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Ficha Técnica

Título original: Believe It, Be it


Título: Acreditei e Consegui
Autoria: Ali Vincent
Capa: Christina Gaugler / Carlos Miranda / Oficina do Livro
Fotografia: © Jim Wright
Tradução: Paulo Reis
Revisão ortográfica: Elsa Rocha
ISBN: 9789895558919
ACADEMIA DO LIVRO
uma marca da Oficina do Livro – Sociedade Editorial, Lda.
uma empresa do grupo LeYa
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© Ali Vincent, 2009
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Para a minha mãe, Bette-Sue Burklund. Amo-te com tudo o que sou e tudo o que espero vir a ser. Obrigada por me amares e me dares tanto do que
és para criar e moldar a pessoa que hoje eu sou. Sem ti eu não existiria. Inspirar-me-ei sempre nos momentos de alegria e prazer que tu, Amber e eu
partilhámos quando cantávamos, no automóvel, “Don’t you turn my brown eyes blue”. Foste sempre a minha luz.
Agradecimentos

G ostaria de agradecer e expressar o meu amor à minha família por ter sempre acreditado em mim.
Obrigada à minha mãe, Bette-Sue, por estar disposta a arriscar para que eu pudesse ter a coragem de fazer o
mesmo, e ao seu marido, Richard, por dar equilíbrio à minha mãe. Ao meu pai, John, por exemplificar que
podemos criar o que quisermos, e à minha madrasta, Peggy, por mostrar que só ficamos melhor com a idade.
Aos meus avós, Florence e Cordon, pelo seu amor por mim e por Amber e por assegurarem que podemos
sempre contar com alguém. À minha tia Judi, que nos amou como se fôssemos filhas dela e de quem eu sinto
a falta todos os dias. À minha irmã Amber, que esteve sempre a meu lado e que me mostrou que podemos
dar o coração a outra pessoa sem perdermos a nossa identidade, e ao seu marido, Brian, por quem tenho
grande afeto. À minha irmã mais nova, Holly, e ao marido, Andy, pelo seu amor e apoio continuado e
incondicional. Aos meus irmãos, Joey e Adam, por manterem os pés assentes na terra e por me darem um
pontapé no rabo sempre que podem. Às minhas sobrinhas Alexandra, Alexis, Avery, Macy e Madison e ao meu
sobrinho, McCoy, por me inspirarem a viver e a amar com o máximo da minha capacidade.
A todos os meus amigos (vocês sabem quem são), amo-vos e obrigado por estarem sempre presentes.
A Jillian Michaels e Bob Harper, obrigado por me ajudarem a ver a luz que sempre esteve dentro de mim e
por me mostrarem como torná-la novamente num fogo vibrante. Amo-vos a ambos loucamente.
Obrigado a Mark Koops, Chad Bennett, Ben Silverman, Dave Broome. JD Roth, Todd A. Nelson e a todos os
concorrentes e equipa da quinta temporada do concurso The Biggest Loser. Estou verdadeiramente agradecida
a cada um de vós por me proporcionarem a oportunidade e o encorajamento para criar o meu destino. E um
agradecimento especial para os dois companheiros de concurso que passaram a fazer parte da minha vida:
Brittany Aberle e Mark Kruger.
Quero também agradecer a Alison Sweeney por ter conseguido criar uma ligação comigo e estimular-me
pessoalmente a fazer mais do que alguma vez pensei ser capaz. Continuas a inspirar-me a criar. Espero que a
nossa amizade seja para a vida e que façamos juntas a diferença, uma de cada vez.
A Sidney Griffin, Melissa DeLuca, Tony Wells, Carl Liebert e a toda a equipa de 24 Hour Fitness, adorei fazer
parte da família da 24 Hour. Obrigada por me ajudarem a alcançar o meu sonho de tocar na vida das pessoas
como eu. E a Janine Drake, David Jenkins, Tom Oliver, Tex Prows e à equipa da Designer Whey Protein por
ajudarem a educar e a passar a mensagem.
Um agradecimento especial à minha editora na Rodale, Julie Will, que sugeriu que eu escrevesse este livro
depois de uma simples conversa. Obrigada por iniciares isto e dares horas incontáveis para fazer que Acreditei
e Consegui se tornasse realidade. E obrigada a Andy Barzvi, da ICM, que me guiou ao longo do processo. Ela
ficou entusiasmada por ajudar a partilhar a minha história logo desde o primeiro dia. Bem, conseguimos
finalmente!
Gostaria de agradecer a Melissa Robertson, por quem me apaixonei logo no primeiro dia que eu e a minha
mãe a conhecemos quando provávamos os nossos sutiãs de desporto e calções de ciclismo! Não consigo
pensar noutra pessoa neste mundo com quem eu quisesse partilhar esta viagem. O teu riso e compaixão pura
permitiram-me encontrar o espaço para ir mais ao fundo, para saber que estava segura apenas por ser quem
sou.
E, por fim, mas certamente não menos importante, obrigada a todos os fãs que me apoiaram e encorajaram
diariamente a prosseguir esta viagem. Juntos podemos mudar o mundo se gostarmos e tomarmos conta de
nós próprios em primeiro lugar. Lembrem-se: acreditem que conseguem... Eu consegui.
INTRODUÇÃO

Chamo-me Ali Vincent e ganhei o concurso The Biggest Loser1. Ainda adoro dizê-lo. Às vezes estou no duche e
penso para comigo: “Sou a primeira mulher que venceu o The Biggest Loser!” É uma coisa com qual me
sentirei maravilhosamente bem para o resto da vida e é um feito que incentiva todos os meus futuros
objetivos.
Em outubro de 2007, quando entrei oficialmente na quinta temporada do concurso de sucesso da NBC The
Biggest Loser, pesava 106 quilos. Cerca de seis meses depois, a 15 de abril de 2008, pesava 55 quilos. No
programa final, ao vivo para milhões de pessoas, subi para uma balança gigante e registei uma perda total de
peso de 51 quilos – e tornei-me a primeira mulher a ganhar o grande prémio do concurso. Perdera 47,86 por
cento do meu peso inicial – quase metade de mim desaparecera.
Mas, honestamente, antes de subir para aquela balança, senti que a vitória era minha. Ao perder todos
aqueles quilos e ao confrontar as questões emocionais que levaram ao meu aumento de peso, ganhei também
uma nova vida. Uma vida em aberto e plena de esperança, como se tivesse renascido. E acho que toda a
gente pode sentir a mesma coisa. Sei que toda a gente merece ter tal sentimento.
Desde que ganhei o concurso, viajei por todo o país, conhecendo e falando com pessoas que querem a sua
vida de volta. Lutam para perder o excesso de peso e todos os outros fardos e problemas que carregam e que
os impedem de realizar os seus sonhos. A minha história é acerca da perda de peso, é verdade, mas também
é sobre voltar à vida, sobre emergir de um local de trevas e isolamento. E sei que há muitos outros que
partilham esta mesma luta, que querem muito para si próprios e que têm muito mais para dar aos outros do
que aquilo que podem neste momento oferecer. Estes são os motivos pelos quais eu escrevi este livro.
Aprendi muita coisa nesta viagem que quero partilhar com outros e que, espero, os ajude. Acredito
verdadeiramente que podemos mudar o mundo, uma pessoa de cada vez.
Esta é a história de como mudei a minha vida, uma história de luta pessoal e de triunfo. É a história de como
comecei a sonhar em grande, a ficar saudável e a permitir-me começar a pensar: “Porque não eu?”
SOBRE O MEU SINO
Uma amiga deu-me uma vez um pequeno sino com uma fita presa que dizia “Sonho, Logo Sou Capaz”.
Coloquei o sino na mala quando eu e a minha mãe viajámos para a Califórnia para a seleção final do concurso
The Biggest Loser. Um dia, quando estávamos no quarto de hotel, tirei-o para fora e comecei a agitá-lo,
divertindo-me com a minha mãe a dizer “Acredito, Logo Sou Capaz.” Na altura, estava só a brincar – nunca
compreendera realmente a ideia de ter um mantra ou de criar uma intenção para a nossa vida. Mas quanto
mais tocava aquele sino e dizia “Acredito, Logo Sou Capaz”, mais certo aquilo me parecia. E a partir desse
momento, comecei a pensar e a sentir que era capaz de o fazer. Que não só seria selecionada para o concurso
mas que poderia vencê-lo e tornar-me a primeira mulher a ganhar.
Quando fomos selecionadas para o concurso, levei comigo o sino para o rancho do The Biggest Loser.
Costumava tocá-lo e repetir o mantra todas as noites antes de me deitar e todas as manhãs quando acordava.
No final da temporada, quando era finalista, os produtores quiseram criar uma cápsula do tempo para a
temporada seguinte e colocá-la algures no campus. Pediram-nos a todos que doássemos uma coisa que
pudesse ser incluída. O meu pensamento imediato foi que podia dar-lhes o meu sino. Mas fiquei nervosa. “Meu
Deus”, pensei, “não posso desfazer-me do meu sino. É o meu sino.” Mas quando pensei realmente nisso,
percebi que já não precisava dele. Porque acreditava e tornara-me naquilo que queria ser. Consegui. Pensei
no sino como uma tocha que tinha de passar a outra pessoa.
Assim, coloquei o sino na cápsula do tempo juntamente com uma nota escrita à mão a aconselhar quem o
recebesse a manter os pés assentes na terra, a manter-se consciente e saber sempre para onde vai de modo
a lá chegar e alcançar os seus objetivos. E partilhei a história do meu sino, dizendo que me ajudou a tornar-
me a primeira mulher a vencer o The Biggest Loser. É claro que, na altura, ainda nada tinha ganho. Mas
acreditava que iria acontecer e escrevi na nota que aquele pequeno sino me ajudara a tornar-me a pessoa
que eu sabia que podia ser.
Os produtores acabaram por não usar o sino para a cápsula do tempo. Muitos meses depois, regressei ao
campus para ser apresentadora convidada num episódio do concurso quando a anfitriã Alison Sweeney teve
um filho. Perguntei a um dos membros da equipa se ainda tinham o meu sino. Encontraram-no e devolveram-
mo e, hoje, está pendurado na minha cozinha. Ainda olho para ele todos os dias e digo “Acredito, Logo Sou
Capaz”. Sempre pensei que se alguém alguma vez necessitasse do meu sino, se ajudasse a dar força, eu dá-
lo-ia. Passava-o para outro. De certa forma, a minha história é aquele sino. A minha esperança é que, ao
partilhar a minha história, poderei ajudá-la a acreditar em si própria e a tornar-se seja no que for que quiser
ser.
1 [N. do T.: The Biggest Loser, título original do concurso]
1

Onde Começa a Mudança

A única batalha a vencer é a batalha interior, aquele lugar onde percebemos que merecemos ter e criar
tudo o que queremos nas nossas vidas.

P erdi-me algures entre a infância e a idade adulta. Perdi os meus sonhos, a minha esperança, os meus
objetivos, a minha felicidade, a minha autoestima. Cheguei mesmo a sentir que perdera a minha família e os
meus amigos. Não queria sair de casa, não queria ver as pessoas de quem gostava – porque tinha medo que
elas conseguissem ver quão mal eu me sentia acerca de mim própria. Não gostava de mim e não tinha
coragem de o admitir a mim própria, muito menos aos meus amigos. Vivia uma vida de complacência. De
saída. Fechada.
Se havia coisa que não estava a perder era peso. Na realidade, quando cheguei aos 30 anos, pesava cerca
de 105 quilos, para uma altura de 1,67 metros. A determinada altura na minha vida, cheguei a ser uma atleta
de classe mundial, praticante de natação sincronizada bem classificada a nível nacional. Fui atlética e popular
no liceu, uma namorada “troféu”, uma cheerleader. Sonhava em fazer algo de grande, em fazer a diferença,
principalmente na vida das mulheres. Desde que tinha 6 ou 7 anos, lembro-me perfeitamente de dizer à
minha mãe que ia ajudar as mulheres quando fosse grande. Sempre achei que as mulheres não tinham as
mesmas oportunidades que os homens, que a vida lhes era entregue de maneira diferente. Mas, agora, não
era capaz de ajudar-me a mim própria.
Esta é a história da viagem de regresso a mim mesma. De regresso à Ali que sonhava em fazer a diferença
na vida dos outros e viver a vida a uma escala maior. E que viagem acabou por ser. Levou-me a sítios onde
nunca imaginei ir, incluindo um reality show de perda de peso chamado The Biggest Loser, onde lutei, suei e
chorei em frente de milhões de espetadores apenas vestida com um sutiã de desporto e uns calções de
ciclista. E fiz isto com a minha mãe, a inesquecível Bette-Sue, de quem a nação inteira ficou a saber que
nunca era tímida quando se tratava de exprimir uma opinião. A minha mãe acabou por ser a minha parceira
na perda de peso e iríamos percorrer parte da dolorosa história emocional que existia entre nós – tudo em
frente a uma câmara, imagine-se.
Cresci numa família de mulheres bonitas, em que todas elas deixaram em mim uma grande impressão e em
que todas elas lutaram com o seu peso. Em criança, eu nunca teria sequer sabido que a minha mãe era
pesada se ela não dissesse que era gorda. Ela tentou tudo o que se lembrou para perder peso – tomou
comprimidos e fazia todas as dietas estranhas do mundo, tudo com a bênção da minha avó, Florence Alison
(de onde vem o meu nome). A minha avó cresceu na Nova Zelândia e veio para os Estados Unidos aos 20
anos. A irmã da minha mãe, a tia Judi, morreu de cancro relacionado com a obesidade. O peso era um
importante assunto de discussão quando eu estava a crescer, para todos exceto para a minha irmã, Amber.
Ela nunca teve um problema de peso – uma enorme fonte de frustração para mim quando os quilos
começaram a aumentar no final da adolescência.
Embora a minha história tenha sido vista por milhões de pessoas como uma viagem de perda de peso –
ganhá-lo, perdê-lo, tentando mantê-lo afastado – é muito maior do que você viu na televisão. Porque por
detrás de ganhar peso estão feridas e questões maiores que têm de ser exploradas, estudadas e
compreendidas antes que a perda de peso e a manutenção seja uma possibilidade. É mais do que apenas a
entrada e saída de calorias. Existe algo de fundamental que temos de compreender acerca de nós próprios
antes de podermos mudar a vida de vez. O truque é que é diferente para cada pessoa. Tem de perceber o que
se passa consigo, tal como eu fiz comigo. Talvez ao partilhar a minha história a possa ajudar a perceber a sua.
Conheço, certamente, a dor, a privação e a insegurança que vêm com uma vida de obesidade. Mas sei
também que há uma vida mais rica e preenchida à espera de todos nós. E se acreditar em si própria, pode
tornar-se a melhor versão possível de si.

“PORQUE É QUE ÉS GORDA?”

Ao trabalhar um dia com a minha treinadora, Jillian Michaels, no rancho do concurso The Biggest Loser, lutava
e suava na máquina de pull-up, sentindo-me tão vulnerável quanto se pode estar, quando ela subitamente me
perguntou: “Porque estás aqui?”
“Porque sou gorda”, respondi.
Jillian foi mais longe e retorquiu: “Porque é que és gorda?”
Eu sabia onde ela queria chegar. Até ali, deixava que a vida acontecesse – não me sentia merecedora de
nada mais. E tinha esses sentimentos desde há muito tempo. Quando começámos no rancho, Jillian pediu a
todos que escrevessem uma lista de razões para ali estar. A minha primeira foi “Sempre me senti sozinha”. A
minha gordura protegia-me e dava-me uma razão para as pessoas me deixarem. Porque, de outra forma, por
que motivo iriam embora? A gordura dava-me uma razão – justificava o meu sentimento de solidão.

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ACABARAM-SE AS DESCULPAS

Quando paramos por um momento para pensar, quem é que estamos realmente a desculpar quando
arranjamos desculpas? E como é que elas nos ajudam? Não ajudam. Levei algum tempo a compreender isso e,
honestamente, ainda estou a tentar entender a ideia. Eis como penso que as coisas se passam: tenho de
orgulhar-me das escolhas que faço e perdoar-me pelas que não são tão boas. Arranjar desculpas não me
deixará mais próxima dos meus objetivos.

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CRESCER COMO MÓRMON

Pesava mais de quatro quilos quando nasci. A minha mãe teve bebés grandes. Quando cheguei aos 4 meses,
era tão gorda que parecia de plástico. Parecia que ia rebentar.
Tive uma infância bastante dramática. Não culpo ninguém – quando olho para trás, acho que toda a gente
fez o melhor que pôde para nos criar, a mim e à minha irmã mais velha, Amber. Eu e ela nunca quisemos mais
nada a não ser uma família estável e ordenada. E, infelizmente, não a termos tornou-se ainda mais óbvio pelo
facto de toda a gente à nossa volta ter.
Cresci em Mesa, Arizona, numa comunidade com um rigoroso código moral baseado na Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias – mormonismo. Não posso deixar de destacar o papel importante que a igreja
tinha em como eu me sentia, em como devia agir e em que tipo de família eu achava que era suposto ter.
Cresci a pensar que é suposto termos uma mãe e um pai que criavam os filhos em casa, a nossa mãe e o
nosso pai não deviam beber ou fumar, ninguém devia ter sexo antes do casamento e não devíamos
relacionar-nos com alguém que fizesse tais coisas. Era o que eu aprendia na escola dominical.

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APRENDER A DIZER NÃO

Por vezes, parece que as mulheres são boas a dar a toda a gente menos a elas próprias. Se queremos ser
saudáveis, temos de tomar conta de nós próprias. E isso significa dizer não a alguns dos pedidos pelo nosso
tempo e atenção – tempo e atenção que poderemos precisar para nos dedicarmos ao planeamento, às
compras de mercearia, a cozinhar, a fazer exercício ou a descansar.

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Porém, eis o que eu tinha: pais divorciados; um pai que era católico, mexicano e que raramente estava
presente; e uma mãe que fumava, bebia, divertia-se, tinha muitos namorados e não era exatamente o tipo de
mãe que fica em casa. Tudo isto era muito confuso para uma pequena rapariga mórmon.
Os meus pais divorciaram-se quando eu tinha 2 anos. Não tenho memórias de o meu pai viver connosco. A
minha mãe foi cheerleader no liceu e andava com um grupo que não era mórmon. O meu pai, John Vincent,
não era exatamente o que um casal de pais mórmones teria escolhido para a sua filha mas, depois de ela ter
ficado grávida da Amber, eles casaram.
Os meus avós tinham o trabalho diário de nos criar. A minha mãe, Amber e eu vivíamos com eles a maior
parte do tempo. De vez em quando, a minha mãe encontrava um apartamento e nós mudávamo-nos durante
algum tempo, mas acabávamos sempre por voltar para casa do avô e da avó. Os nossos avós deixavam-nos
na escola, levavam-nos de carro para todas as nossas atividades. Asseguravam-se de que tínhamos tudo o
que precisávamos. Mas, mesmo assim, eu sabia que não era igual a toda a gente. Sabia que não me
encaixava. Sentia-me como se usasse uma letra escarlate que me separava de todos os outros miúdos.
Recordo-me de ter ido acampar com a escola no quinto ano. Estava tão entusiasmada porque a minha mãe
se tinha voluntariado para nos acompanhar, algo que o seu horário de trabalho raramente lhe permitia fazer.
Alguns dos miúdos quiseram pregar-lhe uma partida colocando um peixe morto na mala dela. Mas quando a
abriram, encontraram um maço de cigarros. Isto era uma ofensa muito séria para um grupo de miúdos
mórmones e eu fiquei muito envergonhada. Provocaram-me e disseram-me que eu estaria a beber e a fumar
quando entrasse para o liceu. Senti tanta vergonha com aquela conversa. Porém, à medida que fui ficando
mais velha, fui eu que alimentei a minha própria rebeldia. Dar-lhes-ia algo para falar, sim senhor.
Os meus avós eram membros ativos da igreja mórmon e não aprovavam o estilo de vida da minha mãe, mas
pouco podiam fazer para a deter. Sempre me senti ambivalente em relação à minha mãe. Gostava que ela
fosse bonita, que fosse a alma da festa, mas não gostava que me arrancassem do meu beliche à noite quando
ela chegava bêbeda a casa e discutia com os meus avós. Amber e eu éramos os peões naquela relação.
Quando a minha mãe ficava muito irritada, ameaçava tirar-nos dos meus avós. Não gostava também de ser
atirada para o meio das discussões que ela tinha com os namorados, porque ela sabia que um homem adulto
não iria bater numa criança. Era suposto eu protegê-la.

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NÃO SE SUBMETA ÀS OPINIÕES DOS OUTROS

Não se rodeie de pessoas cujas opiniões a façam sentir mal acerca de si própria. Quando comecei a perder
peso e a sentir-me melhor, percebi que, se era para manter certas pessoas na minha vida, precisava de falar
com elas. Se não apreciava a maneira como elas faziam piadas sobre mim ou comentavam os meus atos,
dizia-lhes isso mesmo. Hoje em dia, defendo-me sempre, mais do que alguma vez fiz em toda a minha vida.

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Alguns desses namorados não eram propriamente a melhor escolha. Um tinha estado preso. Um roubou-nos.
Outro tipo, um motoqueiro grande, costumava aparecer a meio da noite. Às vezes deparava-me com ele no
corredor e ficava assustada – ele era enorme. Nunca me ocorreu – ou à minha mãe – que ele era casado até
que, anos depois, o vimos com a mulher. Acho que assim se vê como a minha mãe não pensava nas suas
ações naquela altura. Ela lutava com os seus próprios demónios e com a sua dignidade quando se tratava de
namorar.
Mas mesmo no meio de todo este caos, eu sabia que a minha mãe me adorava. Quando ela nos arranjava
para irmos para a escola, fazia-nos sempre rabos-de-cavalo encaracolados, punha-nos fitas e vestia-nos de
igual. Cortava-nos o cabelo, fazia-nos caracóis e tranças firmes e perfeitas, mudava o aspeto do nosso rosto.
Houve um Natal em que ela arranjou um segundo trabalho como empregada de mesa só para comprar
bicicletas para mim e para a minha irmã. Não acho que ela fosse uma boa empregada de mesa – entornava
coisas, não acertava com os pedidos – mas todos os clientes a adoravam. A minha mãe foi sempre adorada
por toda a gente, embora ela não gostasse dela própria.
Acho que toda a gente na nossa família fez um grande esforço para compensar o facto de sermos duas
miúdas pequenas sem um pai em casa. Na realidade, deram-nos demasiado. Eu e Amber percebemos cedo: se
um adulto não nos desse o que queríamos, seguíamos simplesmente em frente. Não nos ensinaram a poupar
dinheiro. Não tínhamos tarefas. Não me lembro de ter de arrumar o quarto ou fazer a cama. Aprendemos
muito pouco sobre responsabilidade pessoal.
Quando o meu pai voltou a casar e passou a ter a sua própria família, a minha mãe odiou a ideia de nos
partilhar, a mim e a Amber, com eles. O que tornou difícil criar uma relação com a minha família adotiva. Era
também triste que todos os meus meios-irmãos tivessem uma mãe e o meu pai. Porque é que eles tinham
uma família e eu não?
Mas a minha mãe fez sobressair o instinto protetor que existia em mim. Queria defendê-la. Ela podia falar
alto e sem papas na língua, e podia tirar-me do sério, mas eu sabia que diziam mal dela na nossa
comunidade, que os seus atos atraíam o julgamento dos outros, e eu odiava que isso acontecesse. Uma vez,
quando ela foi connosco à igreja, recusou o sacramento porque, embora fizesse a vida à sua maneira, era
suficientemente mórmon para não se submeter ao sacramento porque o seu corpo não era um templo.
Quando atingi a adolescência, comecei a portar-me mal. Bebia, andava com um grupo pouco recomendável e
perdi a virgindade aos 13 anos num jardim público. Sentia que se as pessoas pensavam que eu era má o
melhor era mesmo sê-lo. Não vivia, definitivamente, a vida mórmon. Na verdade, estava a transformar-me na
minha mãe e, embora a amasse, não queria ter a vida dela. Estava a tornar-me uma mulher que não
valorizava o seu corpo.

SEGUIR EM FRENTE E PENSAR EM GRANDE

Quando nos sentimos tão perdidos, se já é difícil ver que há potencial para ter, um dia, uma vida melhor,
muito menos compreendemos que tudo o que precisamos para criar essa vida já existe dentro de nós.

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É SOBRE TI

Por vezes, no rancho, parecia que ter êxito era ter de provar algo aos outros, ganhar a qualquer custo. Mas
não sei se é isso que assenta os alicerces para a mudança permanente na nossa vida. Era importante
compreender que estava a perder peso para mim, para ficar saudável e criar uma vida melhor. Quando
percebi isso, foi libertador. O poder de ter êxito ou falhar era meu e só meu.

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De modo a ter alguma hipótese de êxito, aprendi que temos de nos aceitar a nós próprios e deixar para trás
os fracassos do passado ou as fraquezas que têm vindo a refrear-nos. É importante olhar em frente, não para
trás, para clarificar realmente o nosso futuro e que futuro é que nós queremos que seja. Não está escrito na
pedra. Assim que sabemos como será a nossa vida, podemos descobrir como fazê-la acontecer.
Em todas as temporadas do concurso The Biggest Loser, vemos os concorrentes abrirem-se, de corpo e alma,
para o mundo ver e julgar, tudo porque têm uma hipótese de mudar as suas vidas. Muitos deles, como eu,
perderem o contacto com eles próprios algures ao longo do caminho à medida que ganhavam peso. Outros
gastaram tanto tempo e energia a tomar conta dos outros que deixaram de tomar conta deles próprios. E há
também aqueles que tiveram excesso de peso durante toda a sua vida e simplesmente não sabem como ficar
mais saudáveis. Toda a gente tem uma história.
A cada temporada, The Biggest Loser permite que alguns concorrentes sortudos façam uma pausa na sua
vida do dia a dia de forma a poderem concentrar-se neles próprios e aprender como pôr termo aos seus
hábitos autodestrutivos. No entanto, você não precisa de fazer parte do concurso para fazer uma mudança.
Acho que todos nós, que vemos o concurso e permitimos que estas pessoas entrem na nossa sala de estar,
podemos encontrar uma ligação com as suas lutas e todos exultamos com os seus êxitos. O rancho do
concurso The Biggest Loser é um lugar onde as pessoas se autorreinventam. Como concorrentes, alguns de
nós começamos a recordar quem costumávamos ser, e alguns de nós têm a oportunidade, pela primeira vez
na vida, de mostrar ao mundo quem sempre soubemos que podíamos ser. Seja como for, nunca somos a
mesma pessoa depois.
2

Viver Uma Vida Mediana

Havia uma parte de mim sempre a autoagredir-se. Sabia que era suposto viver uma vida melhor do que
aquela que tinha. Eu vivia uma vida sem importância. Não era uma vida má, de maneira nenhuma, mas
era suposto que eu me distinguisse, e sabia isso desde pequena.

C omecei a nadar antes de saber andar. A minha avô era uma nadadora na Nova Zelândia e a minha mãe
uma nadadora de velocidade classificada no ranking nacional. Quando eu era criança, brincávamos aos
“patinhos pequenos” na piscina. A minha mãe, a Amber e eu nadávamos como patos numa fila e eu era
sempre o último patinho atrás de Amber, o mais afastado da minha mãe, algo que odiava! Mas adorava a
água desde o início. Sabia que pertencia ali (sou do signo Peixes) e criei o meu próprio mundo, fingindo que
era uma sereia.
Comecei na natação de velocidade nos campeonatos de verão e os treinadores dessas equipas criaram uma
equipa de natação sincronizada. Amber e eu fomos convidadas a juntar-nos às Arizona Aqua Stars e tornei-me
um membro da equipa permanente aos 6 anos. A piscina era o meu mundo. Tinha o meu refúgio ali debaixo
de água, um local que criei e onde vivia. Estava de tal maneira convencida de que era uma sereia, que
acreditava não ser preciso vir à tona para respirar. Deixava apenas a minha cara ultrapassar ao de leve a
superfície da água e inspirava uma grande golfada de ar, ao mesmo tempo que mergulhava novamente como
se fosse um golfinho. A minha treinadora espreitava para as profundezas da piscina, a gritar: “Ali, onde
estás?” A coisa de que mais gostava na minha vida de sereia era poder decidir quando viria à superfície.
Tínhamos treino de natação todas as manhãs e tardes. A avó acordava-nos e levava-nos ao treino das cinco
da manhã. Quando ficámos mais velhas, passámos a ir de bicicleta para os treinos e ela seguia-nos no carro.
Depois da escola, nunca ficava a brincar com os meus amigos – ia para a piscina.
Para mim, a natação sincronizada reunia o melhor de todos os mundos – ganhei a resistência de uma
nadadora, a flexibilidade de uma ginasta, a elegância de uma bailarina e tinha de estar dentro de água. Mal
sabia eu que, anos depois, iria sentir-me demasiado envergonhada para estar em fato de banho.

QUANDO OS QUILOS APARECERAM

No liceu, parei a natação sincronizada e envolvi-me mais na escola e nas atividades. Estava na via rápida para
a popularidade no liceu por ser irmã mais nova da Amber. Até me tornei uma cheerleader. Porém ainda me
sentia um pouco diferente do resto de toda a gente. As pessoas conheciam-me, porém não era bem assim.
Não me ajudou que durante os meus três anos do liceu (formei-me através de um GED2) tenha frequentado
cinco escolas diferentes, consoante eu e a Amber andávamos para a frente e para trás entre as casas dos
nossos pais. Identificava-me com os excluídos, as pessoas que não se encaixam. Se via alguém a almoçar
sozinho, sentava-me com essa pessoa, e os meus amigos sabiam que não valia a pena questionarem-me
acerca disso. Ainda gostava de ser uma cheerleader gira e uma namorada troféu, mas ninguém se metia
comigo.
Quando estava a nadar, podia comer aquilo que me apetecesse e nem sequer pensava acerca disso.
Conseguia comer uma piza inteira. Mas tinha crescido tão acostumada a alimentar o meu corpo como uma
atleta, que quando abandonei a natação o meu apetite manteve-se igual. E, nessa altura da minha vida, não
tinha a noção de que aquilo que comia podia alterar o meu corpo. Não pensava na comida em termos de
calorias ou fonte de energia.
Também não compreendia realmente o exercício. Tinha frequentado aulas de dança e feito musculação, mas
isso era parte do meu programa de natação. E não pensava na natação como exercício. Era uma paixão, algo
de que eu gostava. Mas o meu corpo sabia que era exercício e quando parei começaram a surgir alguns quilos.
Ganhei aqueles primeiros dois quilos por volta dos 18 anos, assim que saí do liceu. E o curioso é que me via a
mim própria como obesa. O meu estatuto de namorada troféu começou a desaparecer, e lembro-me de sentir
que um dos meus namorados tinha deixado de me amar não por aquilo que eu era, mas por causa do peso
que estava a ganhar. Queria ser amada pela pessoa que era, não pelo meu aspeto. Mas não sentia que as
coisas se passavam assim.
Ninguém me disse nada, mas comecei a sentir-me desconfortável na minha própria pele. Tenho uma
memória bastante nítida de ser mandada parar por um agente da polícia depois de ter começado a ganhar
peso. E quando lhe dei a carta de condução – a qual tinha a indicação do meu peso – ele ter dito: “É
impossível você ter 68 quilos.” E lembro-me de pensar: “Tem razão; provavelmente tenho mais.” As pessoas
menosprezavam o meu peso devido à minha constituição atlética. Quando ouvia amigos queixarem-se por
causa do seu peso, pensava: “Se eles soubessem.” A minha irmã, Amber, conseguiu manter-se em forma
depois de termos deixado de nadar, o que tornou ainda mais difícil o meu aumento de peso.

