Esta é a terceira constituição mais extensa do
mundo, com 64.488 palavras e incontáveis direitos que atualmente são
impossíveis de serem garantidos pelo Estado. A estrutura administrativa
descrita nesta Constituição é muito complexa e torna a máquina pública muito
dispendiosa, acabando assim por gerar mais problemas do que solucionar os
já pré-existentes.
O Código Penal entrou em vigor em 01/01/1942, cujo Presidente a
época era Getúlio Vargas, que se formou em direito em 1907 e chegou a
trabalhar como promotor público na cidade de Porto Alegre. Vargas quando
chegou à presidência passou a Governar o País de forma ditatorial, apesar de
sua formação na área do direito.
O Código Penal Brasileiro, já passou por mais de 100 (cem) alterações
tais como, por exemplo:
- A Lei Nº 13.654, de 23/04/2018 dispõe sobre os crimes de furto
qualificado e de roubo quando envolvam explosivos e do crime de roubo
praticado com emprego de arma de fogo ou do qual resulte lesão corporal
grave;
- A Lei Nº 13.531, de 07/12/2017, dá nova redação ao inciso III do
parágrafo único do art. 163 e ao § 6º do art. 180 do Decreto-Lei nº 2.848, de
7/12/1940;
- A Lei Nº 13.104, de 09/05/2015, que prevê o feminicídio como
circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072,
de 25/07/1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos,
dentre outras.
225
Já o CPM entrou em vigor em 01/01/1970, cujo Presidente era
Emílio Garrastazu Médici, militar, que chegou ao posto de General do
Exército, sendo decretado em período de exceção e que carece de atualizações,
até a edição da Lei 13.491/2017, este ainda não havia passado por alteração
alguma. Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica
Militar, usando das atribuições que lhes foram conferidas pelo o art. 3º do AI
nº 16, de 14/11/1969, combinado com o § 1° do art. 2°, do AI n° 5, de
13/12/1968, decretaram o CPM.
A manutenção de ambos os códigos penais, um para os “civis” e outro
para os “militares”, se faz necessário devido à particularidade da função
militar (seja atuando como militar das forças armadas, seja atuando com
militares estaduais, policiais ou bombeiros) perante a sociedade. No entanto,
ambos os Códigos Penais carecem de atualizações para melhor garantir os
preceitos constitucionais previstos na CF/1988 e também acompanhar os
avanços da sociedade.
227
patente dos oficiais e da graduação das praças). Os crimes militares em tempo
de paz estão definidos no Art. 9º do CPM, este foi alterado pela “Lei da sexta-
feira XIII”, apelido dado a Lei 13.491/17 pelo Dr. Jorge César de Assis. Esta
trouxe uma nova redação para o artigo 9º, inciso II e acréscimo dos
parágrafos 1º, 2º, incisos I, II, III e alíneas a, b, c, d, conforme transcrito
abaixo.
228
III – de atividade de natureza militar, de operação
de paz, de garantia da lei e da ordem ou de
atribuição subsidiária, realizadas em conformidade
com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e
na forma dos seguintes diplomas legais:
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 -
Código Brasileiro de Aeronáutica;
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;
230
assim a participação a participação popular direta dos membros de toda a
sociedade nos julgamentos proferidos pelo Poder Judiciário.
É dominante o entendimento jurisprudencial que compreende que a
alteração da competência criminal (Justiça Comum / Justiça Militar),
decorrente de lei que altere o juízo em razão da matéria, não viola o princípio
do juiz natural (juiz competente). A determinação do juízo competente para a
causa ocorrerá com base em critérios impessoais, objetivos e pré-
estabelecidos. Configurando-se assim a garantia fundamental não
expressamente prevista, que é o resultado da junção de dois dispositivos
constitucionais:
- Proibição de juízo ou tribunal de exceção (aquele designado ou
criado, por deliberação legislativa ou não, para julgar determinado caso).
- Ninguém será processado senão pela autoridade competente.
A garantia do juiz natural consiste na exigência da imparcialidade e da
independência dos magistrados.
Está previsto como princípio geral do direito que as normas limitem-
se no tempo e no espaço, ou seja, devem ser aplicadas em um determinado
território e em um determinado lapso temporal. Somente haverá efeitos
retroativos na lei penal (material), quando esta for mais benéfica para o réu.
Aplica-se desta forma, o tempus regitactum, ou seja, o tempo rege a ação.
Após a promulgação da lei Nº 13.491/2017, ocorreu à alteração do
art. 9º do Decreto Lei Nº 1.001/196, ocasionando assim o fenômeno
denominado heterotopia (norma mista – que possui caráter processual e
material), situação em que, apesar do conteúdo da norma conferir-lhe uma
determinada natureza, encontra-se esta já prevista em outro diploma de
natureza distinto). Desde a edição da Lei da sexta-feira XIII, todos os
processos que tramitavam na Justiça Comum Estadual ou Federal, que
envolvessem militar, em razão da função/atuação, deverão ser encaminhados
231
à JM da União ou à JM dos Estados, pois houve alteração da competência em
razão da matéria.
De acordo com o Dr. Fernando Galvão da Rocha5, este ao versar sobre
a Lei 13.491/2017, relata a grande dificuldade que os operadores do direito
encontram ao estudarem a matéria, ao depararem com dois Códigos Penais
(militar/comum), sendo que cada qual possui uma parte geral distinta uma da
outra. Isto devido ao fato destas partes não serem gerais e sim parciais. O
legislador poderia resolver esta situação se a parte geral do Código Penal
Militar (CPM)fosse “mais enxuta” e abordasse somente questões mais
específicas do universo castrense. Deveria ocorrer a conciliação do CPM com
o art. 12 do CP, no entanto a parte geral do CPM repete várias questões da
parte geral do CP, ocasionando assim uma dificuldade absurda. Desta forma,
introduz-se a ideia de que há no Sistema Judiciário brasileiro da coexistência
de duas teorias do crime, sendo uma pra o crime penal comum e outra para o
crime penal militar, ideia esta dificilmente aceitável.
Não é plausível a afirmativa de que o CPM é mais gravoso que o CP,
ou que a existência do CPM é devido à necessidade de proteção dos militares,
pois cada Código Penal visa proteger o mesmo bem jurídico tutelado, mesmo
estando estes descritos em instrumentos distintos devido às particularidades
das ações militares/policias. Pois no CPM, não há a previsão de pena
restritiva de direito, como ocorre no Código Penal comum. Desta forma, se
um determinado militar, incorrer em crime previsto nas Leis de Licitações,
qual seria a pena imposta a ele, já que no CPM não há a previsão de instituição
de pena restritiva de direito?
5M.mo.
Dr. Fernando Galvão da Rocha, Juiz Civil, discorreu sobre o assunto em PAINEL DE
DEBATES realizado no TJMMG em 19/06/17.
232
QUANTO AO CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI
13.491/17:
233
- ADI nº 5901: Esta foi interposta pelo SOL, que questiona o
tratamento dado aos militares das forças Armadas;
- ADI nº 5032: Foi ajuizada pelo PGR no STF, esta questiona o
dispositivo de LC, que insere na competência da JM o julgamento de crimes
cometidos no exercício das atribuições subsidiárias das Forças Armadas. Tem
como objetivo precípuo, a declaração da inconstitucionalidade do art. 15, §
7º, da LC 97/99 (emprego das Forças Armadas), que inseriu na competência
da JM o julgamento de crimes cometidos no exercício das atribuições
subsidiárias das Forças armadas.
Para o relator, a Lei Complementar limitou-se a preencher o espaço
de conformação franqueado pela Constituição Federal para o estabelecimento
de normas legais na organização, preparo e emprego das Forças Armadas. Na
sua avaliação, a atuação na garantia da lei e da ordem, no patrulhamento de
fronteiras e nas ações de defesa civil representam a concretização da essência
do Estatuto Militar em todo Estado Moderno – “a proteção, mesmo em
tempos de paz, da soberania”.
O ministro considerou imprópria a tentativa de igualar as Forças
Armadas às instituições policiais ordinárias, sustentando que a ação militar na
garantia da paz e da ordem social responde a parâmetros diversos, tanto em
virtude da formação e do treinamento específicos de seus membros quanto
pelo reconhecimento da finalidade diversa a que se propõe. Os policiais,
explicou, atuam na esfera de combate à prática de ilícitos, enquanto as Forças
Armadas são acionadas quando verificada a insuficiência daquelas para
intervir. “Seja no combate ao crime organizado nas favelas, nas fronteiras, nas
eleições livres ou em ações de defesa civil, as Forças Armadas desempenham
papel constitucionalmente atribuído na garantia da soberania e da ordem
democrática, em dimensão qualitativamente diversa daquela realizada pelas
forças ordinárias de segurança”, assinalou.
234
5. OBSERVAÇÕES FINAIS:
REFERÊNCIAS
236
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituição_Compilado.htm>.
BRASIL. Decreto-Lei Nº 2.848, de 7de Dezembro de1940. Código Penal.
237
PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE A RESOLUÇÃO 2.232/19 DO
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA E A AUTONOMIA DA
MULHER GESTANTE
RESUMO
INTRODUÇÃO
239
consonância com o ordenamento jurídico brasileiro, levando em consideração
o direito fundamental à autonomia corporal.
Assim, o presente artigo visa ampliar o debate sobre esta importante
temática e propor algumas soluções para os problemas apresentados, sem a
pretensão de esgotar a matéria. Tentar responder a estas questões, de forma
objetiva e resumida, é o objeto de investigação deste trabalho.
240
Ousa-se, assim, definir a autonomia privada como o
direito e garantia fundamental que confere à pessoa
o poder de se autodeterminar, voluntariamente,
estabelecendo livremente as normas que regerão
suas relações privadas, bem como seus efeitos,
limitada esta ação à observância dos direitos e
garantias fundamentais da(s) pessoa(s) por ela
afetada(s) (CARMINATE, 2011. p. 134).
241
Desde o advento da Constituição Federal de 1988,
que elevou ao status
máximo no ordenamento pátrio relevantes
princípios – tais como dignidade, liberdade,
solidariedade e pluralismo – a busca pela realização
pessoal, por meio do exercício das liberdades
existenciais, passou a ser especialmente importante
para o Direito. Em momentos mais sensíveis da vida
humana, o agir livre é central
para que a pessoa defina os rumos da sua existência
de acordo com o seu projeto
de vida boa. Tais definições formam um contexto de
construção da vida privada, que deve ser respeitado
pois cada indivíduo pode perseguir os próprios
objetivos
e viver conforme o estilo de vida por ele eleito,
independentemente de ser ou
não o da maioria (TEIXEIRA; SÁ, 2018, p.
243/244)
246
A violência obstétrica existe e caracteriza-se pela
apropriação do corpo e processos
reprodutivos das mulheres pelos profissionais de
saúde, através do tratamento
desumanizado, abuso da medicalização e
patologização dos processos naturais, causando a
perda da autonomia e capacidade de decidir
livremente sobre seus corpos
e sexualidade, impactando negativamente na
qualidade de vida das mulheres (DEFENSORIA
PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2013,
p.1)
248
No entanto, a referida resolução prevê a possibilidade de se
considerar como abuso de direito da gestante o ato de recusa terapêutica por
ela praticada. Apesar de a Resolução não trazer a definição do que significa a
expressão “abuso de direito”, utiliza-se em seu art. 5º de alguns exemplos
para ilustrar o que seria este abuso. Neste sentido:
251
Ou seja, a menos que a legislação preveja, não pode o médico deixar
de guardar sigilo a respeito de informações obtidas no exercício de sua função.
Como consequência, mera Resolução não poderá, de forma alguma,
excepcionar a regra, devendo o profissional manter o sigilo das informações
obtidas no atendimento à gestante e aceitar sua recusa terapêutica.
Verifica-se que a Resolução 2.232/19 não estabelece critérios
suficientes para que a recusa terapêutica seja rejeitada pelo médico atendente,
limitando-se a apenas mencionar os casos de urgência e emergência e análise
pessoal do médico atendente no contexto do binômio mãe/feto.
Com isso, o Conselho Federal de Medicina permite que ocorra uma
conduta médica contrária à vontade da paciente, o que afronta sua dignidade e
autonomia privada, em confronto direto a todo o plexo de normas trazidas
para que a autonomia privada da gestante seja preservada.
252
procedimentos a incidirem sobre o seu corpo, uma vez que a eficácia de suas
decisões estaria sujeita às convicções pessoais do médico atendente.
Observa-se portanto, que o Conselho Federal de Medicina, entidade
deontológica existente para regulamentar a atividade dos profissionais de
medicina, estaria editando regras restritivas de direitos fundamentais para
quem não é médico, regras estas que ferem a autonomia privada das pessoas
ali envolvidas.
Discorrendo acerca da legitimidade do Conselho Federal de
Medicina em regulamentar o exercício da autonomia pelos atores envolvidos
no processo de gestação por substituição, Taisa Maria Macena de Lima e
Maria de Fátima Ferreira Sá discorrem:
255
autonomia não seria absoluta. No mesmo documento, ainda discorre sobre a
necessidade de internações compulsórias de pacientes que se negam a seguir
orientações médicas.
Diante dessa resposta, foi ajuizada ação civil pública4, onde o
Ministério Público Federal argui que os dispositivos dos arts. 5º, §2º, 6º e
10º da Resolução 2.232/19, em aplicação cumulada, dentre outros danos:
4 Ação Civil Pública nº. 5021263-50.2019.4.03.6100, disponível para consulta pública em:
http://www.jfsp.jus.br/foruns-federais/
256
princípio da reserva legal aos direitos assegurados
pela Constituição Federal de 1988, às
determinações da Organização Mundial de Saúde,
bem como ao disposto
na Convenção Interamericana para prevenir, punir e
erradicar a violência
contra a mulher – “Convenção de Belém do Pará.
(MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2019)
5“É vedado ao médico: Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal
de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso
de iminente risco de morte”.
257
outro profissional, não havendo risco iminente de morte, seja dela mesma,
seja do feto, não é possível impor a ela um tratamento que ela considera
desumano e degradante, após ser devidamente informada de todos os riscos
que envolvem sua situação.
Salienta-se que foi concedida medida liminar nos autos da referida
Ação Civil Pública, onde o magistrado suspendeu a eficácia do §2º do art. 5º,
bem como suspendeu parcialmente a eficácia dos artigos 6º e 10º,
relativamente à assistência e atendimento ao parto, todos da Resolução
2.232/19 do Conselho Federal de Medicina.
Após a regular citação, aquele Conselho de Classe não apresentou
contestação nos autos, deixando de apresentar qualquer manifestação,
conforme Cota Ministerial juntada aos autos no dia 26 de fevereiro de 2020,
além de, segundo o autor da ação, não ter dado cumprimento à decisão
liminar proferida nos autos.
Tendo em vista que o Conselho Federal de Medicina já se
pronunciou em sede extrajudicial, ocasião em que o Ministério Público
Federal entendeu não haver nenhum argumento plausível a fim de manter a
regra; e que deixou de apresentar qualquer resposta na fase judicial, espera-se
que os dispositivos sejam declarados definitivamente ineficazes, diante da
falta da total falta de legitimidade de a Resolução questionada poder trazer o
cerceamento da autonomia privada da gestante em seu ciclo gravídico-
pueperal.
CONCLUSÕES
259
flagrante limitação a um direito fundamental, sendo legítima sua limitação
apenas nas hipóteses em que se faz necessário assegurar algum outro direito
de igual estatura. Em outras palavras, a norma não possui oponibilidade erga
omnes, por padecer da democraticidade necessária, além de não ser razoável
diante do cerceamento de um direito fundamental.
A Resolução 2.232/19 do Conselho Federal de Medicina está sendo
questionada pelo Ministério Público Federal, em Ação Civil Pública, onde foi
concedida medida liminar para suspender a eficácia do §2º do art. 5º, bem
como dos artigos 6º e 10º, relativamente à assistência e atendimento ao parto.
Oportunizada resposta ao Conselho Federal de Medicina, este não
apresentou contestação e, segundo o autor da ação, não cumpriu a liminar
proferida em seus termos integrais. Espera-se que, ao final, o entendimento
manifestado na liminar seja confirmado e os referidos dispositivos sejam
definitivamente declarados ineficazes no que toca à assistência da mulher em
seu ciclo gravídico-puerperal.
REFERÊNCIAS
261
https://portal.cfm.org.br/images/PDF/cem2019.pdf. Acesso em: 22 fev.
2020.
LIMA, Taísa Maria Macena; SÁ, Maria de Fátima Freire. Autonomia Privada
e internação não consentida. Revista Brasileira de Estudos Políticos. Belo
Horizonte, v. 99, p. 79-99, 2009. Disponível em:
https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/99. Acesso
em: 20 out. 2019.
263
ENTRE A RAZÃO E A SUBJETIVIDADE: A DIFERENÇA CULTURAL
COMO FATOR DE INTEGRAÇÃO.
RESUMO
O presente trabalho busca, à luz das teorias do reconhecimento, tecer uma
crítica quanto ao princípio liberal, que entende o direito à liberdade como um
fator sine qua non para o desenvolvimento individual, sem levar em
consideração os aspectos particulares: históricos, sociais, econômicos, etc.,
em que cada indivíduo se submete. Propomos aqui, uma interpretação que
leve em consideração os aspectos identitários, subjetivos e específicos de cada
indivíduo, ou grupo de indivíduos, assim como a “política de diferença”,
expressão cunhada por Charles Taylor, que faz uma contraposição ao modelo
de “igual dignidade”, que por meio de uma pretensa igualdade universal,
acaba desconsiderando, por sua vez, certas singularidades.
INTRODUÇÃO:
Buscar-se-á, a partir deste trabalho, discutir, à luz da “Teoria de
Reconhecimento”, as principais visões que servirão de guia para o fomento e a
implementação de políticas públicas ou leis, que regem uma sociedade, a
saber:
1) Teoria de “Igual Dignidade”, Liberal – que tendo o seu lastro nos
Direitos Universais do Homem, proveniente da Revolução
Francesa de 1789, compreende que todos seres humanos são
dotados de racionalidade e, portanto, iguais.
2) “Política de Diferença”, Comunitarista – que parte do
pressuposto de que o ser humano se forma a partir de uma série
de subjetividades: culturais, econômicas, familiares, entre outras,
264
o que lhe confere uma “identidade” própria, que lhe diferencia
dos demais.
DESENVOLVIMENTO:
265
DA LIBERDADE DOS ANTIGOS
O filósofo reforça, sobre este aspecto, o fato de que o homem que vive
isoladamente ou é “um ser degradado (animal)” ou “um ser que está acima da
humanidade (um deus).” (ARISTÓTELES, 1982, I, 2, 1253 a, 5 apud Ramos,
2014, p. 64). O que encontramos, portanto, no modelo de sociedade,
denominado por Benjamim Constant de “Liberdade dos Antigos,” é a noção
de que os indivíduos não têm a liberdade de ação individual, mas estes se
submetem, enquanto indivíduo, à vontade coletiva, que deve se alinhar,
estritamente, a uma concepção de “Bem comum.”
267
de sua vida a não ser, aquela que fosse fruto de uma vontade coletiva. Segundo
Constant
271
ao soberano zelar para que tais direitos, individuais, possam ser buscados e
mantidos, de modo que o Estado aja na manutenção para que o presente fim
seja alcançado pelo indivíduo.
Nestes termos, Observa-se em Hobbes e em Locke que a condição
relacionada ao “Direito Natural” do homem, não suprime a sua liberdade
individual através do contrato social. Mas este por sua vez, é um elemento
sine qua non, cujo objetivo visa proporcionar garantias e um senso de
ordenamento que auxilie os indivíduos em suas buscas pessoais.
A partir dos autores apresentados neste capítulo, nota-se a evolução
do conceito de “liberdade individual”, como integrando um “Direito Natural”
do homem, em que partindo dessa premissa, tornará possível uma estrutura
“jurídica” e “policial”, fazendo com que cada indivíduo tenha a sua busca
respeitada no interior da sociedade. Porém, não acredito que tenhamos,
ainda, com base nos autores apresentados, chegado a uma completude sobre a
definição no que tange à “Liberdade dos Modernos”, pois faltaria para isto,
um ingrediente fundamental para esta definição, a saber: o indivíduo
enquanto um “ser” subjetivo.
272
movimento que se segue, do homem para o meio externo, e não o contrário.
Segundo Taylor,
273
sendo assim, a teoria da subjetividade em Kant, como salienta Rocha
HEGEL: O INDIVÍDUO-COMUNITÁRIO
Em Hegel, por sua vez, retomamos uma ideia que nos remete ao
modelo de sociedade Aristotélico, que compreende o homem como um “ser”
comunitário, tornando-se um crítico das ideias “atomísticas”, conceito este
que compreende o homem como sendo um “fim em si mesmo”. De acordo
com o filósofo, esta concepção de pensamento, trazida pela modernidade,
condiciona o sujeito a uma condição de isolamento que “põe em
funcionamento a dinâmica de uma comunicação perturbada”(HABERMAS,
2000, pág. 45), devendo-se, portanto, fundamentar-se em uma concepção que
busque substituir as “categorias atomísticas por aquelas talhadas para o
vínculo social entre os sujeitos” (HONNETH, 2003, pág. 42).
276
isoladamente, então ele tem de estar, qual todas as partes, em uma unidade
com o todo" (HONNETH, 2003, pág. 43).
Friedrich Hegel, rejeita a ideia de que seríamos indivíduos
“autossuficientes” cuja sociedade, sem lastros comunitários, enxergaria no
outro, não a união de pessoas com vistas a comunhão de interesses
partilhados, mas que compreende o outro como um meio, como objetivo para
o seu fim particular.
277
compreendido, diferentemente do aspecto “monológico” que pressupõe o
modelo liberal, como um sujeito que de maneira “dialógica”, (TAYLOR, 1994,
pág. 52) necessita do reconhecimento do outro para que possa melhor
fundamentar a sua identidade; portanto, podemos dizer que: eu passo a me
reconhecer, melhor, a partir do reconhecimento do outro sobre mim. Como
nos adverte Chales Taylor, “a descoberta da minha identidade não significa
que eu me dedique a ela sozinho, mas, sim, que eu a negocie, em parte,
abertamente, em parte, interiormente, com os outros”. (TAYLOR, 1994, pág.
54).
Em Hegel, por conseguinte, observamos que o reconhecimento dos
“outros importantes” (TAYLOR, 1994, pág. 52) toma uma condição
“dialética” em que, mediante ao embate entre a minha consciência individual
com as demais consciências, torna-se possível, por meio do diálogo e
negociação mútua, compreender até que ponto as consciências estariam
sujeitas a ceder sobre a sua identidade, e até que ponto a identidade do outro
modifica a minha visão sobre o que fora apresentado. Sendo assim, como
resultado desse embate entre consciências, poderíamos chegar a uma espécie
de “síntese” ou um “consenso sobreposto” em que as diversas consciências se
harmonizariam em nome de uma, por assim dizer, solução diplomática.
