Você está na página 1de 4

Decretos e Preceitos

Explicando o c.48 pode dizer-se que aqui se encontra uma definição de decreto
singular, indicando-nos primeiramente, de que se trata de um acto administrativo, e
seguidamente que se todo o acto administrativo, quer se trate de decretos, preceitos ou
rescritos, é próprio da autoridade executiva competente.
Uma outra característica do decreto singular e que o distingue do rescrito, é que
ao contrário deste, o decreto pela sua natureza não precisa de uma petição prévia.
Isto quer dizer que o decreto é um acto próprio da autoridade executiva
elaborado a partir da sua própria iniciativa, fruto das suas necessidades pastorais no seu
âmbito de governo, no entanto, isto não impede que se possa emitir em certos casos um
decreto tento em conta a petição de terceiros, que a autoridade faça sua.
O decreto ainda que tenha um destinatário singular, emite-se normalmente tendo
em vista o bem comum, ao contrário o rescrito é uma norma dada em favor de uma ou
várias pessoas concretas.
Quanto ao conteúdo dos decretos singulares, pode ser uma decisão ou uma
provisão, sempre para um caso particular. Os limites de uma decisão e de uma provisão
são muito genéricos e podem, designar um enorme número de medidas de governo, que
a autoridade executiva pode realizar: nomeações, remoções, substituições, respostas a
recursos entre outras. Pode se dizer que uma decisão é uma qualquer disposição
concreta de um governo que vise um caso particular, com a excepção da concessão de
graças e que uma provisão, consiste no geral em qualquer medida que não seja por fim a
uma controvérsia ou conceder uma graça. Podemos então ver o amplo campo que pode
abarcar o decreto singular, convertendo-o em acto administrativo por excelência.
O c.51 diz que “O decreto seja baixado por escrito, expondo os motivos ao
menos sumariamente se se tratar de uma decisão.”.
A norma da escrita, comum a todos os actos administrativos, segundo o c.37,
sem ser estabelecido no cânon como requisito para a validez do decreto, de facto será
necessária porque um decreto não escrito, embora seja válido, não poderá ser notificado
legitimamente e, portanto, de acordo com o c.54 §2, não poderá haver o seu
cumprimento, sendo assim um decreto ineficaz.
Eficácia do decreto, por ser singular está limitado as pessoas e aos assuntos de
que se ocupa singularmente. Mas dado ao ser carácter pessoal, não territorial, obriga ao
cumprimento do decreto em qualquer lugar a não ser que neste se determine outra coisa.
Os efeitos do acto dependeram de se requerer execução ou não, e da sua
intimação.
O c.54 §.1 diz que o decreto que não requer execução surte efeitos desde o
momento em que se tenha intimado o destinatário. Se requer execução, desde o
momento em que esta se cumpra efectivamente.
Seja como for o decreto não terá efeitos, o que significa que não poderá exigir-se
o seu cumprimento, até que se seja intimado mediante o documento legítimo conforme
o direito.
Interpretações de decretos contraditórios

1
Na regulação específica do decreto, o c.53 só contempla a questão da possível
existência de dois ou mais decretos sobre o mesmo assunto, em que estes sejam
incompatíveis entre si.
No caso de haver dois decretos incompatíveis entre si, prevalece o estabelecido
de modo peculiar, em detrimento do decreto com carácter geral.
No caso de ambos os decretos serem de carácter peculiar, aplica-se o critério
cronológico, prevalecendo o que tiver sido dado em último lugar, porque se supõe que
no mais novo esteja uma valoração mais actual.
Por último, ainda que o cânon não contemple o caso, deduz-se do espírito do
Código que se existirem decretos contraditórios, o mais favorável ou menos gravoso
deverá em princípio, salvo a autoridade diga outra coisa, prevalecer sobre o mais
detestável.