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PREPARE-SE PARA OS SENTIMENTOS

Durante anos tentei inconscientemente preencher com comida os vazios na minha vida. Quando deixei de o
fazer, tive de lidar em primeiro lugar com as emoções que estavam a provocar-me essa vontade de comer em
excesso. Mas, como a minha mãe disse uma vez, torna-se muito mais fácil lidar com as coisas inesperadas da
vida quando não nos escondemos por baixo de camadas de gordura. Não é fácil derrubar as muralhas que nos
protegeram da vida – mas essas muralhas também nos impediram de ter as vidas que realmente queríamos.

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NEM RÁPIDO NEM FÁCIL
Antes do concurso The Biggest Loser, eu era uma viciada em fast-food. No rancho, aprendi que existem vários
passos para fazer uma refeição saudável. Há o pesar da comida, o preparar da comida... eu queria rápido e
fácil, mas depois lembrei-me de que rápido e fácil tinha sido aquilo que me levara aos 106 quilos.

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Na minha cabeça, eu era enorme. Após os primeiros dois quilos senti-me enorme. Depois senti-me enorme
aos 68... 72,5... 77. Conforme os números ficavam maiores, eu apenas me desligava deles. Comecei a
recolher-me. Na realidade, evitava tanto que me tirassem fotografias que quando fui para o concurso The
Biggest Loser e me pediram retratos dos últimos anos, não tinha nenhum para lhes dar. Era uma rapariga
gorda e não se tira fotografias às raparigas gordas. Não tinha documentado a minha vida porque não queria
olhar para ela.
Comecei a tentar comprimidos para emagrecer e vários programas para perder peso. Perdia sempre 4,5
quilos em duas semanas, depois deixava a pouco e pouco de ir às reuniões ou a prestar atenção às regras. Era
demasiada disciplina para mim. Não achava importante perceber como o meu corpo funcionava. Apenas fazia
aquilo que me mandavam durante algum tempo e depois perdia a pouco e pouco o interesse e voltava a
ganhar o peso.

APRENDER NO EMPREGO

Finalmente, dei por mim numa pequena faculdade de uma cidade de província da qual não gostava. Era
demasiado mórmon e eu não me sentia muito mórmon. As boas raparigas mórmones não têm sexo e, bem, eu
não era uma boa rapariga mórmon nesse aspeto. Também não ia à escola com muita frequência.
Tive empregos estranhos. Fui empregada de mesa em muitos locais de fast-food e cadeias de restaurantes e
comia no trabalho. Sentia-me mal em relação a mim e a pouco e pouco deixei de sair socialmente. Mas
trabalhava no duro. O meu primeiro emprego foi numa pizaria e tinha queimaduras nos braços porque me
assegurava de que não havia uma única bolha naquelas pizas. Quer estivesse a fazer pizas ou a varrer o chão,
o meu trabalho era importante para mim. De alguma maneira, no meu emprego podia mostrar excelência e
controlo. Era uma maneira de ser reconhecida na minha vida porque não estava a expor-me em mais nenhum
sítio.
Durante uma das minhas relações condenadas, mudei-me para o Texas e trabalhei numa fábrica de vidro.
Manusear enormes pratos de vidro era um trabalho quente, sujo e intenso. No primeiro dia apareci com uma
maquilhagem completa, que derreteu toda na minha cara em poucos minutos. Trabalhava ao lado de homens
adultos, alguns deles desistiram no final do seu primeiro turno, porque era uma tarefa demasiado dura. Como
acabei a trabalhar numa fábrica? Nunca tinha estado numa fábrica na minha vida. Mas obrigava-me a ir
pensando na próxima pausa durante o turno. Se conseguisse aguentar só até essa pausa, e a próxima, então
conseguia aguentar o dia inteiro. (Foi uma estratégia que usei mais tarde, quando estava a batalhar na
passadeira no rancho do concurso The Biggest Loser.) E pensava nos meus avós. Eles eram a rede de
segurança, caso a minha vida começasse a desabar. Se as coisas se tornassem realmente horríveis, sabia que
podia ligar ao meu avô. Mas ao ficar perto do calor daquela fornalha de vidro, também comecei a pensar
acerca do que realmente pretendia na minha vida.
Tomei consciência de que queria ser cabeleireira.
Sempre adorei isso; queria arranjar cabelos desde o tempo em que era uma miúda. Costumava sair do treino
de natação mais cedo para poder usar um ferro de frisar a butano, que na altura se chamava clicker, no cabelo
da minha treinadora. Entrancei os cabelos de todas as minhas colegas de equipa para a cerimónia de entrega
de prémios quando a Amber e eu éramos nadadoras sincronizadas. Penso que aprendi com a minha mãe, que
sempre nos cortou o cabelo de acordo com as últimas tendências da moda. Ela era naturalmente boa nisso e
descobri que, afinal, eu também o era.
Mas ali estava eu numa fábrica de vidro do Texas. Tornei-me cortadora de peças pequenas e um dia feri-me.
Foi a última gota para mim. Arrumei as coisas no carro e fui para casa.
Sabia que iria ser difícil ir para a escola de estética. Tinha contas para pagar. Portanto candidatei-me e
recebi ajuda financeira, trabalhei em três empregos e fui estudar. Estava determinada a ir para a melhor
escola que conseguisse encontrar. Durante todo o dia estava na escola. Depois, à noite, trabalhava como
empregada de mesa. Aos fins de semana, levantava-me às 4h30 para trabalhar no turno do pequeno-
almoço/almoço de um restaurante e à noite como empregada de bar. Na escola de estética, encerava o chão
para ganhar cinquenta dólares extra.

TORNAR-ME CABELEIREIRA

Adorei tornar-me cabeleireira. Adorava o modo como podia dar uma boa aparência ao cliente, claro, mas
também a relação, o quanto este confiava em mim. Aquela pessoa sentada na nossa cadeira está a dar-nos
autorização para criar a imagem com que vai apresentar-se ao mundo. Senti-me bem a ajudar as pessoas a
sentirem-se bem consigo próprias. Assim que alguém se tornava minha cliente, regressava.
E eu estava bastante confiante nas minhas capacidades – considerava-me uma artista. Era pesada e não me
vestia com roupas da última moda ajustadas ao corpo como era norma, mas o meu guarda-roupa largo e de
tamanho grande era sempre bonito e prestava bastante atenção no que tocava ao meu cabelo, sapatos e
maquilhagem – nunca me viam sem as minhas pestanas falsas! Não intimidava as minhas clientes e fazia um
trabalho excelente. Mas sentia que o meu tamanho estava a impedir-me de dar o passo seguinte, que era
entrar na equipa de desenvolvimento de projetos da empresa. As pessoas nessa equipa eram uma classe à
parte de cabeleireiras, normalmente bastante sofisticadas e com uma aparência de acordo com o que estava
na moda. Eu não me encaixava nesse estilo.
Mas trabalhei tão bem no meu salão que, quando estava preparada para uma mudança, me ofereceram um
lugar em São Francisco. Estava ansiosa por um novo começo num sítio novo!

SÃO FRANCISCO

Tornei-me verdadeiramente adulta em São Francisco. Os meus amigos tornaram-se a minha família – toda a
gente em São Francisco é um transplante, portanto é isso que a nossa família se torna. E no trabalho fui
recebida de braços abertos. Penso que até perdi peso! Ainda era volumosa, mas senti-me tão bem como já
não acontecia há vários anos. São Francisco é uma cidade que não faz juízos de valor. Não havia nada que me
desagradasse. Era permitido ter opiniões diferentes. Podíamos discordar de alguém e ainda ser amigos no dia
seguinte. Não estava habituada a esse tipo de compreensão e era maravilhoso.

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MANTER CONTACTO

Quando sente que não tem ninguém – não é assim. Faça um esforço para tentar conseguir apoio, seja online,
ao telefone ou indo visitar um amigo. Tudo é possível, desde que estabeleça um sistema de apoio que possa
funcionar quando sente um acesso de solidão a chegar.

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Tinha-me apaixonado, encontrado a pessoa que sentia ser o amor da minha vida. O meu companheiro ia
mudar-se para a Indonésia e eu também me tinha comprometido a fazer a mudança para o estrangeiro. Não
estava realmente certa se queria morar na Indonésia, mas sabia que queria estar na relação.
Planeámos uma festa de despedida enorme – um luau no Parque Golden Gate com um DJ e todos os nossos
amigos. No dia antes da celebração, a minha avó ligou-me com notícias devastadoras: o meu avô tinha
morrido. Fiquei completamente desfeita. A minha avó disse-me para seguir em frente e gozar a minha festa e
depois apanhar o avião para casa e ir ao funeral. Mas quando cheguei ao Arizona, percebi que o meu próximo
passo não seria ir para a Indonésia. Decidi ficar com a minha avó e ajudá-la na transição de vida sem o meu
avô. Ele sempre tomara conta dela – ela nunca tinha pago uma conta na vida; nunca enchera o seu próprio
depósito de gasolina do carro. Eu sabia que ela precisava da minha ajuda. Uma semana depois do funeral do
meu avô, voei de regresso a São Francisco, abandonei o meu emprego, fiz as malas e voltei definitivamente
para o Arizona.
2 [N. do T.: * O GED (General Educational Development) é uma alternativa à frequência normal do ensino secundário em que uma pessoa se propõe
a um conjunto de cinco testes de outras tantas disciplinas. Caso seja aprovada, tem direito a um diploma que dá equivalência ao ensino secundário.]
3

Era o Meu Destino

Disse a verdade – como não estava feliz onde estava, não vivia a vida que queria viver, não fazia a
diferença que sabia poder fazer. E não foi fácil dizer a verdade sobre isso.

F iquei com a minha avó cerca de um ano e meio. Os primeiros meses foram ótimos. Adorei poder ser capaz
de a ajudar, de cuidar dela. Levei-a às compras, enchi-lhe o depósito do carro de gasolina.
Assim que senti que ela estava bem, fui-me embora – e foi então que comecei a ficar verdadeiramente
grande.
Perdera o meu avô e enquanto fazia a transição para regressar a casa, terminei a minha relação com alguém
que amava. E até a minha cadela, a Sissy, a única constante na minha vida que eu adorava, morrera
inesperadamente. Senti que tinha desistido de mim própria, da minha carreira, dos meus sonhos. Sempre
pensei que seria uma rapariga da cidade e que viveria num sítio cheio de grandes ideias. Mas, agora, sentia-
me como se fosse ficar presa para sempre no Arizona. Não tinha emprego, gastara grande parte das minhas
poupanças, não tinha um carro. Comecei a sentir-me vazia – verdadeiramente vazia. Comia e comia e nunca
me sentia cheia. Tinha passado por tanto na minha vida – recuperei o peso que perdera em São Francisco e
ainda acrescentei perto de 27 quilos. Estava tão enfiada num buraco sem fundo que não sabia como sair de lá.
Arranjei um emprego noutro cabeleireiro e comecei a trabalhar a todas as horas, às vezes pela noite dentro,
se uma cliente precisasse de mim. Comia fast-food todos os dias. Bebia provavelmente três cafés com leite,
dos maiores, por dia. Bebia refrigerantes como se fossem ficar fora de moda. Havia um prato com doces no
salão e sempre que passava por lá apanhava uma mão-cheia deles. À noite, saía com os meus amigos e bebia
nos bares – não havia açúcar que chegasse para os meus lemon drop martinis. Não comia refeições regulares;
comia continuamente durante todo o dia.
A minha irmã mais nova, Holly, tinha-se tornado fã do concurso The Biggest Loser3 e estava sempre a pedir-
me para ver o programa com ela. Detestava o seu nome – estariam a gozar com os gordos? Sei que ela só
estava a tentar ajudar – toda a minha família estava, porque eu disse-lhes que queria perder peso. Às vezes,
ia passear de bicicleta com a minha madrasta, Peggy, e deixava-a tirar fotos minhas do “antes”. Mas não
estava verdadeiramente empenhada nisso – eles queriam mais para mim do que eu. Estava sempre a pensar:
“Como é que fiquei assim? Como é que a minha vida desapareceu, me escapou por entre os dedos?” Sabia
que me sentia miserável e era um horror estar ao pé de mim.
A minha mãe estava a pensar em marcar-me uma cirurgia para colocar uma banda gástrica e eu também
considerei essa hipótese. Mas no fim de contas não queria fazer algo de que não me orgulhasse. Senti que, se
fizesse a operação, significaria que não teria feito o verdadeiro trabalho, que não era capaz de me controlar,
de controlar a minha vida. Sei que essa seria a melhor escolha para algumas pessoas. Mas não para mim.

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NÃO SEJA UMA VÍTIMA

Não foi fácil admitir que o facto de uma relação não funcionar talvez fosse por minha culpa ou que não era
promovida por causa da minha atitude e não da minha imagem. Não foi fácil, mas foi libertador. Percebi que
por me ter sentido “vítima” muitas vezes na minha vida não havia espaço para alterar a situação. Mas assim
que fui ao fundo da questão e disse a verdade fui capaz de me aperceber e perdoar pelo meu papel em todo o
sofrimento, e deixar-me disso. Arrastava anos de dor e de sentimentos de ser “menos que”, e não precisava
disso. Percebi que era uma mulher forte, capaz de criar o seu próprio destino. Percebi que podia escolher.

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Vi finalmente alguns episódios do concurso The Biggest Loser e percebi que não estavam a gozar com
ninguém – ajudavam as pessoas a tornarem-se saudáveis. Uma noite estava em casa da minha avó com a
minha mãe, que estava sentada na cama, a comer rebuçados e a ver The Biggest Loser.
Era o episódio final da terceira temporada, quando Eric Chopin ganhou. Lembro-me de estar fascinada com o
facto de este homem ter perdido mais de 90 quilos. Como raio é que se perde 90 quilos? Como é que se perde
metade do peso corporal? E foi aí que me dei conta: este programa muda a vida das pessoas. Virei-me para a
minha mãe. Olhei para ela. E disse: “Quero entrar neste concurso.”
Nunca a tinha visto mexer-se tão depressa na vida. Voou para fora da cama e, assim que me dei conta,
estava sentada ao computador. Fizemos o download da candidatura e eu estava tão entusiasmada e
assustada e a tremer... e a ter dúvidas. “Disse realmente aquilo? Do que é que estou a falar? Nem sequer vejo
muita televisão. Não tenho tempo para ver televisão.” Estou sentada no chão, de joelhos, e ela está a
descarregar o formulário. Passei-me. “Mãe, para”, disse. “Não vou fazê-lo.”
“O que é que estás a dizer? Claro que vais!”
“Não, não vou. Há provavelmente milhares de pessoas a fazer exatamente a mesma coisa nesta altura.
Nunca irão escolher-me.”
Por que razão o fariam?

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DEFINIR OBJETIVOS

Uma coisa que percebi quando cheguei ao rancho do concurso The Biggest Loser foi que tinha parado de
estabelecer objetivos para mim própria. Quando uma pessoa não estabelece objetivos, nega a si própria
oportunidades de ser bem-sucedida e festejar. É importante definir objetivos realistas e celebrar quando os
alcançamos.

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E foi o que aconteceu. Parei. Ela voltou para a cama. Fui-me embora. Tinha visto a luz, a hipótese e pensei:
“Vou fazê-lo!” Senti a minha adrenalina a subir e a minha mãe tinha voado daquela cama, estava tão contente
por mim. Queria que eu tentasse algo, alguma coisa, para que voltasse a ser feliz. Estava farta de me ver a
torturar-me. Tinha estado mesmo ali a meu lado e depois tudo acabou. Voltei outra vez à minha vida e tentei
esquecer o assunto.
RECEBI UM SMS

Numa noite quente de agosto, uns meses depois, estava a trabalhar no salão quando recebi um sms da minha
mãe. Dizia: “Boas notícias. O PC está na cidade.” Não fazia ideia do que é que ela estava a falar. O que era o
“PC”? Alguma linguagem das mensagens que ela tinha acabado de aprender? (Tinha acabado de começar a
mandar sms e a utilizar acrónimos.) Quando terminei com a minha cliente, telefonei-lhe.
“Acabei de ver o boletim meteorológico no noticiário local”, contou ela, “e eles disseram que The Biggest
Loser vai fazer um casting aberto no Mesa Arts Center no sábado! Tens de ir.” A minha mãe sentiu que, se
eles me conhecessem, me escolheriam. Na sua mente como é que fazia sentido não escolherem a sua Buba?
“Se conhecerem a minha Buba, vão ficar apaixonados por ela”, pensou. É assim a minha mãe. Sou a sua bebé.
Mas sábado estava cheia de marcações. Disse-lhe que não conseguiria aparecer.
“Mãe, não posso dar-me ao luxo de ir”, disse.
“Buba”, respondeu a minha mãe, “não podes dar-te ao luxo de não ir.”
Não sei o que aconteceu mas disse subitamente: “OK, então precisas de descobrir onde é que posso ir para a
fila”, e desliguei o telefone. Depois liguei a algumas clientes que tinham marcações para esse dia e disse-lhes
que precisava de as agendar para outra altura.
Na véspera da audição, fui com os meus amigos para os copos e apanhei uma bebedeira de caixão à cova.
Estava muito assustada. Entretanto, a minha mãe e o meu padrasto tinham-se aventurado a sair para
descobrir onde é que se iria formar a fila para o casting. Quando descobriram o local, o segurança disse-lhes
que os produtores estavam à procura de pares. A minha mãe praguejou: “Raios! Vou ter de fazer isto com
ela.” Mais tarde, confessou-me que era a única gorda que eu conhecia e que por isso tinha de ser a minha
colega de equipa. Mas não era verdade. Queríamos ambas mudar as nossas vidas e não conhecíamos mais
ninguém que estivesse preparado para este tipo de desafio. Além disso... eu não quereria fazer isto com mais
ninguém.

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PARTILHE OS SEUS SONHOS

Espalhe o seu entusiasmo pela mudança entre a família e os amigos. Ponha-os a par dos seus planos. É isso
que resultará verdadeiramente numa mudança da sua vida – conseguindo que toda a gente perceba os seus
sonhos e tendo o seu apoio.

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No dia seguinte, levantei-me às quatro da manhã e pus as minhas pestanas falsas. Tinha estado levantada
até muito tarde na noite anterior, antes de ter dormido algumas horas. Mas estávamos na fila às cinco da
manhã, sem ideia do que nos esperava. Aconteceu de tal forma que éramos a 11.ª equipa na fila. Era o dia 11
de agosto. Então a minha mãe andou para cima e para baixo na fila a dizer a toda a gente que mais valia irem
para casa, porque não tinham hipóteses. Os números eram um bom sinal, pensou ela. Deram-nos fichas de
inscrição para preenchermos e percebemos que precisávamos de fotografias. Não tínhamos nenhuma, pelo
que a minha mãe correu até à loja de conveniência mais próxima e comprou uma câmara Polaroid enquanto
eu guardava o nosso lugar na fila. Quando ela voltou, tirámos fotografias uma à outra e abanámo-las no ar.
Não tínhamos ideia do que estávamos a fazer e a minha mãe estava a embaraçar-me, ao falar com todas as
pessoas na fila: “Então, qual é a sua história? Com quem é que está? Oh, você é bonita!”
Às nove da manhã, havia algumas centenas de pessoas na fila e a minha mãe conhecia toda a gente e toda
a gente conhecia a minha mãe, quer quisessem quer não. Algumas destas pessoas já tinham concorrido antes
ao The Biggest Loser e tinham equipamentos especiais e rotinas que praticavam. E ali estava eu, cansada,
ressacada, com os meus saltos altos e as pestanas falsas. O pessoal do casting começou finalmente o
processo cerca de uma hora depois. Tinham duas grandes meses preparadas num palco do auditório e dois
grupos de nós iriam à vez. Eu e a minha mãe fomos no segundo grupo.
Quando chegou o nosso momento, sentámo-nos à mesa para a entrevista. Era a nossa grande hipótese.
Tínhamos dez minutos para causar boa impressão. Toda a gente tentava falar mais alto do que todos os
outros porque toda a gente queria ser ouvida. Eu e a minha mãe trocámos algumas ideias com o tipo do
casting que estava a entrevistar-nos – gostámos dele – mas, sinceramente, nem sequer me lembro daquilo
que disse. Era muita coisa para interiorizar.
Mas depois fomos levadas para as traseiras do auditório para preencher uns formulários mais completos.
Nem toda a gente da nossa mesa foi convidada para isso – apenas nós e as pessoas da fila que a minha mãe
já identificara como sendo “queridas” ou “engraçadas”. Percebi que tínhamos acabado de sobreviver ao
primeiro passo do processo que podia acabar por mudar as nossas vidas. E eu queria mesmo muito que isso
acontecesse.

FORA DE MIM COM O ENTUSIASMO

Toda a gente da sala estava tão ansiosa e entusiasmada... e, claro, divertindo-se imenso. Porque onde está a
minha mãe há sempre festa.
Um homem apareceu para levar as nossas fotografias e a minha mãe perguntou-lhe se ele podia fotografar-
nos de cima, para que o ângulo nos beneficiasse mais. Ele era um tipo magro e, claro, nunca tivera de pensar
em ficar mais adelgaçado naquela que podia ser a foto da sua vida. Mas eu e a minha mãe estávamos
espojadas no chão, posando para ficar por baixo da sua lente. Depois de terem tirado as fotos, fomos
mandadas para casa e informadas de que receberíamos uma chamada telefónica nessa semana se os
produtores estivessem interessados em nós.
Recebemos uma chamada nessa noite.
Estava fora de mim com tanto entusiasmo. No dia seguinte fomos para um hotel em Phoenix onde os
produtores tinham reservado uma suite para a fase seguinte do processo de casting. Fomos filmadas durante
uma hora e entrevistadas sob o foco daquelas luzes quentes. Lembro-me de que tinha uma camisola de malha
com mangas a três quartos, porque não me sentia confortável com os meus braços. Era agosto no Arizona.
Entre o calor, as luzes e os nervos, estava a suar em bica. Na altura em que a entrevista terminou, o meu
cabelo encaracolado natural – que tinha esticado nessa manhã – estava outra vez encaracolado. A minha mãe
apenas olhou para mim e eu fiquei muito embaraçada. “Oh que inferno!”, disse ela aos produtores. “Vocês não
entendem. A Buba deve mesmo querer fazer isto, porque eu nunca a tinha visto tão nervosa.”
Estava tão nervosa que não me lembro de muita coisa, mas tenho ainda assim uma memória muito
presente: disseram-nos para levantarmos a camisola e mostrarmos a barriga. E isso foi verdadeiramente
incomodativo. Acho que preferia ter de tirar a camisola do que mostrar apenas a pança – que era o que aquilo
era. A minha barriga tinha crescido tanto que na minha mente era mesmo uma pança.
Creio que assim que alguém toma a decisão de ir para a fila num casting do concurso The Biggest Loser sabe
que algo vai ter de mudar. Eu sabia, depois de ter estado na fila e de ter passado por aquelas entrevistas, que
teria de mudar a minha vida independentemente de conseguir participar de facto no concurso. E sabia que se
chegasse realmente ao rancho, essa seria a minha maior e melhor oportunidade para o fazer. Seria
completamente afastada da minha vida e teria uma oportunidade de contar a verdade sobre uma série de
coisas.
E estava pronta, estava realmente pronta. Durante muito tempo tivera medo de falhar – mas agora estava
farta de ter medo, farta de me sentir uma fracassada. Queria ganhar o The Biggest Loser, queria ser a
primeira mulher a ganhar o The Biggest Loser!

MEU DEUS, VAMOS PARTICIPAR NO CONCURSO

Recebemos a chamada a dizer que os produtores nos queriam para integrarmos o processo de entrevista final,
o que significava voarmos para Los Angeles e ficarmos sequestradas num hotel com os outros finalistas. Não
tínhamos forma de saber quanto tempo iríamos ficar ausentes – podiam ser três dias ou quase seis meses.
Não devíamos revelar a muita gente para onde íamos, por isso disse aos meus clientes que tinha de me
ausentar durante algum tempo e que lhes diria alguma coisa quando regressasse.
Tínhamos de arrumar roupa suficiente para seis meses e disseram-nos que os estampados e o preto não
funcionavam na televisão. Pensei: “Será que eles têm do tipo de roupas que as mulheres com excesso de peso
compram? O meu armário só tem estampados e pretos!” São as únicas coisas que se podem encontrar nos
tamanhos maiores de roupa. Ou é um estampado espampanante ou é preta.
Quando chegámos ao nosso quarto de hotel, olhámos através da janela para a piscina lá em baixo.
Conseguíamos distinguir ao longe quem eram os outros potenciais candidatos, porque se via duas pessoas
fortes a serem conduzidas à volta da piscina por uma pessoa pequena do casting. Olhámos para baixo a
observar a nossa concorrência e inventámos as suas histórias de vida – de onde vinham, quem eram. Não
havia muito mais para fazer. Acabámos por ficar sequestradas durante uma semana.
Continuámos a ter entrevistas umas atrás das outras e reunimo-nos com um nutricionista e com um médico.
E nos nossos tempos de repouso ficávamos sentadas no nosso quarto a comer umas decadentes “últimas
ceias” de piza e comida mexicana e todas as coisas que adorávamos e que provavelmente não voltaríamos a
comer. É um processo mental familiar para todos aqueles que querem perder peso: “Vou comer tudo aquilo
que quero até começar a minha dieta.” Nessa altura, desconhecia o processo mental das pessoas saudáveis,
que podem comer o que querem desde que o façam com moderação. Mas eu nada sabia sobre limites; nada
sabia sobre como controlar calorias. Costumava comer tanto de cada vez que fazia intervalos durante as
minhas refeições, pois ficava muito cheia. Tinha de deixar a comida acamar um pouco, mas não ficava
satisfeita. Queria terminar tudo o que estava no prato, mas necessitava de fazer pausas para respirar.
Ainda não estávamos cem por cento certas de que iríamos para o rancho mas fomos até ao vestiário e
experimentámos os nossos tops desportivos elásticos e os calções de ciclista. Tudo o que conseguia pensar
era: “Meu Deus, vamos mesmo usar isto na televisão nacional?!”
Antes de me vir embora, o meu cunhado Andy (um fã ávido do concurso The Biggest Loser) perguntara-me:
“Então, se conseguires chegar ao programa, vais usar acima ou abaixo?”
“Acima ou abaixo?”, perguntei. “Do que é que estás a falar? Acima ou abaixo do quê?”
3 [N. do T.: The Biggest Loser, o que à letra significa “O Maior Perdedor”]
••••••••••••••••••
COMEÇA AGORA

Quando me coloquei à prova em The Biggest Loser, sabia que não podia voltar atrás. Finalmente, ia fazer algo
e ia fazer algo por mim, tal como você faz algo por si. Penso que tudo começa quando se diz a verdade e se
admite que não se é feliz com o que se é na vida e se admite que se quer algo diferente. Quando começa a
sua própria viagem, tem de fazer constantemente um check-in a si própria: tem feito aquilo que é preciso
neste processo?

••••••••••••••••••
“Então não sabes? A grande decisão!”, respondeu. “Acima ou abaixo do umbigo?”
Bem, não tinha pensado nisso. Era engraçado, mas ele estava certo. Se se observar os concorrentes, nota-se
que as mulheres mais velhas usam normalmente os calções acima do umbigo, enquanto as mais jovens os
usam abaixo.
Escolhi abaixo.

ESTÃO A GOZAR COMIGO?

Chegou por fim a hora da entrevista final com os executivos da NBC. O diretor de casting disse-nos: “Chegou a
hora, malta. Se têm de impressionar alguém na vossa vida, esse momento é agora.” Fomos em primeiro lugar
e estávamos nervosas. Um dos produtores executivos estava na sala. Era difícil de o ver, por causa de todas
as luzes brilhantes e das pessoas que andavam às voltas no cenário. Estávamos a ser filmadas, as luzes
brilhavam sobre nós. Fizeram-nos mais perguntas.
Na segunda vez que fomos até essa sala tivemos a companhia de outro grupo de potenciais concorrentes. E
depois o executivo fez o anúncio para todos: “Quero que vocês se lembrem de como se estão a sentir neste
momento.” Tínhamos sido todos escolhidos para o concurso! Começámos a gritar e a chorar; toda a gente
estava extremamente emocionada. Disse-nos para nos lembrarmos de como estávamos entusiasmados
porque este era o momento em que as nossas vidas tinham começado a mudar. Disse que em breve iríamos
referir-nos às nossas vidas como “antes” do concurso The Biggest Loser e “depois” do concurso The Biggest
Loser, uma vez que tempos duros nos esperavam.
Não conseguia afastar essa ideia da minha cabeça. Embora soubesse que queria ser a primeira mulher The
Biggest Loser, pensei que de forma alguma um programa de televisão ou outra experiência do género poderia
tornar-se num momento definidor na minha vida. Tinha dito que queria aquilo, sabia que era assim, mas
nunca pensei que se fosse comparar às outras grandes mudanças pelas quais passei. Tinha vivido uma
existência bastante interessante, cheia de grandes momentos. Tinha sido uma atleta bem cotada
internacionalmente. Tinha passado por coisas difíceis. Perdera pessoas que amava.
Quando voltámos aos nossos quartos, os cupcakes que tinha comprado com a minha mãe já antecipando
uma celebração estavam em cima da mesa, à nossa espera. Enfiámo-los num saco e telefonámos para a
receção para saber se alguém podia subir e levá-los do nosso quarto.
4

Assustada a Todos os Segundos

Peguei o touro pelos cornos e estava assustada. Estava assustada a todos os segundos de todos os dias.

T odos os concorrentes foram conduzidos até ao Rancho King Gillette, a cerca de 45 minutos de Los Angeles.
Ainda não estávamos autorizados a falar com as outras equipas – os produtores queriam apanhar as nossas
reações iniciais uma com a outra e as conversas em frente à câmara. Quando a nossa carrinha parou junto à
cabina de segurança no portão da frente do campus, disseram-nos para sair e esticar as pernas.
A seguir, a equipa de produção começou a filmar-nos a andar na direção do rancho com o nosso colega de
equipa, aos pares. Um dos produtores gritou “Volta ao início” e tivemos de reconstituir os nossos passos e
fazer novamente tudo de novo. “Volta ao início” é uma frase que ficámos a conhecer bem no rancho. É gíria de
produção para reposicionar as câmaras para que possam obter um plano melhor. Nesse dia, houve muitos
“Volta ao início” – eu e a minha mãe tivemos de andar tantas vezes na direção do rancho que estávamos
exaustas antes de sequer chegarmos ao sítio onde estava a apresentadora Alison Sweeney! Até andar para o
nosso primeiro desafio era, naquele ponto, cansativo. Não fazíamos ideia de quanto mais duro estava prestes
a ficar.
Alison explicou-nos que o nosso primeiro desafio envolvia escolher os treinadores. Cada equipa tinha de subir
o monte do campus e depois voltar ao local onde começáramos. Os treinadores Bob Harper e Jillian Michaels
estariam à nossa espera na linha de chegada e as equipas que fizessem o melhor tempo podiam escolher o
seu treinador. Os que chegassem em último lugar não teriam hipótese de escolha. Eu e a minha mãe
decidimos que precisávamos de alguém incrivelmente duro para nos dar o empurrão.