Segundo os dizeres do próprio filósofo, uma consciência que se
reconhece, “idealmente” como parte de uma totalidade,
279
viver fora de mim. Só posso encontrá-lo dentro de
mim” (MILL, 1975, apud TAYLOR, 1994, p. 51).
280
Esse aspecto, portanto, em que se levava em consideração a “honra”
atribuída ao sujeito, vai sendo suplantado por um conceito que passa a
interpretar o indivíduo por meio da “dignidade humana” onde se compreende
todos os homens como portadores de “dignidade” sendo assim, como iguais.
282
Como já referido em tópicos anteriores, uma das principais críticas ao
modelo liberal de cunho “universalista”, se deve ao fato de, a partir dessa
visão, desconsiderar os aspectos próprios de uma sociedade, uma
“identidade” particular, quer seja no nível individual ou de comunidades
específicas, cuja formação cultural, social, econômica, etc. Há diferencia das
demais.
284
Observa-se com isso que os povos de origem europeia buscavam
demostrar a superioridade da sua cultura, em detrimento da colônia. Por este
motivo, os indivíduos colonizados passavam a se “ver” sobre os parâmetros
“eurocêntricos”, aos quais lhes eram impostos, e não do ponto de vista da
compreensão e valorização das diferenças culturais. De maneira semelhante a
Fanon, Jean-Paul Sartre considerou o fato de que “o escravo vê-se com os
olhos do senhor. Pensa-se a si próprio como um Outro e com os pensamentos
do Outro”. (SARTRE, 1971 apud FREDERICO, 2016, pág. 238). Sobre este
prisma, Fanon sugere que a “primeira tarefa, portanto, deveria ser a luta para
modificar essa imagem, uma luta pela autoconsciência e pelo
reconhecimento”. (FREDERICO, 2016, pág. 238).
286
Universalista” e o modelo “Comunitarista”, apresentam posições conceituais
díspares onde
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Mediante a contextualização apresentada, buscou-se concatenar e
elucidar duas das principais correntes da filosofia política, a saber: “Liberal
Universalista”, “Igual Dignidade”/ “Comunitarismo”, “Política de Diferença”,
na medida em que ambas correntes nos ajudam a melhor compreender
questões que estão entre os mais variados temas – sociais, políticos, culturais,
econômicos, etc – cuja abrangência refere-se tanto às questões individuais,
nacionais, ou mesmo, universais.
287
Para dar encaminhamento e linearidade ao pensamento apresentado,
buscarei aqui me aproximar de uma resposta coerente e sensata sobre uma
indagação de Raws, que julgo ser central para uma melhor análise no campo
das políticas de “reconhecimento”, em uma sociedade democrática. O autor,
portanto, questiona se haveriam formas de se entender a “unidade social,
visto que não pode haver acordo público sobre o bem racional único, e que
uma pluralidade de concepções opostas e incomensuráveis deve ser tomada
como um dado?” (RAWS, 1985, pág. 56).
Buscando dar uma resposta à pergunta apresentada acima, proponho
uma síntese entre os dois modelos de pensamento, a saber: “Comunitarismo”
e “ Liberal Universalista”. Para isso poderíamos nos indagar: a questão de
reconhecimento racial no Brasil, com ênfase na discriminação racial, seria
uma questão meramente econômica? Comungamos, sobre esta questão, da
concepção de Charles Taylor, Axel Honneth, entre outros, em que os autores
compreendem que a questão econômica, não seria a fonte de todo o
preconceito, discriminação e o não reconhecimento, no qual os “grupos
minoritários” estão submetidos. Porém, não se pode desconsiderar, que este
também seja um fator relevante.
Por mais que as questões simbólicas de reconhecimento, em que
culturas hegemônicas tendem a marginalizar aquelas culturas que apresentam
nuances diferentes e, que em muitas vezes em nome de uma pretensa posição
de neutralidade, através de políticas públicas e/ou leis, cuja sua base
corresponda aos anseios de um grupo dominante que, quase sempre, tende a
desconsiderar as identidades, as diferentes visões de “vida boa”, diferentes
comportamentos, diferentes formas de se pensar, ainda assim, não me parece
adequado abjurar de certas políticas de reconhecimento, com contornos mais
universalistas. Nas palavras de Frederico
288
É evidente que se deve respeitar a diversidade
cultural e sua convivência pacífica dentro do Estado
democrático, mas isso pressupõe uma cultura
política comum que deve ser aceita. As diversas
culturas não vivem isoladas, mas em contato e,
acima de todas elas, estão as regras de convivência
sancionada pelo direito. (FREDERICO, 2016, pág.
245).
REFERÊNCIA
ARAÚJO, C.M, COSTA,S.F, MELO, V.F. 2015. Liberdade individual: a
construção do conceito a partir do estado moderno. Aufklärung. João Pesso,
vol.2 n.2, p.247-268, Oct.
292
A INFLUÊNCIA DAS FALSAS MEMÓRIAS NAS SUPOSTAS VÍTIMAS
VULNERÁVEIS DE ESTUPRO: UM FOCO NO PROCESSO PENAL
Andreia Batista1
René Dentz2
RESUMO
INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende demonstrar por meio de uma revisão
bibliográfica ante a instrumentalidade do Processo Penal brasileiro, com sua
BREVE HISTÓRICO
294
aqueles ligados à distorção dos fatos ocorridos ou mesmo criação de fatos que
nunca aconteceram.
295
distorcer a realidade formando o que se chamou de falsas memórias.
(OLIVEIRA, 2018)
Ao longo dos séculos muitos cientistas continuaram os
estudos sobre as memórias Stern (1910), Barllet (1932), Deese (1959) dentre
outros pesquisadores que buscam esclarecer como a memória humana se
comporta, sua capacidade e limitações e no que importa ao trabalho em
questão a formação de falsas memórias e seu impacto no universo jurídico,
especialmente nos processos penais.
CONCEITO
297
Eventualmente, a ocorrência de falsas memórias em supostas
vítimas de estupro, principalmente no universo infantil, quando se trata do
crime tipificado pela vulnerabilidade, podem levar fatalmente a condenações
de pessoas que nunca cometeram nenhum delito.
Os referidos processos geralmente em sua grande e esmagadora
maioria tramitam à míngua de provas, até pela própria natureza do delito, o
mesmo de fato é praticado sem a presença de terceiros, muitas vezes em
lugares ermos e escondidos, além de eventualmente não deixarem vestígios.
Por esta razão estudar as falsas memórias no universo do processo
penal se tornou algo relevante e necessário para elucidação de casos
permitindo a devida motivação da sentença condenatória, nos moldes do que
determina o art. 93, IX da CR/88 que além de ser uma garantia individual das
partes que compõem o processo ainda se revela uma exigência inerente à
função jurisdicional, trazendo transparência à decisão judicial.
298
No processo acusatório existe uma diferença bem traçada quanto as
partes que dele participam, assim, segundo o modelo, em igualdade de
posições acusação e defesa se contrapõe, a figura do julgador permanece
sobreposta aos demais, no intuito de garantir a imparcialidade. No modelo
inquisitório as funções de acusar, defender e julgar se concentram em uma
única pessoa, a figura do juiz acusador ou inquisidor se faz então presente e o
réu ou acusado deixa de ser parte e passa a ser considerado objeto do
processo. Neste último modelo não há contraditório, o papel de se contrapor
acusação e defesa é excluído não se formando a relação jurídica processual.
(BADARÓ, 2016)
O processo penal erguido sobre o modelo inquisitório é
incompatível com o Estado Democrático de Direito, sob o aspecto da
democracia a dignidade da pessoa humana e sua liberdade precisam ter
direitos resguardados em um processo. Assim quando se está diante de uma
nação governada no modelo democrático a preservação do Estado
Democrático de Direito se materializa quando garantido direitos
fundamentais dentre eles o contraditório e a ampla defesa.
Logo, ao analisar o modelo adotado no Brasil Fernando Capez
preceitua:
300
Segundo Gustavo Badaró (2019) “a prova é apontada como meio
pelo qual o juiz chega à verdade, convencendo-se da ocorrência ou
inocorrência dos fatos juridicamente relevantes para o julgamento do
processo.” Atualmente se sabe que falar sobre verdade absoluta é incoerente
afinal ao analisar fatos a partir de produção de provas sem vivenciá-los é
habitar no subjetivo do julgador. Para tanto o mesmo autor preceitua que:
301
A busca pela verdade no processo penal deve ser o meio utilizado
para que a persecução penal seja realizada constitucionalmente preservando
as garantias dos indivíduos sem retirar do Estado seu poder punitivo.
Dessa forma a valoração das provas mediante critérios racionais do
julgador deve lhe fornecer elementos suficientes para embasar e motivar que
determinado fato é verdadeiro.
VALORAÇÃO DA PROVA
302
Quando se parte de análise histórica de valoração das provas se
encontra três sistemas típicos:
305
vincular a decisão do juiz (art. 182 do CPP), muitas vezes é o principal
elemento de motivação da condenação, quando não utilizada ou quando o
instituto decisório se contrapõe ao laudo pericial o juiz deve de forma racional
indicar o motivo pelo qual discorda com a perícia ou não a considera atendível
(BADARÓ, 2016).
Todavia, ao trazer a discussão novamente ao objeto de estudo e
considerar a aplicabilidade deste dispositivo legal dentro dos limites da
matéria não se pode perder o foco de que crimes de natureza sexual nem
sempre deixam vestígios ou quando presentes não são colhidos para serem
periciados em tempo hábil, impossibilitando muitas vezes a produção desse
tipo de prova.
Assim no universo clandestino do crime de estupro de vulnerável
destaca-se o texto da autora Caroline Navas Viana, 2018:
306
Dessa forma, resta ao julgador fazer a análise das declarações de
maneira critica. Entretanto, não somente isso pode colaborar com a
aproximação do relato com a verdade, um exemplo de medida que pode
diminuir o aparecimento de falsas memórias é tentar suavizar o efeito do
tempo (esquecimento). Outras formas também podem contribuir na redução
de danos, como ensina Aury Lopes Junior e Cristina Carla Di Gesu, 2008:
307
introduzidas por terceiros com interesse no resultado processual, estará o
texto condenatório seguro para sentenciar alguém.
O presente estudo sugere a inserção de perícia técnica especializada
nos casos em que a infração não deixa vestígios, cujo contexto clandestino e
nutrido de forte emoção pode provocar o aparecimento de falsas memórias
para evitar condenações injustas passíveis de revisão criminais.
308
esclarecimento dos fatos para evitar um injusto penal a perícia psicológica tem
se tornado um forte instrumento para esclarecimento dos fatos.
Soma-se a falta de vestígios muitas vezes a própria condição
da vítima vulnerável, algumas tão pequenas que ainda possuem limitação na
fala, na compreensão de certo ou errado, principalmente quando se trata de
abuso no universo intra-familiar que a figura do abusador se confunde com a
do protetor.
ANÁLISE JURISPRUDENCIAL
311
uma vez que a mesma não conformada com o fim de seu relacionamento,
imputava ao acusado a prática do delito, provocando o aparecimento de
falsas memórias. Levou a condenação de uma pessoa que posteriormente foi
considerada inocente pelo Tribunal Justiça .
Ou seja, a presença de perícia técnica especializada realizada em
local e momentos adequados podem identificar de maneira precoce o
aparecimento de falsas memórias, permitindo assim um processo penal
claro com o devido contraditório e garantindo-se a ampla defesa sem,
contudo, causar condenações indevidas.
312
No caso desta apelação, a absolvição em sede de apelação criminal
fora concedida com base na ausência de provas de que a suposta vítima
tenha sofrido atentado violento ao pudor, tido assim à época dos fatos,
entretanto o processo no próprio corpo da ementa fez com que sua instrução
probatória fosse insuficiente, gerando dúvida sobre o acontecimento ou não
do fato. Diante da dúvida imperioso se faz a aplicação do in dubio pro reo,
acarretando a absolvição do acusado.
O Juiz de direito do TJSC, professor da UFSC, Alexandre Morais da
Rosa, em seu blog, publicou o que seria uma de suas sentenças, que apesar
de não estar ligada ao delito aqui estudado, estupro de vulnerável, em muito
se acrescenta sobre as lições que ele deixa sobre as falsas memórias. Para
elucidar o texto do autor, se destaca os seguintes trechos:
• Da situação fática:
No dia 14 de novembro de 2008, por volta das 17h10,
no Estacionamento do Shoping Americanas, situado
na Rua Leite Ribeiro, s/n, Bairro Anita Garibaldi,
nesta cidade, o denunciado abordou a vítima V.Q.F.
quando entrava em seu carro e, mediante grave
ameaça exercida com emprego de uma arma de fogo,
subtraiu R$ 1.500,00 e diversos documentos os quais
estavam em uma pasta.
• Da Fundamentação:
314
Desta feita, em sendo o reconhecimento a única prova
produzida pela acusação, nele devem centrar-se as
discussões. 6. Assim é que os fatos se deram em
14.11.08 e após chamar a polícia, a vítima procedeu
ao reconhecimento de dois agentes de maneira
negativa. Neste momento, pelo que disse em seu
depoimento judicial (o único válido): "Reconheceu o
agente apenas por foto (f. 07) ...[...]. Disse que
"Demorou para fazer o registro quatro dias por ser
uma pessoa pública, possui filho e ficou com medo de
alguma represália." Somente foi à Delegacia de
Polícia, onde fez a recordação da foto anteriormente
mostrada. Pelo que disse, ficou de posse da foto
durante quatro dias e, ao que parece, somente fez o
registro depois de descobrir que o acusado tinha
antecedentes. Isto que parece ser um mero detalhe
reitera muitas vezes o que se passa no processo penal
brasileiro de maneira absolutamente ilegal, a saber,
em caso de dúvida, consulta-se a ficha de
antecedentes.... Se há, condena-se. [...] 7. A influência
de um reconhecimento e da palavra da vítima no
campo do processo penal brasileiro precisa de
atualização. Não se pode mais, ingenuamente,
acreditar no que a boca diz alienadamente, porque em
diversos países já se percebeu que a memória de
testemunhos/vítimas oculares pode ser falível!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
318
Incluir dentre as provas do Processo Penal a perícia psicológica
judicial, além de tratar a vítima com o devido cuidado e dignidade ainda
preserva o caráter constitucional do processo validando declarações e
depoimentos por meio de instituto técnico elaborado pontualmente para o
caso, observado a ampla defesa e o contraditório, podendo inclusive eliminar
qualquer tipo de dúvida para a condenação.
Assim ao considerar que a introdução de uma ferramenta
multidisciplinar na persecução penal pode trazer inúmeros benefícios
procedimentais, bem como garantir a aplicação dos direitos constitucionais de
ampla defesa e contraditório, contribuir com a diminuição da dúvida e afastar
injustos penais, a proposta deve ser olhada com mais apreço e se possível
utilizada nos casos em que são relevantes.
REFERÊNCIAS
BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 4. ed. rev. atual. e ampl. – São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
319
BRITO, Graziele Cristine Nascimento. Teoria geral da prova no processo
penal. Maio, 2015. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/39595/teoria-
geral-da-prova-no-processo-penal. Acesso em: 13 de novembro de 2019.
320
Teor. e Pesq., Brasília , v. 28, n. 2, p. 227-234, June 2012 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
37722012000200011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 novembro de
2019.
321
A PSICANÁLISE COMO ELEMENTO PARA DECISÕES JUDICIAIS: A
SUBJETIVIDADE DO MAGISTRADO
RESUMO
INTRODUÇÃO
324
Ainda sobre o referido princípio, afirmam Cristiano Chaves e
Nelson Rosenvald:
325
[…] A Psicanálise interessa ao Direito como um
sistema de pensamento, e discurso, que desconstrói
fórmulas e dogmas jurídicos a partir da
compreensão do sujeito do inconsciente, do desejo e
da sexualidade.[...]Enquanto a Psicanálise é sistema
de pensamento, que tem o desejo e o inconsciente,
portanto a subjetividade como pilares, o Direito é
um sistema de limites, vínculos de vontade e
controle das pulsões, que vem trazer a lei jurídica
para quem não tem a lei interna. (PEREIRA, 2018,
p.1).
326
às suas ações, agindo em desconformidade com a legislação, deve-se haver um
entendimento pormenorizado das razões as quais o levaram à determinados
atos, para que seja entendido o contexto fático gerador da ação. Em
contrapartida, tem-se a interpretação, não somente do fato, como também a
aplicabilidade de sansões legislativas pelo magistrado, onde a relação
psicanalítico jurídica torna-se essencial .
327
refere ao campo de ação e representação do ser, condicionada a contextos
culturais, históricos e políticos. Por meio da subjetividade, as pessoas se
relacionam umas com as outras, partindo de uma interpretação pessoal. Essa
relação com o outro, cria círculos de representação social onde cada sujeito
torna-se agente perante a sociedade, desempenhando diferentes papeis
conforme as situações e o ambiente o qual se encontram. Nas palavras de Luis
Claudio Figueiredo:
328
Segundo Nelson Mandela, deve-se levar em conta
quatro dimensões nos processos de constituição da
subjetividade. São denominadas matrizes da
experiência intersubjetiva. A primeira matriz,
intersubjetividade transubjetiva, emerge das
propostas filosóficas que valorizam as modalidades
pré-subjetivas de existência [...] Na segunda matriz,
intersubjetividade traumática, o outro não só
precede o eu, como sempre o excede.
O fato do outro sempre exceder o eu é por sua vez
inevitavelmente traumático. A terceira matriz que é
denominada intersubjetividade interpessoal, parte
da experiência do reconhecimento entre indivíduos
[...] A quarta matriz, a intersubjetividade
intrapsíquica, em que se encontraram
fundamentalmente as contribuições psicanalíticas,
inclui o estudo das experiências "intersubjetivas"
estabelecidas no "interior" das subjetividades.
(WIKIPEDIA, 2019 p.1)
329
decisão que atingirá os envolvidos no litígio, conforme aludido pelo trecho do
julgado a seguir exposto:
[…] O que traduz, por modo automático, prejuízo
processual irreparável, pois nunca se pode saber que
efeitos produziria na subjetividade do magistrado
processante a contradita do acusado quanto ao juízo
do recebimento da denúncia.” […] (STF; HC
95.712; RJ; Primeira Turma; Rel. Min. Ayres
Britto; Julg. 20/04/2010; DJE 21/05/2010; Pág.
24).
333
sociais em uma ordem normativa de valores, uma subordinação da atividade
humana aos fins éticos da convivência” (REALE, 2000, p. 28).
Nesse contexto, cabe ressaltar que, o Magistrado norteia-se
também através do princípio da motivação das decisões, expressamente
consolidado no artigo 93, IX da Constituição Federal:
335
Nesse ínterim, a subjetividade do magistrado se traduz nas
mais variadas formas, seja despacho, decisões interlocutórias ou sentenças,
produzindo efeitos nas mais diversas manifestações processuais.
Noutro giro, embora a subjetividade permeie a maioria das
decisões judiciais, a legislação apresenta dispositivos que não carecem de
qualquer grau de interpretação, devendo se evitar debates sobre o mesmo
tema, conforme destacou o eminente relator Juiz Federal Dr. José Franciso
Andreotti Spizzirri, no julgado AC 2006.71.8.012602-4, a seguir transcrito:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
340
LAMAS, Lívia Paula de Almeida. O Papel do Juiz na Aplicação da Lei
Injusta: Uma Releitura Necessária dos Juízes Júpiter, Hércules e
Hermes de François Ost. Revista Pensar Acadêmico, Manhuaçu, Primeiro
Semestre 2014.
341
RÜDGER, Dorothee. O juiz, o psicanalista e o estado de exceção.
Jorgeforbes, 16 de out. de 2017. Disponível em: <
http://www.jorgeforbes.com.br/br/projeto-analise/juiz-psicanalista-e-
estado-excecao.html>. Acesso em 22 de set. de 2019.
342
ASPECTOS LEGAIS DAS ALTERAÇÕES NO CRIME DE ROUBO: (IN)
CONSTITUCIONALIDADE OU FALHA LEGISLATIVA?
RESUMO:
O presente artigo versa sobre as alterações realizadas pela Lei 13.654/2018
nos crimes de roubo, abordando mais especificamente sobre a revogação do
inciso I do § 2º, que majorava a pena de 1/3 até metade se o agente comete o
crime valendo-se de arma de qualquer natureza e, a inclusão do § 2º-A que
aumenta a pena em 2/3 quando verifica-se o emprego de arma de fogo.
Procurou-se traçar se tais alterações no art. 157 do Código Penal operaram
uma novatio legis in mellius e uma novatio legis in pejus. O texto analisa
ainda a inconstitucionalidade da alteração, arguida por membros do
Ministério Público e da magistratura, bem como se estas foram fruto de uma
falha legislativa.
INTRODUÇÃO
344
Para tanto, utilizou-se como fonte de estudo a pesquisa bibliográfica,
bem como entendimentos jurisprudenciais e fontes legislativas, com o intuito
de auxiliar a apresentação dos dados apontados neste trabalho.
Roubo
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e
multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa
ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade
345
do crime ou a detenção da coisa para si ou para
terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego
de arma;
II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III – se a vítima está em serviço de transporte de
valores e o agente conhece tal circunstância;
IV – se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou para
o exterior;
V – se o agente mantém a vítima em seu poder,
restringindo sua liberdade.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a
pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos,
além de multa; se resulta morte, a reclusão é de 20
(vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa.3
Art. 157.
[...]
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até
metade:
I – Revogado
[...]
IV - se a subtração for de substâncias explosivas ou
de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com
emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo
mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum.
§ 3º Se da violência resulta:
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7
(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
348
resultado”8, como se desprende do art. 4º do Código Penal. Desse modo, o
ordenamento jurídico penal pátrio filia-se na teoria da atividade, na qual o
que importa é o momento da conduta, seja esta omissiva ou comissiva, mesmo
que seu resultado não tenha se dado instantaneamente. Assim, a regra do
Direito Penal é que a lei a ser aplicada é aquela vigente no momento do
cometimento do fato criminoso.
No entanto, sabe-se que a lei penal tem a capacidade de se mover no
tempo, isso porque pode continuar regulando determinado fato ocorrido
durante sua vigência mesmo estando revogada por uma nova lei ou, pode
ainda retroagir e alcançar fatos que aconteceram antes de estar vigorando.
