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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL


DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO- SP.

NOME DO SERVIDOR, brasileiro, solteiro, inscrito no CPF nº XXX.XXX.XXX-XX, portador da


Carteira de Identidade RG nº XXXXXXXX, SSP/XX, servidor efetivo do quadro de pessoal da Defensoria
Pública União – DPU, lotado na Defensoria Pública da União em XXXXXXX/XX, matrícula SIAPE nº
XXXXXXX, ocupante do cargo de Nome do Cargo, endereço eletrônico xxxxxxxxxx@xxxxx.com,
residente e domiciliado na Endereço Residencial por intermédio de sua advogada no final assinado,
constituída nos termos do instrumento de mandato em anexo (documento nº 01) inscrita na OAB -
XX sob o nº XXXXX, endereço eletrônico xxxxxxxxxx@xxxxx.com e com escritório na Endereço dx
advogadx, onde recebe intimações, vem, mui, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no inciso XXXIV do artigo 5º da Constituição Federal de 1988 e demais disposições
aplicáveis, promover a presente

AÇÃO DE REPOSICIONAMENTO FUNCIONAL


c/c RESSARCIMENTO DE PARCELAS VENCIDAS

em face da UNIÃO FEDERAL pessoa jurídica de Direito Público interno, que deverá ser citada
através da Procuradoria- Regional da União em São Paulo, com endereço na Avenida Paulista, nº
1.374 - 7º andar - Bela Vista - São Paulo - SP - Cep. 01310-937, com fundamento nas razões de fato
e de direito doravante aduzidas:

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente, o autor requer a Vossa Excelência, que se digne a conceder, com fundamento
no artigo 98 do CPC, o benefício da gratuidade da justiça, uma vez, que não pode dispor de
numerário para custeio das custas e ou encargos processuais sem que coloque  em prejuízo o
sustento próprio e da sua família, porquanto sua fonte de renda se encontra momentaneamente
comprometida. (documento nº 2)

O autor percebe remuneração que é suficiente apenas para honrar seus compromissos
mensais e sua devida subsistência.

Como a questão não foi resolvida administrativamente, não lhe restou alternativa a não ser
ingressar com a presente ação e, para isso, requer que lhes sejam deferidos os benefícios da justiça
gratuita, pelos motivos já alinhavados e, ainda, por ser a única forma de lhes proporcionar o mais
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amplo acesso ao poder judiciário, garantia essa que a Constituição Federal elegeu no inciso LXXIV,
do artigo 5º.

DAS RAZÕES FÁTICAS E JURÍDICAS

1. DA PROGRESSÃO A CADA DOZE MESES

O autor é ocupante do cargo de NOME DO CARGO, desde o seu ingresso no Quadro de


Pessoal da DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO em XX/XX/XXXX (documento nº3), regido pelo Plano
Geral de Cargos do Poder Executivo – PGPE, de que trata a Lei Federal nº 11.357/2006.

Ocorre que, desde o seu ingresso no serviço público, o autor está sendo prejudicado pelas
normas aplicáveis pela DPU para o instituto das progressões e promoções funcionais, haja vista a
utilização de dispositivos do Decreto Federal 84.669/1980 incompatíveis com os princípios
hierarquia das leis, da razoabilidade e da isonomia consagrados pela Constituição Federal de 1988.

O Decreto nº 84.669/80 assim dispõe sobre os institutos da promoção e progressão:

“Art. 2º - A progressão funcional consiste na mudança do servidor da referência em


que se encontra para a imediatamente superior.

Parágrafo único. Quando a mudança ocorrer dentro da mesma classe, denominar-se-


á progressão horizontal e quando implicar mudança de classe, progressão vertical.

(...)

Art. 6º - O interstício para a progressão horizontal será de 12 (doze) meses, para os


avaliados com o Conceito 1, e de 18 (dezoito) meses, para os avaliados com o
conceito 2.

Art. 7º - Para efeito de progressão vertical, o interstício será de 12 (doze) meses.

(...)

Art. 10 - O interstício decorrente da primeira avaliação, a ser realizada nos termos


deste Decreto, será contado a partir de 1º de julho de 1980.

§ 1º - Nos casos de progressão funcional, o interstício será contado a partir do


primeiro dia dos meses de janeiro e julho.

§ 2º - Nos casos de nomeação, admissão, redistribuição, ascensão funcional ou,


ainda, de transferência de funcionário ou movimentação de empregado, realizadas
a pedido, o interstício será contado a partir do primeiro dia do mês de julho após a
entrada em exercício.

(...)

Art. 19 - Os atos de efetivação da progressão funcional observado o cumprimento


dos correspondentes interstícios, deverão ser publicados até o último dia de julho e
de janeiro, vigorando seus efeitos a partir, respectivamente, de setembro e
março.”
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(GRIFOS NOSSOS)

Assim, mesmo tendo o autor ingressado em XX/XX/XXXX nos quadros da DPU, a contagem
do período aquisitivo para a primeira progressão foi realizada nos moldes das previsões do referido
Decreto, desconsiderando ilegalmente todo o período laboral exercido desde o sua entrada no órgão,
tendo início apenas em Julho/Janeiro de 20XX e final em Julho/Janeiro de 20XX (conceito 1/2 –
12/18 meses), com efeitos financeiros somente em Março/Setembro de 20XX (vide fichas
financeiras anexas – documento nº 4).

A aplicação do regramento previsto no mencionado Decreto acarreta, não somente


prejuízo financeiro ao autor do seu ingresso até a presente data, haja vista se encontrar em
níveis de classe-padrão inferiores aos que deveria estar de fato ocupando, mas, principalmente
cria junto a seus pares, imensurável INJUSTIÇA, ora, por não considerar as situações funcionais
específicas, tais como, data de ingresso de cada servidor na carreira, tempo de efetivo exercício e
momento de implementação dos requisitos necessários à progressão, a unificação do
procedimento e do marco temporal a ela inerente implicou afronta ao princípio da isonomia.

Por outro lado, temos as previsões legais da Lei Federal nº 11.357/2006, que em seus artigos
5º e 6º também prescrevem que os requisitos e condições para a progressão funcional, nos
seguintes termos:

“Art. 5º - O desenvolvimento do servidor do Plano Geral de Cargos do Poder


Executivo ocorrerá mediante progressão funcional e promoção, na forma do
regulamento.