••••••••••••••••••
USE O PESO DO SEU CORPO

Se houve coisa que percebi no rancho é que usar a resistência do nosso peso corporal é suficiente para obter
resultados. Fazíamos muitos exercícios básicos – coisas que aprendi quando era miúda nas aulas de ginástica,
como agachamentos, lunges, saltos, dorsais e abdominais. Não me entendam mal – sou uma grande
defensora de treinar no ginásio. Mas gosto de saber que, se não há nenhum ginásio por perto, consigo à
mesma ter controlo sobre os meus exercícios e sobre a minha forma física.

••••••••••••••••••
Queríamos a Jillian.
Se por acaso viu esse primeiro episódio, viu por si própria que eu tive literalmente de empurrar a minha mãe
pelo rabo até ao cimo do monte. Ela ficou completamente sem fôlego e exausta. Mal podia andar. Tinha tanta
sede e não havia água. A dada altura, perguntei-lhe se queria que eu lhe cuspisse na boca (ela disse que não,
felizmente) – a coisa estava assim tão má. De certa forma, senti-me agradecida por parecer ter mais
resistência do que ela, porque não tinha a certeza de que fosse conseguir. Não tinha escolha senão continuar
e ajudar a minha mãe. Estava sempre a pensar: “Mas onde é que nos viemos meter?” A minha mãe estava
exausta e disse que queria desistir. Fiquei mesmo zangada com ela.
“De que é que isto vale, Buba”, disse.
“De que é que isto vale?! Vale que temos de chegar ao fim!”, respondi.
Acabámos essa corrida no último lugar. E o que você não viu na televisão foi quanto depois é que cruzámos a
linha de chegada em relação à equipa que chegou antes de nós. Ficámos em último lugar provavelmente com
uma hora a mais, mas a longa espera teve de ser obviamente cortada na televisão. Foi o nosso primeiro
desafio, e eu e a minha mãe estávamos já numa montanha-russa emocional. Eu estava furiosa com ela
porque ela não queria terminar; queria desistir quando mal tínhamos começado.
Quando chegámos à meta, a equipa da Jillian já estava preenchida, pelo que acabámos com o Bob como
nosso treinador. E ficámos chateadas com isso. Sentíamos que a Jillian seria a pessoa exata para nos pôr em
forma. Quando o Bob distribuiu as T-shirts da sua equipa, eu e a minha mãe ficámos com as cor-de-rosa. O
engraçado é que, agora, acho que o rosa é a minha marca. Mas, na altura, não fiquei muito entusiasmada. Na
natação de competição, uma fita cor-de-rosa não é lá muito bom – é tipo o oitavo lugar. E o oitavo lugar não
era suficiente para mim.

COM E SEM CÂMARAS

Estávamos a trabalhar no duro para perder peso no rancho, é claro, mas estávamos também a ser filmadas
para um programa de televisão, pelo que havia todo um horário de produção que tínhamos de encaixar nos
nossos dias, para além de todos os nossos exercícios. Mesmo nos “dias de descanso” (o nosso dia sem ginásio
todas as semanas), tínhamos à mesma de dar entrevistas em frente à câmara. Na realidade, quando voltei
para casa, foi muito mais fácil encaixar o exercício físico porque o meu tempo não era consumido por
entrevistas!
Passo a vida a ser questionada sobre como é viver no rancho em frente às câmaras. Estranho, no início,
como se pode imaginar. Estamos a cozer brócolos na cozinha e os tipos das câmaras estão mesmo ali a filmar-
nos. Sentamo-nos à mesa para comer os brócolos e as câmaras estão a filmar. É o que se chama, no mundo
da televisão, reality. Naquela altura, no rancho, não existia nada planeado, mas tínhamos de estar disponíveis
na cozinha ou na sala de estar, por exemplo, para que as nossas interações fossem filmadas. Costumávamos
sentar-nos a falar, por vezes eu cortava o cabelo a alguém. Mas não podia fazer nada de drástico – por causa
da continuidade, eles não gostam que os concorrentes alterem drasticamente o aspeto do cabelo nas
primeiras fases do concurso.
Uma vez, a Brittany pregou uma partida à equipa de produção ao cobrir o seu longo cabelo negro com uma
peruca que não chegava aos ombros. Um produtor voou até à sala para lhe perguntar se ela tinha cortado o
cabelo! A minha mãe estava lá e disse que a sua Buba nunca faria um corte de cabelo tão mau.
Passado algum tempo, acabamos por nos habituar. Todos os dias, perdemos um pouco mais das nossas
reservas. Habituei-me a levantar o braço e deixar que alguém me enfiasse um microfone pelo sutiã! Habituei-
me a ter três pessoas a tocarem-me ao mesmo tempo. Para o fim, se estava a usar uma T-shirt suada em
frente à câmara e eles queriam que vestisse uma coisa mais fresca, despia a T-shirt ali mesmo (tinha um sutiã
de desporto, é claro) e vestia uma nova. OK, pronta? Ação! Não podemos ser pudicos quando estamos num
reality show.
Há câmaras manuseadas por operadores de câmara e há câmaras e microfones instalados por todo o rancho
para apanhar a ação dos concorrentes. Inventámos um jogo para tentar descobri-los. Está naquela planta? Há
um microfone atrás daquela fotografia? Sabíamos que havia câmaras nos nossos quartos, podíamos vê-las
montadas nos cantos, junto ao teto. Por vezes, o Mark, por exemplo, fartava-se e atirava uma toalha por cima
da câmara do quarto dele. Minutos depois, havia alguém a bater de mansinho à porta. “Mark? Pode tirar a
toalha de cima da câmara?” Era um assistente de produção enviado pela sala de controlo ao lado do ginásio,
onde a equipa de produção tira notas, dia e noite, enquanto vê os monitores e ouve as conversas. Acreditem,
se começa a acontecer alguma coisa de interessante, eles pensam logo em desenvolver ou criar uma história.
O único lugar sagrado, garantidamente livre de câmaras, é a casa de banho. Mas mesmo aí, se duas ou mais
pessoas se juntarem, podemos esperar pela visita de uma equipa de câmara! Habituamo-nos a ter câmaras
em cima da nossa cara quando estamos a suar e a morrer na passadeira. Eu limitava-me a fixar alguma coisa
distante para não ser distraída por um operador de câmara deitado de costas por baixo de mim, a filmar.
Tínhamos microfones instalados no corpo todos os dias, exceto nos dias de descanso. Era-nos dada, todas as
noites, uma folha de chamada para o dia seguinte e diziam-nos a que horas é que tínhamos de descer para
nos colocarem os microfones. Fora das atividades de grupo, tínhamos entrevistas individuais com os
produtores quase todos os dias. Só não sabemos o que os outros dizem nas suas entrevistas, pelo que é
realmente interessante ver o que os outros andam a pensar se isso chegar a ser incluído quando o programa
vai para o ar. Não sabemos o que os treinadores dizem para as câmaras, por exemplo. Existe um elemento de
surpresa para todos.
Por vezes, quando tínhamos de viajar de carrinha para os desafios, precisávamos de acordar muito cedo de
manhã para chegar ao local de rodagem ainda com luz suficiente para filmar. Noutras ocasiões, tínhamos um
desafio à noite e regressávamos muito tarde. Quando já estamos em plena mudança dos hábitos a que o
nosso corpo está habituado, levantar mais cedo ou deitar mais tarde pode acrescentar mais stress. Decidi tirar
proveito de todos os minutos de que dispunha, pelo que levava comigo na carrinha a almofada e uma máscara
para poder dormir mais umas horas. Fazia uma sesta rápida sempre que podia. Dava-me a oportunidade de
descansar e quando os concorrentes estavam demasiado cansados para treinar, eu era capaz de fazer mais
um exercício. Por vezes, levava também comigo a corda de saltar, para poder treinar um pouco enquanto
esperávamos que começassem a filmar.
De início, criei mesmo uma ligação com Jenni Westphal. Estávamos na mesma situação – o nosso parceiro
era um dos nossos pais. Jenni lutou mesmo muito com o pai, Lynn, para ir para o ginásio e enfrentar os
desafios físicos. E a minha mãe estava sempre muito cansada e exausta. Jenni e eu estávamos na mesma
equipa e partilhávamos as dificuldades.

APRENDER A COMER

Quando chegámos ao rancho, Bob falou-nos acerca do nosso orçamento de calorias e do que precisávamos de
comer – principalmente legumes, fruta, proteínas, cereais integrais e lacticínios magros –, uma coisa que
tínhamos também aprendido nas consultas com a nutricionista do concurso, Cheryl Forberg. Mas era
demasiada informação para processar de uma só vez, de início sentia-me perdida. Tirava notas e olhava para
elas com frequência. Comecei, com o tempo, a perceber os princípios da comida saudável mas foi necessário
muita concentração e trabalho duro.
Nos dias de descanso, estávamos autorizados a comer algumas calorias a mais do que nos dias normais. Não
se tratava de um dia de festa ou de um dia de batota mas um dia com mais calorias que tínhamos de planear
e que tinha de passar pela aprovação prévia do Bob. Podíamos comer guloseimas como uma fatia de piza ou
um hambúrguer e foi assim que comecei a compreender que, logo que deixasse o rancho, seria capaz de
incorporar as minhas comidas favoritas nos objetivos de perda de peso a longo prazo. Tem tudo que ver com
planeamento. E, claro, no dia seguinte, voltávamos à nossa rotina normal de exercício e alimentação.
Antes de chegar ao campus, eu não cozinhava, usava o microondas. E, contrariamente ao que os
espetadores possam provavelmente pensar, não há chefs no rancho do concurso The Biggest Loser. Quando
se trata de cozinhar, é uma operação estritamente “faça você mesmo”. As poucas coisas que eu sabia fazer
eram pratos gordos como massa com molho cremoso e comida mexicana coberta de queijo. No entanto, a
cozinha do rancho é um sítio deveras impressionante. Há armários recheados de especiarias e temperos,
frigoríficos repletos de fruta e legumes frescos e arcas frigoríficas cheias de proteínas saudáveis como frango e
peixe. Não tínhamos de nos preocupar com as compras de mercearia – estava tudo à nossa disposição. Mas se
apreciássemos um fruto ou legume em particular, era melhor cortá-lo e guardá-lo num saco de plástico com o
nosso nome para que mais ninguém o comesse!
Há também pilhas de livros de receitas do concurso The Biggest Loser por todo o lado, com toneladas de
ideias saudáveis. Na maior parte dos dias estava tão cansada que só fazia pratos simples. A minha mãe ficou
exausta logo desde o início e acho que ela nada teria comido se eu não tivesse cozinhado para ela e levasse
refeições para o nosso quarto. Ela mal conseguia levantar-se da cama naquelas primeiras semanas. Roger
Shultz e Trent Patterson ficaram igualmente intimidados pela cozinha, pelo que quando eu cozinhava para
mim e para a minha mãe, atirava para a frigideira um pouco mais de frango, abóbora, pimentos, cebolas e
cogumelos para eles comerem também.

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LANCHAR COM A SUA FAMÍLIA

Assegure-se de que tem sempre à mão snacks de baixas calorias para que, quando a sua família se sentar
para comer uma taça de gelado, por exemplo, você tenha ali iogurte grego magro com bagas ou iogurte
magro congelado. Não pode pedir à sua família que erradique os gelados do frigorífico mas pode ser proativa
quanto a ter o que necessita sempre à disposição.

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A parte mais difícil foi aprender a pesar e a medir todos os ingredientes. Mas eu tinha de saber quantas
calorias estava a ingerir, pelo que media um copo ou meio copo de cada ingrediente para cada pessoa que
fosse comer o prato para saber quantas calorias havia em cada dose. Aprendi a estar atenta à medida certa
de cada dose e à quantidade de comida que estava a entrar no meu corpo. Tornei-me atenta aos pormenores.
Não queria deixar nada ao acaso!
Comia legumes como nunca antes o fizera. Ao princípio, não gostava realmente muito mas sabia que tinha
de alterar os meus hábitos alimentares e havia uma boa seleção de legumes frescos no rancho. Juntava molho
de tomate a muitas das minhas refeições, o que lhes dava o sabor picante de que eu gostava sem que fossem
acrescentadas muitas calorias. Já comera antes curgetes e mostrei a toda a gente no rancho como cozinhá-
las. Um dia, fiz curgetes com molho de carne de peru picada e legumes como se fosse um prato normal de
massa. Toda a gente adorou! Era divertido experimentar coisas novas e cozinhar versões mais saudáveis dos
pratos que costumávamos comer.
O que é engraçado é que quando paramos de comer junk food e passamos a comer comida saudável,
começamos a gostar mais do que de junk food. Eu nunca comia tomate, por exemplo, e no rancho passava a
vida a comer. E cebolas e alho – antes detestava mas agora gosto de os pôr em tudo.
De início, não tinha assim tanta fome. Mas à medida que fui ficando mais magra e saudável, o meu apetite
aumentou. Jillian dizia que isso era bom porque significava que o meu metabolismo tinha começado realmente
a funcionar. Todos nós tínhamos o metabolismo a funcionar a pleno gás por causa do exercício que fazíamos.
Usávamos Bodybuggs – monitores colocados no braço que medem as calorias que consumimos e queimamos.
Eu vivia e morria de acordo com os números naquele Bodybugg. Registávamos a comida e os exercícios para
podermos ver quantas calorias tínhamos queimado e qual o nosso défice todos os dias. Assim que soubesse
que queimara calorias suficientes, podia dormir descansada!

FAZER EXERCÍCIO NO RANCHO

À medida que as semanas passavam, os exercícios não ficaram mais fáceis. Ou, pelo menos, nunca senti que
fossem mais fáceis. Bob e Jilliam são os melhores no que fazem e estavam constantemente a puxar por nós.
Na segunda semana no rancho, Bob e Jillian decidiram tentar fazer as coisas de maneira diferente em relação
às temporadas anteriores e treinaram-nos pessoalmente a todos, abandonando durante algum tempo o
conceito de equipa. Na realidade, eu e a minha mãe acabámos por treinar muito com a Jillian. Ela sabia o que
fazia e seguia de facto os nossos resultados. Sentimos que ela estava apostada em ajudar-nos a mudar as
nossas vidas como elas eram. Apreciava a sua intensidade.
Todos os concorrentes do concurso The Biggest Loser vêm para o rancho a pensar que os exercícios irão
começando gradualmente. Não começam. Logo naquele primeiro dia, com o primeiro exercício, ficámos
exaustas. Não havia dia no rancho em que eu não ficasse dorida. Mas sabia que iria terminar o exercício. Era
como se estivesse naquela fábrica de vidro no Texas. Tinha simplesmente de fazer uma coisa de cada vez. Se
conseguisse fazer uma vez, conseguiria novamente. Assim, habituei-me às dores. Estava a aprender a viver
fora da minha zona de conforto, o que, por sua vez, estava a ensinar-me a crescer.

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NÃO ENTRE NUMA ROTINA DE EXERCÍCIO

Uma coisa que aprendi com a Jillian é que temos sempre de misturar as nossas rotinas de exercício. Tente
fazer tudo. Eu nado, faço bicicleta, kickboxing, levanto pesos. Não há nada de físico que eu não faça. Acho que
consigo não só perder peso como criar um corpo forte e tonificado.

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Basicamente, passávamos seis a oito horas por dia a fazer exercício – às vezes dez horas, já perto do fim.
Treinávamos habitualmente quatro horas com Bob e Jullian e no tempo que restava fazíamos o nosso
“trabalho de casa”, exercícios que tínhamos de fazer sozinhos, como passar algumas horas no stairclimber ou
na bicicleta elíptica, fazendo várias repetições nos pesos. O trabalho de casa era feito a um ritmo mais
moderado em relação ao treino, que era intenso e orientado. As únicas pausas que tínhamos eram para ir à
casa de banho (havia uma pequena casa de banho portátil ao pé do ginásio) ou para voltar a encher as
garrafas de água. E a Jillian controlava sempre o tempo que demorávamos. Havia um limite para as idas à
casa de banho!
Ocasionalmente, um produtor interrompia uma sessão de treino e levava-nos para uma entrevista e eu
rezava para que me escolhesse para poder fazer uma pausa. Já nessa altura, Jillian às vezes não nos deixava
ir. Dizia ao produtor que só podíamos sair depois de acabar os exercícios.
Há também uma piscina no rancho, embora eu fosse a única que realmente nadava. De início, a água era fria
mas depois começaram a aquecê-la. Fiquei a conhecer o tipo da manutenção que vinha limpar a piscina
porque estava sempre à espera que ele aparecesse. Disse que estava feliz por alguém a usar.

TEMPO DE CONFESSIONÁRIO
Quando assiste ao concurso e vê um concorrente a falar diretamente para a câmara sozinho numa sala, sabe
que está no “confessionário”. No primeiro andar, por cima da cozinha, no mesmo piso onde ficam os quartos,
há uma sala cheia de equipamento de filmagem e um banco. Somos ensinados a ligar a câmara para
podermos ir à sala a qualquer hora e começarmos a falar para a câmara sozinhos. Podemos dizer o que nos
vai na alma ou apenas rever o nosso dia, que era o que eu habitualmente fazia. Estava muito focada em
perder peso e geralmente evitava a política, pelo que não sei se era assim tão interessante no confessionário!
A única altura em que me deixei mesmo ir foi já perto do final da temporada quando senti que os homens
conspiravam contra mim e Kelly. Fiquei tão ofendida pela forma como eles agiram naquele desafio, não nos
dando sequer uma hipótese.
O que é engraçado acerca do confessionário é que, embora pareça que estamos sós, não estamos! Se a
câmara estiver desfocada enquanto estamos a falar, o telefone toca. Atendemos e alguém pede: “Ali, pode
sentar-se um pouco mais para a direita?” Se passa um dia e não fomos ao confessionário, alguém bate
levemente à nossa porta, pedindo, por favor, para o fazermos. A verdade é que temos realmente um trabalho
como concorrentes. Não só temos de dar as horas de exercícios como também as horas de produção.

A PRIMEIRA PESAGEM

Havia sempre grande tensão nos dias de pesagens. Se existiam alianças em jogo, as pessoas ficavam
nervosas sobre se seriam apoiadas ou vendidas pelos seus amigos. Eu e a minha mãe nunca dependemos de
alianças. Tentávamos apenas apoiar e ser amigáveis com toda a gente. Nunca quis livrar-me de ninguém.
Queria apenas perder o máximo de peso que conseguisse todas as semanas para ficar acima da maldita “linha
amarela”. Se a nossa percentagem de perda de peso não for suficientemente alta, caímos para baixo da linha
amarela, tornando-nos elegíveis para eliminação.
O dia da pesagem era habitualmente sossegado, sem exercícios marcados, e eu queria aproveitar todos os
segundos para descansar. Era o único dia da semana em que me maquilhava para tentar parecer bem em
frente à câmara. O processo de pesagem em si mesmo durava mais ou menos três horas, ao longo de vários
takes. Estar ali de pé durante tanto tempo era uma tortura.
Após uma semana no rancho, era altura da nossa primeira pesagem. Antes de começar, um dos concorrentes
fez circular uma folha de papel e pediu a todos que escrevessem os endereços de e-mail e os números de
telefone para poder manter-se em contacto depois de o mandarem para casa. Eu não dava as minhas
informações. Não ia arriscar submeter-me à possibilidade de que seríamos eliminadas.
Sabia também que alguns dos concorrentes não gostavam da personalidade da minha mãe e que, se
caíssemos para baixo da linha amarela, iríamos provavelmente para casa. E isso deixava-me furiosa. E daí que
ela fale alto e não tenha papas na língua? Era a maneira de ela lidar com a situação que atravessava, toda
aquela dor, toda aquela luta. Na primeira semana, só levantar-se da cama todas as manhãs era difícil. Eu
sabia que tinha literalmente de a arrastar para fora da cama porque o corpo lhe doía imenso. E era logo para
ir para o ginásio para mais exercício. Lembro-me de uma manhã estar deitada na cama a olhar para ela, a
pensar se ela estaria bem. Eu sabia que ela tinha de fazer isto para salvar a sua vida mas não sabia se iria
morrer durante o processo. Assim, o facto de ninguém respeitar o seu esforço e não ter um pouco de
compaixão pela sua luta deixava-me furiosa. Estávamos todos a passar pelo mesmo processo.

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NÃO IMPORTA O QUE OS OUTROS PENSAM

Tudo o que pode controlar é o que põe no seu corpo e o que queima. À medida que o meu corpo ia ficando
cada mais forte todos os dias no rancho do concurso The Biggest Loser, comecei a perceber que não tinha de
me preocupar em ter alianças com quem quer que fosse. Necessitava apenas de me lembrar de que podia
fazer tudo a que me dedicasse.

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Estava literalmente assustada, à beira das lágrimas, à espera de trepar para aquela balança gigante. À
medida que a pesagem progredia, todas as equipas com membros masculinos apresentavam números
enormes – os homens estavam a perder peso depressa. Eu e a minha mãe, juntamente com a Jenn Widder e
a Maggie King, éramos as únicas equipas só de mulheres e, habitualmente, as mulheres não perdem peso tão
depressa como os homens. Estava assim aterrorizada que todas nós ficássemos abaixo da linha amarela.
A primeira pesagem pareceu durar uma eternidade e enquanto via todos aqueles números impressionantes a
aparecerem na balança pensei: “Não há hipótese de conseguirmos fazer isto, não há mesmo hipótese. E eu
não quero ir para casa. Preciso disto, quero isto.” Foi então que me desfiz literalmente em lágrimas e comecei
a chorar convulsivamente. Toda a gente olhou para mim, a pensar no que se passava. Já não aguentava a
pressão.
Mas, sem dar por isso, era a nossa vez e subimos para a balança. Os números apareceram no ecrã, e a
minha mãe tinha perdido sete quilos e eu oito quilos e meio! Tivemos a segunda maior percentagem de perda
de peso naquela semana. Houve um sentimento de redenção.
Quando estava no rancho, tínhamos uma hora para deliberar depois de acabar a pesagem e antes de nos
voltarmos a reunir para a eliminação. As eliminações correram suavemente naquela primeira semana. As duas
equipas que caíram abaixo da linha amarela foram a equipa pai-filha de Lynn e Jenni Westphal e a equipa de
melhores amigas Maggie King e Jenn Widder. Como já disse, era chegada a Jenni, como alguém que tinha
também um pai de meia idade como colega de equipa, mas Lynn fazia questão de mostrar que não precisava
de estar no rancho para perder peso. Estávamos tão agradecidos pela nossa temporada no rancho que se
alguém expressasse indiferença por ali estar, isso tornaria muito mais fácil a decisão de quem eliminar.
DEIXAR PARA TRÁS AS VELHAS FERIDAS

Estar no rancho com a minha mãe foi uma experiência delicada mas ainda assim espantosa. Naquela altura,
ela era a mulher mais velha que alguma vez estivera no campus e ela tinha realmente orgulho nisso. Mas eu
sei que lhe era difícil sentir-se como um dos elos mais fracos. Na minha família, não fazíamos nada a não ser
que pudéssemos vencer. Concentrávamo-nos num desporto em que fôssemos bons e depois sobressaíamos
nele. Eu escolhi a natação, embora sempre tivesse querido jogar voleibol ou softball quando estava a crescer.
Mas não sabia se poderia ser boa nestas modalidades e eu e a minha irmã fomos encorajadas a praticar
outros desportos. Tanto para mim como para a minha mãe, aprender coisas novas – em algumas delas não
éramos propriamente as melhores – foi um desafio. Nunca fui consistentemente forte nos desafios, mas
comecei a perceber que faziam parte da viagem.
À medida que treinávamos cada vez mais com a Jillian, percebi que ela estava a começar a detetar a nossa
singular dinâmica mãe-filha. Jillian gostava de separar colegas de equipa tanto quanto fosse possível,
principalmente aqueles que vinham para o rancho com os mecanismos capacitadores no sítio. A primeira
grande jogada dela na separação de mim e da minha mãe foi dada num dia em que estávamos a treinar no
ginásio e a minha mãe caiu da passadeira ao meu lado. Saltei imediatamente da passadeira para a ajudar e a
Jillian gritou-me.
“Não!”, disse. “Vocês estão separadas. Já não podem voltar a policiar-se ou a salvar-se uma à outra. Para de
proteger a tua mãe.”
Salvar a minha mãe não era a resposta para os meus problemas, ou para os dela. Eu sabia que tentava
proteger a minha mãe. Por um lado, guardava ressentimentos por ela não ter estado presente tanto quanto
eu queria quando era criança. Tinha desejado uma infância normal e estável sem o caos a que eu e Amber
fomos sujeitas. Detestava algumas das situações em que ela nos colocou, ao viver com diferentes namorados,
adormecer numa cadeira nas festas depois de ter bebido de mais, ficar furiosa comigo por eu ser amiga da
minha madrasta. Por outro lado, eu amava-a. Era a minha mãe. E defendia-a sempre que sentia que ela
estava a ser criticada. Ninguém tinha o direito de atacá-la.
As nossas guerras ao longo dos anos foram frequentemente desencadeadas quando eu sentia que ela estava
a julgar-me pela maneira como eu vivia a minha vida. Eu queria que ela compreendesse que algumas das
minhas escolhas de estilo de vida eram uma reflexo do que aprendera com ela – como andar demasiado na
borga ou não me autovalorizar suficientemente e tomar más decisões. Outras vezes, eu tentava apenas
expressar-lhe a dor da minha infância, de sentir-me tão só e abandonada. Mas ela ficava na defensiva e dizia-
me que não era culpada pela minha angústia.

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QUEM VEM PRIMEIRO?

Uma coisa que aprendi ao estar no rancho com a minha mãe foi que tinha de ser eu a mudar primeiro. Era a
única maneira de poder depois aceitar o apoio dela e oferecer a ela o meu apoio. Deixar de tentar tomar
conta dela ajudou-me a recuperar o equilíbrio emocional. É, provavelmente, um dos maiores desafios na perda
de peso: saber que para podermos ajudar os outros temos primeiro de nos ajudar a nós próprios.

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Jillian perguntara-me, à queima-roupa, se eu achava que podia perder peso sem primeiro lidar com as
memórias dolorosas que tinha da minha mãe. E, no fundo, eu sabia que não era capaz, embora odiasse a
ideia de a confrontar acerca disso. Sabia que se não escavasse ao longo desta situação, não conseguiria sair
no outro lado. Não poderia mudar se continuasse tão agarrada a ela.
Finalmente, durante a terceira semana no rancho, após mais uma sessão de exercício esgotante, eu estava
na cozinha a preparar um lanche. Jillian entrou e disse que queria que eu fosse lá para fora para o que
chamamos pátio da prisão, uma área grande junto da cozinha onde nós, por vezes, treinamos ao ar livre. Não
fazia ideia de que tinha chegado a altura. Mas, enquanto ela me conduzia lá para fora, vi a minha mãe
sentada, encostada a um muro, exausta e gasta como nunca a tinha visto. Senti-me como se tivesse acabado
de entrar num campo minado.
“Não, não vou fazer isto”, disse.
“Tens de o fazer”, disse Jillian.
Com Jillian ali de pé, disse à minha mãe o quanto me sentira só quando estava a crescer. Disse-lhe que não
queria continuar a ser infeliz, que não queria continuar dentro deste corpo e que estava cansada de estar
encalhada. Admiti que o peso tinha que ver com algo mais do que apenas comer demasiado.
A minha mãe foi, francamente, maravilhosa. As suas defesas estavam em baixo. Disse-me que sabia que
trouxera gente pouco recomendável para casa quando eu era nova, que passara demasiadas noites fora de
casa e que estava arrependida. Disse nunca ter querido que eu me sentisse só, queria estar presente a partir
daquele momento. Reconheceu que foram as suas duas filhas que a criaram e que não estava orgulhosa disso.
“Amo-te mais do que a própria vida”, disse. “Porque pensas que vim para este sítio parvo? Queria estar
contigo.”
Foi um momento imenso para nós. Aquele momento foi a única vez no rancho que falámos dos nossos
problemas, mas era tudo o que eu precisava. Estar no concurso The Biggest Loser foi, provavelmente, a
primeira coisa incondicionalmente maternal que eu sabia, com todo o coração, que ela fizera por mim. Sei que
a minha mãe foi para ali apenas por minha causa. Tinha tudo que ver com a sua Buba.
A experiência de estar no rancho do concurso The Biggest Loser desnuda a nossa alma. Não há esconderijo
possível. Estamos completamente vulneráveis. Onde quer que eu vá, as pessoas querem ouvir a minha
história da perda de peso. Mas a história da perda de peso faz parte do meu percurso de vida, o percurso para
me aceitar tal como sou e gostar de mim tal como sou. A parte física é, obviamente, importante – contar
calorias, queimar calorias, comer bem, tudo isso. Mas, pelo menos para mim, isso é mais ou menos dez por
cento da equação. Trata-se apenas de o fazer. Enfrentar as minhas emoções e deixar-me separar da minha
mãe foi muito mais difícil do que qualquer desafio físico. Pela primeira vez na minha vida, estava a pensar em
mim.

AS CARTAS

Pela quarta semana, já todos sentíamos que seríamos capazes de sobreviver fisicamente a esta experiência.
Já estávamos habituados à dor.
Paul Marks e Kelly Fields esforçaram-se bastante naquela semana e venceram o desafio. A recompensa foi
poder ler as cartas dos nossos entes queridos. Mesmo tendo sido Paul e Kelly a ganhar, deixaram que todos
nós, os adversários, lessem também as cartas.
Lembro-me de pensar que receber uma carta de casa não era nada de especial. Fantástico para as pessoas
que têm filhos ou esposos, pensei, mas não para mim. Pensando agora nisso, acho que me deixara alienar e
isolar tanto ao longo dos anos que não me sentia realmente chegada à minha família. Para ser honesta, não
esperava que alguém me enviasse uma carta.
Afinal de contas, recebi cartas da minha avó; da minha irmã, Amber; do meu pai; da minha madrasta; e de
todos os meus outros meios-irmãos. Amber e eu sempre nos mantivemos juntas ao longo dos tempos difíceis
da nossa infância. Mesmo quando Amber queria ir viver com o nosso pai e eu não queria, acabei por fazê-lo
porque sentia que pertencíamos uma à outra. Éramos como metades opostas da mesma pessoa – eu era a
maria-rapaz desarrumada e ela a menina limpa e organizada. Mas às vezes aproveitava-me dela. Quando era
adolescente, agarrava em coisas do armário dela de que gostava e nunca devolvia. Já adulta, pedia-lhe
dinheiro emprestado mas ela acertava as contas todos os natais.
Quando ela acabou por casar, foi difícil para mim. Senti que ela me deixara. Amber mudou-se para Spokane,
Washington, para estar com o marido. Fiz sempre julgamentos acerca do casamento dela e critiquei as suas
escolhas. Não gostava da maneira como ela vivia a sua vida e mostrei-lhe o que sentia.
Sentada ao lado da minha mãe no nosso quarto no rancho, abri a carta de Amber e li-a em voz alta para
todo o mundo ouvir:
Querida Ali,
Sou a tua maior fã e tu és a irmã mais nova que sempre tomou conta de mim. És uma líder natural e é
apenas natural que levasses a mãe e a conduzisses através disto. És adorável e uma das pessoas mais
generosas que conheço. Tenho orgulho em ser tua irmã. Estiveste sempre disponível para mim e para toda a
gente mas agora chegou a altura de seres essa pessoa para ti própria. Algures ao longo do caminho decidiste
que não merecias e eu estou aqui para dizer que sim. Mereces tudo e muito mais, e eu torço por ti todos os
dias. Vales a pena. Continua assim.
Com todo meu amor,
Amber.
A minha mãe desfez-se em lágrimas, e eu desatei a chorar antes de acabar de ler. Senti-me tão mal por ter
cortado a comunicação e deixar-me isolar de toda a gente que me amava e queria ajudar. Durante toda a
minha vida, a Amber esteve sempre disponível para mim. Mas, ao longo dos anos, não a deixei apoiar-me
porque a verdade é que ela não podia ajudar-me e eu não queria ser ajudada. Parei, assim, de lhe estender a
mão. Percebi que ela fora sempre a minha maior fã – tinha, simplesmente, esquecido.
Acabei de ler o resto das cartas e, no final, estava chocada. A minha família acreditava em mim. Eu,
simplesmente, não acreditara em mim própria.