Tal capacidade de mover-se no tempo é denominada de extra-
atividade, e só será aplicada quando em benefício do agente e, nunca em seu
prejuízo. Nesse sentido, o parágrafo único do art. 2º do Código Penal que
cuida da lei penal no tempo, estabelece que “a lei posterior, que de qualquer
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos
por sentença condenatória transitada em julgado.”9
Segundo Greco (2017, p. 190) quando editada um lei posterior à
conduta do agente, esta pode trazer dispositivos que o prejudique, como
ampliar o rol das circunstâncias agravantes, criar causas de aumento de pena,
por exemplo, ou que o beneficie, quando traz causas de diminuição de pena,
extingue causas de majorantes, etc. Aduz ainda o autor que “será considerada
novatio legis in pejus, se prejudicá-lo; ou novatio legis in mellius, se
beneficiá-lo.”10
Indaga-se, assim, se as alterações trazidas pela Lei 13.654/2018
opera uma novatio legis in mellius e uma novatio legis in pejus.
EMENTA
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. TENTATIVA DE ROUBO
CIRCUNSTANCIADO. DOSIMETRIA. PENA-
BASE. VETORIAL DOS ANTECEDENTES.
DECURSO DO PRAZO PREVISTO NO ART. 64,
INCISO I, DO CÓDIGO PENAL. CONFIGURAÇÃO
DE MAUS ANTECEDENTES. POSSIBILIDADE.
AFRONTA AO ART. 5º, XLVII, "B", DA CF.
ANÁLISE DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
IMPOSSIBILIDADE. EMPREGO DE ARMA
BRANCA. AFASTAMENTO. NOVATIO LEGIS
IN MELLIUS. LEI 13.654/18. AGRAVO
REGIMENTAL PARCIALMENTE PROVIDO.
1. É pacífico o entendimento neste Sodalício de que,
à luz do artigo 64, inciso I, do Código Penal,
ultrapassado o lapso temporal superior a 5 anos
entre a data do cumprimento ou extinção da pena e
a infração posterior, as condenações anteriores não
prevalecem para fins de reincidência. Podem,
contudo, ser consideradas como maus antecedentes,
nos termos do artigo 59 do Código Penal.
2. A análise de matéria constitucional não é de
competência desta Corte, mas sim do Supremo
351
Tribunal Federal, por expressa determinação da
Constituição Federal.
3. A Lei 13.654/18 extirpou o emprego de
arma branca como circunstância majorante
do delito de roubo. Em havendo a
superveniência de novatio legis in mellius, ou
seja, sendo a nova lei mais benéfica, de rigor
que retroaja para beneficiar o réu (art. 5º,
XL, da CF/88).
4. Recurso parcialmente provido a fim de reduzir a
pena imposta ao recorrente ao patamar de 2 anos, 1
mês e 18 dias de reclusão, mais o pagamento de 5
dias-multa, mantidos os demais termos da
condenação.12 (grifo nosso)
Brasília. 1984.
352
reavaliar provas por exemplo. Neste caso, o órgão competente será o Tribunal
competente para recursos. Nas palavras de Rogério Greco:
15GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral, Volume I. 19. ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2017. p. 202-203.
353
Federal de 1988, que disciplina que “a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu.”16
Assim, a alteração realizada não poderá retroagir para alcançar
aqueles que utilizaram-se de arma de fogo para o cometimento do crime de
roubo, já que colocam o réu em uma situação mais gravosa do que se
encontrava antes de sua edição. Nesse sentido, decidiu a 6º Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:
FALHA LEGISLATIVA
2019.
361
proporcionalidade incluiu no inciso VII que “a pena aumenta-se de 1/3 (um
terço) até metade se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de
arma branca.”26
Dessa forma, as duas majorantes passaram a coexistir no
ordenamento, de modo que aqueles que cometerem o crime de roubo valendo-
se de arma de fogo, serão punidos com o aumento fixo de 2/3, enquanto que
aqueles que empregarem instrumentos ou objetos diversos de arma de fogo
farão jus à majoração de 1/3 até metade, o que parece mais adequado em face
do princípio da proporcionalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
363
Assim, com a coexistência de ambas as causas de aumento de pena, a
intenção do legislador em criminalizar com muito mais rigidez o crime de
roubo com o emprego de arma de fogo, foi alcançado, sem que se retire o juízo
de reprovação quando da utilização de arma branca.
REFERÊNCIAS
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral, Volume I. 19. ed.
Rio de Janeiro: Impetus, 2017.
365
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Especial, Volume II:
Introdução à Teoria Geral da Parte Especial: Crimes Contra a Pessoa. 14. ed.
Rio de Janeiro: Impetus, 2017.
366
BIOPOLITICA EM FOUCAULT E AGAMBEN NA SOCIEDADE DE
SEGURANÇA E SUA RELAÇÃO COM O DECRETO 7053/2009
RESUMO
O artigo cerifica-se no conhecimento sobre Biopolítica em Michel Foucault e
Giorgio Agamben, demonstrando a concepção de ambos os autores e as
técnicas de intervenção aplicadas na sociedade contemporânea. objetivo geral
identificar as formas através das quais o Estado contemporâneo promove
intervenções biopolíticas na sociedade, apoiando nas reflexões de Foucault e
Agamben acerca da temática. O método utilizado foi uma pesquisa teórica
básica qualitativa bibliográfica e documental. Conclui-se que o conceito de
biopolítica do filosofo Agamben apresenta uma concepção diferente da de
Foucault, Agamben acredita que não há um rompimento com a questão da
soberania e para Foucault a biopolítica tinha como alvo o indivíduo e a
população.
INTRODUÇÃO
1 Graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Pós
graduada em Atendimento Integral a Família pela Universidade Veiga de Almeida do Rio de
Janeiro, Especializada Gestão de políticas públicas de Etnia, Raça e Gênero pela Universidade
Aberta do Brasil/ Universidade Federal de Ouro Preto
2 Ph.D. Psicanalista, Professor Titular da UNIPAC/Mariana, Pesquisador do International
modificar no final do século XIX e início do século XX. As práticas disciplinares utilizadas antes
visavam governar o indivíduo. A biopolítica tem como alvo o conjunto dos indivíduos, a
população.
367
técnicas de intervenção aplicadas na sociedade, em relação ao Decreto nº
7053 de 2009, além de identificar as formas através das quais o Estado
Contemporâneo promove intervenções Biopolíticas na sociedade.
O presente trabalho tem por objetivo geral identificar as formas
através das quais o Estado contemporâneo promove intervenções biopolíticas
na sociedade, apoiando nas reflexões de Foucault e Agamben acerca da
temática.
Estabeleceram-se ainda quatro objetivos específicos, o primeiro é
demonstrar como o Estado contemporâneo controla e utiliza as técnicas
biopolíticas na sociedade, o segundo é analisar como é utilizada as técnicas
biopolíticas no Decreto nº 7053 de 2009, o terceiro foi comparar as teorias
biopolíticas desenvolvidas por Foucault e Agamben e o quarto foi analisar os
posicionamentos dos dois em relação ao Decreto mencionado acima.
A biopolítica é assunto importante para pesquisa acadêmica nos
remete a depreender como o Estado utiliza suas técnicas de biopoder4 para
intervir no corpo, na vida e na sociedade contemporâneo, por isso é mérito da
filosofia do direito indagar sobre o uso dessa tecnologia de poder que
disciplina e controla a vida dos indivíduos. Sendo também, um importante
nos tempos atuais, porque no Estado contemporâneo e na sociedade de
segurança as técnicas de biopoder se intensificaram e o controle se estendeu
para fora das instituições, controlando o corpo e a vida em sociedade. Neste
sentido, a teoria de Foucault e Agamben demonstra como as técnicas de
biopoder controla a sociedade.
O artigo tem como base a categoria de pesquisa básica, teórica básica
qualitativa bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica será realizada
4 Biopoder é um termo criado originalmente pelo filósofo francês Michel Foucault para referir-
se à prática dos estados modernos e sua regulação dos que a ele estão sujeitos por meio de "uma
explosão de técnicas numerosas e diversas para obter a subjugação dos corpos e o controle de
populações".
368
através de análise de material já publicado como livros, artigos
disponibilizados pela internet. E na categoria documental a pesquisa terá
como base o Decreto 7053 de 2009.
O método de pesquisa será o comparativo, porque vai comparar e
apoiará nas reflexões de Foucault e Agamben sobre biopolítica no Estado
contemporâneo e as técnicas de intervenção na sociedade contemporânea.
A pesquisa foi realizada e desenvolvida da seguinte forma: primeiro o
estudo da teoria biopolítica de Foucault e Agamben e análise de material
publicado, o segundo será análise do decreto nº 7053 de 2009 e sua relação
com a teoria biopolítica de Foucault e Agamben e o terceiro com base neste
estudo identificar como o Estado promove intervenções biopolíticas na
sociedade.
A fundamentação teórica desse artigo apresenta uma revisão da
biopolítica, as Teorias Biopolítica em Foucault e Giorgio Agamben, O Estado
Contemporâneo e a utilização de técnicas biopolíticas na sociedade de
segurança e a análise da utilização das técnicas biopolíticas em Foucault e
Agamben. Entre os estudiosos do tema do trabalho, que merecem destaque
Agamben (2010), Foucault (1976), Foucault (1988) e Foucault (2008).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
369
Nesse sentido, apresenta-se nos subcapítulos a seguir, a biopolítica, as
teorias biopolítica em Michel Foucault e Giorgio Agamben, o estado
contemporâneo e a utilização de técnicas biopolíticas na sociedade de
segurança e análise da utilização das técnicas biopolíticas no Decreto 7053 de
2009 em Michel Foucault e Giorgio Agamben.
BIOPOLÍTICA
6A anatomia patológica se tornou uma ciência com o objetivo de conhecer as alterações visíveis
que o estado de doença produzia nos órgãos do corpo humano. Isso fez com que a mudança do
saber médico do século XVIII gerasse a percepção de algo atrás do visível, além de descobrir a
doença na profundidade do corpo (FOUCAULT,2011).
373
instaurar a biopolítica que vai se voltar para a forma de conduzir e o modo de
morar e hábitos higiênicos (REIS, 2008).
Agamben assinala, que existe uma direção que orienta a decisão sobre
a vida e que pode torna-se decisão sobre a morte isso ocorre no novo Estado
criado pelo biopoder. Nesse sentido, a biopolítica pode converte-se em
tanatopolitica7, é uma linha ampla que se desloca para a vida social, em que o
soberano entra cada vez mais em simbiose com o jurista, médico, cientista.
Não existe uma diferença entre biopoder e poder soberano, pois a
característica deste poder tem uma associação particular com a vida, cuja
relação mais próxima é da exceção. A soberania expõe a vida, a violência e
consequentemente ao poder de morte, a prática da soberania exerce inclusão e
exclusão que já é uma pratica do Estado de exceção que se encontra na
natureza do exercício de soberania (RADOMSKY, 2015).
Dessa forma, a exceção constitui uma forma de controle do direito e a
vida sobre a direção do poder soberano, por isso, Agamben acredita que o
dispositivo é maior e derivado do que o conceituado por Foucault
(RADOMSKY, 2015).
7 Tanatopolítica, literalmente, é a política que gere a morte. Esta seria uma possibilidade
analítica oferecida por Agamben (2010), ao fazer uma releitura de Foucault, juntando ao seu
quadro interpretativo reflexões de Arendt e alguns teóricos do Direito. Para entender o
conceito de tanatopolítica, o homo sacer é indispensável. Figura do Direito romano que era
matável, mas não
sacrificável. Isso devido à sua condição ambígua, que o colocava em uma classificação de pessoa
diferente das demais. Segundo a lógica daquela época, o homo sacer ou “homem sagrado”: “[...]
não pode ser objeto de sacrifício, de um sacrificium, por nenhuma outra razão além desta,
muito simples: aquilo que é sacer já está sob a posse dos deuses ínferos, portanto, não há
necessidade de torná-lo tal com uma nova ação [...]” (KERÉNYI, 1951,p:76 apud AGAMBEN,
2010: 75).
374
Conforme Foucault, a nova ordem imposta pelas transformações
políticas e econômicas no ocidente, da segunda metade do sec. XVlll e início
do Sec.XIX, foi o momento em que se estabeleceu o desenvolvimento da
biopolítica e as técnicas disciplinares do biopoder. Sendo assim, os governos e
poderes institucionais construíram corpos dóceis e úteis, submissos,
adestrado com a objetivo de fortalecer o corpo em termos socioeconômicos, e
diminuir em termos políticos e de obediência. O Estado promove uma ação na
vida biológica e na população, nasce então às políticas públicas que provocam
sutis intervenções, na sociedade moderna de segurança com o objetivo de
cuidar da saúde e educação das pessoas. Assim, segundo Foucault surge à
estatística, pois essa tecnologia possibilitou análises mais específicas da
população como taxa de natalidade, mortalidade, endemias, epidemias que
causam problemas sociais para o capitalismo (FOUCAULT,1988).
De acordo com Foucault (1988, p.134), o homem ocidental:
375
corpos, para torná-los subjugáveis, o biológico reflete no âmbito político.
Assim, tendo como alvo a população com justificativa de atender a uma nova
ordem econômica imposta pelo capitalismo, na sociedade moderna de
segurança.
Para Agamben (2010) a vida é qualidade do objeto pelo poder
soberano e assim, a reduz puramente a vida biológica, pronta para ser
governada pelo poder, isto é, vida nua que significa mera existência biológica.
Segundo Aristóteles o homem como outro ser vivente é Zóe8, em razão de sua
qualidade, em relação aos outros seres viventes que não tem a linguagem, e
tem a existência política o que torna possível o homem passar de Zóe a
PolitikonZôon9, ou animal político e com isso possibilitando a vida política
(bios políticos).
Nesse sentido, Agamben (2010) discorda que a política desde
Aristóteles é biológica, não do século XVIII como afirma Foucault, porque é
uma característica que se promove e exerce o controle, o Estado cuida da
segurança do nosso corpo.
Dessa forma, pode-se dizer conforme (AGAMBEN,2010, p.14) que:
8Zóe, significa a vida completa e absoluta que pertence a Deus, a vida real e genuína, a vida
activa e vigorosa.
9Aristóteles dizia que o homem normal é um zoonpolitikon, ou seja, um animal (zoon)
político(politikon), um ser que vive para a cidade, para a sociedade. Quem vivia isolado, ou era
uma besta (totalmente animal) ou um deus (totalmente racional).
376
âmbitos mais diversos) com o mais imemorial dos
arcana imperii10 (AGAMBEN,2010,p.14).
10Arcana imperii. Mágicos, místicos, videntes, fazem do segredo a alma do negócio. Se tudo é
nítido, visível a olho nu, a magia é apenas truque e as vidências, lances de probabilidade.
11A Prisão de Guantánamo, oficialmente Campo de Detenção da Baía de
Guantánamo (em inglês: Guantánamo BayDetentionCamp), é uma
prisão militar estadunidense, parte integrante da Base Naval da Baía de Guantánamo, que, por
sua vez, está incrustada na baía homônima, na província também homônima, na ilha
de Cuba. "Missão Guantânamo: Cronologia" - NationalGeographicChannel, 5 de
abril de 2009.
377
soberana que interrompe a normatização da vida, neste sentido, essa não pode
ser exercida pela vida (AGAMBEN,2010).
O filosofo Agamben influenciado por algumas análises de Hannah
Arendt ampliou o conceito de biopolítica de Michel Focault, e compreendeu
que a Biopolítica faz parte integrante do poder soberano, que tem como
característica a decisão sobre o estado de exceção, ou seja, estar dentro ou
fora da lei, o autor em sua obra; Homo Sacer, o poder soberano e a vida nua,
versa a existência na biopolítica de um rompimento com a soberania ,
afirmando que a tecnologia de poder é uma contribuição do poder soberano
(SOUZA, 2014).
Pode- se afirmar, que a produção de um corpo biopolítico é a
contribuição original do poder soberano, a biopolítica é tão primaria quanto a
soberania. Ao acrescentar a vida biológica na direção dos cálculos, o Estado
moderno reconduz á luz o vínculo secreto que une o poder à vida nua,
reatando uma correspondência entre o futuro e o passado dando condições de
averiguar nos âmbitos mais pluralista com o mais imemorial do arcana imperii
(SOUZA, 2014).
Portanto, não há uma ruptura entre o biopoder e o poder soberano,
tem-se uma estrutura originária de poder que se relaciona profundamente
com a vida, tendo uma relação muito próxima com da exceção. O poder
soberano ocasiona um jogo de inclusão e exclusão, entre o direito e a vida com
a decisão característica do estado de exceção (SOUZA, 2014).
A utilização de um dispositivo qualquer generalizando, segundo
Agamben seria qualquer coisa que tenha modo gestos e condutas, opiniões e
discursos dos seres humanos que se compõem de duas classes: seres viventes
ou substâncias, e seres dos dispositivos. O dispositivo é generalizado de forma
a coincidir com toda governabilidade da vida, sendo esses meios não somente
no panóptico destacado por Foucault as prisões, escolas, o direito, a
378
linguagem, industrias, ensino, decisões jurídicas, que se originam nas coisas
comuns como, as novas tecnologias. Agamben chama literalmente de
dispositivos qualquer coisa que tenha capacidade de capturar, modelar,
assegurar os gestos, condutas e opiniões dos seres viventes e eles implicam em
um processo de subjetivação (CANDIOTTO, 2012).
Para Foucault dispositivos são operadores materiais do poder, ou
seja, são técnicas e estratégias de assujeitamento utilizadas pelo poder,
portanto perceber o dispositivo da biopolítica em ação, além de explicitar
exercícios da micropolítica cotidiana, e também entender a gestão do Estado
em ação e as relações que produzem a subjetivações, ao enquadrar indivíduos
ou cidadãos como usuários do sistema que é composto de saber, poder e
estratégias, de acordo com Agamben entende que Foucault demonstrou numa
sociedade disciplinar que os dispositivos tem por finalidade de manipulação
com discursos de saberes, de exercícios, originando indivíduos fáceis de
manipular embora sejam livres para que assumam sua liberdade no processo
de assujeitamento. O dispositivo assim, se caracteriza por criar meios pelo
qual o governo possa, manipula-los (GONÇALVES, 2016).
A definição fundamental biopolítica de Agamben, torna-se uma local
das diretrizes políticas do Estado Moderno que converte o poder soberano
aos padrões regulamentadores do modelo jurídico institucional, através do
juiz, administrador, legislador, perito, cientista, decide-se de maneira objetiva
e instrumentalizadora sobre a vida e a morte de qualquer pessoa, podendo
medir, avaliar, atribuir valores até mesmo às partes do corpo (SOUZA, 2014).
O estado de exceção tem uma peculiaridade inseparável de atuação
junto ao poder soberano, que se orienta para manipular a vida. Nos
pensamentos de Agamben a exceção se torna uma teoria e não uma condição
definitiva do direito ao ser humano (SOUZA, 2014).
379
O pensamento de Agamben tem seu cerne no estigma do poder
soberano ao se relacionar com a vida, que estabelece uma forma essencial à
política, portanto, isso faz com que afaste a sua concepção Foucaultina de
poder soberano associado a ideia de natureza política calcada em uma
formação histórica. Nesse sentido, a biopolítica para Agamben assume uma
posição ontológica, porque a vida é formada pela experiência política no
ocidente, em que a partir de suas origens percebe-se às relações de poder
político, por outro lado Foucault questiona qualquer tipo de metafísica
apontando que a biopolítica surge historicamente a partir do século XVIII
(ABDALLA, 2010).
Ao adotar uma postura que exige necessidade de refletir sobre a nossa
tradição política histórica entre poder soberano e a vida nua. Dessa maneira, o
Estado contemporâneo caminha para discussões obscuras a manifestação do
poder à vida nua, fazendo uma conexão entre o passado e o futuro nos
âmbitos mais diversificados de manifestação em relações de poder.
Caminhando no ponto entre o modelo jurídico-institucional e o modelo
biopolítico do poder (AZEVEDO, 2013).
É evidente no pensamento biológico de Agamben que a vida nua é um
local de decisões políticas do soberano, local em que o Estado Moderno
converte aos padrões regulamentadores do modelo jurídico institucional e se
manifesta pelo magistrado de maneira objetiva e instrumentalizadora, é
possível decidir sobre a vida e a morte de qualquer pessoa e atribuir valores,
avaliar, medir inclusive as partes do corpo, de acordo com o melhor meio
conferindo á vida uma valorização do sistema capitalista, cuja a sociedade de
consumidores são mercadorias de consumo, porque todos podem primeiro
virar mercadoria para depois se tornarem sujeitos, assim, toda mercadoria é
vendável (CANDIOTTO, 2012).
380
A completitude jurídica institucional, ocorre ao lado do modelo
biopolítico do poder soberano na ocasião em que o moderno insere a vida
biológica, na política o poder soberano passa a governar sobre a vida como
ditador normalizador, sendo assim, torna-se possível estabelecer a vida
convertendo em um padrão de variáveis mutáveis para poder aprendê-la em
uma única totalidade (SOUZA, 2017).
No entanto, ao retomar ao início da vida nua sobre aos olhos da
biopolítica e o poder soberano moderno, a vida nua se assemelha com o
significado de zoé, que é uma vida que biologicamente desnudada, despedida
de qualidades mutável, insacrificável semelhante a vida do Homo Sacer.
Contudo, neste ponto há uma divergência entre Foucault e Agamben,
porque o biopoder na sociedade contemporânea tem o poder de deixar nascer
e deixar morrer com isso o biopoder se preocupa mais em fazer viver, produz
a sobrevida biológica a sua total nudez. A vida nua se iguala com a vida
biológica desqualificada, reduzida conforme sua utilidade, necessidade de
função, caracterizando a unidade de valor em moeda, como os produtos
disponíveis no mercado (SOUZA, 2014).
Deste modo, a biopolítica não significa somente a extensão de
biopoder manuseando a vida, mas controla o poder politicamente de formas
de vida. O filosofo italiano esclarece em uma de suas obras sobre a separação
da biopolítica em relação a soberania, porque a tecnologia de poder é uma
afirmação do poder soberano (SOUZA, 2017).
A produção de um corpo biopolítico é a contribuição original do
poder soberano, por isso a biopolítica é historicamente a base da vida
biológica no Estado moderno.