Art. 6º - O desenvolvimento do servidor nos cargos do PGPE, mediante promoção e


progressão, observará, sem prejuízo dos demais requisitos estabelecidos em
regulamento, os seguintes:

I - interstício mínimo de 1 (um) ano entre cada progressão;

II - experiência mínima no campo de atuação de cada cargo, fixada para promoção


a cada classe subsequente à inicial;

III - avaliação de desempenho;

IV - possuir certificação em eventos de capacitação no campo de atuação do


cargo, em carga horária mínima e complexidade compatíveis com o respectivo
nível e classe; e

V - qualificação profissional no campo de atuação de cada cargo.”

Independentemente da menção legal ao “regulamento” para o estabelecimento das regras


relativas à progressão funcional, ressaltamos, que a referida Lei, impôs, como interstício mínimo
para cada progressão, o período de 1 (um) ano. Desse modo, como é sabido, qualquer
regulamento que advier deverá obediência à previsão legal neste aspecto. Ou seja, a primeira
progressão do autor, que foi efetuada apenas no mês de Março/Setembro de 20XX, na verdade,
deveria ter sido realizada no mês de XXXXXX de 20XX.
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O regulamento que implementaria as condições da progressão funcional e promoção


previstas na Lei Federal nº 11.357/2006 ainda NÃO foi editado. Desde a edição do Decreto nº
84.669/1980, isto é, há mais de 36 (trinta e seis) anos, o Poder Executivo Federal não edita uma
nova regulamentação que melhor retrate a evolução dos Planos de Cargos e Carreiras dos
ocupantes do Quadro de Pessoal da DPU e dos demais servidores públicos federais submetidos a
tal normativo infralegal.

Talvez já prevendo uma possível inércia do Executivo, o próprio comando normativo do art.
72, §5º, da Lei Federal nº 11.357/2006, remete as promoções e progressões à disciplina do Decreto
nº 84.669/80. Vejamos:

“Art. 72, §5º: Enquanto não forem regulamentadas, as progressões e promoções dos
integrantes das Carreiras e dos Planos de Cargos estruturados por esta Lei, as
progressões funcionais e promoções dos titulares de cargos dos Planos de Cargos de
que tratam o parágrafo único do art. 1 o  e os arts. 12, 42 e 55 desta Lei serão
concedidas observando-se o disposto no  Decreto no 84.669, de 29 de abril de
1980.    (Redação dada pela Lei nº 11.490, de 2007)”

Porque, o inciso I, do art. 6º, da Lei 11.357/2006, não estabelece uma data fixa como
critério para início da contagem do interstício das progressões e promoções funcionais, ao
contrário, de forma objetiva e simplificada, orienta pela observância do interstício mínimo de 1
(um) ano entre cada progressão.

Ademais, pela análise do teor do Decreto nº 84.669/1980, o que se extraí do seu texto é
um conjunto de dispositivos descompassados com os atuais planos de cargos e carreiras do
Executivo Federal e com os princípios da Hierarquia das Leis e da Razoabilidade consagrados pela
Constituição Federal de 1988, ao ultrapassar os limites de regulamentar. Os critérios e datas
selecionados pelo Decreto n.º 84.669/80 ferem claramente o princípio da isonomia.

Diante deste cenário, em casos similares referentes a outras categorias de servidores


públicos federais, as jurisprudências dos Juizados Especiais e dos Tribunais Regionais já pacificaram
a matéria em debate, haja vista, que são uníssonos em conceder a tutela requerida nesta ação.

Vejamos alguns julgados recentes que orientam pela NÃO aplicação dos arts. 10 e 19 do
Decreto nº 84.669/1980, dado esse regulamento afrontar o princípio constitucional da isonomia
ao estabelecer, sem qualquer tipo de critério, um mesmo marco temporal para início da
contagem do interstício de progressão e promoção funcional de servidores em situações
distintas de ingresso no serviço público.

POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS


RECURSO Nº 0068172-57.2013.4.01.3400 /DF
RELATORA: JUÍZA FEDERAL LÍLIA BOTELHO NEIVA BRITO RECORRENTE(S): UNIÃO
FEDERAL
ADVG/PROC.: - KASSANDRA MARA MAFRA DOS SANTOS RECORRIDO(S): RAIFRAN VIANA
DOS SANTOS
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ADVG/PROC.: BA00019557 - JOSE CARLOS RIBEIRO DOS SANTOS

EMENTA

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. POLICIAL RODOVIÁRIO


FEDERAL. PROGRESSÃO FUNCIONAL. LEI Nº 8.627/93. DECRETO Nº 84.669/80.
REQUISITOS FIXADOS POR DECRETO. EFEITOS FINANCEIROS RETROATIVOS À DATA EM
QUE COMPLETADO O INTERSTÍCIO, CONTADOS DA DATA DE INGRESSO NO ÓRGÃO.
PRINCÍPIO DA ISONOMIA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.

O Decreto n. 84.669/80, ao impor uma data única para progressão funcional de todos
os servidores, sem análise do tempo de serviço de cada um, bem como datas restritas
para o início dos efeitos financeiros, acaba por violar o princípio da isonomia, por
estabelecer tratamento igual aos desiguais. Em outras palavras, o ato regulamentador
confere tratamento único a indivíduos que se encontram em situações diferentes,
quando na verdade deveria fixar a eficácia da progressão funcional com a observância
da situação individual de cada servidor.

Se aplicada a interpretação defendida pela União, dependendo da data de ingresso do


servidor no órgão, a Administração estaria autorizada a exigir um tempo de serviço
maior ou menor para que se alcance os avanços nas carreiras. Com efeito, aplicando tal
entendimento, pode-se chegar a uma situação na qual um servidor precise trabalhar
quase um ano a mais do que outro que complete os requisitos em data próxima àquela
em que o ato de efetivação da progressão funcional deve ser publicado, simplesmente
pelo fato de ter preenchido os critérios legais para progressão logo após a data em
que a Administração concede a progressão anterior.

Considerando que os critérios do Decreto n. 84.669/80 não atendem às situações


individualizadas dos servidores que completam os requisitos para progressão em
épocas distintas, tem-se que o referido regulamento não foi recepcionado pela atual
ordem constitucional, na parte em que fixa uma única data para a progressão dos
servidores (art. 10 e art. 19), por ser atentatório ao princípio da isonomia, insculpido
no caput do art.5º da Constituição Federal.

A despeito das considerações sobre a inaplicabilidade, ao presente caso, do


entendimento jurisprudencial sobre a progressão funcional de policiais federais, há de
ser reconhecida a semelhança entre ambas as situações. Ao contrário do que alegou a
parte ré, também no caso das progressões dos policiais rodoviários federais, há um
desrespeito ao princípio da isonomia, razão pela qual é perfeitamente aplicável o
seguinte precedente da Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência:

"O regulamento não é totalmente livre para estipular os requisitos e condições da


progressão funcional. Hão de ser respeitados direitos e garantias constitucionais,
hierarquicamente superiores.