GAME OVER

Naquela semana, perdi três quilos e seiscentos e fiquei abaixo da marca dos 90 quilos. “Nunca mais”, pensei.
Os jogadores de futebol pesam 90 quilos! Para a minha altura, 1,67 metros, não é aceitável. Progredira muito,
mas éramos ainda competidores num jogo. E o jogo estava prestes a assumir o controlo.
Mark e Jay foram os melhores da semana, o que significou que tinham imunidade quanto à eliminação. E
Paul e Kelly, em quem eu e a minha mãe votáramos para irem para casa na semana anterior, venceram-nos a
todos. Pelo que podiam escolher quem iria embora. Eu e a minha mãe não estávamos em boa situação.
Na sala de eliminação, Paul e Kelly decidiram mandar-nos para casa. Não podia acreditar no que estava a
acontecer. Sabia no meu coração que iria ser a primeira mulher a vencer o The Biggest Loser, trabalhara no
duro, provara que era capaz de fazer isto e agora ia para casa? Temia não ser capaz de manter o meu novo e
saudável estilo de vida em casa. Não estava preparada para lidar com a minha vida regressando ao Arizona
mas continuava determinada. Disse a todos naquela sala de eliminação que acabaria por vencer o The Biggest
Loser. Algo em mim não me deixava desistir com tanta facilidade.
Tínhamos feito as malas antes da eliminação e já estavam à nossa espera na carrinha quando saímos da
sala. Tinha de encontrar forças. Pensava constantemente: “Eu vou fazer isto. Vou aparecer naquela final com
a maior percentagem de peso perdido. Outra pessoa ficará com o título, mas toda a gente saberá que ganhei,
que é possível uma mulher conseguir, eu conseguir.”
Deixámos o rancho e chegámos ao nosso hotel por volta das duas ou três da manhã. E na manhã seguinte,
às sete, levaram-nos ao aeroporto. E foi assim. Estava sentada no avião e regressava a casa. Tinha acabado.
E agora? Apareceram alguns amigos para nos receber quando aterrámos no aeroporto de Phoenix e fiquei feliz
por vê-los, mas precisava de algum tempo só para mim. Iria ainda ser a primeira mulher a ganhar o The
Biggest Loser, desse por onde desse. Só tinha de descobrir como lá chegar.
5

Recebi Um Telefonema

Desta vez admiti-o, perante o meu próprio coração.

N essa primeira noite de regresso a casa, sentia-me devastada. Ainda não estava preparada. Não estava
preparada para ver ninguém. Não estava preparada para falar acerca de nada. Era uma pessoa diferente, mas
não sabia como o comunicar. Então foi isto que fiz: voltei imediatamente a ser a velha Ali – durante uma
noite. Saí com os meus amigos, divertimo-nos na cidade e passámos a noite inteira em festa. No dia seguinte
acordei de ressaca e pensei: “Que raio? Não podes fazer isto. Já não és esta pessoa. Isto não compensa
estragares o resto da tua vida.”
Estava à beira de mudar a minha vida, de crescer, mas agora estava de volta ao mesmo ambiente em que a
velha Ali se sentira tão encurralada e infeliz. E estava a sentir-me vulnerável. Precisava de encontrar um porto
seguro para ter a certeza de que os meus novos hábitos saudáveis não desapareciam. Precisava de continuar
a reforçar o meu novo estilo de vida uma e outra vez e num sítio onde não estivesse constantemente a ser
colocada à prova. Sabia como efetuar as escolhas certas, mas nem sempre tinha a força para as fazer em
situações de tentação. Então decidi tornar a minha vida literalmente livre de tentações.

UMA OFERTA DE AMOR

Holly, a minha irmã mais nova, estava grávida. Ela e o marido, Andy, viviam em Chandler, no Arizona, não
muito longe de mim.
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AGUENTAR FIRME

A melhor forma de lidar com um contratempo é mesmo aguentar firme. Recorrer aos amigos e família e pedir-
lhes o seu apoio. Assegure-se de que não existem tentações em sua casa e vá imediatamente ao ginásio.
Diga a toda a gente que se a quiserem encontrar estará no ginásio! Faça o que for preciso, mas controle esse
estado de pânico. Os estados de pânico irão acontecer. É apenas uma questão de como lidar com eles e
assumir o controlo da situação.

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Andy ligou-me e disse: “Olha, saíste-te muito bem e queremos que tenhas o apoio de que precisas e sem
teres de te preocupar com nada. Queremos que estejas rodeada de pessoas que se preocupam contigo e com
os teus objetivos. Sinto-me inspirado com aquilo que conseguiste até agora e penso que seria ótimo se
pudesses vir viver connosco, para ajudar a Holly e mostrar-me a forma certa de comer e de fazer exercício
físico. Também me podes ajudar.”
Foi uma oferta incrivelmente generosa e carinhosa. A princípio não estava certa sobre se deveria aceitá-la.
Estava demasiado habituada a tomar conta de mim própria e a fazer tudo sozinha. Mas toda a gente sabia
que a casa onde vivia com os meus colegas estava sempre em festa. E precisava de afastar-me de situações
em que não poderia obrigar-me a mudar. Precisava do apoio da minha irmã e cunhado – não queria fazer isto
sozinha. E adorei que o Andy pensasse que eu também poderia ajudá-los, sobretudo a ele.
Falei com os meus colegas e disse-lhes que por muito que os adorasse, não podia ficar mais tempo na casa.
Era bastante complicado, porque eles eram os meus melhores amigos e senti-me como se estivesse a
abandoná-los. Mas já não podia viver mais num ambiente tão louco. Tinha de ter a energia para acordar e ir
fazer exercício físico – antes e depois do trabalho –, portanto sabia que tinha de mudar o meu horário e o meu
estilo de vida, e isso não era culpa deles. Estava a escolher isto e achava que eles não precisavam de pagar
um preço pelas minhas escolhas, portanto tinha de me ir embora.
Foi duro deixar a segurança dos meus amigos e a vida a que estava habituada, mas sabia que tinha de tomar
conta de mim – e precisava de me sentir bem com isso. Precisava de compreender que tomar conta de mim
não era egoísmo. Era aquilo que era o melhor para mim.
As pessoas começaram a aparecer para me ajudar, sobretudo a minha família. Tive algum treino pessoal
com o meu irmão Joey, que jogou futebol americano e sabe um monte de exercícios. Ele tinha um emprego a
tempo inteiro e uma casa nova para tomar conta, mas arranjou tempo na sua agenda para me ajudar a
manter na linha. Isso tornou-se também uma ótima maneira de me ligar a ele. O Joey tornava divertidas as
minhas sessões de exercícios ao tirá-las do ginásio. Íamos ao parque e fazíamos exercícios de step na borda
do passeio e atirávamos bolas medicinais ao ar. Eu rastejava, rebolava – e ria-me! Ele tinha todo o
equipamento de treinador: um apito e um cronómetro. E levava os meus exercícios tão a sério como eu!

FAMÍLIA A BORDO

A família do meu pai queria ir ao México para um Natal tradicional em família, que eu sabia iria envolver
celebrações com imensas calorias extra – comer comida mexicana, beber álcool, provar sobremesas. Não era
propriamente o tipo de situação na qual eu me sentia segura em participar. Não queria ficar sozinha durante
as festas, mas parecia que teria de o fazer, para bem dos meus objetivos. Mas eis o que aconteceu: a minha
família queria tanto que fosse com eles que criaram ementas com escolhas saudáveis e ofereceram-se para
dividir a responsabilidade de cozinhar todos os dias, para que eu pudesse comer com eles e também divertir-
me.
Não havia um ginásio na nossa casa no México, como tal todos os meus irmãos me ajudaram a fazer
exercício físico enquanto lá estivemos. Descobrimos um pequeno campo de basquetebol e eu fiz exercícios
com todos os objetos que conseguisse empurrar, puxar ou carregar. Usámos cordas de saltar e fizemos
desafios de abdominais. Corremos para cima e para baixo nas dunas da praia e caminhámos com pesos. Às
vezes esse peso era a minha sobrinha Avery, a filha de Holly. Tinha cerca de ano e meio e era uma menina
simpática, grande e saudável! Eu carregava-a às costas. Deixava o meu Bodybugg dizer-me quando devia
parar. Um dia tinha ainda trinta calorias para queimar segundo o meu Bodybugg, por isso não me sentei a
jogar cartas com toda a gente enquanto não fiquei satisfeita por elas se terem ido. Adam, o meu irmão mais
novo, e eu, rindo a bandeiras despregadas, dançámos shimmy no pátio traseiro até essas calorias terem
desaparecido. Esse era o meu momento de exercício aha! Percebi que para queimar calorias não tinha de
estar sempre na passadeira ou nas aulas de step. Podia fazer qualquer coisa desde que me movimentasse
nesse momento. Podia ser apenas alegremente ativa!
Como presentes de Natal, trocámos prendas que promoviam a saúde – medidores de ritmo cardíaco,
equipamento de exercício físico, coisas assim. Foi um dos melhores natais que passei com a minha família em
toda a vida. O Natal tinha sido todo dedicado a apoiar-me e quem podia pedir uma prenda mais generosa e
afetuosa do que essa?

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BOA FORMA EM VIAGEM

Viajo com uma corda de saltar para o caso de não ter mais nenhuma opção para fazer exercício físico. Acho
que o fator preponderante é que onde há vontade há forma de fazer as coisas. Não importa como, existem
alternativas. Viaje com um vídeo de exercício físico ou faixas elásticas ou dê um passeio no parque de
estacionamento do seu hotel. Mas seja criativa.

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APRENDER A DISCIPLINAR-ME

Na casa da Holly, esvaziámos o frigorífico e a despensa e comprámos todas as coisas que eu tinha estado a
comer no rancho: fruta fresca e vegetais, carnes magras, cereais integrais com elevada dose de hidratos de
carbono e laticínios magros. Cozinhei refeições para nós, mostrando à Holly e ao Andy como pesar e avaliar
cada um dos ingredientes e como conseguir sabor a partir de ervas e especiarias, em vez de gorduras
acrescentadas. E apresentei-lhes a minha receita favorita de esparguete vegetal!
Concentrei-me em fornecer energia ao meu corpo. Comia todas as manhãs menos de meia hora depois de
acordar: farinha de aveia e alguma fruta, ou metade de um muffin com um ovo estrelado e uma fatia de
bacon de peru. Depois disso voltava a comer em intervalos de três ou quatro horas. Enchia as minhas
refeições de vegetais, porque dão volume, não têm muitas calorias e fazem-me sentir cheia.
Voltei ao trabalho no salão de beleza e consegui mais clientes, mas também marquei horas para comer
durante o dia de trabalho. Tinha de readaptar-me a mim própria e às pessoas à minha volta. Quando estava
na sala dos fundos a comer uma refeição ou um snack, não abandonava tudo para ir atender uma cliente que
entrava. Estava a comer. Estava a recarregar o meu corpo de energia. Estava a tratar de mim. E essa altura
era sagrada. Não podia ser incomodada.
Negociei uma mensalidade mais baixa no meu ginásio. Ainda tinha contas para pagar e não estava a
trabalhar a tempo inteiro no salão. Comecei a acordar cedo de manhã para dar passeios de bicicleta com a
Peggy. Depois dirigia-me para o ginásio. Tentei realmente ser uma pessoa matinal no início, esforçando-me
para conseguir fazer uma boa dose de exercício antes de uma determinada altura do dia. Por algum motivo,
sempre pensei que as pessoas saudáveis se levantam cedo – por isso precisava de fazer isso, certo? Mas
estava a tentar mudar tudo em mim de uma só vez – a minha situação de vida, as minhas refeições, o meu
horário de sono, o meu horário de trabalho. Estava a fazer tudo de uma forma excessiva. Um dia, o meu pai
sentou-se comigo e disse: “Ali, estás a fazer uma série de mudanças agora. Mas não és uma pessoa matinal.
Tens de sentir-te bem com isso.”
Ele estava certo – era demasiado. Portanto, aprendi a relaxar um pouco e deixei o meu dia começar
ligeiramente mais tarde.
Aprendi a ouvir o meu corpo e a perceber quando ele necessitava de descanso. Se estás cansado, não vais
conseguir retirar o máximo proveito do exercício físico de qualquer forma, e irá demorar mais tempo a
alcançar resultados, porque não podes ter um desempenho a um nível elevado. Dormir o suficiente pode ser
tão importante como fazer exercício físico.
Organizei o meu horário para que tivesse dois dias livres na semana para descanso e recuperação. Mas os
outros dias eram de exercício físico verdadeiramente intensivo. Além dos meus passeios de bicicleta e do
exercício no ginásio, consegui que a minha mãe se juntasse a mim, porque estava a sentir-se perdida. Ela
vinha comigo ao ginásio de manhã e fazíamos coisas divertidas como boxe ou exercícios pliométricos (como
treino de força). Por vezes jogávamos futebol ou saltávamos à corda. Depois costumava ir almoçar e a minha
mãe ia para casa e dava um passeio. Depois do almoço, eu dormia uma sesta para que assim conseguisse
voltar ao ginásio nessa noite e fazer exercício com o meu irmão.
Não contava as horas de exercício. Mais uma vez, olhava apenas para o meu Bodybugg e só descansava
quando ele me dizia que tinha queimado o número de calorias que precisava nesse dia. Descobri que se
tivermos alguma maneira de acompanhar a pista das nossas calorias, então a perda e a manutenção de peso
tornam-se uma equação matemática – calorias que entram e calorias que saem. É libertador.
Estava a pôr em prática tudo o que tinha aprendido no rancho do concurso The Biggest Loser. E estava a
resultar.

REAPROXIMAR-ME DAS PESSOAS

Depois de ficar em casa da minha irmã durante algum tempo e entrar numa rotina, comecei a sentir
realmente a falta dos meus amigos. Manter amizades faz parte do processo de ficar saudável e eu precisava
de trabalhar as minhas relações, agora que já tinha algumas fronteiras seguras. Portanto comecei a sair
socialmente outra vez, mas com uma grande diferença: não saía todos os fins-de-semana e não bebia álcool.
Só bebia água – mas meu Deus, como dançava! Costumava pensar que precisava de algumas bebidas para
considerar sequer a hipótese de ir para a pista. Costumava dizer “Oh, não sou lá grande dançarina” ou “Danço
melhor quando bebo”. Mas nunca tinha percebido o quanto podia divertir-me só a dançar. E na verdade tenho
ótimas conversas com os meus amigos, de que me consigo lembrar no dia seguinte! Não beber fez uma
enorme diferença na minha saúde em termos globais.

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COMER DE NOITE

Bem sei que há vários conselhos para não comer depois de uma certa altura da noite ou comer de forma
ligeira à noite. Não penso nas coisas dessa maneira. Penso naquilo que vou fazer depois de comer. Tento
pensar na comida como combustível. Se vou direta para a cama, então talvez faça um jantar ligeiro. Se vou
para a aula de aeróbica depois do jantar, então claro que tenho de abastecer o meu corpo para aguentar a
aula no máximo da minha capacidade.

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TORNE AS COISAS DIVERTIDAS!

Pense em formas de fazer exercício que sejam divertidas para si. Pode obter determinados resultados no
ginásio, mas se a ideia de lá ir a enche de medo, então vá para a rua e faça antes uma caminhada. Ou pegue
nos seus miúdos, amigos ou no cão e vá até ao parque. Jogue à bola ou, melhor ainda, arranje uma bola
medicinal. Comprei um hula hoop mais pesado para exercícios, que adoro. Encontre maneiras de ser ativa de
que realmente goste.

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Em geral, estava apenas a passar mais tempo com as pessoas que adoro e a ter conversas boas e reais.
Passei algum tempo com a minha sobrinha Avery. Fui fazer caminhadas com a minha família. Fiz amigos no
grupo ciclista da minha madrasta. Fiz amigos no ginásio que iam caminhar e nadar comigo. Fiz parte de uma
série de tipos diferentes de ambientes sociais. E estava a usar um fato de banho outra vez! Senti-me tão bem
por estar de volta à água.

UM TELEFONEMA

Estava em casa há cerca de sete semanas e ainda continuava concentrada em tornar-me a vencedora caseira
do concurso The Biggest Loser. Costumava provocar a minha mãe no ginásio quando ela estava
desconcentrada nos seus exercícios. “Mãe, vai para a máquina!”, repreendia-a. “Para quê?”, respondia ela. “Tu
vais ganhar o prémio de casa de cem mil dólares e eu irei receber metade dele.”
Um dia, a minha mãe e eu estávamos nos vestiários do ginásio quando recebi um telefonema dos produtores
do programa. Disseram-me que estavam a ligar a todos os concorrentes eliminados para nos darem outra
oportunidade de voltar de novo ao rancho. Quando desliguei o telefone, olhei para a minha mãe.
“Ó meu Deus. Vou ser a primeira mulher a ganhar o The Biggest Loser. Vou mesmo”, disse. “Vou mesmo
conseguir fazer isso.”
“Eu sei”, respondeu ela.
Uma energia invadiu rapidamente o meu corpo. Eu sentia-a; sentia-a mesmo.
No rancho, tinha afirmado que ia ganhar o título, mas não posso dizer que, até à quarta semana, acreditasse
realmente nisso e o admitisse – depois fui eliminada. Assim que regressei a casa e voltei a concentrar-me
após aquela primeira noite da “velha Ali”, comecei a admitir a meta perante o meu próprio coração. Posso não
ser capaz de competir pelo título, pensei, mas vou aparecer com a maior percentagem de peso perdido. O
resultado foi eu ter praticado exercício físico como se tivesse uma oportunidade de estar no The Biggest Loser
de uma forma ou de outra. Queria fazer o impossível. Toda a gente dizia que uma mulher não o ia conseguir e
eu utilizei essa descrença como combustível. Alimentei-me dela. Não me digam que uma mulher não
consegue. E agora parecia que tinha mais uma vez a oportunidade de ganhar o título verdadeiro.
Não sabia o que seria necessário para voltar a obter um lugar no concurso. Eles não nos disseram que tipo de
desafio ou teste iríamos ter de superar. Dado que não tinha sido a concorrente mais forte nos desafios,
contratei um treinador para fazer exercícios de corrida comigo. Acreditava em encontrar meios que me
ajudassem a ser mais forte nas minhas áreas fracas. E correr era claramente uma das minhas áreas mais
fracas. Trabalhei os sprints e a resistência. Continuava a dizer repetidamente para mim própria: Vou conseguir
fazer isto. Vou conseguir fazer isto ou vou morrer a tentar voltar para aquele rancho.
6

“Agora Acredito!”

“Vais conseguir, não vais?”

MEMBRO DA EQUIPA DO CONCURSO T HE BIGGEST LOSER PARA ALI VINCENT

Q uando eu e a minha mãe regressámos a Los Angeles e vimos os outros concorrentes que tinham sido
eliminados, nem queríamos acreditar quando vimos como todos estavam fantásticos. Lembro-me de ver
Amanda Harner e pensar: “Uau, ela está tão magra!” E quando Mark Kruger saiu do elevador, nem sequer o
reconheci. Estava feliz por toda a gente, mas tenho de admitir que parte de mim estava a pensar: “Será que
fiz o suficiente?” Não tinha a certeza se perdera peso suficiente para conquistar um lugar de volta no rancho. E
algumas pessoas estavam em jogo mantendo segredo quanto ao peso que perderam.
A minha mãe estava loucamente entusiasmada por estar de volta ao rancho, para me animar. Sentia-me
bem por ela estar tão orgulhosa de mim, mas intensificou também a pressão que eu estava já a sentir, com
toda a gente a controlar-me. Não queria que os focos me iluminassem com tanta intensidade. Queria dizer-lhe
para parar de me elogiar tanto!
Nessa noite, ao jantar, todos nós nos interrogámos como é que os produtores escolheriam quem iria ficar,
qual seria o critério. Alguns de nós pensámos até que talvez eles mantivessem a pessoa que tivesse perdido
menos peso porque seria essa pessoa que necessitaria de mais tempo no rancho. Não fazíamos ideia do que
estava para vir.

NERVOSA E ASSUSTADA
De volta ao rancho, o nosso grupo, que acabara de regressar, foi mantido por detrás de um ecrã enquanto os
seis concorrentes que restavam entravam à vez na sala de pesagem. Os homens que ainda estavam em prova
eram Dan Evans, Roger Shultz e Jay Kruger e as restantes mulheres eram Maggie King, Brittany Aberle e Kelly
Fields. Depois de sermos revelados a esses seis, descobrimos que iríamos ser todos pesados e que o homem e
a mulher do nosso grupo com a maior percentagem de peso perdido poderia regressar ao rancho. A ordem de
pesagem era igual à ordem pela qual fôramos eliminados. Tivemos de voltar a usar sutiãs desportivos e
calções de ciclista, enquanto os outros concorrentes vestiam camisolas sem mangas do concurso The Biggest
Loser. Estava eu então aqui, a sentir-me vulnerável outra vez. Tinha uma T-shirt por cima do sutiã de
desporto e colocaram-me na fila de trás. Lembro-me de ver os concorrentes do rancho a esticar o pescoço
para tentar ver como é que eu estava. Estava nervosa e assustada. Parecia haver no ar um ambiente de
julgamento, uma energia diferente da que existia quando eu saíra, há sete semanas. E havia, decididamente,
mais jogadas.
Podia ouvir as pessoas a sussurrar quando tirei a T-shirt para me dirigir para a balança.
Subi para a balança. Senti-me como se estivesse no meio de um nevoeiro até que ouvi a minha mãe gritar
“Viva!” quando a balança registou uma perda de peso de trinta quilos, colocando-me em primeiro lugar entre
as mulheres. Mas foi preciso esperar até que a última mulher, Jackie Evans, fosse pesada para ter a certeza de
que ganhara um lugar de volta ao rancho. Naquele momento, senti todas as emoções possíveis.
Ali de pé, ao lado dos outros concorrentes que ficariam no rancho, senti-me assustada como nunca estivera
na vida. Olhei para a minha mãe, que estava com os outros concorrentes eliminados. Nunca estivera no
campus do concurso The Biggest Loser sem ela. E agora queria-a de volta! Embora a tivesse visto sair do
ginásio com todos os outros, só me mentalizei que ela tinha ido embora quando regressei ao meu quarto,
deitada sozinha na cama e a olhar para a cama dela vazia. Estava por minha conta. Mas percebi uma coisa:
tinha de acabar esta viagem sozinha. Já não havia desculpas. Não tinha a minha mãe para me preocupar ou
os nossos problemas para me distrair.
“OK, Ali”, disse para mim mesma. “Tens aqui a oportunidade de ser a mulher que tu sabes que existe dentro
de ti.”
Mais tarde, toda a gente me fez todo o tipo de perguntas sobre o que eu tinha estado a fazer em casa – o
que estava a comer, se tinha feito muito exercício. Respondi honestamente mas não tinha a certeza de qual
seria a intenção por detrás das perguntas deles. Estas eram as pessoas que me tinham mandado para casa.
Estavam a ser simpáticas mas estavam também a tentar sondar-me. Estavam a jogar o jogo.
Estava satisfeita por voltar. Tentei transmitir a todos as lições que aprendera quando fui eliminada. Que
todos nós acabaremos por voltar para casa e que a nossa caminhada é muito maior do que as políticas e
alianças do dia-a-dia no rancho. Estavam todos tão absortos no jogo que não eram capazes de ver o quadro
completo. Acho que foi por isso que Mark Kruger e eu criámos um laço naquelas últimas semanas. Ambos
tínhamos regressado a casa, embora ele só tivesse ficado uma semana. Quando ele viu a sua família,
percebeu que eles eram a única razão para fazer isto. Não era por causa dos outros concorrentes.

••••••••••••••••••
ACABAREMOS TODOS POR VOLTAR PARA CASA

Bob e Jillian estão no rancho para ajudar toda a gente a ter êxito, e esse êxito não significa necessariamente
ganhar. O seu trabalho mais importante não é ajudar alguém a ganhar mas assegurarem-se de que cada
concorrente toma consciência do que o deteve no passado e é capaz de encontrar uma forma de viver de
maneira diferente no futuro.

••••••••••••••••••
Era suposto eu e a minha mãe irmos juntas ao Today Show depois de eu voltar para o rancho. Ela teve de ir
sem mim e como era segredo que eu estava novamente em prova, ela disse apenas aos produtores que eu
tinha “outros compromissos”. Achei isso hilariante. Nunca estivera em Nova Iorque mas não podia ir ao Today
Show porque tinha um compromisso prévio? Em Nova Iorque, ela comprou um pequeno sino com maçãs e
enviou-me para o rancho com uma etiqueta anexada a dizer “Acredito, Logo Sou Capaz”.

CONTINUAR COR-DE-ROSA

Tinha perdido toda a parte do jogo em que os concorrentes são divididos em duas equipas – azul e preta –,
pelo que nunca me ocorreu escolher ser preta ou azul assim que regressasse. Eu era cor-de-rosa. E ia
continuar cor-de-rosa. Era quem eu era. E estávamos, novamente, a competir individualmente. Gostava de
toda a gente e queria apenas manter-me o mais neutral possível.
Sabia que Kelly, Brittany e Maggie estavam preocupadas por eu ter voltado, por qualquer mulher voltar. Mas
sabia também que estava ali por uma razão, mesmo que fosse apenas para passar mais algum tempo com as
pessoas do rancho, especialmente com a equipa com a qual estava a treinar, a equipa de Jillian. Estas
mulheres eram espantosas e lindas, plenas de força. Mas estavam igualmente assustadas. Tinham medo de
voltar para casa. Foi assim que me senti da primeira vez que estive no rancho – estava sempre preocupada
por ficar abaixo da linha amarela. Porém, estar longe do rancho deu-me perspetiva e, acho, uma vantagem.
Quando voltei, já não estava obcecada por ficar abaixo da linha amarela como antes. Foquei-me apenas no
que podia controlar e dei o meu melhor.
No entanto, Jillian via as coisas de maneira um pouco diferente e aquela primeira semana foi,
decididamente, um teste mútuo de personalidades. Eu percebi que ela estava aborrecida por eu continuar a
usar a camisola rosa e não me juntar à sua equipa preta. Tentava mostrar-me que, embora eu tivesse sido
bem sucedida em casa, estar no rancho é uma coisa completamente diferente. As pessoas vêm para o rancho
para construir relações, para criar laços incríveis uns com os outros, e ela parecia pensar que estava a tentar
separar-me de tudo isso. Porém, na minha perspetiva, embora estivesse grata por trabalhar com treinadores
tão incríveis e por passar tempo com pessoas tão maravilhosas, ao fim do dia era a minha vida que eu estava
a viver. E era isso que tinha de perceber. Manter-me cor-de-rosa fazia parte disso.
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FALAR ABERTAMENTE

Certa noite, no rancho, estava no ginásio e senti que Jillian se esquecera de mim por estar tão concentrada no
treino de outros concorrentes. No passado, eu nada teria dito. Teria deixado crescer o ressentimento e reunido
provas de que se tratava de mais um exemplo da minha falta de valor. Ao invés, lembrei-lhe que ela não me
treinara ainda nessa noite. Ela pediu desculpa e deu-me uma hora de treino particular. Essa noite foi,
provavelmente, um dos meus maiores progressos no rancho.

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Os primeiros treinos foram duros mas consegui chegar ao fim. Tinha de provar a mim própria que não ia
morrer com os treinos de Jillian e ela acabou mesmo por me elogiar depois de uma das nossas primeiras
sessões juntas. Lembro-me de ela dizer: “Meu Deus, estou mesmo orgulhosa de ti. Quero dar-te socos, estou
tão orgulhosa.” Acho que ela estava entusiasmada por ter-me de volta, e acho que ela sabia que, quando
regressei ao rancho e a escolhi para me treinar, tinha ali a sua primeira mulher a vencer o The Biggest Loser!
Eram tempos muito emocionais para as outras mulheres do rancho. Algumas delas parecem ter deixado de
manter um controlo apertado sobre tudo o que comiam – como esquecerem-se de contar as refeições ligeiras
– e são essas pequenas coisas que podem realmente piorar a situação. Temos de registar a mais pequena
coisa que comemos se queremos continuar a mostrar números que se vejam todas as semanas na balança. A
pressão de se pesarem contra os homens estava a ser demasiada para elas, com medo de as hipóteses
estarem contra elas. E eu apareci e mudei-lhes ainda mais as regras do jogo.

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VISUALIZE

Naquelas últimas semanas no rancho, passava a vida a perguntar a Jillian o que é que ela iria vestir no Today
Show quando eu ganhasse o The Biggest Loser. “Oh, Ali”, dizia. “Precisas de concentrar-te nas tuas
pedaladas!” E eu disse-lhe que precisava de me concentrar no que ela iria vestir quando eu ganhasse para que
conseguisse pedalar! Se eu pensasse na força com que ela iria obrigar-me a pedalar, o meu corpo não
responderia. Mas se pensasse no que vestiria no meu momento de glória, pedalaria até não poder mais! Se
conseguir concentrar-se no que irá criar a partir de todo o trabalho duro, conseguirá passar pelos momentos
difíceis.

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DEIXE A SUA MENTE HABITUAR-SE

Quando perdemos muito peso, por vezes leva algum tempo para a nossa mente habituar-se às mudanças que
estão a acontecer no resto do corpo. Foi o que me aconteceu no episódio do makeover. Lembro-me de ver a
reação de Heba Salama, da sexta temporada, ao tamanho do vestido que o estilista Christian Siriano (de
Project Runway) escolhera para ela. Ela disse imediatamente: “Vou experimentá-lo, mas não me vai servir.”
Mas serviu! Lembro-me dessa ansiedade. Dê a si própria algum tempo para se habituar ao seu novo corpo e
não tenha medo de experimentar coisas novas. Faz parte do divertimento!

••••••••••••••••••
Quando me pesei no final da primeira semana após regressar, ganhei. Venci os homens todos. E, na
realidade, ganhei todas as pesagens depois de regressar, exceto uma.
Decidi esforçar-me ao máximo. É o que temos de fazer perante qualquer objetivo ou dificuldade. Fazia tudo o
que me pediam e mais ainda. Registava as calorias que ingeria no meu diário de comida e contava no meu
Bodybugg as que entravam e saíam. Passava muito tempo a fazer exercício. Nunca parava. Quando não
estava a treinar, caminhava. A não ser que estivesse a dormir, nunca estava quieta. Mantinha-me ocupada,
fazendo coisas diferentes. Sabia que isso resultara quando estava em casa e pensei: Vou continuar a fazer
isto. Tornara-me outra vez ativa em todos os aspetos da minha vida. Já não queria estar sentada sem fazer
nada ou vegetar em frente à televisão. Honestamente, continuo a não querer isso. Já nem sequer vou muito
ao cinema, porque posso sempre subir para a passadeira e pôr um DVD ou ver televisão enquanto pedalo.
Gosto de manter-me em movimento.