O questionamento do poder soberano para Foucault ficou sem sentido
desde o início da modernidade, porque outra tecnologia de poder ocupou a
sua parte no biopoder, então este se manifesta pelo poder disciplinar e pelo
381
biopolítico com a finalidade de promover a eficiência da vida, em deixar
morrer ou fazer viver que constitui característica do Estado Moderno,
diferente do Estado soberano que tem o controle sobre a vida ou morte. No
entanto para Agamben não existe uma diferença entre biopoder e poder
soberano, porque a estrutura que deu origem a este poder tem uma relação
profunda e peculiar com a vida, ou seja, a conexão mais próxima é da exceção,
sendo a soberania, a exposição da vida, à violência e ao poder de morte, o
exercício do poder soberano é de inclusão e exclusão inerente a todo
desempenho de soberania no estado de exceção (FERREIRINHA; RAITZ,
2010).
382
Assim, é possível concluir que o grande problema da sociedade não
pode ser entendido pelo governo, mas sim pelo indivíduo e a população que é
governada, portanto, o indivíduo é fabricado através da educação. Essa ação
exercida no indivíduo e na população tem uma perspectiva neoliberal, assim,
afirmava Foucault que surge a biopolitização ou estatização do biológico a
transformação do poder sobre o indivíduo e o consequente acesso a vida das
pessoas.
As técnicas biopolíticas anátomo política, na espécie humana aplica-se
sempre à população agindo de modo que o poder passa a gerir os
agrupamentos humanos de modo a extrair deles maior força produtiva e evitar
inconvenientes políticos que como exemplo, o aumento da população de rua,
que tem grande visibilidade é preciso então usar a tecnologia de poder para
disciplinar os corpos e regular a vida, porque a população de rua é visto como
categorias sobrepostas socialmente. Neste contexto, a introdução da medicina
social tem o objetivo, como mecanismo de poder a higiene pública,
medicalização da população, e a possibilidade de neutralizar os efeitos
negativos em uma sociedade organizada e civilizada (GRAZIANO
SOBRINHO, 2008).
O desenvolvimento do capitalismo na metade do século XVIII só foi
possível ao garantir a inserção controlada nos corpos e no aparelho de
produção humana, através de ajustamentos dos pacote econômicos e
controle populacional que segundo Foucault se organiza em dois eixos
principais, o primeiro concentra no corpo como máquina que visa o
adestramento da utilidade e da docilidade do corpo e sua integração ao
sistema econômico, ou seja, disciplinas da anatomopolítica do corpo humano,
o segundo corpo, espécie de suporte dos processos biológicos a manutenção
da vida e suas características entram no domínio dos cálculos explícitos para
aplicação de técnicas biopolíticas, ademais a disciplina dos corpos e gestão da
383
população organiza um mecanismo geral de poder sobre a vida (DANNER;
OLIVEIRA, 2010).
Foucault relata que vigiar e punir conduz a um sistema de recompensa
pelas condutas almejadas, de vigilância e correção, que teriam a finalidade de
prevenção ou até mesmo a correção de condutas indesejáveis como exemplo
teríamos as escolas, empresas, hospitais, prisões. Entretanto esta técnica
biopolítica aplicada no corpo seria a ortopedia moral e a criação de um
indivíduo normalizado de acordo com os costumes morais e até mesmo do
comercio. O outro mecanismo de segurança atuaria na manutenção e zelo pela
vida de uma determinada população, em troca teria restrições de suas
liberdades e obediência a normas, e pagamento adequado de seus impostos.
Há também um outro tipo de dispositivo que opera no controle das mentes
com relação as aspirações e desejos, estes dispositivos são comuns em
sociedades desenvolvidas na qual, a escassez de material para trabalho, ou
seja, a indústria é composta de ampliação das organizações administrativas,
algumas são virtuais como; yahoo e Google, etc. Dessa forma, a crise do
Estado regulador é acompanhada pela mídia da propaganda e publicidade
cada vez mais interligados entre si. Nesse sentido, Agamben aponta que tudo
é formalizado e governável, fazendo com que a política tende a ficar em
segundo plano para fomentar uma economia, cujo alvo não é o ser político,
mas estender os demais níveis da vida particular e biológica (ANASTACIO,
2017).
A propósito com o nascimento do Estado Social as estratégias de
governo tem o foco na população, dessa forma, o crescimento industrial e
demográfico mudou a configuração das cidades europeias , cabendo ao estado
remodelar as novas demandas sociais e logo surge a preocupação em
desenvolver políticas públicas assistenciais, porque a maior parte da
população era composta por necessitados, indigentes, inaptos, carentes e
384
indesejáveis, que não tinham lugar determinado na estrutura social, por sua
vez o Estado vai construir uma série de mecanismos de controle sobre a vida
da população para tentar resolver os problemas modernos e fortalecer a
ordem social, quando surgem os indivíduos que necessitam de serem
assistidos pelo Estado (RIZZO JUNIOR, 2009).
Ao passo que com o surgimento das nações Estado não há mais a
preocupação em manter uma modalidade de governar, com base em uma série
de saberes e práticas, que vão surgir para realizar o assujeitamento da
população a partir de técnicas sutis de docilização da vida e suas
particularidades dos corpos, gestos, modos de vida, que proclamam a
longevidade da existência da espécie humana.
No Brasil nas últimas décadas, o Estado implantou o controle social,
através de políticas públicas, além disso, nos anos seguintes a constituição de
1988 foi possível observar que surgem com o objetivo de substituir
paulativamente a caridade, que era realizada pelas igrejas em estratégia do
estado e política de governo, como o Decreto 7053/2009 Política Nacional
para a População de Rua, que sobrevivem à margem do convívio da
sociedade, e estão sempre associados a enfermidades em condições total de
vulnerabilidade social (RIZZO JUNIOR, 2009).
Demasiadamente de fato, as políticas públicas de assistência social é
uma potência biopolítica no que refere-se ao seu quantitativo, de seus
equipamentos, para entender e compreender seu alcance e controle em
relação a população, pois tais políticas, visam atender o mercado liberal e com
a necessidade de inserir um maior número de pessoas atendidas pelas
políticas públicas, dessa forma, almeja a resolução imediata das situações
sociais, políticas e econômicas.
Todavia a população vai se tornar uma preocupação das tecnologias
de governo, na atualidade para dar conta do número elevado de indivíduos,
385
mas é preciso separa o indivíduo que não está submetido ao controle,
disciplina e segurança, ou seja, aqueles que podem resistir ás práticas de
biopoder, assim melhorar as condições da população, patrimoniais,
estendendo a vida e buscando dar um controle sobre a saúde, passando a ser
objetivos e regularidade do governo, as políticas de assistência são mais um
dispositivo de efetivação da biopolítica, sendo importante na efetivação de
um exercício de governo que se enlaça com os dispositivos disciplinares e de
segurança (RIZZO JUNIOR, 2009).
387
No Brasil o Decreto 7053/2009 trata-se de uma imposição do Estado
em sua soberania e posição intermediária entre a inclusão e exclusão, do
disciplinar, controlar utilizando os mecanismos de regulação da população,
por seguinte as situações de vulnerabilidade social que são produzidas pelo
capitalismo tendem a aparecer como importantes, para o desenvolvimento de
políticas públicas como a do decreto citado acima que visa atender a
população de rua. A sociedade moderna então irá se especializar em reparo,
de transformação do homem é preciso adaptá-lo ao convívio social, para o
convívio social construindo um corpo dócil e útil (BRASIL, 2008).
Ao Estado incumbe o papel de reorientar a vida em sociedade com a
finalidade de alcançar uma utilidade satisfatória, bens e riquezas a nação, e
assim a vida deve ser regulamentada. Outro objetivo é integrar um grupo
social marginalizado que nunca integrará totalmente o sistema na tentativa de
resolver os problemas sociais.
A política institucionalizada para o individuo em situação de rua,
então é uma técnica biopolítica utilizada no controle das rotinas diárias,
utilizando o dispositivo do acolhimento e gestão por meio de práticas
estratégicas com regulação diversas em seu aspecto individual e corpóreo, que
dizem respeito ao cálculo ou manipulação inserido em uma lógica estratégica
de dispositivos disciplinares. No andamento da biopolítica operando na
ocasião em que se define quem deverá ser atendido e ao mesmo tempo
estabelece rotinas disciplinares e as possíveis punições que caberá em caso de
desobediência (BRASIL, 2008).
O dispositivo tem, porém, uma coordenação estratégica de poder em
que os governantes utilizam para responder uma urgência. No entanto no
processo de interação do Estado com uma população existe a produção da
subjetividade, mas também durante essa relação que subjetividades são
388
construídas ativamente colocando estes sujeitos das políticas públicas, que são
manipuladas em seu favor dentro da perspectiva da Assistência Social.
As políticas sociais se tornam meio de exercer o biopoder e a
biopolítica, pois justificam o capitalismo, assim, o neoliberalismo tem como
base a biopolítica, além de conduzir os indivíduos ao processo de socialização
subjetivação dos indivíduos. O discurso neoliberal é que políticas públicas
visam promover a inclusão social contribuindo no processo de transformação
social e melhoria na qualidade de vida da população, por isso, segundo
Agamben onde tudo é normalizado a abertura da política cessa a sua ação
(BRASIL, 2008).
Dessa forma, no corpo social o biopoder é instrumentalizado, o que
permite o Estado atuar biopoliticamente, porque trata-se de um corpo social
formalizado e seus funcionamentos são baseados nos dispositivos de
segurança, esses definem, as técnicas de intervenção biopolítica. A população
de rua faz parte dessa gestão política da vida, porém, o Estado deixa a deriva,
mas normatiza, sendo esta regulação fundamental para o dispositivo de
segurança. A disciplina caracteriza um sofisticado sistema, iniciando pela
distribuição do indivíduo no espaço, empregando técnicas sequenciais e
interligadas como em colégios e quartéis, a utilização de um espaço que se
otimiza, na direção do ser humano pela vigilância e separação, conforme as
variáveis particulares, mas a vigilância não se verifica apenas em quartéis ou
escolas, mas também cidades, em bairros, em que possam residir
dependendo da sua condição social (FURTADO; CAMILO, 2016).
A vigilância enseja no conhecimento do indivíduo, e traz os anormais
para o ambiente vigiado disciplinar, porque controlar e punir os anormais
demonstra força e que os dispositivos disciplinares funcionam, ou seja, sua
individualidade é tolerada, mediante a vigilância e controle, porque da sua
vida e corpo extrai-se utilidade.
389
Portanto, podemos afirmar que na sociedade o ato de disciplinar,
controla o indivíduo a partir das ações do corpo, e com isso ocasiona o
comportamento almejado pelo poder. Além disso, o desenvolvimento da
medicina social veio dar assistência aqueles que em situação de rua. Foucault
ressalta que o capitalismo tendo se desenvolvido no início do século XIX
marcou em primeiro lugar o corpo, como meio de produção, o ser humano é
submetido a intervenção que afeta a vida como um todo, e influenciam no
comportamento, até mesmo em suas práticas sociais moderna que fazem do
indivíduo um verdadeiro objeto ajustando o seu comportamento a docilidade
e utilidade, conforme a convivência na instituição, foi assim que surgiu as
instituições modernas como escolas, quartéis, abrigos para população de rua
(SABOT, 2017).
Essas instituições se caracterizam por marcar um espaço fechado
local, em que os indivíduos são enclausurados por um determinado tempo ou
período e submetidos a técnicas de comportamento, isto é, normas que tem
como finalidade a conduta do indivíduo. Trata-se de um meio de sujeição, em
que o indivíduo é dirigido pelo sistema e obrigado a adotar a conduta que lhe
é imputada. Os abrigos oferecidos a população de rua impõem normas e
condutas que devem ser respeitadas, estabelecendo uma rotina normatizada e
controlada, pois o adestramento dos corpos, requer medidas de solução para
que os atos do ser humano alcance ao desejado pelo poder. A norma na
sociedade moderna tem maior validade do que a lei, prevalece como aspecto
fundamental do poder, já a lei é um controle ao indivíduo, por praticar
violação do ato considerado proibido, pois envolve o sentido da existência
humana. A norma funciona como um padrão culturalmente construído a
partir de um padrão estabelecido entre normais e anormais (ABDALLA,
2010).
390
A ideia de que é necessário compor normas para controlar os
anormais que incorpora logo, a degeneração que estabelece nas margens do
jurídico. Esses indivíduos, como afirma Agamben se situam na relação
simétrica do poder com o qual forma o sistema. Ela tem uma função
estratégica de confirmação da identidade de um grupo, porque a relação de
exclusão é de bando. Aquele que é banido não é colocado a parte da lei, mas é
abandonado por ela, exposto ou colocado em risco limiar em que a vida é
direito, mas o interno e externo se confundem (ABDALLA, 2010).
As mortes e o controle da população de rua, faz parte da biopolítica
racional presente na sociedade contemporânea, aponta Foucault. Nesse
sentido, há uma transformação na forma disciplinar, atuando pela segurança
dos fenômenos indispensáveis á vida nas cidades.
Logo existe, uma atenção ao controle dos fluxos, da circulação das
coisas e pessoas pelas cidades, ou seja, organizar e tirar o que há de perigoso
nela, separar a boa e a má.
Esse dispositivo de segurança ao qual menciona Foucault terá um
funcionamento diferente do disciplinar, criando e atuando em um meio
naturalizado por índices estatísticos e cálculo de custos.
Nesses dispositivos de segurança, não se tem o objetivo de o fim dos
roubos, das doenças ou assassinatos, mas o de manter uma frequência
conveniente de modo a se tronar insignificante, e mantê-los na esfera
individual. De modo que, as cidades fabricarão acontecimentos que devem ser
tratados como normais, é assim que as cidades produzem um espaço de
biopolítica de um meio normal no qual o ser humano é fabricado como
espécie (ABDALLA, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
391
A biopolítica e os fenômenos da regulação da vida humana circulam
globalmente, assim como as ideias, vontades e produtos dizia Foucault.
A coordenação dos corpos é uma das técnicas disciplinares que visam
os corpos individuais para torna-los úteis e dóceis até o século XVIII.
Contudo na sociedade moderna a biopolítica, através do biopoder
normatizador utiliza técnicas sutis de intervenção no individuo e na
população. Foucault faz uma distinção entre poder soberano em relação a
morte do individuo que o afronta. Antes o poder normatizador tinha o
objetivo de administrar a vida, e para isso precisou desenvolver e utilizar
mecanismos de regulação e correção que age no individuo, no entanto hoje
opera na sociedade por meio do dispositivo da disciplina e regulação. Dessa
forma, podemos ressaltar que ´é através dos dispositivos de segurança que a
vida da população é controlada globalmente, mas levando em consideração a
sua totalidade de casos que acometem, e não só os casos individuais, porque a
gestão do cálculo da vida, ocorre por meio de cálculo do custos, pois a
intervenção do Estado só acontecerá para alcançar os limites toleráveis, o
Estado não proíbe e nem obriga mas normatiza, e quer a população de rua
conforme os moldes da convivência almejada pelo Estado. os dispositivos de
segurança, portanto tem o objetivo de alcançar e favorecer o convívio social e
frear possíveis riscos a população.
Podemos enfatizar que Agamben acredita que na biopolítica não há
uma ruptura entre poder soberano e biopoder, a estrutura originaria de
ambos tem uma relação muito próxima com a exceção.
O conceito de biopolítica do filosofo Agamben apresenta uma
concepção diferente da de Foucault, acredita que não há um rompimento
com a questão da soberania, pois aquela tecnologia do poder é uma fonte de
poder soberano, apesar da questão do poder soberano para Foucault ter
havido perdido o sentido desde a modernidade, porque a outra tecnologia de
392
poder passou a fazer e ocupar o seu lugar no biopoder, entretanto para
Foucault o biopoder se demonstra através do poder de disciplinar, com a
finalidade de fazer viver ou deixar de morrer, o que caracteriza o Estado e
governo moderno diferente do Estado soberano, esse tinha direito de vida ou
morte, sobre ela fazendo morrer ou deixar viver. Portanto, para Agamben não
existe ruptura entre biopoder e poder soberano, mais entre poder soberano e
a biopolítica, porque deste poder advém, uma relação consistente e
diferenciada com a vida, sendo essa mais próxima, desencadeando a exceção.
A supremacia para o italiano pensador indica a exposição da vida a violência e
definitivamente o poder da morte e o exército do poder.
Para Foucault a biopolítica tinha como alvo o individuo e a população.
Nos estados contemporâneo e sua característica esta sujeita ao biopoder,
através de técnicas sutis que obtêm a subjugação dos corpos e o controle de
populações.
REFERÊNCIAS
393
em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-17042017-
103423/pt-br.php. Acesso em: 15 janeiro 2018.
394
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:T9CXYllh8s4J:ww
w.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/BUBD-
9ZXNDA+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&g l=br Acesso em: 15 janeiro 2018.
395
Margens Interdisciplinar, [on line], v.6, n.7, p.105-122, maio 2016.
Disponível em:
<https://periodicos.ufpa.br/index.php/revistamargens/article/view/2815>.
Acesso em: 15 janeiro 2018.
396
https://revistas.ufpr.br/doispontos/article/view/56536/34018 Acesso em:
15 janeiro 2018.
397
COMPREENSÃO DA PSICANÁLISE NA ALIENAÇÃO PARENTAL
RESUMO
INTRODUÇÃO
399
A presente pesquisa classifica-se pelo método indutivo uma vez que
não há uma teoria estabelecida, ou seja, uma legislação específica quanto aos
impactos da psicanálise nos casos de Alienação Parental.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2ALIENAÇÃO PARENTAL
400
O parágrafo único do artigo supracitado da referida lei, por meio de
seus incisos, deixa claro o que caracteriza a alienação parental, elencando uma
série de condutas conforme expõe:
401
É a recusa de passar as chamadas telefônicas; a
passar a programação de atividades com o filho para
que o outro genitor não exerça o seu direito de
visita; apresentação do novo cônjuge ao filho como
seu novo pai ou mãe; denegrir a imagem do outro
genitor; não prestar informações ao outro genitor
acerca do desenvolvimento social do filho; envolver
pessoas próximas na lavagem cerebral dos filhos;
tomar decisões importantes a respeito dos filhos
sem consultar o outro genitor; sair de férias sem os
filhos e deixá-los com outras pessoas que não o
outro genitor, ainda que este esteja disponível e
queira cuidar do filho; ameaçar o filho para que não
se comunique com o outro genitor (FREITAS, 2015,
p. 27-28).
403
“Desse modo, a alienação parental é um descumprimento dos deveres
inerentes ao poder familiar, que coloca em risco a saúde emocional e
psicológica da criança, devendo ser identificada a fim de garantir o melhor
interesse da criança e do adolescente e a sua proteção integral” (MACHADO,
2003).
É nessa perspectiva que se faz necessário recorrer à psicologia
jurídica, a fim de compreender a Síndrome da Alienação Parental que é o
dano sofrido pela criança causado por um de seus genitores ou responsáveis,
capaz de interferir na personalidade e no caráter do alienado, promovendo
um conflito emocional que pode ainda gerar, segundo preceitua Trindade
(2013) “ansiedade, baixa tolerância à frustração, alcoolismo, uso de drogas e,
em casos extremos, idéias e comportamentos suicidas que o sujeito poderá
expressar a dor advinda da alienação parental”.
405
Art. 3o A prática de ato de alienação parental fere
direito fundamental da criança ou do adolescente de
convivência familiar saudável, prejudica a realização
de afeto nas relações com genitor e com o grupo
familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o
adolescente e descumprimento dos deveres
inerentes à autoridade parental ou decorrentes de
tutela ou guarda (BRASIL, Lei 12.318/2010)
407
O Artigo 227 da CF/88 e o artigo 19 da Lei 8069/90, o ECA a seguir
dispõem:
410
em alguém mais adaptado à sua realidade e aumentar a sua
inteligência emocional” (NASIO, 2015, p.01).
Portanto, a psicanálise pode ser definida como um método
interpretativo utilizado em pessoas que apresentam danos neurológicos
(neuroses) causados por lembranças reprimidas de grande intensidade
emocional armazenados no seu inconsciente e que por consequência destas
passam a apresentar comportamentos incomuns.
414
No âmbito da psicanálise, a utilização do menor como objeto de
vingança, seja ela de forma intencional ou não, dirigida e continuada, causa
danos emocionais à criança. O divórcio em si, é somente o catalisador, de um
fenômeno já ocorrido em épocas de divergências, e de angústias para manter
um relacionamento (ALBUQUERQUE, 2016).
O distúrbio infantil acometido em menores envolvidos em disputas
pela guarda judicial, SAP, está presente em diversos casos de separação ou
divórcios no Poder Judiciário, na manipulação dos filhos com provocações de
sentimentos negativos em relação ao outro genitor, e até o afastamento de
sua convivência. A psicologia e a psiquiatria são envolvidas em discussões
jurídicas de tal cunho devido aos aspectos psicológicos que envolvem o
menor e repercutem no âmbito jurídico (FIGUEIREDO, 2017).
417
De acordo com o estudo de Fermann (2016), ao analisar os processos
judiciais de casos de Alienação Parental e os critérios utilizados pelos
profissionais da psicologia, tem-se que as queixas iniciais dos processos
analisados não se referiam à alienação parental, mas sim a visitações e
guarda do menor após o divórcio, e que as mães foram identificadas como
alienadoras na maioria dos casos.
No segundo estudo de Fermann (2016), identificou-se 8 laudos
psicológicos, porém nenhum deles apresentavam a estrutura exigida pelo
Conselho Federal de Psicologia, foram realizadas em sua maioria entrevistas
e poucos profissionais incluíram testagens.
Para Fermann (2016), os maiores problemas foram à falta de
integração dos resultados com as conclusões e sugestões de medidas
judiciais, e pouca concordância entre a conclusão pericial psicológica e a
sentença judicial sobre a presença ou ausência da Alienação Parental.
Martins, Levate e Aquino (2011) consideram a perspectiva
psicanalítica mais coerente para os casos de Alienação Parental no Poder
Judiciário, já que “a compreensão de como os conflitos inconscientes do
casal parental influenciam geram consequências psicológicas nos filhos”
(p.121).
Os aludidos autores Martins, Levate e Aquino (2011), apontam em
seu estudo com os usuários do Núcleo de Práticas Jurídicas da Faculdade de
Minas, discursos que apresentam a Alienação Parental e a SAP,
demonstrando a necessidade do desenvolvimento de práticas
interdisciplinares nesses espaços, e apontam principalmente a importância
da Psicologia para atuação dessa demanda.
A psicanálise contribui com seu saber para a interdisciplinaridade no
judiciário, a fim de construir bases sólidas para uma melhor compreensão de
418
fenômenos comportamentais e subjetivos, mantendo um constante diálogo
entre a psicanálise e o Direito no ambiente jurídico (SILVA, 2006).
Para Silva (2010):
419
avaliação do chamado “sintoma”, como as atitudes envolvida nas partes para
privar o menor de convivência com o outrem, de impedir o vínculo, de forma
consciente ou não, entre outras, que deflagram a progressão da Alienação
Parental.