O art. 5º do Decreto nº 2.565/98, ao impor uma data única para início dos efeitos
financeiros da progressão funcional, afronta o princípio da isonomia, desde que
confere tratamento único a indivíduos que se encontram em situações diferentes. A
eficácia da progressão funcional deve ser observada segundo a situação individual de
cada servidor. Uniformizado o entendimento de que os efeitos financeiros da
progressão funcional na carreira Policial Federal devem retroagir ao momento em que
tiverem sido completados os cinco anos ininterruptos de efetivo exercício" (TNU,
PEDILEF 05019994820094058500, JUIZ FEDERAL ROGÉRIO MOREIRA ALVES, DOU
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28/10/2011)

Diante do exposto, os efeitos financeiros da progressão funcional na carreira de


Policial Rodoviário Federal devem retroagir ao momento em cada servidor alcance os
interstícios de 12 meses ou 18 meses de efetivo exercício, CONTADOS A PARTIR DO
INGRESSO NO ÓRGÃO e, assim, sucessivamente, até que chegue ao final da carreira.

Sentença mantida. Recurso improvido. Acórdão lavrado com fundamento no artigo 46 da


Lei nº 9.099/95.

A União, recorrente vencida, pagará honorários advocatícios de 10% sobre o valor da


condenação, conforme preceitua o artigo 55 da Lei nº 9.099/95.

ACÓRDÃO

Decide a Turma Recursal, por unanimidade, negar provimento ao recurso da parte ré.
Turma Recursal, Juizado Especial Federal - SJDF. Brasília - DF, 30/04/2014.

JUÍZA LÍLIA BOTELHO NEIVA BRITO


Relatora 2 - 1ª Turma Recursal/SJDF (grifamos)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. POLICIAL RODOVIÁRIO


FEDERAL. PROGRESSÃOFUNCIONAL. LEI Nº 8.627/93. DECRETO Nº84.669/80. REQUISITOS
LEGAIS FIXADOS POR DECRETO. EFEITOS FINANCEIROS RETROATIVOS À DATA EM QUE
COMPLETADO O INTERSTÍCIO, CONTADO da DATA de INGRESSO DO SERVIDOR NO
ÓRGÃO. PRINCÍPIO da ISONOMIA. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. (...) O
Decreto 84669/80, ao impor uma data única para  progressão funcional de todos os
servidores, sem análise do tempo de serviço de cada um, bem como datas restritas para o
início dos efeitos financeiros, acaba por violar o princípio da isonomia, por estabelecer
tratamento igual aos desiguais. Em outras palavras, o ato regulamentador confere
tratamento único a indivíduos que se encontram em situações diferentes, quando, na
verdade, deveria fixar a eficácia da  progressão  funcional  com a observância individual de
cada  servidor. Se aplicada a interpretação defendida pela União, dependendo da data de
ingresso do  servidor  no órgão, a Administração estaria autorizada a exigir um tempo de
serviço maior ou menor para que se alcance os avanços nas carreiras. Com efeito, aplicando
tal entendimento, pode-se chegar a uma situação na qual um  servidor  precise trabalhar
quase um ano a mais do que outro que complete os requisitos em data próxima àquela em
que o ato de efetivação da  progressão  funcional  deve ser publicado, simplesmente pelo
fato de ter preenchido os critérios legais para  progressão  logo após a data em que a
Administração concede a  progressão  anterior. Considerando que os critérios do Decreto
84.669/80 não atendem às situações individualizadas dos servidores que completam os
requisitos para  progressão  em épocas distintas, tem-se que o referido regulamento não foi
recepcionado pela atual ordem constitucional, na parte em que fixa uma única data para
a  progressão  dos servidores (art. 10 e art. 19), por ser atentatório ao princípio da isonomia,
insculpido no caput do art. 5º da Constituição Federal. Ademais, a Turma Nacional de
Uniformização de Jurisprudência, ao analisar caso semelhante ao presente
(progressão  funcional  dos Policiais Federais), uniformizou entendimento no seguinte
sentido : "O regulamento não é totalmente livre para estipular os requisitos e condições
da  progressão  funcional. Hão de ser respeitados direitos e garantias constitucionais,
hierarquicamente superiores. O art. 5º do Decreto nº 2.565/98, ao impor uma data única
para início dos efeitos financeiros da  progressão  funcional, afronta o princípio da isonomia,
desde que confere tratamento único a indivíduos que se encontram em situações diferentes.
A eficácia da  progressão  funcional  deve ser observada segundo a situação individual de
7

cada  servidor. Uniformizado o entendimento de que os efeitos financeiros


da  progressão  funcional  na carreira Policial Federal devem retroagir ao momento em que
tiverem sido completados os cinco anos ininterruptos de efetivo exercício" (TNU, PEDILEF
05019994820094058500, JUIZ FEDERAL ROGÉRIO MOREIRA ALVES, DOU 28/10/2011).
Assim, os efeitos financeiros da  progressão funcional  na carreira de Policial Rodoviário
Federal devem retroagir ao momento em que o  servidor completou o interstício de 12
meses ou 18 meses de efetivo exercício, contado da data de ingresso no Órgão e, assim,
sucessivamente, até que chegue ao final da carreira. Recurso da parte autora provido para
julgar procedente o pedido inicial, declarando-se como marco inicial para contagem dos
interstícios das progressões e promoções funcionais dos integrantes da carreira de Policial
Rodoviário Federal a data de ingresso do  servidor  no órgão, observada a situação
individual de cada autor, servindo esta como parâmetro para os interstícios subseqüentes,
bem como para condenar a União no pagamento das diferenças remuneratórias
respectivas, observada a prescrição qüinqüenal. (....) (Processo 666913020114013,
ALEXANDRE VIDIGAL de OLIVEIRA, TR1 - 1ª Turma Recursal - DF, Diário Eletrônico
24/05/2013.