SINTO-ME BONITA

Durante a segunda semana após regressar ao rancho, filmámos o episódio do makeover. Só recentemente é
que começara a perceber quanto o meu corpo mudara. Reparei imediatamente nas mudanças internas –
estava mais forte e era capaz de aguentar o dia com mais energia – mas durante muito tempo senti-me
apenas como uma versão mais pequena da Ali maior. Mas agora começava a parecer mais alta e magra. Podia
ver no espelho que a forma do meu rosto começara a mudar. Sentia-me bem comigo própria – e sentia-me
sexy! Estava de novo orgulhosa. E o melhor acerca do episódio do makeover é que nos permite mesmo
apreciar quão longe fomos. A nossa mente tem a oportunidade de habituar-se a todas as mudanças do corpo.
Encontrámo-nos com o anfitrião do Project Runway, Tim Gunn, no Macy’s de Los Angeles. Tínhamos de
acordar às três da manhã para estar no Macy’s, prontos para gravar, às cinco! Tinham de filmar o episódio
enquanto a loja estava vazia. Levei, é claro, a máscara e a almofada e dormitei na carrinha durante a viagem.
Tim Gunn foi muito agradável e simpático. Depois de o conhecermos, andámos pela loja e demos uma vista
de olhos às roupas de que pudéssemos gostar. Ele juntou-se-nos depois, deu-nos a sua opinião sobre o que
achava que nos assentava melhor e ajudou-nos a escolher algumas roupas. Eu sabia que tinha perdido peso,
mas ainda tinha medo de experimentar os tamanhos mais pequenos, porque não queria sentir-me mal se não
me servissem! Mas acabei por provar quatro números abaixo até encontrar alguma coisa que me servisse. Não
fazia ideia que estava tão mais magra. Tim só dizia “acho que o teu número é este” e eu respondia “não, acho
que sou um número maior”.
Tinha uma imagem na cabeça do estilo de vestido que queria usar, uma espécie de toque moderno num look
clássico estilo Audrey Hepburn. Queria estar sexy mas sem exagerar. Tim lá escolheu um vestido estilo
império, creme com renda preta e alças estreitas. Quase desmaiei. Há anos que não vestia nada sem mangas!
Mesmo nos dias no rancho quando as câmaras não estavam a filmar e as outras raparigas usavam camisolas
sem mangas, eu nunca o fazia. Era um dos meus sonhos, perder peso suficiente para exibir orgulhosamente os
meus braços, e eis que esse momento chegara. Quando vi o vestido no manequim, achei que era demasiado
bonito para eu o usar. Olhei apenas para ele, pensando que era o estilo de coisa que sempre quisera vestir
mas que nunca me senti capaz de o fazer. Desatei a chorar.
Fomos mimados durante todo o dia. Arranjaram-nos o cabelo, fomos maquilhadas e eu decidi cortá-lo! Aqui
estava eu, com a cabeleireira, a deixar ir o meu cabelo todo. Foi, para mim, muito simbólico. Mantivera-o
comprido porque achei que nunca ficaria bem com os cortes curtos e modernos de que sempre gostei. Fiquei
com o cabelo pelos ombros, com uma franja curta, e senti-me fantástica.
Depois de acabarmos o cabelo e a maquilhagem, descobrimos que íamos fazer parte de um desfile de moda,
pelo que tivemos de praticar na passerelle. Uma sala foi arranjada com mesas, cadeiras e uma passerelle.
Andei para a frente e para trás, concentrada nos meus movimentos, praticando um andar petulante e
colocando a mão na anca. Quando olhei para cima vi que, na outra ponta da passerelle, estava a minha irmã
Amber! Desfiz-me em lágrimas e corri para ela. Abraçámo-nos e ela disse: “Tenho a minha irmã de volta.” Dei
então um passo atrás para que ela pudesse olhar para mim e apontei para a minha clavícula. “Olha, tenho
uma clavícula!”, disse. Os outros concorrentes também se juntaram aos seus familiares e todos nós nos
sentámos para celebrar aquele dia especial com espumante de maçã. Passara tanto tempo desde que me
sentira bem comigo própria ao pé da minha irmã. Eu estava forte, em forma e viva. Durante anos, senti-me
feliz por Amber mas também ciumenta. Não queria voltar a ter ciúmes dela. Queria apenas amá-la.
Pela terceira semana após o regresso ao campus, já perdera um total de 38,5 quilos, o máximo que qualquer
mulher perdera até à data naquele ponto do concurso The Biggest Loser. Pesava 67,5 quilos. Sentia-me
fantástica. Estava a fazer coisas que resultavam. Não fazia parte do jogo, estava apenas a trabalhar no duro e
a controlar as coisas que podia controlar. Até os membros da equipa começaram a acreditar que eu iria
conseguir. Habitualmente, eles não falam connosco, mas depois de um desafio particularmente extenuante
em que os homens se uniram contra mim e Kelly, um dos membros da equipa virou-se para mim e disse:
“Raios, rapariga! Vais mesmo conseguir, não vais? Agora acredito!”

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PELE EM EXCESSO

Recebi muitos e-mails de mulheres a perguntar pelo excesso de pele que fica depois de perderem tanto peso.
Mulheres jovens dizem que querem parar de perder peso porque começam a ver a sua pele a ficar sem
firmeza. Acho isso uma pena, principalmente porque estão a ficar mais saudáveis.
Algumas concorrentes do concurso The Biggest Loser escolhem de facto submeter-se a uma cirurgia de
remoção de pele depois de perderem peso. Mas as cicatrizes que isso acarreta são substanciais. Se vamos
ficar com uma cicatriz como recordação da batalha pela perda de peso, é uma maneira de olhar para isso –
como um ferimento de guerra. Se alguma vez tiver filhos, talvez faça uma redução na barriga. Porém, não
quero focar-me agora na pele em excesso. Tenho um corpo maravilhoso, estou saudável e forte.
Lembro-me, durante as semanas finais no rancho, de estar estendida na cama a olhar para as minhas pernas.
Começara a prestar mais atenção ao meu corpo. Tenho as barrigas das pernas grandes e pensei, talvez
durante uma fração de segundo: “Podia fazer uma operação para reduzir as barrigas das pernas.” Mas depois
pensei: “São as minhas barrigas das pernas e estão muito bem assim. Não vou preocupar-me com o que as
pessoas pensam sobre elas.” Acho que é isso que tem de fazer em relação à pele em excesso ou qualquer
outra coisa que a incomode acerca do seu corpo. O que é realmente importante é a sua saúde.

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7

Onde Começa o Arco-Íris

Eu estava a ter uma experiência transcendental.

E stávamos na sala de eliminação no final da minha quarta semana após o regresso ao campus, a semana
14 do programa. O Dan tinha acabado de ser eliminado, portanto estávamos reduzidos aos últimos cinco:
Roger, Jay, Mark, Kelly e eu. A Ali Sweeney pediu-nos para ficarmos na sala de eliminação depois de o Dan
sair, o que não era habitual. Esperámos ansiosamente, tentando adivinhar que tipo de reviravolta ela iria
anunciar em breve. Então ela disse-nos algo que nunca teríamos adivinhado: íamos até à Austrália para
competir num triatlo!

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QUEM A INSPIRA?

Uma maneira de permanecer motivada é pensar acerca de quem a inspira. A minha mãe inspira-me. Ela foi
para aquele rancho comigo e aguentou imensas mudanças difíceis e duras. Os treinadores inspiram-me – vê-
los a fazer exercício físico com as pessoas e a levarem-nas até aos seus limites. Ver os atletas a competir em
eventos como o Homem de Ferro ou os Jogos Olímpicos inspira-me. Quem a inspira a si?

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Estava tão entusiasmada. Toda a vida ouvira histórias sobre a minha avó ter crescido na Nova Zelândia e
agora ia ver essa parte do mundo pela primeira vez. A minha avó tinha 84 anos e não ia à sua terra natal
desde os 26. Senti-me sortuda por ter a oportunidade de visitar lugares tão longínquos. Mal podia esperar
para lá chegar. Estava pronta para começar a minha nova vida.

ERA A GRANDE NOITE

Bob e Jillian encontraram-se connosco em Sydney e decidiram levar-nos para uma saída à noite pela cidade
antes de começar todo o trabalho árduo. O único problema era que eu não tinha nada para vestir! Estava a
viver literalmente num par de calças de ganga tamanho 42 que uma amiga da minha irmã me emprestara
quando estivera em casa após a minha eliminação na semana quatro. Holly tinha lançado um SOS para roupas
– qualquer coisa entre um 34 e um 44 – quando eu estive em casa, porque tinha perdido peso e com isso o
meu guarda-roupa. Quando a amiga dela me deu aquelas calças de ganga, eu mal conseguia apertá-las. E
agora na Austrália, poucas semanas depois, estavam praticamente a cair-me do corpo! Tinha-as prendido à
volta da cintura com um cinto para que não me escorregassem pelas ancas abaixo. Confrontada com uma
grande saída noturna, estava a sentir-me claramente desleixada.
Tivemos meia hora para entrar rapidamente numa loja e encontrar alguma coisa para vestir na nossa grande
saída noturna. Foi a primeira vez na minha vida de adulta que consegui simplesmente agarrar em algo que me
apetecia vestir – e servia! Comprei a camisa de seda preta com folhos mais gira da loja e um par de calças de
ganga slim fit. Entrei e saí da loja com um conjunto em 15 minutos. Era uma sensação fantástica ser capaz de
encontrar tão rapidamente alguma coisa que me ficasse bem – alguma coisa que eu quisesse vestir. O Roger
disse-me mais tarde que eu estava espetacular. Até o Bob foi tipo “Uau!” e eu senti-me a mulher mais sensual
do mundo!
Aqui estava eu na entusiasmante Sydney, Austrália. Tinha acabado de fazer uma visita rápida a uma loja de
roupa e comprado um conjunto novo e agora íamos sair para jantar num dos restaurantes mais bonitos de
Sydney. Era um sítio absurdamente caro, ao qual eu nunca iria em circunstâncias normais. Mas o Bob e a
Jillian estavam a pagar! Depois disso fomos dançar e teve um sabor de comemoração. Tínhamos um triatlo e
uma pesagem a chegar, mas, nessa noite, estávamos a comemorar o sucesso que já tínhamos alcançado.

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O CENÁRIO SALADA

Um erro comum que as pessoas cometem quando comem fora é presumir que a melhor escolha é sempre uma
salada. Mas as saladas dos restaurantes podem estar cheias de molhos e queijos que engordam. Uma escolha
melhor, na minha opinião, é frango ou peixe grelhado com montes de vegetais cozinhados ao vapor.

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E QUANTO A BEBER?

Beber álcool é mau? Não, se for com moderação. Mas se está a tentar perder peso, seja cautelosa. Uma
bebida leva com frequência a duas ou três e quando as inibições diminuem, é fácil comer demasiado.

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Sydney é uma cidade tão bonita. Há mercados fabulosos em todo o lado, que vendem todo o tipo imaginável
de fruta e vegetais frescos, e as pessoas são bastante ativas – parecia que toda a gente estava ao ar livre a
gozar o clima fantástico. Ainda fizemos exercício físico e corremos, mas efetuámos muitas atividades ao ar
livre.

UM DESAFIO PARA ATLETAS

O nosso desafio da semana era competir num triatlo (embora eu lhe chamasse um quadratlo, porque estava
dividido em quatro partes). Começámos no cimo da Harbor Bridge de Sydney. Quando olhávamos para baixo
do alto da ponte, conseguíamos ver o edifício da Ópera e o porto, tal como se veem na televisão. Ao início,
pensámos que o nosso desafio seria apenas trepar a ponte. Mas a Alison Sweeney disse-nos que primeiro
tínhamos de cruzar a nado o Porto de Sydney, depois atravessar um parque de bicicleta, correr até um edifício
de escritórios e finalmente trepar quarenta lanços até ao cimo e cruzar a linha de meta. Adorava nadar e
andar de bicicleta e estava a aprender a gostar de correr. Portanto, senti-me pronta para o desafio.
A única parte complicada para mim tinha que ver com a natação: era em mar aberto. Eu sou uma nadadora
de piscina – gosto de ser capaz de ver o fundo. Numa piscina, o nosso corpo está paralelo à superfície e na
realidade estamos a deslizar através da água, fazendo pequenos movimentos de rotação para respirar
enquanto efetuamos uma braçada regular. Em mar aberto, temos quase de endireitar-nos para respirar,
porque existe uma corrente e ondas, portanto há sempre água a salpicar a cara. Uma pessoa tem de estar
acima da água e emergir para respirar, para que não sufoque.
Comecei aquela corrida a nadar em estilo livre. Mas não podia ver com nitidez na água turva e comecei a
entrar em pânico. Sentia-me como se estivesse a sufocar. Comecei a pensar: Não consigo fazer isto. Tive de
falar comigo própria através do medo e tranquilizar-me de que estava OK. Acalma-te, pensei. És uma mulher
forte e hábil. Então ocorreu-me virar-me e tentar nadar em estilo costas. Assim que fiz isso, fui capaz de me
descontrair. Deixei de hiperventilar e comecei a gostar de olhar para o céu. Era bonito. E consegui ir até ao
final da parte de natação dessa forma, de costas.
Quando saí da água, estava na frente com cerca de um minuto e 45 de avanço. A parte de ciclismo era a
seguinte. Mas não podíamos simplesmente saltar para as nossas bicicletas. Tínhamos de correr escadas acima
para as encontrar e foi aqui que o Mark me apanhou. Mas isso não me preocupava. Tinha estado a correr com
o Mark e estava a tornar-me melhor nisso, mas sabia que não era o meu ponto forte. Assim que ficámos em
cima das nossas bicicletas, ele ultrapassou-me. Eu ainda estava no segundo lugar, mas há algo que acontece
quando se está à frente – quando estamos na liderança, parece-nos mais fácil mantê-la. Quando ficamos para
trás, torna-se difícil alcançar a pessoa que vai à nossa frente. Mas eu continuava a apertar, nunca desisti. A
seguir corremos através do jardim botânico e eu comecei a aproximar-me do Mark. Lembro-me de passar a
correr por um homem idoso no parque que me gritou “Para de perder peso! Estás ótima assim!” Foi agradável
ter um estranho a incentivar-me.
Finalmente, chegámos ao edifício de escritórios. Baixei a cabeça e estava determinada a ganhar. Estava
muito húmido – era verão na Austrália – e, como todas as raparigas do Arizona, estou habituada ao calor mas
não à humidade. Estava transpirada, cheia de calor e morta de sede. Mas ia subir aquelas escadas e ia dar
tudo aquilo que tinha. Quando estava no quarto ou quinto andar, olhei para cima e pensei “Oh, meu Deus, vou
morrer. Como é que vou conseguir chegar lá?” Estava totalmente exausta. Quando finalmente me aproximei
do cimo da escadaria, vi o Mark lá parado. Estava à minha espera.
“O que estás a fazer?, perguntei-lhe.
Ele fez um sorriso largo e disse: “Preciso de ajuda para chegar ao cimo.”
“Cala-te”, respondi-lhe. “Não, não precisas.”
“Não consigo passar a linha de meta”, retorquiu.
“Bem, então põe-te às minhas cavalitas, raios”, exclamei.

Estava tão exausta que tremia, mas fiquei comovida por ele ter esperado por mim. Cruzámos a linha de meta
juntos, eu a carregá-lo nas minhas costas. Nesse momento, tínhamos ambos ganho. Nenhum de nós precisava
de passar em primeiro lugar. Isso não importava realmente. O que importava era a nossa experiência nesta
jornada, as nossas memórias, os nossos momentos – apreciar cada segundo e comemorar o quão longe
havíamos chegado.

O PRÓPRIO DEUS

Por termos ganho juntos, Mark e eu tivemos de partilhar a recompensa pelo desafio do triatlo, que era uma
viagem de hidroavião a um bonito restaurante no cimo de uma falésia. A vista era impressionante – parecia
que o próprio Deus tinha concebido cada pedaço dela, afirmando: “Oh, penso que uma nuvem ficava bem aqui
e alguma água ficava bem ali... Feito, feito, feito.” Não consigo descrever aquela parte do mundo. Nunca tinha
visto semelhante verde. Não estava habituada àquilo, as árvores, as cores. Era como um quadro.
Quando aterrámos, Mark e eu tomámos o pequeno-almoço e apreciámos tudo aquilo. Depois deram-nos 15
minutos a cada um para ligarmos às famílias através de um telemóvel. Marquei imediatamente o número da
minha avó. A minha mãe atendeu. Não parava de tentar contar-me coisas acerca do que estava a passar-se
no concurso, mas o engraçado era que eu não queria saber. Disse-lhe apenas: “Mãe, não quero falar sobre
isso.” Naquele momento, a minha vida tinha que ver com comemoração. Claro, tinha que ver com puxar por
mim própria até aos meus limites, mas também tinha que ver com celebrar, apreciar e apreender...
reconhecer os diferentes cheiros e cores.

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ESFORÇO CONSISTENTE

Como concorrente, nunca fui aquela pessoa que fizesse alguma coisa particularmente fora do normal, mas fui
aquela que era consistente e estável. A consistência é a chave quando se está a tentar efetuar grandes
mudanças na vida.

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Depois falei com a minha avó. Contei-lhe como era bonita a parte do mundo em que ela nascera, e ela disse-
me o quanto estava orgulhosa de mim e que me amava – mas para não voltar para casa antes da final! Ela
disse-me que deveria fazer apenas aquilo que precisava de fazer.
Senti-me como se estivesse a passar por uma experiência transcendental. Tudo era tão bonito. E foi quando
vi um arco-íris a sair da água. Observei um arco-íris a começar a formar-se. Foi um daqueles momentos na
vida que nunca esqueceremos; foi tão especial. Senti-me forte, capaz, bonita, generosa, afetuosa e amada.
Senti-me fantástica.
8

É a Minha Noite, e Vai Ser Única como Nenhuma Outra

É claro que é difícil, porque não me sentiria tão bem se fosse de outra forma.

A credito bastante no poder da recolha das provas do sucesso. Quando tinha excesso de peso e me sentia
encalhada, recolhia provas que apoiavam as minhas desculpas para os motivos pelos quais nada era como eu
queria que fosse. Dizia coisas como “não encaixo aqui” ou “não estou a ser julgada justamente”. Olhava
sempre para o lado negativo para explicar a minha infelicidade. Mas, à medida que perdia peso, adotei o
hábito de recolher provas positivas, de olhar para todas os motivos pelos quais podia ter sucesso.
Quando vivia com a Holly no Arizona depois de eu e a minha mãe termos sido eliminadas, Holly estava
grávida de oito meses. Nós já éramos chegadas, mas nunca como naquela altura. Quando ela teve a primeira
filha – a minha sobrinha Avery – estive no hospital a dar-lhe apoio mas não estive com ela na sala de parto.
Antes de saber que ia regressar ao rancho do concurso The Biggest Loser, Holly perguntou-me se eu ficaria ao
lado dela quando ela tivesse a sua filha Macy. Foi um pedido comovente e maravilhoso que eu aceitei com
emoção. Mas depois, quando soube que ia regressar ao rancho, percebi que não estaria ali para o parto.
Disse-lhe que sentia muito por perder o nascimento da minha segunda sobrinha. Porém, Holly disse: “Sabes
que mais, Ali? Vou ter muitos filhos, não penses muito nisso. Vai e faz o que tens a fazer.”
Depois de termos completado o triatlo na Austrália, estávamos todos ansiosos com a próxima pesagem. Não
sabíamos que efeito a viagem teria nos nossos corpos. No dia da pesagem – 19 de fevereiro – recebi a notícia
do nascimento de Macy! Ela era linda e saudável, e o parto de Holly fora rápido e sem problemas. E, pelos
vistos, não era apenas o nascimento da minha nova sobrinha – era também o aniversário de Jillian. Quando vi
Jillian imediatamente antes da pesagem, ela estava stressada e nervosa para ver como é que eu me sairia.
Limitei-me a olhar para ela e disse: “Jill, vai tudo correr bem. Não te preocupes. A minha irmã acaba de ter
uma filha no teu dia de anos.” Foi como um presságio. Não tinha de me preocupar.”
Nenhum de nós fez grande coisa naquela pesagem – a maioria apenas perdeu meio quilo ou um quilo. Fui eu
a vencedora, com menos um quilo e trezentos. A situação estava difícil para os irmãos Mark e Jay, que ficaram
abaixo da linha amarela. Mark, o irmão mais velho, foi para casa no início da competição, desistindo do seu
lugar no rancho para que o seu irmão pudesse ficar. Desta vez foi Jay que subiu para a balança e foi para
casa, dando a Mark uma segunda hipótese.
Tínhamos apenas mais uma semana no rancho antes da última pesagem. A seguir, os três finalistas iriam
para casa durante algumas semanas antes da final ao vivo. Quando regressámos da última viagem, Alison
Sweeney disse-nos que iríamos trabalhar sozinhos naquela semana, sem ajuda dos treinadores.
“Achas que consegues outra vez, Ali?”, disse ela. És capaz de voltar a fazê-lo? Tens mais uma pesagem...”
“Não, Alison, tenho mais duas pesagens”, disse-lhe. “A que vem aí e depois a final.” E sim, planeio vencer as
duas.”
Mark, Kelly, Roger e eu éramos os quatro finalistas. E Roger, um homem grande, antigo jogador de futebol
americano, disse que planeara perder sete quilos naquela semana para estabelecer um novo recorde de perda
de peso do concurso The Biggest Loser. É um número de respeito para se conseguir na 15.ª e última semana
no campus. Estava preocupada. Já antevia a final, comigo na balança como a primeira mulher a vencer o The
Biggest Loser, confetti a cair sobre mim. A pessoa que deixar o rancho com a maior percentagem de peso
perdido tem o direito de escolher a ordem pela qual os finalistas serão pesados na final ao vivo. Eu sabia que
queria ser a última a subir para a balança, depois de todos os outros, e ter a chuva de confetti sobre mim. Foi
o retrato que fiz na minha mente. Precisava de ganhar a última pesagem para que isso acontecesse.
Fiz então as contas. Se Roger perdesse sete quilos, eu tinha de perder quatro. Sabia que Roger iria perder
essa quantidade e não mais – ele fazia sempre exatamente o que se propunha fazer. Fui dar uma volta com
Mark, pesámos as nossas hipóteses e tentámos calcular os números. Ele achava que já não tinha peso
suficiente para perder de modo a superar Roger, e achava que eu também não era capaz de o vencer.

O ÚLTIMO DESAFIO

O último desafio era uma corrida de estafetas na praia mas com uma particularidade: tínhamos de usar um
fato de gordo que era, em peso, igual a todos os quilos que perdêramos até então. Para mim, isso significava
carregar com 40 quilos no corpo. Tínhamos de correr pela praia até chegar a um conjunto de bandeiras, pegar
na que tinha o nosso nome e depois subir até ao topo de um monte próximo.
Estava chateada por ter de usar o fato de gordo. Achava que era humilhante. Compreendia a intenção por
detrás do desafio, era uma forma de sentirmos, fisicamente, o quanto estávamos mais leves e de vermos
como os nossos corpos estavam diferentes, mas eu de maneira nenhuma queria voltar a sentir o que era
carregar aquele peso todo. Vestir o fato foi uma luta – o peso estava concentrado contra o meu peito. Mal
podia respirar. E não queria acreditar que costumava andar com este peso todo. Afetou-me física e
mentalmente. Estávamos numa praia pública pelo que, quando me bamboleava literalmente pela areia, as
pessoas olhavam. Odiei. Eu já não era assim.
À medida que avançava pela praia e ia tirando os pesos, saboreei o quanto mais leve me sentia. A energia
voltou ao meu corpo, como uma descarga de adrenalina. Lembro-me de correr monte acima na última parte
de desafio, segurando a minha bandeira cor-de-rosa com “Ali” escrito nela. Senti-me triunfante! Como uma
super-heroína – olhem para mim!
Em geral, todos os desafios em que competimos valeram a pena. À medida que ficávamos mais fortes e
avançávamos na competição, o objetivo não era vencer os desafios mas sim vivê-los e apreciar quão longe
chegáramos. Eram duros. Todo o processo era duro. Mas sabem que mais? Não me sentiria tão bem se fosse
de outra forma.

A PESAGEM FINAL NO RANCHO

Antes da derradeira pesagem no rancho, assumimos todos que apenas três de nós iriam à final. Foi assim que
sempre tudo funcionou nas anteriores temporadas do concurso. Duas mulheres, dois homens, competindo por
três lugares. Roger, com a sua promessa de perder sete quilos, foi o primeiro a pesar-se. E conseguiu. Perdeu
sete quilos, uma percentagem de peso perdido de 6,41 por cento.
A seguir foi Mark a subir para a balança e ele tinha perdido a marca incrível de cinco quilos e meio. A balança
marcou 82,5 quilos, contra os 106 quilos de Roger, e ele estava agora no primeiro lugar, com uma espantosa
percentagem de peso perdido de 6,63 por cento. Teria o meu plano êxito? Tinha feito bem as contas? Eu era a
próxima. Com o coração acelerado, subi para a balança. Marcou 66,2 quilos. Tinha perdido cinco quilos, uma
percentagem de peso perdido de 7,53 por cento! Estava no primeiro lugar! Não conseguia deixar de sorrir
quando desci da balança. Perdera um total de 45 quilos ao longo de toda a temporada, batendo o meu próprio
recorde do maior número de quilos perdido por uma mulher no campus.
A última a ser pesada era Kelly, que estava aterrorizada com o que a balança iria mostrar. Marcou 86,6
quilos, menos 5,8 quilos, numa percentagem de peso perdido de 6,81 por cento, colocando-a em segundo
lugar. As mulheres arrasaram os homens! Kelly e eu desatámos aos saltos e abraçámos Jillian. Nós, as
mulheres, íamos à final e nós decidiríamos quem seria o terceiro finalista entre Mark e Roger, já que ambos
tinham ficado abaixo da linha amarela. Foi assim que aconteceu nas temporadas anteriores. Certo? Certo?
Não.
Numa daquelas reviravoltas de que só a reality TV ou apenas a realidade pura e dura são capazes, Ali
Sweeney disse-nos que seria a América a escolher o terceiro finalista. Não ficava a cargo dos concorrentes que
venceram a última pesagem.
Fiquei estupefacta. Todos ficámos. Jillian não queria acreditar. Bob ficou ali de pé. Estávamos todos à espera
de que as regras fossem as mesmas das temporadas anteriores, nenhum de nós podia adivinhar. Mas percebi
que fazia tudo parte do jogo, um jogo em que eu escolhera entrar. Acalmei-me e pensei: “OK, vamos a isso. É
apenas mais um obstáculo na estrada. Darei conta dele.” A maior ameaça era o facto de Roger ainda ter
muito peso para perder.
Chegara a altura de irmos para casa durante cerca de cinco semanas antes de regressarmos à Califórnia para
a final ao vivo. Deixar o campus do concurso The Biggest Loser teve um sabor amargo. Sabia que estava a
chegar ao fim de uma parte da minha viagem e a embarcar noutra. Estava a fechar um capítulo na minha
vida, mas aguardava ansiosamente pelos próximos capítulos, por estabelecer novos objetivos, por aproveitar o
que aprendera. Foi no rancho que aprendi novamente a sonhar. Foi onde aprendi a celebrar-me e a obrigar-
me a ir mais longe do que alguma vez pensei ser possível. Sabia que retiraria força das experiências que ali
tivera para o resto da minha vida e que seria finalmente capaz de criar o tipo de futuro que desejava ter,
agora que possuía as ferramentas e a motivação para o fazer.
Existiram muitos momentos no passado em que não estive realmente presente. Não estava ali. Mas durante
o tempo inteiro no rancho do concurso The Biggest Loser fiz um grande esforço para estar presente, para estar
aberta e vulnerável. Para tudo aceitar e agarrar. Quando andava pelo rancho, dei por mim a reparar em tudo
à minha volta – as árvores, os esquilos e as pedras debaixo dos meus pés. Sentia que fazia outra vez parte do
mundo.
Recordei as palavras daquele produtor, no hotel onde os concorrentes da minha temporada foram escolhidos.
Ele disse-nos que, a partir dali, pensaríamos nas nossas vidas em termos de “antes” e “depois” do concurso
The Biggest Loser. Ele estava certo.

VOLTAR OUTRA VEZ PARA CASA

No carro que me levou do aeroporto para casa do meu pai em Chandler, Arizona, estava entusiasmada por ver
a minha família mas estava também nervosa e assustada. Tivera muito tempo para mim no rancho. E embora
tivesse voltado por seis semanas apenas, aquelas semanas foram para mim inestimáveis. Não tinha a certeza
se a minha família iria reparar completamente nas minhas mudanças físicas. Mas queria que reconhecessem o
quanto eu mudara interiormente. Aquelas últimas semanas no rancho e na Austrália foram enormemente
espirituais para mim. Será que as pessoas que me conheceram durante toda a minha vida – que conheciam o
antigo eu – estariam abertas e recetivas ao novo eu? Ou tentariam puxar-me de volta para a versão de mim
com a qual estavam mais confortáveis?

••••••••••••••••••
A COMIDA COMO CONSERTO

Da próxima vez que der por si distraidamente de pé em frente ao frigorífico, ou ao armário ou à sua gaveta de
snacks, pergunte a si própria se está realmente com fome. Quando foi a última vez que comeu? Beba, talvez,
um copo de água primeiro. Pode estar a confundir sede com fome. A seguir, pense no que fez disparar a sua
vontade de comer. Teve uma discussão com a sua mãe? Teve um confronto com um colega? Tente perceber o
que está a tentar consertar e lide com a situação.