Desta forma, Freud (1996/ 1927-1931), considera o sintoma um
comportamento adquirido para suprir a insatisfação de um desejo não
realizado, na tentativa de fugir do sentimento de desamparo, quando há uma
perda do seu objeto de amor, como no caso do divórcio, no rompimento de
um relacionamento.
Conforme Costa (2008), ao citar Lacan, se faz necessário a escuta
analítica no ambiente jurídico em caso de litígio, já que neste caso muitas
vezes para a mãe o menor ocupa o lugar de desejo narcísico, sendo algo muito
específico que ocorre na constituição do sujeito, o processo de alienação é
desencadeado na relação da função materna.
421
de acordo com Simão (2008, p.25) “a questão do combate à Alienação
Parental envolve questão de interesse público ante a necessidade de exigir
uma paternidade/maternidade responsável, compromissada com as
imposições constitucionais bem como salvaguardar a higidez mental de nossas
crianças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
422
consequências dessas atitudes que causam as doenças psicossomáticas,
ansiedade, depressão entre outras supracitadas, e até mesmo ao suicídio.
Ademais, salienta-se, que a prática de quaisquer atos que apontem a
alienação parental fere o direito da criança, e implica em abuso moral e
desrespeito ao menor. Os sintomas devem ser diagnosticados de forma
correta e especializada, por meio de uma interdisciplinaridade do judiciário
para uma adoção conjunta de medidas legais e terapêuticas.
A valorização da psicanálise tem crescido como se pode observar na
revisão da literatura, e com ela há uma maior necessidade de atenção as
questões psicossociais, para o diagnóstico, prevenção e diminuição das
consequências emocionais aferidas nas crianças e jovens que passam pela
Alienação Parental, além do resgate da dignidade e respeito dos envolvidos.
REFERÊNCIAS
423
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 05 de outubro de
1988. Disponível em:<
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro
_EC91_2016.pdf> Acesso em: 06 fev.2018.
______. Lei n. 12.318 de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação
parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12318.htm> Acesso em: 04 mar. 2018.
______. Lei nº8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 10
abr.2018.
BREUER, J. e FREUD, S. Estudos sobre a histeira. (V. Ribeiro, Trad).
Edição Standard brasileira de obras completas de Sigmund Freud (vol II). RJ:
Imago (Original publicado em 1895).
COSTA, T. Psicanálise com crianças: psicanálise passo a passo. 2. ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 2008.
CUNHA, Matheus Antônio da. O conceito de família e sua evolução
histórica. Portal Jurídico Investidura, Florianópilis/SC, 2010. Disponível
em:< investidura.com.br/biblioteca-juridica/artigos/historia-do-
direito/170332-o-conceito-de-familia-e-sua-evolucao-historica> Acesso em:
09 jun.2018.
DA SILVA, Maria de Fátima Neves. A importância da psicopedagogia na
prevenção e identificação de casos de síndrome de alienação parental: uma
proposta de aplicação da mediação familiar no âmbito do Poder Judiciário do
estado do Ceará. THEMIS: Revista da Esmec, v. 8, n. 1, p. 197-229, 2016.
DIAS, Maria Berenice. Síndrome da alienação parental: O que é isso? Jus
Navigandi, 10(1119). 2006. Disponível em: <
https://jus.com.br/artigos/8690/sindrome-da-alienacao-parental-o-que-e-
isso> Acesso em: 02 fev. 2018.
______, Maria Berenice. Incesto e alienação parental: de acordo com a lei
12.318/2010 (lei de alienação parental). 3 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.
FERMANN, Ilana Luiz. Avaliações psicológicas e decisões judiciais em
processos de alienação parental. Dissertação - Programa de Pós-Graduação
em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2016.
424
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua
portuguesa. In: Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2004.
FIGUEIREDO, Cláudia Roberta Leite Vieira. A ira dos anjos: uma análise
psicológica e jurídica da alienação parental. JURIS-Revista da Faculdade de
Direito, v. 27, n. 2, p. 119-138, 2017.
FIGUEIREDO, Fábio Vieira; ALEXANDRIDIS, Georgios. Alienação
Parental. 2 ed. São Paulo: Saraiva; 2014.
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental: Comentários à Lei
12.318/2010. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
FREUD; S. O Mal-Estar na Civilização e outros trabalhos (1927-1931). In:
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud, v. 4. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de
Síndrome de Alienação Parental (SAP)? Departamento de Psiquiatria Infantil
da Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de Columbia, New
York, New York, EUA. Tradução para o português por Rita Rafaeli. 2002.
GIL, A.C. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 6.ed. São Paulo: Atlas; 2017.
GOMES, Orlando. Direito de Família. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
HARMAN, J. J. et al. Parents Behaving Badly: Gender Biases in the
Perception of Parental Alienating Behaviors. American Psychological
Association. Journal of Family Psychology, v. 30, n. 7, p. 866-874, 2016.
JESUS, Fernando de. Psicologia aplicada à Justiça. 1 ed. Goiânia: AB,
2001.
LACAN, J. O Seminário. Livro 3: As psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1985.
LAGO, Vivian de Medeiros; BANDEIRA, Denise Ruschel. A Psicologia e as
demandas atuais do direito de família. Psicologia: ciência e profissão, v. 29,
n. 2, p. 290-305, 2009.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean Bertrand. Vocabulário da psicanálise.
São Paulo: Martins Fontes. 1992.
LIMA, Amanda Barbosa; LEADEBAL, Kadidja Barros. Síndrome de
Alienação Parental – Diagnóstico Médico ou Jurídico? Simpósio de TCC e
Seminário de IC. ICESP promove, 1º, p.669-685, 2016.
MACHADO, Martha de Toledo. A proteção constitucional de crianças e
adolescentes e os direitos humanos. 1 ed. Baruere: Manolo, 2003.
425
MARTINS, Rosiane Souza; LEVATE, Caroline Oliveira; DE AQUINO, Giselle
Braga. Visão psicanalítica sobre a Síndrome da Alienação Parental (SAP): os
novos desafios da atuação de profissionais pelo viés da interdisciplinaridade
em âmbito jurídico. Revista Científica da FAMINAS, v. 7, n. 1, 2016.
MONTEZUMA, Márcia Amaral; PEREIRA, Rodrigo da Cunha e MELO, Elza
Machado de. Abordagens da alienação parental: proteção e/ou
violência?. Physis. V. 27, n.4, pp.1205-1224, 2017.
MOREIRA, Jacqueline de Oliveira. Édipo em Freud: o movimento de uma
Teoria. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 2, p. 219-227, mai./ago.
2004.
NASIO, Juan-David. O que é Psicanálise e para que serve? Folha de São
Paulo. 03 nov. 2015. Disponível em: <http://janeirobranco.com.br/o-que-e-
psicanalise-e-para-que-serve/> Acesso em: 07 mar.2018.
NÜSKE, João Pedro Fahrion; GRIGORIEFF, Alexandra Garcia. Alienação
parental: complexidades despertadas no âmbito familiar. Pensando familias,
v. 19, n. 1, p. 77-87, 2015.
OLIVEIRA, Heitor Moreira de. A Psicologia Jurídica e a Psicanálise
Freudiana como bases Teórico-Práticas para uma abordagem interdisciplinar
do Direito. REDUnB. v.10, n. especial, p.2-17. 2012.
PEREIRA, Geni Paulina. Síndrome da Alienação Parental: uma Análise
Constitucional. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 12 mar. 2012. Disponível
em: < http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.36031&seo=1>
Acesso em: 23 abr.2018.
PIGATTO, Lisete Maria Mssulini. Um ensaio sobre os métodos de tratamento na
psicanálise: a dieta da alma. Disponível em:
<http://br.monografias.com/trabalhos3/metodos-de-tratamento-na-psicanalise/metodos-
de-tratamento-na-psicanalise.shtml> Acesso em: 15 fev. 2018.
PRÓCHNO, Caio César Souza Camargo; PARAVIDINI, João Luiz Leitão;
CUNHA, Cristina Martins. Marcas da alienação parental na sociedade
contemporânea: um desencontro com a ética parental. Revista Mal-estar e
Subjetividade, v. 11, n. 4, 2011.
SILVA, D. M. P. Psicologia jurídica no processo civil brasileiro. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2006.
Simão, R. B. C. Soluções judiciais concretas contra a perniciosa prática da
alienação parental. In Síndrome da alienação parental e a tirania do
guardião: Aspectos psicológicos, sociais e jurídicos (pp. 14-25). Porto Alegre,
RS: Equilíbrio, 2008.
426
TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do
direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
_________, Jorge. Síndrome da alienação parental. In M. B. Dias (Org.),
Incesto e alienação parental: de acordo com a Lei 12.318/2010 (Lei de
Alienação Parental). 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica:
Uma abordagem didática. Porto Alegre, RS: Artmed, 1999.
427
A EUTANÁSIA SOB A VISÃO PSICANALÍTICA: O ESTUDO DO CASO
CHARLIE GARD
RESUMO
Este artigo aborda a eutanásia frente à psicanálise. O desenvolvimento do
trabalho tem por sua finalidade investigar a ocorrência do melhor interesse da
criança sob a perspectiva psicanalítica, descrevendo o caso Charlie Gard. Para
tanto, o trabalho irá tratar da Eutanásia tanto no aspecto psicanalítico quanto
jurídico, retratando as contribuições da psicanálise para o Direito e expondo o
caso e a questão da Eutanásia envolvida através de fundamentos
psicanalíticos. Dito isso, tal caminho será o Complexo de Édipo e a questão da
Simbiose, narelação mãe-filho.O presente artigo irá tratar das prováveis
manifestações do fenômeno edipiano envolvida no caso exposto. Ademais,
analisa-se o caso sob a ótica do ordenamento jurídico brasileiro.
INTRODUÇÃO
O CONCEITO DE EUTANÁSIA
432
Entende-se que a vida ainda é o bem mais precioso de um
ser humano. No entanto, considera-se a Eutanásia um tabu para
grande parte da sociedade. Embora argumenta-se, no momento,
passa a se contestar em que o forte sofrimento torna-se incessante a
realidade do indivíduo.
Há ainda o debate acerca da laicidade do Estado, que deve defender
todo o direito de crenças e ainda o direito de não ter uma crença religiosa, de
tal forma que aqueles que decidam por não possuir tal crença não tenham que
se submeter aos valores religiosos de outros.
Para (SUETÔNIO, 2002) o termo eutanásia “deriva da junção dos
termos gregos eu ethanatos, e pode ser traduzido como boa morte.”
434
justiça, o que poderia se adequar para algumas decisões judiciais.
Para Halévy(1972, p. 508) “racionalismo e individualismo,
combinam-se no utilitarismo clássico, conferindo-lhe sua feição peculiar,
como método analítico-descritivo e doutrina prática, ao mesmo tempo
princípio explicativo da constituição do homem e das relações social e ideal
normativo que orienta a atividade legislativa”.
Encontra-se na consagração do indivíduo movido pelo interesse o
elemento que perpassa as obras de seus autores e que se erige em fundamento
tanto para sua teoria da moral como para sua teoria da política.
Em sua obra, Halévy (1972, p. 508) preceitua: “A compreensão de
que o que se insinua por detrás da aparente amoralidade utilitária seja a
sugestão de que a virtude pode – e deve – ser extraída do cálculo é ponto
fundamental.”
A teoria utilitarista, neste contexto, busca a ordem social e a justiça
com fundamento no bem comum coletivo, se necessário, dados sujeitos em
específica situação social podem responder com as consequências do que seria
viável à sociedade.
Considera-se, mediante Lively (1978, p. 31)que “a fórmula
dor/prazer como configuradora dos interesses é sofisticada, passando a
considerar a influência de sentimentos tais como senso de dever, simpatia,
desejo de boa reputação e mesmo filantropia”.
Embora sentimentos de sociabilidade são tomados como princípios de
nossa natureza, tão determinantes quanto nossos impulsos antissociais, essa
descontinuidade em relação ao radicalismo é o que permite elaborar a ideia de
que a pluralidade de interesses individuais deixa de constituir um problema à
medida que os sujeitos se esclarecem quanto ao fato de seus interesses
particulares estarem vinculados e entrelaçados aos interesses, no geral, da
humanidade.
435
PROVOCAÇÕES AO CASO CHARLIE GARD: IMAGINANDO OS
IMPACTOS DE UM FUNDAMENTO A PARTIR DO COMPLEXO DA
PSICANÁLISE
437
Sendo ela determinante para resolver qualquer questão que seja
relacionada ao filho. Destacando-se, neste caso, a simbiose levada a uma
legitimidade da escolha pela figura materna.
Diante disso, o psiquiatra Jose Bleger (1967/2001) em sua obra:
Simbiosis y ambigüedad: estúdio psicoanalítico, conceitua a simbiose:
438
Logo, nota-se uma contradição no tratamento da questão, que também pode
ser justificada pela dificuldade da cultura ocidental em lidar com a morte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BBC. Charlie Gard: The story of his parents’ legal fight. BBC News.
Londres, 27/07/2017.
440
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
94792004000100008&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 13 jun. 2020.
SÁ, Maria de Fátima Freire de; OLIVEIRA, Lucas Costa de. O caso Charlie
Gard: em busca da solução adequada. Revista M. Estudos sobre a
morte, os mortos e o morrer, v. 2, n. 4, p. 456-477, feb. 2019. Disponível
em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/revistam/article/view/8171>.
441
O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA DE FORMA HUMANIZADA COM A
FINALIDADE DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO PODER
JUDICIÁRIO ATRAVÉS DA PSICOTERAPIA DA CONSTELAÇÃO
FAMILIAR NO DIREITO DE FAMÍLIA
Guilherme Souza3
René Dentz4
RESUMO
O presente artigo visa analisar as demandas judiciais através da resolução de
conflitos, tendo como base a Psicoterapia da Constelação Familiar. Possui
como objetivo demonstrar de que forma a Psicoterapia da Constelação
Familiar e o Direito Sistêmico tem sido introduzidos em alguns Tribunais de
Justiça do Brasil e qual tem sido a eficácia na resolução de conflitos dentro do
Direito de Família. Trata-se de um estudo de conteúdo teórico e bibliográfico,
permitindo ao leitor um conhecimento básico sobre o assunto com
informações extraídas de livros, doutrina, páginas de web sites e seguindo
apoio documental através da utilização da legislação específica sobre a
metodologia consensual de resolução de conflitos contida no CPC/15. Poderá
o leitor concluir a tratativa da Psicoterapia da Constelação Familiar aplicada
ao Direito de Família através das Leis Sistêmicas do psicoterapeuta alemão
Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar que hoje é aplicada também
ao ramo do Direito de Família no país.
INTRODUÇÃO
443
Psicoterapia da Constelação Familiar previne e transforma os conflitos,
facilitando uma solução harmônica, tendo sua aplicação satisfativa em âmbito
judicial ou extrajudicial. Dessa forma, atuando de encontro a pacificação de
conflitos permite que novas demandas repetitivas surjam e abarrotem o Poder
Judiciário brasileiro.
Este estudo classifica-se como uma pesquisa básica de conteúdo
teórico e qualitativo, do tipo pesquisa bibliográfica, tendo em vista que o
estudo permitirá ao leito o conhecimento documental sobre o assunto.
Apoiou-se na literatura científica da área, através de informações coletadas
em livros, doutrina, artigos científicos, páginas de web sites, seguido de apoio
documental por utilizar a legislação específica sobre metodologia consensual
de resolução de conflitos contida no Código de Processo Civil de 2015.
Os autores essenciais tomados como base para a formalização deste
trabalho foram Hellinger com suas obras Ordens do amor (2007) e A Simetria
Oculta do Amor (2006), alemão, criador da Psicoterapia da Constelação
Familiar e especialista no atendimento de pessoas, casais ou famílias que
enfrentam situações difíceis; A jornalista e redatora free-lance Hövel (2007)
com seu livro, entrevistando o alemão Hellinger sobre emaranhamentos e
suas soluções. Oldoni, Lippmann e Girard (2018) com a obra de aplicação das
Leis Sistêmicas ao Direito de Família. Oldoni é doutorando nos métodos
alternativos de solução e prevenção de conflitos, Lippman é mestre e
mediadora, além de consteladora e professora de métodos alternativos de
solução de conflitos e Girardi é mestre e professora de Direito de Família,
além de presidente da Comissão de Direito Sistêmico da OAB/Itajaí. Além
destes, estudou-se a obra de Pizzatto (2018) tratando de constelações
familiares na advocacia. Pizzatto é advogada, consteladora, escritora e
criadora de conteúdo. Por fim, tomou-se como base a Lei 13.105/205
444
inovadora nos métodos de auto composição para resolução de conflitos de
forma pré-processual.
O primeiro tópico tratará do estudo teórico de Bert Hellinger sobre a
Constelação Familiar e elucidação de termos utilizados nessa terapia. Em
outro momento, no segundo tópico será tratada a proposta jurídica contida no
CPC/15 e a Resolução 125/10 do CNJ, bem como a Lei da Mediação. No
terceiro tópico estrutura-se a relação entre a Psicoterapia da Constelação
Familiar, o Direito Sistêmico e os métodos de resolução de conflitos
pertencentes à legislação específica, bem como as Leis Sistêmicas aplicadas ao
Direito de Família. Por fim, o último tópico irá tratar da aplicação de toda
parte teórica nos Tribunais de Justiça do país e sua eficácia quanto aos
acordos firmados e a redução de demandas repetitivas.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
448
Essas ordens do amor ou mesmo chamadas de leis sistêmicas foram
trazidas como novo paradigma para os grupos tutelados pelo Direito para
resolução dos conflitos, principalmente aqueles trazidos pela área
especializada do Direito de Família.
No Brasil, as Constelações Familiares foram introduzidas pelo
Magistrado Sami Storch5 como uma análise das ordens do amor e sua
aplicação no campo do Direito.
Importante ainda destacar a visão cristalina e contributiva de
Oldoni, Lippmann e Girardi (2018, p.44) ao tratar do Direito Sistêmico não
como uma competição, como era realizado pelo Direito pátrio, mas tão
somente com a busca de solução consensual de determinado conflito, senão
vejamos:
Assim, o então denominado Direito Sistêmico os
propõe a busca de uma solução, não mais focada
apenas na ótica competitiva, mas sim cooperativa e
pacífica, o que vem perfeitamente ao encontro da
necessidade de pacificação social e se distancia
salutarmente da visão opositiva, até então
perpetrada pelos construtores do Direito.
450
A PROPOSTA JURÍDICA NA RESOLUÇÃO CONSENSUAL DE
CONFLITOS NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015
451
Dessa forma, Diddier (2015, p. 273) rememora quão importante é o
estímulo dos métodos consensuais de resolução de conflitos no seguinte
sentido:
a) dedica um capítulo inteiro para regular a
mediação e a conciliação (arts. 165-175); b)
estrutura o procedimento de modo a pôr a tentativa
de autocomposição como ato anterior ao
oferecimento da defesa pelo réu (arts. 334 e 695); c)
permitea homologação judicial de acordo
extrajudicial de qualquer natureza (art. 515,
111;art. 725, VIII); d) permite que, no acordo
judicial, seja incluída matéria estranha aoobjeto
litigioso do processo (art. 515, §2°); e) permite
acordos processuais (sobre oprocesso, não sobre o
objeto do litígio) atípicos (art.190).
456
Por fim, afasta-se os termos que são pejorativos, ao ver das partes, e pacifica-
se a demanda para que todos possam conviver em harmonia.
458
AS LEIS SISTÊMICAS E A FORMA DE APLICAÇÃO NO DIREITO DE
FAMÍLIA
459
objetivos que entram em conflito com os nossos
desejos e prazeres pessoais.
461
Por essa razão, e em consonância com o exposto pela autora, o art. 2º do
Código de Ética e Disciplina da OAB, o advogado é essencial par
administração da justiça e da paz social, bem como tem o dever, conforme o
inciso IV do referido diploma de estimular a qualquer tempo a conciliação e a
mediação, que, no caso do presente artigo, é exercida através da aplicação do
Direito Sistêmico com as leis sistêmicas de Bert Hellinger.
Por fim, importante lembrar que as lições de Oldoni, Lippmann e
Girard (2018, p. 83) tratam dos litígios recorrentes nas questões de família,
poderiam ser reduzidos na medida em que os litigantes pudessem ser
constelados, o que, na visão dos autores, os litigantes não permitiriam na
maioria das vezes, sem saber que tal medida se aceita, apresentaria uma
pequena modificação com a finalidade de colocar em ordem as relações com
as leis do amor.
Superadas essas considerações sobre a forma de atuação do sistema,
vamos adentrar no campo das leis sistêmicas para conhecimento.
A LEI DO PERTENCIMENTO
Hellinger (2006, p. 27), trata da pertinência como uma ligação entre
as pessoas e grupos que são necessários para a sobrevivência. Ressalta o autor
que mesmo as crianças se adaptam ao grupo onde nascem sem realizarem
nenhum questionamento, mesmo se forem bons ou ruins.
Assim o autor esclarece:
Do mesmo modo, as crianças se adaptam sem
questionamento aos grupos dentro dos quais
nascem, e apegam-se a eles com uma tenacidade que
lembra o condicionamento. As crianças sentem sua
ligação com a família sob a forma de amor e boa
sorte, não importa se essa família as alimente ou as
negligencie; para elas, os valores e hábitos
familiares são bons, pouco importando as crenças e
atos dessa família.
462
Dessa forma, podemos notar claramente que todos pertencemos a um grupo,
a um sistema. E, é dentro desse sistema que defenderemos a nossa
pertinência, ou o direito de pertencer.
Acrescenta o autor que vivemos em diversos ambientes em nossa
sociedade (2006, p. 28), e, em suas palavras: “Em cada situação, a consciência
se esforça para defender a nossa pertinência, protegendo-nos do abandono e
da perda”. Conforme as lições de Hellinger, somos ligados pela consciência ao
grupo que pertencemos. Todavia, quando alguém possui características
diferentes, a tendência é excluir e não permitir que pertençam ao grupo,
conforme preleciona: Se a consciência, agindo a serviço da pertinência, liga-
nos uns aos outros no grupo, também nos leva a excluir os que são diferentes e
a negar-lhes o direito de participação que reclamamos para nós. (2006, p. 29).
A exclusão de algum membro do sistema, causa desequilíbrio e,
consequentemente como ensina Hellinger, o sistema terá uma necessidade de
compensação em algum momento.