CARREIRA DO SEGURO SOCIAL


PROCESSO Nº PJE 0803488-26.2013.4.05.8300/PE
AUTOR(S): SINDSPREV
REU(S): INSS

(...)
A toda evidência, para que esse critério privilegiasse o princípio da isonomia, o que
precisa fazer, seria necessário que todos os servidores tivessem iniciado o seu
exercício em uma mesma data, qual seja as referidas no artigo 10 transcrito, o que,
obviamente, não acontece. A adoção desse critério cria distorções e desigualdades,
ferindo direitos legalmente assegurados aos servidores. Por esse critério haverá um
período de atividade efetivamente exercida pelo servidor que não será contemplado.
Haveria a desconsideração de período trabalhado, a gerar desigualdades,
caracterizando uma ilegalidade, em afronta ao princípio da isonomia
constitucionalmente reconhecido (Artigo 5º, CF/1988).

Não vislumbro como considerar correto o critério que vem sendo adotado pelo INSS
para contagem do início do prazo para as promoções e progressões. A uma porque
padecem de regulamentação as alterações introduzidas pela lei 11.501/2007. A duas,
porque o Decreto nº 84.669/80 não pode ser utilizado neste aspecto para o fim de
estabelecer desigualdades, mediante utilização de data única para início da contagem
desse prazo, até porque é contraditório com o próprio artigo 7º, da lei 10.855/2004.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5035236-03.2015.4.04.7000


PARANÁ/PR -10/05/2017
RELATOR: LUÍS ALBERTO DE AZEVEDO AURVALLE
APELANTE: INTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS
APELADO: ALBERTO TADASHI WATANABE

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CARREIRA DO SEGURO SOCIAL. LEIS Nº


10.855/04 E 11.501/07. PROGRESSÃO FUNCIONAL. INTERSTÍCIO DE DEZOITO MESES.
IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA.
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- A majoração do interstício para a progressão funcional instituída pela Lei n°


11.501/2007 carece de auto-aplicabilidade, na medida em que há determinação
expressa de que a matéria seja regulamentada. Dessa forma, até o advento de tal
regulamentação, deve ser aplicado o requisito temporal ainda vigente, qual seja de 12
(doze) meses.

Em situação similar temos a dos policiais federais, inclusive, com manifestação recente
da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais , a qual entendeu pelo
afastamento da aplicação do Decreto nº 2.565/98 por violar o princípio da isonomia ao conferir
tratamento único a indivíduos que se encontram em situações diferentes.

Regulamento, este, que, da mesma forma do aqui combatido Decreto nº 84.669/1980,


ocasionou distorções e prejuízos financeiros aos servidores daquele órgão quando do
procedimento das progressões e promoções funcionais implementados por aquele órgão.

POLICIAIS FEDERAIS
PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI FEDERAL ORIGEM: SEÇÃO
JUDICIÁRIA DE SERGIPE
PROCESSO Nº: 0501999-48.2009.4.05.8500
REQUERENTE: UNIÃO
REQUERIDO: MARIANA PARANHOS CALDERON RELATOR: Juiz Federal ROGERIO
MOREIRA ALVES

VOTO

A progressão funcional na Carreira Policial Federal está prevista no art. 2º da Lei nº


9.266/96 (redação original, vigente na época em que o recorrido completou cinco anos de
exercício):

“Art. 2º O ingresso nos cargos da Carreira Policial Federal far-se-á mediante concurso
público, exigido o 3º grau de escolaridade, sempre na segunda classe, observados os
requisitos fixados na legislação pertinente.

Parágrafo único. O Poder Executivo disporá, em regulamento, quanto aos requisitos e


condições de progressão na Carreira Policial Federal.”

A lei não estipulou os requisitos para a progressão funcional, delegando expressamente


ao Poder Executivo plena competência para regulamentar a matéria. A
regulamentação consta do Decreto nº 2.565/98.

O art. 3º do decreto dispõe que a progressão na Carreira Policial Federal depende de dois
requisitos: avaliação de desempenho satisfatório e cinco anos ininterruptos de efetivo
exercício na classe em que o servidor estiver posicionado. Por outro lado, o art. 5º do
mesmo decreto prevê que os atos de progressão devem ser publicados no Diário Oficial
da União até o último dia do mês de janeiro, vigorando seus efeitos financeiros a partir
de 1º de março subsequente.

O Decreto nº 2.565/98 não ofendeu o princípio da legalidade, porque não contrariou em


nenhum ponto a lei regulamentada nem regulamentou matéria sob reserva legal.

Entretanto, o regulamento não é totalmente livre para estipular os requisitos e


condições da progressão funcional. Hão de ser respeitados direitos e garantias
constitucionais, hierarquicamente superiores.
9

O art. 5º do decreto, ao impor uma data única para início dos efeitos financeiros da
progressão funcional, afronta o princípio da isonomia, desde que confere tratamento
único a indivíduos que se encontram em situações diferentes. A eficácia da progressão
funcional deve ser observada segundo a situação individual de cada servidor.

(...)

Voto no sentido de uniformizar o entendimento de que os efeitos financeiros da


progressão funcional na carreira Policial Federal devem retroagir ao momento em que
tiverem sido completados os cinco anos ininterruptos de efetivo exercício.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CARREIRA de POLICIAL