••••••••••••••••••
Alimentava também as minhas próprias dúvidas sobre se seria capaz de ir até ao fim. Por muito que sentisse,
no meu coração, que ia ganhar, sabia também que em muitas ocasiões da minha vida cumprira 99,9 por cento
da distância necessária para atingir um objetivo, apenas para desistir mesmo no fim. Seria eu capaz de fazer
isto? De acabar? Ou a pressão seria demasiada para mim?
Quando estacionámos, vi uma longa passadeira cor-de-rosa até à porta de casa. Quando entrei no quintal,
fiquei estupefacta com o número de pessoas que vieram para partilhar e celebrar este momento comigo. Toda
a gente que eu conhecia estava ali, a aplaudir e a atirar pétalas de rosa. Amber estava lá, o que me deixou
completamente surpreendida porque ela acabara de me visitar em Los Angeles, e sendo ela uma mãe com
duas crianças pequenas em casa, sabia que não lhe era fácil viajar. Ambas as minhas avós estavam lá
também e, claro, os meus pais. Todas estas pessoas se tinham juntado e planeado isto para mim. Nunca vivi
nada assim. Não tive festa de formatura; nunca tive um casamento. Nunca tive qualquer tipo de celebração
em que viesse tanta gente para me apoiar. E ali estava eu com todas aquelas pessoas que gostavam de mim
– família, amigos, família estendida, amigos estendidos. Até os amigos do meu pai lá estavam, a dizerem-me
o quanto eu os inspirara. E estava tudo cor-de-rosa! Toda a gente vestiu camisas cor-de-rosa, deram-me flores
cor-de-rosa e havia até ponche cor-de-rosa para beber! Os meus irmãos recolheram 45 quilos de gordura em
talhos e contentores de lixo e puseram-na num carrinho de mão. Toda a gente se esforçou ao máximo. Era um
momento de pura celebração.
E assim foi a noite de divertimento. No dia seguinte, comecei realmente a sentir a pressão. Não queria
desapontar todas aquelas pessoas que estavam tão orgulhosas de mim. Os sentimentos de insegurança
começaram a insinuar-se. Estava a deixar que a pressão me esmagasse. Fiquei preocupada com a hipótese de
me autossabotar. E embora não tivesse entrado em colapso, dei por mim a fazer coisas que não devia, como
ir ao frigorífico durante a noite e comer mais uma colher de iogurte gelado quando não tinha fome.
A todo o lado onde ia na minha cidade, as pessoas seguiam-me. Na mercearia, podia senti-los a observar o
que eu punha no cesto. No ginásio, as pessoas chegavam ao pé de mim para me perguntarem qualquer coisa
quando eu estava a treinar. Estava feliz por partilhar a minha experiência com todos e encorajá-los, mas
necessitava igualmente de me concentrar.
Tinha uma pequena vantagem em relação aos outros concorrentes: já passara por isto. Estabeleci um
programa na primeira vez que fui para casa que tinha resultado para mim, pelo que voltei exatamente ao que
fizera antes. Fui viver outra vez com Holly e Andy. Tornei a vida à prova de crianças (de mim própria, não com
as minhas sobrinhas!) para manter as tentações afastadas e evitar situações convidativas. Vivia com um
horário e com orçamento de calorias. Fazia imensas listas. A minha vida possuía estrutura. Como Jillian diz, se
falhas a planear, planeias para falhar.
Eu tinha os meus treinadores, o meu ginásio, as minhas aulas. Tomara a decisão consciente de competir
como nunca antes competira. Isto era a minha medalha de ouro olímpica, a minha Volta a França. Escolhi
competir como um atleta. Iria dar tudo o que tivesse.
Estava determinada a ir em frente e alcançar o meu objetivo. Tinha, assim, de perceber porque é que
andava a comer iogurte gelado durante a noite e porque é que me sentia tentada a desistir na linha de
chegada. E o que percebi foi isto: ter uma linha de chegada à minha frente representava o fim de alguma
coisa. Estava tão perto da final, da conclusão, e não sabia o que viria a seguir. Tive, assim, de começar a
pensar nisso: que faria eu a seguir? No passado, tinha feito dietas mas, assim que atingia determinado
patamar, desistia. Não planeava os passos seguintes. Percebi então que talvez devesse planear o que vinha a
seguir. Eu era uma atleta, e sabia que os atletas treinam para objetivos e competições específicos. Precisava
de objetivos. Precisava de treinar para alguma coisa, de algo por ansiar, de celebrar quando chegasse ao fim.
Assim que percebi isso, deu-se o clique. Eu era capaz de envolver a minha mente para acabar esta parte da
minha vida, porque seria apenas o primeiro de muitos desafios que eu iria agarrar.
Já alguma vez esperou na fila para uma viagem assustadora numa feira ou num parque de diversões e assim
que chega a sua vez repara num pequeno portão de lado – a “saída de medrosos”? É a última oportunidade de
fugir, mesmo que tenha estado na fila durante metade do dia e esteja ansiosa pela emoção. Eu não queria
saídas de medrosos na minha vida. Queria ir àquela final e se não ganhasse não seria porque estava com
demasiado medo da viagem. Se não ganhasse, queria apenas dizer que não ganhei.
Quando era mais nova, tinha escolhido muitas vezes a saída de medrosos. Na natação, eu era naturalmente
talentosa e treinava, mas tinha aqueles dias em que cortava no treino ou não fazia todos os exercícios em
terra que era suposto fazer. Dessa forma, haveria uma razão para não ganhar uma competição – sabia que
não tinha feito tudo o que podia. Era a minha desculpa. Mas eu não queria mais desculpas. Não queria que a
minha vida funcionasse dessa maneira. As saídas de medrosos são autossabotagem. Dão-nos uma falsa
explicação para não termos o que queremos. Até este ponto da minha vida, nunca dera tudo o que tinha para
dar. Mas agora iria fazê-lo.

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PERDER OS ÚLTIMOS CINCO QUILOS

Jillian chama aos últimos cinco quilos os “quilos da vaidade”. Quando eu tinha mais de 45 quilos para perder e
ouvia mulheres falarem sobre perder aqueles últimos cinco quilos, pensava: “Isso são apenas uns grãos de
areia.” Mas quando chegou a minha vez de perder os últimos cinco quilos antes da final, compreendi. São
difíceis de perder! E descobri como fazê-lo – puxamos ainda mais por nós. O que fazemos é subir a parada. Na
passadeira, por exemplo, subimos mais um nível. Se estamos nos oito quilómetros por hora, aumentamos
para nove. Se estamos com uma inclinação de 6, aumentamos para 6,3. Temos de puxar para além da nossa
zona de conforto para atingir o nosso objetivo de peso.

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DE REGRESSO PARA A FINAL


Planeara o meu grande momento da final durante meses e com grande pormenor. Sabia qual o aspeto que
tudo iria ter, desde o meu cabelo até à maquilhagem e à roupa que iria vestir, e não deixei nada ao acaso.
Testei a maquilhagem no dia antes da final. Ia ser o meu dia! Seria como o dia do meu casamento. Na manhã
do programa, pedi à maquilhadora e à cabeleireira para chegarem cedo ao hotel para me prepararem.
O guarda-roupa do concurso tem roupas realmente bonitas para os concorrentes escolherem mas, por esta
altura, vocês já me conhecem! Tinha a minha visão e queria vestir algo de que gostasse absolutamente para o
meu grande momento. Fui às compras com algumas amigas e disse-lhes o que queria – um vestido, justo mas
com classe, com linhas simples. Algo que mostrasse os meus novos braços tonificados e a minha clavícula.
Quando descrevi o que queria, a minha amiga Tina disse que tinha em casa o vestido perfeito e que ficaria
contente por mo emprestar.
Ora, Tina é a minha amiga magra. “Nunca irei caber em nada teu”, disse-lhe. Mas ela insistiu e lá acabámos
por ir até ao apartamento dela. Ela mostrou-me o vestido, que era italiano, elástico e minúsculo. Fui para a
casa de banho para prová-lo e... meu Deus, aquele vestido servia-me na perfeição. Mal podia acreditar. Saí,
olhei-me no espelho e soube que encontrara o meu vestido. Queria pôr-lhe um cinto, um toque de cor-de-rosa.
A minha irmã Holly tinha um excelente cinto cor-de-rosa que usou quando estava grávida e nós encurtámo-lo
um bocado e pregámos-lhe uma pena cor-de-rosa engraçada.
Também não estava a ser fácil encontrar os sapatos perfeitos. Tinha visto um magnífico par de sapatos
Christian Louboutin com um pequeno drapeado atrás, mas Oprah acabara de mostrá-los no seu programa e a
procura foi tão esmagadora que estavam esgotados. Acabei assim por comprar uns sapatos pretos
envernizados abertos à frente e a minha irmã colou-lhes pequenos cristais Swarovski cor-de-rosa nos saltos.
Pedi até jóias emprestadas para completar o meu look. Não consegui encontrar nada de que gostasse nas
lojas a que fui em Phoenix. Uma amiga ofereceu-se então para me emprestar o anel dela, que era um grande
topázio rosa rodeado de pequenas safiras. Era magnífico. Chamei-lhe o Anel da Primeira Mulher a Vencer The
Biggest Loser. (Tenho hoje um igualzinho.) Fui à procura de mais jóias na internet, na loja onde a minha
amiga comprara o anel dela e vi um par de brincos e um colar que eram exatamente o que estava à procura.
Mas eram tão caros! No dia seguinte – e era exatamente o dia antes de ir embora para a final – telefonei à
ourivesaria e expliquei a minha situação a um desconhecido.
“Olá, você não me conhece, mas chamo-me Ali Vincent e estou prestes a vencer um concurso chamado The
Biggest Loser, que nunca foi ganho por uma mulher, pelo que isto é muito importante. Vou estar, ao vivo, na
televisão em horário nobre, vão lá estar muitos jornalistas e vai ser a mim quem eles vão entrevistar, porque
vou ganhar esta coisa. Há alguma maneira de me emprestarem algumas jóias para eu usar?”
A resposta? “Absolutamente.”
E pronto! O meu conjunto para a final estava pronto, completo com sapatos deslumbrantes, vestido
emprestado, jóias emprestadas e um cinto feito em casa! Sentia-me a princesa do concurso The Biggest
Loser!

O DIA DA FINAL

De pé, nos bastidores, a olhar para os monitores, esperámos pelos resultados do voto da América entre Mark
e Roger para o terceiro finalista que iria juntar-se a mim e a Kelly na pesagem. Roger parecia magro. Alison
Sweeney tinha um microfone no vestido mas era difícil ouvi-la a não ser que estivéssemos mesmo em cima
dos monitores. Bob e Jillian estavam ali de pé connosco. Jillian inclinou-se para mim e murmurou: “Sabes que
se for ele, vai ganhar.” Eu respondi: “Sei.” Nem sequer olhei para ela; estava colada ao monitor, a tentar ouvir
o que se estava a passar.
Foi então que Alison disse: “A América vota em Roger!” e eu literalmente transformei-me numa bola,
agachada nos meus saltos salpicados com cristais, a chorar. Toda a gente julgava que Roger ia perder. Foi
uma experiência tão estranha; senti-me como se todas as partes do meu corpo estivessem a chorar. A Jillian
chegou-se ao pé, ajoelhou-se atrás de mim e ajudou-me a levantar. “Vais ficar bem”, disse. Abraçou-me.
“Conseguiste.” Eu sabia que ela tinha respeito por tudo pelo que passara. Éramos ambas mulheres de garra e
paixão, que perseguem os seus objetivos com determinação resoluta. Ambas demos tudo o que tínhamos por
este esforço. Era a nossa viagem e eu era uma mulher diferente. Ela tinha razão. Eu tinha ganho, aconteça o
que acontecer. Tínhamos puxado por nós como ninguém o fizera. Eu sabia que dera tudo o que tinha.
Respirei fundo e acalmei-me. E era isso – nada mais podia fazer. Tinha chegado ao fim. E não tinha
importância, porque fizera tudo por mim. E, pela primeira vez na minha vida, dera cem por cento. Estava linda
e sentia-me linda. Todos os meus amigos e a minha família vieram para me apoiar. Até a minha avó estava
lá. Para ela, vir à final era um grande feito – não viajava há anos e era muito cansativo. Assim, decidi que iria
festejar acontecesse o que acontecesse. Pensei: “Posso não ser a primeira mulher a ganhar o The Biggest
Loser, mas esta é a minha noite, e vai ser única como nenhuma outra.”

••••••••••••••••••
ACERCA DA BALANÇA

Durante toda a minha vida, eu subia para a balança, pesava-me e os números só iam numa direção – para
cima. No rancho, não tínhamos balanças pessoais, pelo que quando voltei para casa pela primeira vez, Bob
aconselhou-me a não me pesar. Ele sabia como eu podia ficar obcecada acerca disso e pesar-me várias vezes
ao dia. Isso não ajuda, porque o nosso corpo varia durante o dia. Se quer pesar-se, marque encontros
regulares com a sua balança, uma vez por semana na mesma altura do dia e com o mesmo tipo de roupa
vestida. Mas, por favor, não deixe a balança mandar na sua vida. Quando deixei de viver a minha vida com
base no número que via na balança, assumi o controlo do meu corpo e da minha mente.

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Antes de sermos pesadas, Kelly e eu fomos apresentadas à assistência nos nossos vestidos, saltos altos e
maquilhagem. Tínhamos de, literalmente, irromper através de posters nossos em tamanho natural de quando
tínhamos o peso original. Na noite anterior, estivemos a ensaiar a parte de rasgar o papel. Porém, naquela
noite, enquanto esperava atrás do papel com uma assistência ao vivo do outro lado, pensei: “Em dois, três
segundos, o mundo inteiro irá julgar-me.” Tinha os punhos erguidos, prontos para socar através do papel, e vi
então os olhos no poster. Os meus olhos. Pareciam tão tristes e perdidos. Tive uma conversa com a velha Ali.
Disse-lhe: “Estás bem. És fantástica e maravilhosa, e nunca mais voltarás a sentir-te como antes. Esta
mudança é para o resto da tua vida.” Recusei-me a dar um soco na minha cara, mas esmurrei com toda a
força aquela barriga. Pás! Rasguei o poster, fui para o palco e foi todo meu. Foi tão divertido! Não me lembro
de alguma vez ter tido tanta energia. Era como se todos os natais da minha infância se tivessem reunido num
só.

O MOMENTO DE UMA VIDA

Depois de mudarmos para as roupas de pesagem, tive direito a escolher a ordem pela qual Kelly, Roger e eu
subiríamos para a balança, já que tinha saído do rancho com a maior percentagem de peso perdido. Deixei
Roger ir primeiro e Kelly a seguir.
Roger perdera 74 quilos, uma percentagem de peso perdido de 45,18 por cento. Kelly perdera 50 quilos, uma
percentagem de peso perdido de 40,22 por cento. A percentagem de Roger era o valor a bater.
Chegou então a minha vez. Subi para a balança. Alison disse-me que eu precisava de ter perdido 48 quilos
para vencer, pelo que sabia o que tinha de enfrentar. O ambiente no auditório era de loucura. Toda a gente
aplaudia e gritava. Até àquela altura, pensara que Roger tinha ganho. Mas 48 quilos? Pensei: “Ainda posso
vencer esta coisa.” Mas só acreditaria quando visse o valor na balança. Quando olhei para baixo e vi que a
balança mostrava 55 quilos, o meu estado de agitação era tal que não consegui fazer as contas. Tive de virar-
me e olhar para o ecrã atrás de mim para ver que tinha perdido 51 quilos e alcançado a percentagem
vencedora de peso perdido de 47,86 por cento! E então, tal como imaginara, os confetti começaram a cair.
Não conseguia acreditar. Consegui! Ergui as mãos. Gritei. Era incrível.
Era o momento de uma vida. Nunca vivera um momento como este, nunca. A primeira pessoa que abracei
depois de descer da balança foi a minha mãe, que estava também no palco. Mas eu recebera antes um e-mail
de Jillian a dizer: “Só para ver se está tudo claro e não há erros, é assim que vai acontecer. (...) Eu sou a
primeira pessoa que vais abraçar.” Ela acabou assim por ser a pessoa que agarrei a seguir e depressa
estávamos as três abraçadas, cobertas de confetti.

SEM TEMPO PARA CELEBRAR

Assim que as câmaras pararam de filmar, tivemos uma hora para entrevistas com a imprensa. A seguir, Jillian
e eu apanhámos um voo noturno para Nova Iorque para podermos estar no Today Show na manhã seguinte.
Fui praticamente arrastada para fora daquele auditório. Estava a tentar encontrar a minha avó para lhe dar
um beijo de despedida e dizer “adoro-te” a ela e a toda a gente. As minhas irmãs ajudaram-me a apanhar
rapidamente as minhas coisas.
Quando chegámos ao aeroporto para o check-in, Jillian apercebeu-se de que o meu lugar era em classe
económica, enquanto ela estava em primeira classe. Não me importei. Nunca voara em primeira classe na
vida exceto uma vez, poucas semanas antes, quando fiz um anúncio para a campanha do leite juntamente
com os outros finalistas – fomos todos fotografados e o vencedor do concurso veria o seu anúncio publicado no
USA Today no dia a seguir à final. Usei, é claro, um vestido cor-de-rosa na sessão!
Jillian estava pronta para uma discussão para me conseguir um lugar em primeira classe. “És a minha
primeira mulher a vencer o The Biggest Loser e não vais viajar em classe económica”, disse. Ela puxou do seu
cartão de crédito para pagar o meu bilhete em primeira classe e eu fui o tempo todo a protestar – não queria
que pagasse.
“Ouve o que eu digo, e ouve bem”, disse ela. “Precisas de descansar porque amanhã vais estar no Today
Show, serás a primeira vencedora do concurso The Biggest Loser a ir ao programa e vais ter um ótimo
aspeto.”
Afinal, já não havia mais lugares em primeira classe, pelo que ela deu-me o seu bilhete e comprou um
bilhete de executiva para ela. O engraçado foi que, mesmo em primeira classe, não consegui dormir. Estava
sentada ao lado de um ator e, quando a hospedeira anunciou pelo sistema de comunicação que a primeira
mulher a vencer o The Biggest Loser estava a bordo, ele nunca mais parou de falar comigo!
Quando aterrámos no JFK, corremos aeroporto fora para apanhar o carro que nos levaria ao Today Show. Eu
queria parar num quiosque para ver se o meu anúncio do leite estava no USA Today. Estava mortinha por ver.
“Oh, santa”, disse-me Jillian. Pelo que parámos, agarrei num jornal e comecei a virar as páginas, mas não
conseguia encontrar o anúncio. Não sabia em que secção estava. Vi todos os anúncios em todas as páginas.
“Não o vejo”, disse. “Não saiu.”
Jillian tirou uma secção das minhas mãos e virou-a para me mostrar.
“A sério?”, disse.
O anúncio ocupava a contracapa inteira da secção de desporto. Jillian puxou-me de volta para o carro.
No Today Show vi pela primeira vez um clip da noite anterior e do momento da vitória, e foi incrível. Nem
sequer me recordo das perguntas que o entrevistador, Lester Holt, me colocou; foi tudo tão difuso. Mais tarde,
vi o guru da perda de peso Richard Simmons na sala verde e ele fez-me uma serenata!
Já lá fora, Jillian e eu dissemos adeus. Sabia, de certa forma, que a celebração estava a chegar ao fim, que
entraria agora na parte seguinte da minha vida e ela seguiria para o próximo lote de concorrentes. Não sei
como é que ela consegue. Ela dá tanto de si a cada concorrente que treina. Mas eu sabia que nunca
perderíamos o contacto. Ainda no decorrer da temporada, ela brincara comigo dizendo que, se eu ganhasse,
ela vestir-se-ia todos os dias de cor-de-rosa na temporada seguinte. Eu não queria que ela estragasse a
imagem de se vestir de preto, mas decidi fazê-la cumprir a promessa. Comprei-lhe um colar, semelhante ao
que ela usara no concurso, mas que tinha na parte de trás três pequenas safiras incrustadas no fecho. Ela
manteve a palavra. Enviou-me um e-mail 24 horas antes de começar a filmar o concurso seguinte,
perguntando-me freneticamente o que podia ela usar que fosse cor-de-rosa. Por coincidência, eu tinha
acabado de lhe enviar o colar naquele dia, pelo que ela estava pronta para usar cor-de-rosa no dia seguinte, e
no dia a seguir...
Eu aterrei no rancho por minha causa, mas saí por causa de todas as mulheres, por todos os desistentes, por
todos aqueles que esqueceram o que é sonhar. Juro que o mundo queria que eu ganhasse e sei que essa é
única razão por que ganhei. Assim que meti essa ideia na minha mente, utilizei essa energia para me ajudar a
atravessar os momentos em que quis desistir. E quer as pessoas pensem ou não que eu sou louca por
acreditar nisso, pouco me importa. Não quer dizer que só tenha seguido a minha vontade e que tenha sido
apenas isso. Fi-lo, de facto, mas também lhe juntei ação. Investi em tempo para treinar, contei calorias, puxei
por mim. Mas usei todos os recursos que possuía para me levarem para o que foi o maior e mais desafiante
objetivo que alguma vez enfrentara na vida. E sabia que eu não era a única que o podia fazer. As pessoas em
todo o lado podem fazê-lo, também. Se acreditarem, serão capazes.
9

O Círculo Virtuoso

Espero nunca deixar de sonhar, de crescer e de querer sempre mais.

D epois de terminada toda a publicidade pós-final, voltei para o Arizona, para casa. E agora? Sabia que a
minha vida era diferente e que a levaria numa direção diferente. Só não sabia o que fazer a seguir. Voltei para
o salão e atendi algumas clientes. Paguei as minhas dívidas com o dinheiro do prémio – pela primeira vez na
vida, estava livre do excesso de peso e do excesso de dívidas. Obviamente, com o dinheiro do prémio vieram
também os pedidos de ajuda, e eu dei. Mas tinha de limitar o que dava, para me proteger a mim própria e
porque percebi que dar dinheiro desta maneira não resolve, em última análise, os problemas de ninguém.
Toda a gente parecia ter uma sugestão acerca do que eu devia fazer a seguir, ou então um pedido que
queriam que eu satisfizesse, e eu tentei responder a tudo. Comecei a ficar esmagada. Vivia ainda em casa da
minha irmã Holly e sabia que tinha de mudar-me. Estava pronta para ficar por minha conta. Porém, desta vez
decidi regressar ao lugar onde criara a minha nova vida. Não o rancho, é claro, mas o mais próximo que havia:
Los Angeles.
Achava que necessitava de estar sozinha em LA para conseguir novas oportunidades, embora não soubesse
que oportunidades seriam essas. Assim, depois de me mudar para a minha nova casa, ocupei o tempo a fazer
o que sabia. Ia ao ginásio para fazer bicicleta, a seguir nadava e depois fazia mais exercício. De treinar
durante seis a oito horas passei a treinar durante oito a dez horas. Estava sempre a treinar. Quando não o
estava a fazer, ficava no meu apartamento ou ia comprar roupa. Comecei a fazer muitas compras. Estava a
trocar um vício por outro.
Nunca cheguei realmente a instalar-me no meu apartamento de Los Angeles, porque nunca lá estava. Estava
sempre fora a fazer qualquer coisa, a treinar, a viajar. Acho que fiquei assustada porque já não era a Ali de
antes do The Biggest Loser. Sentia o dever de preencher os meus dias com muitas atividades. Vivera uma vida
tão estruturada no rancho – isolada, sequestrada, as pessoas da TV a aparecerem a toda a hora. E, depois,
tudo desaparece num instante. Parte do motivo pelo qual o concurso é tão poderoso é porque as pessoas por
detrás dele dão tudo o que têm e eu apreciava a preocupação delas. Elas tornaram-se o meu sistema de apoio
principal e agora era difícil habituar-me à sua ausência. Pensava que regressar a Los Angeles resolveria os
meus problemas mas, afinal de contas, percebi que não batia certo.

••••••••••••••••••
ADORO O MEU NOVO CORPO!

Adoro os meus ombros, a minha clavícula e as minhas costas. Adoro os meus ombros porque sinto que estão
mais largos, saudáveis e tonificados. Dão-me vontade de me erguer orgulhosamente outra vez. Adoro os meus
braços e o facto de já não ter medo de os mostrar. Adoro não ter de pensar se uma coisa tem ou não mangas.
E adoro as minhas clavículas. Foram os primeiros ossos que senti depois de começar a perder peso e pensei:
“Meu Deus, afinal tenho um esqueleto!”

••••••••••••••••••
Tinha de encontrar algum equilíbrio e aceitar os momentos calmos na minha vida. Sou o tipo de pessoa que
corre, corre, corre até desmaiar de exaustão. Posso deixar que isso me destrua ou posso aproveitar essa
energia e dirigi-la para outro objetivo, torná-la uma bênção. Tinha de arranjar tempo para me concentrar no
que queria fazer. Acredito que estamos todos aqui para fazer a diferença. Tinha-me focado tanto nos meus
problemas e em perder peso, mas agora era altura de olhar para o quadro global. Queria ajudar as pessoas,
porque acredito que podemos criar as vidas que quisermos se acordarmos e recusarmos viver em piloto
automático. Mas, primeiro, tinha de desligar o meu próprio piloto automático.

A FUNDAÇÃO ACREDITO, LOGO SOU CAPAZ

Quando estava na passadeira ou no stairclimber, a fazer o meu “trabalho de casa” no rancho, sonhava
acordada em criar uma fundação. Já que o Rancho King Gillette, onde The Biggest Loser é gravado, é também
um parque do estado, havia campos de natureza e guardas-florestais a passear crianças à nossa volta. Às
vezes deparávamos com eles e, lá mais para o fim, os miúdos vinham ter comigo e pediam autógrafos. Diziam
que estavam orgulhosos de mim. Disse-lhes que muitos dos exercícios que fazíamos no rancho eram os
mesmos que aprendi nas aulas de educação física quando era miúda, como agachamentos, lunges e
abdominais, esse estilo de coisas. E muitos deles disseram que as suas escolas já não tinham educação física.
Fiquei chocada quando soube que muitas escolas públicas estavam a eliminar as aulas de ginástica por causa
de cortes orçamentais. Sou da opinião de que fazer exercício e aprender sobre nutrição é tão importante para
os miúdos como os estudos. E praticar desporto é também importante – aprendemos a jogar em equipa, a
puxar por nós e a atingir objetivos. Pelo que, por vezes, quando estava na passadeira, pensava comigo
mesma: “É isso que quero fazer. Vou iniciar uma fundação para ajudar estes miúdos a ficarem saudáveis.”
Quando considerei a ideia, decidi que queria criar um programa aberto a todos os miúdos, mas que
beneficiasse em especial as raparigas. Queria que elas aprendessem a sentir-se bem com elas próprias num
ambiente social de apoio onde recebessem encorajamento e desenvolvessem confiança. Porque não ensinar
aos miúdos todas estas coisas através da saúde e da boa forma física? Num país cada vez mais ameaçado
pelo aumento da obesidade infantil e da diabetes de tipo 2, porque não ensinar-lhes que 3500 calorias
equivalem a meio quilo – uma coisa que só aprendi tarde na minha vida? E, mais importante, queria que todas
as crianças soubessem um dia o que significa viver um momento de orgulho e sucesso nas suas vidas, como o
momento que eu vivi quando subi para a balança na final do The Biggest Loser.
Levei comigo a minha sobrinha de 13 anos, Alexis, a Nova Iorque quando fui lá para uma sessão fotográfica
para a revista Prevention em 2008. Depois da sessão, sentámo-nos num restaurante a conversar e eu inquiri-a
acerca dos seus sonhos e objetivos para o futuro.
“Não sou realmente boa a nada”, disse ela.
“O que queres dizer?”, perguntei.
“Sou apenas uma rapariga mediana”, disse ela. “Gosto de seguir as regras.”
Lembro-me de Alexis ter, naquele dia, partilhado uma história quando passeávamos pela cidade sobre o
quanto ela gostava de seguir as regras na escola. Ela não via como gostar de seguir as regras podia ajudá-la a
destacar-se fosse de que maneira fosse. Mas as regras, disse-lhe, devem ser seguidas em muitas situações,
como nas associações de estudantes, por exemplo. “Não pensei nisso dessa maneira”, disse ela. Alexis disse
também que queria, um dia, ir para a Universidade de Nova Iorque, mas o primeiro pensamento que teve foi
“não tenho hipótese”. É claro que tem hipótese!
É assim que quero que a Fundação Acredito, Logo Sou Capaz seja – ajudar crianças a encontrarem o que
quer que seja que as faça sentirem-se bem com elas próprias, mostrar-lhes formas de elas poderem seguir os
seus sonhos. Será alicerçada na saúde e no bem-estar e ajudará a estabelecer e a celebrar as aspirações e os
dons inatos de todas as crianças. Sei que, de alguma maneira, incluirá o desporto, porque sou da opinião de
que os desportos ajudam as raparigas a desenvolver confiança e a aprender como competirem umas com as
outras de uma forma saudável. Quero criar um clube de raparigas que se estenda ao longo de gerações.
Ainda não faço ideia de como chegaremos lá exatamente. Mas sei que chegaremos. Eu chegarei lá. E isso é
um enorme desvio em relação ao que pensava acerca da vida apenas há um ano. Estabeleci uma nova meta e
sei que me ajudará a guiar ao longo da próxima fase da minha vida.

ENTRETANTO

Marquei uma reunião (foi uma estreia para mim, “marcar uma reunião”) com Mark Koops, diretor executivo da
Reveille, que é a empresa que produz o The Biggest Loser. E ele aceitou! Quando nos encontrámos, disse-lhe
que o The Biggest Loser me ajudara a reencontrar-me e a recuperar o controlo sobre a minha vida. Recebera
e-mails a dizer “obrigado por mudar a consciência da América”. Queria continuar a fazer parte disso. Queria
ter uma ligação com as raparigas normais como eu, com as mães normais, com as jovens normais, e
tranquilizá-las. Se elas fossem na direção que não queriam ir, podiam sempre mudar. Tinham apenas de fazer
uma escolha.
Mark disse-me que estava à espera desta reunião há cinco anos, à espera de que uma mulher entrasse pela
porta e quisesse fazer a diferença. Assim, ao trabalhar com o The Biggest Loser e com patrocinadores como o
24 Hour Fitness e os suplementos proteicos Designer Whey, tornei-me capaz de sair, de falar em público em
eventos e de construir relações com mulheres extraordinárias por todo o país – mulheres que deixavam o
mundo passar por elas há demasiado tempo, que queriam mudar mas não acreditavam que conseguissem.
Quero dar-lhes as ferramentas e a motivação que a mim me foram dadas e ajudá-las a cumprir os seus
sonhos.

O QUE É QUE O AMOR TEM QUE VER COM ISSO

Sei que muitas das pessoas que vêm ouvir-me falar pensam que vou aprofundar estratégias para perder peso
– mas não é por isso que faço o que faço. Não é esse o quadro global da minha abordagem. A paixão que
mostro é por acreditar finalmente em mim outra vez. Quero partilhar a viagem que me fez apaixonar por mim.
Porque amor é a palavra que as pessoas não associam habitualmente à perda de peso.
Acho que uma das razões pelas quais consigo relacionar-me tão facilmente é porque sou apenas uma pessoa
normal que enfrentou uma viagem extraordinária – que por acaso aconteceu na televisão nacional. Mas a
coisa mais importante que quero que as pessoas compreendam é que elas também merecem ter o que eu
tive. Merecem ter a melhor vida possível. Quero dar o exemplo, e eu sou o exemplo do que é acreditarmos em
nós próprios.
Gosto especialmente de ajudar as mulheres, que vivem frequentemente tão aquém do seu pleno potencial, e
muitas vezes isso acontece porque o peso extra está a impedi-las de se sentirem bem com elas próprias. O
culpado número um que vejo nessa equação é a falta de tempo que as mulheres dão a elas próprias para
ficarem saudáveis e manterem-se saudáveis. Quando é que se tornou aceitável dar o nosso tempo a toda a
gente menos a nós próprias? As mulheres tendem a cuidar de tanta gente, a tantos níveis diferentes, que se
esquecem frequentemente de cuidar delas próprias.
É importante ter tempo para si própria, por mais ocupada que estiver – interrogar-se acerca do que necessita
para viver uma vida feliz. Arranjar tempo para fazer exercício pode ser um desafio, mas pode começar por dar
pequenos passos, encontrar formas de incorporar mais atividade no seu dia. Não necessita de ir ao ginásio.
Pode andar de bicicleta com o seu marido logo pela manhã, antes de ir trabalhar, pode levar o cão a passear,
dar uma volta ao campo de futebol enquanto os seus filhos treinam.
Gosto muito de falar com as pessoas e de fazer parte das suas vidas. Costumava tremer quando tinha de
falar perante uma mão-cheia de pessoas. Agora sou capaz de falar para uma assistência de duas mil pessoas
sem me sentir nervosa! Isto porque acredito que é importante falar. Quero estabelecer uma ligação com todas
as pessoas naquela assistência, porque sei que serão capazes de se identificar com a minha luta.