Pizzatto (2018, p. 46) exemplifica sua rotina em seu escritório e a
aplicação da Lei do Pertencimento nos casos de adoção e, alinhada ao
pensamento sistêmico, demonstra o foco nos pais biológicos, os pais adotivos
e, num terceiro momento, o olhar para o intermediário daquela adoção,
podendo ser uma associação, uma pessoa, dentre outros possíveis
intermediários que também podem influenciar no processo de adoção. E é
nessa visão que pode-se vislumbrar a possibilidade de solução para o caso,
vejamos:
Percebe-se que, quando fazemos isso internamente,
reconhecendo o pertencer de cada um no sistema,
incluindo o todo, ampliamos as possibilidades para
a solução e para o sucesso da adoção. Ou seja,
quando um casal procura um escritório de advocacia
para encaminhar uma adoção, se este escritório
463
estiver alinhado com o pensamento sistêmico, o
atendimento do advogado envolve o cliente, a
criança adotada, os pais biológicos, o Ministério
Público, o juiz e também o intermediário, se for o
caso.
Por fim, a terceira lei aplicada pelo alemão Hellinger para o trabalho
com as constelações familiares.
De forma clara e objetiva, a lei do equilíbrio trata da sistemática de
ficar em paz quando sente-se que está dando e recebendo de forma igualitária
nas relações.
Preceitua o autor sobre o assunto (2006, p. 31):
Nossos relacionamentos, bem como nossas
experiências de culpa e inocência, começam com o
dar e o receber. Nós nos sentimos credores quando
damos e devedores quando recebemos. O equilíbrio
entre crédito e débito é a segunda dinâmica
fundamental de culpa e inocência nos
relacionamentos. Favorece todos os
relacionamentos, pois tanto o que dá quanto o que
recebe conhecem a paz se o dar e o receber forem
iguais.
467
Na prática, existem diversas decisões impactantes sobre a aplicação
da psicoterapia da constelação familiar em diversas varas de famílias
espalhadas pelo Brasil. O CNJ disponibiliza parte dessas decisões para
conhecimento e aprofundamento pelos interessados no assunto.
Dentre os diversos temas e demandas judiciais, tem destaque os
acordos realizados na Vara Cível, Família, Órfãos e Sucessões do Núcleo
Bandeirante no TJDF, através do projeto constelar e conciliar alcançando
76% de acordos efetivos, de acordo com a juíza Magáli Dellape Gomes.
No estado do Rio de Janeiro, na 1ª Vara de Família do Fórum
Regional da Leopoldina, foram selecionados 300 processos com temas
idênticos que, após realizada a psicoterapia da constelação familiar, 86% das
audiências realizadas resultaram em acordos, inciativa do o juiz André
Tredinnick
Ainda, em Mato Grosso, na Primeira Vara Especializada de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá, aplicada pela
consteladora Gil Thomé, a sessão foi dirigida as mulheres vítimas de violência
doméstica e familiar com a finalidade da vítima verbalizar o conflito,
identificar sua origem e receber orientações práticas para solução do conflito.
Em Contagem, Minas Gerais, a psicoterapia tem sido aplicada nas
três varas de família e sucessões da Comarca. Em um caso de guarda, visitas e
alimentos em favor do menor, onde os genitores se denunciavam mutuamente
e não havia entre eles o diálogo necessário para que fosse realizado acordo em
audiência de conciliação, a juíza da 1ª Vara Cível da Comarca, Christiana
Motta Gomes sugeriu a sessão entre os pais do menor e ambos concordaram,
resultando de um acordo que colocou fim na demanda.
Assim, a psicoterapia das constelações familiares vem sendo
aplicada com efetividade nos diversos tribunais do Brasil, alcançando
resultados satisfatórios e surpreendedores.
468
É nesse sentido que o incentivo, a especialização e a aplicação pelos
profissionais do Direito, é necessária, tendo em vista que a advocacia caminha
rumo aos acordos, sejam eles judiciais ou extrajudiciais, e, conforme
explanado em todo o artigo, a prática deve ser motivada pelos profissionais e
com o suporte necessário para que os conflitos possam ser resolvidos
satisfatoriamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A melhor síntese de um advogado atuando de forma humanizada se
dá, nas palavras de Barroso6: “O advogado do futuro não é aquele que propõe
uma boa demanda, mas aquele que a evita”.
Após definirmos o que é a psicoterapia da constelação familiar na
perspectiva do alemão Bert Hellinger e suas nuances dentro do sistema
familiar, analisamos a forma que o sistema atua dentro de uma sessão da
psicoterapia.
Analisamos então que o sistema não aceita qualquer tipo de exclusão
dos membros daquele sistema, percebendo então, de acordo com os estudos
de Hellinger que, aquele que é excluído dentro de um determinado sistema,
terá por consequência, um outro membro que o representará de forma
inconsciente, buscando sua inclusão no sistema, colocando assim o sistema
em ordem.
Assim, foi abordada a inovação trazida pela Resolução
125/2010 do CNJ que iniciou a tratativa dos métodos de resolução de
conflitos: a conciliação e a mediação.
A partir daí, foi analisado pela ótica do novo CPC/2015 que trouxe
em seu eixo a regulamentação dos métodos de resolução de conflitos como
1990. 1º colocado em concurso de provas e títulos - Doutor em Direito Público, UERJ, 2008 -
Visiting Scholar, Harvard Law School, EUA, 2011, Ministro do Supremo Tribunal Federal.
469
uma nova forma de visão do Poder Judiciário, tendo em vista que a
conciliação é a fase pré-processual, alcançando desde sua vigência, resultados
satisfatórios.
Analisamos a perspectiva do Direito Sistêmico partindo da aplicação
da Psicoterapia da Constelação Familiar, surgindo então essa novidade dentro
do direito, não como um novo ramo do direito, mas sim como uma alternativa
dentro do Poder Judiciário para analisar os conflitos que são demandados dia
após dia e, na maioria das vezes, com as mesmas partes, a mesma história e a
mesma desordem dentro do sistema familiar.
Vislumbramos as ordens do amor, ou também conhecidas como leis
sistêmicas, quais sejam, a lei do pertencimento, a lei da hierarquia ou ordem e
a lei do equilíbrio (dar e receber), e seus desdobramentos para que possam ser
aplicadas de forma eficaz nas demandas judiciais, principalmente no Direito
de Famílias, onde há concentração de grandes conflitos, na perspectiva
sistêmica, conflitos gerados por haver algum desequilíbrio entre as leis
sistêmicas.
Abordou-se também o ponto de vista dos autores em elucidar o
Código de Ética e Disciplina da OAB e o Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil e suas proibições de exercer duas ou mais atividades distintas nos
escritórios de advocacia, o que causaria assim o seu desvio de finalidade e
seria proibido pelo Código e Estatuto da OAB.
Vimos nesse sentido, que a prática e aplicação da psicoterapia da
constelação familiar não pode ser vista como atividade distinta da advocacia,
tendo em vista que, ao advogado e o advogado sistêmico, cabe tão somente
incentivar as partes à resolução consensual do conflito.
Por fim, analisamos a criação das comissões de Direito Sistêmico e a
forma em que alguns tribunais do Brasil têm aplicado a psicoterapia e quais
tem sido os resultados alcançados, demonstrando serem satisfatórios e
470
eficazes após as partes serem encaminhadas a psicoterapia da constelação
familiar.
Percebemos que quando as partes, os procuradores, magistrados,
representantes do Ministério Público e demais servidores trabalham com uma
visão sistêmica, todo andamento processual é de forma relevante para
contribuição de resolução do conflito de forma consensual e efetivamente
correta.
Resume-se esse trabalho com o pensamento de que a aplicação da
psicoterapia da constelação familiar é, atualmente, a forma mais próxima das
partes visualizarem o conflito e, ao final, positivamente realizar um acordo,
colocando fim na demanda e na reincidência do processo, resultando numa
forma de não abarrotar o Poder Judiciário com demandas que por ora, já
foram analisadas em outro momento.
A especialização do advogado para uma advocacia resolutiva é, no
momento atual e futuro, a melhor forma de capacitação para o exercício das
demandas.
REFERÊNCIAS
471
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao
direito processualcivil, parte geral e processo de conhecimento I Fredie Didier
Jr. -17. ed. - Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. 789 p
474
A IMPORTÃNCIA DA PSICANÁLISE PARA TOMADA DE DECISÕES
DO MAGISTRADO, NO ÂMBITO JURISDICIONAL
RESUMO
Neste artigo de TCC conheceremos alguns conceitos da psicanálise e suas
particularidades, buscando entender a sua relevância e empregabilidade no
mundo jurídico, reflexionando Lacan e a importância do retorno a Freud, o
chamado pai da psicanalise. A partir dessa premissa, notaremos a extrema
necessidade de repensarmos todo escopo jurídico, uma vez que este não se dá
bem com a ingerência de outras ciências. Perceberemos que esse repudio à
conversação com outras ciências, como a psicanálise, fica claro em algumas
correntes da hermenêutica jurídica, a exemplo da Escola da Exegese, e
também através de uma análise cautelosa acerca da teoria cientifica de Hans
Kelsen, que trata a pureza da norma jurídica e não vê com bons olhos a
apreciação da matéria do objeto jurídico, se não por ele mesmo. Doravante
tentaremos lincar tais pensamentos com o papel do profissional do direito
dentro da construção, apreciação e aplicação das normas jurídicas, durantes
os processos.
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE
476
O conceito Freudiano de Pulsão, mais tarde também posto em pauta
por Lacan, enfatiza-o como um dos pilares e principais conceitos da
psicanálise, que muitas vezes não tem o seu devido valor reconhecido pelas
outras ciências, não se tendo uma via de reflexão adequada.
Lacan nos deixou um enorme legado ao trazer à tona “o retorno a
Freud”, sem isso, seguiríamos a via de que o pensamento é um ato de prazer e
não resistiríamos “à tentação que lhe é proposta pelo pensamento dogmático,
ou ideológico, cuja função é a de fazer com que se cale a questão singular,
trazendo-lhe, de uma vez por todas, uma resposta coletiva”.
A psicanálise ganha vida e força não somente embasada em teorias,
mas também através do estudo clínico. Foi fundada a partir dessa premissa, e
dela deve sobreviver.
O artigo “A escuta na psicanálise e a psicanálise da escuta” publicado
no ano de 2005 pelas psicanalistas e psicólogas Mônica Medeiros Kother
Macedo e Carolina Neumann de Barros Falcão em sua primeira parte enfatiza
que:
477
Cabe ressaltar que estamos falando de uma palavra
que lhe abriria novas possibilidades de compreensão
do sofrimento humano. Desta forma, dois trabalhos
se impõem: o de escutar a palavra do outro e o de
produzir palavras que viessem ao encontro dessa
demanda de ajuda. Talvez se demarque, desde esses
tempos iniciais, uma característica essencial da
psicanálise como método e técnica: estar aberta à
singularidade desse outro que fala, seja na dimensão
referente a seu sofrimento e pedido de ajuda, seja no
que diz respeito ao efeito de sua ação terapêutica
sobre ele. Ao abrir caminhos para que o homem
repense sua história, a própria psicanálise escreve
sua história de transformações e ampliações (ART. 1
E 2 §§, MACEDO, FALCÃO, 2005).[3]
478
SIMBIOSE
PULSÕES
481
O termo "pulsão" ("Trieb") aparece em Freud,
pela primeira vez, no "Projeto" de 1895 (e não em
1905, nos "Três Ensaios sobre a Teoria Sexual"
(ART. 1,2 §§) [6]
483
DIREITO E PSICANALISE- PRIMEIRAS NOÇÕES
484
O positivismo é, portanto, uma filosofia
determinista que professa, de um lado, o
experimentalismo sistemático e, de outro, considera
anticientífico todo o estudo das causas finais. Assim,
admite que o espírito humano é capaz de atingir
verdades positivas ou da ordem experimental, mas
não resolve as questões metafísicas, não verificadas
pela observação e pela experiência (RIBEIRO
JR.,1982, p. 16)[9]
485
A ciência do direito encontra fundamento enquanto uma ciência
metodologicamente pura até a definição do que Kelsen chama sobre uma
moldura do direito, porque após a definição de hipóteses possíveis para
solucionar o caso, o juiz interprete autentico da norma, terá que escolher uma
dentre as hipóteses validas. Essa escolha não é conhecida como um ato da
ciência do direito, e sim um ato de aplicação da norma, consequentemente
encontrando limite a pureza metodológica Kelseniana, admitindo assim, a
influência de outras ciências.
Diferentemente da escola da exegese, que atribui à lei uma
supremacia que se faz cega e fechada quando o assunto é a aceitação e
comunicação com outros ramos das ciências, trazendo uma idolatria
desmedida, tendo base na supremacia da lei e princípio da legalidade, sendo
posta acima de todas as vontades e possíveis interações.
486
Ainda que o positivismo jurídico esteja entranhado em nosso
ordenamento jurídico, este vem se mostrando ineficaz quando o assunto são
leis que sejam “pró povo”, o positivismo beneficia se não somente quem há
muito está no poder.
O professor colaborador em prática de processo penal da Fundinopi
Vinicius Gonçalves Rodrigues que também é Funcionário do Poder Judiciário
do Estado de São Paulo, diz o seguinte em seu artigo “A crise do positivismo
jurídico e a necessidade de mudança de paradigma” publicado no ano de
2006.
DESEJO X GOZO
489
El Nombre-del-Padre no es más que elnombre de
una función.” Jacques-Alain Miller
1 – A importância do Complexo de Édipo é
fundamental na configuração do que Lacan
denominou Nome-do-Pai – a primeira interdição
que se apresenta e que estrutura o inconsciente do
indivíduo47 –, eis que é a partir dela que é inserido
na linguagem e tem acesso à cultura, ao Simbólico.
E o Direito, na forma que se conhece, também
procura estabelecer a ordem social, colocando
limites às pulsões, na pretensão de coibir o excesso
de gozo em nome da Civilização. Busca barrar os
impulsos, principalmente dos que não conseguem
respeitá-los sem (a ameaça de) sanção(ROSA, 2004,
págs. 14 ,15).[15]
494
Temos como ponto de partida para pensar sobre tais demandas, de
forma breve e concisa, que falar a respeito da obra de Maquiavel “O
PRINCIPE”, no qual ele elabora a teoria dos freios e contrapesos, que nada
mais são que, poderes harmônicos que trabalham de forma independente
fazendo com que a máquina governamental funcione de modo que um poder
consiga fiscalizar o outro, ou simplesmente o barrar, para que não haja um
desequilíbrio, e um sobressaia no poder.
Em um artigo publicado em 2012 por Leonardo Mundim- Advogado
em Brasília, professor do UniCEUB, especialista em análise da
constitucionalidade pela UnB, ele ressalta.
495
Sendo assim, um juiz tem não somente o poder de julgamento, como
também poderá através da hermenêutica jurídica analisar a lei e a julgar
visando o melhor resultado útil para as partes, com a premissa da
imparcialidade.
Significa que não haverá interferência em seus julgados, e que este
agirá conforme a letra da lei, seguindo com veemência e convicção, afinal, é
isso que se espera de um juiz, que o mesmo tenha tal “convicção” na hora de
elaborar a sua sentença.
Contudo, percebemos que se analisarmos as vias de fato somente
pela literalidade da letra da lei, correremos o risco de não conseguirmos
chegar a uma justiça “justa”, a redundância se faz necessária posto que, o
direito não é uma ciência absoluta, e diante das infinitas possibilidades e
problemáticas, como já dito, venha e ser incompleto.
Nessa hora, o juiz se baseara em que?!No que ele acha certo?! Na
sua moral?! Na moral do estado?! No que é justo, e de maneira imparcial?!
São tantas perguntas sem uma resposta satisfatória.
São nesses questionamentos que encontramos vários motivos para
que estes aconteçam mais uma vez, então, porque não, a ingerência de
outros ramos das ciências, como a exemplo principal, a psicanálise, que é o
nosso tema em questão. Já que se trata de uma ciência que busca justamente
tentar responder todas as perguntas, que de modo as vezes muito
conservador e pragmático o direito põe seu olhar.
Podemos ter uma abrangência muito maior se pensarmos que não se
trata de uma invasão ao tapete vermelho do direito, e sim um aparato
técnico a mais, que poderá de forma perscrutada ajudar no exaurimento de
determinado caso, com maior diligência.
499
maior atenção pelos profissionais do direito, já que esta tem como uma de
suas finalidades a busca pela “compressão”, como se fosse um ramo da ciência
mais empático do que os demais, pois a todo momento temos a tentativa de
entender o sujeito que age e o que sofre, que tem acertos e falhas.
A psicanálise para o julgador é um meio de desvinculação desse
positivismo entranhado em nosso sistema garantidor, se trata de uma forma
inesgotável de possíveis questionamentos e críticas, que a todo momento
podem ser subtraídas para uma compreensão mais completa sobre
determinada matéria e seus significados.
Temos que entender essas possíveis construções como uma forma de
fazer o papel da justiça com maior transparência e concepções realmente
neutras, conseguindo afastar toda e qualquer interferência que não tenha a ver
com o processo.
Só se consegue isso quando se entende que não se trata de si, mas sim
da vida do próximo e que o nosso inconsciente estará o tempo todo nos
mandando de forma imperceptível, várias informações e pensamentos, de
como devemos ser e agir.
Tornando assim o papel do julgador algo de extrema complexidade quando
entendemos que ele é somente uma pessoa que sente, sofre, se comove, odeia,
recalca, e não um robô.
A psicanálise não é só mais uma ciência, e sim a busca pelo
entendimento de nós mesmos. Não há como entender o ordenamento jurídico
ou o âmbito social sem saber que somos parte de um todo, e que nossas ações
inferem indiretamente e diretamente no próximo.
CONCLUSÃO
No mundo dinâmico e contemporâneo em que nos encontramos, que
evolui de forma substancial a todo momento, não se pode criar pesadas
500
correntes a uma herança do positivismo jurídico. Tendo como base para um
começo a conversação com os outros ramos da ciência, o que inclui de forma
mais do que essencial a psicanálise como uma das primordiais e mais
importantes fontes para a busca e compreensão do ser.
Não há como falar e compreender as leis, sem antes tentar fazer o
mesmo com o criador delas. Conhecer a si próprio pode acontecer de forma
natural e tranquila, ou de modo conturbado e complexo, visto que somos seres
caóticos, de enorme interação social com o espaço em que nos encontramos,
movidos pelo desejo de forma insaciável e desprendido de determinados
padrões.
Todas as interações desde o momento do nosso nascimento, nos
trazem constantes informações, que mais à frente, formarão a nossa
personalidade, e esta, indissociavelmente, estará presente e preencherá todas
as lacunas da vida.
O papel do imparcial julgador se mostrou conflitante quando este
tenta se orientar apenas pela hermenêutica jurídica, e como vimos na
psicanalise, o inconsciente sempre estará presente em todos esses momentos,
mesmo que de forma desapercebida. Com isso, é de extrema importância que
haja uma reflexão profunda sobre a influência dessa ciência tão instigante que
é a psicanalise.
Sendo assim, mesmo que haja uma resistência nessa troca de
informações dentro do espaço jurídico, o retorno a Freud, mencionado por
Lacan esclarece de forma persuasiva, que este é um ato “inerente da vontade
do homem” pois, querendo ou não, ele irá ocorrer advindo do inconsciente,
estando presente não apenas na hora de legislar, julgar e executar a lei, como
também em toda forma de possíveis interações, ou estudos de caso.
501
Dito isso, é melhor compreender do que resistir e fugir de algo que se
apresenta de forma natural advinda não somente do instinto humano, como
também das pulsões e do inconsciente.
Isto posto, havendo essa abertura necessária à interação da
psicanálise no âmbito jurisdicional, poderá o juiz cada vez mais encontrar um
caminho menos incompleto e mais assertivo no que tange o ato de julgar.
REFERÊNCIAS
502
[7] JORGE, M. A. (2017). Fundamentos da Psicanálise de Freud e Lacan (2º
ed.). Rio de Janeiro: ZAHAR. p. 20.
[8] ROSA, Alexandre de Morais da. (2004). Decisão no Processo Penal Como
Bricolade de Significantes. Curitiba. p. 05
503
[20] MUNDIM, L. (2002). Fonte: JusBrasil. Disponóvel em:
<https://correio-forense.jusbrasil.com.br/noticias/3040265/podem-
os-juizes-legislar> Acesso em 14 06 2020.
504
A INSERÇÃO DA PSICANÁLISE NO SISTEMA PRISIONAL:
TRATAMENTO INDIVIDUALIZADO E INSTRUMENTO DE
RESSOCIALIZAÇÃO
INTRODUÇÃO
510
fim, descrever uma conclusão. Ao longo do corpo deste trabalho, voltou-se
para a leitura de Freud (1920), Freud ( 1928), Shimizu (2015), Terêncio
(2011), Jesus (2001) e Jung (1969) dentre outros autores.
DESENVOLVIMENTO
Nesta parte, houve uma reflexão acerca do papel do direito na construção de
uma sociedade estável. Neste contexto, emerge a pena – atrelada ao Direito -
e suas diversas faces, ora voltada para a coerção do apenado, ora voltada para
aplacar a sociedade, para servir de parâmetro, ora para ressocializar o
apenado. Diante de suas múltiplas faces é preciso analisar: o que é a pena?
Quais são as consequências da não ressocialização do apenado para a
sociedade? Far-se-á um breve histórico sobre a pena no Brasil além de um
alinhamento com os Direitos Humanos.
513
celas ou no exílio, na deportação. Este sistema surge, simultaneamente, com
o regime capitalista como instrumento de controle das pessoas perigosas ou
indisciplinadas. “O banimento e a deportação estiveram associados ao
processo de exploração colonial e a prisão com ou sem trabalho forçado
esteve intimamente ligada à emergência a ao desenvolvimento do modo de
produção capitalista”(KOLKER, 2004, p. 159).
Dentro deste cenário, os Direitos Humanos surgem nesta sociedade
como respostas às angústias que, há muito tempo, povoam as preocupações
das pessoas minimamente preocupadas com os outros seres humanos. A
Organização das Nações Unidas (ONU), na data de 10 de dezembro do ano
de 1948, adotou a Declaração Universal dos Direitos do Homem. O texto foi
inspirado na Declaração do direito do homem e do cidadão escrita na
Revolução Francesa e foi escrito por John Peters Humphrey e René Cassin.
Estes direitos constituem-se em premissas, não possuem valor legal mas
servem de alicerce teórico para a construção de Tratados Internacionais
obrigatórios como o Tratado dos direitos Econômicos, sociais e Culturais e o
Tratado Internacional dos Direitos Civis e Políticos (ONU, Declaração
Universal dos Direitos do Homem, 1948). Sob esta nova perspectiva passou-
se a repensar a pena como sendo um processo de (re) socialização e não
apenas um castigo.