FEDERAL. INCOMPETÊNCIA DO JEF AFASTADA. ARTIGO 3º, § 1º, INCISO III, da LEI
Nº10.259/2001. NÃO INCIDÊNCIA. PROGRESSÃO FUNCIONAL. LEI Nº 8.627/93. DECRETO
Nº 84.669/80. REQUISITOS LEGAIS FIXADOS POR DECRETO. EFEITOS FINANCEIROS
RETROATIVOS À DATA EM QUE COMPLETADO O INTERSTÍCIO, CONTADO da DATA de
INGRESSO DO SERVIDOR NO ÓRGÃO. PRINCÍPIO da ISONOMIA. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO PROVIDO. (...) O Decreto 84669/80, ao impor uma data única
para  progressão  funcional  de todos os servidores, sem análise do tempo de serviço de
cada um, bem como datas restritas para o início dos efeitos financeiros, acaba por violar o
princípio da isonomia, por estabelecer tratamento igual aos desiguais. Em outras palavras,
o ato regulamentador confere tratamento único a indivíduos que se encontram em
situações diferentes, quando, na verdade, deveria fixar a eficácia
da  progressão  funcional  com a observância individual de cada  servidor. Se aplicada a
interpretação defendida pela União, dependendo da data de ingresso do  servidor  no
órgão, a Administração estaria autorizada a exigir um tempo de serviço maior ou menor
para que se alcance os avanços nas carreiras. Com efeito, aplicando tal entendimento,
pode-se chegar a uma situação na qual um  servidor  precise trabalhar quase um ano a mais
do que outro que complete os requisitos em data próxima àquela em que o ato de
efetivação da  progressão  funcional  deve ser publicado, simplesmente pelo fato de ter
preenchido os critérios legais para  progressão  logo após a data em que a Administração
concede a  progressão  anterior. Considerando que os critérios do Decreto 84.669/80 não
atendem às situações individualizadas dos servidores que completam os requisitos
para  progressão  em épocas distintas, tem-se que o referido regulamento não foi
recepcionado pela atual ordem constitucional, na parte em que fixa uma única data para
a  progressão  dos servidores (art. 10 e art. 19), por ser atentatório ao princípio da isonomia,
insculpido no caput do art. 5º da Constituição Federal. Ademais, a Turma Nacional de
Uniformização de Jurisprudência, ao analisar caso semelhante ao presente
(progressão  funcional  dos Policiais Federais), uniformizou entendimento no seguinte
sentido : "O regulamento não é totalmente livre para estipular os requisitos e condições
da  progressão  funcional. Hão de ser respeitados direitos e garantias constitucionais,
hierarquicamente superiores. O art. 5º do Decreto nº 2.565/98, ao impor uma data única
para início dos efeitos financeiros da  progressão  funcional, afronta o princípio da
isonomia, desde que confere tratamento único a indivíduos que se encontram em situações
diferentes. A eficácia da  progressão  funcional  deve ser observada segundo a situação
individual de cada  servidor. Uniformizado o entendimento de que os efeitos financeiros
da  progressão  funcional  na carreira Policial Federal devem retroagir ao momento em que
tiverem sido completados os cinco anos ininterruptos de efetivo exercício" (TNU, PEDILEF
05019994820094058500, JUIZ FEDERAL ROGÉRIO MOREIRA ALVES, DOU 28/10/2011).
Assim, os efeitos financeiros da  progressão funcional  na carreira de Policial Rodoviário
Federal devem retroagir ao momento em que o  servidor completou o interstício de 12
meses ou 18 meses de efetivo exercício, contado da data de ingresso no Órgão e, assim,
10

sucessivamente, até que chegue ao final da carreira. Recurso da parte autora provido para
julgar procedente o pedido inicial, declarando-se como marco inicial para contagem dos
interstícios das progressões e promoções funcionais dos integrantes da carreira de Policial
Rodoviário Federal a data de ingresso do  servidor  no órgão, observada a situação
individual de cada autor, servindo esta como parâmetro para os interstícios subseqüentes,
bem como para condenar a União no pagamento das diferenças remuneratórias
respectivas, observada a prescrição qüinqüenal. (...) (Processo 277397920114013,
ALEXANDRE VIDIGAL de OLIVEIRA, TR1 - 1ª Turma Recursal - DF, Diário Eletrônico
05/04/2013.)

Do exposto, pode-se concluir que o Judiciário tem reconhecido a ilegalidade dos parágrafos
1º e 2º do art. 10 e do art. 19 do Decreto 84.699/1980 diante de sua agressão ao princípio da
isonomia contido na Constituição Federal de 1988, afastando, por conseguinte, a sua aplicação para
diversos cargos e carreiras do Poder Executivo Federal, análogos a situação do autor.

Como se vê, o Decreto determina o início do interstício, para fins de progressão funcional,
para o início do mês de janeiro e julho, isto é, os servidores que tomaram posse do cargo nos
meses seguintes aos preceituados no decreto não aproveitam os 11 (onze) meses trabalhados
durante este período, ficam sem qualquer progressão e/ou promoção, estagnados em um único
padrão remuneratório e funcional durante quase dois anos. Não foi em vão que a Lei 11.357/2006
modificou tamanha injustiça!

2. DA PROGRESSÃO AO FINAL DO 1º ANO DE SERVIÇO PÚBLICO.

Faz-se necessário o afastamento da aplicabilidade das regras do Decreto nº 84.669/80, que


desconsideram o dia em que o servidor completou o interstício de 12 meses legalmente exigido,
estabelecendo um marco temporal fixo como data inicial da contagem do interstício necessário para
promoção ou progressão, e ainda lançam os efeitos financeiros para períodos ainda mais distantes.

No caso dos autos, o autor foi impedido de alcançar a progressão funcional, ao fim do 1º
ano de serviço público, porque o art. 10, do Decreto nº 84.669/80 impõe termo inicial para a
contagem do interstício os meses de janeiro e julho.

A despeito do artigo 10, caput, ser legal, haja vista que era a primeira progressão e, assim,
poderia o Executivo regulamentar, fixando uma data razoável (o Decreto é de 29/04/1980 e fixou o
início em 01/07/1980), as demais regras dos parágrafos 1º e 2º que compõem o referido artigo não
podem ser admitidas dentro do Princípio da Legalidade, sob pena de estar a permitir que o
Executivo inove o processo legislativo por meio de Decreto.

Fato semelhante ocorre com o artigo 19, em que o Decreto, de forma eminentemente
arbitrária, estabelece que os "efeitos" – entendamos início de recebimento no(a) novo(a)
padrão/classe – serão a partir de setembro e março.

Aceitar a legalidade de tais regras seria admitir o absurdo de o Executivo poder fixar o início
11

da contagem do tempo para o interstício e os efeitos financeiros decorrentes (da mudança de


classe/nível) em qualquer data futura, seja no próximo semestre, no próximo ano, no próximo ano
múltiplo de 4 (quatro), em ano bissexto, etc.

Com efeito, a não ser que a data de entrada em exercício do servidor ocorra no dia 1º de
janeiro ou em 1º de julho, estará ele condenado a um descompasso sempre existente, entre a data
em que completou o interstício necessário à promoção/progressão e a data em que, efetivamente,
terá esse direito implementado, o que poderá variar de dias a meses e até mesmo anos, caso do
autor. Nesse ínterim, o sujeito, ainda que efetivamente integrante do quadro ativo de servidores,
verá sua escala de progressão nitidamente congelada.

Além disso, sobredita estipulação fere o princípio constitucional da isonomia (artigo 5º,
caput, da Carta Magna), porquanto dispensa idêntico tratamento a indivíduos que não se
encontram em patamar de igualdade, criando indevida distorção ao não respeitar as condições
pessoais de cada servidor. A aplicação dos ditames do Decreto n.º 84.669/80 pode implicar a
necessidade de um servidor trabalhar período sobremaneira superior a outro servidor unicamente
pelo fato de preencher os critérios para a progressão funcional logo após a data em que a
Administração concede a progressão anterior.