Preceito c.49 . O objecto de um preceito é: uma ordem directa dada a uma ou


várias pessoas determinadas, para que façam ou omitam algo, ou para que cumpram
alguma lei. Sendo o único tipo de decreto que regula o CIC, e falo pelo seu carácter de
vincular directa e imediatamente a conduta dos fiéis ao impor uma obrigação.
Como o preceito é um tipo de decreto, as suas características em princípio são
idênticas aos actos administrativos, quer dizer que contem uma decisão, que impõe a
uma ou várias pessoas de realizar algo ou abster-se de alguma conduta, estes preceitos
são dados pela autoridade competente de acordo com o destinatário e só terá
legitimidade se um preceito for dado de acordo com as normas estabelecidas nos
cânones sobre o procedimento, forma, notificação, entre outros,
Cessação do decreto e do preceito
O c.58 §1, diz quais são as formas normais de cessação dos decretos singulares:
revogação e a perda de vigência da lei que executam. Serão aplicadas normas comuns
de cessação dos actos administrativos singulares cc.46 e 47, pelo que, a revogação da lei
não será feita porque se extingue o poder de quem o deu, mas só se produzirá com a
emissão de outro decreto em que a autoridade, fazendo uma nova consideração sobre o
assunto, toma uma decisão diferente.
É necessário relembrar que o decreto revogado só deixa de estar em vigor no
momento em que o novo é legitimamente notificado ao destinatário.
Quanto ao preceito, cessa do mesmo modo que o decreto singular, mas que pela
sua natureza, quando se impôs sem um documento legitimo cessa ao cessar a potestade
de quem o deu, cuja autoridade o sustentava e podia exigir o seu cumprimento c.58 §2.
Rescritos
O rescrito é um acto administrativo com carácter geral, próprio da potestade
executiva. Pela sua própria natureza é escrito, o que equivale a dizer que sem escrita não
há rescrito. Alem do mais, dado que o rescrito pressupõe normalmente uma posição de
um interessado e consiste na conseguinte resposta, esta que se fará por escrito através de
um documento, que se chama rescrito. Nele se contem a concessão de um favor que se

2
tenha pedido, dizendo de outro modo o rescrito é um documento que contem a
concessão de uma graça.
Na sua estrutura, o rescrito é constituído por duas partes. Uma primeira, na qual
se faz uma exposição resumida do escrito de solicitude ou preces, nas que quem faz a
petição, expõe os argumentos que levaram á petição. A segunda é a concessão da
mesma na qual se especifica quem concede, o que concede e como concede, ou em
forma graciosa ou em forma comissória. No caso de ser dado sob a forma comissória
determinará se o executor é necessário (se deve executar o concedido), ou voluntário (se
é a sua prudente decisão dá ou nega a graça).
No cc.63 e seguintes encontramos algumas circunstâncias que fazem inválido o
rescrito e outras que afectam a sua licitude e ainda algumas que não o invalidam, entre
os factos que determinam a invalides de um rescrito estão ainda a ocultação da verdade
quando se expõe a petição pois, a autoridade deve conhecer plenamente a verdade que
está na base da petição para poder dar uma resposta justa. Não se deve deixar tudo ao
serviço do livre arbítrio ou generosidade do concedente, deve-se por isso dar ao
concedente todos os argumentos (caso as causas sejam falsas existe ob-repção, e o
rescrito é inválido) e intenções verdadeiras, que permitam ao concedente decidir em
consciência.
A concorrência das autoridades na concessão
Quando um rescrito for pedido a vários vigários do mesmo bispo, existem
critérios que se aplicam a nível da organização eclesiástica.
Se um vigário negar uma graça, outro vigário não pode conceder a graça negada e se o
bispo conceder essa graça deverá ser informado antecipadamente que o seu vigário
negou essa graça.
Uma graça negada pelo bispo não pode ser concedida por nenhum dos seus
vigários.
Privilégios
Privilégio é uma graça dada por um acto peculiar em favor de certas pessoas físicas ou
jurídicas, que pode ser concedido pelo legislador ou pela autoridade executiva, aquém o
legislador deu esse poder.
O privilégio tem características comuns aos actos administrativos, mas também
apresenta, algo específico que os aproxima das leis, nomeadamente quanto ao seu autor
e quanto á sua duração, por isso, chama-se também ao privilégio, uma lei privada.
Pode-se provar um privilégio, através de um documento escrito, se este se tiver perdido
ou ter sido concedido de forma oral, a posse centenária e imemorial, presume que o
privilégio lhe foi concedido.
O privilégio pode ser pessoal, mas também pode ser um privilégio real, que é
aquele que se liga a um lugar (como pode ser exemplo um santuário, imagem, relíquia).

Cessação de um privilégio
O privilégio é perpétuo desde que não se prove o contrário. A perpetuidade
deriva do carácter de lei privada do privilégio, e da situação favorável que cria. Não

3
obstante o direito estabelece uma série de circunstâncias que podem determinar o fim do
privilégio.
O privilégio pode então extinguir-se das seguintes formas:
O privilégio também não pode ser herdado por ninguém, cessando o privilégio
com a morte da pessoa que obteve esse privilégio.
Um privilégio real cessa ao se destruir completamente o objecto ou lugar, no
entanto, o privilégio é restaurado automaticamente se o objecto ou lugar, for restaurado
no prazo de cinquenta anos.
O privilégio pode cessar caso este seja Penoso para outrem.
O privilégio pode cessar quando termina o prazo do seu uso (caso este exista),
ou se cumpriu o número de acções que permitia.
A cessação de um privilégio não é automática, pelo que o Ordinário deverá de
acordo com as normas estabelecidas pelo Direito Canónico, revogar o privilégio.
O privilégio poderá ainda cessar caso de abuso desse privilégio, e de
comportamentos indignos desse mesmo privilégio.

Você também pode gostar