514
clero. Os camponeses não compreendiam o fato de os nobres e o clero terem
direitos exclusivos enquanto classe social. O iluminismo e a Revolução
Francesa foram reações, que apesar de pontuais, influenciaram várias lutas
pelo mundo. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão decretada
em 26 de agosto de 1789 já apregoavam em seu “Art.1º. Os homens nascem
e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-
se na utilidade comum” ( DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E
DO CIDADÃO, 1789 ).
A ONU, que em 1948, proclama a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão; trazendo em seu primeiro artigo: “Todos os homens
nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, concluímos que, segundo esse
documento, os titulares dos direitos fundamentais são todos os homens”
(KUMAGAI e MARTA, 2010,p. 1). Já a Convenção Americana de Direitos
Humanos (CADH), de 1969 diz em seu artigo 1º:
515
mesma como um valor supremo, construído pela razão jurídica”. Este ponto
de vista também é corroborado por Sarlet quando este ensina que:
516
Federal de 1988 sagrou este Direito como um princípio pétreo. E, como tal
deve ser observado para todos os outros direitos. Ora sendo os apenados
também homens, estes podem ser agraciados pelo princípio da dignidade
humana. No entanto, conforme salienta Bitencourt (1999, p. 1) a ideia da
prisão, enquanto método de prevenção de crimes, vem tendo sua eficácia
questionada. “ A ideia disseminada (...) segundo a qual a prisão seria a
principal resposta penológica na prevenção e repressão ao crime perdeu
fôlego, predominando atualmente uma atitude pessimista, que já não tem
muitas esperanças sobre os resultados que se possa conseguir com a prisão
tradicional.” A observação do sistema carcerário brasileiro evidencia sua não
conformidade com a dignidade humana.
519
superlotado, com presos ociosos Ainda no entender de Wolff, o sistema
carcerário brasileiro se mostra assim:
As precárias condições do sistema penitenciário
brasileiro são amplamente conhecidas e destacadas
em inúmeros relatórios de organismos nacionais e
internacionais da defesa dos direitos humanos.
Superpopulação carcerária, ausência de
individualização da pena, dificuldades de acesso à
defesa e a outros direitos estabelecidos na Lei de
Execuções Penais são situações corriqueiras nas
prisões do Brasil (Wolff, 2007, p. 15 apud
ADORNO, 2010, p. 45).
Isto vem comprovar que esta situação se arrasta anos a fio sem
nenhuma solução prática. Estes resultados só fazem ressaltar que, nos
presídios, o princípio da dignidade humana não é cumprido. Conforme Sarlet
(2007, p. 132) o mencionado princípio da dignidade da pessoa humana
“impõe ao Estado, além do dever de respeito e proteção, a obrigação de
promover as condições que viabilizam e removam toda sorte de obstáculos
que estejam a impedir as pessoas de viverem com dignidade.” Ainda Arruda
salienta que “em face do paradoxo que é o atual sistema carcerário brasileiro,
pois de um lado temos o acentuado avanço da violência, o clamor pelo
recrudescimento de pena e, do outro lado, a superpopulação prisional e as
nefastas mazelas carcerárias”(ARRUDA, 2016, p. 35).
A superlotação dos presídios brasileiros expõe, de forma grotesca e
irreparável, as mazelas de uma sociedade desigual e a forma como o Estado
conduz o tratamento dos encarcerados. Presos vivendo em conteiners na
região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo. Rebeliões violentas,
mortes de apenados, pessoas que por furtarem sabonetes ficam presas até
mais de três meses sem ver o juiz competente. Até mesmo o caso peculiar do
mecânico Marcus Mariano da Silva, preso em 1979 por acusação de
homicídio. A partir desta data, o mesmo ficou preso, por duas vezes, por um
total de 19 anos sem julgamento. Ao longo deste período, ficou cego, depois
521
de ser atingido por estilhaços de granada lançada por um policial durante uma
rebelião. Este erro foi gerado porque o verdadeiro assassino era um quase
homônimo dele e uma série de situações que tornaram este caso emblemático
para a justiça brasileira. (PORTAL DE NOTÍCIAS G1, 2011, p. 1)3. Esta e
outras tantas situações levam a questionar a forma como a sociedade enxerga
seus apenados e os sistema carcerário no Brasil. Para Arruda (2016, p. 34) é
inevitável pensar que “os presos são literalmente tratados como objetos
imprestáveis que jogamos em depósitos(...) afinal, para parte de uma
sociedade alienada, o preso não passa de "lixo humano".” Estas adjetivações
são pontualmente colocadas diariamente na mente dos apenados e isto gera ,
no mínimo, um desconforto para os mesmos que, aliados com a realidade da
superlotação, passam a desenhar um cenário de indiferença da sociedade e da
justiça. Diante da superlotação dos presídios o apenado fica submetido a
uma “sobrepena”, uma vez que estará sujeito a todo tipo de violação por parte
da macropopulação carcerária. Neste sentido, é cabível pensar em
gravíssimas violações dos Direitos Humanos no que tange o atendimento aos
apenados impedindo, copiosamente, qualquer tentativa de ressocialização dos
presos e transformando as cadeias em depósitos de pessoas. Contudo D’Urso
chama a atenção para a diferenciação dos termos:
Por ressocialização há de se ter aquela condição de
retorno ao meio social daquele desgarrado, daquele
que, tendo praticado uma infração, foi
temporariamente afastado do convívio comum. Por
reeducação, e aqui se note o criticado sentido
fornecido pelo art. 28 da atual Lei de Execuções
Penais brasileira, se tem a necessidade educativa da
pena imposta, o que se dá mormente pelo trabalho.
O condenado, tendo se desviado do caminho
adequado e esperado aos homens de bem, deve ser
3http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2011/11/no-recife-ex-mecanico-preso-por-
engano-foi-vitima-de-infarto-diz-laudo.html
522
reeducado, para que possa voltar a ter atitudes
socialmente adequadas, vale dizer, ao trabalho dele
esperado. Finalmente, por reintegração, imagina-se
à volta daqueles que tenham se separado do convívio
comum devido à aplicação de uma sanção penal
(D’URSO, 2002, p. 248).
Arruda (2016, p. 34) ainda aponta ainda que o grande número de
pessoas nas prisões leva a supressão dos direitos humanos unilateralmente. Já
o autor Viana corrobora esta opinião e ainda acrescenta que:
524
A vítima do delito já contracenou como ator
principal, na época da vingança privada, quando a
resposta ao mal causado era buscada com suas
próprias mãos, tendo este período como seu apogeu.
No período da justiça privada, também idade de
ouro da vítima, esta era responsável pela persecução
criminal, havendo um árbitro que verificava se a
vingança desejada pela vítima era proporcional à
agressão cometida.
Mais adiante Tomazi (2010, p. 14) ainda esclarece que existe uma
interdependência entre a vida privada e o contexto social, as decisões tomadas
por um indivíduo acarretam consequências sobre os outros e vice versa. Posto
que o conflito de interesses entre as pessoas sempre vai existir, há que se
delimitar uma fronteira entre a ação e a intenção para que delineie a paz
social. Neste contexto, o Direito, em seu ramo Penal surge para regular as
atividades sociais dos homens, organizando a vida em sociedade com vistas a
proteger a paz social, atuando como parâmetro a fim de evitar que a sociedade
se torne caótica. Para isto o Direito Penal utiliza-se de normas (medidas de
segurança), usadas preventivamente, e sanções ou penas, usadas a
posteriormente. O monopólio do uso da força cabe ao Estado.
Conforme Santana (2012, p. 1) a pena que foi introduzida no Brasil e
em muitos outros países, tem como finalidade máxima organizar a sociedade,
dar-lhe direcionamento. Sem as penalizações da Lei, o Direito seria inócuo e
as pessoas que cometem crimes teriam plena liberdade para cometê-los
novamente gerando uma situação social de anarquia generalizada, deixando
os cidadãos a mercê do seu próprio destino. Desta forma se inicia um
movimento que vislumbre a pena sem perder de vista que o apenado é um ser
humano, assim como os cidadãos da sociedade ao seu redor. As palavras de
Cesare expressam este desejo ambíguo da sociedade de se organizar através
das penalizações e o receio do excesso do uso do poder:
527
punir” iniciando o Direito Penal sob o aspecto científico hoje existente, sendo
estudados o crime, o criminoso e a pena, seus elementos naturais. A vingança
deu lugar à correção, ou recuperação, humanizando-se as penas” (ALMEIDA,
2005, apud SILVA, 2009, p. 33). No entanto, no senso comum, o ato de
punir, aniquilar o apenado, negando-lhe todo e qualquer direito ainda vigora.
Apresentadores de tele jornais incentivam a prisão, fomentando a
cultura do aprisionamento que se instalou no Brasil. Esta cultura transforma
as prisões em depósitos de pessoas. O sistema carcerário brasileiro, então, se
organiza sobre a premissa de que quanto mais gente encarcerada melhor, pois
gera uma sociedade mais segura. Esta aliada à outra premissa que diz que a
prisão do autuado em flagrante transmite a falsa impressão de eficácia da
justiça constitui-se em falácias. Estas falácias, exploradas por tais jornalistas
em busca de audiência, instauram na sociedade uma celeuma em torno deste
assunto. Desta forma, tem-se um sistema carcerário ineficiente e superlotado,
com presos ociosos, o crime organizado cada vez mais forte e sindicalizado.
As emoções são redimensionadas proporcionando uma perda de
racionalidade e o clamor público se instala. Hoje, o You tube virou um palco
para vídeos de linchamentos públicos, alguns com final fatal. A justiça feita
com as próprias mãos volta a cena transtornando homens em um bando de
bestas feras jovens rugindo, sem direção e expondo o lado instintivo do ser
humano. Urge que se busquem alternativas para acabar com a cultura do
encarceramento fomentando na sociedade uma contra cultura dos direitos
humanos para todos. É necessário acabar com o exagero nas prisões em
flagrante e com estes casos pontuais de bestialidade compartilhada por
membros da sociedade.
528
Nesta parte, que se constitui no cerne desta investigação foi tecidas
considerações acerca da psicanálise e da aplicação da pena de cerceamento de
liberdade com o propósito de investigar se a psicanálise, aplicada sob a forma
de terapia com vistas a aumentar a autoestima dos apenados pode ser um
instrumento útil para a redução da (re) incidência na criminalidade. Será uma
pesquisa de revisão teórica realizada sobre os autores que já se debruçaram
sobre este tema.
O QUE É A PSICANÁLISE?
A psicanálise foi criada há quase cem anos atrás por Freud e, ao longo
deste século, outros acréscimos foram sendo elencados ao corpo teórico desta
ciência. Este discurso é relativamente novo, mas já produz efeitos
magnânimos. Freud comprova a existência do inconsciente para o resto do
mundo e, todos passaram a se ver e ver os demais com outros olhos,
ponderando outros significados. E, mais do que isto, Freud aponta que o
inconsciente pode ter relação com diversos sentimentos, inclusive a culpa.
Constituiu uma surpresa descobrir que um aumento
nesse sentimento de culpa Ics. [inconsciente] pode
transformar pessoas em criminosos. Mas isso
indubitavelmente é um fato. Em muitos criminosos,
especialmente nos principiantes, é possível detectar
um sentimento de culpa muito poderoso, que existia
antes do crime, e, portanto, não é seu resultado, mas
sim o seu motivo. É como se fosse um alívio poder
ligar esse sentimento inconsciente de culpa a algo
real e imediato (FREUD, 1916/1996, pp. 347-348
apud SHIMIZU, 2015, p. 13).
530
em que é introduzido o status dedesviante”. O apenado carrega o peso dos
rótulos ao longo da pena e depois dela e, isto deriva deste histórico de relação
entre pena, castigo e punição.
Não obstante o foco ser o crime em si e a aplicação das penalidades, as
causas, a origem da vontade de cometer crime também era objeto de
curiosidade. O olhar sobre os criminosos sempre produziu certo fascínio entre
alguns estudiosos. Como e porquê um indivíduo cometia crimes era um vasto
campo . Nesta seara, brotaram teorias que variavam dentro da antropologia
criminal, cujo expoente máximo é o Cesare Lombroso daí antropologia
criminal italiana ou lombroseana.
534
Neste sentido, o oferecimento de tratamento psicanalítico corrobora
para o entendimento completo do indivíduo por ele mesmo e pelo
psicanalista, ajuda a criar uma relação de confiança num ambiente
extremamente hostil, e, este indivíduo consegue instrumentos internos que
são usados para reorganizar seu mundo interno. Ao voltar para a sociedade,
este indivíduo será mais consciente do seu papel e conseguirá superar o forte
preconceito que certamente o vai cercar dado que a sociedade ainda vai levar
um bom tempo até compreender que o ex-apenado não tem um rótulo fixo me
sua testa para sempre.
CONCLUSÃO
535
atacava o criminoso, sua família e todos os membros do seu grupo. Num
segundo memento, os deuses tomavam para si o direito de punir por meio dos
seus representantes, no caso os sacerdotes. O fato dos deuses infligirem as
punições já torna o indivíduo um maldito, pois a mitologia grega esta cheia de
homens que eram castigados pelos deuses – Síssifo, Tântalo, Íxion,Erisictão e
tantos outros. Lembrando que a maioria absoluta deles eram seres humanos
extremamente maus e cruéis – o que reforça ainda mais a ideia de que os
castigados devam merecer a punição. Quando a aplicação da punição passa
para as mãos do rei, ainda subjugado pelo poder divino, a condenação se
estende para a família, mas a crueldade ainda está presente apesar da punição
ser agora monopólio do poder. Muitas vezes, o preso, após sofrer a pena
capital tinha seu corpo exposto com vistas a servir de exemplo para que os
outros não procedessem igual (vide Tiradentes). O iluminismo chega e traz
racionalidade para a aplicação da pena, mas ainda não alcançou a plenitude da
sociedade. Toda esta carga cultural em torno do preso, do castigo, da punição
ainda permanece viva dentro da mente das pessoas e isto se observa na forma
como pensam tratar seus presos.
Neste sentido, hoje, apresentadores de tele jornais incentivam a
prisão, fomentando a cultura do aprisionamento que se instalou no Brasil.
Esta cultura transforma as prisões em depósitos de pessoas. As emoções são
redimensionadas proporcionando uma perda de racionalidade e o clamor
público se instala. Hoje, o You tube virou um palco para vídeos de
linchamentos públicos, alguns com final fatal. A justiça feita com as próprias
mãos volta à cena transtornando homens em um bando de bestas feras jovens
rugindo, sem direção e expondo o lado instintivo do ser humano. O sistema
carcerário brasileiro, então, se organiza sobre a premissa de que quanto mais
gente encarcerada melhor, pois gera uma sociedade mais segura. Ainda esta
transmite a falsa impressão de eficácia da justiça constitui-se em falácias que,
536
exploradas por tais jornalistasem busca de audiência, instauram na sociedade
uma celeuma em torno deste assunto. Desta forma, tem-se um sistema
carcerário ineficiente e superlotado, com presos ociosos, o crime organizado
cada vez mais forte e sindicalizado.
Num círculo vicioso, o apenado, ao sair, ainda sofre preconceitos
diversos, o que mitiga suas chances de se reestabelecer novamente na
sociedade. As possibilidades deste indivíduo voltar a cometer crimes são
inúmeras, com baixaauto estima, sofrendo preconceitos diversas apesar de já
ter cumprido sua pena e sem possibilidades de se reassentar, o mesmo volta a
cometer crimes, gerando uma roda infinita de violência
Urge que se busquem alternativas para acabar com a cultura do
encarceramento fomentando na sociedade uma contra cultura dos direitos
humanos para todos. Neste sentido, a psicanálise aparece como um
instrumento de empoderamento do encarcerado. Simultaneamente, com a
aplicação da pena, o indivíduo que recebe acompanhamento psicanalítico e
outros que ensejem seu bem estar e, oportunamente, que viabilizem sua
reinserção na sociedade. Vislumbra-se, neste entendimento, a aplicação do
princípio da dignidade humana. Um indivíduo que se sinta valorizado e, que
tenha seu inconsciente trabalhado por um profissional adequado, se conhece e
tem a possibilidade de entender melhor o seu presente para, desta forma,
construir melhor seu futuro.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Sérgio. Foucault, a lei e o direito. In: SCAVONE,Lucila;
ALVAREZ, Marcos César; MISKOLCI, Richard (orgs.).O legado de
Foucault. São Paulo: Editora da UNESP, 2010.
538
Companhia dasLetras.
LOPES JR., Aury. ROSA, Alexandre Morais da. Processo Penal no Limite.
Florianópolis: Empório do Direito, 2015.
539
MEZAN, R. (1995). Psicanálise e Psicoterapia. Em R. Mezan. A vingança da
esfinge:ensaios de psicanálise. (2a ed.) (pp. 21-42). São Paulo:
Brasiliense.
540
SHIMIZU, Bruno. O mal estar e a sociedade punitiva: ensaiando um
modelo libertário em criminologia psicanalítica. 360f. Doutorado.
Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
SILVA, Alexandre Calixto da. Sistemas e Regimes Penitenciários no
Direito Penal Brasileiro:Uma Síntese Histórico/Jurídica. 112 f.
Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Estadual de Maringá,
Maringá. 2009. Disponível em
:<http://http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/DISSERTACAO%20AL
EXANDRE%20CALIXTO[1].pdf>Acesso em: 5 de Marc. de 2020.
WEBER, Max. Economia e sociedade. 3. ed. Editora UNB, 1994, v.1. Cap.
III.
541
A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO SOB A PERSPECTIVA DA
INEFICÁCIA DA PROTEÇÃO AO BEM JURIDICAMENTE
TUTELADO E DA VIOLAÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA
MULHER
RESUMO
O presente trabalho apresenta como tema central a defesa da tese da
descriminalização do aborto no primeiro trimestre da gestação sobre a
ótica da Constituição Federal e do Código Penal Brasileiro, apontando a
ineficácia da criminalização do aborto, tendo em vista que a simples
tipificação penal não garante a proteção de fato ao bem jurídico
tutelado, bem como coloca em cheque a efetivação de um conjunto de
Direitos Fundamentais da mulher. Este estudo classifica-se como uma
pesquisa básica, teórica e qualitativa, buscando gerar conhecimento
novo para o avanço da legislação penal pátria. Será utilizado o tipo
pesquisa bibliográfica, amparando-se nas informações coletadas em
doutrina, teses e artigos científicos. Será utilizado o apoio documental
de jurisprudência e legislação específica sobre aborto e a Constituição.
O objetivo geral do trabalho é demonstrar que a criminalização das
condutas previstas nos arts. 124 e 126 do Código Penal é apenas
simbólica e que carece de uma revisão atenta aos anseios da sociedade
atual para que diversos Direitos Fundamentais da mulher sejam
efetivamente aplicados.
544
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
546
O elemento subjetivo do crime de aborto é sempre o dolo, não
havendo previsão para a modalidade culposa.
O sujeito ativo do delito é a mulher gestante, no caso do art.
124, sendo crime de mão própria. Já no que concerne aos arts. 125 e
126 o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
De acordo com o art. 5°, inciso XXXVII, da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 a competência para julgamento
de crimes dolosos contra a vida é do Tribunal do Júri.
549
apenas sob a perspectiva biológica. Devemos considerar não só o
direito de estar vivo, mas também o direito a uma vida digna e neste
último enfoque a doutrina mais moderna de Direito Constitucional
compreende que o direito à vida está intimamente conectado à
Dignidade da Pessoa Humana. (FERNANDES, 2019).
Questão tormentosa sobre o tema, diz respeito à quando se
inicia a vida. Não há um consenso filosófico ou científico para esta
indagação, sendo que há várias teorias que tentam delimitar o início
deste bem jurídico. A primeira delas afirma que a vida se inicia com a
concepção, ou seja, com o surgimento do zigoto em decorrência da
fecundação do óvulo pelo espermatozóide. A segunda teoria aduz que a
vida tem início a partir da nidação, fixação do zigoto no útero materno,
que ocorre entre sete a dez dias após a fecundação. Para a terceira
teoria a vida se inicia com a formação do sistema nervoso central. Por
fim, a quarta teoria afirma que a vida tem início quando se torna
possível a existência do feto independente da mãe (FERNANDES,
2019).
A Constituição Federal de 1988 apenas deixou expresso o
direito à vida, mas não demarcou qual a teoria adotada no que diz
respeito ao início da proteção ao bem jurídico tutelado.
O Código Civil (Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002), em seu
artigo segundo, tutela os direitos do nascituro, aquele que foi
concebido, mas ainda não nasceu com vida. Este mesmo artigo apregoa
que a personalidade civil se inicia com o nascimento com vida,
adotando-se a Teoria Natalista.
550
No Direito Penal a inviolabilidade do direito à vida está prevista
não só na tipificação do crime de homicídio, mas também nos casos de
aborto. Neste último delito, para a maioria da doutrina, o início da
proteção pelo tipo penal se dá com a nidação e se encerra com o início
do parto.
554
jurídico pátrio e a honra da mulher, que teve um direito violado, mas
que por outro lado carrega consigo uma vida humana.
Aprendemos a aceitar que a gestação do feto que se iniciou após
um estupro pode ser interrompida e isso nos traz um sentimento de
justiça. Ousamos achar até que tal vida vale menos do que aquela outra
que se inicia em decorrência de uma relação sexual consentida, apenas
por razões morais, pois legalmente nossa Carta Magna não nos permite
fazer esta distinção.
555
Antes de adentrarmos nos Direitos Fundamentais da mulher
violados com a criminalização da conduta, torna-se importante o
estudo de dois princípios constitucionais, quais sejam, a Dignidade da
Pessoa Humana e o Princípio da Proporcionalidade.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
557
constitucionalistas e amplamente utilizado pelos Tribunais Superiores,
sendo considerado Princípio Constitucional Implícito.
Referido Princípio tem por finalidade impedir que atos estatais
(administrativos ou legislativos) apresentem limitações
desproporcionais aos Direitos Fundamentais.
De acordo com José Sérgio da Silva Cristovám:
558
proíbe o excesso e a insuficiência da proteção (proporcionalidade em
sentido estrito).
559
A gestação acarreta uma série de mudanças no corpo da mulher
que podem gerar riscos e atacar diretamente a integridade física da
gestante. Uma gravidez indesejada pode trazer à tona um grande abalo
psíquico à mulher e levar essa gestação até o fim pode significar uma
dedicação para toda a vida, exigindo inúmeras abdicações.
Outro ponto abordado pela decisão diz respeito à violação à
igualdade de gênero, que historicamente se encontra abraçada à ideia
de subordinação das mulheres para com os homens. Partimos do
princípio que o homem não engravida e apenas a mulher suporta o
ônus da gravidez. Só teríamos um equilíbrio caso a mulher pudesse
decidir pela manutenção ou não do estado de gravidez.