Esse fato, inegavelmente, gera enormes prejuízos ao autor, haja vista a falta de pagamento
do valor correspondente ao nível superior da carreira que ele deveria ascender se a Ré considerasse
o período de atividade efetivamente cumprido pelo Requerente, conforme planilha em anexo.
(vide documento nº 5)

Esclareça-se que os cálculos dos valores devidos representam a diferença bruta entre a
remuneração efetivamente paga desde o ingresso da autora no quadro da DPU e a remuneração
devida levando em conta o formato da progressão pleiteada, já removidos os valores prescritos.
Os valores de referência para a composição da tabela são encontrados na planilha de histórico da
remuneração do PGPE baseada nos aumentos concedidos legalmente, durante o período, nos
anexos III e V-A da Lei Federal 11.357/2006 (documento n.º 6).

Desse modo, devem as progressões e promoções funcionais surtir efeitos a cada 12 meses,
contados a partir do exercício do autor no cargo com interstício que deve ser iniciado no dia seguinte
ao que o servidor completou 12 meses. O avanço na carreira deve adotar como paradigma a situação
particular de cada servidor, ou seja, a progressão funcional da parte autora há de ser realizada a
partir do momento em que implementou o interstício regulamentar, contado o primeiro interstício da
data de início de exercício no cargo e, assim, sucessivamente, até que chegue ao final da carreira.

3. DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. LEGISLAÇÃO QUE DISPÕE SOBRE A CONTAGEM DE TEMPO


DE SERVIÇO PARA TODOS OS FINS. PRINCÍPIO DA HIERARQUIA DAS NORMAS.

A compreensão da hierarquia das normas jurídicas é fundamental para o seu bom


entendimento, notadamente quando ocorrer um conflito entre as normas.
12

Os pontos de discordância devem ser ajustados ao que prevê a Lei e a Constituição, pois o
decreto legislativo, como regulamento, não se pode contrapor ao texto legal que lhe dá validade,
como é o caso da Lei 8.112/90, tampouco contrariar princípios e regras constitucionais.

Tal ajustamento decorre da hierarquia das normas jurídicas, em que um ato regulamentar
não pode instituir disciplina contrária à norma hierarquicamente superior (Lei Federal, Constituição
da República), e deriva diretamente do que prevê o caput do artigo 37 da Constituição Federal, ao
arrolar a legalidade como princípio ao qual está adstrita a Administração Pública.

Sendo assim, diante deste contexto, é necessário fazer expressa referência à legislação
que tratou do assunto. A Lei nº 8.112/90, conforme já exposto, trouxe todos os elementos
necessários à movimentação funcional dos autores, prevendo, inclusive, o desenvolvimento sem
que fosse necessária a expedição de regulamento específico. Repetem-se, por oportunos, os
artigos aqui ressaltados:

“Art. 100. É contado para todos os efeitos o tempo de serviço público federal,
inclusive o prestado às Forças Armadas.

Art. 101. A apuração do tempo de serviço será feita em dias, que serão convertidos
em anos, considerado o ano como de trezentos e sessenta e cinco dias.“

Assim, os servidores abrangidos pelos artigos em comento deveriam ser remanejados para o
nível superior, sem que nenhuma condição disposta em Decreto pudesse impedir este acesso.

Registre-se que a norma em referência é cogente e a Administração, em respeito ao


princípio da legalidade está obrigada a observá-la, ou seja, existe diploma normativo sobre o tema,
que determinada os requisitos necessários ao desenvolvimento funcional, não dispondo
absolutamente nada sobre a impossibilidade ou exceção a este ajuste.

Assim, se a lei não excepciona, não pode o administrador fazê-lo, sob pena de ofensa ao
princípio da legalidade. Portanto, como não há qualquer disposição que proíba o acesso funcional
dos servidores aos níveis superiores na carreira em virtude de termo inicial para cumprimento de
interstício e, ao contrário, existe na lei dispositivo específico que determinada este
enquadramento, merece procedência a ação.

Neste contexto, quando mera interpretação administrativa institui restrição autônoma e


delibera contrariamente à Lei 8.112/90, viola estes dispositivos e ofende os artigos 2°, 5°, II, e 37 da
Constituição da República.

Com efeito, o argumento da Ré restringiu o direito do autor à progressão funcional, fazendo


letra morta os diplomas normativos em questão. A jurisprudência é farta sobre a impossibilidade de
ato administrativo (e consequentemente, mera exegese administrativa) instituir restrição não
prevista em lei, conforme demonstram o julgado do Supremo Tribunal Federal:

“A RESERVA DE LEI EM SENTIDO FORMAL QUALIFICA-SE COMO INSTRUMENTO


CONSTITUCIONAL DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DE DIREITOS E GARANTIAS
13

FUNDAMENTAIS. – O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação


constitucional ao poder do Estado, cuja competência regulamentar, por tal razão,
não se reveste de suficiente idoneidade jurídica que lhe permita restringir direitos ou
criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar obrigações ou restringir
direitos, sob pena de incidir em domínio constitucionalmente reservado ao âmbito
de atuação material da lei em sentido formal. -O abuso de poder regulamentar,
especialmente nos casos em que o Estado atua "contra legem" ou "praeter legem",
não só expõe o ato transgressor ao controle jurisdicional, mas viabiliza, até mesmo,
tal a gravidade desse comportamento governamental, o exercício, pelo Congresso
Nacional, da competência extraordinária que lhe confere o art. 49, inciso V, da
Constituição da República e que lhe permite "sustar os atos normativos do Poder
Executivo que exorbitem do poder regulamentar (...)". Doutrina. Precedentes (RE
318.873-AgR/SC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). Plausibilidade jurídica da
impugnação à validade constitucional da Instrução Normativa STN nº 01/2005.”5
G.n. (STF, AC-AgR-QO nº. 1033/DF, Relator Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJ
de 16/06/2006, p. 4)

“ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. MAGISTÉRIO DO ENSINO BÁSICO, TÉCNICO