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PLANEIE – E NÃO DESCARRILE!

Tenho sempre snacks comigo para poder estar sempre preparada não vá dar-se o caso de o dia se complicar e
eu ficar com fome. Levo amêndoas, fruta, rolinhos de queijo ou pacotes de proteínas em pó que posso
misturar com água.

••••••••••••••••••
FAÇA À SUA MANEIRA

As celebrações não devem ser só sobre comida. Tente festejar ocasiões de outras maneiras. Por exemplo, no
meu aniversário, quero ir para uma aula de grupo de bicicleta. Em vez de ir a um restaurante sentir-me
tentada, quero que os meus amigos venham suar comigo! Para si, poderá ser um dia a nadar na praia com os
filhos ou uma aula de tango com o marido. Há muitas maneiras de festejar, mas sem as calorias.

••••••••••••••••••
Ouço histórias de todos os estilos de vida. Há tantas mulheres a lutar por relações saudáveis com as suas
mães, as suas irmãs, os seus amigos, os seus maridos. Têm de encontrar formas de comunicar as suas
necessidades com as pessoas mais importantes das suas vidas. E eu não tenho todas as respostas. Mas sou
capaz de ouvir e posso transmitir o que aprendi na minha viagem. É isso que tenho para dar.

DIA APÓS DIA

As grandes e radicais mudanças de vida podem reduzir-se a pequenas decisões do dia a dia. Bem sei que
contar calorias pode ser aborrecido mas, se não as contar, como vou saber quantas entraram no meu corpo?
Quero permanecer consciente; não quero enfiar a cabeça na areia porque tenho receio de saber o quanto
estou a comer. Contar calorias dá-me o controlo. É necessário, no entanto, encontrar um equilíbrio acertado e
saudável. Não deixe que a vigilância a impeça de saborear os pratos de que gosta – utilize-a para saborear
esses pratos com moderação.
O mesmo princípio vale para o exercício físico. Às vezes, há dias em que não me apetece ir para a
passadeira. Mas adoro os resultados quando vou. Adoro a maneira como me sinto depois de fazer exercício –
dá-me energia para o resto do dia. Domine os exercícios que resultam consigo, os que a deixam mais próxima
do objetivo de sentir-se bem, saudável e forte. É importante dominar seja qual for a atividade em que se
envolva e esforçar-se ao máximo. Quando varria o chão do salão de cabeleireiro, gostava que a minha área
ficasse imaculada. Fiquei com queimaduras nos braços a fazer a piza perfeita. Gosto de ser a melhor mesmo
nas tarefas mais simples. Sinto-me orgulhosa e realizada quando faço alguma coisa bem, mesmo se nem
sempre gosto da tarefa que tenho em mãos.
A resistência nunca é um agente de mudança. É preciso assumir as ações que a deixarão mais perto do seu
objetivo. Faça um autoelogio sempre que consiga cumprir cada um dos desafios que estão no caminho do seu
objetivo. Terá de empregar toda a sua energia e trabalhar no duro, mas pense onde é que isso a levará!
Lembre-se, quando a perda de peso se torna num objetivo na sua vida, comer bem e fazer exercício são
apenas duas peças do puzzle. Perceber a razão pela qual aumentou de peso é a parte mais difícil. Perguntar a
si própria porque fez escolhas tão más, que tipo de sentimentos pode ter estado a tentar evitar – não é fácil. É
necessário, no entanto, mergulhar de cabeça na parte emocional da questão. Porque o que sente acerca de si
própria reflete-se no seu corpo. Acredito que o meu corpo é um reflexo direto de como me sinto agora, e sei
também que era um reflexo direto de como me sentia quando pesava 106 quilos.

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SENTE-SE ENCALHADA?

Pode mudar aquilo que a faz sentir encalhada ou então mudar o que sente acerca disso. Digamos que tem um
emprego de que não gosta mas precisa dele para pagar as contas. Tente, a seguir, gostar do “porquê” do
emprego. Está a sustentar a sua família, o que é uma bênção! Encontre o lado positivo nas situações difíceis.
Pensar desta forma é uma maneira de fugir ao desespero. Recolha provas para o sucesso numa situação.

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É tão importante ter o apoio de relações em que possa confiar quando atravessa este processo. Tem de ser
capaz de partilhar os seus sentimentos com pessoas que a ajudem realmente a ir mais fundo e a perceber o
que está a acontecer dentro de si. Muitas de nós habituaram-se a estar numa posição secundária e passaram
anos – como aconteceu no meu caso – desde a última vez que dissemos a verdade acerca do que queremos
ser neste mundo, que tipo de coisas queremos para nós próprias. Encontrar pessoas com quem possa falar,
que a ouçam e a aconselhem sem fazerem julgamentos, essa é a chave.
Abraço muitas das pessoas que conheço. Por esta altura, já devo ter abraçado milhares de pessoas. Às
vezes, quando estou no aeroporto, uma desconhecida vem ter comigo e abraça-me e eu abraço-a de volta,
porque toda a gente necessita de sentir que é valorizada e apreciada. Toda a gente merece um abraço!
Quando abraço estas pessoas, desejo o melhor para elas. Penso: “Tu és capaz.” Espero sinceramente que elas
possam acreditar – e logo serem capazes – nelas próprias.

MANUTENÇÃO

Pensava que a manutenção iria ser muito mais difícil do que acabou por ser. Trabalhamos no duro para chegar
a determinado ponto e depois temos apenas de viver a nossa vida e ter cuidado com as nossas escolhas. Não
é necessário ficar no ginásio milhões de horas por dia. Não é necessário evitar completamente os pratos de
que gostamos muito. É necessário apenas encontrar um equilíbrio. Sim, temos de vigiar as calorias e passar
algumas horas no ginásio mas assim que desenvolvemos um estilo de vida saudável e mudamos os nossos
valores e prioridades, encaixa tudo no lugar certo.
A manutenção tem que ver com encontrar um equilíbrio e perceber o que necessitamos para ficar onde
queremos estar. Ainda hoje ando com um diário de comida na minha mala! Esta é a realidade. É o resto da
minha vida. Quero sentir-me feliz e saudável todos os dias para o resto da minha vida e a única forma de
controlar isso é continuar a fazer o que faço.

TUDO EM FAMÍLIA

No ano que passou desde que venci o The Biggest Loser, a relação com a minha mãe tem sido a melhor de
sempre. Está mais saudável e existe menos tensão. Ambas somos pessoas mais felizes, o que torna tudo mais
fácil. Isso não significa que não haja altos e baixos. Mas aprendi a pedir o apoio dela. E sei como sair dos
difíceis conflitos mãe-filha muito mais rapidamente do que antes, quando as nossas discussões se arrastavam
às vezes durante semanas.

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ADORO SER ATIVA

Por estes dias, passo cerca de duas horas no ginásio no mínimo cinco dias por semana. Tento habitualmente
fazer seis dias por semana, sempre com um dia de folga. Trabalho com um treinador três dias por semana,
mas faço pesos e máquinas de resistência cinco dias por semana. Para fazer cárdio, gosto do stairclimber. É
uma boa maneira de suar bastante. Assim que fico coberta de suor, sei que o meu trabalho está feito.

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A minha mãe continua a trabalhar no objetivo da perda de peso, mas teve de submeter-se a cirurgias a um
joelho e às duas mãos, pelo que tem evitado o ginásio. O desafio dela é encontrar formas de fazer exercício
que não afetem as lesões que tem. É capaz de nadar e treinar numa bicicleta reclinada, por exemplo, mas,
mentalmente, é um desafio voltar a encarrilar. Ocasionalmente consegue mas às vezes acho que ela considera
a mera hipótese de fazer exercício com um corpo lesionado demasiado assustadora. No entanto, mesmo
perante todos estes desafios, conseguiu manter o peso que perdeu no rancho e perder ainda mais! Orgulho-
me dela todos os dias.
Sinto que quando perdi aquele peso todo e venci o The Biggest Loser, os nossos papéis alteraram-se um
pouco. Era sempre a minha mãe a receber toda a atenção; ela gosta de ser o centro das atenções. Agora,
quando estamos juntas em público, se eu sou reconhecida e ela não, faz questão de lembrar rapidamente às
pessoas quem ela é. Por outro lado, se saímos juntas e nenhuma de nós é reconhecida, ela é célere a dizer a
toda a gente quem eu sou!
Tal como muitas outras mulheres, a minha mãe tem a tendência de minimizar-se, dizendo “não sou nenhuma
Buba” no que diz respeito ao seu progresso na perda de peso. É nessas alturas que tenho de dizer: “Mãe,
porque é que estás sempre a comparar-te comigo? É preciso andar com uma fotografia tua para te fazer
lembrar constantemente do teu êxito?” Tento que ela recorde e reconheça as coisas magníficas que já obteve.
A verdadeira recompensa será, um dia, vê-la reconhecer isso e dar uma palmadinha nas suas próprias costas.
Ver a filha e a neta ficarem em forma serviu de inspiração à minha avó para se tornar mais ativa. Começou a
ir à caixa do correio todos os dias e mexe-se cada vez melhor. Começou a pensar na sua saúde de maneira
diferente. Arranjou até um Bodybugg! (Talvez deva decorá-lo com cristais cor-de-rosa, como fiz com o meu!)

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TRABALHAR COM LESÕES

Por vezes, deixamos que as lesões nos façam fugir do exercício físico. Mas há sempre alguma coisa que se
pode fazer se tivermos vontade de a procurar. Encontre maneiras de manter-se ativa. Quanto mais tempo ficar
parada mais difícil será cruzar outra vez a porta do ginásio.

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É agradável sentir que estou a contribuir para o bem da minha família como nunca o fiz antes, desde fazer
caminhadas e passeios de bicicleta até cozinhar um jantar saudável e ficar à mesa a conversar, sem repetir a
comida duas e três vezes. Já não estou fechada e afastada das pessoas que amo, porque já não tenho
vergonha das escolhas que fiz.

UMA CONVERSA COM ALEXIS

Quando competia no The Biggest Loser e ficou claro que tinha hipóteses de ganhar, Jillian e eu traçámos a
estratégia em relação ao valor que a balança devia acusar para eu lá chegar. Desde que fosse saudável para a
minha estatura, eu não tinha problemas com isso. Sabia que tinha de esforçar-me bastante para chegar a esse
valor. Teria de treinar intensivamente, como um atleta. E esse esforço seria avaliado todas as semanas
quando subisse para a balança. Estava tudo bem para mim. Mas por saber que as minhas sobrinhas e o meu
sobrinho estariam a ver, queria que eles compreendessem o que o sucesso realmente significava para mim.
Sim, queria ganhar, estava a competir para ganhar. Mas a parte mais importante do processo era recuperar a
minha vida e ficar mais saudável e forte, mais confiante e enérgica. Queria que eles compreendessem que não
se tratava apenas de um número numa balança.
O meu peso era um assunto normal de conversa na minha família, pelo que senti que seria especialmente
importante falar com a minha sobrinha de 13 anos, Alexis, acerca da imagem corporal e da perda de peso.
Queria assegurar-me de que ela compreendia o que significava realmente o processo pelo qual eu estava a
passar. Eu fora sempre a tia com excesso de peso e agora já não era. Alexis estava mesmo a ser alvo das
brincadeiras do irmão mais novo, McCoy, daquela maneira que os irmãos fazem uns com os outros, dizendo
que qualquer dia eu pesava menos do que ela. Quando ouvi isto, soube que tinha de falar com ela. Queria que
ela soubesse três coisas: primeiro, era impossível que eu alguma vez pesasse o mesmo que ela, para não falar
de menos ainda! Segundo, quando deixei o rancho para treinar para a final, era já saudável – só estava a
perder mais peso e a treinar como um atleta para vencer a competição. Terceiro, fosse qual fosse o número
que a balança acusasse na final, ela tinha de saber que eu já ganhara, porque recuperara a minha vida! As
crianças são extremamente observadoras e apanham grande parte do que acontece à sua volta, pelo que a
nossa função é assegurar que elas compreendem corretamente a informação a que são expostas.
A minha sobrinha mais velha, Alex (a irmã mais velha de McCoy e Alexis) é uma atleta de eleição e a sua
equipa de futebol conquistou o título nacional na sua divisão. Quando cheguei a casa após ser eliminada do
rancho, Alex estava no Arizona por causa do futebol e decidiu que ia treinar comigo, pelo que acabámos a
fazer corridas na passadeira. Ela mal podia acreditar. Aqui estava a tia que costumava andar sempre à procura
de uma cadeira para se sentar a correr lado a lado com ela! Eu costumava ser a tia com as malas e a
maquilhagem cheias de estilo, mas agora sou também a tia com jeans de marca justos. Soube tão bem ser a
nova tia Ali, confiante e orgulhosa de si própria, e que era capaz de se relacionar com a jovem saudável que é
Alex de uma maneira completamente nova. Alex e as suas amigas começaram até a pedir-me roupa
emprestada!
É muito importante para mim reconhecer o papel da minha família durante a minha perda de peso – a família
que evitei ao longo de tantos anos. Toda a gente contribuiu com a sua parte, numa altura ou noutra, para me
apoiar, desde a minha mãe ir comigo para o concurso, as minhas irmãs darem toda a ajuda possível, o amor
da minha avó, os exercícios combinados com o meu irmão, os passeios de bicicleta com as minhas sobrinhas,
sobrinhos e madrasta – até o meu pai foi comigo a uma aula de bicicleta! Toda a gente fez escolhas para
apoiar as minhas escolhas. E nunca deixarei de sentir todo esse amor e de me sentir inspirada por ele.
E apaixonei-me! Antes, punha as relações à prova demasiado cedo, em pânico com a hipótese de não ser
realmente amada – precisava sempre de me sentir segura logo desde o início. Queria sempre descobrir
rapidamente se a relação ia ser “para sempre”, o que não é uma boa maneira de deixar o amor crescer. Mas
agora conheci uma pessoa maravilhosa, que apenas quer que eu seja feliz, que eu faça o que me deixar feliz.
Costumava pensar que tinha de merecer o amor. Agora, posso ser apenas quem sou. E não preciso de estar
sempre a verificar. Já não tenho medo de ser abandonada. Sentir-me confortável comigo própria, encontrar o
equilíbrio, tomar conta de mim – é a libertação no sentido mais verdadeiro.
10

Acredito, Logo Sou Capaz

H oje sinto-me bela, sinto-me forte, sinto-me confiante. A beleza tem que ver com o facto de nos sentirmos
bem, irmos atrás do que queremos e acreditarmos em nós. É isso que a fará apaixonar-se de novo pela sua
vida. Posso fazer, ser e ter tudo o que quero na vida. E você também.

ACREDITE EM SI NOVAMENTE OU PELA PRIMEIRA VEZ NA SUA VIDA

Se quer fazer grandes e duradouras mudanças, principalmente na perspetiva da perda de peso, a primeira
pessoa que necessita de recrutar é você. Quando nos sentimos encalhadas, a não viver as vidas que éramos
suposto viver, a não sentir o amor, a felicidade e a ligação que todas merecemos sentir, isso quer
habitualmente dizer que perdemos a fé em nós próprias.
Durante aqueles dias negros quando tinha excesso de peso e era infeliz, estava sempre inquieta. Estava
sempre à espera de que alguém me atacasse, criticasse ou julgasse. Percebi depois que quem me julgava era
eu. Era eu que me escondia numa caixa. A parte libertadora da minha viagem foi perceber que se eu era
capaz de me encerrar, tinha também o poder de sair. Tinha a chave daquela caixa.
Em conclusão, eu tinha de aceitar-me. Tinha de gostar de mim. Tinha de saber que era merecedora de ter o
que queria na vida. Era apenas uma questão de saber que merecia o que queria para mim. Era eu que estava
a excluir-me da minha família porque não aparecia, não falava, não partilhava. As minhas relações não tinham
grande profundidade porque não me sentia capaz de ser honesta, de expor quem eu realmente era.
Parte do problema era não sentir orgulho em mim própria. Não estava orgulhosa do facto de que nada
estava a fazer para contribuir para a minha família ou para a minha comunidade. Apenas existia. É difícil
admitir para nós próprias ou para quem quer que seja que não gostamos de nós. Mas no processo de perder e
deixar ir o meu peso – a minha proteção em relação ao mundo – eu necessitava de dizer a verdade. Olhei
para o meu passado e para o meu presente e reconheci as alturas na vida em que senti realmente orgulho e
as alturas em que não o senti. Era o que tinha de fazer para inverter a situação. Tinha de ser mais ativa na
minha comunidade. Tinha de voltar a telefonar aos meus amigos, estar disposta a enfrentar novas pessoas e
participar em conversas. Tinha de ser visível, como toda a gente.
Aprender a gostar de si não é fácil. De início, pode não se sentir capaz, mas tem de tentar. Alimente o corpo
com comida saudável, ar puro, exercício e descanso suficiente. Siga o seu programa para uma vida saudável e
aprenda o que é necessário. E comece a estar presente na sua vida. Tem tanto para oferecer. Muito
rapidamente ficará cada vez mais proactiva em relação ao seu destino, porque terá a energia e a confiança
para tornar os seus sonhos realidade.

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MASSA MUSCULAR

Como mulheres, hesitamos em trabalhar o corpo porque não queremos parecer grandes e corpulentas. Mas
ganhar força é importante. Para poder perder toda a gordura que precisava tive de ganhar massa muscular,
que consome gordura a um ritmo mais elevado. Não ficará corpulenta, principalmente se fizer cárdio. Eu sei
que o meu corpo tem, geneticamente, tendência para crescer mas faço muito cárdio para o contrariar.
Lembra-se de quando o meu objetivo era usar camisolas sem mangas? Já me viu com outra coisa vestida
desde o The Biggest Loser?

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APROFUNDE

Quando conheço pessoas e elas me perguntam como perdi eu peso e como podem elas perder peso, digo-lhes
primeiro que precisam de perceber em que lugar estão neste momento – fisicamente, emocionalmente,
mentalmente e espiritualmente. E têm de ser honestas.
Estive na televisão nacional e fui ao fundo das questões mais difíceis e pessoais que posso imaginar: “Porque
como demasiado? Porque me castigo a mim própria? Porque sou infeliz?” A resposta às três perguntas,
descobri, era a mesma: porque não estava disposta a olhar para a minha vida e lidar com ela. Não era capaz
de admitir que não tinha quaisquer objetivos para o futuro. Não era capaz de admitir que não tinha um
relacionamento e o que realmente queria era amar e ser amada. Não era capaz de admitir que a minha
carreira estagnara porque não tinha a confiança para a levar para o nível seguinte.
Assim que compreender onde tem estado, será capaz de perceber para onde quer ir. Comece por imaginar
como é que quer que o seu futuro seja – e não estou a falar depois de perder peso. Ou seja, que tipo de
relacionamentos irá criar? Como contribuirá para a sua comunidade? Como continuará a desafiar-se
fisicamente? E no trabalho? Precisa de saber onde está e o que quer antes de poder criar um futuro produtivo
e feliz.
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A MINHA LISTA DE COISAS PARA FAZER

Não há melhores ferramentas de responsabilização do que papel e caneta. Quando chegámos ao rancho,
Jillian pediu-nos para fazermos duas listas. A primeira era em resposta à pergunta “Porque estás aqui? O que
te levou a este ponto?” A segunda era “O que queres da vida?”
Eis o que escrevi. Conservei estas listas durante muito tempo após estas tarefas no rancho e ainda recorro a
elas para me lembrar de onde vim e para onde vou. Considero-as úteis e recomendo que faça o mesmo.

PORQUE ESTOU AQUI

Sempre me senti só.


Proteção.
Quando me sinto só, como para tentar preencher o vazio interior.
É o meu abrigo.
A minha desculpa.
Tudo parece “certo”.
É a minha segurança.
Desisti do jogo. Gostem de mim como sou ou não gostem de mim. (Vou mostrar-lhes como é perder peso.)
Achava ter encontrado a pessoa com quem partilharia a minha vida. No espaço de um ano o meu avô morreu
(a minha rede de segurança); a minha relação acabou (e desisti de uma carreira em São Francisco, ao planear
mudar-me para a Indonésia para estar com esta pessoa): o meu cão de 10 anos morreu. Voltei a ganhar o
peso que perdera, e mais 27 quilos.

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O QUE QUERO

Ser feliz
Ter uma relação apaixonada e duradoura
Ter um filho
Ter sucesso na minha carreira
Viajar pelo mundo
Ser saudável
Ter uma vida longa
Ser um exemplo
Dançar
Aprender a cantar
Não ter dívidas
Ter um guarda-roupa na moda
Ter alegria constante
Confiar
Abraçar a paz e a espiritualidade
Ser aceite
Ter boa postura
Gostar de correr
Fazer um triatlo
Criar uma criança saudável
Aceitar e confiar no amor
Dar à minha comunidade
Tirar tempo para apreciar as artes
Amar

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Quando tinha excesso de peso e era infeliz, pensava em ser mais pequena, pensava em caber em vários
tipos de roupa e sentir-me confortável em qualquer ambiente ou situação social. Mas nada fazia acerca disso.
Vitimizava-me por não planear, por não estabelecer os passos para atingir os meus objetivos. Não se limite a
querer alguma coisa. Planeie conscientemente onde quer chegar.

NUNCA DEIXE DE ENFRENTAR OS SEUS MEDOS

Como concorrentes do The Biggest Loser, os nossos medos eram constantemente postos à prova, semana
após semana, através dos desafios físicos que enfrentávamos. Mas não é necessário aparecer na televisão
para deixar que a vida a assuste. O importante é não deixar que isso a detenha. Deixar que o medo vença irá
impedi-la de ter tudo o que sempre quis. Há um poder tremendo em reconhecer o medo de alguma coisa e
mesmo assim ir em frente. “Faça-o assustado”, como diz o velho ditado.
Alguma vez viu aquelas T-shirts que dizem “SEM MEDO”? Bem, a minha mãe costumava dizer que devia ser
“CONHECE O MEDO”4, porque é isso que faz que os sonhos se realizem. Quando tem a coragem de dizer a
verdade acerca do que tem realmente medo, este medo deixa de ter controlo sobre a sua vida.
Nunca tinha medo de trabalhar no duro no ginásio e gastar o tempo que fosse preciso para preparar e
contabilizar as minhas calorias ou de ter de recusar determinados convites que não se ajustavam ao meu
esforço para perder peso. Mas tinha medo de atingir o meu objetivo em relação ao peso e que todas as coisas
que queria na minha vida ainda assim não acontecessem, o que significaria que existia algo de errado comigo,
que nunca iria ter o que queria. O meu peso, que me protegera durante tanto tempo, deixaria de ser uma
desculpa.

CRIE O SEU PRÓPRIO DESTINO

Fico de coração partido quando ouço as pessoas dizerem: “Tentei ser escolhida para o The Biggest Loser
quatro temporadas de seguida e vou tentar outra vez.” Se é demasiado grande para tentar ir para o The
Biggest Loser é porque sabe que não tem apenas um problema de peso, mas sim um problema de saúde. Se
está à espera naquela fila, é porque reconhece que chegou a altura de fazer mudanças na sua vida, tenha ou
não a sorte de ser escolhida para o concurso. No minuto em que fui para a fila com a minha mãe, soube que
não havia volta a dar. Fosse como fosse, tinha de encontrar maneira de mudar e perder peso. Estava
simplesmente a tentar descobrir o caminho certo para me ajudar a fazê-lo. Se o The Biggest Loser não fosse
esse caminho, teria de encontrar outro.
Nove meses antes de ir para o rancho do The Biggest Loser, a minha mãe estava no hospital a fazer um
angiograma quando o seu coração parou subitamente de bater. Os médicos ressuscitaram-na e ela sobreviveu
ligada às máquinas durante as 48 horas seguintes. Quando acordou, à boa maneira de Bette-Sue, achou que
estava tudo bem. Mas Amber e eu ficámos profundamente abaladas. Pensávamos que tínhamos perdido a
nossa mãe. Sabíamos que era altura de ficar saudáveis – não tínhamos escolha.
É a sua vida e a sua saúde que estão em jogo. Não espere pela decisão de um diretor de casting para
determinar o seu destino. Utilize a paixão que tem pelo concurso como motivação e inspiração – não como
uma desculpa para adiar as mudanças que precisa de fazer.
Às vezes as pessoas dizem: “Eu também perdia peso se pudesse ir para o rancho do The Biggest Loser.” É
verdade que é mais fácil manter um programa quando estamos constantemente a ser monitorizados e não
temos de lidar com as distrações diárias do ambiente familiar. Mas mesmo como concorrentes no rancho, só
somos observados até certo ponto. Se não consegue manter-se fiel aos seus objetivos quando ninguém está a
olhar, então nunca será bem sucedida a longo prazo. Nos dias em que visito o rancho quero agarrar todos os
concorrentes e assegurar-lhes de que vai tudo correr bem – a competição, as alianças, as eliminações – e que
nada disso é importante. Quer fiquem no rancho quer vão para casa, o mais importante é encontrar um
caminho que possibilite mudanças duradouras. Para os concorrentes de The Biggest Loser, o tempo no rancho
é especial mas, olhando para o quadro global, é apenas um momento fugaz nas nossas vidas. Estar no
concurso é um privilégio e uma bênção mas não garante sucesso a longo prazo. Isso é uma coisa que terá de
criar. The Biggest Loser fornece-lhe as ferramentas mas cada pessoa tem de escolher utilizá-las todos os dias
para criar o sucesso a longo prazo.

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PETISCAR DEPOIS DO JANTAR

Se tem o problema de petiscar depois do jantar, o melhor conselho que posso dar é que reconheça qual é o
seu padrão. Se sabe que vai pensar em comida depois do jantar, assegure-se então de que esse petisco para
depois do jantar faz parte do seu orçamento. Não importa quando come os seus snacks desde que estejam
incluídos no seu lote diário de calorias.

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PERDOE-SE A SI PRÓPRIA

Não sou perfeita. Toda a gente tem deslizes, em especial com orçamentos de calorias. Estamos habituadas a
procurar conforto na comida, pelo que, por vezes, damos por nós a ir buscar uma bolacha ou a agarrar uma
fatia de piza que não incluímos no orçamento. Não pense nisso no dia seguinte. Acorde na manhã seguinte, vá
para o ginásio e ponha isso para trás das costas. A recriminação apenas a levará de volta para aquele velho
lugar onde costumava estar sempre. De modo a evitar a tentação, é boa ideia escrever tudo o que come. Eu
ainda o faço. Mantenha-se consciente das suas escolhas e da razão pela qual está a fazê-las. Não tente fingir
que a balança não irá acusá-las. Limite-se a compreender os resultados para que possa fazer melhores
escolhas da próxima vez.
O mais importante é lembrar-se de que isto é um processo; não tem que ver com perfeição. A saúde e a
felicidade têm que ver com viver o momento, reconhecer antigos padrões e estar consciente deles. Tenho de
trabalhar todos os dias para manter as escolhas certas. A diferença é que, agora, não permito que um deslize
arruíne um dia inteiro, ou uma semana, ou um mês. Mantenha-se simplesmente consciente. Fale com amigos.
Faça um diário. Encontre apoio online. Não enterre os seus sentimentos.
Por vezes será atingida, inesperadamente, por sentimentos de inadequação, de não ser apreciada, de não
ser merecedora. Será que mereço? Está a brincar comigo? Claro que merece! Esses sentimentos são velhos, é
como se sentia no passado. Mas agora é capaz de os reconhecer e de fazer escolhas diferentes para lidar com
eles. E comer nada resolve. Tente fazer escolhas diferentes. Meta-se no carro e vá até ao ginásio, mesmo que
não passe do parque de estacionamento. OK, agora está no parque de estacionamento. Porque é que não
entra só por 15 minutos? Pode sentar-se durante algum tempo no vestiário, se quiser. A seguir, talvez vá até à
passadeira durante alguns minutos. Deixará para trás os velhos e maus sentimentos. Reconheça-os, aceite-os
e vá sempre em frente, centímetro a centímetro.
Ser resistente não é ser proativa. Tenho de escolher o meu estilo de vida saudável todos os dias. Há dias em
que é um momento de cada vez. Consigo parar, derrubar os obstáculos e perceber quais os passos para
suplantá-los. Divida os desafios em pequenos passos, como faria com qualquer outro obstáculo na sua vida.
Regresso de uma viagem e de trabalhar dias a fio e vejo que a minha casa está um desastre? Muito bem, vou
começar por desfazer as malas. A seguir, trato da roupa suja. Começo a sentir-me menos esmagada e posso
escolher sentir-me bem no momento seguinte. E no seguinte. Quando se sente feliz consigo própria, é capaz
de fazer escolhas mais saudáveis e produtivas.

ABRACE A GRANDEZA INTERIOR

A cada temporada de The Biggest Loser, vejo os concorrentes a passar de um lugar de medo, dor e
inferioridade para outro de confiança, alegria e generosidade no seu novo eu. Mas a verdade é que a
possibilidade de grandeza esteve sempre no interior de cada um deles.
Tiveram apenas de tomar a decisão de a deixar vir ao de cima. É por isso que no final de cada temporada é
sempre uma felicidade ver os concorrentes perceberem que a grandeza interior saiu cá para fora e brilhou
para que todo o mundo visse. Quem se esquecerá de ver Helen Phillips correr aquele último 42.º quilómetro
no desafio final da temporada e gritar para toda a gente na praia quando se aproximava da meta: “Olhem
para mim! Sou uma maratonista!” Eu estava estacionada no quilómetro 20 para encorajar os quatro
concorrentes finais – Helen, Tara Costa, Ron Morelli e Mike Morelli – para o fantástico desafio final, aqueles 42
quilómetros. Enquanto ali esperava de pé, pensava que não só eles estavam a correr uma maratona como
estavam também a correr uma maratona com colinas! “Bolas”, pensei, como uma rapariga do Arizona, “nem
sequer tiveram direito a correr uma maratona plana.”
Tara foi a primeira a chegar, e estava tão concentrada no seu ritmo que nem consegui pará-la para a poder
abraçar! Corremos lado a lado durante cerca de quilómetro e meio e disse-lhe o quanto estava orgulhosa dela.
Ela estava no bom caminho para fazer esta maratona em menos de cinco horas. Corri então de volta para o
quilómetro 20 e vi que Helen se aproximava, exultante. “Estou a conseguir!”, disse. Depois veio Mike, a andar
por causa de uma lesão na anca mas nem assim a desistir. Horas depois, chegou o pai dele, Ron, magoado
nos joelhos, nos ombros e com uma bengala. Outros antigos concorrentes, incluindo Bernie Salazar, Jim
Germanakos, Heba Salama e Michelle Aguilar, juntaram-se a mim para acompanhar Ron nos quilómetros que
faltavam. Eu sabia que Ron estava em grandes dificuldades, mas sabia também que ele não iria parar.

••••••••••••••••••
APRECIE OS OUTROS

Agora que estou em forma, gosto de olhar para as pessoas – admirar os seus braços ou o corpo tonificado.
Não se trata de fazer julgamentos. É só que quando eu tinha excesso de peso era tão infeliz com o meu corpo
que, basicamente, nunca olhava para mais ninguém. Esteja consciente não só de si própria mas também da
presença dos outros. É uma maneira de manter-se consciente e ligar-se a eles.