Acertadamente asseverou o Ministro Ayres Britto: “se os
homens engravidassem, não tenho dúvida em dizer que seguramente
o aborto seria descriminalizado de ponta a ponta”. (STF - ADPF 54, j.
12/04/2012).
Temos ainda uma violação aos direitos sexuais e reprodutivos da
mulher quando ocorre uma influência social na decisão pessoal de ter
ou não filhos. Devemos nos libertar da ideia de que a maternidade é
algo inato às mulheres, devido ao processo reprodutivo humano.
Entretanto, cabe somente à mulher o ônus das transformações que uma
gestação acarreta. Essas liberdades são violadas pelo Código Penal de
1940, ao afastar da mulher a oportunidade de uma decisão sem a
coerção, quando a mulher se vê obrigada, por força de lei, a manter
uma gestação, ainda que não desejada.
Por fim, nas palavras do Ministro Luís Roberto Barroso, a
criminalização do aborto produz discriminação social, tendo em vista
560
que prejudica, de forma desarrazoada, mulheres pobres, visto que estas
não têm acesso a médicos, tanto particulares como públicos nos
hospitais. Ao criminalizar a conduta, o Estado retira a possibilidade de
acesso a um método médico seguro, deixando a estas mulheres
procedimentos precários, oferecendo riscos de lesões, graves
mutilações e mesmo até evolução ao óbito. (STF, HC 124.306, j.
29/11/2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
564
Apesar de diretamente conectado com o conceito de dignidade
da pessoa humana, o direito à vida não pode ser considerado absoluto e
em alguns casos deve ser relativizado perante um conflito com outros
Direitos Fundamentais.
O tipo penal além de demonstrar um caráter simbólico, é
também ineficaz no que tange à proteção do bem jurídico tutelado, já
que diversas mulheres continuam praticando a conduta mesmo diante
de sua ilegalidade.
Salientamos, também, que a criminalização da prática do aborto
evidencia a segregação social, pois mulheres pobres e ricas praticam a
conduta, porém somente as mulheres pobres sofrem com
procedimentos inseguros feitos em clínicas clandestinas sem
acompanhamento médico algum, podendo acarretar lesões graves,
mutilações e até mesmo óbito.
Conforme demonstrado nas pesquisas acadêmicas e
jurisprudenciais as hipóteses legais de aborto trazidas em nosso Código
Penal, o aborto terapêutico, bem como o aborto sentimental,
desconsideram a vida do feto. No primeiro caso entendemos que por
um estado de necessidade deve ocorrer uma escolha entre duas vidas,
em que a prescrição médica tende a vida da gestante. Nós, enquanto
sociedade, optamos pela vida da gestante em detrimento da vida do
feto, e tal decisão é aceitável socialmente.
No segundo momento a legislação traz o aborto sentimental,
esse em nosso entendimento é a mais grave falha do tipo penal, que dá
autorização legal à gestante que tiver interesse, de interromper a
gestação ocorrida através do crime de estupro. Nessa parte nos
565
livramos de qualquer preconceito ideológico e analisamos apenas o tipo
penal. Entendemos que a vida daquele feto deve ter menos importância
que a honra da mulher agredida e isso nos dá um sentimento de justiça,
porém o feto nada tem a ver com crime bárbaro ora ocorrido.
Podemos concluir que a descriminalização da interrupção
voluntária da gravidez até a 12ª semana torna-se necessária para que o
direito à autonomia individual da mulher seja respeitado e que somente
ela possa escolher entre manter ou não a gravidez, além disso, a
descriminalização da conduta, em qualquer hipótese, fará com que não
haja mais tratamento diferenciado entre vidas em formação.
REFERÊNCIAS
566
BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código
Penal. Rio de Janeiro, RJ, dez 1940. Disponível
em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 7 de abr. 2020.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, v.2. 19ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2019.
567
emhttp://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticianoticiastf/anexo/adpf54.
pdf. Acesso em: 9 de jan. 2020.
568
RESENHAS:
1
Graduando do curso de Direito da FUPAC-MARIANA.
569
faz-se mister a observância de certos preceitos, cujo objetivo, tende a ser, uma
melhor compreensão e comunicação entre os indivíduos. Segundo Reolon a
“linguagem é um sistema de signos” que tendem a proporcionar a
comunicação entre as pessoas, sendo que, esta linguagem pode ser
classificada como “verbal e/ou não verbal”.
Dentre as diferentes formas de linguagem, destacam-se a linguagem
verbal, ou seja, aquela expressa por meio de palavras escritas ou faladas, e a
linguagem não verbal, que utiliza-se das imagens, símbolos visuais, para
ser efetivada, a saber: linguagem corporal “( por exemplo: a comunicação
entre surdos-mudos pela mímica; a falsidade de um depoimento pode revelar-
se até mesmo pela transpiração)”, a linguagem do vestuário, (por exemplo: a
toga é uma informação que indica a função exercida pelo juiz e a cor negra
sinaliza seriedade e compostura que devem caracterizá-lo)”, as imagens nas
placas, as figuras, a dança, a música, entre outras.
No segundo momento do artigo, Suzana Minuzzi Reolon nos chama a
atenção sobre a importância de se utilizar, de maneira precisa, a palavra,
donde, deve-se ater à sua compreensão semântica, ou seja, a representação
exata do sentido da palavra na comunicação com os demais indivíduos, desta
forma, segundo a autora, o direito seria, portanto, a ciência da palavra, a
partir deste pressuposto poderíamos dizer que, “o direito e a palavra estariam
umbilicalmente ligados”.
Na parte seguinte do artigo, Reolon demonstra a importância dos
níveis de linguagem como fator sine qua non, para um bom desempenho do
profissional do direito. Para a advoga e autora deste artigo, as formas
linguísticas podem sofrer variações “as quais são chamadas de variantes”,
dentre estas, destacam-se a língua padrão e não padrão; linguagem culta ou
padrão e linguagem popular ou subpadrão, devendo-se levar em consideração
pelo menos três aspectos, para uma melhor compreensão e comunicação,
570
dentre eles: os aspectos sociais, “(variações originadas por idade, sexo,
profissão, nível de estudo, classe social, raça)”; aspectos geográficos,
“(compreendem variações regionais. Indivíduos de diferentes regiões tendem
a apresentar diversidade no uso da língua)”; e, os aspectos contextuais
“(envolve assunto, tipo de interlocutor, lugar em que a comunicação ocorre)”;
entre outros.
Os níveis de linguagem podem apresentar três diferentes níveis, a
saber: a) nível culto, “(é normalmente utilizado por intelectuais, diplomatas e
cientistas, especialmente na forma escrita. Na forma de língua oral, é utilizado
em discursos de cerimônias ou em situações formais, tais como julgamentos
em tribunais)”; b) nível comum, “(tem uma linguagem sem formalidades e
requintes gramaticais)” c) e, por ultimo, o nível popular, “(variante
espontânea e descontraída, cujo objetivo é a comunicação clara e eficaz)”.
Na ultima parte do texto, a autora tece uma crítica com relação à
linguagem demasiadamente tecnicista, que tende a permear o universo
jurídico, denominado de “juridiquês”. Para Reolon, tal forma de linguagem
seria um impeditivo à comunicação, pois ao invés de esclarecer, o operador do
direito ao fazer uso deste tipo de linguagem, acaba por confundir, desorientar,
o agente receptor da comunicação.
Para a advogada, o uso do “juridiquês”, pode ser justificado a partir
de dois prismas: 1) O não entendimento do que está sendo comunicado, como
algo positivo; 2) O uso desta forma de comunicação, “juridiquês”, como
pressuposto “para tentar esconder o desconhecimento a respeito de
determinados assuntos”. No entanto, a autora aponta que uma linguagem
livre de um exacerbado jargão técnico, poderia, dentre outras coisas, dar
celeridade aos processos, e, sobretudo, aproximar a população do universo
jurídico, fator este, imprescindível, para o exercício da democracia.
571
A oratória na Grécia Antiga, tinha uma função essencial para este
povo, pois, representava a capacidade de autodefesa e reivindicação, por
meio de uma participação direta nos interstícios democráticos, destarte,
podemos dizer que a linguagem, em suas diferentes variações, era algo
inerente ao “homem” grego, pois dela demandava o seu sucesso e/ou fracasso
naquela sociedade.
Os sofistas, corrente filosófica que considerava o homem como
medida de todas as coisas, ensejando, nestes termos, o relativismo, buscava
persuadir o ouvinte através do discurso, que em grande medida tinha uma
função estilística, um grande teatro, em que o convencimento se dava muito
mais pelo espetáculo, do que pela busca concatenada de uma verdade unívoca,
na medida em que, para esta corrente filosófica, cada indivíduo apresentava
uma interpretação diferente para o mesmo fato.
Sócrates e Platão ao buscar a essência das coisas, uma verdade
absoluta, tende a entrar em colisão com os preceitos estabelecidos pelos
sofistas, já que, para aqueles, a retórica não deve procurar agradar aos
homens, mas demonstrar a verdade. Neste âmbito, podemos compreender,
portanto, que subjaz nas ideias socráticas, sempre um apelo de conduta ética,
algo similar que podemos observar também em Kant, ou seja, um
compromisso com a veracidade dos fatos, como uma espécie de dever, uma
obrigação, que deve ter, essencialmente, uma função moral com a “verdade”,
com o fazer correto, devendo-se, por sua vez, negar o que é escuso, recôndito.
Fiz esta pequena digressão genealógica, para que possamos
estabelecer um paralelo com uma das fases mais marcantes da ascese do
conhecimento humano, a Grécia Antiga, com os tempos atuais, sendo que,
naquele período, a realização da defesa era realizada de maneira direta, pelo
próprio agente demandante da ação, livre da tutela de outrem, livre de
572
intermediários. Desta forma, creio que o tecnicismo tenha chegado a um
ambiente que jamais poderia ter alcançado, qual seja, o universo jurídico.
O tecnicismo exacerbado, as formalidades, em ambientes jurídicos,
dignas da coroa britânica, a burocratização a partir de métodos cada vez mais
impessoais, eis ai, portanto, o cenário do advogado, ou melhor! do “operador
do direito”, expressão esta que me parece combinar deveras mente bem, com
o atual momento jurídico, seria este personagem, portanto, um interlocutor
entre o sujeito e o “direito”? Seria o “operador do direito”, aquele que torna
acessível ao “homem” comum, a linguagem jurídica? Seria?
O geógrafo Milton Santos (2008, 44)., dizia que não existiria no
Brasil, direito, mas, direitos, no plural, queria com isso sugerir, que a
democracia houvera se tornado complexa, de modo que para demandar os
meus “direitos”, seria necessário a imersão em um labirinto, complicado,
sinuoso, por vezes indecodificável.
Nestes termos, estaríamos errados em pensar que a falta de
informação, ou, a complexidade, forçada e forjada, de certos elementos da
vida prática, enchem a burra de alguns? Seria, portanto, não um erro, mas,
um projeto de sociedade pautado na proliferação da ignorância de muitos,
para que poucos possam se favorecer?
Nesta perspectiva, sou levado a concordar com Reolon, sobre a
linguagem jurídica ser utilizada, por muitos, como “forma do exercício de
poder”, na medida em que o “juridiquês” cumpre o papel, muitas vezes, não
de esclarecimento, mas de afirmação do status quo, em que a elitização da
linguagem jurídica, por este método de linguagem, cumpre um papel
fundamental em uma sociedade cuja democracia existe apenas como uma
casca oca, uma palavra, essencial a ser dita em certas ocasiões, mas totalmente
apartada do seu sentido prático.
573
Dada a maneira pela qual a autora sistematiza o artigo, penso que este
trabalho possa servir para aqueles que buscam uma maior compreensão,
acerca da forma/função do profissional do direito, na medida em que fornece
elementos importantes, do universo dos diferentes tipos de linguagens, a
serem observados pelos profissionais da área.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
574
MARCELO, Gonçalo. Democracia, Populismo e Conflito. In: DENTZ, René et
al (Org.). Visões da democracia no Século XXI. Belo Horizonte: Lumen
Juris, 2019. p. 93-111.
Hermesson Oliveira1
René Dentz2
576
É impossível não perceber a carga valorativa do autor imprimida em
seu texto. Por ser, portanto, uma narrativa valorada da realidade em que estão
as democracias, todos os conceitos apresentados pelo autor precisam ser
esclarecidos pois foram inseridos no texto carregando ou defendendo seu
ponto de vista [do autor]. Populismo, democracia, Estado e direito são
conceitos extremamente personalíssimos na narrativa do autor.
Outro ponto a ser criticado, enquanto forma, é que o texto não
permite ao leitor um momento de compreensão das ideias e valores do autor e
a realidade em discussão. Convencimento e persuasão se misturam, assim
como, embasamento teórico e juízo de valor. Tal problema é decorrente do
primeiro (falta de momento para definição de conceitos chaves) e torna
deficiente a formação de opinião, o convencimento e a persuasão.
Por último o nível de linguagem adotado pelo autor, não é
democrática o suficiente para a capacidade de compreensão do homem médio.
A linguagem é carregada de preciosismos, estrangeirismos e primitivismo
quando usa do Latim. Infelizmente estes problemas, por um lado,
possibilitam o exibicionismo do autor, mas por outro lado, afastam e em
algumas circunstâncias impedem que a mente do leitor seja tocada pela
compreensão.
Concordo em partes com o autor. Concordo quando diz que o
autoritarismo é prejudicial à manutenção das democracias, concordo que o
Estado precisar mais que um mero garantidor de Direitos Fundamentais para
ser um agente concretizador destes direitos na ordem social. Entretanto,
discordo do autor quando estabelece que o conservadorismo é um prejuízo a
democracia e que o novo é que significa avanço mostrando que o velho deve
ser superado. Discordo com a hipótese da china ser um caso de sucesso e que
as mazelas sociais a que hoje deparamos na sociedade é fruto do discurso
conservador e neoliberal, pois está é uma resposta muito Lato Senso.
577
O texto é indicado a todos que se propõem a dedicar-se através da
política ou dos discursos acadêmicos à manutenção ou avanço da democracia
por meio de um sistema político representativo real. O texto, por ser valorado,
pode ser utilizado tanto para pessoas enviesadas eticamente pela ideologia de
esquerda, quanto para as enviesadas por ideologias de direita, quando o
objetivo é a reflexão.
578
GRAVES, Adam J. Visões da democracia no século XXI. Rio de Janeiro:
Lumem Juris, 2019. p. 1-13.
1
Graduando em Direito pela FUPAC-Mariana
2
Pós-Doutor pela Freiburg Universität/Suíça; Psicanalista; Professor Universitário.
Organizador e autor do livro “Visões da Democracia no Século XXI
579
Nestes termos, portanto, Adam J. Graves não advoga em favor da
sençura, longe disso!, no entanto, propõe que as ações sejam mediadas por
uma espécie de “bom senso”, de modo que o embate entre as diferentes
concepções, não consubstancie na eliminação daquela em detrimento desta,
mas, na sua síntese, mediada por uma “intersubjtividade”, uma troca
recíproca de opiniões, gostos, crenças, etc., que se entrecruzam, se respeitam
e se harmoniazam a partir do agir democrático.
Na primeira parte do capítulo, o autor inicia a sua análise, nos
apresentando uma pesquisa que fora realizada no Reino Unido, no ano de
2005, que tinha por finalidade a escolha da “piada religiosa mais engraçada de
todos os tempos”. Tal pesquisa foi “conduzida em resposta à Lei de Ódio
Racial e religioso que estava passando pelo parlamento Britânico”, cujo teor,
diziam os opositores a essa lei, “poderia desnecessariamente proibir várias
formas de discurso, incluindo piadas religiosas as quais alguns indivíduos
classificavam-nas como ofensivas”. (GRAVES, 2019, p. 2).
Não obstante, nesta primeira parte do capítulo, Graves proporciona
uma reflexão sobre a complexa e, por vezes, frágil “natureza” das democracias
liberais, na medida em que, quando contratastadas com as “difrenças”, no
seio social, a partir dos seus mais variados aspectos: crenças, opiniões,
comportamentos, aspectos culturais., geralmente subjaz, para além dos
discursos polidos, uma recusa à aceitação das diferenças, remetendo-nos a
uma ideia de que: a democracia vai muito bem, desde que, apresente
“características” uniformes.
No segundo momento do texto, o autor nos indaga sobre a seguinte
questão: como separar os aspectos religiosos, individuais, dos aspectos
políticos, que leve em conta o interesse público?. Para responder a esta
indação, Graves nos apresenta um modelo de pensamento, utilizado pelo
filósofo estadunidense Richard Rorty, denominado de “compromisso
580
Jeffersoniano”, no qual o cidadão, religioso, ao participar “da vida social de
um Estado democrático” deve ter a “disposição em manter uma atitude auto-
reflexiva sobre a sua própria fé”, com vistas a uma “convivência pacífica em
uma sociedade pluralista e religiosamente diversificada”. (GRAVES, 2019, P.
7).
Segundo Adam J. Graves a disposição de “zombar” de si mesmo, de
adotar um “senso de humor adequado sobre a sua própria tradição religiosa”,
demonstra uma capacidade reflexiva que, mediada pela tolerância, estaria em
maior consonância com os preceitos liberais, no entanto, aqueles que
“respondem a tais piadas com raiva, hostilidade ou violência”, não teriam
adotado, plenamente, a “atitude reflexiva imposta pelo compromisso
jeffersoniano”, sendo considerados, por sua vez, como “fanáticos ou
reacinários”. (GRAVES, 2019, p. 7)
Para o fechamento do texto, Adam nos exorta sobre a importância de
se compreender as manifestações religiosas, não como um fato imanente ou
natural, ou seja, como um a priori, sem lastros históricos. Pelo contrário!
para o autor, é imperativo que se faça uma espécie de “arqueologia do saber”,
de modo a conectar uma determinada religião à sua origem historico-social,
com vistas a desmistificar a ideia de superioridade de uma religião ante as
demais.
Ipsis litteris, Graves espera demonstrar, através de uma conexão
temporal, processual e social, em relação às manifestações religiosas, que
estas são, em grande medida, construções sócio-culturais, e, portanto, não
apresentam, em si mesmas, um sentido absoluto, mas trás em seu bojo uma
série de limitações, erros, acertos, etc., que podem ser observadas no decurso
do tempo, sendo assim, para o autor, “reconhecer essas condições históricas é
um primeiro passo para se chegar a um acordo.” (GRAVES, 2019, p. 13).
581
o texto em questão, Os limites da tolerância: a religião e o
'direito de ofender' nas democracias liberais, de Adam J. Graves, não
sucita, a apartir deste capítulo, um aprofundamento, meticuloso, sobre os
temas abordados: tolerância, religião, ou mesmo, sobre os princípios
democráticos, compreendemos também que este não seria o espaço mais
oportunuo para tal aprofundamento, visto que, se trata de uma parte mais
reduzida, para cada autor, sobre diferentes temas, em um único livro.
O texto nos convida a uma reflexão bastante pertinente para os dias
atuais, que me parece ser o ponto nevráugico da discussão, a saber: 1)
existem limites para a liberdade de expressão em sociedades democráticas? Se
existem, 2) quais seriam estes limites? Através destes espectros, buscarei
tecer algumas considerações, para sucitar novas indagações e discussões
acerca de um tema, que me parece, deverasmente, pertinente.
Vivemos atualmente um certo esgarçamento dos meios de
comunicação de massa, decorrente do processo denominado de
“Globalização,” que através dos diferentes meios tecnológicos, tais como:
internet, telefone, televisores, rádios, entre outros., serviram para arpoximar
e dar visibilidade às diferentes manifestações culturais, possibilidade de
ampliação do conhecimento em seus mais variados temas, um intercâmbio
perene entre pessoas, dos mais diversos lugares, espaços e “coisas”. O mundo,
como diria o geógrafo Milton Santos, nos parece muito menor do que a 50
anos atrás.
Os meios de comunicação cada vez mais eficientes e modernos, trouxeram
inúmeras vantagens à nossa sociedade, no entanto, também tivemos alguns
“problemas” oriundos desta “tecnologização”. Hoje, é bem verdade, as
pessoas se comunicam mais, sobretudo, através dos dispositivos de
comunicação virtual. No entanto, o aumento exponencial destas
comunicações, nos parece não ter sido acompanhadas pela sua qualidade, o
582
que fica latente nos inúmeros casos de ofensas, injúrias, calúnias,
preconceitos, etc., que orbitam os diálogos virtuais.
Tomando como base a discussão suscitada por Graves, poderíamos
nos indagar: a “liberdade de expressão”, no rol dos direitos e garantias
fundamentais, teria um fim em si mesma? Ou seja, posso falar o que quiser,
tendo como salvo conduto o princípio da “liberdade de expressão?”. Ao que
parece não é este o caso, por mais que a “liberdade de expressão” seja um
preceito resguardado pela constituição, em seu Art. 5°, inciso IX. Porém,
como sugere Morás (2017, p. 5) “nenhum direito pode ser usado como escudo
para infringir outro direito”.
Podemos dizer, portanto, “que a liberdade de um cidadão finda-se
quando atravessado o limite da liberdade do outro”. (MORÁS, 2017, p. 7)
Desta forma, cabe ressaltar, que assim como a “liberdade de expressão”,
existem na Constituição Federal outros direitos e garantias fundamentais, cuja
observância dos seus preceitos, carecem de cuidados, para que não sejam
violados, dentre eles, podemos citar: o direito a honra, a privacidade, a
imagem, ao nome, etc.
Destarte, podemos concluir, que nem tudo que é falado, escrito,
demonstrado, etc., poderá ser considerado lícito, pelo simples fato de invocar
o princípio da “liberdade de expressão”, devendo-se ater, para a sua
formulação, ao conteúdo, à forma proferida e ao seu objetivo. A esse respeito,
Morás ( 2017, p. 5) nos adverte de que:
As mensagens que transmitem discriminação,
preconceito e incitam a violência, são típicas
manifestações que colidem frontalmente a liberdade
de expressão com os demais direitos fundamentais,
como no caso, a dignidade humana. Assim, ao se
pronunciar, a pessoa não deve extrapolar,
visto que o cerceamento de um direito está atrelado
ao uso abusivo do mesmo”
583
In verbis, discursos que reverberem princípios racistas,
preconceituosos, discriminatórios “ligados às diferenças de etnia, religião,
gênero, deficiência física ou mental e orientação sexual”, pode ser considerada
como “uma manifestação” (MORÁS, 2017, p. 7)
REFERÊNCIA
584
Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
585
Produziu-se em formato de e-book digital (16x23cm),
fonte Georgia Pro Cond, 11.
Mariana, 2020.
586