E TECNOLÓGICO. PROGRESSÃO FUNCIONAL. AUSÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO.
REGRA DE TRANSIÇÃO. REQUISITOS. CUMPRIMENTO. 1. A Lei nº. 11.784/08, em seu
art. 120, dispõe que a progressão funcional na carreira deverá ser feita,
exclusivamente, por titulação e desempenho acadêmico, que deverá ser objeto de
regulamentação própria, o que ainda não ocorreu. 2. No termos do parágrafo 5º do
art. 120 da lei referida, até que seja publicado o regulamento previsto no caput
deste artigo, para fins de progressão funcional e desenvolvimento na Carreira de
Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, aplicam-se as regras
estabelecidas nos arts. 13 e 14 da Lei no 11.344, de 8 de setembro de 2006. 3. No
caso, a impetrante ocupa a classe D IV, nível "S" e pretende ascender à classe
imediatamente superior, qual seja, D V, devendo a situação ser regida pelo parágrafo
2º do art. 13. Referido dispositivo prevê que a progressão deve se feita por titulação,
ou mediante avaliação de desempenho para aqueles que não obtiveram a titulação
necessária, sendo, neste último caso, exigido que esteja há pelo menos dois anos no
último nível da classe. 4. O requisito temporal foi devidamente cumprido, já que a
impetrante encontra-se há mais de dois anos na classe D IV, nível "S" desde 20.11.08.
Assim, a realização da respectiva avaliação de desempenho é medida de rigor, já que
a progressão funcional da impetrante está condicionada à mesma. 5. A ausência de
regulamentação da lei que reestruturou a carreira da impetrante não pode servir de
óbice à realização da sua avaliação de desempenho, uma vez preenchidos os
requisitos previstos pela regra de transição. 6. Remessa Oficial e Apelação não
providas.” (TRF5, APELREEX 00053491520104058000, Rel. Desembargador
Francisco Barros Dias, Segunda Turma, DJ 12/05/2011)

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CARREIRA DO SEGURO SOCIAL. LEI Nº


11.501/07. PROGRESSÃO. AUSÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO. A majoração do
interstício para a progressão funcional instituída pela Lei n° 11.501/2007 carece de
auto-aplicabilidade, na medida em que há expressa determinação de que a matéria
14

seja regulamentada. Dessa forma, até o advento de tal regulamentação, deve ser
aplicado o requisito temporal ainda vigente, qual seja, de 12 (doze) meses. (TRF4, AC
5002353-04.2014.404.7108, Terceira Turma, Relatora p/ Acórdão Marga Inge Barth
Tessler, juntado aos autos em 09/09/2014).

ADMINISTRATIVO. PROFESSOR DE ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO.


TÍTULO DE ESPECIALISTA, MESTRE E DOUTOR. PROGRESSÃO FUNCIONAL POR
TITULAÇÃO INDEPENDENTEMENTE DE INTERSTÍCIO. REGULAMENTO INEXISTENTE.
LEI Nº 11.784/08 QUE REMETE À LEI Nº 11.344/06. POSSIBILIDADE. SUCUMBÊNCIA.
Enquanto pendente de regulamentação a reestruturação da Carreira do Magistério
do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico prevista na Lei nº 11.784/08, aplica-se o
regime anterior previsto na Lei nº 11.344/06, pelo qual era autorizada
a progressão funcional por titulação independentemente de interstício. O art. 1º-F
da Lei 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960, de 29/06/2009, não fez
nenhuma distinção entre o termo a quo dos juros e da correção monetária nas
condenações da Fazenda Pública, sendo de se concluir que ambos incidem a partir
do vencimento de cada parcela Os juros moratórios devem ser calculados com base
no índice oficial de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança,
nos termos da regra do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação da Lei nº
11.960/09, e a correção monetária, por força da declaração de inconstitucionalidade
parcial do art. 5º da Lei nº 11.960/2009, deverá ser calculada com base no IPCA,
índice que melhor reflete a inflação acumulada. Quanto à fixação da verba
honorária, é pacífico o entendimento da 2ª Seção deste Tribunal, no sentido que dita
verba deve ser fixada em 10% sobre o valor da causa ou da condenação, sendo que a
regra em referência somente não é aplicável no caso em que resultar valor
exorbitante ou ínfimo, o que não é o caso dos autos. A ré deverá reembolsar as
custas processuais adiantadas pela parte autora. (TRF4, APELAÇÃO CÍVEL Nº
5019447-82.2011.404.7200, 3ª TURMA, Juiz Federal SÉRGIO RENATO TEJADA
GARCIA, POR UNANIMIDADE, JUNTADO AOS AUTOS EM 18/07/2014).

A fundamentação trazida autoriza a condenação da Ré no pagamento dos valores devidos e a


Lei nº 8.112/90 apenas ratifica todo o exposto, no tocante à viabilidade das progressões e promoções
funcionais de todo o período, pelo que deve ser julgada totalmente procedente a presente ação.

Além disso, mencione-se que da análise do Decreto nº 84.669/80, se considerada sua


aparente legalidade, percebe-se que a autoridade administrativa infringiu o princípio da Isonomia,
Razoabilidade e Proporcionalidade, pois a relação entre os meios e fins almejados não foi razoável,
posto não se encontrar na sua aplicação uma coerência lógica, humana e correta na limitação
imposta pelo Decreto quanto ao termo inicial do interstício.

Ora, Excelência, o Decreto é verdadeiro exemplo de restrições de direitos onde sequer a Lei
nº 8.112/90 prevê (o que constitui luzente ilegalidade). Enfim, não atendem aos pressupostos da
razoabilidade e proporcionalidade o decreto ora atacado.

Por fim, diga-se que o princípio da igualdade, no caso, também foi violado, pois foi imposta
15

uma arbitrária desigualdade de tratamento. O arbítrio da desigualdade seria condição necessária e


suficiente da violação do princípio da igualdade.

Permitir tal situação configura verdadeira burla aos direitos sociais, posto que a DPU se
serve do trabalho dos servidores na sua integralidade, e quando estes têm direito à progressão, se
vale de interpretação que visa promover à desigualdade entre os servidores, pois beneficia a alguns
e priva outros dos mesmos direitos.

Assim, demonstra-se que a pretensão ao simples direito à progressão funcional, lastreada


na isonomia, é compatível com as disposições do art. 37 da Constituição Federal, o que enseja a
procedência da ação, o que certamente será declarado pelo MM. Juízo.

Portanto, em defesa do Princípio da Hierarquia das Leis e do Princípio da Razoabilidade,


não há de se aceitar que tais "critérios" possam ser estabelecidos pelo Executivo via Decreto em
ofensa à Lei, que é Norma mais abrangente.

Desse modo, constada a ilegalidade de parte dos dispositivos do Decreto, pois ultrapassou
seu limite regulamentador para inovar legislativamente, cabe à Justiça, não o tendo feito o Executivo,
afastar sua aplicação e determinar o correto entendimento e execução das Normas. No caso em tela,
anular os efeitos dos parágrafos 1º e 2º do artigo 10, assim como do artigo 19, todos do Decreto
84.669/1980 e determinar que seja feita, desde sempre, a correta aplicação das Leis.