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É um prazer tão grande ver os outros antigos concorrentes de The Biggest Loser a viver as vidas que sempre
quiseram depois de fazerem parte do programa. Dan Evans anda por aí a cantar, em digressão, a ganhar
nome no mundo da música. Curtis e Mallory Bray são agora personal trainers, dando um grande exemplo para
as suas jovens filhas. Mark Kruger é agora um instrutor de bicicleta aos fins-de-semana e, apesar de brincarem
com ele por causa de toda a emoção que escorreu dele no rancho, está mais próximo do que nunca dos seus
filhos e família. Já não guarda os sentimentos para si. Bernie Salazar correu recentemente a Maratona de
Chicago e está a trabalhar num livro para crianças. Não podemos evitar a mudança que esta experiência nos
traz.
No rancho, comecei a viagem da minha vida, a maior coisa que alguma vez fizera. E não começou com os
exercícios ou a comida mas com o abraçar da crença de que existia algo grande dentro de mim. Existiu
sempre uma chama interior que eu fui deixando diminuir ao longo dos anos por entre camadas de gordura.
Mas nunca se apagou. Quando estava na passadeira, no rancho, comecei a atiçar essa chama e ela cresceu,
tal como a minha família e amigos a atiçaram também com o seu apoio. E essa chama pegou fogo! Nunca
mais quero viver com a minha chama a apagar-se.
Aprendi que quando perguntaram a Miguel Ângelo como é que ele era capaz de esculpir algo tão belo como a
figura de David a partir da pedra, ele terá dito que estudou a laje em bruto até conseguir ver a figura e
limitou-se a retirar o excesso até David aparecer. É assim que eu quero que toda a gente se sinta. Quero que
vejam as suas possibilidades interiores. Quero que encontrem o seu David.

••••••••••••••••••
APRENDER A ESCOLHER

Você sabe como foi difícil para mim chegar àquela final. Conhece as minhas batalhas. Ficou tudo mais fácil?
Nem sempre. Trata-se de fazer as escolhas certas repetidamente. O que ficou mais fácil é que agora consigo
fazer as escolhas certas um pouco mais depressa do que antes. Mas tenho de lembrar-me de que, durante
trinta dias, comi de determinada maneira. Tenho de lembrar-me todos os dias de fazer a coisa acertada pelo
meu corpo e pela minha saúde. E isto é para o resto da minha vida.

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TENHA NOÇÃO DA SUA FORÇA FÍSICA E RESISTÊNCIA

Os desafios físicos são também desafios mentais. No rancho, os concorrentes descobrem constantemente que
podem chegar mais longe do que pensavam, que as suas limitações são muitas vezes autoimpostas. Por
vezes, senti-me desgastada, mental e fisicamente, mas isso era algo que sabia poder superar. E agora, saber
que fui capaz de aguentar serve-me como inspiração quando preciso de forças.
Continuo a tentar fazer coisas que excedam os meus limites. A Camelback Mountain, em Phoenix, é uma das
maiores montanhas da região onde vivo. Durante anos, ouvi toda a gente comentar como era duro subi-la.
Tinha medo de a subir. Não sabia verdadeiramente o que isso significava, o que isso exigia.
Mas, depois de The Biggest Loser, pensei: “O que é que me impede? Vamos a isto.” Guiei até à montanha
com alguns amigos e tivemos de esperar na fila para estacionar – o parque de estacionamento estava
engarrafado. Tinha ali uma boa desculpa. Estava pronta para desistir e voltar para casa.
Mas não o fiz. Esperámos na fila, estacionámos e depois coloquei literalmente um pé à frente do outro e
comecei a subir aquela montanha. No fim de contas, havia montes de pessoas diferentes a fazê-lo, de todas
as formas e tamanhos e idades. Algumas corriam e outras não. Era um desafio mas eu conseguia superá-lo.
Senti-me bem. Todo aquele medo era por nada.
Passa-se a mesma coisa com o emagrecimento. Quando se pensa em perder 45 quilos, parece que se tem de
trepar a Camelback Mountain. “Não é possível”, pensa uma pessoa para si própria. Mas consegue-se fazê-lo,
basta acalmar-se e dar um passo de cada vez.
Quando parei no alto daquela montanha, senti o poder de a ter escalado. Era algo que tinha negado a mim
própria no passado, porque pensava que era impossível; senti medo de tentar. Deixara que o medo das
minhas capacidades me impedisse sequer de tentar.
Vi recentemente um documentário sobre o Triatlo do Homem de Ferro, que consiste em nadar 3800 metros,
pedalar 90 quilómetros numa bicicleta e correr uma maratona completa (42,195 km) – por esta ordem e sem
pausas! Francamente, observar os concorrentes nesse triatlo refletia bem a forma como me senti a competir
em The Biggest Loser. Tal como esses atletas, escolhi competir em condições extremamente duras. E isso
compensou, e de que maneira, a minha alma e o meu espírito. Descubra algo que lhe dê uma experiência
semelhante. Algo de que tenha medo. Deixe a hipótese de conseguir uma proeza crescer dentro de si.

RECOLHA PROVAS PARA O SUCESSO


Andar por aí às voltas com excesso de peso pode, de facto, tornar-se um filtro negativo para a sua forma de
pensar. E, tal como os dominós, esses pensamentos negativos podem levar a consequências negativas. Você
deve dar meia volta a esse padrão antes que o mesmo domine por completo a sua perspetiva.
Quando fui para casa com a minha mãe no final da quarta semana, podia ter pensado: “Para quê esforçar-
me? Nunca irei conseguir vencer The Biggest Loser”, e atirado a toalha ao chão. Não fazia ideia de que teria
uma segunda oportunidade. Mas quando voltei a casa, decidi que seria a vencedora oficiosa do concurso The
Biggest Loser, mesmo que não fosse eu a ganhar o grande prémio. Continuaria a trabalhar no duro e
regressaria para a final com a maior percentagem de peso perdido entre todos. Não fazia ideia de que teria
oportunidade de voltar ao rancho e concorrer pelo grande título. Abordar as semanas seguintes dessa forma
significou dizer que quando recebi a chamada para regressar ao rancho estava de facto em posição de ganhar
um lugar de volta no rancho e de me tornar a vencedora do concurso The Biggest Loser.
Mas o que importa reter é que eu iria ser bem-sucedida, chegasse esse telefonema ou não. Por isso, deixe de
ver os obstáculos que enfrenta como a razão que a impede de fazer algo. Veja-os como a razão pela qual
consegue. E celebre as suas proezas numa base diária. Eu celebrei todos os quilos que perdi. Uma vez que me
torturei por os ter ganho, tinha de me sentir bem quando os perdia!
Há muitas formas engraçadas de construir o hábito de juntar as provas do sucesso. Lembra-se de que eu e a
minha mãe ficámos na fila para o casting do programa no 11.º dia do mês e éramos o 11.º par na fila?
Decidimos ver nisso um bom sinal! A nossa temporada foi a primeira que teve equipas e nós fomos a primeira
equipa mãe-filha. Sim! A nossa cor era o rosa, a cor frequentemente associada às mulheres fortes que são
lutadoras. Ficámos com ela! Comecei a reparar no rosa por todo o lado... rosa nas montras das lojas quando
estava em casa, rosa nas flores e rosa no céu. Quando estava no ginásio a treinar para a final, até reparei em
senhoras usando calções de ginástica da Victoria’s Secret com “Equipa Rosa” escrito nos seus traseiros. Cada
vez que as via, sentia que estavam a lutar por mim e pelo meu êxito. Juntei provas de que seria a primeira
mulher a vencer The Biggest Loser e fi-lo acontecer. Teve alguma importância usar uma camisola rosa? Não.
Terá o rosa um poder inerente? Não. Mas se digo que o rosa tem poder, se acreditar nisso, então tem mesmo!
No final do dia, é apenas uma T-shirt. Mas a minha crença tornou-a em muito mais do que isso.

COMUNIQUE AS SUAS NECESSIDADES

Quando tinha excesso de peso, pensava que a minha família me julgava. Tentavam ajudar-me com a minha
dieta e exercício e eu sabia que queriam apoiar-me, mas soava-me a um julgamento. Sentia que eles eram a
polícia da comida, o que me fez querer afastar-me deles. Essa foi uma das coisas mais difíceis quando
regressei a casa: precisava de arranjar uma forma de comunicar a forma como precisava de ser apoiada.
Às vezes, quando se está a passar por uma grande mudança na vida, é preciso sentarmo-nos com aqueles
que amamos e ter umas conversas duras. A verdade é que a maior parte das vezes eles apenas querem
apoiar-nos mas provavelmente não sabem qual a melhor forma de o fazer – por isso, é preciso dizer-lhes. Uma
pessoa quer poder viver a sua vida junto daqueles que ama. No meu caso, precisava de ser honesta e dizer:
“Quero a vossa ajuda, preciso da vossa ajuda – mas não quero que me policiem. Quero que estejam
disponíveis para mim sem tentarem controlar-me. Quero que me oiçam sem terem todas as respostas ou
dizerem-me o que está certo ou errado. Oiçam apenas.”
Uma vez, uma mulher com quem estava a falar disse-me que se sentia como se o seu marido estivesse
sempre a ver o que ela comia. Esta é uma situação normal para as pessoas com excesso de peso – sentirem-
se julgadas por aqueles que estão à sua volta quando comem. Quando uma pessoa se sente escrutinada
dessa forma, começa a petiscar às escondidas. Come-se em segredo para evitar os olhares alheios. Não se
está à vontade, o que é desagradável e errado. O ato de comer serve para nutrir o corpo – não deve ser
sentido assim.
Digamos que alguém no vosso grupo de apoio vos apanha a comer às escondidas e sabe que você acabou de
almoçar. Em vez de dizer “Tens a certeza de que queres comer isso?” ou “Não pensas que é de mais?
Acabaste de comer...”, peça-lhe para a tentar distrair em vez de a controlar. Elas podem dizer “Vamos às
compras” ou “Vamos até ao cinema”. Ofereça uma alternativa em vez de dizer algo que pareça uma acusação.
Há tantas relações estragadas entre as pessoas que lutam contra o seu peso e tudo por causa de não serem
capazes de explicar as ações que serão vistas como um apoio.

RETRIBUA E AJUDE OS OUTROS A ENCONTRAR OS SEUS SONHOS

Acredito profundamente no poder da comunidade, em espalhar as boas energias que obtemos por cumprir os
nossos objetivos, em nos tornarmos pessoas melhores e ajudarmos os outros a fazer o mesmo. Adoro partilhar
com os outros e estou sempre a fazê-lo. Nos aeroportos, ao passear na rua, as pessoas detêm-me e falamos.
Adoro ligar-me às pessoas. Quero ter um mundo inteiro de amigas.

••••••••••••••••••
ESCUTE O SEU CORPO

Se houver um dia em que acorde e esteja realmente cansada, faço um check-in a mim própria. O que é que se
passa aqui? Estou stressada ou perturbada por alguma coisa? Preciso de fazer uma pausa? Talvez precise
apenas de um dia de folga. Se for esse o caso, descanso. Mas se continuar a acontecer dia após dia, algo se
passa na minha vida e tenho de estar atenta a isso. Tenho de perceber o que é que não está a funcionar.

••••••••••••••••••
Há tantas formas de retribuir. Para mim, é encontrar-me e falar com gente de todo o país e trabalhar na
minha Fundação Acredito, Logo Sou Capaz. Quando somos capazes de atingir os nossos próprios objetivos,
temos o poder de ajudar as outras pessoas a perceber quais são os seus sonhos, mostrar-lhes que passos
devem dar. E penso que é assim que nos mantemos vivos e, num momento, conscientes. Esse é o epítome de
saúde – abertura e ligação. Talvez exista um projeto de ajuda na sua comunidade e você queira fazer parte
dele – uma recolha de brinquedos, uma angariação de fundos para a escola, uma limpeza na vizinhança, o que
quer que seja. Se é um projeto com uma natureza positiva, então ajuda a criar uma comunidade saudável.
Durante dez anos, senti que não tinha feito diferença na vida de ninguém; estava a refrear-me. Os meus
sorrisos não eram sinceros. Vivia abaixo daquilo que sabia querer viver. Sentia-me mal comigo e retirei-me da
vida. Não era uma depressão constante mas havia muitos períodos baixos. De muitas formas, estava a
conformar-me. Tinha pavor de ser rejeitada. Nem sequer sabia o que era capaz de fazer.

FALE CONSIGO!

De cada vez que faço exercício, tenho uma conversa comigo. Porquê? Porque não faço coisas com as quais me
sinto confortável. Se estou confortável, então não está a resultar e não as classifico como exercício. Se estou
só a dar um passeio, então tudo bem. É atividade e faz bem. Mas para me esforçar, vou correr. E não
interessa que corrida é, normalmente quero desistir a meio. É, para mim, uma coisa mental e tenho de dizer:
“OK, Ali, tu não queres realmente desistir. Só queres desistir porque estás a sentir-te desconfortável.”
Tenho um corpo fisicamente forte que trabalhei e que vai resistir e está preparado para um nível exigente.
Mas todos os dias, quando faço exercício, dou de caras com os limites da minha mente. Por vezes, tenho de
me enganar. Se estou a correr e quero parar, digo apenas: “OK, corre só até àquela árvore, está a dez metros
de distância.” E quando dou por isso, estou a meio caminho da meta! E quando corro a distância a que me
propus, tenho o sentimento de dever cumprido. É assim que uma pessoa constrói confiança em si própria.
Faço o mesmo com a comida. Se dou por mim a petiscar descuidadamente, às vezes paro e penso: “Estou
realmente com fome ou apenas cansada?” Dou tanto de mim que de vez em quando tenho de relaxar e
pensar nos meus níveis de energia. Evito ter tentações na minha cozinha – protejo a minha casa dessa forma.
Mas não quero comer desalmadamente, mesmo comidas saudáveis como uvas ou amêndoas.
Frequentemente, apenas preciso de desligar a televisão e ir para a cama. Às vezes, só tenho de dizer a mim
própria que é hora de descansar.

DEIXE AS AMIZADES EVOLUÍREM

Quando se perde peso, por vezes os amigos podem sentir-se ameaçados ou desenquadrados. Você mudou a
equação da vossa amizade e algumas amigas podem querer que as coisas voltem a ser como eram. Talvez
costumassem ir comer piza juntas ou andar sempre nos copos. Você desempenhou um certo papel nas suas
vidas e, embora elas estejam entusiasmadas por si, podem também temer perder a relação que estavam
acostumadas a ter consigo.
Seja honesta com elas. Se a convidarem para uma ida até aos locais antigos onde você já não se sente
confortável, lugares onde se sinta tentada a comer de mais ou a ter atividades que não apoiem o seu estilo de
vida saudável, diga-lhes que gosta muito delas mas que não pode passar tempo com elas da forma que
costumavam fazer. Você ainda valoriza a sua amizade mas precisa igualmente de se manter fiel aos seus
objetivos. Sugira algo diferente, um sítio onde possam comer uma refeição saudável ou, melhor ainda, uma
atividade física que possam desfrutar juntas. Você pode mudar os padrões antigos e criar novos. E se a sua
amiga não deseja adaptar-se, é porque provavelmente essa é uma amizade que não foi feita para durar.
Lembre-se, você está a construir um mundo que funcione para si, que reflita as suas crenças e que alimente
o seu eu saudável – o seu melhor eu. Assegurar que este mundo e as suas relações refletem a sua nova vida
de decisões conscientes vai mantê-la no caminho certo para cumprir os seus objetivos.
4 [N. do T.: NO FEAR e KNOW FEAR, no original]
Pensamentos Finais

E nquanto reflito sobre tudo aquilo que partilhei neste livro, quero acrescentar alguns pensamentos
importantes.
Recentemente, após ter proferido um discurso na digressão, um homem abordou-me e perguntou: “Se você
transportava todo aquele peso como proteção, então o que é que está a protegê-la agora?” Considerei que
era uma pergunta justa e isso fez-me pensar.
Durante muitos anos, comer era a minha forma de lidar com as coisas. Tal como muitas pessoas, quando me
sentia magoada, confusa ou abandonada, encontrava consolo na comida. Comer era uma resposta emocional
aos meus problemas e tornou-se uma resposta habitual. Não sabia como comunicar e pedir aquilo que queria.
Aceitava simplesmente o que me aparecia no caminho. A comida fazia-me esquecer a sensação de vazio – ela
preenchia-me literalmente.
Obviamente, estes não eram pensamentos conscientes na altura. Aquilo que entendo agora é que as
decisões que tomava na altura acerca da minha vida eram baseadas naquilo que eu pensava que merecia. Em
muitos aspetos, era como se estivesse a observar o mundo e a reagir a ele segundo a perspetiva de uma
criança. Embora o peso estivesse a afetar o meu corpo e a minha vida de adulta, acho que é possível que os
meus problemas com a comida tivessem origem nas minhas reações a situações da infância – e da maneira
como as entendia enquanto criança. Era como se eu nunca tivesse crescido o suficiente nessa perspetiva.
Mas isso não alterava o facto de que a minha gordura era real e tornara-se um problema real com o qual eu
precisava de lidar. The Biggest Loser deu-me o presente de um ambiente seguro não apenas para alterar o
meu corpo e tornar-me saudável, mas também para refletir nas respostas emocionais e decisões que me
levaram a uma situação tão pouco saudável.
Portanto, acho que a resposta à pergunta daquele senhor é: eu já não preciso de ser protegida. Já não sou
uma criança. Conforme perdi o peso, ganhei maturidade. Enquanto adulta, consigo ver as situações e as ações
dos outros como aquilo que elas realmente são – e decidir honestamente se elas têm alguma coisa que ver
comigo. Não sou uma menina pequena que se sente mal consigo própria. Compreendo que não sou
responsável por todas as coisas desagradáveis que acontecem na vida. Não têm que ver comigo.
Para mim, e para muitas pessoas, a perda de peso é muito mais do que apenas queimar quilos. É também
uma jornada de crescimento e responsabilidade pessoal. Acredito verdadeiramente que todos nós temos a
capacidade de escolher como respondemos perante a vida. Temos apenas de estar dispostos a olhar de uma
forma exigente e honesta para nós próprios e acreditar que aquilo que queremos está ao nosso alcance.

BETTE-SUE

Dei à minha mãe uma cópia do livro quando este era ainda um manuscrito em bruto. Queria saber o que ela
pensava e queria que estivesse preparada para algumas das coisas que eu estava a partilhar sobre as nossas
vidas. Sei que lê-lo foi difícil para ela. Cada uma de nós precisou de criar alguma distância e acalmar antes de
nos conseguirmos sentar e falar sobre isso em conjunto.
Ao longo dos anos, tanto a minha mãe como eu criámos situações de que não nos orgulhamos. A nossa vida
nunca foi um cenário perfeito, mas, mais uma vez, não penso que isso seja a realidade para a maioria das
pessoas. A verdade é que somos as pessoas que somos como resultado de todas as coisas que nos
acontecem, boas e más. E, para mim, a minha relação mais importante e influente na vida é aquela que
partilho com a minha mãe.
A minha mãe era ela própria uma miúda quando me teve a mim e à Amber. Acredito sinceramente que a
minha mãe fez o melhor que pôde para nos criar e nunca magoou intencionalmente os seus filhos. Estou
agradecida pelas muitas oportunidades maravilhosas que me revelou, como a natação, um alicerce religioso
que respeito e o seu apoio ao nosso crescimento e reflexão pessoais. O engraçado é que, enquanto adulta,
percebo que ela e eu somos mais parecidas do que aquilo que eu alguma vez quis admitir. Mas sabem uma
coisa? Não consigo pensar numa pessoa melhor com quem ser parecida. Somos duas mulheres que estão a
tentar crescer, aprender e descobrir-se neste mundo.
A grande diferença na nossa relação agora – e é algo que foi reexaminado ao longo do processo de escrita
deste livro – é que aprendemos, e continuamos a aprender, a ouvir-nos uma à outra. Não temos de aceitar a
censura, a culpa ou a responsabilidade pela dor da outra – precisamos apenas de permitir uma à outra
exprimir aquilo que sentimos e escutar realmente isso sem nos tornarmos defensivas ou argumentativas.
Agora, quando divergimos (e, dadas as nossas personalidades fortes, penso que alguma divergência é
inevitável!), recuperamos muito mais rápido. Já não há dias e semanas que se passam em que não falamos
uma com a outra. Ela é uma mulher, tal como eu, que tenta levar uma vida boa, esforçando-se para alcançar
amor-próprio e autoestima.
Hoje, a minha mãe é mais aberta do que nunca. Está a encontrar a pura felicidade para si própria no seu
casamento e na ligação com a igreja mórmon. Respeito aquilo que a igreja significa para ela e outros e estou
agradecida por isso lhe dar tanto bem-estar e alegria. A minha mãe também adora ser avó! Penso que passar
tempo com os netos tem sido revigorante para ela.
Ambas crescemos ao longo dos últimos anos. E embora este livro se tenha tornado temporariamente outro
obstáculo na nossa relação, nós superámo-lo. Nestes dias existe uma sensação de tranquilidade na minha
impetuosa mãe que nunca antes testemunhara. Penso que ambas percebemos que lá por termos sentido a dor
nas nossas vidas – às vezes às mãos uma da outra – isso não significa que tenha de determinar quem somos
daqui para a frente. Temos a oportunidade de escolher novamente todos os dias e de tomar decisões de que
nos podemos orgulhar.
Termino este livro da mesma maneira como comecei. Aquilo que sei ser verdade é que tem apenas de
começar a dar pequenos passos, fazer um esforço para ser mais saudável todos os dias. Com o tempo, irá
compreender aquilo que a motiva e encontrará razões para encetar o trabalho árduo necessário para fazer
mudanças na sua vida. Nem sempre é fácil manter isso, mas quantos mais resultados vir, mais perceção irá
começando a ganhar. Pensar acerca da sua vida é criá-la. Tem de assumir onde está agora e saber onde quer
ir antes de conseguir chegar lá. Continue a recolher provas para o seu sucesso. Pode acreditar nele e pode
alcançá-lo. Comece agora mesmo.
Entrada do Diário

Escrita enquanto voava de regresso a Phoenix após a Final.

Toda minha vida, testemunhei e li sobre coisas incríveis conseguidas por pessoas extraordinárias e procuro
nelas a inspiração e a confiança. Se elas podem fazê-lo, eu posso fazê-lo. Ou não posso? Sou realmente um
modelo de vida? Tenho a força necessária para isto? Porque quero isto? Quero sentir-me orgulhosa de quem
sou; quero honrar os meus pais e a minha família honrando-me a mim própria. Quero mostrar à América que
se pode escolher de novo. Quero que as pessoas olhem para mim e acreditem nelas próprias; quero
reconhecer a minha grandeza. Quero que as vidas das pessoas com quem contacto sejam melhores depois de
me terem conhecido. Quero voltar a acreditar no bem. Quero provar que quem acredita na grandeza não é
uma mente ingénua mas sim determinada.
Quero fortalecer os outros através do fortalecimento de mim própria. Quero provar que o impossível é
possível. Que uma viagem de 1600 quilómetros começa, na verdade, apenas com um passo, apenas um, e
que qualquer pessoa que consiga imaginar essa viagem tem a força e a coragem necessárias para levantar os
pés e dar esse primeiro passo. Quero saber que a coragem é a luz dentro de mim que irá dar-me força e guiar-
me em todas as minhas jornadas futuras. O meu corpo é a minha atuação a solo nos Jogos Olímpicos, a minha
Volta a França, o meu monte Evereste, o meu touchdown na Superbowl, o meu passo na Lua. Todos sabemos
o que são os sonhos, mas teremos a coragem e a força para os sonhar, para sonhar sonhos impossíveis, para
dizer: “Sim, eu consigo. Porque não, se eu sou a criadora do meu destino e da minha realidade, porque não
criar grandeza fazendo que neste momento eu escolha de novo?”
Quero fazer a diferença na minha comunidade, quero dar, quero amar, quero divertir-me, quero rir e quero
que toda a gente faça o mesmo comigo. E sei que para que se sinta realmente a felicidade tem de se ter
momentos de tristeza verdadeira... Irei continuar a ter esses momentos, também. Mas vou erguer-me todos
os dias e minimizá-los se for necessário, sabendo que cada dia é um novo dia.
A Folha Estatística de Ali Vincent

Outubro 2007

PESO INICIAL
106 quilos

TAMANHO DE ROUPA
50/52

MASSA GORDA
47% de gordura corporal
Abril 2008

PESO FINAL
55 quilos

TAMANHO DE ROUPA
36

MASSA GORDA
12% de gordura corporal

PERCENTAGEM TOTAL DE PESO PERDIDO


47,86%
Apontamentos de Cheryl Forberg, Nutricionista de The Biggest Loser

Q uando concorri a The Biggest Loser, a nutricionista do programa, Cheryl Forberg, tomou apontamentos
sobre os meus hábitos alimentares. Depois de eu ter ganho, perguntei-lhe se tinha ficado com eles. Ena pá!
Não eram grande coisa. Mas isto só serve para mostrar como se pode mudar.
Aqui ficam as suas observações da nossa primeira consulta.

Apreciação geral
• Salga a comida
• Diz que a sua dieta é “rica” em fast food
• Comidas favoritas: doces e pretzels, muitos snacks
• Padrões de alimentação muito irregulares
• Oito chávenas de café por dia
• Dois litros de refrigerantes light por dia
• Pouca ou nenhuma água
• Uma dose de vegetais por dia: a alface e o tomate que vêm no taco de fast food
• Come fruta menos de uma vez por dia
Típico dia de trabalho
• Faz café em casa
• Vai ao Starbucks para um latte médio com leite magro, com três doses de café, sem espuma e duas doses
de adoçante
Começa a trabalhar
• Um par de refrigerantes
• Sempre chocolates, barras de chocolate em miniatura, um punhado de pretzels
Quatro da tarde
• Cheeseburger deluxe da cadeia Jack in the Box, tacos
• Duas doses grandes de batatas fritas
• Refrigerante
• Come tudo em dez minutos
• Regressa ao trabalho até às oito da noite
• Bebe café ou refrigerante
Jantar
• Refeição do McDonald’s com dois cheeseburgers e seis peças de frango McNuggets
• Ou então, se jantar com amigos, pode dividir uma piza familiar, pimentos panados recheados e salada
• Lemon drop martini com açúcar nas bordas do copo ou margaritas de toranja
• Às vezes não janta, vai apenas beber uns copos com os amigos
As Receitas Fáceis de Ali

Não gosto de cozinhar todos os dias, portanto criei alguns pratos rápidos que funcionam comigo. A maioria
deles dá para mais do que uma refeição (ou o suficiente para uma refeição e um snack). Dado que adoro
comida mexicana, muitos dos pratos incluem sabores picantes.
Não sou certamente uma chef ou uma perita em culinária; gosto apenas de fazer comida saudável que saiba
deliciosamente. Estas receitas informais são na realidade apenas sugestões – elas podem ser alteradas ou
ajustadas para fazer algo que lhe saiba bem a si!

TACOS
Adoro os meus tacos! E com esta versão saudável, posso comê-los sempre que me apetecer.
1 cebola, cortada
1 dente de alho, cortado
2 colheres de sopa de molho picante
Cominhos moídos, q.b.
450 g de peru extramagro picado
3 tortilhas de milho
Numa frigideira antiaderente, cozinhe a cebola, o alho, o molho picante e os cominhos. Junte o peru picado e
cozinhe até ficar tostado.
Aqueça as tortilhas no forno até ficarem estaladiças. Coloque quatro colheres da mistura em cada tortilha.
Cubra com tomate, alface ou couve e mais molho.
Variantes:
Por vezes substituo o peru por peitos de frango desossados e sem pele cortados aos cubos. Também faço
uma variante que inclui curgete quando uso peito de frango.
Em vez do molho normal, por vezes uso um molho de tomate picante mexicano.

FEIJÃO PRETO SEM ARROZ


Estes ingredientes simples e baratos fornecem bastantes fibras e proteínas. Eu compro feijão preto orgânico
enlatado e enxaguo-o.
2 chávenas de quinoa
1 lata de feijão preto, escorrido
Salsa
Coentros frescos cortados
Prepare a quinoa de acordo com as instruções da embalagem e mexa os feijões com uma colher. Cubra com
molho picante e coentros. Esta receita dá para duas vezes.

MASSA PEVIDE COM FRANGO


Este prato fácil satisfaz os meus desejos de massa e tem imensas proteínas.
Massa pevide de trigo ou outra massa integral
Bifes de frango desossados e sem pele, cortado em pedaços pequenos
Sumo de limão
Coentros frescos cortados
Prepare a massa de acordo com as instruções da embalagem – eu habitualmente faço uma grande porção,
algumas chávenas. Cozinhe os bifes de frango numa frigideira antiaderente revestida com óleo. Condimente
com temperos sem sal.
Para uma dose, eu meço entre 85 e 115 gramas de frango cozinhado e meia chávena de massa. Polvilhe com
um pouco de sumo de limão e coentros. Nham!

SANDUÍCHE EM PÃO PITA


Nada supera uma boa sanduíche recheada de vegetais ao almoço!
½ pão pita integral
85 g de peitos de frango desossados e sem pele, cozinhados
¼ chávena de rebentos de alfafa
¼ chávena de curgete cortada
½ chávena de tomate cortado
¼ chávena de abacate
Encha o meio pão pita com o frango, os rebentos, a curgete, o tomate e o abacate e condimente como
desejar – eu acrescento bastante pimenta preta acabada de moer.

SANDUÍCHE DE PEQUENO-ALMOÇO
Nos meus dias de drive-thru costumava comprar sanduíches gordurosas para o pequeno-almoço. Esta versão
é amplamente melhorada e ao mesmo tempo saborosa!
1 ovo
1 fatia de bacon de peru
1 muffin inglês integral, torrado
1 fatia de queijo magro
Numa frigideira antiaderente revestida com óleo, estrele o ovo. Junte o bacon de peru na mesma frigideira e
cozinhe até ficar tostado.
Coloque o ovo e o bacon na parte de baixo do muffin torrado e o queijo por cima, depois junte a parte de
cima do muffin. O calor de todos os outros ingredientes irá derreter o queijo e criar uma sanduíche de
pequeno-almoço agradável e apetitosa.

OVOS MEXIDOS
Adoro este pequeno-almoço rápido, fácil e saboroso. Não tem praticamente gordura e é muito baixo em
calorias.
4 claras de ovos
Molho picante
1 triângulo de queijo light
Numa frigideira antiaderente revestida com óleo, cozinhe as claras dos ovos. Quando estiverem quase
prontas, junte um bocado de molho e o triângulo de queijo. Cozinhe, mexendo, em lume brando até os ovos
estarem prontos, o molho ficar quente e o queijo começar a derreter. Coma imediatamente.

FRUTA E FLOCOS DE AVEIA


Este pequeno-almoço doce é uma ótima maneira de conseguir cálcio e vitamina C e irá mantê-la cheia
durante toda a manhã!
Flocos de aveia instantâneos
Leite magro
5 ou 6 morangos cortados
¼ chávena de mirtilos
¼ chávena de banana cortada
Canela
Prepare os flocos de aveia de acordo com as instruções da embalagem, usando leite em vez de água. Mexa a
fruta com a colher e polvilhe com um pouco de canela.

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