Essa correta aplicação das Leis, no nosso caso, significa:

1) considerar o interstício necessário para a progressão a cada 1 (um) ano de efetivo


exercício, até que se edite o regulamento previsto nas Leis aqui discutidas;
2) iniciar a contagem dos interstícios a partir da data do ingresso e de efetivo exercício
prestado pelo autor (XX/XX/XXXX), sem desconsiderar qualquer período trabalhado, e
com efeitos (financeiros) a partir das datas da progressão;
3) determinar a realização da progressão do autor corretamente, com o pagamento das
parcelas vencidas e vincendas.
4) determinar que as demais progressões futuras sejam feitas sob esses critérios, até que
se edite o regulamento previsto;
5) condenar ao pagamento das diferenças de valores entre padrões, decorrentes das
progressões, retroativo às datas dos enquadramentos (vide quadro abaixo), o que
também se entende inclusive do artigo 11 do Decreto 84.669/80.

CLASSE - PADRÃO
DATA DA CLASSE- PADRÃO
INTERSTÍCIO DEVIDA APÓS A
PROGRESSÃO ORIGINAL
PROGRESSÃO
17.08.2010 a
17.08.2011 A–I A – II
16.08.2011
16

17.08.2011 a
17.08.2012 A – II A – III
16.08.2012
17.08.2012 a
17.08.2013 A – III A – IV
16.08.2013
17.08.2013 a
17.08.2014 A – IV A–V
16.08.2014
17.08.2014 a
17.08.2015 A–V B–I
16.08.2015
17.08.2015 a
17.08.2016 B–I B – II
16.08.2016

Por derradeiro, importa ressaltar que não há o que se cogitar da incidência da Súmula nº 339
do STF porque, no presente caso, o Judiciário não está agindo como legislador positivo, mas apenas
buscando a aplicação do princípio da isonomia assegurado pela Constituição Federal de 1998 e
determinando a correta interpretação e aplicação das Leis pelo Executivo que não o vem fazendo.

De outra forma é dizer que a ação não propõe o aumento discricionário, pelo Judiciário, dos
vencimentos do autor, mas a classificação dele conforme previsão da legislação pátria.

O Poder Judiciário pode controlar a legalidade dos atos da Administração Pública, cabendo
ao Judiciário afastar qualquer conduta da Administração Pública que ilegalmente cause lesão aos
direitos subjetivos dos administrados. Percebe-se que no presente caso o que ocorre é controle
de legalidade, plenamente possível de ser exercido pelo Poder Judiciário.

Assim, também, não se deve argumentar que Poder Judiciário estaria determinando a
progressão funcional de servidores, pois no caso em tela há Lei, o que ocorre é que ela não está
sendo respeitada pelo Poder Executivo e, por isso, o Judiciário estará tão somente determinando a
obediência a lei.

Sobre a mesma matéria, já se pronunciaram os juizados comuns e especiais federais nos


processos: 0522460-83.2014.4.05.8300, 0068172-57.2013.4.01.3400, 0803488-26.2013.4.05.8300,
0501999-48.2009.4.05.8500, 0523199-61.2011.4.05.8300, 0501083-75.2013.4.05.8305, 0500994-
52.2013.4.05.8305 e 0501084-60.2013.4.05.8305.

Neste passo, em anexo, segue íntegra de recente julgado (10/05/2017) do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região, Apelação Cível nº 5035236-03.2015.4.04.7000 (PR). (documento nº 7)

4. DOS PEDIDOS

FRENTE AO EXPOSTO, nos termos das legislações invocadas, o autor requer a Vossa Excelência o
seguinte:

a) Requer-se a concessão dos benefícios da justiça gratuita tendo em vista que o autor não
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tem como suportar as despesas do processo judicial, sem o prejuízo de seu próprio sustento
e de sua família, nos termos da Lei n.º 1.060/50;

b) A citação da União através da Procuradoria Regional da União em São Paulo, com


endereço na Avenida Paulista, nº 1.374 - 7º andar - Bela Vista - São Paulo - SP - CEP 01310-
937, sobre os termos da presente Ação, e para, querendo, contestá-la no prazo legal, sob
pena de revelia;

c) Tendo em vista que a matéria colocada para apreciação e análise do Douto Juízo Especial
Federal é exclusivamente de direito, portanto, opta o autor pela não realização de audiência
conciliatória – CPC 319, Inciso VII;

d) Seja julgado procedente, também, o pedido de declaração do direito do autor à progressão


e promoção funcional desde seu respectivo ingresso no exercício do cargo, conforme
prevê a Lei 8.112/90;

e) Requer-se a condenação a Ré ao enquadramento do autor na Classe/Padrão que deveria


se encontrar na presente data, a cada interstício de 12 meses, contados da data do seu
exercício no cargo.

f) Requer-se que seja determinado por Vossa Excelência prazo para que a Ré traga aos autos
documento comprobatório de que a parte autora foi devidamente enquadrada na
Classe/Padrão a que faz jus. Em caso de descumprimento do prazo determinado, seja
fixada multa diária (obrigação de fazer);

g) Condenar a UNIÃO na obrigação de pagar todas as diferenças remuneratórias vencidas e


vincendas decorrentes da sua incorreta progressão funcional e promoção, a contar do
primeiro ano após o início do efetivo exercício no Quadro de Pessoal da DPU até a presente
data, sem desconsiderar qualquer período trabalhado, e com efeitos (financeiros) a partir das
datas de cada progressão obtida, considerando o interstício de 01 (um) ano, procedendo as
alterações nos registros funcionais do autor, inclusive quanto às progressões futuras;

h) Quando do pagamento das diferenças remuneratórias vencidas e vincendas (apresentadas


no documento nº 5) deverá a UNIÃO observar os efeitos financeiros sobre o Vencimento
Básico, as Gratificações de Atividade, as Gratificações de Desempenho e seus reflexos no
adicional de férias, no 13º salário e outras eventuais verbas que compõe a estrutura
remuneratória do autor, tudo devidamente corrigido monetariamente e acrescido dos
juros.

i) Seja condenada a Ré ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios, a


serem arbitrados por Vossa Excelência.

Protesta e requer provar o alegado por todos os meios admitidos em juízo, atinentes à
espécie, como juntada posterior de documentos, perícias e tudo mais que se fizer necessário para
18

o esclarecimento da lide.

Atribui-se à causa o valor de R$ 16.526,51 (dezesseis mil quinhentos e vinte e seis reais e
cinquenta e um centavos).

Termos em que, pede deferimento.

São Paulo, 29 de Maio de 2017.

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